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Passada de bastão (ou<br />
de panelas)<br />
Com os filhos, Thomas e Carolina | foto: arquivo pessoal<br />
Novos sonhos<br />
Com o sucesso do Roanne, Claude decidiu<br />
apostar em um espaço maior.<br />
Abriu o Claude Troisgros, no Jardim<br />
Botânico, que depois mudaria de nome<br />
para Olympe (em homenagem à mãe),<br />
que conquistou uma estrela no Guia<br />
Michelin. Mas Claude tinha planos mais<br />
ousados: ele queria chegar a Nova<br />
York. Em 1994, deixou o Olympe sob<br />
os cuidados de Batista e foi firmar seu<br />
nome no cenário internacional, que<br />
vivia o começo da fusion cuisine, inaugurando<br />
o CT em Manhattan. “Estava<br />
cheio de restaurante franco-oriental,<br />
franco-tailandês. Cheguei com um<br />
franco-brasileirrro.” E o CT foi um<br />
sucesso imediato, com fila na porta.<br />
“Em um mundo de cozinheiros imitadores,<br />
ele é único”, escreveu o crítico<br />
do jornal The New York Times sobre<br />
o chef recém-chegado.<br />
Claude deixava, assim, de ser apenas<br />
o parente de grandes chefs e passou a<br />
ser reconhecido por sua gastronomia<br />
mundialmente. Dois anos depois, os<br />
investidores venderam o restaurante<br />
nova-iorquino, e Claude decidiu voltar<br />
para o lugar que ele já considerava seu<br />
lar. Foi recebido no Brasil com o carinho<br />
de um filho que retorna à casa e<br />
com uma ideia na cabeça: trabalhar<br />
na televisão. Durante a temporada nos<br />
Estados Unidos, ele percebeu a enorme<br />
quantidade de programas de TV<br />
sobre alta gastronomia. “Participei de<br />
alguns programas lá e vi que gostava<br />
disso”, diz. Muito bem relacionado,<br />
conseguiu o contato de produtores<br />
no GNT, e em 2004 estreou o quadro<br />
Adivinha o Que Tem para o Jantar em um<br />
programa de variedades no canal. Era<br />
o início de uma parceria de sucesso.<br />
Depois viriam o Menu Confiança, com o<br />
jornalista Renato Machado, os programas<br />
da série Que Marravilha! e o reality<br />
show Mestres do Sabor. “E lá se vão 16<br />
anos na televisão. Hoje, me vejo como<br />
um cozinheiro que virou apresentador.<br />
Vou ser sempre um cozinheiro”, diz.<br />
Como preparação para entrar no universo<br />
da TV, fez sessões de fonoaudiologia,<br />
mas a ideia nunca foi acabar<br />
com o sotaque, sua marca registrada.<br />
“Queria apenas trabalhar a voz. Isso<br />
é importante para a televisão”, acalma<br />
Claude. Quando visita a família na<br />
França, leva consigo outro sotaque.<br />
“Minha família diz que falo com sotaque<br />
brasileiro. O incrível é que não sinto<br />
isso”, garante.<br />
Assim como o pai famoso, Thomas e<br />
Carolina cresceram em meio às panelas.<br />
Thomas mostrou, desde cedo, o<br />
interesse em seguir a profissão da família<br />
e foi estudar e trabalhar na área.<br />
Carolina optou pelo lado da administração<br />
e marketing de restaurantes.<br />
Aos poucos, Thomas foi assumindo a<br />
cozinha até se tornar chef do Olympe.<br />
Para dar espaço ao filho, Claude deixou<br />
a casa principal e voltou às origens:<br />
abriu o Chez Claude, um restaurante<br />
intimista, com 80 metros quadrados<br />
e uma cozinha no meio do salão, ao<br />
lado de onde ficava o Roanne. Com a<br />
pandemia, o estrelado Olympe acabou<br />
fechando as portas. “Eu sempre digo<br />
que nos momentos difíceis a gente tem<br />
que tirar a melhor lição, ser criativo e<br />
humilde para aprender com os acontecimentos.<br />
Foi assim na pandemia. O<br />
Olympe estava sob o comando do meu<br />
filho Thomas. Ele optou por fechar e eu<br />
respeitei a decisão dele”, diz.<br />
Quando está fora da cozinha, Claude<br />
gosta de praticar esportes variados: de<br />
trilhas e parapente a mergulho e kitesurf.<br />
E ama viajar, principalmente com<br />
sua moto. “Meu sonho de vida é dar a<br />
volta ao mundo. Quero largar tudo e<br />
me mandar, sem data de volta”, diz. O<br />
chef também tem seu lado músico: estudou<br />
saxofone por dez anos. Embora<br />
tenha aprendido a técnica, não consegue<br />
tocar bem porque lhe falta, como<br />
ele mesmo diz, “ouvido”. Sem a audição<br />
aguçada, Claude diz que tem a “boca<br />
perfeita”, que lhe permite sentir o<br />
Que dica daria ao jovem Claude:<br />
equilíbrio entre os sabores com sensibilidade.<br />
É isso, segundo ele, que separa<br />
um bom cozinheiro daqueles extraordinários.<br />
Para Claude, sensibilidade<br />
e técnica são as duas características<br />
mais importantes para um chef. Ele<br />
acredita que, assim como qualquer outro<br />
profissional, um cozinheiro precisa<br />
estar se aprimorando constantemente,<br />
repetindo as receitas, melhorando a<br />
prática por décadas enquanto lida com<br />
muito calor, pressão, trabalho pesado e<br />
horas em pé.<br />
Após quatro décadas no Brasil, Claude<br />
identifica uma revolução no paladar<br />
dos brasileiros nos últimos anos. Mas<br />
faz um alerta acerca da formação dos<br />
futuros profissionais <strong>–</strong> a gastronomia<br />
estava entre os dez cursos de graduação<br />
tecnológica mais buscados na<br />
rede privada em 2019. Para ele, não<br />
basta ser criativo na cozinha, é preciso<br />
também “saber fazer um bom caldo<br />
de frango”. Ele critica tanto as escolas<br />
quanto os alunos que têm como objetivo<br />
formar ou ser chefs, perdendo de<br />
vista o ofício de cozinheiro. “Chef é um<br />
posto, uma função, como a de general.<br />
Chegar lá depende de muitos fatores”,<br />
afirma. Para ele, ser um chef é uma<br />
conquista que vem com muitos anos de<br />
cozinha, e inclui noções de administração,<br />
relacionamento pessoal, conhecimento<br />
para fazer boas compras, saber<br />
escolher produtos e fornecedores e,<br />
claro, comandar uma equipe. Tudo o<br />
que esse carioca nascido na França faz<br />
marrrravilhosamente bem.<br />
“Ser um chef é uma conquista que vem com<br />
muitos anos de cozinha. Se quer chegar lá, é<br />
preciso começar treinando muito na cozinha”<br />
<strong>VERÃO</strong> <strong>2022</strong> | <strong>EDIÇÃO</strong> 6 • PÁG. 43<br />
<strong>VERÃO</strong> <strong>2022</strong> | <strong>EDIÇÃO</strong> 6 • PÁG. 42