LAB 01 - "Experimentação do cotidiano pela arte"
Experimentos texto-visuais: cultura, arte e moda.
Experimentos texto-visuais: cultura, arte e moda.
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ECRÃ
por CRYSTAL DUARTE
Faz parte do senso comum a visão do documentário como um formato
rígido, com propósito educacional e composto por entrevistas e/ou imagens
de arquivo que exploram determinado assunto. No entanto, eu diria que o
documentário é na verdade o formato mais livre e experimental alcançado
pelo cinema. Particularmente, não vejo muito sentido na divisão de
fronteiras entre documentário e ficção, são todos filmes. São justamente
essas fronteiras e uma necessidade mercadológica de categorizar que
muitas vezes limitam a perspectiva do público sobre o documentário.
Se a divisa é traçada em documentário
ou ficção, ou seja, verdades ou
mentiras, é criada uma ilusão de
dois possíveis universos onde o filme
pode existir, quando na verdade toda
a arte se relaciona apenas com um
universo, o da verdade. O realismo,
por exemplo, nasce em oposição ao
teatro declamatório, concebe como
verdade algo mais alinhado com nossa
vivência real. Assim, se preocupa
em reproduzir através do cenário e
interpretação a vida. O antirrealismo,
se relaciona com um outro sentido da
verdade que não necessariamente
está contido ou é representado pelo
real. No antirrealismo a arte não imita a
vida, mas a expõe através de artifícios
da própria arte que nada remetem à
vida.
A verdade tem muitas formas. Diferente do que se pensa, a
verdade não está simplesmente atrelada ao fato, mas também à
perspectiva. No cinema, é o documentário que se arrisca a admitir
que está lidando com a verdade, enquanto a ficção se esconde
atrás da ideia da mentira mesmo influenciando o imaginário, ou
melhor, a realidade fora da tela. O documentário é livre. É o
formato onde tudo pode mudar, porquê se trata sempre de uma
investigação ou experimento que conta com certa espontaneidade,
seja no desdobramento da
temática, nas falas do
entrevistado, em um registro inesperado
e assim por diante. O documentário
acontece na frente da câmera, no
momento, e é sempre
experimental,
no sentido de que não existe uma
fórmula, é sempre uma experiência
que se revela enquanto acontece.
Além de todas as variáveis
que pertencem ao caráter espontâneo do
documentário, é também parte da grande variedade do universo
documental, a maneira com que será representada a verdade.
O documentário, acolhe as mais diversas formas de expressão
que o cinema de ficção em seu formato hegemônico (cinema
norte americano) rejeitou, como por exemplo a performance.
É dos tons de cinza que existem no meio de “documentário ou
ficção” que nascem as experiências mais interessantes e é a
arte do documentário que cruza mais
livremente e frequentemente essa fronteira.
Com isso tudo em mente, indico 5 documentários limítrofes que
misturam não só os conceitos de documentário e ficção, mas
também incorporam ao filme outros elementos não
pertencentes ao universo cinematográfico,
que ajudam a construir sua
verdade.
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