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2021_Luzes-ApóstoloPulchrum

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Apóstolo do pulchrum<br />

as árvores, e talvez até com mais talento. Nos pontos<br />

em que a vegetação é menos densa, a luz incide na fímbria<br />

das árvores e as pontas das folhas se tornam quase<br />

transparentes. Na parte onde a vegetação é mais compacta,<br />

o escuro realça a beleza da luz que banha o outro<br />

lado das folhas.<br />

Essa impressão produzida pela luz sobre as folhas e<br />

a fachada nota-se também nas pedras talhadas de forma<br />

irregular da encosta e do chão, quase por toda parte.<br />

Um detalhe interessante: o artista pinta a vegetação<br />

isenta da ação do vento ou de qualquer outro elemento<br />

estranho a sacudi-la ou impor-lhe uma posição que não<br />

esteja inteiramente de acordo com a sua natureza. Tem-<br />

-se assim a impressão de se estar num lugar onde a alegria<br />

consiste no repouso completo.<br />

Notem como as árvores parecem não fazer força para<br />

sustentar os próprios galhos. Estes são leves, as folhas<br />

são tão macias que nos convidam a brincar passando as<br />

mãos pelo meio delas, certos de encontrar apenas matérias<br />

suaves e agradáveis aos sentidos.<br />

Poder-se-ia perguntar qual é a razão de ser desse arco.<br />

A meu ver, tem um significado especial. Imaginem<br />

que não existisse essa mansão, mas só o arco. Não daria<br />

vontade de contemplar de cima dele tão lindo panorama?<br />

O fato de se tratar de um arco, deixando entrever<br />

por todos os lados o quanto a paisagem é bela, convida a<br />

galgá-lo e a permanecer sobre ele.<br />

Donde a mansão, que poderia chamar-se belvedere,<br />

é o lugar ideal onde uma pessoa passaria as tardes banhando-se<br />

no sol e contemplando a paisagem de dentro<br />

de um quarto decorado com os luxos opulentos do tempo<br />

de Claude Lorrain: magníficos espelhos de Veneza, tapetes<br />

do Oriente, cortinas de Lyon... É um belvedere de um<br />

mundo meio irreal. Assim, essa pintura nos convida para<br />

o maravilhoso.<br />

Tal monumento evoca convulsões, tragédias e guerras,<br />

após as quais desfilaram por ali legiões gloriosas,<br />

presididas por personagens míticos, assinalando vitórias<br />

magníficas e aclamadas por multidões que desapareceram.<br />

Com efeito, a voragem do tempo sepultou<br />

tudo isso, e não passa da recordação de um passado<br />

que, entretanto, esse arco lembra de um modo muito<br />

elegante.<br />

Paisagem que vive da contemplação<br />

do seu passado glorioso<br />

Vemos em outro cenário o que falta no anterior: um rio.<br />

Todo panorama com água possui muito mais abertura para<br />

o maravilhoso do que aquele onde ela não está presente.<br />

Como no anterior, também nesse quadro se nota o<br />

mesmo jogo entre a luz e as trevas. O Arco do Triunfo<br />

aparece na sombra, e sua antiguidade é dada a entender<br />

não só pelo estilo romano ou helenístico, mas pela vegetação<br />

que cresceu no alto do monumento, algo muito comum<br />

em construções velhas e abandonadas. Percebe-se<br />

que as intempéries e os séculos o corroeram e continuarão<br />

a fazê-lo, mas tão devagar que se tem a seguinte a<br />

impressão: enquanto o mundo existir esse arco vai estar<br />

de pé, pois ele desafia o tempo.<br />

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