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RCIA - ED. 127 - FEVEREIRO 2016

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parício.<br />

paz.<br />

Demétrio, que também imigrara<br />

do Líbano, na Casa<br />

Nenê, uma casa de armarinhos<br />

que vendia rendas,<br />

meadas de linha, botões<br />

e muitos produtos infantis.<br />

“Ele foi uma escola para<br />

mim”, afirmava orgulhoso<br />

ao falar de Demétrio.<br />

Depois de alguns anos<br />

na loja, foi chamado para<br />

trabalhar no extinto Banco<br />

Paulista do Comércio. Começou<br />

como office-boy e<br />

trabalhou até chegar a contador,<br />

quando resolveu sair e aceitar<br />

um convite para trabalhar na Móveis<br />

Castelan (móveis e colchões). “Foi uma<br />

extensão porque como já era contador,<br />

entrei na parte administrativa. Devia<br />

ter uns 18 anos, aproximadamente”,<br />

relembrava.<br />

Depois da loja de móveis, Aparício<br />

com 22 anos, foi trabalhar com a tia<br />

Wadia Karan Jabur, irmã de sua mãe<br />

e montaram “A Infantil”, loja de artigos<br />

infantis. “Eu achei interessante a ideia<br />

porque já estava no comércio”, dizia.<br />

Em 1954, Aparício deixou a sociedade<br />

com a tia e foi trabalhar com o pai<br />

na Feira das Meias porque o negócio<br />

estava meio parado. Além das meias, a<br />

loja também vendia confecções e calçados,<br />

um verdadeiro magazine. “O ramo<br />

de calçados era muito ingrato naquela<br />

época, porque o governo resolveu carimbar<br />

o preço nos sapatos. A inflação<br />

era alta. Você vendia fiado e não podia<br />

cobrar nada a mais”, explicava.<br />

Com 25 anos, Aparício casou-se<br />

com Isabelle Bou Assi Dahab, também<br />

de descendência libanesa, em 1956. O<br />

casal teve quatro filhos: Ricardo, Carlos<br />

Alberto, Renato e Cristina.<br />

A KIBELANCHE<br />

Apparecido Dahab, ou<br />

simplesmente Aparício<br />

da Kibelanche<br />

Aproveitando o local em frente o<br />

Clube 27 de Outubro, Aparício decidiu<br />

montar uma lanchonete, até porque<br />

havia carência de uma casa de alimentação<br />

na Rua 9 de Julho. “Começaram<br />

a me chamar de louco, mas acabei<br />

montando. Deixei a loja funcionando<br />

de um lado e do outro lado montei a<br />

lanchonete. Enquanto isso, liquidava os<br />

produtos até encerrar as atividades da<br />

loja”, dizia.<br />

Foi uma ousadia que deu certo. A<br />

inauguração da Kibelanche aconteceu<br />

na véspera do Natal de 1961 e, no ano<br />

seguinte, ocorreu o encerramento das<br />

atividades da Feira das Meias. A lanchonete<br />

começou como Kibelândia,<br />

mas como em São Paulo já havia uma<br />

lanchonete com o mesmo nome, Aparício<br />

mudou para Kibelanche.<br />

A família inteira foi trabalhar na lanchonete.<br />

A luta foi com todo mundo jun-<br />

to. “Minha mãe foi para a cozinha. Meu<br />

pai ficava no caixa e meu filho mais<br />

velho o ajudava. Trabalhávamos todos<br />

e meus filhos cresceram ali. Minha esposa<br />

aprendeu com minha mãe e até<br />

hoje ela ainda está na cozinha da Kibelanche”,<br />

conta. No começo foi uma vida<br />

muito sacrificada. Quando tinha baile<br />

no Clube 27 trabalhávamos até às 6<br />

horas da manhã e no dia seguinte estávamos<br />

abertos para atender o público.<br />

Dentro do comércio de Araraquara<br />

Aparício fez de tudo um pouco: teve a<br />

única fábrica de flâmulas, que na época<br />

estava no apogeu da criação do<br />

silkscreen pra montagem; teve uma<br />

peixaria e uma empresa de construção<br />

de casas; foi dono dos restaurantes<br />

Gimba e Barril, foi presidente do Sindicato<br />

de Hotéis e Similares, presidente<br />

da Associação Comercial, diretor do<br />

Sindicato do Comércio Varejista e também<br />

Juiz Classista.<br />

Com toda essa história feita de lutas<br />

e muito trabalho na cidade, Aparício foi<br />

homenageado com o título de Cidadão<br />

Araraquarense. Porém, recusou-se a ir<br />

receber a homenagem na Câmara, preferindo<br />

o seu escritório.“Mas, não pensem<br />

que se tratou de desprezo à homenagem.<br />

Ao contrário sentiu-se muito<br />

honrado, mas a justificativa foi simples:<br />

“Não gosto de aparecer, já passei dessa<br />

fase”, contou, sorrindo.<br />

E foi com essa humildade que Aparício<br />

partiu no dia 26 de janeiro; acidentado<br />

ao descer de uma escada fraturou<br />

o fêmur e a bacia. Porém, não suportou<br />

a cirurgia, vindo a falecer e levando em<br />

sua bagagem uma história que serve<br />

de inspiração para muitos.<br />

Aparício e Isabelle casaram-se no mesmo dia<br />

que Josef (Zé do Gimba) e Farize (irmã de<br />

Isabelle), em 1956, no Salão Micelli<br />

13<br />

Aparício e Isabelle nos anos 80; uma<br />

felicidade que perdurou por 59 anos

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