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XVIII<br />
Philip sentiu que durante todo<br />
tempo aquele menino loiro se trocava<br />
com a atenção presa nele.<br />
Não entendia como, mas percebia<br />
que o havia magoado não por<br />
nada que tivesse feito, mas pelo<br />
que não fizera.<br />
Parecia inacreditável, mas era<br />
verdade: não sabia a que atribuir,<br />
talvez à inocência. Será que<br />
Chico queria sentir a felicidade<br />
em Philip? Mesmo estando ali...<br />
Preso naquela gaiola? Estava<br />
magoado por não sentir correspondida<br />
sua eufórica paixão?<br />
Percebeu que nem passava pela<br />
cabeça do menino o fato de ele estar<br />
ali, limitado àquele centímetro<br />
quadrado.<br />
Enquanto pensava em tudo isso,<br />
o menino já estava pronto: uma<br />
camisa impecavelmente branca,<br />
acompanhada de uma calça curta<br />
azul-marinho. Um tênis sujo<br />
finalizou a cerimônia; só faltava<br />
jogar alguns livros naquela pasta<br />
surrada.<br />
Aproximou-se mais uma vez antes<br />
de sair. Já não ofuscava tanto<br />
o brilho dos seus olhos e Philip<br />
conseguiu encará-lo.<br />
Tchau, Amarelo.<br />
O velho vem cuidar de você.<br />
XIX<br />
O sol já esquentava metade do<br />
quarto. A casa permanecia num<br />
silêncio mórbido e Philip não tinha<br />
vontade de cantar. Pensava<br />
com muita atenção em tudo o que<br />
havia acontecido e sua lembrança<br />
ficava tomada pelos grandes<br />
olhos azuis.<br />
Ontem, quando sobrevoava as<br />
colinas verdes, quando passeava<br />
pelas manhãs, tudo era diferente.<br />
Sim, ele não era tão rude e<br />
amargo.<br />
Talvez aquela criança não tivesse<br />
culpa. Mas... Quem tinha? Já<br />
estava ele de novo deparando<br />
com a culpa sem saber a quem<br />
atribuir.<br />
Deu um pulinho dentro da gaiola,<br />
de um degrau para o outro. O silêncio<br />
o incomodava.<br />
Chico podia voltar logo.