PHILIP

XIV
Era a chance de entender melhor
os homens.
Um senhor de cabelos grisalhos
trocou a água da gaiola
com tranquilidade, como se
percebesse a importância de
Philip.
O que seria deixá-lo em forma?
A preocupação manteve os
olhos de Philip abertos como
na esperança de saber-se vivo.
O alimento estava bem próximo
dele a ponto de trazê-lo à
boca com gestos lentos, como
quem não está totalmente convencido
de que vale continuar.
Feita a obrigação, o velho pendurou-o
num pedestal de gaiola
que lá estava há anos, pela
sua aparência.
Quando ouviu o bater da porta
denunciando sua solidão, Philip
conseguiu formar seu pensamento:
- Maneira estranha que os homens
têm de cuidar: fazem um
curativo e não tratam a ferida.
XV
A limpeza de sua gaiola era
frequente, assim como a troca
de alimentação.
Philip já estava de pé e às vezes
saltitava na gaiola com vontade
de sentir-se vivo.
Hoje, porém, estava num lugar
diferente; do seu lado direito
havia uma janela de onde
se avistava o céu; de todos
os outros lados ele estava cercado
por uma enorme bagunça
de bolas e brinquedos e uma
cama desordenada. Aquele cenário
era extremamente novo.
Como eram complicados os homens,
quantas coisas nas casas.
Seria mesmo necessária
tanta coisa para se viver?
Será que se limitavam àquele
cômodo por livre vontade?
Ou seriam obrigados como
Philip?
Obrigado... Por que estava ali?
Quanto tempo se passou?
Onde se escondiam os outros
pássaros?
Como nos fazem sofrer as perguntas
sem respostas, quando
estamos sós.