LAB 01 - "Experimentação do cotidiano pela arte"
Experimentos texto-visuais: cultura, arte e moda.
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ECRÃ
ECRÃ
UMA LONGA VIAGEM (2012)
As experiências como guerrilheira, e mais tarde
como prisioneira da ditadura militar no Brasil,
exercem forte influência sob o trabalho de Lúcia
Murat (70 anos). No documentário, a diretora
retorna a esse passado, mas não para dentro
das prisões e sim para o mundo a fora. Uma
longa viagem retrata a jornada de três irmãos
que cresceram na década de 1960, com ênfase
na jornada de Heitor, o caçula. Para que não se
envolvesse nas lutas armadas contra a ditadura
(como Lúcia), Heitor foi mandado pelos pais para
Londres. Lá, experimentou um tipo de alienação
da situação política brasileira e uma imersão
nas vivências que a viagem proporcionava.
Heitor deu a volta no mundo duas vezes e
experimentou uma variedade imensa de drogas.
Para traduzir uma experiência tão rica e única
quanto a dele, Lúcia Murat extrapolou as fronteiras
do cinema tradicional. Se utilizando de projeção,
Lúcia retrata de maneira deslumbrante as viagens
do irmão. As cenas são representações que
acontecem em frente ao espaço de instalação.
As projeções funcionam como um cenário
interativo que é ao mesmo tempo a moldura e
o pano de fundo para os monólogos de Heitor,
que são interpretados pelo ator Caio Blat.
Cena do filme “Uma longa viagem” da Lúcia Maurat - 2012
154
Na verdade, os monólogos são cartas enviadas por Heitor para seus pais.
Por nunca haver uma leitura das respostas ao longo de toda a ação, se
instaura um sentimento de solidão, que só aumenta com o passar do filme.
Até o cenário projetado deixa de parecer interativo e começa a transmitir
uma certa loucura, como se Heitor estivesse falando com as paredes.
Em paralelo, imagens de arquivo e filmagens de locações da época da ditadura
contam da situação de Lúcia e de seu outro irmão, Miguel. Os caminhos de Lúcia
e Miguel parecem estar completamente desconectados do caminho de Heitor.
Mesmo tendo vindo ao Brasil para rever a família, Heitor sempre voltava a viajar,
até depois da soltura de sua irmã. Miguel estudou, se formou como médico
e começou a trabalhar. O filme então,
ganha um tom mais pessoal, os pais
de Lúcia morrem e Heitor começa a ter
dificuldades relacionadas a saúde mental.
Nesse contexto, cabe a ela e a seu irmão
mais velho, Miguel, cuidarem de Heitor.
O documentário muda de momento e
os caminhos dos três irmãos se unem.
Lúcia fala do medo e da dificuldade
com relação às crises de Heitor. Até então
não tão presente no documentário,
Miguel ganha maior foco, quando, se
torna o “porto seguro” da família, durante
essas adversidades. É possível
relacionar o título do filme (“Uma longa
viagem”) à viagem de Heitor pelo mundo,
sendo ela o enfoque principal. Por
outro lado, em uma análise mais atenta
creio que o título na verdade se refira
à jornada de vida dos três irmãos.
LÚCIA MURAT