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LAB 01 - "Experimentação do cotidiano pela arte"

Experimentos texto-visuais: cultura, arte e moda.

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VOZES

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No âmbito musical, como começou esse processo?

Eu comecei escrevendo. Eu escrevia poesias e aí em

um momento eu juntei alguns amigos e a gente fez

uma primeira banda, onde outras pessoas cantavam e

eu escrevia as letras e meio que tava também numa

direção musical talvez, uma coisa assim, mas era tudo

ainda muito jovem. E a partir de escrever esse projeto,

eu começo a estudar no teatro a performance e em

paralelo o cenário eletrônico começa a se consolidar

mais e ter um espaço de experimentação maior e eu, a

partir disso, de ser letrista, de escrever para os outros,

começo a escrever para mim mesmo, começo a escrever

sobre a minha vivência, num ato performático, quando

eu digo ato performático é referente a um corpo que fala

e eu comecei a escrever pensando nisso, na mensagem

que o meu corpo pode falar e que só o meu corpo pode

falar e o valor disso. A partir disso é de onde eu começo.

Já são 3 álbuns lançados: Noites, Nóias e Muito Mais (2018), Sequela dos Peixes (2019) e

Medo Profundo (2020), todos elaborados e produzidos totalmente por você. Como foram

essas experiências?

O primeiro CD, é muito um primeiro contato com a música eletrônica, então pouco me servia,

pouco me bastava. Eu digo, esse “pouco” é a primeira batida, a primeira proposta de batida que

eu costumava experimentar em cima da proposta de voz, porque sempre surgiu a partir ir da

proposta de voz, dava certo, as coisas davam certo muito facilmente. Era muito orgânico, uma

relação de sentir e é isso e não pensar muito. Muito fluido, muito natural, muito espontâneo.

Já no segundo CD sou eu questionando um pouco mais, pensando um pouco mais e buscando

um pouco mais de diferença, de uma opinião mais minha, porque até então o primeiro CD, por fluir

tão fácil, gera um trabalho que tem uma personalidade, não pode deixar de ter uma personalidade,

mas que tem menos personalidade, que eu senti falta na verdade, de personalidade, acho que

a fala é essa: eu senti falta de personalidade. E aí surge o segundo projeto nessa carência em

mostrar algo mais MPB, algo mais erudito.

(mais personalidade em questão de som? musicalmente?)

É, porque ficou uma personalidade, uma estética, muito clichê de música eletrônica, o primeiro.

Os beats que eu usei, um tanto quanto clichês.

(Você não acha que você tem essa visão agora? Conforme o tempo passa a gente analisa

de uma outra forma.)

Eu sempre me questiono isso também, e sempre quando escuto eu nunca acho nada clichê e

sempre acho muito inovador. Mas é mais a própria proposta de som, de ser um beat convencional,

de ser pouco trabalhado eu diria, nessa questão sonora. Era uma questão poética muito maior,

uma necessidade de uma expressão poética, de falar poesia, muito maior. Já no segundo, eu

não queria mais esse cenário eletrônico, eu queria uma coisa mais orgânica, algo que dialogasse

mais com a minha personalidade, até mesmo de ouvinte, porque eu escuto muito MPB e queria

produzir algo mais, que tivesse a referência da MPB, mas que também não fugisse tanto de uma

pegada eletrônica, de uma pegada techno 4x4, dessa estética que eu gosto muito. E aí surge

esse segundo CD, nessa carência, tudo numa proposta de qualidade sonora mais desenvolvida,

e toda proposta estéreo, que eu ainda não havia trabalhado, e pensar em jogar os instrumentos

para um lado, jogar os instrumentos pro outro, começar a experimentar a respeito disso.

E no terceiro CD, é como se eu voltasse para o eletrônico, pra pista de dança, pro dançante, e

fosse pra uma pista de dança com personalidade, como se eu estivesse respondendo o primeiro

CD. A partir disso eu gero todo o projeto do Medo Profundo que é pensar na pista de dança num

lugar tenebroso, num lugar assustador e ao mesmo tempo dançante, brincar com expectativa,

com suspense, muito suspense, muito inspirado nas trilhas de suspense.

E uma qualidade, quando vai para pista, vai para uma pista de dança de qualidade maior. No

primeiro projeto, essa fluidez toda, levou para um espaço que eu nem refletia muito “do que eu

estou fazendo”, é um House? É um isso? É um aquilo? E realmente, o som tem uma pegada de

Techno, mas tem uma pegada de house também, mas também não se configura nesse padrão.

E quando já vai para o Medo Profundo já é quase um Trance, porque eu pego o certos samples

que são de 180 BPM e coloco ele x2, e aí isso gera 360 BPM, isso nem toca sabe, ninguém toca,

não é nem tocável, é quase um prog. Mas é um elemento, não é um prog, não se consiste num

prog, tal qual não se consiste no techno, tal qual não se consiste em quase nada. Se consiste

num som com estilísticas, com estéticas, com semblantes, com nuanças, que se perpassam por

vários ritmos, em vários gêneros.

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