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Passemos agora à análise de algumas obras de Claude<br />
Lorrain.<br />
O maravilhoso nos aspectos<br />
mais comuns da paisagem<br />
O quadro apresenta uma profundidade muito grande,<br />
com uma longa perspectiva na qual apenas se vislumbram<br />
umas montanhas no fundo do horizonte. A vegetação e<br />
quase todos os pormenores sugerem uma cena comum. Por<br />
exemplo, as árvores são iguais àquelas que se encontram<br />
em qualquer parque de uma cidade. Também as pedras do<br />
chão e até a encosta com a vegetação que desce são como as<br />
de qualquer montanha. Tudo quanto há de mais comum.<br />
No topo encontra-se uma residência construída, não sem<br />
certa falta de senso prático, diretamente em cima das rochas.<br />
Um espírito moderno colocaria objeções a essa localização.<br />
Primeira objeção: por onde se chega até lá? É preciso<br />
subir de corda? Haverá alguma passagem que não se vê? Caso<br />
exista, deve ter sido necessário cortar as árvores fazendo<br />
uma escalada na pedra para abrir essa trilha. Enfim, parece<br />
que a vida fica mais dura morando lá! Pois bem, se a casa estivesse<br />
no chão não teria nada de extraordinário.<br />
Em qual aspecto o autor soube dar a impressão de<br />
maravilhoso nesse quadro, pintando cenas tão comuns<br />
como aquelas que se encontram na natureza?<br />
O maravilhoso está no céu. Não significa que o firmamento<br />
nunca tome tal coloração, mas é esse colorido magnífico<br />
incomum que lhe confere uma beleza especial. É um<br />
azul que eu chamaria de anil, um pouco esbranquiçado.<br />
Percebam que o céu não está completamente limpo, pois<br />
as nuvens estão ali presentes, embora frágeis, quase como<br />
precisando da ação do Sol para condensá-las. Esse céu<br />
tem uma claridade especial, algum tanto mais bela do que<br />
a dos mais belos dias.<br />
Lorrain soube pintar a luz incidindo sobre todos os<br />
elementos da paisagem, conferindo ao panorama uma<br />
participação nas belezas e delícias possíveis que o observador<br />
imagina no próprio firmamento. De tal maneira<br />
que quem vive nesse ambiente sente-se mais banhado<br />
por algo descido do céu, o qual domina a terra com sua<br />
forma peculiar de luz. A este título o maravilhoso se faz<br />
sentir esplendidamente nessa paisagem.<br />
Discernindo novas belezas do mundo<br />
irreal imaginado por Lorrain<br />
A presença dessa luminosidade se percebe não tanto<br />
neste ou naquele lugar, mas sutilmente por toda parte.<br />
Tem-se a impressão de que o vale inteiro está penetrado<br />
da mesma luz que ilumina a fachada da mansão e as árvores,<br />
conferindo-lhe uma participação imponderável e<br />
magnífica com todo o espaço celeste.<br />
Embora o prédio apresente uma fachada simples e comum,<br />
a luz lhe confere tal nobreza que poderíamos dizer<br />
tratar-se da mansão de uma princesa onde se passou um<br />
fato histórico famoso.<br />
Por outro lado, há zonas não iluminadas pelo Sol onde<br />
o obscuro realça a claridade, cuja beleza se percebe<br />
melhor dessa forma. O mesmo fenômeno se dá com<br />
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