You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
parício.<br />
paz.<br />
Demétrio, que também imigrara<br />
do Líbano, na Casa<br />
Nenê, uma casa de armarinhos<br />
que vendia rendas,<br />
meadas de linha, botões<br />
e muitos produtos infantis.<br />
“Ele foi uma escola para<br />
mim”, afirmava orgulhoso<br />
ao falar de Demétrio.<br />
Depois de alguns anos<br />
na loja, foi chamado para<br />
trabalhar no extinto Banco<br />
Paulista do Comércio. Começou<br />
como office-boy e<br />
trabalhou até chegar a contador,<br />
quando resolveu sair e aceitar<br />
um convite para trabalhar na Móveis<br />
Castelan (móveis e colchões). “Foi uma<br />
extensão porque como já era contador,<br />
entrei na parte administrativa. Devia<br />
ter uns 18 anos, aproximadamente”,<br />
relembrava.<br />
Depois da loja de móveis, Aparício<br />
com 22 anos, foi trabalhar com a tia<br />
Wadia Karan Jabur, irmã de sua mãe<br />
e montaram “A Infantil”, loja de artigos<br />
infantis. “Eu achei interessante a ideia<br />
porque já estava no comércio”, dizia.<br />
Em 1954, Aparício deixou a sociedade<br />
com a tia e foi trabalhar com o pai<br />
na Feira das Meias porque o negócio<br />
estava meio parado. Além das meias, a<br />
loja também vendia confecções e calçados,<br />
um verdadeiro magazine. “O ramo<br />
de calçados era muito ingrato naquela<br />
época, porque o governo resolveu carimbar<br />
o preço nos sapatos. A inflação<br />
era alta. Você vendia fiado e não podia<br />
cobrar nada a mais”, explicava.<br />
Com 25 anos, Aparício casou-se<br />
com Isabelle Bou Assi Dahab, também<br />
de descendência libanesa, em 1956. O<br />
casal teve quatro filhos: Ricardo, Carlos<br />
Alberto, Renato e Cristina.<br />
A KIBELANCHE<br />
Apparecido Dahab, ou<br />
simplesmente Aparício<br />
da Kibelanche<br />
Aproveitando o local em frente o<br />
Clube 27 de Outubro, Aparício decidiu<br />
montar uma lanchonete, até porque<br />
havia carência de uma casa de alimentação<br />
na Rua 9 de Julho. “Começaram<br />
a me chamar de louco, mas acabei<br />
montando. Deixei a loja funcionando<br />
de um lado e do outro lado montei a<br />
lanchonete. Enquanto isso, liquidava os<br />
produtos até encerrar as atividades da<br />
loja”, dizia.<br />
Foi uma ousadia que deu certo. A<br />
inauguração da Kibelanche aconteceu<br />
na véspera do Natal de 1961 e, no ano<br />
seguinte, ocorreu o encerramento das<br />
atividades da Feira das Meias. A lanchonete<br />
começou como Kibelândia,<br />
mas como em São Paulo já havia uma<br />
lanchonete com o mesmo nome, Aparício<br />
mudou para Kibelanche.<br />
A família inteira foi trabalhar na lanchonete.<br />
A luta foi com todo mundo jun-<br />
to. “Minha mãe foi para a cozinha. Meu<br />
pai ficava no caixa e meu filho mais<br />
velho o ajudava. Trabalhávamos todos<br />
e meus filhos cresceram ali. Minha esposa<br />
aprendeu com minha mãe e até<br />
hoje ela ainda está na cozinha da Kibelanche”,<br />
conta. No começo foi uma vida<br />
muito sacrificada. Quando tinha baile<br />
no Clube 27 trabalhávamos até às 6<br />
horas da manhã e no dia seguinte estávamos<br />
abertos para atender o público.<br />
Dentro do comércio de Araraquara<br />
Aparício fez de tudo um pouco: teve a<br />
única fábrica de flâmulas, que na época<br />
estava no apogeu da criação do<br />
silkscreen pra montagem; teve uma<br />
peixaria e uma empresa de construção<br />
de casas; foi dono dos restaurantes<br />
Gimba e Barril, foi presidente do Sindicato<br />
de Hotéis e Similares, presidente<br />
da Associação Comercial, diretor do<br />
Sindicato do Comércio Varejista e também<br />
Juiz Classista.<br />
Com toda essa história feita de lutas<br />
e muito trabalho na cidade, Aparício foi<br />
homenageado com o título de Cidadão<br />
Araraquarense. Porém, recusou-se a ir<br />
receber a homenagem na Câmara, preferindo<br />
o seu escritório.“Mas, não pensem<br />
que se tratou de desprezo à homenagem.<br />
Ao contrário sentiu-se muito<br />
honrado, mas a justificativa foi simples:<br />
“Não gosto de aparecer, já passei dessa<br />
fase”, contou, sorrindo.<br />
E foi com essa humildade que Aparício<br />
partiu no dia 26 de janeiro; acidentado<br />
ao descer de uma escada fraturou<br />
o fêmur e a bacia. Porém, não suportou<br />
a cirurgia, vindo a falecer e levando em<br />
sua bagagem uma história que serve<br />
de inspiração para muitos.<br />
Aparício e Isabelle casaram-se no mesmo dia<br />
que Josef (Zé do Gimba) e Farize (irmã de<br />
Isabelle), em 1956, no Salão Micelli<br />
13<br />
Aparício e Isabelle nos anos 80; uma<br />
felicidade que perdurou por 59 anos