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Ecos de Belem 00

Todos os assuntos do eixo Belém­-Ajuda nos importam, como moradores destes bairros, porque representam uma única entidade histórica, patrimonial e social, bem como nos interessa toda a actualidade contemporânea e global, como percursores que fomos do mundo “enfim redondo e uno”. Esta revista será a sua voz impressa e este, o número zero, o da apresentação.

Todos os assuntos do eixo Belém­-Ajuda nos importam, como moradores destes bairros, porque representam uma única entidade histórica, patrimonial e social, bem como nos interessa toda a actualidade contemporânea e global, como percursores que fomos do mundo “enfim redondo e uno”.
Esta revista será a sua voz impressa e este, o número zero, o da apresentação.

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ECOS DE BELEMnúmero 0

Inverno 2016

1515 Belém 2016



EDITORIAL

Ecos de Belém. Somos uma Associação

criada recentemente,

por moradores da freguesia

de Belém, com o objectivo de contribuir

para uma participação mais

activa, enquanto cidadãos, na vida

pública e cívica da comunidade a

que pertencemos.

Queremos organizar, participar

e divulgar actividades que congreguem

capacidades de pessoas e instituições,

de forma a valorizarmos

as sinergias que percorrem todo o

bairro.

Queremos viver num bairro mais

dinâmico e participativo, em que

os nossos deveres e direitos de cidadania

sejam exercidos em pleno,

todos os dias.

Todos os assuntos do eixo Belém-

-Ajuda nos importam, como moradores

destes bairros, porque representam

uma única entidade histórica,

patrimonial e social, bem como nos

interessa toda a actualidade contemporânea

e global, como percursores

que fomos do mundo “enfim redondo

e uno”.

Esta revista será a sua voz impressa

e este, o número zero, o da apresentação.

Carlos Carvalho


2

sumário

4 Ecos de Belém

6 ...um pouco da história de Belém

Monumental

12 Torre de Belém - 500 anos

15 Forte do Bom Sucesso e o Monumento aos

Combatentes do Ultramar

16 Fundação Champalimaud

18 Museu de Arte Popular

19 A Exposição do Mundo Português

20 Padrão dos Descobrimentos e a

Rosa dos Ventos

22 Mosteiro dos Jerónimos

24 Museu Nacional de Arqueologia

25 Museu da Marinha

26 Planetário Calouste Gulbenkian

27 Jardim da Praça do Império

28 Centro Cultural de Belém

Museu Coleção Berardo

30 Jardim Botânico Tropical

31 O Padrão do Chão Salgado

32 Estádio do Belenenses

33 Capela do Santo Cristo

34 Museu Nacional dos Coches

36 Palácio de Belém

37 Museu da Presidência

38 Jardim Afonso de Albuquerque


3

40 Fábrica da Cordoaria Nacional

42 MAAT - Museu de Arte Arquitectura e Tecnologia

Fundação EDP

44 Museu Nacional de Etnologia

45 Igreja de S. Francisco Xavier

46 Ermida de S. Jerónimo

47 Pontos de Vista...

48 O Eixo Belém-Ajuda

Conhecer

52 junto ao rio

54 rua vieira portuense

55 rua de belém

Vida de Bairro

56 Uma Loja de Bairro / Projecto com Voz

58 Unusual, uma “casa” do Bairro

60 Adega Típica O Gato Preto

61 Bairro de Caselas, uma aldeia na cidade

62 Os Decanos das Salésias

64 Arte à Parte

uma associação em Belém-Ajuda

66 Entrevista: Deolinda Almeida

69 Cenjor - 30 anos

71 Campeonato de Profissões ou Worldskills

72 Lisboa 2017, Capital ibero-americana da cultura

74 Ensaio: À Luz de Belém


4

A recuperação de um título

Na 1ª série, o jornal “Ecos de

Belém” publicou-se entre o 1º

de Dezembro de 1932 e 15 de

dezembro de 1976 . Durante 44 anos

foram impressos 1785 números. Começou

por ser trimestral e chegou a

quinzenal, pelo que ao longo da sua

existência a periocidade foi variando.

Custódio Baptista Vieira foi o fundador

do título e António Vieira, seu

filho, o primeiro administrador e editor.

A sede do “Ecos” situava-se no

nº15-17 da rua de Belém e era composto,

e editado, na Tipografia Vieira,

na Praça Afonso de Albuquerque,

nº5/6. Nesta fase o jornal foi sempre

posse de membros da família Viera,

a família do fundador.

Por altura do 4º aniversário, no

nº116 , no discurso comemorativo,

Custódio Vieira assinala: “meu filho

sugeriu-me um dia a idêa dum jornal

que defendesse duma forma séria,

acérrima e bem levantada, os interesses

dos paroquianos da nossa

freguesia. Achei tão justo e nobre o

seu gesto, que me coloquei incondicionalmente

a seu lado, para conseguir

a sua aspiração”.

“Um jornal bairrista ao serviço do

Ocidente de Lisboa”, ou um “ órgão

semanário de propaganda comercial

e industrial, literário, e defensor dos

interesses da freguesia e seus arredores”

assim se apresentou o jornal e

ao longo da sua existência tudo fez

para merecer esses cognomes.

Na 2ª fase, como propriedade de

Fernando Folgosa, o “Ecos” apresentou-se,

e bem, como o decano da imprensa

de Lisboa e mensário regional

da cidade. As notícias, durante esse

período, tiveram sempre em conta

a forte comunidade belenense espalhada

pelos sete cantos do mundo e

prestaram, entre outros, um excelente

serviço de aproximação para as

pessoas que, pelas diversas e variadas

circunstâncias da vida, moravam

longe da sua Belém natal.

O primeiro número saiu em janeiro

de 1994 e o último, o nº68, em

dezembro de 1999.

Recuperamos esse título porque

nos identificamos com esse espírito

de valorização e de luta pela defesa

dos interesses comunitários, a partir

de uma perspetiva nossa, de cidadãos

comuns, e porque queremos exercer

o nosso dever de pugnarmos pelos

nossos direitos.

Neste 1º de Dezembro, setenta e

quatro anos depois de ter saído o primeiro

número, o “Ecos de Belém” reaparecerá

de novo, agora como revista.

Iniciaremos também uma campanha

para que o Estádio do Restelo

passe a ostentar o nome Estádio Artur

José Pereira. Será uma forma de

começarmos a reconhecer dividas de

gratidão e a acertar passo do passado

com o futuro.

Ecos de Belém INVERNO 2016


5

Belém não é só Belém

Existe a Belém, da rua que lhe

toma o nome, da rua pintor

Vieira Portuense e de outras

ruas próximas, a histórica, universal,

comercial e turística, de todos

conhecida. Mas Belém não se esgota

por aí. Caselas, uma aldeia na cidade,

implantada na serra de Monsanto,

bairro característico e bem

datado, a rua do Embaixador e toda

a popular zona que a envolve, que

inclui as míticas Salésias, a rua da

Junqueira, rua de palácios e casas

senhoriais, que continua a albergar

um segmento muito importante

da economia local, as populares

calçadas do Galvão ou da Ajuda, a

caminho do bairro irmão, laços e

cumplicidades sempre cruzados,

as ruas cá de baixo, interiores, da

praia do bom sucesso ou da praia

de Pedrouços, os diversos bairros

do Restelo, das elegantes moradias

às torres, e toda a zona ribeirinha,

a sua rua marginal, que nos permite

estarmos sempre próximos do

Tejo, são algumas das outras faces

do muito que existe, por vezes escondido,

como segredos, apenas

reservado aos mais interessados

ou atentos.

Todos os assuntos deste eixo Belém-Ajuda

nos interessam, enquanto

bairristas, porque representam

um única entidade histórica, patrimonial

e social, e porque é nele que

vivemos. Por isso estaremos sempre

atentos e praticaremos um constante

exercicio de cidadania.

Da mesma forma, como moradores

destes bairros, percursores

do mundo “enfim redondo e uno”,

nos interessam sempre a actualidade,

sob os mais variados aspectos,

desde a politíca, social, histórica

à cientifíca.

Em suma, tudo faremos para merecer

o título que recuperamos e

agora ostentamos.

A Freguesia de Belém que estabelece

o limite ocidental do Concelho

de Lisboa, tem 10,43 km2

e, 16.561 residentes, segundo o

último censo (2011), dos quais

15.073 eleitores (novembro 2015).

Após a reorganização administrativa

de Lisboa de 2012 a cidade

passou de 53 freguesias para

24 e nesse contexto a nova Freguesia

de Belém resultou da fusão

das Freguesias de São Francisco

de Xavier e de Santa Maria. A

concretização plena dessa fusão

teve efeito após as eleições autárquicas

de outubro de 2013.

INVERNO 2016 Ecos de Belém


6

… um pouco da história de Belém

Belém localiza-se na parte mais

ocidental de Lisboa, na zona

ribeirinha, junto à margem

direita do rio Tejo, no seu encontro

com o mar.

Aqui o povoamento e a vida comunitária

têm vários testemunhos que

remontam aos tempos proto e pré-

-históricos.

Com a Romanização da Península,

entre o século I e IV, chegaram as

prácticas agrícolas mais intensivas e

as consequentes alterações nos povoados

pré-existentes.

Entre o século VII e o XII dá-se o

surgimento das almoinhas muçulmanas

e a construção de moinhos,

acompanhada da formação de casas

rústicas. O sítio do Restelo no

reinado de D. Dinis (1279-1325)

já estava claramente identificado.

e Restelo seria um campo de produção

e preparação do linho, um

sítio onde se penteava o linho, i.e.,

onde se “rastelava”.

Ao longo dos séculos XII e XIII decorre

a constituição do Reguengo de

Algés e Ribamar, delimitado pela Ribeira

de Alcântara, pelo Rio Jamor e

pela Serra de Monsanto.

Em 1377 os moradores do povoado

do Restelo, nacionais e estrangeiros,

já tinham regalias especiais e as-

Ecos de Belém INVERNO 2016


7

Mosteiro dos Jerónimos e Torre de Belém, Filipe Lobo 1657 - MNAA

sim os navios que fundeassem na

sua praia e aí procedessem ao seu

abastecimento ficavam isentos do

pagamento de impostos.

“Praia do Rastrelo” ou do Restelo,

assim era conhecida toda essa zona,

que se estendia desde as suas colinas

até ao rio e onde já existia uma

pequena ermida, fundada sob a invocação

de Nossa Senhora da Estrela,

protectora dos navegantes.

Foi essa construção inicial que,

em meados do século XV, a mando

do Infante D. Henrique, sofreu

obras de ampliação passando a nova

igreja e suas respectivas construções

anexas a ser dedicada a Nossa Senhora

de Belém, numa dupla invocação

à Mãe de Jesus e ao local do

seu nascimento.

almoinha ou

almunhia e o seu

derivado almuinhas,

no português antigo,

significava uma horta

ou terra agrícola de

subsistência.

No fim da sua vida, o Infante D.

Henrique (1394-1460), sempre

atento às necessidades da navegação,

fundará aí o referido ermitério

onde algumas freiras da Ordem de

Cristo passaram a prestar assistência

e amparo aos mareantes em trânsito.

Essa ermida foi confiada à Ordem

de Cristo e ficou determinado que

continuasse a servir de apoio aos

navegantes que dali partiam ou

aportavam.

A partir daí, Belém e Restelo passaram

a ser sinónimos, e a designarem

uma pequena povoação de

pescadores e marinheiros, um local

entre a cidade e a entrada do

Tejo, com uma pequena enseada

abrigada dos ventos fortes, oferecendo

boas condições de navegabilidade,

uma zona procurada, desde

INVERNO 2016 Ecos de Belém


8

sempre, como porto seguro para barcos

de grosso calado que chegavam

ou saíam pelo rio, nela se fundeando,

aguardando o tempo propício

para se fazerem ao mar. As indústrias

de cordoaria e outras actividades

de apoio à vida naval e maritíma,

foram surgindo como consequência

natural.

Depois de 1400 foi dessa praia que

começaram a sair as primeiras caravelas

que serviram no empreendimento

dos Descobrimentos e o pacato

lugar perde, definitivamente, o seu

sossego bucólico, agita-se e cresce

na mesma proporção do dinamismo

que o porto vai começando a conhecer,

cada vez mais intenso.

Em 1459, o Papa Pio II editou uma

Bula reconhecendo o novo estatuto

da Ermida, passando definitivamente

a ser designada como a Igreja Paroquial

de Santa Maria de Belém. Teria

sido nessa capela que Vasco da Gama

e os seus valorosos argonautas ouviram

missa no dia da partida para

a demanda do há muito desejado e

procurado caminho marítimo para

o Oriente, para a Índia, que daria,

a quem o conhecesse e dominasse,

o acesso a riquezas e glórias incomensuráveis.

A ermida de Santa Maria de Belém

continuou, ao longo dos tempos,

a dar apoio religioso e material

aos marinheiros e à população local,

como é exemplo o chafariz aí instalado,

equipamento social de grande

importância à época.

A 6 de Janeiro de 1501 foi lançada,

pelo rei D. Manuel I, a primeira pedra

para a construção do Mosteiro

de Santa Maria de Belém ou Mosteiro

dos Jerónimos, nome pelo qual é

na actualidade reconhecido. Esta designação

resulta da transferência da

administração da ermida, que o rei

ordenou por essa altura, da Ordem

de Cristo para a Ordem dos Hieronimitas

ou dos Jerónimos.

Com a construção, no princípio

do século XVI, das duas pérolas da

arquitectura Manuelina, o Mosteiro

dos Jerónimos e a Torre de Belém,

Belém ganhou outra dimensão. De

local de lazer e descanso, das quintas,

de campos de caça dos mais ricos e

poderosos do reino, passa também

a representar um ponto estratégico,

próprio e único, na vida de Lisboa

e de Portugal, por toda a riqueza

histórica e politíca, monumental

e simbólica, que passou a encerrar

e a transportar consigo.

Ao longo do século XVI deu-se um

significativo crescimento do povoado

na zona de Belém, ou do Restelo,

com o surgimento de novas casas

para alojar os artífices, os mestres-

-de-obras e as demais gentes, de todas

as profissões e actividades, necessárias

à construção do grandioso

Mosteiro, que provinham das mais

variadas origens sociais e geográficas.

A importância deste projecto foi

desde a primeira hora reconhecida

e protegida por sucessivos decretos,

percursores da legislação patrimonial

dos nossos dias. D. João III

decretou o embargo, em 1554, de

quaisquer edificações que prejudicassem

a sua vista a partir do rio, assim

como proibira, em 1538, casas

de má fama na sua proximidade e

até mesmo que se estendesse roupa

a enxaguar no areal em frente ao

mosteiro, em 1548.

Em 1552 foi criada a freguesia da

Ajuda que passou a abranger toda

a parte ocidental de Lisboa. Em 20

de Agosto de 1654, através de uma

lei que determina quais as novas freguesias

que compõem a Cidade e o

seu Termo, Belém e Alcântara pas-

Brasão do antigo Munícipio de Belém

Ecos de Belém INVERNO 2016


9

sam a pertencer à freguesia de Nossa

Senhora da Ajuda.

Em 1833 foi instituída a freguesia

de Belém e, mais tarde, existiu mesmo

o Concelho de Belém, que teve

vida curta. Foi criado em 1852, por

decreto de 11 de Setembro, para

se extinguir em 1885, a 18 de Junho,

e voltar de novo a ser freguesia

de Lisboa.

Foram Presidentes da Câmara Municipal

de Belém, entre outros, o escritor

e historiador Alexandre Herculano

e o Conde do Restelo, Pedro

Augusto França.

Para além do crescente casario,

destacavam-se já várias casas nobres,

entre elas a Quinta da Praia,

onde hoje se situa o Centro Cultural

de Belém, e os terrenos dos condes

de Aveiras, área agora ocupada

Reguengo ou

realengo, em

português arcaico,

denominava uma

“ terra pertencente

ao Rei”, terra que

por conquista ou

confiscação era

incorporada no

Património

Real.

pelos Jardins Agrícola e Tropical e

Palácio de Belém.

Durante esse século XVI o infante

D. Luís, filho de D. Manuel I, e a

rainha Dona Catarina, mulher de

D. João III, pensando nos marinheiros

e nas suas famílias, instituíram

duas Mercearias, designação

que tem origem na palavra “mercê”.

Esta obra pia era constituída

por conjuntos de pequenas casas,

nas quais viviam, com as suas famílias,

homens de condição nobre,

que devido à sua participação na

aventura dos descobrimentos, tivessem

ficado estropiados ou na

miséria. As benesses destas mercearias

incluíam uma certa quantidade

de mantimentos, renda fixa,

serviços de barbeiro, de médico e

cirurgião.

INVERNO 2016 Ecos de Belém


10

A Mercearia de Dona Catarina ficava

no local onde hoje se encontra

a Pensão Setubalense, na rua

de Belém. Os merceeiros estavam

obrigados ao cumprimento de regras,

como assistir a um determinado

número de missas e de celebrações

religiosas.

As instituições religiosas, as casas

nobres, os bons ares e as formas

de lazer proporcionadas pelo rio

Tejo, bem como a azáfama provocada

pelo movimento marítimo, contribuíram

para o desenvolvimento

comercial e social do local.

D. João V, em 1726, com os cofres

cheios do ouro do Brasil, compra

a Quinta de Belém ao conde de

Aveiras, que passou a ser morada

da família real por longos períodos

do ano; tanto que se tornou conhecida

como a Casa Real do Campo

de Belém.

Em 1755 Belém, e toda a zona

envolvente, foi poupada ao flagelo

do grande terramoto devido às

suas características geológicas, muito

específicas e diferentes quando

comparadas com as do centro da

cidade de Lisboa.

O rei D. José I (1714-1777) e a

família encontravam-se nesse 1º de

Novembro, dia de Todos-os-Santos,

no “Campo Real” de Belém. A perturbação

foi de tal ordem que durante

muito tempo passaram a viver

nessa zona, transferindo-se, a corte

e a administração régia, para o eixo

Belém-Ajuda, tendo como epicentro

o “Campo Real” de Belém e a

“Real Barraca” da Ajuda.

Durante esse período, o local tornou-se

o centro político do país, reforçando

o seu interesse e procura.

A 6 de Fevereiro de 1873 foi inaugurada

a linha de caminho de ferro

americano, de tração animal e

transvias sobre um percurso, entre

o Rossio e Belém. A partir daí, principalmente

aos Domingos e durante

o Verão, atraídos pelas praias e

pela feira, a procura por Belém

disparou e os “americanos”, puxados

a cavalos, contribuíram de

forma decisiva para essa animação.

O trajeto fazia-se junto ao mar,

pelo que uma forte e nova componente,

a turística, se juntava ao ludismo

da viagem, para grande contentamento

dos passageiros.

A Feira de Belém, regulamentada

por um edital de 1871, logo se

transformou numa das suas principais

atrações. Realizava-se, inicialmente,

no espaço fronteiriço ao

Mosteiro dos Jerónimos durante

os meses de Verão. Na passagem

para o século XX , a feira mudou-

-se para o então Largo D. Fernan-

Ecos de Belém INVERNO 2016


11

Mercê: aquilo que

se dá ou paga em

retribuição de um

trabalho; concessão

de título honorífico;

provimento em

cargo público;

benefício; graça;

Indulto.

do, actual Praça Afonso de Albuquerque.

A Feira era organizada por ruas, ficando

as principais barracas, as mais

visitadas, na via central. As barracas

da “grande suspensão magnética”,

da “mulher hermaphrodita”, de “comes

e bebes”, são representativas

do tipo de atração que se oferecia.

Essa marca simultaneamente burguesa,

comercial e popular, de reminiscências

medievais, apesar de

sucessivas alterações sofridas no

decorrer dos tempos, sobretudo

as que foram introduzidas com o

plano urbanístico de 1939, na sequência

da preparação da Exposição

do Mundo Português de 1940,

- o desaparecimento das feiras, do

mercado principal, dos restaurantes

ambulantes, do hipódromo, do

campo de futebol, do chafariz e do

conjunto de prédios que o rodeavam

- é reconhecida, ainda hoje,

principalmente na Rua de Belém,

ex-Rua Direita de Belém, e na actual

Rua Vieira Portuense, outrora

a rua do cais, banhada pelo rio ainda

no século XV.

Nessa rua ainda podemos ver

hoje alguns dos edifícios mais antigos

da zona, que com a disposição

alongada dos lotes que apresenta,

aponta para um urbanismo

de concepção medieval. Desses antigos

edifícios destacam-se os prédios

que, no andar térreo, apresentam

arcadas formadas por colunas

de bases e capitéis regulares.

Belém sempre beneficiou da sua

posição privilegiada, como zona repousante

e aprazível, dos seus ares

frescos e saudáveis, resultantes da

proximidade do rio, da deslumbrante

arborização, dos espaços abertos

das suas colinas, por contraste com

uma cidade medieval, a dois passos,

de ruas estreitas, escuras e sujas

- cidade que só se alterará após

o terramoto de 1755.

Hoje a Freguesia de Belém, pertence

ao Concelho de Lisboa e ao

seu ao 2º Bairro Administrativo,

apresenta uma área de 10,43km2 e

16.561 habitantes dos quais 15.073

são eleitores inscritos.

Atlas da Carta Topográfica de Lisboa, Filipe Folque 1856-58

INVERNO 2016 Ecos de Belém


12

500 anos

da Torre

de Belém

Torre de Belém

A

Torre de Belém localiza-se na

margem direita do rio Tejo.

Foi construída sobre um ilhéu

de basalto, a cerca de 180 metros

da margem, à entrada da cidade.

Inicialmente todo o seu perímetro

estava cercado pelas águas do Tejo.

Com o decorrer dos tempos e de sucessivas

conquistas ao rio, progressivamente,

foi sendo envolvida pela

praia e assim se ligou à terra firme.

A ideia da sua construção nasceu

com D. João II (1455-1495), o Príncipe

Perfeito, mas coube a D.Manuel

I (1469-1521), o Venturoso, lançar

e concluir as obras. Estas iniciaram-

-se em 1514 e estavam concluídas

em 1520.

Francisco Arruda, regressado do

Norte de Àfrica, onde se distinguiu

na construção de fortalezas, foi nomeado

Mestre do Baluarte de Belém,

sob a orientação de Diogo de Boitaca

que, ali próximo, dirigia os trabalhos

do Mosteiro dos Jerónimos.

Inicialmente designada de Baluarte

de São Vicente a par de Belém ou

Baluarte do Restelo, invocando São

Vicente de Saragoça, o padroeiro de

Lisboa, fazia parte do plano defensivo

da barra do Rio Tejo e da sua cidade,

constituíndo um sólido triângulo

dissuasor e capaz de resposta

de fogo contra quaisquer intenções

agressivas.

Esse triângulo era constituído pela

articulação de três baluartes: os já

existentes Baluartes de Cascais, à

entrada da foz, e o de S. Sebastião

da Caparica, na margem esquerda,

e em substituição da Grande Nau

ancorada na margem direita, o Baluarte

do Restelo, mais tarde conhecido

por Torre de Belém.

Ecos de Belém INVERNO 2016


13

MONUMENTAL

INVERNO 2016 Ecos de Belém


14

Esta pérola do Manuelino, está

repleta de decorações que simbolizam

o poder do rei, como os calabres

que envolvem o edifício, rematando-o

com elegantes nós, ou

as esferas armilares e as cruzes da

Ordem de Cristo.

A contribuição prestada por Francisco

de Arruda é bem visível na forma

arquitectónica e nas suas proporções

delicadas, bem como nas

influências islâmicas e

orientais dos elementos

decorativos, sendo as

cúpulas de gomos que

cobrem as guaritas um

dos exemplos mais marcantes.

Na estrutura da Torre

podemos distinguir dois

elementos principais: a

Torre e o Baluarte. A Torre

com 30 metros de altura,

ainda com claras

remanescências da tradição

medieval, mais esguia

e com quatro salas

abobadadas. O Baluarte,

de conceção moderna,

mais largo e com a sua

casamata onde, a toda a volta, se

dispunha a artilharia, anunciando o

fim da tradição das torres de menagem

e o início da predominância das

fortalezas. Nos ângulos do terraço

da Torre e do Baluarte, sobressaem

guaritas cilíndricas coroadas por cúpulas

de gomos, ricamente decorada

em cantaria de pedra.

A Torre quadrangular eleva-se

acima do Baluarte em cinco pavimentos:

o primeiro pavimento corresponde

à Sala do Governador; o

segundo à Sala dos Reis, com tecto

Rinoceronte-Indiano. Xilogravura, Albrecht Dürer 1515

elíptico e fogão monumental; o terceiro

à Sala de Audiências; o quarto

à Capela e o quinto ao Terraço. A

nave do Baluarte poligonal, ventilado

por um claustrim, abre 16 canhoeiras

para tiro rasante de artilharia.

O terrapleno, guarnecido por

ameias, constituiu uma segunda linha

de fogo, e aí se encontra o santuário

de Nossa Senhora do Bom

Sucesso com o Menino, também conhecida

como a Virgem do Restelo

ou “Virgem das Uvas”, padroeira dos

descobrimentos portugueses, símbolo

das descobertas e do "bom sucesso"

na conquista de novos territórios

para a cristandade.

A beleza deste monumento reside

muito na decoração exterior, adornada

com cordas e nós esculpidos

em pedra, galerias abertas, torres de

vigia ao estilo mourisco, parapeitos

ameiados de profusa decoração manuelina,

com ameias em forma de

escudos, decoradas com a cruz da

Ordem de Cristo e com esferas armilares.

Também predominam elementos

naturalistas, com destaque

para o rinoceronte.

A esfera armilar era um modelo reduzido

do cosmos que servia como

instrumento de astronomia aplicado

às navegações e que historicamente

se tornou um símbolo manuelino

de poder marítimo, político e económico,

que continua

identificado como um

símbolo luso, incluído

no centro da bandeira

nacional.

O interior gótico, por

baixo do terraço, que serviu

como armaria e prisão,

é muito austero. Sofreu

várias reformas, ao

longo dos séculos, principalmente

a do século

XVIII, que privilegiou as

ameias, o varandim do

Baluarte, o nicho da Virgem,

voltado para o rio

e o claustrim. O acesso

ao interior da Torre faz-

-se através de uma ponte

elevadiça.

Com o passar do tempo e com a

construção de novas fortalezas, mais

modernas e eficazes, a Torre foi perdendo

a sua função de defesa da

barra do Tejo. Durante os séculos

que se seguiram, desempenhou diversas

funções, desde do controlo

aduaneiro, de telégrafo e até de farol.

Foi também prisão política, viu

os seus armazéns transformados em

masmorras, a partir da ocupação filipina,

em 1580, e em períodos de

grande instabilidade.

Ecos de Belém INVERNO 2016


15

Forte do Bom Sucesso e o Monumento

aos Combatentes do Ultramar

Situado entre as praias do Bom

Sucesso e Pedrouços, na margem

direita do rio Tejo, para

complemento da linha defensiva

de Belém, foi iniciado em 1780 e

concluído em 1782 sob a direcção

do general Guilherme de Vallerée.

O Forte apresenta uma planta poligonal.

A sua bateria ligava-se à parede

oeste do baluarte através de

um corredor muralhado

Desde 1992, o exterior do antigo

forte passou a integrar o Monumento

Nacional dos Combatentes

do Ultramar, projectado pelo arquitecto

Guedes de Carvalho.

Requalificado como espaço museológico,

administrado pela Liga

de Combatentes, apresenta como

exposição permanente “O Combatente

Português”. Ao ar livre encontram-se

três espaços com equipamento

relativo aos respectivos

ramos das Forças Armadas. O Museu

conta ainda com zonas de convívio,

salas de conferência e de projecções,

e bar.

Coube à Liga dos Combatentes

liderar o processo da realização do

monumento que homenageia todos

os que morreram por Portugal na

Guerra do Ultramar (1961-1974),

que decorreu, simultaneamente,

em três frentes: Angola, Moçambique

e Guiné-Bissau.

A obra foi iniciada em 1993 e

inaugurada a 15 de Janeiro de 1994.

A frieza geométrica monumental é

quebrada pela chama sempre acesa,

a “Chama da Pátria”, que nos

remete para os mais de oito séculos

da nossa História e para todos

os portugueses que morreram ao

serviço de Portugal.

Nas lápides, colocadas nas muralhas

do forte, estão as listas oficiais,

por anos e por ordem alfabética,

dos que morreram, bem como

a referência aos que, pelos mais variados

motivos, não constam dos

números oficiais.

Este Monumento, além de pretender

traduzir de uma forma simples,

mas duradoura e pública, o

reconhecimento de Portugal a todos

os seus combatentes, é também

um apelo à convivência fraterna e

solidária entre todos os povos envolvidos

nessa guerra, que pertence

ao passado.

MONUMENTAL

INVERNO 2016 Ecos de Belém


16

OCentro de Investigação A metodologia translacional, que foi criada por António de Sommer

Champalimaud materializa estabelece uma ligação directa e de Champalimaud (1918-2004), figura

ímpar do século XX português,

o objetivo programático da interdependência entre a investigação

Fundação Champalimaud de contribuir

para a criação de um ambiente

propício à investigação de ponta,

que combata doenças que afectam a

humanidade. Esse propósito inicial

está associado ao de colocar Portugal

na liderança mundial, na vanguarda

da inovação cientifíca e tecnológica,

patrocinando novos padrões de conhecimento

através deste polo de

última geração, na investigação e

na prestação de cuidados clinícos,

em áreas previamente seleccionadas.

e a actividade cliníca, é outra

das marcas identificadoras deste

Centro: as descobertas pioneiras

na saúde são para terem um reflexo

direto na qualidade de vida das

pessoas, no bem-estar e saúde da

humanidade.

Após o necessário período de estudo

e reflexão, as áreas eleitas foram

as neurociências, a oncologia

e a cegueira e sua prevenção.

A Fundação D.Anna de Sommer e

Dr. Carlos Montez Champalimaud

no plano da economia e da indústria,

que legou, em testamento, 500

milhões de euros para esse efeito.

Constituída a 21 de janeiro de

2005, tendo como Presidente testamentária

a Drª Leonor Beleza, escolhidas

as áreas da biomedicina

em que passaram a actuar, o Centro

Champalimaud e a sua comunidade

cientifíca foram capazes de cumprir,

ao longo da sua primeira década, os

iniciais compromissos programáticos,

e hoje são um marco no mapa

Fundação Ch

Ecos de Belém INVERNO 2016


17

da ciência internacional. O Centro é

um projeto da autoria do Arquitecto

Charles Correa, construído num

terreno de 60.000m2, próximo da

Torre de Belém, na zona ribeirinha

de Pedrouços, onde o rio e o mar

se encontram.

O Centro Champalimaud inclui

dois edifícios: o principal, que conta

nos pisos inferiores as áreas de

diagnóstico e de tratamento, e nos

pisos superiores os laboratórios de

investigação básica e os serviços administrativos;

outro, que inclui um

Auditório, uma Área de Exibições e

entrada; no piso superior estão os

escritórios da Fundação, que comunicam

com os serviços. A envolver

os dois edifícios apresenta-se um

espaço aberto, com jardins panorâmicos

e um anfiteatro ao ar livre.

O jardim tropical interior, o jardim

Anna Sommer, coberto por uma

pérgola, envolto por uma fachada

de vidro é, talvez, a área mais marcante

do edifício principal.

O Centro Champalimaud tem ainda

o mérito de promover a relação

da cidade, dos moradores e visitantes,

com o seu rio e oceano, a luz e

plas zonas ajardinadas de circulação

pedonal através do empreendimento

e ao longo do rio.

Charles Correa, com fortes ligações

a Goa e a Portugal, assinalou no

seu discurso, aquando da inauguração

da sua obra, a 5 de Outubro de

2010: “Este projecto estiliza os mais

elevados níveis de ciência e medicina

contemporânea para ajudar pessoas

a lutar contra problemas reais.

E para acolher estas actividades pioneiras,

nós tentamos criar uma peça

de arquitectura. Arquitectura como

escultura. Arquitectura como beleza.

Beleza como terapia”.

uma Área de Restauração no piso de o sol, oferecendo esplanadas e am-

ampalimaud

MONUMENTAL

INVERNO 2016 Ecos de Belém


18

Museu de

Arte Popular

O

edifício

do Museu de Arte Popular

resulta da adaptação de

alguns dos antigos Pavilhões

da “Secção da Vida Popular”, integrados

no conjunto construído para a Exposição

do Mundo Português.

Após a exposição, e por decisão

de António Ferro, director do então

SPN (Secretariado de Propaganda Nacional),

foi aí instalado o “Museu do

Povo”, inaugurado em 1948.

O projeto agregou a arquitectura,

a escultura e a pintura num programa

global Modernista, que se apresentou

sobretudo como um dos últimos

testemunhos da Exposição de

1940, associada à ideologia do Estado

Novo, que presidiu à sua criação.

O conjunto arquitectónico sofreu

diversas intervenções ao longo de décadas,

incluindo a demolição de uma

parte do edifício.

O encerramento das cinco salas de

exposições permanentes - as salas

de Entre Douro e Minho, de Trás-os-

-Montes, do Algarve,das Beiras e da

Estremadura e Alentejo - é um caso

bem ilustrativo dessas intervenções.

Entretanto,durante esse processo, o

espólio que era exposto nessas salas,

foi transferido para o Museu Nacional

de Etnologia.

A partir de 2000 foi realizada mais

uma tentativa de reabilitação do Museu,

e mais uma vez, não resultou.

Hoje é utilizado, de forma intermitente,

servindo de local de algumas

exposições e eventos temporários.

Restam disponíveis aos ocasionais

visitantes mais curiosos as pinturas

murais que se encontram na área da

recepção, onde está instalada a loja

do museu.

Fazemos votos para que este espaço

cumpra alguma vez a sua missão e se

transforme,por exemplo, numa mostra

viva da actual Arte Popular.

Ecos de Belém INVERNO 2016


19

A Exposição

do Mundo

Português

Esta grandiosa exposição enquadrou-se

num propósito

ideológico bem definido

do Estado Novo e estava associada

às Comemorações do Duplo

Centenário da Fundação (1140)

e da Restauração (1640).

Inaugurada em 1940, solenemente,

pelo então presidente general

Carmona, pretendeu transmitir

uma imagem de unidade e

estabilidade do Império Português,

enquanto o resto do mundo se

dilacerava com a 2ªGuerra Mundial,

e para o efeito é construída

a Praça do Império idealizada por

Duarte Pacheco.

Em 1936 foram projectados os

pavilhões ocupando 450 mil metros

quadrados na Barra do Restelo,

em Belém. Foram mobilizados

5000 operários e incontáveis escultores,

pintores, decoradores, costureiras,

aderecistas e outros técnicos

e a direcção da obra entregue

a 15 engenheiros e 17 arquitetos,

destacando-se como membros da

Comissão Executiva, Júlio Dantas,

Cottinelli Telmo e António Ferro.

Será encarada, segundo a linguagem

da época, como uma “antologia

poética da alma e da raça

portuguesas”. Em 1938, Salazar

define os objetivos, pretendendo

uma exposição histórica, “grande

documentário de civilização”. Para

o mesmo efeito publica-se a Revista

dos Centenários entre 1938 e 1940.

Os pavilhões temáticos que constituíam

a Exposição incluíam o da

Fundação de Portugal e da Independência,

ambos da autoria de Raul Rodrigues

Lima, da Colonização de Carlos

Ramos, do Brasil de Raul Lino,

da Honra e de Lisboa de Cristino

e Silva, dos Portugueses no Mundo

de Cottinelli Telmo, arquiteto-

-chefe de todo o programa, e o Padrão

dos Descobrimentos. Este foi

um dos monumentos mais visitado

e admirado e dos poucos que escaparam

ao efémero.

MONUMENTAL

INVERNO 2016 Ecos de Belém


20

Em 1940, o Padrão dos Descobrimentos,

obra de Cottineli

Temo e de Leopoldo de

Almeida, foi projectado e erguido

a título precário e provisório, em

gesso e madeira, também para a

Exposição do Mundo Português,

transformando-se numa das suas

principais atracções.

Entretanto, como a quase totalidade

dos edifícios da Exposição,

também ele foi demolido. Mas em

1960, por ocasião das Comemorações

do 5º Centenário da Morte do

Infante D.Henrique, o monumento

foi reerguido em betão armado

e pedra rosal de Leiria e inaugurado

no dia 10 de Agosto desse ano.

A monumentalidade é a sua primeira

marca. Ergue-se a 50 metros

do solo, tem 20 metros de largu-

O Padrão dos

Descobrimentos

e a Rosa dos

Ventos

Em 1960 foi reerguido o Padrão dos

Descobrimentos e inaugurada a Rosa dos

Ventos...

Ecos de Belém INVERNO 2016


21

ra, 46 de comprimento, ocupa uma

área de 695 m2 e uma profundidade

média das estacas-fundação de 20m.

O Monumento homenageia os navegadores

portugueses e os diversos

protagonistas que, de alguma

forma, estiveram ligados aos descobrimentos.

O Padrão, como é vulgarmente

chamado, é pois mais um marco

que pretende enaltecer a nossa epopeia

marítima, enquanto projecto

que mobilizou uma nação.

Simboliza um barco, uma caravela

estilizada, pronta a partir, a navegar,

com o Infante D. Henrique

(1394-1460) ao comando, à proa,

no lugar mais destacado.

Tem nas mão uma pequena embarcação,

que transporta com enlevo

protector. É a mesma preocupação

obstinada, que se pode adivinhar no

olhar, que prescruta o horizonte, e

que foi imprescindível para a idealização

e a concretização do épico

projecto, que ele inicialmente dirigiu,

de chegar à Índia das especiarias

pelas via maritíma.

Aqui acompanham o Príncipe

Perfeito os seus principais nave

gadores, militares, geógrafos, matemáticos,

cosmógrafos, cronistas,

pintores, poetas, homens de leis,

evangelizadores e gente do povo.

Todas as figuras tem 7m de altura,

à excepção do Infante D.Henrique,

que tem 9m.

O Interior do monumento tem

sete pisos e inclui o auditório, a sala

de projecções, bar, salas de exposições

e o terraço, com uma espectacular

vista panorâmica. À frente da

porta de acesso do Padrão deparamo-nos

com a monumental figura

da Rosa dos Ventos, que além

das quatro direções fundamentais

e as intermédias, revela as viagens

mais marcantes desse período, as

rotas dos descobridores portugueses

nos séculos XV e XVI, assinalando

num grandioso mapa, datas,

percursos, personagens ricamente

ilustradas, salpicado por galeões

e sereias, num admirável trabalho

que junta, em doses certas, arte,

rigor histórico e fantasia.

Foi o governo da União da África

do Sul que, em 1960, concebeu

e ofereceu o projecto desta

Rosa-dos-ventos, com 50 metros

de diâmetro, trabalhada por calceteiros

portugueses em mármore

português.

MONUMENTAL

INVERNO 2016 Ecos de Belém


22

Mosteiro

dos

Jerónimos

O

Real Mosteiro de Santa Maria

de Belém, mais conhecido

por Mosteiro dos Jerónimos,

estará sempre associado à grandeza

de um sonho e à capacidade singular

de um povo o concretizar.

Os Mares sempre foram vias de

comunicação, mas com os portugueses,

com os seus estadistas ao

comando, acompanhados por navegantes,

cartógrafos, marinheiros,

argonautas, com todos aqueles, provenientes

dos mais variados e diversos

locais e origens, que participaram

nessa epopeia Quinhentista que

foram as “ Descobertas”, o mundo

passou a ser, definitivamente, um

só e único, finalmente redondo, e

os mares a sua via de aproximação

privilegiada.

Em 1459 uma bula papal de Pio II

confirmou e instituiu em paróquia a

capela já existente na ermida de Santa

Maria de Belém (ou do Infante) e

refundada pelo Infante D. Henrique.

O rei Manuel I (1469-1521), imediatamente

depois de ser coroado,

pediu, por sua vez, autorização à

Santa Sé, ao Papa Alexandre VI, para

erguer um grande mosteiro à entrada

da luminosa Lisboa numa das

margens do seu rio Tejo. O local eleito

foi o mesmo onde estava situada

a Igreja de Santa Maria de Belém.

O monarca determinou também

que passaria a ser o jazigo real, o

panteão do ramo dinástico Aviz-Beja,

por ele iniciado.

Em 1496, a bula papal fundou canonicamente

o Mosteiro da Santa

Maria de Belém.

D. Manuel I ordenou, em seguida,

que os cavaleiros da Ordem de Cristo

cedessem a Igreja, casas, anexos e

terrenos envolventes, à Ordem dos

Jerónimos .

As obras arrancaram em 1502, financiadas,

sobretudo, pelo comércio

das especiarias e pedrarias do Oriente

e do ouro da Guiné.

Construído em calcário de lioz, pedra

que se extraía de locais próximos

à Ajuda, ao Vale de Alcântara, nas

Laveiras (Caxias), do Rio Seco ou

de Tercena, à qual se juntava a areia

transportada do rio em barcaças e os

tijolos vindos de Lisboa, de Alhandra

e de Povos (Vila Franca de Xira).

Ecos de Belém INVERNO 2016


23

O pergaminho original do projecto

apresentava uma área quatro vezes

maior do que a obra final.

Em todo caso, dada a enormidade

da sua dimensão, ao longo do

demorado processo de construção

teve a intervenção de vários arquitectos,

mestres e construtores e levou

mais de 100 anos a ser concluída.

Em séculos posteriores, sofreu

ainda significativas obras de remodelação

ou de manutenção.

No seu interior, debaixo das imponentes

cúpulas e de suas abóbodas,

sustentadas por grandiosas e

elegantes colunas, ornamentadas

com cordame e múltiplos motivos

náuticos, com traços e figuras geométricas,

com símbolos iniciáticos,

enriquecidas pela luz natural resultante

da sábia filtragem dos vitrais

ou de algum outro ponto, propositadamente

construído para esse efeito,

podemos sentir, peregrinos ou

visitantes, a grandiosidade e harmonia

desta jóia Manuelina e do tempo

de onde ela provém.

Dessa arquitectura inicial resultou

o mais notável conjunto monástico

do seculo XVI em Portugal,

e uma das principais Igrejas-Salão

da Europa.

Integra elementos arquitectónicos

do Gótico Final e do Renascimento,

associando-lhe uma simbologia

régia, cristológica e naturalista. É o

Manuelino no seu máximo esplendor:

a Porta sul e a Porta Axial ou

Principal, com os seus respectivos

grupos escultóricos, a grande Igreja

com as suas Capelas, a Sacristia,

o Sub-Coro, a Nave Central, o Coro

Alto, o Claustro, o Refeitório ou a

Sala do Capítulo.

A Vintena da

Pimenta

De início as obras decorreram

sob completa

dependência do rei

D. Manuel I, que orçamentou e

canalizou as verbas necessárias.

A maior parte dessas verbas resultavam

da “Vintena da Pimenta”,

imposto de cerca de 5%, criado

para taxar as receitas provenientes

do comércio com a África e

com o Oriente, desembarcado

na praia do Restelo.

Nessa fase a receita anual arrecadada

rondaria os 400.000 cruzados.

Um cruzado equivalia a 3,6

gramas de ouro, pelo que as receitas

equivaliam, anualmente,a

1400Kg de ouro, dos quais 70Kg

dedicados à monumental obra.

A administração cabia à Mesa

dos Contos, uma junta directamente

dependente do rei, formada

por um provedor, um almoxarife

e um escrivão, assistidos pelo

vedor ou recebedor e pelo chefe

do estaleiro, o “homem das

obras”. A comunidade Jerónima

não tinha qualquer poder de decisão

e o próprio arquitecto ou

“mestre de obras”, inicialmente tinha

fraca intervenção. O dinheiro

arrecadado pela taxa da vintena

era entregue na casa do banqueiro

florentino Bartolomeu Marchioni,

agente dos Médicis em Lisboa,

que entregava mensalmente

a quantia necessária para as despesas

correntes das obras.

MONUMENTAL

INVERNO 2016 Ecos de Belém


24

Museu Nacional de Arqueologia

O

actual Museu Nacional de

Arqueologia foi fundado em

1893 pelo Dr. José Leite Vasconcelos,

seu primeiro director. Começou

por se intitular Museu Etnográfico

Português e localizou-se no

edifício da Academia das Ciências

de Lisboa.

Em 1900 mudou-se para o recém

remodelado Mosteiro dos Jerónimos

onde permanece até hoje. Ao

longo de mais de um século de existência,

consolidou a sua posição

como instituição de referência da

arqueologia portuguesa; manteve

e desenvolveu correspondência regular

com museus, universidades e

instituições de todo mundo. O seu

acervo começou por reunir as colecções

do seu fundador e de Estácio

da Veiga. A estas juntaram-se muitas

outras públicas - como as colecções

de arqueologia da Casa Real Portuguesa

e do antigo Museu das Belas

Artes - ou particulares - como as de

Bestorff Silva, Luís Bramão ou Samuel

Levy.

O Museu oferece exposições permanentes,

edita com regularidade,

entre outras, a revista científica “O

Arqueólogo Português” desde 1895

e está integrado numa rede de mais

de 300 instituições correspondentes

em todo mundo.

Conservação e restauro de bens

arqueológicos, seminários, conferências

e cursos da especialidade,

além de uma importante biblioteca

especializada fundamental para

o apoio à investigação portuguesa,

são, entre outros, os principais serviços

prestados por esta centenária

e valorosa instituição.

A Loja e a Livraria são outros dos

atractivos que apelam pelos visitantes

que, diariamente, percorrem os

seus espaços.

O MNA - Museu Nacional de Arqueologia

- continua, hoje, a cumprir

a sua original missão, definida

pelo seu fundador, i.e., contar a história

do povoamento do nosso território,

desde as origens até à fundação

da nacionalidade.

Ecos de Belém INVERNO 2016


25

Apesar de grande parte do património

histórico da Marinha

Portuguesa se ter perdido

aquando do terramoto de 1755

e, mais tarde, com as Invasões Francesas,

foi por iniciativa do rei D.Luís

que se deu o primeiro passo para

a edificação do Museu da Marinha.

A 22 de Julho de 1863, foi decretada

a constituição de uma colecção

de testemunhos relacionados com

a actividade marítima portuguesa.

A criação deste museu teve também

como objetivo auxiliar a formação

dos oficiais, pelo que teve como

primeira morada a Escola Naval que

funcionava no Arsenal em Lisboa.

O rico acervo museológico também

reflecte o esforço de preservação

que se observou durante os

séculos XVI e XVII. Foi o caso dos

modelos de navios existente no Palácio

da Ajuda, doados pela Rainha D.

Maria II à Real Academia dos Guardas-Marinha,

predecessora da Escola

Naval que por sua vez está na

base da criação do próprio Museu.

Em 1948, Henrique Maufroy de

Seixas legou a sua vasta e valiosa

colecção particular. O testamento

obrigava que fosse encontrado um

imóvel condigno e preparado para

receber e exibir a sua colecção. O

Mosteiro dos Jerónimos foi o escolhido

como opção ideal.

Passou entretanto por vários espaços,

ao longo deste processo, e só a

partir de 15 de Agosto de 1962, abriu

oficialmente as suas portas, nas alas

norte e poente, no corpo dos antigos

dormitórios dos monges do Mosteiro

dos Jerónimos.

Mais tarde, junto a estas alas, foi

construído um amplo pavilhão para

exposição das galeotas e um complexo

destinado à direcção e serviços.

Desde de então o Museu da Marinha

tornou-se um dos mais importantes,

reconhecidos e visitados museus

portugueses.

Galés, embarcações fluviais e costeiras,

navios desde os Descobrimentos

até ao século XIX, coleções de

armas, fardamentos, instrumentos

e cartas marítimas, são as principais

peças que fazem parte do seu acervo.

A Biblioteca Central da Marinha, fundada

em 1835 e instalada inicialmente

na Rua do Arsenal funciona nos Jerónimos

desde Agosto de 1981.

Museu da Marinha

MONUMENTAL

INVERNO 2016 Ecos de Belém


26

Planetário Calouste Gulbenkian

O

objectivo

de qualquer planetário,

e de acordo com os

promotores, é trazer à Humanidade

o antigo gosto em observar

o céu estrelado, compreender a

harmonia e o sistema, sem ser perturbado

pela poluição atmosférica

ou luminosa.

Um Planetário permite uma condensação

de tempo, de tal ordem,

que dias, anos e séculos, se transformam

em segundos. Em 20 de Julho

de 1965 foi inaugurado um centro

científico e cultural, integrado

no Museu da Marinha, denominado

Planetário Calouste Gulbenkian.

Assim se satisfazia uma das aspirações

dominantes da Sociedade

Astronómica de Portugal, fundada

em 1917, como também se tornava

realidade o antigo sonho de

um oficial da Marinha e brilhante

Um Planetário

permite uma

condensação

de tempo, de tal

ordem, que dias,

anos e séculos, se

transformam em

segundos.

astrónomo amador, o Comandante

Eugénio Silva.

Com o seu espírito inventivo e

meticuloso, decisivamente contribuiu

para a instalação de um moderno

aparelho de projecção astronómica

numa sala de cúpula semi

esférica, semelhante a muitas outras

infra estruturas que começaram

a ser construídas nas principais capitais

europeias, permitindo visualizar

as estrelas em qualquer lugar

e qualquer tempo.

A Fundação Calouste Gulbenkian

custeou o equipamento de projecção

e a respectiva cúpula interior

e o Estado as despesas relativas às

obras de construção civil, instalação

de condicionamento de ar, instalações

eléctricas e plateia.

O projector escolhido foi o modelo

UPP 23/4 da pioneira Carl Zeiss

Jena, um aparelho óptico-mecânico

fisicamente constituído por um

corpo cilíndrico com duas grandes

esferas em ambas as extremidades.

No interior de cada uma delas estava

instalada uma lâmpada de tungsténio

de 1000 W, rodeada de 8

lentes semi esféricas.

Ao longo de 39 (1965-2004) anos

de actividade ininterrupta - tendo

mesmo ultrapassado o limite de

vida útil estabelecido pelo fabricante

- exibiu um magnífico céu

estrelado para cerca de 3 milhões

de espectadores!

Hoje, o “velhinho” projector goza

merecido descanso em lugar de

destaque na Galeria do Planetário,

onde continua a ser olhado com a

admiração e respeito a que sempre

esteve habituado.

Foi substituído pelo Universarium

IX, um novo projector principal e

respectivos sistemas de projecção

astronómica periférica, também da

marca Carl Zeiss, que desde julho

de 2005, após obras que incluíram

a remodelação do auditório e

galeria circundante, permite ao

Planetário Calouste Gulbenkian

continuar com êxito a sua missão

de divulgação da astronomia em

Portugal.

Ecos de Belém INVERNO 2016


O

jardim da Praça do Império

inscreve-se num quadrado

fronteiro ao Mosteiro dos

Jerónimos. Os grandes alinhamentos

de ciprestes em conjunto com as

oliveiras dão-lhe o carácter evocativo

da paisagem portuguesa.

Dos três lagos existentes, o central

é marcado pela Fonte Luminosa

- ou Fonte Monumental de Belém

- e os laterais pelos elementos

escultóricos.

Os pavimentos são em genuína

calçada portuguesa, evidente no

modo de execução e nos motivos

decorativos, destacando-se os signos

do Zodíaco em três das principais

entradas do jardim. Nas “caixas”

de roseiras existentes no lado

mais próximo dos Jerónimos, são

curiosos os motivos de mosaico-

-cultura executados em buxo, inspirados

nos ornamentos manuelinos

do mosteiro.

O jardim é ainda rodeado pelo

Centro Cultural de Belém, Museu

da Marinha, Planetário Calouste Gulbenkian

e Museu Nacional de Arqueologia.

O Jardim, inspirado no estilo clássico

dos jardins gregos e romanos,

foi construído para a Exposição do

Mundo Português em 1940, com

projecto de Cottineli Telmo, tendo

ficado os trabalhos de Jardinagem a

cargo de Gomes Amorim.

Jardim da Praça do Império

27

O jardim tem sofrido várias alterações

e benefícios ao longo dos anos,

como é o caso dos 30 brasões das

“cidades e províncias de Portugal Continental,

Insular e Ultramarino”, da

Cruz de Cristo e da Cruz de Aviz, realizados

em mosaico-cultura nos canteiros

envolventes à fonte luminosa.

Esses brasões surgiram depois da

Exposição de 1940, sem projeto, dependendo

apenas da imaginação e

habilidade de alguns dos jardineiros

da época.

A Fonte Luminosa foi totalmente

recuperada em 2004, aquando

do Campeonato Europeu de Futebol,

mantendo todo o mecanismo

original.

MONUMENTAL

INVERNO 2016 Ecos de Belém


28

Iniciado em Setembro de 1988

e concluído em 1993, a sua implementação

é mais uma marca

monumental da nossa história e a

sua escolha não foi nem inocente

nem isenta de acesa polémica, mas

foi em Belém!

Para todos os efeitos, pretendeu-

-se vincar a participação de Portugal

na mais recente aventura política, social

e histórica: a construção da Comunidade

Europeia, que ainda decorre

perante o nosso testemunho

e participação.

Construído propositadamente

para acolher a presidência Portuguesa

da União Europeia durante o

segundo semestre de 1992, resulta

da proposta seleccionada em concurso

internacional, entre 57 projetos,

do arquitecto português Manuel

Salgado e do consórcio do arquitecto

italiano Vittorio Gregotti.

Dos cinco módulos inicialmente

apresentados no projecto, foram

construídos três: o Centro de Reuniões,

o Centro de Espetáculos e o

Centro de Exposições.

O CCB ocupa agora uma área de

construção de 97 mil metros quadra-

Centro Cultural de Belém

Ecos de Belém INVERNO 2016


29

dos. As paredes do complexo ocupam

aproximadamente 36 mil metros

quadrados, cobertas por pedra

calcária abancado de Pero Pinheiro

com acabamento Rústico Gastejado

assente em suportes metálicos.

Com uma vista soberba para o rio

Tejo e seus espaços adjacentes, das

varandas do seu restaurante ou da

sua cafetaria, os seus programas culturais,

para vários públicos, com a

presença habitual de performances

de artistas de rua, de actores, de músicos

e outras manifestações públicas

de arte, de diversos serviços que incluem

a biblioteca, as visitas e ateliers

para grupos organizados, as visitas

guiadas gerais ou temáticas, os

ciclos de conferências, os debates e

as actividades para famílias, as exposições

permanentes ou temporárias,

o CCB conseguiu tornar-se um corpo

vivo incontornável, quando se

fala de cultura em Portugal.

Em 1990 o Comendador Joe

Berardo resolveu iniciar o

processo de tranformar a

sua colecção, a mais importante

do século XX, em Portugal,

num Museu, em parceria com

o Estado. Para tanto conseguiu

um grande Museu em Lisboa e

condições para manter a colecção

no país.

Em Abril de 2006, após longas

e atribuladas negociações, foi finalmente

assinado um protocolo,

válido por dez anos, que transformou

o antigo Centro de Exposições

do CCB no actual Museu Colecção

Berardo de Arte Moderna

e Contemporânea.

O Módulo 2 do CCB passou a

alojar, nas suas amplas galerias,

o Museu Berardo, a apresentar

exposições temporárias e já foi

visitado por mais de 5 milhões

de pessoas.

O prazo dos dez anos esgotou-se

e caberá ao actual executivo

negociar com o Comendador

Berardo o futuro próximo

da colecção.

O Estado português irá exercer

o seu direito de aquisição sobre

as 862 obras, avaliadas pela

Christie´s em 316 milhões de

euros?

Ou será que o objectivo de dotar

o país de uma grande colecção

internacional foi alcançado,

apenas precariamente?

MONUMENTAL

INVERNO 2016 Ecos de Belém


30

Ocupa uma área de cerca de

7 hectares, integrando um

Jardim Botânico com aproximadamente

5 hectares e inclui uma

estufa com aquecimento, entre outros

abrigos de vários tipos.

É um Centro do IICT (Instituto de

Investigação Científica Tropical) que

alia a preservação de uma colecção

de plantas vivas, uma xiloteca, um

herbário e de colecções zoológicas

e projectos de investigação realizados

com o Departamento de Ciências

Naturais.

O Jardim Museu Agrícola Tropical

(JMAT) foi criado em 25 de Janeiro

de 1906 por Decreto Régio, no contexto

dos serviços agrícolas coloniais

e do Ensino Agronómico Colonial

no Instituto de Agronomia e de Veterinária,

tendo-se denominado então

Jardim Colonial.

Inicialmente instalado nas estufas

do Conde Farrôbo e respectivos

terrenos anexos, o Jardim foi transferido,

em 1912, para a “Cerca do

Palácio de Belém”.

O Jardim desde os seus primórdios,

além de uma montra viva de

espécies animais e vegetais de outras

latitudes, sempre teve uma forte

vocação didáctica, como centro de

estudos e experimentação de culturas,

espaço de recolha de informação

sobre agricultura colonial, centro

promotor de relações com instituições

congéneres e como centro fundamental

para respostas a questões

de índole técnica.

As designações foram mudando

ao longo dos tempos bem como as

relações da instituição com as várias

tutelas, readaptando as suas funções

a cada época.

Jardim Botânico Tropical

Em 1983 o Jardim adoptou a designação

de Jardim-Museu Agrícola

Tropical (JMAT), uma das unidades

funcionais do IICT, e vê as

suas competências estabelecidas,

referindo-se, entre elas: “desenvolver

e assegurar a manutenção

de colecções de plantas vivas tropicais

e sub-tropicais, ao ar livre

ou em ambiente, com classificação

e catalogação actualizadas, que

constituem material de estudo e

ensino”.

Actualmente os objetivos do Jardim

Botânico Tropical, designação

recentemente atribuída, perspectivam-se

em três vertentes: a de

“montra” das atividades do IICT, a

de “palco” de exposições e outros

eventos capazes de atrair o público

e de aumentar a sua visibilidade

e a de “polo científico”.

Ecos de Belém INVERNO 2016


31

O Padrão do

Chão Salgado

Na sequência de uma suposta

tentativa falhada de assassinato

do Rei D. José, decorreu

o Processo dos Távoras.

A tentativa de regicídio deu-se

quando el-rei regressava à Real

Barraca da Ajuda, de uma real escapadela

noturna.

Governava, ao tempo, o Marquês

de Pombal, defensor e praticante

do absolutismo iluminado,

que não deixava escapar uma

oportunidade para reforçar o seu

poder e o do Rei.

Dois homens foram presos na

sequência da tentativa do atentado

e acusados do acto. Sob tortura terão

indicado a família Távora como

responsável de conspirar para pôr

o Duque de Aveiro, D. José de Mas

carenhas, no trono de Portugal.

Presos os supostos conspiradores,

alguns deles foram executados,

em Belém, no dia 13 de janeiro de

1759, de uma forma extremamente

cruel e brutal. Entre os executados

encontrava-se o até então mais

Brasão de Armas dos Távoras

poderoso dos Duques, o de Aveiro.

Os títulos de Marquês de Távora

e de Duque de Aveiro foram extintos

e o palácio arrasado.

O terreno onde outrora se erguera

foi salgado para que ali nada nascesse

ou crescesse. No local foi construída

uma coluna cilíndrica, com cinco

anéis que representam os cinco

membros da família dos Duques de

Aveiro, supostamente envolvidos na

conspiração.

Na sua base ainda se pode ler,

atualizando a linguagem: Aqui foram

as casas arrasadas e salgadas de

José Mascarenhas exautorado das

honras de Duque de Aveiro e outras

e condenado por sentença proferida

na Suprema Junta de Inconfidência

em 12 de Janeiro de 1759 justiçado

“Neste terreno

Infame se não

poderá edificar

em tempo

algum.”

como um dos chefes do bárbaro e

execrando desacato que na noite de

3 de Setembro de 1758 se havia cometia

contra a Real e Sagrada pessoa

de El Rei Nosso Senhor D. José.

“Neste terreno Infame se não poderá

edificar em tempo algum.”

No Beco do Chão Salgado o padrão

lá continua mas, como que

envergonhado da intolerância que

simboliza, escondido entre as várias

construções que entretanto o

rodearam, e que com o passar do

senhor tempo fizeram vãs as palavras

do mando.

MONUMENTAL

INVERNO 2016 Ecos de Belém


32

Estádio do Belenenses

Em 1947, após ter ganho o título

de campeão nacional de

futebol, na época de 1945/46,

o clube de futebol “Os Belenenses”

é notificado pela Câmara Municipal

de Lisboa para abandonar as Salésias

a breve prazo.

Em 1948, o clube aceita, para levantar

um novo Estádio, um terreno

que estava registado a negro,

sem previsão de qualquer aproveitamento.

O Estádio do Restelo foi construído

nesse local, onde antes existia

uma antiga pedreira, um lugar ermo

e abandonado. Hoje está instalado

numa encosta, com uma vista deslumbrante

sobre o rio Tejo e Belém,

envolvido por uma zona residencial

de referência, que foi crescendo

à sua volta.

Inaugurado a 23 de Setembro de

1956, por altura do 37º aniversário

do Clube de Futebol “Os Belenenses”,

a quem pertence, é uma obra única,

à altura do seu enquadramento histórico

e paisagístico.

A sua construção teve no entanto

consequências graves na vida da

instituição. A principal foi a forma

como teve de sacrificar o seu futuro,

competitivo e desportivo, próximo

e longínquo, para acudir à mobilização

dos recursos financeiros necessários

à obra.

A assinatura do projecto foi do Arquitecto

Carlos Ramos e podemos dizer,

sem qualquer favor, que não há

muitos que se lhe comparem em beleza,

imponência ou harmonia

...e não é um campo de futebol,

mas um autêntico stadium, inserido

num amplo complexo desportivo

com mais de 20 hectares .

O símbolo do clube que todos os

belenenses, atletas ou adeptos, ostentam

ao peito, com orgulho e emoção,

é a Cruz de Cristo, a Cruz quadrada

dos Templários, sobre o azul, obviamente,

a côr do clube.

O que todos os belenenses continuam

a ansiar é que o clube recupere

um dia, de vez, a sua grandeza perdida

e que se reencontre com a sua

história. Os belenenses, poucos ou

muitos, nunca desistirão de ver esse

sonho concretizado.

Ecos de Belém INVERNO 2016


33

O Fundador

Artur José Pereira (1889 - 1943)

Em 1953, aquando das obras

preparatórias do futuro Estádio

do Clube de Futebol

“Os. Belenenses”, ao proceder-se à

necessária movimentação de terras

encontrou-se, subterrada, a Capela

de Santo Cristo!

A Capela se Santo Cristo foi construída

no início do século XVI, também

sob a provável orientação de

Diogo de Boytaca, e situava-se dentro

dos limites da cerca do Mosteiro

dos Jerónimos, sensivelmente

no centro da mesma. Fazia parte

de um trio de ermidas, juntamente

com as capelas de São Jerónimo

e de Santa Madalena. Esta última teria

sido destruída no século XVIII.

Estas capelas eram especialmente

vocacionadas para o retiro e meditação

dos monges.

A Ermida e sua pequena Capela,

de uma só nave, encontra-se hoje

no interior de um pequeno recinto

murado, ladeada por um minúsculo

jardim, e fechada ao público.

No seu interior destacam-se os painéis

de azulejos figurativos, em azul

e branco, emoldurados por cercaduras

policromadas, do século XVIII,

documentando cenas da vida dos

monges Jerónimos.

Capela do Santo Cristo

Nasceu em Belém, na rua

do Embaixador, no nº69,

1ºandar e personifica o corpo

e a alma do Belenenseses.

Rapaz da praia, apegado ao seu

bairro, virtuosissímo, o melhor

dos primeiros grandes ídolos, indómito,

emotivo e inconformado,

segundo o testemuho dos seus

contemporâneos, foi ele o grande

impulsionador para que Belém

tivesse um clube seu, o Clube de

Futebol “Os Belenenseses”, nascido

em 21 de Setembro de 1919.

Faleceu a 6 de Setembro de

1943 e ficou determinado, em

Assembleia Geral, que esse seria

o “Dia da Saudade”.

Que esse dia não caia nunca no

esquecimento, como caiu o compromisso

da edificação da sua estátua,

no Estádio do Restelo.

MONUMENTAL

INVERNO 2016 Ecos de Belém


34

Museu Nacional dos Coches

O

Museu dos Coches Reaes,

como inicialmente se chamou,

inaugurado a 23 de

Maio de 1905, partiu da iniciativa

da Rainha D. Amélia, consciente do

valor patrimonial das viaturas de gala

da Casa Real e da importância da sua

preservação e exposição ao público,

a exemplo do que testemunhara na

Exposição Universal de Paris em 1900.

A primitiva colecção incluía 29 viaturas,

fardamentos de gala, arreios de

tiro e acessórios de cavalaria.

O Picadeiro Real de Belém construído

em 1726 pelo arquitecto

italiano Giacomo Azzolini, onde

funcionou uma escola equestre,

entretanto desactivada, foi o local

escolhido para a instalação do Museu.

Nesse mesmo espaço, já se encontravam

armazenadas algumas

das principais viaturas e respectivos

acessórios da Casa Real Portuguesa,

juntando-se-lhes outras que se encontravam

dispersas por vários depósitos

e cocheiras.

Com a Revolução Republicana de

5 de Outubro passou a ser o Museu

Nacional dos Coches. Nessa fase, o

seu espólio foi enriquecido com outros

veículos de algumas casas nobres,

da própria coroa e do patriarcado

de Lisboa.

O Museu Nacional dos Coches continuou,

ao longo dos anos, a conservar

e a expor, nesse ambiente requintado

do antigo Picadeiro Real,

uma excepcional colecção de viaturas

reais do século XVII aos finais do

século XIX, construídos, ao longo de

três séculos, em Portugal, Itália, França,

Áustria e Espanha.

Coches, berlindas, coupés, liteiras,

cadeirinhas de passeio, seges, carruagens,

caléches, clarences, victórias,

milords, veículos de campo como

chars-à-bancs, carros de caça, breques

ou charretes e dois velocípedes,

uma mala posta, respectivos

arreios de tiro e de cavalaria, selas,

fardamentos de gala e de armaria,

acessórios de cortejo, instrumentos

musicais e também uma colecção

de quadros a óleo dos monarcas

da Dinastia de Bragança, fazem

parte da mais notável colecção do

mundo do seu género e podem permitir,

ao visitante, compreender a

evolução técnica dos transportes

de tração animal e acompanhar as

mudanças de gosto manifestadas

nas artes tão bem expressas na ornamentação

das viaturas.

Este foi, durante a sua existência,

o museu mais visitado da rede pública

de museus de Portugal.

Ecos de Belém INVERNO 2016


O

Novo Museu Nacional dos

Coches abriu as portas ao

público a 23 de Maio de

2016. É uma obra da autoria do

atelier MMBB, do arquitecto brasileiro

Paulo Mendes da Rocha em

consórcio com os dos portugueses

Ricardo Bak Gordon e Nuno

Sampaio.

Foi financiado com receitas provenientes

do Casino de Lisboa e

o processo relativo à sua contrução

iniciou-se em 1994. O arranque

das obras esperou por Março

de 2009 e estas deveriam estar concluídas

em finais de 2013... mas foram

interrompidas, já com o projecto

praticamente concluído, em

junho de 2012.

O motivo que justificou a sua paragem

foi um imbróglio com a construção

de uma passagem aérea, pedonal

e ciclável, que ligará Belém

à margem do rio. Entretanto foi

inaugurado o Museu e a referida

passagem continua na mesma...intermitente!

Ainda se continua aguardando

pela abertura dos concursos públicos

para a referida passagem superior

e para o indispensável projecto

museológico.

A área de implantação é de cerca

de de 16.000m2 e a de construção

de 22.000m2.

O Museu é composto pelo edifício

do Pavilhão de Exposições, com

aproximadamente 15.200m2, constituído

por dois pisos elevados e um

Edifício Anexo (Auditório, Área Administrativa

e Restaurantes), com

5.400m2, também com dois pisos.

35

Ambos edifícios encontram-se ligados

por um passadiço metálico envidraçado,

ao nível do 2ºpiso.

Este projecto arquitectónico oferece-nos

outra particularidade; uma praça

aberta, um espaço público que resulta

do edifício principal se apresentar

como que suspenso no ar, sustentado

por brutais colunas.

Aqui ficará agora guardado um tesouro

de Lisboa, aberto ao mundo,

num espaço com as melhores condições

para sua preservação e exposição,

aguardando apenas pela respectiva

museologia, sem o qual este magnifíco

espaço se poderá tornar num anti-museu.

O actual Museu Nacional dos Coches

é constituído pelo Antigo e pelo

Novo, numa complementaridade que

muito valoriza todo o seu espólio.

MONUMENTAL

INVERNO 2016 Ecos de Belém


36

Palácio de Belém

O

Palácio foi construído em

1559 pelo fidalgo D. Manuel

de Portugal, com jardins

próximos do rio, quando o Tejo

tinha outras margens, e os limites

do palácio se estendiam ao actual

Jardim Botânico Tropical.

No século XVIII, D. João V, com

o enriquecimento da coroa devido

ao ouro proveniente do Brasil,

comprou-a ao Conde de Aveiras e

alterou-o radicalmente. Acrescentou-lhe

uma escola de equitação

cujas cavalariças são, ainda hoje, o

Museu Nacional dos Coches.

Aquando do terramoto de 1775,

o rei D. José I e a família encontravam-se

a passar o dia feriado na

zona de Belém e assim sobreviveram

à devastação. Receando outro

sismo, a família Real instalou-se em

tendas nos terrenos do Palácio e a

partir dessa época tornou-se património

da Casa Real.

Em 1912, após a proclamação

da República, na sequência da Revolução

de 5 de Outubro de 1910,

foi designado como residência oficial

do Presidente da República. Os

Presidentes da I República tinham

porém que pagar renda ao Estado

para residirem no Palácio, evitando

a acusação de gozarem de privilégios

atribuídos ao anterior regime.

Durante o Estado Novo, o Palácio

de Belém não foi palco de relevantes

acontecimentos políticos,

devido ao reduzido papel atribuído

ao Presidente da República pela

Constituição de 1933.

O Render da

Guarda

Ao terceiro domingo de

cada mês, pelas 11horas,

a Guarda Nacional Repúblicana

promove, no exterior do

Palácio Nacional, o Render da

Guarda.

Esta cerimónia simbólica da

rendição do efectivo da Guarda,

responsável pela segurança do

Palácio, é realizada pela Unidade

de Segurança e Honras de Estado

(USHE).

Após este cerimonial, a Charanga

a cavalo exibe-se no Jardim

Vieira Portuense, executando, entre

outras artes, peças musicais

em evolução a galope.

Com a Revolução dos Cravos de

25 de Abril de 1974, o Palácio de

Belém ganhou grande relevo, começando

por aí se instalar a Junta

de Salvação Nacional. A partir

de 1976, após a aprovação da atual

Constituição, o elegante edifício

de cor rosada passou a ser a residência

oficial para todos os presidentes

democraticamente eleitos.

Nessa qualidade é local de visita

obrigatória para os chefes de estado

e delegações estrangeiras que

são convidados da Presidência ou

do Governo da República. Semanalmente,

à quinta-feira, o Presidente

da República recebe o Primeiro-Ministro,

para uma reunião de trabalho

onde este o põe ao corrente do

governo do país.

Ecos de Belém INVERNO 2016


37

Por iniciativa do Presidente Jorge

Sampaio, em Outubro de

2004, foi aberto ao público,

nas antigas cocheiras do Palácio, o

Museu da Presidência da República,

onde estão expostos os espólios

dos 17 presidentes, dos anteriores

ao actual, de forma a testemunhar

a vida e a obra de cada um deles e

os respetivos contributos para a vida

da República.

A colecção do Museu teve a sua

génese nos presentes de Estado

legados pelo General Ramalho Eanes,

recebidos no decurso dos seus

dois mandatos de 1976 e 1986.

A exposição permanente combina

a tradicional exposição de peças

da colecção com sistemas interactivos

de informação e conhecimento.

Foi criado um arquivo digital

que inclui os percursos dos Presidentes,

que se baseou nos arquivos

pessoais, familiares e políticos

dos Chefes de Estado. O Museu

apresenta, como extensão da sua

actividade, exposições temporárias

e itinerantes, um museu virtual

e uma política editorial própria.

Existem, ainda, os Serviços de

Educação, orientados para as crian

ças e jovens em idades escolares

e os Serviços de Formação dirigidos

a áreas académicas relacionadas

com a política museológica da

instituição.

Museu da Presidência

MONUMENTAL

INVERNO 2016 Ecos de Belém


38

Jardim Afonso de Albu

Noutros tempos denominada

“Praça Dom Fernando”, a norte

dominada pelo Palácio de

Belém e a sul pelo “Cais de Belém”,

tem agora um novo vizinho a este,

o Novo Museu dos Coches.

No centro da praça encontra-se a

estátua em honra do Vice-Rei da Índia,

que lhe deu o nome.

Antes da construção do monumento

a Afonso de Albuquerque,

pontificava um coreto, sob o piso

ainda de terra, que em dias festivos

era o principal ponto de atracção

para as populações que visitavam

Belém .

O monumento é composto por

uma estátua colossal, de bronze,

com cerca de três metros de altura.

Assenta sobre um conjunto monumental

em pedra de lioz. O pedestal

é ornamentado por um fuste decorado

com esferas armilares, cabos

e cordas, ao estilo Manuelino, muito

apreciado à época e adequado à

personagem histórica evocada.

Nos dois níveis da base destacam-

-se, nas várias faces e em baixo-relevo,

alguns episódios da vida e acção

governativa deste notável político

e militar.

Em cada uma das bases surgem

figuras aladas que representam as

Ecos de Belém INVERNO 2016


39

querque

principais qualidades atribuídas a

Afonso de Albuquerque: o génio, a

força, o valor e a justiça.

Foi inaugurado em 3 de Outubro

de 1902, na presença da Família Real

Em 1905 o Município de Lisboa

concretizou a sua preocupação de

embelezamento do largo, ao proceder

ao ajardinamento da sua área envolvente,

estrutura que permanece

até aos nossos dias.

...conta a lenda, que foi ao redor

deste banco de jardim, que

um punhado de amigos sonhadores,

moradores em Belém, decidiram

criar o Clube de Futebol “Os

Sonho de uma

noite de Verão...

Belenenses”, que em 2019 cumprirá

o centenário.

MONUMENTAL

INVERNO 2016 Ecos de Belém


40

A

Cordoaria Nacional, também

denominada de Real Cordoaria

da Junqueira ou Real Fábrica

da Cordoaria da Junqueira, foi

criada por decreto em 1771, no reinado

de D. José I e transferida da

Ribeira das Naus para a Junqueira

nos finais do século XVIII.

Desconhece-se a data exacta do

início da construção do actual edifício

que foi erguido no início do

reinado de D. Maria I. Sabe-se que

a oficina de cordame, a principal, foi

concluída em 1788.

Outras secções foram sendo criadas,

ao longo do tempo e como resposta

a novas necessidades, que com

os incêndios de 1826, de 1881 e de

1849, com o alargamento da Avenida

da Índia, foram alterando a fisionomia

do edifício mas mantendo as

características utilitárias que presidiram

à sua construção.

A Fachada Sul, com o exterior da

oficina de cordame virado para a Avenida

da Índia, com a sucessão de

janelas ritmadas, apresenta ainda

características próximas do seu aspecto

primitivo. Conforme o nome

indica, destinava-se à produção de

cabos, cordames, cordas de sisal, velas,

bandeiras, lonas e outros apetrechos

navais para equipar todo tipo

de embarcações marítimas.

Impulsionada pelo rei D. José I

e pelo seu ministro Sebastião José

de Carvalho e Melo, esta fábrica resultava

de uma visão política, no

contexto do Absolutismo Iluminista,

que ambos partilhavam, em que

o Estado podia e devia intervir de

forma a incrementar o desenvolvi-

Ecos de Belém INVERNO 2016


41

mento de actividades económicas

onde elas não existissem e se mostrassem

necessárias.

As suas instalações de linhas direitas

e simples, provavelmente desenhadas

pelo arquiteto Reinaldo

Manuel dos Santos, desenvolviam-

-se por quase 400 metros por 50 de

largo, acompanhando paralelamente

o rio Tejo e estendiam-se por um

conjunto de oficinas distribuídas por

três corpos.

Estas dimensões eram compatíveis

com as necessidades de espaço para

o desenvolvimento destas atividades

produtivas referentes aos apetrechos

náuticos em causa.

A sua localização, junto ao rio, procurava

facilitar o fornecimento dos

seus produtos aos armadores das

embarcações que deles precisavam.

No entanto, resultante de contextos

excepcionais ou particulares, ao

longo dos tempos, foram várias as

instituições de outra índole que

aí funcionaram temporariamente,

como o Recolhimento de Santa Maria

de Cortona, o Hospital Colonial

ou o Quartel das Tropas do Ultramar.

Hoje é um mais espaço público de

Belém onde podemos encontrar, ao

longo do ano, exposições temporárias

tão variadas como a Bienal de

Antiguidades, exposições de fotografia,

de pintura, de escultura ou

Feiras de “Stockmarket”.

Fábrica da Cordoaria Nacional

MONUMENTAL

INVERNO 2016 Ecos de Belém


42

Todo o conjunto que constitui

a Central Tejo representa

uma antiga Central Termoelétrica

que abasteceu de electricidade

Lisboa e a sua região e que serviu,

também por isso, para a substituição

do gás como fonte de energia

para a iluminação pública

Trata-se de um edifício único no

panorama arquitetónico de Lisboa,

e um dos mais belos exemplos de

arquitectura industrial da primeira

metade do século XX em Portugal,

em que a utilização combinada de

tijolo, vidro e cimento, a estrutura

funcional que o edifício apresenta,

privilegiando critérios de simplicidade

e de disciplina racional, confirmam

e atestam a sua vocação.

A Central do Tejo foi construída

entre 1908 e 1951 conhecendo por

isso ao longo desse período diversas

fases de ampliação.

A sua estrutura segue o tipo de

arquitectura industrial ocidental do

ferro com revestimento em tijolo,

que configura e decora as fachadas

em estilos artísticos que abrangem

desde a arte nova, nos seus corpos

mais antigos (edifício de baixa pressão),

até ao classicismo nos mais

contemporâneos (edifício de alta

pressão).

Com a expansão da Central foram

adquiridos, ao longo dos anos, terrenos

e outros edifícios contíguos

à própria central, tornando-se hoje

no grande conjunto industrial com

diversos fins culturais tendo como

pano de fundo o rio Tejo que lhe

deu o nome.

O Museu da Electricidade, da

Fundação da EDP, desde 30 de junho

passou a MAAT, o novo Museu

de Arte, Arquitectura e Tecnologia.

Nesta nova fase, a Central do Tejo

continua a sua inicial vocação divulgadora

de ciência e tecnologia, actualizando

o circuito museológico

sobre a produção de electricidade

e apresentando novas salas expositivas

dedicadas à arte contemporânea.

Dez anos volvidos, o Museu passou

por um novo período de reabilitação

dos seus edifícios e equipamentos,

para reabrir ao público

em 2006.

O Museu da Electricidade é parte

integrante do património e da estrutura

da Fundação EDP que pertence

do Grupo EDP – Energias de

Portugal, SA.

MAAT, da Fundação EDP

Ecos de Belém INVERNO 2016


43

Um Museu em construção

O

MAAT,

Museu de Arte, Arquitectura

e Tecnologia, será,

segundo os próprios promotores,

um novo pólo cultural, ao

nível das grandes cidades europeias,

com uma programação contemporânea

e internacional.

Este edifício em construção, assinado

pela britânica Amanda Levete,

aposta numa arquitectura orgânica

que estabelece uma relação fluída e

natural entre a cidade e o rio, onde

as marés entrarão pelas escadarias

exteriores, semelhantes às construídas

na Ribeiras das Naus.

Apresentará 4.000m2 e será tão

aberto ao público que se poderá andar

por cima dele. De facto as linhas

sinuosas, mas suaves, permitirão aos

visitantes caminharem sobre o tecto

do edifício e abrangerem uma outra

perspectiva sobre o Tejo, bem como

está projectada a circulação pedonal

entre os dois museus.

A área de exposição terá 1600m2

e vai ainda contar com áreas para

serviços educativos, um auditório

com 200 lugares, um restaurante

e um espaço dedicado a residências

artísticas.

O novo Museu, desenhado como

um espaço público aberto sobre

uma grande galeria subterrânea de

exposições, vai permitir a realização

de apresentações de arte contemporânea,

difíceis de concretizar

no antigo, dada a sua forte marca

interior, que é, por si só, uma exposição

permanente de arqueologia

industrial.

Serão 38 mil metros quadrados,

onde a relação e a complementaridade

entre dois edifícios, fortemente

datados e marcados, será

permanentemente reforçada pelo

cruzamento que, por certo, encontraremos

na política museológica

traçada.

Pedro Gadanha (Covilhã,

1968), arquitecto e designer,

responsável pela curadoria

do MoMA, o Museu de arte

Moderna de Nova Iorque, nos últimos

três anos, é o director de

programação do MAAT (Museu

de Arte, Arquitectura e Tecnologia),

desde Outubro de 2015,

tendo acompanhado todo o processo

da obra.

No passado dia 5 de Outubro,

o novo edifício do MAAT abriu ao

público. Nesse dia, entre as 12 e

as 15 horas, entraram mais de 15

mil visitantes que o percorreram

e desfrutaram de um programa

que se estendeu por 12 horas.

Este espaço só estará definitivamente

concluído em Março

de 2017, incluindo os jardins

projectados por Vladimir Djanovic.

Até lá as entradas serão

gratuitas.

Revestimento térmico da nova cobertura

MONUMENTAL

INVERNO 2016 Ecos de Belém


44

Museu Nacional de Etnologia

Criado em 1965, o Museu Nacional

de Etnologia é indissociável

da história da antropologia

portuguesa.

Aqui encontramos projectada

uma dimensão fundamental do

trabalho dos pioneiros desta disciplina

no país.

A partir do Centro de Estudos

de Etnologia, que dirigia desde

1947, Jorge Dias e aqueles que o

vão acompanhar nos anos subsequentes

- Margot Dias, Ernesto Veiga

de Oliveira, Fernando Galhano

e Benjamim Pereira, entre outros -

iniciam uma pesquisa extensiva e

continuada sobre os elementos da

cultura material que, anos mais tarde,

viriam a ser igualmente recolhidos

para constituir as colecções

do museu.

Em 1976 foi inaugurado o edifício

onde o Museu hoje se encontra, o que

permitiu dar expressão ao progra

ma museológico que fora definido

por Jorge Dias e seus colaboradores.

São duas as principais ideias que

o informam, até aos nossos dias:

a 1ª será a ausência de exposição

permanente, privilegiando as exposições

temporárias que permitem

problematizar, aprofundar o conhecimento

e divulgar junto do público

colecções e temas específicos;

a 2ª será a organização das reservas

de modo a facultar o seu acesso

aos investigadores e a possibilidade

de uma percepção visual da totalidade

do seu acervo.

Ecos de Belém INVERNO 2016


45

Igreja

de S. Francisco

Xavier

Esta igreja-caravela, foi inaugurada

a 3 de Dezembro

de 2011, no dia festivo de

São Francisco de Xavier, que lhe

deu nome. Serve de nova igreja

paroquial, mas está envolta em

polémica desde a sua nascença,

quanto aos critérios arquitectónicos

usados.

Será um edifício demasiado espalhafatoso,

visualmente pouco sereno

e silencioso, para a função que

exerce? Existirão demasiados elementos

que apelem ao espectáculo,

expressões de triunfalismo ou

de ostentação? O simbolismo será

pobre, superficial, mais adequado

a um centro comercial?

Situada no Alto Restelo, foi projetada

pelo arquiteto Troufa Real e

começou a construir-se em 2009,

depois de muitas esperas.

O seu desenho baseia-se numa

alegoria da vida do santo missionário

e dos descobrimentos portugueses.

A nave central, com capacidade

para 500 fiéis, simula um casco

de caravela, com paredes curvas,

no interior e no exterior, aberta à

luz por janelas em forma de óculo.

O projeto inicial previa que esse

casco fosse dourado bem com a

construção de uma torre mourisca,

inspirada nos minaretes orientais,

com 108 metros de altura.

A casa paroquial foi pintada em

cor de laranja forte para relembrar

a Índia e as especiarias.

Entretanto o excesso de polémicas

e a falta de verbas, conjugadas,

foram suficientemente fortes para

introduzirem alterações: a caravela

de dourada passou a cor de ferro,

a torre não será um minarete

e não saiu do papel, e as pinturas

das paredes exteriores com as cores

vermelhas, verdes e brancas, que

representam a Índia e Portugal, estão

suspensas.

MONUMENTAL

INVERNO 2016 Ecos de Belém


46

Ermida de São Jerónimo

A

Ermida de São Jerónimo começou

a ser construída em

1514, ao mesmo tempo que

a Torre de Belém e, em conjunto

com esta e com o Mosteiro dos Jerónimos,

formam os vértices de um

triângulo patrimonial que atesta

a riqueza arquitectónica manuelina

em Belém.

Foi erguida, sob orientação de Rodrigo

Afonso,no extremo ocidental

da antiga cerca do Mosteiro, num

local onde se pode usufruir de uma

esplêndida vista do acesso ao Tejo,

constituindo por isso, ao tempo, um

complemento defensivo do baluarte

da Torre.

A Capela prima pela simplicidade

e solenidade. Da arquitectura

manuelina apresenta a planta rectangular

e algumas caracteristícas

singulares que a tornam rica a nível

decorativo. É o caso das gárgulas

que surgem nos cantos de topo

exterior, idênticas às dos claustros

dos Jerónimos.

O remate do corpo da Capela é

feito por um cordão e por pináculos

torsos, onde encontramos as

referidas gárgulas. E se no exterior

sobressai também a porta principal

e o arco, no interior destaca-se

o arco interior polibolado, que dá

acesso ao altar

A Capela já teve três altares, sendo

que o actual resulta de um restauro

feito no século XX, que pre

servou os azulejos quinhentistas

sevilhanos.

Este monumento nacional pode

ser visitado por marcação com a Paróquia

do Restelo.

Ecos de Belém INVERNO 2016


47

P ntos de Vista

Pontos ou pontes de vista, miradouros

são lugares elevados de

onde se tem uma vista panorâmica.

Locais que ajudam a ampliar

horizontes.

Lisboa, cidade de colinas, onde

a riqueza da luz e o azul do rio

imperam.

Basta procurar e encontrá-los:

1- Ermida do Restelo/ Capela de

São Jerónimo/ Igreja de São Jerónimo

2- Moinhos de Sant` Ana, Restelo

3- Moinho do Penedo, Monsanto

Consulta: SIPA, sistema de informação

para o património arquitectónico, Camâra

Municipal de Lisboa - direcção-geral do património

cultural.

1

3

INVERNO 2016 Ecos de Belém

2

MONUMENTAL


48

5

2

3

Eixo Belém - Ajuda

Ecos de Belém INVERNO 2016


49

4

1

Após o terramoto de 1755

D. José mandou construir, em

madeira,no alto da colina da

Ajuda, aquele que ficou conhecido

pelo Paço da Madeira ou Real

Barraca.

Habitável desde 1761, veio a ser a

residência da corte durante três décadas.

Após um grande incêndio em

1794, foi reconstruído em 1796,durante

a regência de D. João VI, agora

em pedra e cal.

A história do 1 Palácio da Ajuda,

através dos séculos, está marcada

por um ritmo de construção

descontinuado,ao sabor de factores

de natureza diversa, mas sobretudo

politícos.

MONUMENTAL

INVERNO 2016 Ecos de Belém


50

Na sequência da implantação da

República, esteve encerrado ao público

desde Outubro de 1910 até 20

de Agosto de 1968.

Hoje, o Palácio/Museu da Ajuda,

além de apresentar uma das mais

importantes mostras museais de artes

decorativas é também frequente

cenário de cerimónias protocolares

de representação de Estado.

O 2 Jardim Botânico da Ajuda,

construido no século XVIII, nos

finais do barroco, espaço de rigor

geométrico, foi o primeiro jardim

botânico português, devendo ser

considerado como a primeira

e a mais importante instituição

dedicada à cultura da história

natural do País.

Em 1765, por ordem de D. José,

o Dr. Domingos Vandelli foi encarregado

de delinear e dirigir as obras

do Real Jardim Botânico da Ajuda.

O interesse destes jardins botânicos

- o da Ajuda seria o 15º do género

da Europa - estava relacionado

com estudo dos enigmas do mundo

vegetal.

Vandelli, em 1791, após ter sido

jubilado da Universidade de Coimbra,

foi nomeado director do inicialmente

denominado «Real Jardim

Botânico da Ajuda, Laboratório Químico,

Museu de História Natural e

Casa do Risco». Mandou vir plantas

vivas e sementes dos jardins botânicos

de todo o mundo, chegando a

coleccionar mais de 5000 espécies.

A Igreja de N. S. do Livramento e

de S. José, conhecida pela 3 Igreja

da Memória, foi construída para

não deixar cair em esquecimento o

atentado sofrido por D. José I, em

1758, de suposta responsabilidade

da família Távora, e do qual o rei

escapou ileso.

Iniciada em 1760, segundo projecto

do arquitecto italiano Giovanni

Carlo Bibienna, foi concluída pelo

arq. Mateus Vicente de Oliveira.

Trata-se de uma construção barroca

com características neoclássicas,

que se impõe pelas linhas equilibradas

e harmoniosas, sendo coroada

por um zimbório

No interior, igreja-salão de nave

única, caracterizada pela sobriedade,

merecem especial destaque os

mármores lavrados e a tela do altar,

da autoria de Pedro Alexandrino

de Carvalho.

Em 1923 foram para aqui transladados

os restos mortais do Marquês

de Pombal.

Há mais de 80 anos atrás, no dia

1 de novembro de 1934, por iniciativa

de Duarte Pacheco, é publicado

o Decreto-Lei 24625 que estabelece

a criação do 4 Parque Florestal de

Monsanto.

As ideias iniciais de Carlos Ribeiro

e Nery Delgado (1868) de florestação

da serra e de Eugénio MacBrid

(1926) para a criação de um Parque

com estes objetivos, viam-se assim

concretizadas.

Ao longo destes anos, nomes como

o de Keil do Amaral, Joaquim Rodrigo

e Souto Cruz ver-se-iam ligados ao

plano, construção e direcionamento

ambiental, contribuindo para aquilo

que o Parque Florestal de Monsanto

hoje é: um espaço público com

cerca de 900ha, de vastas áreas de

mata diversificada, que oferece grandes

potencialidades para o recreio.

A mata fechada nem sempre é um

local acolhedor para o homem. No

entanto, o seu contraste com a clareira

e a abertura pontual de amplas

vistas sobre a cidade e o rio, fazem

do Parque Florestal de Monsanto um

Ecos de Belém INVERNO 2016


51

local muito atrativo do ponto de vista

paisagístico.

O Parque Florestal de Monsanto

oferece um vasto conjunto de atividades.

Aqui poderá descobrir uma série

de trilhos para a prática de BTT, ou

transformar-se num verdadeiro corredor,

escalador ou até skater! Mas

se pretender simplesmente descansar

em família poderá realizar passeios

pelos trilhos de Monsanto, ou

realizar um piquenique nos diversos

Parques de Merendas.

O Parque, Uma Floresta Escola

5 - monsanto@cm-lisboa.pt,

218170200/225 - é um projecto do

núcleo de Educação do Parque Florestal

de Monsanto dirigido, principalmente,

aos mais jovens, que

incentiva o aprofundamento do conhecimento

sobre a floresta e a natureza;

apresenta um diversificado

programa que inclui a actividades

temáticas (bicos e alimentos, CSI

florestal, floresta passo a passo, hora

do canto, eu sou ouriço, jardineiros

da floresta, mistérios da “arbor”,

senhor regador e visita ao espaço

biodiversidade), de desporto (orientação,

tiro ao arco e escalada), actividades

específicas (aula viva), oficinas

criativas (brinquedos tradicionais

e rabiscos na natureza) e as rotas

autoguiadas (a rota da água e a rota

das 6 pedreiras).

Gestão Integrada do

Eixo Belém - Ajuda

O

eixo cultural Belém - Ajuda

já existe informalmente e

recebe, ao longo do ano,

mais de 5.000.000 (cinco milhões)

de visitantes, mas falta uma marca

definitiva que lhe confira mais

carácter e unidade.

Quando António Lamas tomou

posse da Presidência do Centro

Cultural de Belém, em Outubro

de 2014, foi-lhe encomendado

uma proposta de um plano nesse

sentido.

Para esse efeito foi criada uma

Estrutura de Missão e o mesmo

nomeado seu presidente, em Junho

de 2015, que passou a acumular

com a presidência do CCB.

Dessa proposta de plano resultaria

uma nova entidade, autónoma,

cujo modelo de gestão administraria,

a partir do CCB, a zona monumental

de Belém-Ajuda, englobando

todos os equipamentos e bens

culturais, com mais diversas escalas

e funções.

Segundo Fernando Medina, actual

Presidente da Câmara de Lisboa,

todo este plano foi elaborado

e decidido sem qualquer consulta

à Câmara Municipal de Lisboa,

apesar de esta ter manifestado total

disponibilidade para um trabalho

em conjunto.

Entretanto, em fevereiro deste

ano, o actual governo extinguiu a

dita Estrutura de Missão e demitiu

o seu presidente.

Todos percebemos que a revitalização

destas instituições, a optimização

do seu funcionamento,

passa por um processo que “as

ponha a falar uma com as outras”,

de tal modo que as levem a partilhar

recursos, oportunidades, experiências

e, principalmente, serviços,

passando a funcionar em rede,

interligadas, para melhor atenderem

os seus visitantes.

A concepção e a implementação

de um plano estratégico e integrado,

cultural e de desenvolvimento,

para toda esta área, é necessária,

obrigatória e urgente! Para isso é

também indispensável envolver, de

forma verdadeira e eficaz, as diferentes

entidades responsáveis pelos

museus, jardins, monumentos

e demais equipamentos culturais,

bem como instituições públicas

relacionadas, directa ou indirectamente,

com Lisboa; e, o mais importante,

todo este processo deverá

ser conduzido e liderado pela

Câmara Municipal de Lisboa, nunca

sem a participação dos seus cidadãos,

particularmente dos que

habitam nas freguesias de Belém

e da Ajuda.

Enquanto fregueses de Belém,

continuamos com a nossa atenção

focada no andamento deste processo,

desejosos que atinja, o quanto

antes, os propósitos há muito

anunciados.

MONUMENTAL

INVERNO 2016 Ecos de Belém


52

Avenida de Brasília

Nosolo Italia Nº 202, letra P.L. Tel.

213015969 / 91379566345, Dom-Qui 10:00-

00:00, Sex-Sáb 10:00-00:30, €45 / 2 pess.

Pizzeria e gelateria desde 1982.

Portugália Cervejaria Belém Espelho

d`Água, Tel. 213032700, todos os dias

12:00-24:00, €40 / 2 pess. €1,60/cerveja.

Espaço Espelho d`Água, Tel.

213010510 / 932327616, todos os dias,

10:00-24:00, €40 / 2 pess. Restaurante, bar,

esplanada, petiscos, cozinha de fusão e Internacional

Doca do Bom Sucesso

À Margem, Tel. 918620032, todos os

dias, 10:00-22:00, €30 / 2pess., €2,5/cerveja.

Bar,esplanada,restaurante

Vela Latina, Tel. 213017118, todos os

dias 08:00-21:00, €20 / 2pess. €1,80 / cerveja.

Self-service, pastelaria, gelataria e cozinha

portugesa. Restaurante à la carte, todos

os dias, 12:00-15:00 e 20:00-22.30, Dom

24:00-01:00, €80 / 2pess. Est. desde 1988.

Centro Champalimaud

Darwin´s Café, Ala B, Tel. 214080222

Ter-Dom 12:30-24:00, Seg 12:30-16:00, €50 /

2pess. €2/cerveja. Esplanada, cafetaria, restaurante.

Cozinha portuguesa e italiana.

Cafetaria do Centro, 1ºandar, todos

os dias, 08:00-20:00, almoços 12:00-15:00.

Cafetaria e restaurante, com uma sala para

200 pess.

Ecos de Belém INVERNO 2016


53

Doca de Belém

Barra do Quanza, Clube Naval

de Lisboa, Tel. 213636014, 12:00-22:30,

encerra ao jantar Domingo e 2ªs feiras, €45

/ 2pess. Cozinha africana, brasileira, indiana

e portuguesa. Petiscos.

O Pedrouços, Grupo Desportivo

de Pedrouços, Tel. 213644475 /

963088825,09:00-22:00, Domingo 09:00-

18:00, encerra às 2ªas feiras, €20 / 2pess.

€1,5/cerveja. Cozinha portugesa, peixe grelhado,

petiscos,

A Vela, Associação Regional de

Vela do Centro, Tel. 213642711, 12:00-

22:00, encerra ao jantar, Domingo e às 2ªs

feiras, €30 / 2pess. Cozinha portuguesa.

Peixe e marisco.

Associação Naval de Lisboa, Tel.

213015969 / 913795663, bar e cafetaria

10:00-23:00, restaurante 12:30-15:00, encer-

ra ao Domingo para jantares (excepto para

jantares de grupo), €60 /2 pess.

CONHECER

INVERNO 2016 Ecos de Belém


54

Floresta de Belém Nº2/4, Tel.

213646787, Ter-Sáb 09:30-24:00, Dom 09:30-

16:00, encerra às 2ªas, €25 / pess. e €1,50/

cerveja. Restaurante e pastelaria.

Rota do Infante Nº10/14, Tel.

213646787, Seg-Sáb 09:30-23:00, Dom 09:30-

17:00, encerra às 2ªs feiras, €30/2pess e

€1,10/cerveja. Restaurante e pastelaria. Cozinha

Portuguesa.

Sabores de Belém Nº18, Tel.

218203357, ter-dom 11:00-19:00, encerra

às 2ªs feiras, €16/2pess. Sandwich Store

O Caniço Nº30, Tel. 213630 593, Ter-

-Dom 12:00-15:00 e 19:00-22:00, encerra às

2ªs feiras, €30/2pss. Cozinha Portuguesa.

Turista de Belém Nª36/38, Tel.

962534162, Qui-Ter 12:00-22:00, Qua 12:00-

17:00, €20/2pess. e €2/cerveja. Cozinha portuguesa.

O Rolhas Nº42, Tel. 213645894 /

960424581, todos os dias 09:30-15:00 e

18:30-22:30, €30/2pess. Cozinha Portuguesa

Comptoir Parisien Nº44, Tel.

213638279 / 911045754, encerra Dom ao

jantar e às 2ºas. Bistrô, Restaurante & Bar

Cais de Belém Nº64, Tel. 213 621537

/ 213 648738, 10:00-16:00 e 19:00-24:00, encerra

às 4ªs feiras, €50/pess. Restaurante.

Cozinha portuguesa

Carvoeiro Nº66, Tel. 213637998,

12:00-24:00, encerra às 2ªs feiras. €30/2pess.

€1,5/cerveja. Cozinha portuguesa.

Bem Belém Nº72/74, Tel. 213 648768,

12:00-15:30 e 18:30-22:30, encerra às 3ªs

feiras, €30/2pess e €1,80/cerveja. Cozinha

Tradicional Portuguesa. Arroz de polvo com

gambas, bacalhau à lagareiro, espetadas de

lulas, polvo à lagareiro, peixe fresco diário,

borreguinho no churrasco, secretos de porco

preto, posta à mirandesa, picanha à mirandesa

e churrasco misto.

Dina Nº78/80, Tel. 218001485 /

910573880, 11:00-23:00, encerra às 4ªs

feiras, €30/2pess. €1,5/cerveja. Restaurante

e Churrasqueira.

“Ver”Lisboa Nº84, Tel. 216094667, todos

os dias 10:30-24:00, €35/2pess. €1,5/cerveja.

Cozinha portuguesa e italiana.

Macdonald´s Nº88/92, Todos os dias

das 10:00 às 24:00.

Ecos de Belém INVERNO 2016


55

Queijadas de Belém Nº1 Tel. 213

630034, todos os dias 06:00-24:00, €20 / 2pess.

€0,90/cerveja. Pastelaria e restaurante. FB

Pastéis de Cerveja de Belém

Nº15/17 Tel. 213634338, todos os dias 07:00-

22:00. €15 / 2pess. €1/cerveja. Pastelaria e

restaurante. A única em Lisboa a confecionar

pasteis de cerveja… FB

Nau de Belém Nº27/31 Tel. 213 621778,

todos os dias 10:00-24:00, €6 / 2pess. e €1,20/

cerveja. Pastelaria e café. A fábrica dos verdadeiros

pastéis de cerveja, desde 1924.

O Caseiro Nº35 Tel. 213638803, todos

os dias 12:00-15:00 e 19:00-22:00, €35 / 2pess.

Cozinha tradicional portuguesa.

Churrasqueira de Belém Nº 85 Tel.

213618138, todos os dias 08:00-23:00, €15 /

2pess. e €1,2/cerveja.

Adamastor Nº83 e 87,1º Tel. 213631063,

07.00/24:00, encerra à 2ªfeira, €30 / 2pess. e

€1,20/cerveja. Pastelaria e Restaurante.

Restaurante Chinês Xi-Hu Nº97

Tel. 213631063, todos os dias 11:00-15.00

e 19:00-22:00, €20 / 2pess. Cozinha chinesa.

Belém 2 a 8 Nº2/8 Tel. 213639 055,

12:00-22:30, encerra à 2ªfeira. €40 / 2pess.

€2/cerveja. Restaurante e esplanada.

Sagitário Nº10/12 Tel. 213636238, todos

os dias 12:00-15:30 e 19:00-21:45, €25 / 2pess.

e €1,25/cerveja. Restaurante, pastéis de bacalhau,

pataniscas c/ arroz de feijão.

Jeronymo coffee shop Nº 36/38

Dom/Qui 07:30-21:00 Sex/Sáb 07:30-22:00,

€10 /2 pess.

Adega de Belém Nº40/42 Tel.

213639167, 00:07-23:00, fecha às segundas.

€35 / 2pss. €1,75/cerveja. Cozinha tradicional

portuguesa,alentejana.

A Padaria Portuguesa Nº44 Tel. 213

639167, todos os dias 07:00-20:00, €10 / 2pess.

e €1,40/cerveja. Pastelaria, cafetaria, padaria.

Franchising nacional.

Os Jerónimos Nº76/78 Tel. 213638423.

12:00-23:00, encerra às 2ªs feiras,€25 / 2pess.

Cervejaria.

Pastéis de Belém Nº84/92 Tel.

213637423, todos os dias 08:00-23:00

Starbucks Coffee Nº108 Tel.

211147605, todos os dias 08:00-00:00, €15

/ 2pess.

Honorato Hamburguers Artesanais

Nº116/118 Tel. 935273971, todos os

dias 12:00-24:00, €25 / 2pess. e €1,70/cerveja.

Hambúrgueres artesanais com batatas e

maionese de alho.

Pão-Pão-Queijo-Queijo Nº124/126

Tel. 213626369 / 963440956, todos os dias

10:00-24:00. Sandes do melhor que há! Olhem

para os azulejos!

Flôr do Restelo Nº128 Snack-Bar e

Restaurante

CONHECER

INVERNO 2016 Ecos de Belém


56

Uma Loja de Bairro

Maria José e a sua família são

moradores no Alto do Restelo

há mais de 25 anos.

Em 2003 abriu a sua loja, as “100

Coisas”, de artigos para bebé, dos

prematuros aos 6 meses, na rua

Diogo de Silves, nº33. Em abril de

2013 transferiu-se para a rua João

de Paiva, 1ºC, onde permanece

estabelecida. Sempre no Restelo.

Body`s, babygrow`s, pijaminhas,

fraldas em pano, bordadas e personalizadas,

roupa de menina, de

meninos, meias e collants, autocolantes,

brinquedos e móveis,

ou aquela prenda para um recém-nascido,

tudo pode encontrar

nesta pequena grande loja.

Conseguir manter esta actividade

de comércio local ao longo de mais

de 13 anos, na actual conjuntura, é

obra, mas Maria José ainda arranjou

tempo e energia para se dedicar a

outro assunto, de outra ordem.

O

“Projecto com Voz” nasceu

da vontade de duas amigas,

Maria José Gonçalves e Filipa

Alves Coelho que, atentas à

realidade, resolveram contribuir

de uma forma prática e positiva,

através de uma resposta concreta

a um problema social bem específico

dos nossos dias, que se prende

com o modo como envelhece

a nossa população, como enve-

lhecem os nossos pais, familiares,

amigos, e como iremos envelhecer

nós, os que se seguem…

O “Projecto com Voz” envolve

um grupo sénior que canta músicas

pop-rock, portuguesas, dos

Xutos e Pontapés, G.N.R., António

Variações, Rui Veloso, Paulo Gonzo

ou Deolinda, entre outros, valorizando

os nossos grandes compositores

e intérpretes, acrescentando

sempre um ponto a toda a magia

que esses criadores nos ofereceram

ao longo dos anos. É um trabalho

de apropriação e reinvenção

da nossa memória colectiva musical,

feito com muito amor, alegria

e energia.

“Tenho de agradecer a iniciativa

tão importante para as pessoas

que nela participam e a escolha

da nossa música como parte integrante

deste projecto.” Ana Bacalhau,

Deolinda.

Este grupo de pessoas escolheu

o canto como forma de expressão

e de participação num processo

que pode contribuir para quebrar

com alguns estereótipos associados

à idade, que pode aproximar

gerações, romper o isolamento,

ocupar os tempos de uma forma

menos convencional e tornar a

vida destes seniores bem mais activa

e saudável, através do compromisso

de cada um com o grupo,

com os ensaios e com os espectáculos

que apresentam.

“É uma aposta na alegria de viver,

um desafio às mentalidades e uma

proposta de envelhecimento pró-

-activo” refere Maria José.

O grupo é constituído por 36

pessoas, entre os 60 e os 83 anos,

Ecos de Belém INVERNO 2016


57

que partilham o gosto pela música

e que começou por ensaiar, semanalmente,

em outubro de 2013, no

Centro Cultural Casapiano, sob a direcção

musical do maestro Pedro

d´Orey, acompanhados por uma

banda instrumental de 4 jovens.

Entretanto já ensaiaram, temporariamente,

na Academia Dramática Familiar,

em Pedrouços, outra instituição

centenária e carismática da vida

associativa da nossa freguesia, também

eles cúmplices nesta aventura

– obrigado presidente Rui Matias e

a todos os “dramáticos”, dizem Maria

José e Filipa. Esses ensaios decorreram

no não menos mítico local

onde também deram, nos finais

dos anos 70, os seus primeiros passos

os “ Xutos e Pontapés”…sim esses

mesmos!!

“Terminadas recentemente as

obras de manutenção no auditório

do Centro Cultural da Casa Pia, regressamos

à casa-mãe, onde voltamos

a ensaiar”. Maria José destaca

a propósito, “o apoio incondicional

que desde da primeira hora tivemos

por parte da direcção da Casa

Pia de Lisboa, na pessoa do seu director

José Louro e de Luísa Monteiro,

sempre disponíveis e incentivadores,

imprescindível para a existência

da “Voz”. Por isso reconhecidos, dizemos

publicamente sempre que podemos:

Obrigado! “

As apresentações públicas são, naturalmente,

o ponto alto de todo um

longo trabalho de preparação desenvolvido

por esta equipa. Durante estes

quase 3 anos de existência, já actuaram

em locais tão diversos como

no Centro Cultural Casapiano, no palco

do cinema Roma no TEDx, no do

cinema São Jorge no Festival Rotas,

na Academia Dramática Familiar, em

Pedrouços, na Casa dos Direitos Sociais,

na Flamenga ou no Salão Nobre

da Assembleia da República, não

citando todos.

O próximo desafio, para o qual já se

trabalha, pacientemente, sob a orientação

da coreógrafa Filipa Francisco,

está ainda numa fase experimental. As

mentoras da “ Voz” pretendem acrescentar

o movimento, como expressão

plástica e como mais uma valência

diferenciadora das actuações do seu

grupo. “Agora queremos que os sons,

os ritmos, a música, sejam acompanhados

pelos movimentos dos

intervenientes, num todo coerente

e trabalhado, que dê mais força

às intervenções do grupo, que se

torne em outra das nossas marcas,

e que ao mesmo tempo contribua

para o bem estar e saúde de todos

os elementos.”

“Por último, mas não menos importante,

a questão do financiamento.

Também aqui não seguimos os

percursos ditos normais. Primeiro fizemos,

trabalhámos, desenvolvemos

uma ideia em equipa, com os nossos

próprios meios, sabendo muito

bem o queríamos. Agora vamos

procurar parceiros que entendam,

como nós, que este esforço tem valor

e merece ter todos os recursos

necessários para continuar esta caminhada,

com tudo a que temos direito!”,

concluiu Maria José.

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VIDA DE BAIRRO

INVERNO 2016 Ecos de Belém


58

Unusual, uma “casa” do Bairro

O

Unusual,

cafetaria, bar e

restaurante, existe desde

dezembro de 2013, mas é

já uma instituição no Alto Restelo,

uma autêntica “casa” do Bairro.

Está aberto todos dias da semana,

das 7h.30m em diante. Cedo começa

por servir os pequenos-almoços

aos mais madrugadores e apressados,

depois ao longo da manhã vai-

-se transformando numa acolhedora

sala, cheia de luz, onde os habituais

vão mantendo as leituras e as conversas

em dia, calma que é interrompida

com a chegada da hora do almoço.

Nesse período a azáfama e o frenesim

instalam-se e o ritmo só abranda

com o início da tarde. daí até ao

encerramento, por norma, a calma

instala-se e prolonga-se.

Mas quando um grupo de amigos

se junta para um jantar festivo todo

o ambiente muda outra vez.

Em dia de futebol, de jogo “grande”,

o “UNUSUAL” vira um mini estádio,

cada um exprimindo a sua

paixão clubística, ou todos puxando

pela selecção, mas onde impera,

obrigatoriamente e sempre, a urbanidade

e o autêntico desportivis-

Ecos de Belém INVERNO 2016


59

da a sexta-feira que se destacam por

serem bons, rápidos e baratos. A cozinha,

bem portuguesa e maternal,

oferece pataniscas de bacalhau com

arroz de feijão, carne de porco à

alentejana, feijoada à transmontana,

e por aí fora.

Encontramos também, a qualquer

hora, as famosas tostas mistas ou de

frango, batatinhas fritas, pregos ou

bifanas, gambas à la guillo, francesinhas,

saladas diversas, entre outros

petiscos, para acompanhar as mais

variadas e frescas bebidas.

Por tudo isso, na próxima oportunidade

visite e conheça o Unusual.

mo. É um óptimo sitio para vermos

os jogos em equipa, com direito a

todo o ritual que um acontecimento

desses merece!

O espaço é amplo e confortável,

para qualquer hora do dia, adaptável

às circunstâncias, mas o que se

destaca, acima de tudo, é o carismático

sr. João - Tanaka, para os amigos

- e a equipa que dirige, a forma

como conseguem fazer, rapidamente,

com que cada cliente, se torne um

amigo da casa.

Durante a semana, à hora de almoço,

apresentam menus de segun-

Os passeios são

públicos?

De início o Unusual apresentava

uma esplêndida esplanada,

muito utilizada e apreciada

em qualquer altura do ano,

onde se podia usufruir plenamente

dos nossos privilégios climáticos e

simplesmente estar na rua pedonal

Alda Nogueira. Entretanto por queixa

de alguns vizinhos e por decisão

e ordem do tribunal foi considerada

incompatível com o local e encerrada.

Lá saberão porquê. Mas

se aqui não cabe uma esplanada,

onde caberá? Talvez num deserto.

Em contrapartida, para o nosso

espanto aumentar, basta atravessar,

na passadeira defronte, a avenida

Ilha da Madeira e verificamos que

um passeio, supostamente público,

há muito foi convertido em parque

automóvel e também em via de

circulação, vulgo estrada, onde os

peões devem estar sempre atentos

ao tráfego, que é intenso!

Se no caso da esplanada o assunto

se encontra mal, mas resolvido,

já no caso do “passeio rodoviário”

quando houver um acidente - o

que segundo as leis das probabilidades

e do bom senso, acabará

por acontecer - certamente que as

autoridades competentes tomarão

as medidas adequadas! Até lá, tenham

cuidado!!

VIDA DE BAIRRO

INVERNO 2016 Ecos de Belém


60

Adega Típica O Gat

O

Gato

Preto, adega típica,

existe há mais de vinte anos

sempre sobre a gerência de

Luís Puna e situa-se na páteo do

Machado, 42, em Caselas.

Este é um dos muitos segredos da

nossa freguesia e, como todos os outros,

apenas ao dispôr do mais interessados

e conhecedores.

A casa apresenta-se talhada em madeira

e pedra, o que nos transmite,

logo que entramos, a franca sensação

de um ambiente acolhedor e

familiar, de uma adega beirã, reforçada

por uma luz suave e pelas grandes

mesas em madeira e respectivo

mobiliário, onde não falta espaço.

Logo que passamos a porta de entrada

, na parede em pedra, ganham

realçe duas camisolas com a cruz de

cristo ao peito, uma em azul e ou-

Ecos de Belém INVERNO 2016


61

redes, ao longo do restaurante, estão

afixadas as fotografias emolduradas

de todos os presidentes do Clube, o

que de momento não acontece porque

todas elas estão num processo

de manutenção e limpeza a que regularmente

são submetidas.

Estamos em território dos azuis do

Restelo, conforme gosta de destacar

o sr. Luís. Aqui naturalmente são todos

bem vindos mas com atenção especial

se recebem os companheiros

de sofrimentos e alegrias.

É também um local muito conhecido

e frequentado pelas equipas das

diversas modalidades do Belenenses,

aquando dos seus inevitáveis

convivíos, seja para comemorarem

alguma vitória ou por qualquer outro

motivo.

o Preto

tra em branco, ofertas de Carlos Vaz,

futebolista, e de José Vaz, andebolista,

devidamente enquadradas pela

bandeira do Clube de Futebol “Os

Belenenses”.

Conversando, ficamos também a

saber que habitualmente, nessas pa-

Bairro de Caselas,

uma aldeia na cidade.

Caselas é um antigo bairro

idealizado pelo arquitecto

António Couto Martins

que pretendia recriar uma certa

ideia de aldeia, incrustada na serra

de Monsanto, bucólica e pacata,

onde não faltou a igreja, a torre

e o seu campanário, ocupando o

lugar central da vida comunutária

Num processo liderado pelo Ministério

das Obras Públicas e Comunicações,

em 5 de setembro

de 1944, foi lançado um concurso

público para a 1ª fase de construção

de casas económicas, 190 das

quais de classe A e 140 de classe B.

As casas económicas eram habitações

independentes de que os

moradores se tornavam proprietários

ao fim de um determinado

número de anos - propriedade resolúvel

- mediante o pagamento

de prestações mensais que englobavam

seguros de vida, de invalidez,

de doença, de desemprego

e de incêndio.

Em 21 de Setembro do mesmo

ano a obra foi adjudicada ao construtor

Américo Amor e a construção

decorreu entre 1945 e 1950.

Ainda hoje, mesmo depois de

algumas alterações e da construção

de outros imóveis, Caselas

permanece como um local em que

a calma e a próximidade predominam,

com um ritmo de vida em

tudo semelhante ao que no imaginário

colectivo se associa à vida

de uma aldeia.

VIDA DE BAIRRO

INVERNO 2016 Ecos de Belém


62

Os Decanos das Salésias

O

café

da Tia Rosa e do Sr.

Higino, dois simpáticos e

muito activos octagenários,

sem dúvida os decanos das

redondezas, permanece na rua

Alexandre Sá Pinto, desde os

tempos em que ainda esta era a

rua da Casa dos Trabalhos, quando

aí existia o Estádio da Salésias,

inaugurado em 1927 e encerrado

em 1956. São duas testemunhas

vivas desse período glorioso dos

azuis de Belém, de que gostam de

contar as suas pequenas histórias,

dum outro tempo, quando eram

jovens, e quando esse local era

cheio de vida, percorrido por

multidões entusiásticas, que

para aqui se deslocavam para

assistirem aos primeiros grandes

e empolgantes jogos da bola,

num palco trespassado de dramas

desportivos, de grandes tristezas

e enormes alegrias, de tardes de

infortúnio ou de glória, algumas

das quais todos os belenenses bem

conhecem porque fazem parte da

nossa história enquanto clube.

O também chamado Estádio José

Manuel Soares (Pepe), foi o primeiro

a ter um campo relvado, o primeiro

com bancadas cobertas, o primeiro

com iluminação artificial…e era um

verdadeiro Estádio porque além de

um complexo desportivo com várias

valências não lhe faltava a pista

de atletismo, e foi todo feito com o

dinheiro dos sócios, num terreno

que pertencia à Câmara Municipal

de Lisboa. Até à inauguração do Es-

Ecos de Belém INVERNO 2016


63

tádio Nacional, em 1944, foi a casa

da selecção nacional e dos jogos internacionais

de clubes.

No passado dia 26 de Maio, foi

reinaugurado o campo de futebol,

que marcou o regresso do Clube de

Futebol “Os Belenenses” às míticas

Salésias. Não foi o seu Estádio que

foi devolvido, mas foi um retorno

simbólico, um primeiro passo, mais

do que merecido, e a recuperação

para a prática desportiva, ao serviço

da comunidade, de um terreno que

permaneceu um baldio, uma lixeira,

durante 60 anos!

O sócio nº1, Humberto Azevedo,

antigo nadador internacional, foi um

dos quatro atletas que descerraram

a bandeira do clube nas Salésias, em

1956, e a levaram para a inauguração

do novo Estádio do Restelo. Agora

coube-lhe outra vez o feliz privilégio

de a todos nos representar e de

novo hastear bandeira da Cruz de

Cristo. Essa representação foi mais

do que justa e oportuna porque ele

encarna e simboliza, enquanto belenense,

o melhor da nossa obstinação

e luta para que este regresso acontecesse.

Ficamos felizes por ele, pelos

mais antigos, pelos muitos que

já partiram e pelos que futuramente

vão usufruir destas infraestruturas

tão desejadas.

A bola já corre de novo e ouvem-

-se outra vez os gritos da juventude,

no entusiamo.

Este foi o resultado de um trabalho

conjunto entre as direcções do

Clube de Futebol “Os Belenenses”,

da Camâra Municipal de Lisboa e da

Fundação EDP, que reuniram os seus

melhores esforços e conseguiram

corresponder a um infinito desejo

da massa associativa do Belenenses.

Nesse dia além de acompanharmos

as actividades associadas à inauguração

das instalações das Salésias

não podíamos deixar de fazer uma

visita ao café….onde, como sempre,

os fomos encontrar a atender e aviar

os clientes, com a mesma simpatia,

eficácia e sabedoria habitual. Mesmo

assim, no meio de uma grande

azáfama, pois o número de clientes

era muito superior aos dias correntes,

ainda fomos conversando.

“Demorou,

mas já está!!”

Sob o colorido único do interior

do seu estabelecimento, ingénuo

mas bem personalizado, onde se

intercalam, de forma sóbria, azuis,

cremes, verdes, amarelos e até alaranjados,

e de umas castiças prateleiras

decoradas com garrafas de antigas

bebidas, onde não falta o cascol

“Belém até morrer”, sempre servindo

as cervejinhas muito geladinhas,

os copinhos de tinto ou de branco,

acompanhados ou das famosas sandes

de ovo ou de torresmos, presunto,

queijo ou fiambre, os dois anfitriões

estavam felizes, com a casa

cheia dos muitos que não quiseram

faltar a este acontecimento. O ambiente

era de festa, o tom azul e a

boa disposição imperavam, as conversas

puxavam conversas, falava-se

de glórias passadas, de esperanças

futuras, quando num curto interregno

dos vozeirões, o sr. Higino, aproveitando-se

de um brevíssimo silêncio

colectivo, sabiamente, resumiu a

situação e concluiu: “Demorou, mas

já está!!” Os dois anfitriões não podiam

estar mais felizes!

VIDA DE BAIRRO

INVERNO 2016 Ecos de Belém


64

Arte à Parte - uma

associação em Belém - Ajuda

Arte à Parte, Associação Cultural

de Música e de Teatro,

nasceu em 2007, em Coimbra,

onde inicialmente desenvolveu

a sua actividade.

Em 2015 transferiu a sua sede

para a rua Diogo Afonso, freguesia

de Belém, e a sua acção, a partir

dessa data, passou a desenrolar-

-se em Lisboa.

Acima de tudo esta é uma Associação

que faz, não fica à espera

que aconteça.

Napoleão, uma publicação periódica,

é a mais recente produção

da Arte à Parte, tendo saído recentemente

o seu primeiro número.

Para Ricardo Pinto, presidente da

Arte à Parte e director da revista, a

Napoleão “será um espaço onde registamos,

confrontamos e ampliamos

aquilo que nos sensibiliza e coloca

questões, ouvimos a voz dos

artistas e agentes culturais e procuramos

retratar, ainda que sempre

subjectivamente, as várias reverberações

das actividades artísticas e

culturais contemporâneas”; e acrescentou

que a revista “também será

um veículo divulgador das actividades

das diferentes secções da Arte

à Parte, nomeadamente do Comicalate,

do Vírus – Artes Perfomativas

e da Blood Records”.

E concluindo, disse: “abre-se uma

nova frente naquilo que consideramos

ser a nossa missão. Apelamos

ao leitores que contribuam com

as suas opiniões e possíveis colaborações.

Serão todas bem vindas.”

No número UM elegeram para

imagem de capa a actriz Maria Leite

e entrevistaram oito actores emergentes

– Vicente Wallenstein, João

Cachola, David Esteves, Sérgio Coragem,

Beatriz Brás, Vânia Geraz,

João Oliveira Santos e Mariana Magalhães.

O actor Isac Graça entrevistou a

realizadora Leonor Teles, vencedora

do Urso de Ouro no Festival de

Berlim de 2016; recolheram crónicas

de Daniel Vieira, Luís Moreira,

Cláudio Alves, João de Eça e Antoine

de Boute en Train.

Isac Graça conversou ainda com

Catarina Rôlo Salgueiro sobre teatro,

e ouviu, discutiu e apresentou,

com Isadora Alves, um Top de músicas.

Perguntámos ao Presidente quais

os principais trabalhos da Arte à

Parte desenvolvidas na fase de

Coimbra, ao que Ricardo Pinto

respondeu: “Em Coimbra produzimos

a Ópera Bichus, a partir da

obra Bichos de Miguel Torga. O espectáculo

estreou nas comemorações

do centenário de Miguel Torga

em 2007 e percorreu várias cidades

do país.

Entre 2008 e 2010 publicámos a

revista Maca - Magazine de Arte de

Coimbra e Afins, uma revista cultu-

Ecos de Belém INVERNO 2016


65

ral com um olhar a partir de Coimbra,

mas que se estendia a todo o

país com vários colaboradores. A revista

foi distribuída nacionalmente.

Em 2008, também ocorreu a abertura

de um espaço próprio, uma

sede, no centro histórico de Coimbra,

que possibilitou à Arte à Parte

assegurar a produção do Mercado

Quebra Costas.

O Mercado Quebra Costa tratou-

-se de um mercado de rua muito

bem recebido pela cidade, com artesanato

urbano, música ao vivo, e

actividades infantis.

A programação da Sala Arte à Parte

incluiu cerca de duas centenas de

espectáculos musicais e não só, ao

longo de 3 anos.

Foram realizadas várias exposições

e publicação dos respetivos

catálogos como “Maputo-Maputo”

de Gonçalo Antunes e “Um longo

verão no Japão” de Inês Matos.

Em co-produção com o TEUC realizámos

o espectáculo “Escorbuto”

de Ricardo Vaz Trindade e música

de Ricardo Pinto. A Arte à Parte colaborou

em parceria com várias instituições

culturais da cidade, incluíndo

a Câmara Municipal de Coimbra,

a Direcção Regional de Cultura do

Centro, a Universidade de Coimbra,

a Fundação Inatel e várias associações

culturais. Foram também editados

dois trabalhos originais em

CD: Experiences of Today e Panda

Pompoir”.

E agora em Lisboa?

“Em Lisboa organizámos a actividade

da Arte à Parte em 4 secções:

O Comicalate (site online),

que reúne a produção de vídeos de

comédia dirigidos por Miguel Leão.

A Blood Records, que produz música

e organiza festas e concertos

com os seus artistas, Texas, Baby, Os

Naipes e Cantando os Azuis.

A Revista Napoleão, que continua

o trabalho da Maca enquanto folha

cultural publicada da Arte à Parte.

O Vírus, um grupo de artes performativas

da responsabilidade de Mauro

Hermínio que estreará brevemente

um monólogo de Filipe Santos.”

Neste momento, procuramos um

espaço próprio que sirva como sala

de trabalho multiusos, para podermos

ensaiar, gravar e até apresentar

o trabalho que fazemos.

Queremos marcar a cidade de Lisboa

com a nossas performances e

particularmente a zona de Belém-

Ajuda, onde somos moradores.

É para isso que trabalhamos insistentemente!

VIDA DE BAIRRO

INVERNO 2016 Ecos de Belém


66

ENTREVISTA

“Que o Cenjor continue a ser

um centro de excelência”

Em vias de cumprir 30 anos, o

Cenjor – Centro de Formação

Profissional para Jornalistas,

quer “manter uma formação de excelência,

respondendo às novas tendências

do mercado”, garante a sua

actual directora Deolinda Almeida .

Podia ter sido economista, mas

a agência de notícias ANOP recrutou-a

como jornalista de Economia.

Depois assistiu à metamorfose desta

na atual LUSA, foi correspondente

europeia e acabou por abraçar a

chefia da agência. Pelo meio, foi formadora

no Cenjor e acompanhou o

lançamento do Diário Digital, o primeiro

jornal diário digital em Portugal.

“Fui obrigada a aprender como

se fazia jornalismo digital. Se não

tivesse sido assim, não sei se agora

não seria uma excluída”, sublinha

Deolinda Almeida.

Como foi o seu percurso enquanto

jornalista?

Durante algum tempo fui jornalista

de economia. Depois fiz outras

coisas que foram muito importantes

para mim, e acabei por regressar

à economia. Estive juntamente

com o Luís Delgado no lançamento

do Diário Digital. Foi o primeiro

jornal diário digital em Portugal,

onde estive 4 anos. Foi uma experiência

muito positiva, mas todas as

experiências contam. Na altura, tal

como a maioria das pessoas, eu não

percebia nada de internet. Fui obrigada

a entender como se fazia jornalismo

digital. Tive de aprender e

aprendi. Se não tivesse sido assim,

não sei se agora não seria uma excluída.

O digital era encarado como

Ecos de Belém INVERNO 2016


67

uma área importante do jornalismo,

mas nunca pensei que viesse a

ter o desenvolvimento que teve, e

que conseguisse a posição de relevo

que actualmente desempenha.

Na altura havia muitas limitações

em termos técnicos, tudo se centrava

no texto. Lembro-me que não se

falava muito em vídeo e fotografia,

aliás o vídeo era mesmo uma raridade.

Porquê? Porque eram coisas

que pesavam muito o que dificultava

a abertura de ficheiros de fotografia

ou de vídeo. Esta dificuldade

acabava por afastar as pessoas em

vez de as aproximar.

Que paralelismo faz entre

a sua experiência enquanto

jornalista e o de directora

do CENJOR?

É diferente mas tem pontos comuns

e que se cruzam. O facto de

ser jornalista dá-me um conhecimento

do sector que não teria se

fosse gestora. Estou fora das redacções,

mas falo com profissionais que

estão nas redações e temos uma linguagem

comum. O contacto com as

redacções e as suas necessidades

dá-me uma sensibilidade para estar

mais atenta àquilo que é necessário

fazer em termos de formação

profissional.

Face à actualidade, para

onde vai este sector?

Tenho conhecimentos que me

permitem ter uma ideia do que vai

acontecer ao sector.

Mas é uma ideia muito reduzida,

até porque ninguém sabe muito

bem o que vai acontecer.

É ponto assente a importância

do digital e do multimédia e não

há forma de lhe voltar as costas e

dizer não. As coisas não podem ser

feitas como o eram na era pré-digital.

Eu comecei como jornalista de

economia. O que me aconteceu era

normal acontecer: Como já estás aí

és uma mais valia por isso vem trabalhar

para economia!

Isso era o ideal? Não, não era. Perceber

de economia não basta para

ser jornalista. Não passa pela cabeça

de ninguém convidar o Victor

Constâncio para ser jornalista. A

minha experiência diz-me que primeiro

tem de se ser jornalista e só

depois se deve optar pela especialização

em determinada área.

Como é que a precária profissão

de jornalista se vai

reinventar?

Julgo que é ponto assente que o

jornalismo terá de passar por outro

tipo de organização, mas ainda

está tudo em aberto. Não é por acaso

que os jornalistas vão fazer o seu

congresso em janeiro próximo. E é

certo que este será um dos temas a

ser debatido. Tudo mudou e, apesar

de ninguém saber como é que

o sector vai evoluir, é ponto assente

que terá de ser repensado. Há

meia dúzia de anos ninguém diria

que iríamos ler notícias nos smartphones,

era algo impensável.

Qual será o papel do Cenjor

em todo este processo?

Não faço futurologia. Está tudo

em debate. As áreas estão a cruzar-

-se, por exemplo o curso de Criação

de Podcast que criámos envolve

rádio e multimédia, então como

categorizá-lo? No grupo de rádio ou

no de multimédia? Entendemos que

era uma rádio de autor e optámos

por colocá-lo em rádio, mas também

poderia ser multimédia que

não chocava ninguém.

Todos os anos, o Cenjor tem novos

cursos na área do multimédia.

Temos de nos adaptar à conjuntura

mas julgo que ninguém ainda tem

certezas de nada.

Que projectos gostaria de

desenvolver no CENJOR?

Gostava que o Cenjor continuasse

a ser um centro de excelência para

os jornalistas.

O Cenjor sempre se afirmou

como um centro muito prático. É

claro que damos alguma teoria, a

necessária para o enquadramento

da prática, e isso os formandos do

Cenjor sabem.

Podemos e queremos fazer muitas

coisas. Percebo que tenho que

me adaptar, que o centro tem que

se adaptar à conjuntura do país. Isso

tem custos? Claro que tem custos!

É preciso ter equipamentos para as

pessoas poderem praticar. E é necessário

chegar a um equilíbrio porque

há custos diferentes, por exemplo,

de uma formação de televisão

e uma de multimédia, que é mais

barata. O Reuters Digital News Report

2016, apresentado em Julho,

diz que a maioria das pessoas recebe

informação através da televisão.

Vou deixar de oferecer formações

em televisão porque é caro? Claro

que não! Tenho de tentar equilibrar

tudo isto e dar resposta àquilo que

as pessoas pedem. Alguns dos formandos

têm necessidades reais e

sabem o que querem, outros não,

mas também andam à procura de

algo. Ao Cenjor cabe responder a

algumas dessas expectativas. Claro

que o nosso objectivo principal é

VIDA DE BAIRRO

INVERNO 2016 Ecos de Belém


68

ENTREVISTA

inserir as pessoas no mercado de

trabalho, seja no mercado de trabalho

na área do jornalismo, seja

noutro que venham a criar. Alguns

formandos do Cenjor criaram projectos

interessantes, preenchendo

nichos de mercado em televisão, em

produção e na internet.

Tendo em conta o que se passa

no mercado e conscientes de que

para mantermos uma formação de

excelência é necessário oferecer as

últimas novidades em termos de

equipamentos, temos de dar uma

atenção especial à questão dos investimentos.

Não podemos investir

num equipamento esperando que

tenha uma vida útil de 10 anos. Não

é possível! A tecnologia está a evoluir

demasiado rápido e a tendência

em termos de oferta é para equipamentos

com maior qualidade a um

custo mais baixo. Exemplo disto

são as câmaras DSLR (Digital Single

Lent Reflex) comparativamente

com as câmaras ENG (Electronic

News Gathering). Na área do vídeo,

já utilizamos a captação de imagem

com as DSLR, cuja relação qualidade

- preço é muito boa e é mais

fácil para as pessoas terem acesso.

Que comentário final lhe sugere

a marca Cenjor?

Todo o prestígio que o Cenjor

tem não se deve a mim, limito-me

a dar-lhe continuidade. Quando há

5 anos aqui cheguei, em dezembro

de 2010, encontrei um centro muito

bem equipado, onde tinham sido

feitos importantes investimentos, visíveis

para todos, formadores e formandos.

Tenho feito todos os possíveis

para manter essa qualidade.

Houve alterações sobretudo nos

conteúdos de forma a acompanhar

as novas tendências que se estão a

desenvolver no mercado.

Sente alguma nostalgia do

tempo em que era formadora?

Sim, sinto uma grande nostalgia!

Digo muitas vezes que se fosse próspera

e não precisasse de trabalhar

seria formadora. É o que mais gosto

de fazer. O formador vai acompanhando

o formando diariamente,

ou numa base quase diária, e

vê-o crescer, adapta a forma de comunicar

ao grupo e sente a evolução

do grupo. É muito bom e muito

gratificante!

Enquanto directora do Cenjor eu

tenho a percepção de que uma acção

vai resultar mas só passado algum

tempo é que o irei confirmar.

Na formação é de imediato. Um dia

quando me reformar quem sabe se

não volto à formação.

Ecos de Belém INVERNO 2016


69

Cenjor - 30 anos no passado

dia 7 de Novembro.

Depois de duas décadas na

sede da antiga ANOP, o

CENJOR está instalado

nas antigas oficinas de serralharia

da Escola Secundária Marquês

de Pombal, devidamente alteradas

para o efeito, desde 2008. Os

cinco pavilhões incluem: 7 salas

equipadas com computadores e

software adaptado às necessidades

da produção informática, 1 estúdio

de rádio e equipamento para

o tratamento digital de som, 1 estúdio

de televisão, 1 laboratório

fotográfico e equipamento para

tratamento digital da imagem e 1

sala polivalente para a realização

de seminários, encontros e outros

eventos.

A missão do CENJOR - Centro de

Formação Profissional para Jornalistas,

é a de oferecer formação profissional

em jornalismo, em áreas

como a imprensa, a fotografia, a

rádio, a multimédia, a comunicação

ou a formação de formadores,

e resulta de um protocolo celebrado

entre o Instituto de Emprego

e Formação Profissional (IEFP), a

Direcção-Geral da Comunicação

Social, o Sindicato dos Jornalistas,

a Associação de Imprensa Diária e

a Associação de Imprensa não diária,

em 7 de Novembro de 1986.

Nos últimos anos, o Cenjor tem

também desenvolvido acções de

formação especializadas em áreas

como a economia, ambiente, assuntos

europeus, ciência e tecnologia,

segurança e política internacional,

saúde e assuntos sociais,

entre outras. Estes cursos caracterizam-se

por se realizarem através

de acordos, ou protocolos, com as

mais diversas entidades com reconhecidas

competências em cada

uma das matérias. São cursos “à

medida”, que visam adequar a formação

proposta, ou solicitada, às

necessidades concretas dos formandos

e respondem ao diagnóstico

actual das necessidades formativas

no sector da comunicação

VIDA DE BAIRRO

INVERNO 2016 Ecos de Belém


70

social. No mesmo contexto, também

se tem verificado uma aproximação

mútua entre o Cenjor e

realidades que extravasam o mundo

do jornalismo. É o caso do universo

das pequenas e médias empresas

bem como de instituições

tão distintas como G.N.R., a Marinha

ou a P.S.P., entre muitas outras,

que colocam as suas necessidades

mais no campo da comunicação e

no domínio das novas tecnologias

para esse efeito.

Por outro lado, desde Abril de

2013, o Cenjor também oferece acções

integradas no Vida Activa, dirigidas

aos desempregados registados

nos centros do IEFP. Aqui,

este programa consiste em acções

de formação de curta duração que

visam a aquisição de competências

relevantes ou a valorização das competências

já detidas, para potenciar

o regresso ao mercado de trabalho

das pessoas em situação de

desemprego.

A actividade formativa do Cenjor

persegue, desde sempre, a qualificação

e aperfeiçoamento de profissionais

e colaboradores do sector

da comunicação social, a adequação

a novas tecnologias e actividades

ou a aquisição de competências

profissionais alargadas, e cada vez

mais tem ampliado o seu espaço de

actuação a novas áreas, como, por

exemplo, o apoio à actualização e

ao desenvolvimento das empresas.

A formação leccionada pelo Cenjor

sempre se caracterizou por ser

muito prática, com o devido enquadramento

teórico e ministrada

por formadores de alta qualidade.

Os mesmos padrões de qualidade

encontramos nas salas e nos equipamentos,

necessários às várias acções

e, não menos importantes, nos

excelentes serviços administrativos

de apoio aos formadores e formandos.

Ao longo destes 30 anos, pelo

desempenho de todas as suas equipas,

o Cenjor ganhou um prestígio

que ultrapassou fronteiras e é, sem

qualquer dúvida, a principal marca

do ensino do jornalismo e da comunicação

no universo de língua

portuguesa.

www.cenjor.pt https://vimeo.com/

cenjor.pt

Ecos de Belém INVERNO 2016


71

Campeonato de Profissões ou Worldskills

Na década de 40, o espanhol

José António Elola Olaso decidiu

criar um evento capaz

de contribuir para a promoção de

um sistema de treino vocacional

eficiente e trazer à luz os melhores

entre os melhores aprendizes

dos cursos de formação. Foi parte

da resposta encontrada para fazer

face à procura de trabalhadores

especializados, que acontecia naquela

época do pós-guerra.

O evento distinguiu-se, desde a

primeira hora, pelo permanente

incentivo ao alcance da excelência

profissional através da formação.

Em 1947 realizaram-se os primeiros

campeonatos, em Espanha,

com mais de 4.000 participantes

e em 1950, em Madrid, iniciou-se

o processo de internacionalização

do evento quando Portugal e Espanha

disputaram entre si o Campeonato

das Profissões.

Pelos valores que promove, das

boas práticas e importância das

competências profissionais, da

cooperação e partilha da formação

constante e permanente, e pelos

bons resultados que acrescenta

ao desenvolvimento sócio-cultural

das sociedades, rapidamente

novos países aderiram a este movimento.

A partir de 2000 passou a chamar-se

Worldskills Internacional,

uma organização internacional que

hoje inclui mais de 75 países e regiões,

dos cinco continentes. Em

alguns países foi adoptada a de-

signação de Olímpíadas das Profissões,

pelo espírito que denota.

Em 2007, foi ainda criada a European

Skills Promotions Internacional,

actualmente designada de

Worldskills Europe, que inclui 27

países europeus.

As competições do Worldskills

são dirigidas aos jovens, entre os

17 e os 25 anos, que concluíram

ou frequentam um percurso de

qualificação, através da via profissionalizante

ou técnica.

O Worldskills é uma competição

por etapas. O IEFP/ Worldskills

Portugal promove, a cada dois

anos, uma competição nacional.

Dos mais de mil candidatos que se

apresentam apenas algumas dezenas

são escolhidos. Os concorrentes,

selecionados pelas entidades

formadoras, passam por várias provas

até chegarem à final. Os vencedores

passam ao Campeonato Europeu

e daí para o Mundial.

O último Worldskills realizou-

-se em São Paulo, Brasil, em agosto

de 2015. Estiveram em competição

cerca de 1200 concorrentes.

Portugal levou 18 concorrentes de

16 profissões, que obtiveram oito

certificados de excelência.

O próximo Campeonato do Mundo

está marcado para 2017, em

Abu Dabi, Emirados Árabes Unidos

- e Portugal, como membro fundador

e como o único país que permanece

na organização de forma

permanente, estará, decerto, mais

uma vez, presente.

Estreia no campeonato nacional

de profissões ou Worldskills

Portugal

Na sequência do desafio lançado

pelo Instituto de Emprego

e Formação Profissional (IEFP)

– que em Portugal representa a

Worldskills -, o Cenjor participou,

pela primeira vez, no Campeonato

Nacional de Profissões que decorreu

em Coimbra de 22 a 27 de

Maio último.

A equipa do Cenjor foi enquadrada

na criação de conteúdos

para a informação, assegurados

por três formadores na função de

jurados, e nove formandos concorrentes.

Assim, foi criado um

estúdio de televisão com os respetivos

meios técnicos, desde teleponto

à régie portátil, no qual

as equipas realizaram reportagem,

captação e edição de imagem. Este

espaço também serviu para que

os visitantes e os participantes de

outras profissões participassem

activamente na experiência multimédia

e de comunicação.

VIDA DE BAIRRO

INVERNO 2016 Ecos de Belém


72

Lisboa 2017, Capital ibero-america

Durante os últimos anos, uma

das cidades que faz parte das

capitais Ibero-Americanas, é

escolhida para ser a capital dessa

constelação durante um ano. A capital

eleita define por decisão própria,

o programa que marcará esse

período e a matriz que porventura

a identificará.

A partir do próximo dia 7 de janeiro

e durante 2017 Lisboa será

a capital das cidades Ibero-Americanas.

Hoje continua a existir um enorme

desconhecimento entre as mais

variadas partes que compõem este

vasto e riquíssimo universo que é

o mundo cultural Ibero-Americano,

preenchido por países, culturas

ou cidades distintas, por vezes

com interesses opostos, geradoras

de tensões que as marcaram no passado

e que permanecem, mas também

composta por pontes comuns

e complementares.

Lisboa, segundo António Pinto

Ribeiro, programador deste grande

evento lançado pela Câmara Municipal

da cidade, escolheu apresentar-se

como uma plataforma de conhecimento,

e como produtora de

conhecimento, através de múltiplas

formas de arte e de comunicação,

Ecos de Belém INVERNO 2016


73

de escravos, as migrações, emigrantes

e migrantes, e a contribuição

para o pensamento contemporâneo

aportada pela literatura, pelas

ciências sociais, ou por outras formas

de expressão Ibero-Americanas.

Todo o programa preconiza uma

aproximação entre essas culturas

através da busca e do aprofundamento

desse conhecimento. A Lisboa

chegarão criadores e criativos,

artistas, realizadores, universitários,

produtores, escritores, músicos, em

suma, os principais actores, os mais

representativos desses universos

ibero-americanos.

Estabelecer pontes de transmissão

dessas culturas e procurar novas

parcerias, aproveitando os canais

já abertos, as ilhas existentes

de interesses comuns e pontuais,

alargando-as até talvez se transformarem

em continentes, ganhando

novas expressões, mais vivos, fluidos

e permanentes

Como âncora deste mega evento

estarão, por exemplo, disponíveis

70 equipamentos (consultar o

site da CML). Pretende-se que esteja

sempre presente um espírito de

festa mas também de crítica reflexiva,

um pleno sentido de acolhimento,

revisitando o passado, atento à actualidade

e perspectivando o futuro,

descobrindo, dando a conhecer

e projectando o que não está à vista

e as suas contra-imagens

Lisboa quer, num momento internacional

particularmente difícil, onde

a intolerância ganha cada vez mais

espaço, deixar uma marca indelével

do seu cosmopolitismo, multiculturalismo,

tolerância. Quer também

contribuir, de forma decisiva, para

o despertar das infinitas possibilidades

ocultas que as culturas e os países

Ibero-Americanos encerram, e para o

consequente benefício que pode advir,

para os seus povos, quando esse

intercâmbio se tornar uma realidade

intensa e permanente. São esses também

os nossos votos.

na da cultura

como as exposições, as arte plásticas,

o teatro, os livros ou a leitura,

a música e o áudio-visual, com especial

destaque para estes dois últimos

mundos, onde já existem redes

que comunicam e funcionam.

A programação teve 4 linhas

que orientaram os seus trabalhos:

a questão indígena na história e

na actualidade, a contribuição dos

afro-descendentes dos 12 milhões

VIDA DE BAIRRO

INVERNO 2016 Ecos de Belém


À Luz de Belém

1–8 © Jorge Coimbra (www.facebook.com/jorge.coimbra.524)

9–19 © Mário Guerreiro Martins (www.flickr.com/photos/126784293@N04/)


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Ficha

Técnica

Director:

Carlos Carvalho

Design/Paginação:

Mário Guerreiro Martins

Editor:

Ecos de Belém

Redacção:

Carlos Carvalho

Carlos d´Ascenção

Cristina Vieira

José Guimarães

Fotografia:

Carlos Carvalho

Mário Guerreiro Martins

Rui Mendes (pp. 66, 68, 70)

Agradecimentos:

Cristina Leão

Deolinda Almeida

Francisco Leão Carvalho

Jorge Coimbra

Marco Neves Ferreira

Pedro Pestana Soares

Ricardo Pereira

Impressão:

PAC artes gráficas, lda.

Rua Piteira Santos, nº 5, Feijó

Parque Industrial de Vale Flores, 2810-350 Almada

pac.grafica.comercial@gmail.com

Periodicidade:

Sem periodicidade definida

Propriedade:

Ecos de Belém, Associação Cultural e Cívica

ecosdebelem@gmail.com


1 Torre de Belém

2 Fundação Champalimaud

3 Padrão dos Descobrimentos

4 Mosteiro dos Jerónimos

5 Museu Nacional de Arqueologia

6 Museu da Marinha

7 Planetário Calouste Gulbenkian

8 Centro Cultural de Belém / Museu Berardo

9 Museu Nacional dos Coches

10 Palácio de Belém / Museu da Presidência

11 Cordoaria Nacional

12 MAAT - Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia

13 Museu Nacional de Etnologia

1 Loja 100 coisas

2 Unusual

3 Adega Típica O Gato Preto

4 Café da Tia Rosa / Salésias

5 Cenjor

Pontos de Vista

1 Ermida do Restelo

2 Moinhos de Sant`Ana

3 Moinho do Penedo

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