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Revista Dr Plinio 280

Julho de 2021

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Perspectiva pliniana da História<br />

Joseph Vivien (CC3.0)<br />

François de Salignac de la Mothe-Fénelon<br />

que podiam dispersar os desordeiros<br />

com facilidade. Eles sabiam disso, mas<br />

sabiam também que o Rei Luís XVI<br />

era benigno, quase até à burrice. Assim,<br />

não temiam os canhões.<br />

A queda da Bastilha<br />

Após tratativas com o governador<br />

da Bastilha, um tal Monsieur de<br />

Launay 1 , os revolucionários conseguiram,<br />

afinal, que baixassem a ponte<br />

levadiça e entrassem os representantes<br />

do povo para falar com ele.<br />

Quando baixou, o povo inteiro invadiu.<br />

Espandongaram, quebraram tudo.<br />

Tiraram os presos e os colocaram<br />

sobre uma espécie de grandes pranchas<br />

de madeira e os fizeram passear<br />

por Paris, para a população ver as<br />

pobres vítimas do terror real.<br />

Os revolucionários mataram vários<br />

da guarnição da Bastilha e levaram<br />

preso Monsieur de Launay para<br />

que ele fosse dar explicações às autoridades<br />

populares sobre como era a vida<br />

dentro dela. Mas, no<br />

caminho, mataram-<br />

-no devido aos maus<br />

tratos. Aliás, sem razão<br />

nenhuma, porque<br />

ele cedeu o tempo<br />

inteiro.<br />

Com isso a Bastilha<br />

ficou vazia e<br />

pouco depois empreenderam<br />

sua<br />

demolição. Das pedras<br />

faziam-se miniaturas,<br />

reproduções<br />

da velha fortaleza,<br />

que eram vendidas.<br />

Todos os revolucionários<br />

queriam<br />

ter uma Bastilha<br />

para enfeitar a<br />

sua própria sala.<br />

Em Paris, tais<br />

acontecimentos simbolizaram<br />

a queda<br />

do poder absoluto.<br />

Destruída a Bastilha,<br />

estava quebrada<br />

a monarquia. O resto foi apenas uma<br />

sucessão de derrotas, até chegar à proclamação<br />

da República, à decapitação<br />

do Rei e da Rainha. Era a Revolução<br />

Francesa consumada.<br />

Dos efeitos à causa, quem<br />

foi o maior culpado da<br />

queda da Bastilha?<br />

O que se deve pensar da queda<br />

da Bastilha? Um observador comum<br />

voltaria toda a sua cólera contra os<br />

bandidos que assaltaram e demoliram<br />

assim um símbolo do poder real<br />

e da Civilização Cristã. Isso é mais<br />

do que justificado. Eu não sei, porém,<br />

se é contra isso que nossa maior cólera<br />

deve voltar-se, ou se é contra o<br />

rei mole, bobo, indolente, não cônscio<br />

de seus deveres e direitos, que por<br />

sua negligência permitiu tornar-se<br />

possível esse acontecimento. Eu creio<br />

ter sido ele o maior responsável pela<br />

queda da Bastilha.<br />

Mas, remontando dos efeitos à causa,<br />

deveríamos nos perguntar quem<br />

foi mais responsável por Luís XVI ser<br />

assim. Os estudos históricos mais recentes<br />

revelam todo um filão de uma<br />

sociedade secreta à qual ele pertencia,<br />

constituída por discípulos do Arcebispo<br />

de Cambrai, Fénelon 2 , quem talvez<br />

seja o fundador da “heresia branca” 3 ,<br />

homem ainda contemporâneo de Luís<br />

XIV e autor de um livro chamado Télémaque.<br />

Arcebispo dulçoroso, imaginando<br />

coisas de uma piedade toda ela<br />

de mel, mas não um mel santo e bento<br />

de São Francisco de Sales, mas sentimental,<br />

mundano, todo humano; um<br />

estilo de piedade segundo o qual atacar,<br />

discutir, lutar, guerrear eram atitudes<br />

censuráveis.<br />

O discípulo perfeito dele, Télémaque,<br />

era um homem que andava pelos<br />

bosques apreciando a natureza e<br />

não tinha o espírito preparado para o<br />

caráter militante desta vida.<br />

Nossa cólera poderia ir mais longe:<br />

quem formou Fénelon? Quem permitiu<br />

que chegasse a ser Arcebispo<br />

de Cambrai ou impediu que ele fosse<br />

destituído desse cargo? Assim nós poderíamos<br />

ir até as origens da Revolução<br />

e encontraríamos sempre duas fileiras<br />

de culpados: os que fizeram e os<br />

que permitiram que fosse feito. Quiçá<br />

no dia do Juízo os que permitiram<br />

serão mais castigados do que aqueles<br />

que realizaram. E não será pouco!<br />

Tive um exemplo disso ao folhear<br />

uma revista francesa na qual encontrei<br />

uma narração da queda da Bastilha<br />

trazendo pormenores reveladores.<br />

Um deles é que o próprio Luís<br />

XVI, em seu Conselho de Estado,<br />

tinha determinado a demolição da<br />

Bastilha antes de que a Revolução a<br />

decidisse. Portanto, a Bastilha considerada<br />

pela Revolução como um<br />

símbolo do poder real, seria derrubada<br />

por deliberação do próprio Rei<br />

que a Revolução destronaria.<br />

Nisso encontra-se um ensinamento:<br />

ao ocorrerem as grandes derrocadas<br />

históricas, em geral, quem caiu<br />

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