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2021_Luzes-ApóstoloPulchrum

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Passemos agora à análise de algumas obras de Claude<br />

Lorrain.<br />

O maravilhoso nos aspectos<br />

mais comuns da paisagem<br />

O quadro apresenta uma profundidade muito grande,<br />

com uma longa perspectiva na qual apenas se vislumbram<br />

umas montanhas no fundo do horizonte. A vegetação e<br />

quase todos os pormenores sugerem uma cena comum. Por<br />

exemplo, as árvores são iguais àquelas que se encontram<br />

em qualquer parque de uma cidade. Também as pedras do<br />

chão e até a encosta com a vegetação que desce são como as<br />

de qualquer montanha. Tudo quanto há de mais comum.<br />

No topo encontra-se uma residência construída, não sem<br />

certa falta de senso prático, diretamente em cima das rochas.<br />

Um espírito moderno colocaria objeções a essa localização.<br />

Primeira objeção: por onde se chega até lá? É preciso<br />

subir de corda? Haverá alguma passagem que não se vê? Caso<br />

exista, deve ter sido necessário cortar as árvores fazendo<br />

uma escalada na pedra para abrir essa trilha. Enfim, parece<br />

que a vida fica mais dura morando lá! Pois bem, se a casa estivesse<br />

no chão não teria nada de extraordinário.<br />

Em qual aspecto o autor soube dar a impressão de<br />

maravilhoso nesse quadro, pintando cenas tão comuns<br />

como aquelas que se encontram na natureza?<br />

O maravilhoso está no céu. Não significa que o firmamento<br />

nunca tome tal coloração, mas é esse colorido magnífico<br />

incomum que lhe confere uma beleza especial. É um<br />

azul que eu chamaria de anil, um pouco esbranquiçado.<br />

Percebam que o céu não está completamente limpo, pois<br />

as nuvens estão ali presentes, embora frágeis, quase como<br />

precisando da ação do Sol para condensá-las. Esse céu<br />

tem uma claridade especial, algum tanto mais bela do que<br />

a dos mais belos dias.<br />

Lorrain soube pintar a luz incidindo sobre todos os<br />

elementos da paisagem, conferindo ao panorama uma<br />

participação nas belezas e delícias possíveis que o observador<br />

imagina no próprio firmamento. De tal maneira<br />

que quem vive nesse ambiente sente-se mais banhado<br />

por algo descido do céu, o qual domina a terra com sua<br />

forma peculiar de luz. A este título o maravilhoso se faz<br />

sentir esplendidamente nessa paisagem.<br />

Discernindo novas belezas do mundo<br />

irreal imaginado por Lorrain<br />

A presença dessa luminosidade se percebe não tanto<br />

neste ou naquele lugar, mas sutilmente por toda parte.<br />

Tem-se a impressão de que o vale inteiro está penetrado<br />

da mesma luz que ilumina a fachada da mansão e as árvores,<br />

conferindo-lhe uma participação imponderável e<br />

magnífica com todo o espaço celeste.<br />

Embora o prédio apresente uma fachada simples e comum,<br />

a luz lhe confere tal nobreza que poderíamos dizer<br />

tratar-se da mansão de uma princesa onde se passou um<br />

fato histórico famoso.<br />

Por outro lado, há zonas não iluminadas pelo Sol onde<br />

o obscuro realça a claridade, cuja beleza se percebe<br />

melhor dessa forma. O mesmo fenômeno se dá com<br />

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