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RCIA - ED. 127 - FEVEREIRO 2016

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<strong>ED</strong>ITORIAL<br />

Não avisaram a vaca que<br />

haveria crise em 2015<br />

Araraquara a partir dos anos 40, passou a ser considerada<br />

uma das mais importantes bacias leiteiras do interior brasileiro; já<br />

naquela época sua posição estratégica, bem no centro no Estado<br />

de São Paulo, despertou principalmente a atenção da Nestlé e em<br />

1946, logo após a Segunda Guerra Mundial, a inauguração da<br />

fábrica nos altos da Vila Xavier era para responder à crescente<br />

demanda de Leite Ninho em termos nacionais.<br />

A economia local ganhou força; a empresa passou a gerar<br />

divisas e empregos e Araraquara se projetou com a Nestlé, agora<br />

incorporada ao poder que a Lupo dispunha pela sua apresentação<br />

como carro-chefe industrial fabricando meias. Ambas detinham<br />

esse simbolismo no engatinhar da industrialização caipira<br />

e empregavam quase 35% dos trabalhadores, de forma direta e<br />

indireta, num universo de 40 mil habitantes.<br />

É verdade, contam os antigos, que a presença da Nestlé no<br />

mercado absorvia um índice maior de profissionais, pois além dos<br />

colaboradores que operavam no interior da fábrica, havia a concentração<br />

dos pequenos, médios e grandes fornecedores de leite.<br />

O produto por sinal saia das fazendas na região de maneira simplória:<br />

os latões aluminizados eram deixados ao lado das porteiras<br />

de acesso às propriedades e transportados para a fábrica em<br />

Araraquara, se transformando em ouro branco e enriquecendo o<br />

agronegócio. Lupo e Nestlé viviam esta expansão industrial com<br />

o suporte logístico da Estrada de Ferro Araraquara e Companhia<br />

Paulista, ambas arrebanhando enorme contingente de trabalhadores,<br />

embora qualificados para a função.<br />

Só que o provérbio português é claro: “não há bem que sempre<br />

dure, nem mal que nunca se acabe...” e a frase passou a valer<br />

a partir de 2006, quando a Nestlé ainda era vista como a maior<br />

empresa mundial de alimentos e bebidas, também consagrada<br />

como a maior autoridade do mundo em Nutrição, Saúde e Bem-<br />

Estar. Em todos os países onde estava presente, o foco de suas<br />

atividades era de melhorar a qualidade de vida das pessoas com<br />

produtos saudáveis e saborosos.<br />

Mas, seria só isso? Absolutamente.<br />

A Nestlé precisava de números favoráveis<br />

em seus projetos e impulsionada<br />

pela proximidade de uma crise econômica,<br />

foi envolvida por comentários que<br />

Isenção de ICMS<br />

para produção<br />

de leite, permitiu<br />

a reestruturação<br />

da bacia leiteira<br />

na região de<br />

Araraquara<br />

poderiam levá-la ao fechamento da fábrica. Lembro bem, uma<br />

série de iniciativas do governo paulista, entre elas a isenção de<br />

ICMS para produção de leite, permitiu a reestruturação da bacia<br />

leiteira na região de Araraquara. Diante disso um sinal foi dado<br />

pela Nestlé do Brasil: a empresa anunciou investimento de R$<br />

120 milhões para construção de uma segunda fábrica em Araraquara.<br />

O investimento foi considerado um marco para colocar<br />

fim às especulações, mas sempre com o alerta da Nestlé fechar a<br />

unidade de Araraquara, hipótese admitida, inclusive, pelo presidente<br />

da Nestlé no Brasil na época, Ivan Zurita.<br />

Com os investimentos efetuados no reaparelhamento, a fábrica<br />

na cidade com novas instalações, implantou a montagem de<br />

duas novas linhas para produção de leite “in natura” e passou a<br />

produzir leite em caixinha com as marcas Ninho e Molico. Com<br />

isso a tonelagem produzida aumentou significativamente. Estes<br />

novos produtos acabaram por se tornar no ponto alto da unidade.<br />

Os produtos fabricados anteriormente, Leite Condensado e<br />

Moça Fiesta continuaram e continuam a ser produzidos.<br />

Todo este trabalho, já que o Estado de São Paulo consome<br />

40% dos derivados de leite produzidos no País, restabeleceu o<br />

equilíbrio do mercado, agregando pequenos produtores e assentados<br />

rurais, organizados em cooperativas ou individualmente.<br />

Só que se a crise naquela época não pegou o fornecedor,<br />

talvez agora, cause um terrorismo já que o consumo do leite caiu,<br />

os supermercados e as padarias compram menos e o produtor<br />

não sabe onde enfiar o leite. Consequentemente a produção nos<br />

laticínios também cai. Se tivesse jeito até poderiam conversar com<br />

a vaca e dizer: “Dá um tempo, solte o leite quando a crise passar,<br />

porque fazemos parte de uma cadeia produtiva”. Mas, não é bem<br />

assim. Hoje com o preço da carne em alta, as vacas correm o<br />

risco de assumir papel diferente no mercado e virar churrasco ou<br />

mistura na mesa, pois o produtor também não tem como sustentar<br />

o animal. Quem deve estar agradecido à crise é o porco, pois<br />

diminuindo o consumo da carne suína, é verdade que aumenta<br />

seu tempo de vida. Grandes indústrias alimentícias que passaram<br />

aperto na metade da última década, como a Nestlé que ameaçou<br />

ir embora, correm o risco de rever seus projetos.<br />

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