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OPINIÃO
Agronegócio, Amazônia e desenvolvimento
Conceito de governança se ampliou e agora inclui também a qualidade
do relacionamento com a comunidade, a sociedade e o meio ambiente
José Roberto Mendonça
de Barros (*)
Apandemia está sendo
uma experiência única
por ter detonado a
maior crise global em
décadas. Não sabemos ainda
como ela vai terminar e nem
todas suas implicações. Entretanto,
parece seguro imaginar
que as pessoas tenderão a valorizar
uma vida mais simples e
prezar mais a sociabilidade (família
e amigos) e a natureza.
O desejo que já existe de consumir
produtos mais naturais
vai se ampliar, o que vai valorizar
certos atributos (orgânicos etc.)
e, especialmente, exigir o conhecimento
de onde e como foi
produzido. A percepção da
ameaça do aquecimento global
é cada vez mais visível no mundo
inteiro, o que favorece a transição
energética e a descarbonização.
Também as empresas estão
sendo fortemente pressionadas
a mudar. É muito intensa a percepção
de que seu desenvolvimento
recente foi quase exclusivamente
voltado para o curto
prazo e ao retorno do acionista,
com resultados para lá de questionáveis:
expressiva concentração
de renda e poder, redução
da competição, limitado avanço
da produtividade e agravamento
das questões ambientais.
O conceito de governança se
ampliou e agora inclui também
a qualidade do relacionamento
com a comunidade, a sociedade
(solidariedade) e o meio ambiente.
A covid-19 acelerou
drasticamente essas tendências
já existentes. Passamos o ano
vendo companhias de todos os
portes, setores e regiões, incluindo
instituições financeiras
e fundos de investimento, punindo
países e regiões que não
se posicionam na luta contra o
aquecimento global.
Apenas gente muito distraída
não percebeu a seriedade e a
perenidade destes movimentos.
Assim, tendo em vista a ampliação
das exigências referentes
ao meio ambiente, à sustentabilidade
e à descarbonização,
não dá mais para admitir a destruição
da floresta amazônica
por grileiros e garimpeiros agindo
de forma totalmente ilegal. O
documento entregue pela Coalizão
Brasil Clima, Florestas e
Agricultura retrata bem a importância
do momento atual e apresenta
linhas de ação para enfrentar
a questão de forma
construtiva.
Transformar os estímulos para
a preservação da floresta em
pé, via bioeconomia, é triplamente
importante: pelo impacto
na região em si e na população
lá residente; pela remoção do
que se transformou num obstáculo
aos investimentos no Brasil;
e, de forma especial, pelo
afastamento de uma ameaça
mortal ao único setor da economia
brasileira que vem atravessando
o período recessivo que
se iniciou em 2015, crescendo
todos os anos sem parar.
Essa disparidade de desempenhos
setoriais é realmente impressionante:
em relação a
2014 e usando nossas projeções
para 2020 (queda de 4,8%
no PIB), teremos no final do ano
uma queda acumulada de 32%
na construção, 15% na indústria
de transformação, 6% nos serviços
e uma expansão de 17%
na agropecuária!
Uma implicação lógica desses
resultados é que deve ter se ampliado
a importância do agronegócio
no PIB brasileiro, estimado
tradicionalmente em algo
como 23%.
Apenas um novo censo pode
gerar as informações necessárias
para balizar novos cálculos,
mas chamo a atenção para o
crescimento significativo do valor
adicionado em muitos outros
produtos fora dos carros-chefe
soja, milho, carnes, cana, leite e
A percepção da ameaça do aquecimento global é cada
vez mais visível no mundo inteiro, o que favorece a
transição energética e a descarbonização.
café. São exemplos frutas, peixes
criados em cativeiro (cuja
produção se faz no Brasil inteiro
e já se aproxima de um milhão
de toneladas), hortícolas, outros
grãos, mel, produtos especiais
e com certificado de origem
(queijos, vinhos, embutidos,
azeite de oliva), produtos certificados
com certos atributos
(especialmente orgânicos) e outros.
O consumidor paga com
satisfação um adicional para
obter o que preza cada vez mais.
Enfrentada a questão amazônica,
o agronegócio está pronto
para um novo salto. Os 300 milhões
de toneladas de grãos
estão logo aí adiante. Nossa
agenda de avanços tecnológicos
já está dada. A coalizão em
torno do agronegócio poderá
ser o primeiro puxador de crescimento
em nosso País no póspandemia.
Temos muito trabalho,
mas um trabalho fascinante:
a um só tempo, teremos de
ter um adequado tratamento
dos recursos naturais, abraçar
em definitivo a agenda da sustentabilidade,
continuar criando
novas tecnologias e novos produtos,
integrando indústria e
serviços com grau crescente
de sofisticação num ambiente
de modernidade e respeito aos
trabalhadores e aos consumidores.
Seria muita burrice –
para não dizer um crime – deixar
esse futuro se perder nas
chamas
(*) Economista e sócio da
MB Associados
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Jornal Paraná