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Jornal Paraná Outubro 2020

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OPINIÃO

Agronegócio, Amazônia e desenvolvimento

Conceito de governança se ampliou e agora inclui também a qualidade

do relacionamento com a comunidade, a sociedade e o meio ambiente

José Roberto Mendonça

de Barros (*)

Apandemia está sendo

uma experiência única

por ter detonado a

maior crise global em

décadas. Não sabemos ainda

como ela vai terminar e nem

todas suas implicações. Entretanto,

parece seguro imaginar

que as pessoas tenderão a valorizar

uma vida mais simples e

prezar mais a sociabilidade (família

e amigos) e a natureza.

O desejo que já existe de consumir

produtos mais naturais

vai se ampliar, o que vai valorizar

certos atributos (orgânicos etc.)

e, especialmente, exigir o conhecimento

de onde e como foi

produzido. A percepção da

ameaça do aquecimento global

é cada vez mais visível no mundo

inteiro, o que favorece a transição

energética e a descarbonização.

Também as empresas estão

sendo fortemente pressionadas

a mudar. É muito intensa a percepção

de que seu desenvolvimento

recente foi quase exclusivamente

voltado para o curto

prazo e ao retorno do acionista,

com resultados para lá de questionáveis:

expressiva concentração

de renda e poder, redução

da competição, limitado avanço

da produtividade e agravamento

das questões ambientais.

O conceito de governança se

ampliou e agora inclui também

a qualidade do relacionamento

com a comunidade, a sociedade

(solidariedade) e o meio ambiente.

A covid-19 acelerou

drasticamente essas tendências

já existentes. Passamos o ano

vendo companhias de todos os

portes, setores e regiões, incluindo

instituições financeiras

e fundos de investimento, punindo

países e regiões que não

se posicionam na luta contra o

aquecimento global.

Apenas gente muito distraída

não percebeu a seriedade e a

perenidade destes movimentos.

Assim, tendo em vista a ampliação

das exigências referentes

ao meio ambiente, à sustentabilidade

e à descarbonização,

não dá mais para admitir a destruição

da floresta amazônica

por grileiros e garimpeiros agindo

de forma totalmente ilegal. O

documento entregue pela Coalizão

Brasil Clima, Florestas e

Agricultura retrata bem a importância

do momento atual e apresenta

linhas de ação para enfrentar

a questão de forma

construtiva.

Transformar os estímulos para

a preservação da floresta em

pé, via bioeconomia, é triplamente

importante: pelo impacto

na região em si e na população

lá residente; pela remoção do

que se transformou num obstáculo

aos investimentos no Brasil;

e, de forma especial, pelo

afastamento de uma ameaça

mortal ao único setor da economia

brasileira que vem atravessando

o período recessivo que

se iniciou em 2015, crescendo

todos os anos sem parar.

Essa disparidade de desempenhos

setoriais é realmente impressionante:

em relação a

2014 e usando nossas projeções

para 2020 (queda de 4,8%

no PIB), teremos no final do ano

uma queda acumulada de 32%

na construção, 15% na indústria

de transformação, 6% nos serviços

e uma expansão de 17%

na agropecuária!

Uma implicação lógica desses

resultados é que deve ter se ampliado

a importância do agronegócio

no PIB brasileiro, estimado

tradicionalmente em algo

como 23%.

Apenas um novo censo pode

gerar as informações necessárias

para balizar novos cálculos,

mas chamo a atenção para o

crescimento significativo do valor

adicionado em muitos outros

produtos fora dos carros-chefe

soja, milho, carnes, cana, leite e

A percepção da ameaça do aquecimento global é cada

vez mais visível no mundo inteiro, o que favorece a

transição energética e a descarbonização.

café. São exemplos frutas, peixes

criados em cativeiro (cuja

produção se faz no Brasil inteiro

e já se aproxima de um milhão

de toneladas), hortícolas, outros

grãos, mel, produtos especiais

e com certificado de origem

(queijos, vinhos, embutidos,

azeite de oliva), produtos certificados

com certos atributos

(especialmente orgânicos) e outros.

O consumidor paga com

satisfação um adicional para

obter o que preza cada vez mais.

Enfrentada a questão amazônica,

o agronegócio está pronto

para um novo salto. Os 300 milhões

de toneladas de grãos

estão logo aí adiante. Nossa

agenda de avanços tecnológicos

já está dada. A coalizão em

torno do agronegócio poderá

ser o primeiro puxador de crescimento

em nosso País no póspandemia.

Temos muito trabalho,

mas um trabalho fascinante:

a um só tempo, teremos de

ter um adequado tratamento

dos recursos naturais, abraçar

em definitivo a agenda da sustentabilidade,

continuar criando

novas tecnologias e novos produtos,

integrando indústria e

serviços com grau crescente

de sofisticação num ambiente

de modernidade e respeito aos

trabalhadores e aos consumidores.

Seria muita burrice –

para não dizer um crime – deixar

esse futuro se perder nas

chamas

(*) Economista e sócio da

MB Associados

2

Jornal Paraná

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