PHILIP

II
Especialmente naquele dia, Philip percebia estar revoando
sobre um terreno totalmente novo.
Mesmo os pássaros que passavam por ele eram diferentes.
Alguns, demais apressados, outros com os olhos cobertos
por uma neblina escura e os maiores com a feição
estremecida e severa.
Acho que eu me esqueci de mencionar no
capítulo anterior outra característica
muito importante do Philip: sua absoluta
distração toda vez que estava
preocupado com alguma coisa.
E aquilo o preocupava - os olhares,
a simpatia - coisas que não
eram relevantes para outros
como ele.
Seu voo, quase sem
perceber, tornavase
mais lento, e a
cada minuto ele
sentia mais
medo de
olhar para os
lados.
Numa das vezes
que o fez, percebeu a
presença de um pássaro
estranho com um semblante
que parecia de cera. Para onde
se voltava, “ele” o seguia sem
mover a pálpebra num olhar calado.
Philip nem pensou em cumprimentar
ou perguntar nada, já que o tal pássaro
assumia ares de quem não fazia nada
mais do que a sua obrigação.
Para quem seguir Philip
parecia ser um ato resultante
de um acordo entre
cavalheiros.
Sem dúvida “ele” incomodava
Philip, mas... No meio
de tantas coisas estranhas, com as quais aparentemente
não concordava, aquela não era a de maior vulto. Parece
natural o fato de nos encolhermos num quarto escuro onde só os
sonhadores se sentem grandiosos.
Naquele momento, Philip pensou que queria ter olhos de estrelas para enxergar
no escuro, pois lá as pessoas devem deixar o rosto com a verdadeira
feição dos seus sentimentos.