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Pense no Garfo! - Bee Wilson

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intactos e se produzia uma refeição apetitosa.

Na década de 1930, os nazistas se apoderaram da imagem frugal da refeição

de uma panela só e lhe deram um uso ideológico. Em 1933, o governo de Hitler

anunciou que os alemães deveriam reservar um domingo, de outubro a março,

para fazer uma refeição de uma panela só: o Eintopf [cozido ou guisado;

literalmente “uma panela”]. A ideia era que, com isso, as pessoas

economizariam dinheiro suficiente para poder fazer doações aos pobres. Os

livros de cozinha foram reescritos às pressas para incorporar a nova política.

Uma coleção de receitas listou nada menos que 69 tipos de Eintopf, incluindo

macarrão, gulache, guisado irlandês, sopa de arroz sérvia, inúmeras variações

com repolho e a tradicional sopa de batatas alemã.

A promoção nazista do Eintopf foi uma propaganda astuta. Na Alemanha,

muitos já viam o Eintopf como o suprassumo da refeição frugal, um prato que

simbolizava o sacrifício e o sofrimento. Dizia-se que a Alemanha conseguira

derrotar os franceses em 1871, em parte, porque seus exércitos haviam enchido

a barriga de Erbswurst, um creme grosso de ervilha e gordura bovina feito numa

panela só. O Eintopf veio com um mar de lembranças saudosas.

A celebração do Eintopf pelos nazistas foi um sinal, na verdade, de que a

maioria das cozinhas – tanto na Alemanha quanto em outros lugares – havia

ultrapassado a culinária de uma panela só. Como muitos outros símbolos

fascistas, esse prato remontava ao passado. Só se poderia vê-lo como economia

numa sociedade em que a maioria das refeições fosse preparada com o uso de

mais de uma panela. Ao ressuscitarem o ideal camponês dos contos de fadas, de

um só caldeirão pendurado num gancho único sobre o fogo, os nazistas

mostraram, sem querer, que a época do caldeirão havia passado. Embora os

tempos fossem difíceis para a Alemanha da década de 1930, a maioria das

cozinheiras – o que significava a maioria das donas de casa – esperava dispor de

um sortimento de panelas e frigideiras com que cozinhar, e não de apenas uma.

A PETWORTH HOUSE, em Sussex, é uma das residências mais grandiosas da

Inglaterra. Atravessou gerações da mesma família aristocrática, os Egremont,

desde 1150, embora a construção atual date do século XVII. Essa mansão

magnífica, situada num parque de caça ao cervo com área de setecentos acres, é

hoje administrada pelo National Trust. c Os visitantes podem deslumbrar-se com

a reluzente batterie de cuisine de cobre exibida na cozinha, que conta com um

total de mais de mil utensílios: fileiras de caçarolas de cabo e panelas de

ensopado, além de múltiplas tampas para combinar, todas imaculadamente

alinhadas, da maior para a menor, da esquerda para a direita, em diversos

aparadores enormes. Os cozinheiros de Petworth deviam ter a panela exata para

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