Revista Dr Plinio 275
Fevereiro de 2021
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Flávio Lourenço<br />
Jesus comendo na casa do fariseu Simão - Museu de Belas Artes, Rennes, França<br />
Divulgação (CC3.0)<br />
uma visão sobre esse acontecimento e,<br />
quando Licínio voltou, disse-lhe:<br />
— Meu irmão, é melhor não visitar<br />
as ovelhas do que ir vê-las para dispersá-las.<br />
Resposta de São Licínio:<br />
— Não tenhais pena, meu caro irmão!<br />
Não é preciso purificar o campo do<br />
Senhor e separar a palha do bom grão?<br />
Os que se foram eram doze orgulhosos<br />
em quem o Senhor não mais habitava.<br />
São Romão concordou. Mas daí em<br />
diante chorava tão profundamente, magoado<br />
com a partida dos monges, que<br />
Deus, atendendo suas preces, reconduziu<br />
mais tarde os doze recalcitrantes ao<br />
convento. A ele se apresentaram voluntariamente<br />
para fazer penitência.<br />
São Romão e São Licínio<br />
Combatentes varonis<br />
Nesta narração há uma série de<br />
fatos interessantes para considerar.<br />
Em primeiro lugar, encontramo-<br />
-nos em face da admirável floração<br />
de Santos ocorrida depois da queda<br />
do Império Romano do Ocidente.<br />
Vemos dois irmãos que levam uma<br />
vida de grande santidade, num lugar<br />
ermo, em meio a uma natureza<br />
amena, bucólica, felizes sem os<br />
atrativos das coisas da cidade, nem<br />
do mundo.<br />
Podemos imaginar, nas horas de<br />
oração, esses irmãos ajoelhados, rezando<br />
um ao lado do outro – assim<br />
os representaria uma iluminura –,<br />
Nossa Senhora aparecendo no alto e<br />
sorrindo para eles.<br />
Então, um primeiro ato é o da felicidade<br />
eremítica e bucólica desses<br />
dois irmãos, que vivem numa atmosfera<br />
terrena encimada por um céu<br />
parecido com o ar diáfano daqueles<br />
firmamentos azuis de Fra Angelico.<br />
Em seguida, vem a provação. O<br />
demônio, que lhes tem ódio, emprega<br />
um modo de castigá-los muito interessante:<br />
uma chuva de pedras cortantes.<br />
Eles, tão bonzinhos, tão direitinhos...<br />
vem uma chuva medonha<br />
de pedras cortantes e os molesta.<br />
Procuram, então, rezar direito, mas<br />
afinal de contas as pedras são muito<br />
sérias e eles resolvem sair.<br />
Encontram, por fim, uma boa mulher<br />
que habita uma choupana no<br />
campo. Ela perdeu o marido, tem<br />
um filho que mora longe e de quem<br />
apenas recebe, de vez em quando,<br />
uma carta; com uma perna inchada,<br />
doente, reumática, reza o tempo inteiro<br />
e vive só para Deus.<br />
Essa mulher, provada por sofrimentos<br />
e cheia de sabedoria, recebe<br />
os dois e, naturalmente, primeiro<br />
lhes oferece algo para comer, ajuda<br />
a curar alguma ferida causada pelas<br />
pedras e depois pergunta o que há.<br />
Fora está chovendo torrencialmente,<br />
eles estão abrigados na casinha<br />
da mulher e lhe contam o ocorrido.<br />
Ela suspira, põe os olhos num crucifixo<br />
e afirma:<br />
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