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Apóstolo do pulchrum<br />
as árvores, e talvez até com mais talento. Nos pontos<br />
em que a vegetação é menos densa, a luz incide na fímbria<br />
das árvores e as pontas das folhas se tornam quase<br />
transparentes. Na parte onde a vegetação é mais compacta,<br />
o escuro realça a beleza da luz que banha o outro<br />
lado das folhas.<br />
Essa impressão produzida pela luz sobre as folhas e<br />
a fachada nota-se também nas pedras talhadas de forma<br />
irregular da encosta e do chão, quase por toda parte.<br />
Um detalhe interessante: o artista pinta a vegetação<br />
isenta da ação do vento ou de qualquer outro elemento<br />
estranho a sacudi-la ou impor-lhe uma posição que não<br />
esteja inteiramente de acordo com a sua natureza. Tem-<br />
-se assim a impressão de se estar num lugar onde a alegria<br />
consiste no repouso completo.<br />
Notem como as árvores parecem não fazer força para<br />
sustentar os próprios galhos. Estes são leves, as folhas<br />
são tão macias que nos convidam a brincar passando as<br />
mãos pelo meio delas, certos de encontrar apenas matérias<br />
suaves e agradáveis aos sentidos.<br />
Poder-se-ia perguntar qual é a razão de ser desse arco.<br />
A meu ver, tem um significado especial. Imaginem<br />
que não existisse essa mansão, mas só o arco. Não daria<br />
vontade de contemplar de cima dele tão lindo panorama?<br />
O fato de se tratar de um arco, deixando entrever<br />
por todos os lados o quanto a paisagem é bela, convida a<br />
galgá-lo e a permanecer sobre ele.<br />
Donde a mansão, que poderia chamar-se belvedere,<br />
é o lugar ideal onde uma pessoa passaria as tardes banhando-se<br />
no sol e contemplando a paisagem de dentro<br />
de um quarto decorado com os luxos opulentos do tempo<br />
de Claude Lorrain: magníficos espelhos de Veneza, tapetes<br />
do Oriente, cortinas de Lyon... É um belvedere de um<br />
mundo meio irreal. Assim, essa pintura nos convida para<br />
o maravilhoso.<br />
Tal monumento evoca convulsões, tragédias e guerras,<br />
após as quais desfilaram por ali legiões gloriosas,<br />
presididas por personagens míticos, assinalando vitórias<br />
magníficas e aclamadas por multidões que desapareceram.<br />
Com efeito, a voragem do tempo sepultou<br />
tudo isso, e não passa da recordação de um passado<br />
que, entretanto, esse arco lembra de um modo muito<br />
elegante.<br />
Paisagem que vive da contemplação<br />
do seu passado glorioso<br />
Vemos em outro cenário o que falta no anterior: um rio.<br />
Todo panorama com água possui muito mais abertura para<br />
o maravilhoso do que aquele onde ela não está presente.<br />
Como no anterior, também nesse quadro se nota o<br />
mesmo jogo entre a luz e as trevas. O Arco do Triunfo<br />
aparece na sombra, e sua antiguidade é dada a entender<br />
não só pelo estilo romano ou helenístico, mas pela vegetação<br />
que cresceu no alto do monumento, algo muito comum<br />
em construções velhas e abandonadas. Percebe-se<br />
que as intempéries e os séculos o corroeram e continuarão<br />
a fazê-lo, mas tão devagar que se tem a seguinte a<br />
impressão: enquanto o mundo existir esse arco vai estar<br />
de pé, pois ele desafia o tempo.<br />
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