Allan Kardec - O que é o Espiritismo
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ALLAN KARDEC<br />
ortodoxia <strong>é</strong> mais repreensível, aos olhos de Deus, <strong>que</strong> o<br />
ateísmo ou o materialismo?<br />
Apresento claramente as <strong>que</strong>stões seguintes, a<br />
quantos combatem o <strong>Espiritismo</strong>, sob o ponto de vista de suas<br />
conseqüências religiosas:<br />
1.ª Quem terá melhor quinhão na vida futura —<br />
a<strong>que</strong>le <strong>que</strong> não crê em coisa alguma, ou a<strong>que</strong>le <strong>que</strong>, crente das<br />
verdades gerais, não admite certas partes do dogma?<br />
2.ª O protestante e o cismático serão confundidos na<br />
mesma reprovação <strong>que</strong> o ateu e o materialista?<br />
3.ª O <strong>que</strong> não <strong>é</strong> ortodoxo, no rigor da palavra, mas faz<br />
o bem <strong>que</strong> pode, <strong>que</strong> <strong>é</strong> bom e indulgente para com o próximo,<br />
leal em suas relações sociais, deve contar menos com a<br />
salvação, do <strong>que</strong> a<strong>que</strong>le <strong>que</strong> crê em tudo, mas <strong>é</strong> duro, egoísta e<br />
baldo de caridade?<br />
4.ª Qual terá mais valor aos olhos de Deus: a prática<br />
das virtudes cristãs sem a dos deveres da ortodoxia, ou a destes<br />
últimos sem a da moral?<br />
Respondi, senhor abade, às <strong>que</strong>stões e objeções <strong>que</strong><br />
me dirigistes, mas, como vo-lo disse no começo, sem intenção<br />
alguma preconcebida de conduzir-vos às nossas id<strong>é</strong>ias e de<br />
mudar as vossas convicções, limitando-me tão-somente a<br />
fazer-vos encarar o <strong>Espiritismo</strong> sob seu verdadeiro aspecto. Se<br />
não tiv<strong>é</strong>sseis vindo, eu não vos teria ido procurar.<br />
Não <strong>que</strong>r isto dizer <strong>que</strong> desprezássemos a vossa<br />
adesão aos nossos princípios, caso ela se verificasse; longe<br />
disso; julgamo-nos sempre felizes pelas aquisições <strong>que</strong><br />
fazemos, as quais têm para nós tanto maior valor quanto mais<br />
livres e voluntárias são. Não só não temos o direito de exercer<br />
constrangimento sobre <strong>que</strong>m <strong>que</strong>r <strong>que</strong> seja, como tamb<strong>é</strong>m<br />
sentiríamos escrúpulo em ir perturbar a consciência dos <strong>que</strong>,<br />
tendo crenças <strong>que</strong> os satisfazem, não venham<br />
espontaneamente ao nosso encontro.