LAB 01 - "Experimentação do cotidiano pela arte"
Experimentos texto-visuais: cultura, arte e moda.
Experimentos texto-visuais: cultura, arte e moda.
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VOZES
VOZES
V.V: Como nasceu a ÃO? O que te motivou a
começar a marca?
M.D: A ÃO nasceu em meados de 2017 com
o desejo de desenvolver um projeto mais
ousado de vestuário, de bancar cores fortes/
estranhas/não-convencionais e de criar uma
espécie de disparidade de referências estéticas
dentro de uma coleção. O que me motivou, e
ainda motiva é trabalhar com criação dentro
de um processo experimental que engloba
uma pesquisa relacionada às Artes Visuais.
V.V: Os desfiles, além das peças, trazem
consigo toda uma estética que traduz a
temática da coleção apresentada. Qual
a importância dessa fusão entre peças,
maquiagem, modelos, som e tudo que
envolve o desfile, para a identidade da
marca?
M.D: Esta fusão é fundamental. Gosto de
pensar em teatro quando penso em um
desfile, justamente porque é onde cada
setor existe como parte complementar de
uma imagem total (acting, trilha, luz, figurino
(styling e design), maquiagem, locação,
vídeo, cenário e também o público) . E
acredito que estas frentes são igualmente
importantes e complexas. Quando desenho
uma coleção, ela carrega referências de
variadas linguagens, como música, cinema,
pintura, performance, e até referências
ordinárias do cotidiano. Para apresentar este
universo gosto de desenhar junto com todos
os colaboradores elementos que enriqueçam
essa comunicação. A trilha por exemplo, é
um elemento que me cativa muito. Fiz uma
coleção de AW19 chamada “Texturesss” que
foi criada a partir de uma trilha original para o
desfile. A música aconteceu antes, processo
incomum para este tipo de apresentação.
V.V: As coleções da ÃO não tem aquela
necessidade de seguir ou “investir” em
tendências de moda, o que as tornam
mais atemporais e mais autênticas. É
mais libertador ou mais desafiador criar
sem se preocupar em necessariamente
se encaixar dentro de certos padrões
que a indústria da moda ainda impõe?
M.D: É mais verdadeiro, é como eu sei
fazer. Sinceramente tenho pouquíssima
paciência para desfiles de moda, salve
algumas exceções. Porém, também
gosto de olhar para a tendência de moda.
É incrível como existe um senso estético
comum acontecendo em um tempo
específico, isso normalmente é fruto de
questões políticas, sociais e econômicas.
Mas gosto de captar a estética de um tempo
a partir de outras fontes fora da moda.
Caso contrário seria um tema fechado em
si próprio e passível de más interpretações.
V.V: As peças que você cria tem nas formas
e nas modelagens uma estética muito forte,
dando um novo formato ao corpo. O que
te inspira a criar essas formas? Existe de
fato uma intenção de “modificar” o formato
do corpo, ou é mais um interesse em
questões de criação com modelagens mais
“atípicas”?
M.D: Gosto de distorcer a forma da silhueta
tradicional com volumes e texturas e
isso vai de encontro com um desejo de
inventar novos corpos. Gosto de explorar
a experiência sensitiva que é “habitar”uma
forma incomum. Também me interesso
por processos de criação de modelagens
que fogem da metodologia usual, gosto de
cortar um tecido em um formato randômico,
e entender como ele se comporta no corpo.
“O que me motivou, e ainda
motiva, é trabalhar com
criação dentro de um
processo experimental
que engloba uma pesquisa
relacionada às
Artes Visuais.”
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