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S281[online]

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desempenham papéis preponderantes no

desenvolvimento de uma sociedade mais

sensível e crítica com o seu passado recente

e que não aceita a manutenção de uma

hegemonia de empobrecimento cultural,

como estratégia de controlo pelas elites. A

Educação terá de ser, sempre, necessariamente

promotora da tolerância, do respeito

pela diferença e da aceitação do outro ser

humano. Nunca poderá compactuar ou legitimar

as políticas de ódio e de medo, tão

mediatizadas nos tempos em que vivemos.

A exemplo de Gandhi, Martin Luther King

Jr., Mandela, Teresa de Calcutá, a cultura da

não-violência e a preocupação com os mais

pobres e desfavorecidos deverá ser transmitida

aos mais jovens, como ferramenta

imprescindível para o amor. A Educação é,

pois, tarefa e realização simultânea. A todos

é-nos exigido que tenhamos a capacidade

de educar, a amar os outros. A disponibilidade

para escutar e aprender com o outro

ser humano é um ato de amor por parte de

todos os educadores, que sentem «um forte

sentido da sua missão» (Morin et al., 2003)

e um dever moral para com a humanidade.

Retribuir uma educação promotora de valores

e princípios é dever de todos os educadores.

É deste ato de Amor pelos outros,

pela humanidade, que «animados pela fé»

(Morin et al., 2003) ousam acreditar, com

veemência, na capacidade de regeneração

do sistema de ensino, na adoção de novas

práticas pedagógicas e na valorização das

aprendizagens informais. O caráter utilitarista

e burocrático do sistema de ensino tem

vindo, desde há várias décadas, a contribuir

para o afastamento das comunidades em

relação à “escola”. As escolas devem participar

ativamente nas transformações que

ocorrem nas suas comunidades. Assistimos,

quase passivamente, ao esvaziamento

das funções sociais do Estado e aceitamos

a inevitabilidade das concessões a privados.

Constatamos que, nas escolas ocorre a

progressiva implementação de estratégias

neoliberais, assentes na falaciosa necessidade

de redução da despesa e do investimento

público e na alegada maximização

de recursos. E aceitamos a justificação para

o insucesso escolar, como sendo causado

pelo fracasso das funções da escola. E, por

conseguinte, aceitamos a responsabilização

exclusiva dos docentes por esse insucesso.

O caráter funcional e profissional do ensino

levou a reduzir o docente ao papel de funcionário,

um mero especialista (Morin et al.,

2003). «Apostar na Educação é, desde logo,

promover uma escola ambiciosa capaz de

elevar os recursos intelectuais, as capacidades

de análise de reflexão de todos,

incluindo os filhos do povo» (Lipovetsky,

2019) implementando uma «pedagogia da

esperança» (Freire, 1992) ou uma «pedagogia

da ambição» (Lipovetsky, 2019) que se

oponha às derivas da “escola atrativa” e proponha

modelos de «escolas participativas»

atuando na comunidade (Freire, 1992; Lipovetsky,

2019; Morin, 2000). As novas formas

de «colonização cultural» (Francisco, 2020),

envoltas na sedução mediática e populista,

vêm demonstrar o quão importante é o

papel da escola na preservação dos valores

democráticos, da liberdade, da justiça e da

paz - herança comum da Europa e da humanidade.

O Papa Francisco alerta na sua mais

recente Encíclica (2020), que a dissolução

da consciência histórica e do pensamento

crítico, junto dos mais jovens é estratégia

de uma elite e das suas ideologias totalitárias

para melhor seduzir os cidadãos, para

enquadrá-los e controlá-los. Esvaziando o

sentido dos grandes ideais, as ideologias

totalitárias «roubam a consistência moral e,

por fim, a independência ideológica, económica

e política» (Francisco, 2020). Desenraizando

os mais desprotegidos socialmente,

submetem-nos aos seus planos. Devemos

por isso, desejar uma escola que não exclua

ninguém e cuide particularmente das crianças

e jovens mais frágeis, dos mais desfavorecidos

e desprivilegiados. A missão da Educação

é «uma tarefa política por excelência,

uma missão de transmissão de estratégias

para a vida» (Morin et al., 2003) que não

pode compactuar com os interesses hegemónicos

de uma elite. A missão do educador

pressupõe, necessariamente, «ter fé na

cultura e fé nas possibilidades do espírito

humano» (Morin et al., 2003). É essencial,

acreditar que o futuro das aprendizagens

acontecerá a cada momento e será responsabilidade

de todos. Ouso acreditar que a

Educação universal e gratuita é uma missão

possível e incomensuravelmente imprescindível.

«A missão é, portanto, elevada e difícil,

porque supõe, simultaneamente, arte,

fé e amor» (Morin et al., 2003). Precisamos

todos de Arte, na procura de novas estratégias

pedagógicas. Precisamos todos de

Fé, nos outros e em nós, acreditando que

é possível melhorar o nosso desempenho.

Mas, acima de tudo, precisamos que nunca

falte Amor, pela (nossa) humanidade. s

Referências bibliográficas

Francisco. (2020). Carta Encíclica Fratelli Tutti. Cidade

do Vaticano: Libreria Editrice Vaticana. Obtido de

http://www.vatican.va/content/francesco/pt/encycli-

cals/documents/papa-francesco_20201003_enciclica-

-fratelli-tutti.pdf

Freire, P. (1992). Pedagogia da Esperança: um reencontro

com a Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz

e Terra.

Lipovetsky, G. (2019). Agradar e tocar: Ensaio sobre a

sociedade da sedução. Lisboa: Edições 70.

Morin, E. (2000). Os sete saberes necess á rios à educa

çã o do futuro. São Paulo: Cortez Editora.

Morin, E., Ciurana, E.-R., & Motta, R. D. (2003). Educar na

Era Planetária: O pensamento complexo como «Método»

de aprendizagem no erro e na incerteza humana.

São Paulo: Editions Balland, Cortez Editora.

saber OUTUBRO 2020

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