PHILIP

XXVII
Philip, por que você tem asas?
Não sei, pequeno.
Por quê?
Nunca pensei nisso.
Creio que sei por que não tenho.
Porque sou homem.
E só isso basta?
Sim.
Deus é muito sábio
para dar a um mesmo ser
o direito de voar
e o dever de criar.
Tenho sim.
Tem saudade de sua vida antiga?
Claro que sim
Você não tem vontade
de sair dessa gaiola?
.
XXVIII
- Você espera que eu solte você?
Quero dizer, como sei que você
pode ser mais feliz longe dessa
gaiola, seria a maior prova de
amor libertá-lo, não é?
- Não sei, Chico.
- Você voltaria? Todos os dias? Quero
dizer... É certeza que quando eu voltar
da escola te encontrarei aqui?
- Tenho medo, Philip.
- Chico, você é feliz comigo?
É feliz porque me conhece e me ama?
- Claro que sim. E, por isso, tenho
tanto medo.
- Eu também nunca sei se você volta
porque estou aqui ou porque aqui
você mora.
- Mas... Philip...
- Querido, quando a gente ama alguém
e quer viver com essa pessoa,
só será feliz quando tiver a certeza
de que se está junto por amor. Você
nunca conhecerá a felicidade
de me encontrar, se não me permitir
partir quando quiser.
- É preciso muita coragem. Já
que é um risco, e a felicidade é
sempre produto de um risco.
Você já pensou como seriam
todas as vezes que me encontrasse
aqui na janela? Teria
certeza de ser amado e isso é
tão importante quanto a certeza
de amar.
Os olhos do Chico estavam
repletos de lágrimas.