Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
— Olhe quanta coisa o rio vem trazendo. O que será isso?
Ambos olharam espantados; o rio havia crescido durante a noite de uma
maneira assustadora. Estava volumoso e as águas não eram mansas como no
dia anterior; eram vagalhões pesados que passavam levando galhos enormes e
outras coisas. Henrique empalideceu:
— É a enchente, Eduardo! Decerto choveu muito na cabeceira do rio.
Que horror!
A ENCHENTE
Ficaram imóveis, sem poder tirar os olhos do Paraíba; viram passar
tábuas, sapatos, roupas, a metade de uma cadeira, troncos de árvore e, de
repente, uma cabra morta. Eduardo estendeu o braço:
— Veja! Uma cabra!
Voltou-se para Henrique, pálido de susto:
— Henrique! Como vamos voltar agora?
O irmão sacudiu os ombros, fingindo-se corajoso:
— Pois não viemos até aqui? Podemos voltar também. Vamos procurar a
canoa já, já.
Sentiam os membros doloridos por não terem dormido bem. Eduardo
começou a andar e a mancar dizendo que todo o corpo doía. Esqueceram-se da
sede e da fome e foram à procura da canoa; tornaram a entrar pela mata e
tornaram a perder o rumo. Henrique disse:
— Não posso mais de tão cansado. Vamos parar um pouco!
Recostou-se a uma árvore e passou o lenço pelo rosto; foi então que
Eduardo reparou no rosto do irmão; estava todo marcado pelos arranhões dos
espinhos da véspera. Propôs enquanto descansavam:
— Vamos comer então.
Abriu o pacote, distribuiu os ovos, a lingüiça, o pão; comeram sem apetite,
tão preocupados estavam. Henrique queixou-se: