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55ª Edição_Revista ATRAÇÃO

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Por Dra. Telma Mª S Machado

A Providência divina na

concepção dos gregos, de

Jesus e da Doutrina Espírita

Aracaju SE BR

Diretora de Comunicação da Associação Brasileira dos Magistrados Espíritas (ABRAME), Graduada em Ciências Biológicas e

em Direito, Pós-Graduada em Direito Processual Público, Juiza Federal da Seção Judiciária de Sergipe, Mestre em Filosofia,

Gramaticalmente, a palavra “providência” é um substantivo

feminino. Uma das suas definições é “disposição prévia dos meios

necessários para obter um fim, para evitar um mal ou para remediar

uma necessidade”. E “providência divina” é conceituada como “sabedoria

suprema Professor

de Deus com a qual ele governa as coisas e as pessoas” 1

Do ponto de vista filosófico, a palavra providência, por si só, já é

definida como ação de Deus sobre tudo e todos, conforme se pode

conferir nas Gonçalo

palavras abaixo transcritas de um dicionário de Filosofia:

providência: “Governo divino do mundo, geralmente distinguido

Ferreira

de destino, pois é considerado

Melo

como existente em Deus, ao passo que

o destino é esse governo visto através das coisas do mundo. A noção

de providência faz parte integrante do conceito de Deus como criador

da ordem do mundo ou como sendo Ele mesmo esta ordem”. 2

No entanto, nem sempre, ao longo da história, a Providência Divina

era entendida como voltada a cada ser humano individualmente.

No volume II da substanciosa obra História da Filosofia, os autores

Giovanni Reale e Dario Antiseri comentam o conceito de providência

Divina na Bíblia. Segundo suas palavras,

Sócrates e Platão já haviam falado do Deus-Providência: o

primeiro no plano intuitivo, o segundo com referência ao demiurgo

que constrói e governa o mundo. Mas Aristóteles ignorou esse conceito,

como o ignorou também a maior parte dos filósofos gregos,

exceto os estoicos. 3

Ponderam que a Providência dos gregos nunca diz respeito ao

homem individual, e a Providência bíblica não apenas é própria de

um Deus que é pessoal em alto grau, mas também, além de se dirigir

para o criado em geral, dirige-se ainda e particularmente para os homens

individuais, especialmente para os mais humildes e necessitados

e para os próprios pecadores, bastando recordar as parábolas do "filho

pródigo" e da "ovelha perdida". 4

No Antigo Testamento, temos diversas passagens em que se vê a

concepção antropomórfica de Deus, atribuindo-Lhe sentimentos tipicamente

humanos.

Com Jesus, há uma mudança dessa concepção. Não mais o Deus

somente de Israel, de Abraão, de Isaac, de Jacó etc. é O Pai da humanidade,

que ama igualmente todos os seus filhos, tanto que “faz nascer

o seu sol sobre maus e bons e faz cair chuva sobre justos e injustos”

(Mt 5,45). Como Médium de Deus, Jesus não somente nos transmite

as diretrizes divinas, essenciais para a nossa evolução, como também

é a mais sublime manifestação da Providência Divina para com a humanidade.

A Doutrina Espírita, sendo a Doutrina do Cristo, segundo enfatiza

o Espírito Emmanuel no capítulo 80 do livro Religião dos Espíritos, explicita

a percepção de Jesus, segundo a qual Deus é Amor, sendo que

os Seus atributos constam na questão 13 de O Livro dos Espíritos, onde

se lê que Ele é eterno, infinito, imutável, imaterial, único, onipotente,

soberanamente justo e bom.

Em O problema do ser, do destino e da dor, Léon Denis ressalta

que a “vida é uma vibração imensa que enche o universo e cujo foco

está em Deus. Cada alma, centelha destacada do Foco Divino, tornase,

por sua vez, um foco de vibrações que hão de variar, aumentar de

amplitude e intensidade, consoante o grau de elevação do ser”. 5 Ainda

pondera que é “pelo acordo, pela união da razão humana com a razão

divina que se edificam as obras preparatórias do reino de Deus, isto é,

do reino da sabedoria, da justiça, da bondade, de que todo ser racional

e consciente tem em si a intuição” . 6

No livro O sentido da vida, José Herculano Pires afirma que o Espiritismo

“é o fermento da parábola evangélica, destinado a levedar toda

a massa dos conhecimentos e das experiências do homem na Terra,

para o estabelecimento do Reino de Deus entre todos os povos” 7 . E

as Obras Básicas, assim como as clássicas e subsidiárias, lançam luzes

sobre como se opera a Providência Divina.

Afirmou o filósofo Francis Bacon (1561-1626) que “o conhecimento

é em si mesmo um poder”. Refletindo sobre tal assertiva, é correto

dizer que adquirimos pelo conhecimento espírita inclusive o “poder” de

entender que a Providência Divina é o próprio Poder de Deus de não

somente criar, como também de reger toda a Sua criação.

A frase de Jesus “Meu Deus e vosso Deus, Meu Pai e vosso Pai” é

uma senha poderosa para que possamos acessar a nossa condição de

não somente Suas criaturas, mas de Seus filhos.

1 (in: Dicionário Online de Português).

2 ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia.

3 REALE. Giovanni, ANTISERI, Dario. História da Filosofia. Volume 2. Tradução Ivo Storniolo.

São Paulo: Paulus, 2003, p. 14

4 REALE. Giovanni, ANTISERI, Dario. História da Filosofia. Volume 2. Tradução Ivo Storniolo.

São Paulo: Paulus, 2003, p. 15.

5 DENIS, Léon. O Problema do Ser, do Destino e da Dor. FEB: Versão Digital, 2013, p 83.

6 Ibidem, p. 91.

7 PIRES, José Herculano. O Sentido da Vida. São Paulo: Editora Paideia. Versão PDF, p.

67. Disponível em: http://www.autoresespiritasclassicos.com.

34 Atração_ julho de 2022

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