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Por Dra. Telma Mª S Machado
A Providência divina na
concepção dos gregos, de
Jesus e da Doutrina Espírita
Aracaju SE BR
Diretora de Comunicação da Associação Brasileira dos Magistrados Espíritas (ABRAME), Graduada em Ciências Biológicas e
em Direito, Pós-Graduada em Direito Processual Público, Juiza Federal da Seção Judiciária de Sergipe, Mestre em Filosofia,
Gramaticalmente, a palavra “providência” é um substantivo
feminino. Uma das suas definições é “disposição prévia dos meios
necessários para obter um fim, para evitar um mal ou para remediar
uma necessidade”. E “providência divina” é conceituada como “sabedoria
suprema Professor
de Deus com a qual ele governa as coisas e as pessoas” 1
Do ponto de vista filosófico, a palavra providência, por si só, já é
definida como ação de Deus sobre tudo e todos, conforme se pode
conferir nas Gonçalo
palavras abaixo transcritas de um dicionário de Filosofia:
providência: “Governo divino do mundo, geralmente distinguido
Ferreira
de destino, pois é considerado
Melo
como existente em Deus, ao passo que
o destino é esse governo visto através das coisas do mundo. A noção
de providência faz parte integrante do conceito de Deus como criador
da ordem do mundo ou como sendo Ele mesmo esta ordem”. 2
No entanto, nem sempre, ao longo da história, a Providência Divina
era entendida como voltada a cada ser humano individualmente.
No volume II da substanciosa obra História da Filosofia, os autores
Giovanni Reale e Dario Antiseri comentam o conceito de providência
Divina na Bíblia. Segundo suas palavras,
Sócrates e Platão já haviam falado do Deus-Providência: o
primeiro no plano intuitivo, o segundo com referência ao demiurgo
que constrói e governa o mundo. Mas Aristóteles ignorou esse conceito,
como o ignorou também a maior parte dos filósofos gregos,
exceto os estoicos. 3
Ponderam que a Providência dos gregos nunca diz respeito ao
homem individual, e a Providência bíblica não apenas é própria de
um Deus que é pessoal em alto grau, mas também, além de se dirigir
para o criado em geral, dirige-se ainda e particularmente para os homens
individuais, especialmente para os mais humildes e necessitados
e para os próprios pecadores, bastando recordar as parábolas do "filho
pródigo" e da "ovelha perdida". 4
No Antigo Testamento, temos diversas passagens em que se vê a
concepção antropomórfica de Deus, atribuindo-Lhe sentimentos tipicamente
humanos.
Com Jesus, há uma mudança dessa concepção. Não mais o Deus
somente de Israel, de Abraão, de Isaac, de Jacó etc. é O Pai da humanidade,
que ama igualmente todos os seus filhos, tanto que “faz nascer
o seu sol sobre maus e bons e faz cair chuva sobre justos e injustos”
(Mt 5,45). Como Médium de Deus, Jesus não somente nos transmite
as diretrizes divinas, essenciais para a nossa evolução, como também
é a mais sublime manifestação da Providência Divina para com a humanidade.
A Doutrina Espírita, sendo a Doutrina do Cristo, segundo enfatiza
o Espírito Emmanuel no capítulo 80 do livro Religião dos Espíritos, explicita
a percepção de Jesus, segundo a qual Deus é Amor, sendo que
os Seus atributos constam na questão 13 de O Livro dos Espíritos, onde
se lê que Ele é eterno, infinito, imutável, imaterial, único, onipotente,
soberanamente justo e bom.
Em O problema do ser, do destino e da dor, Léon Denis ressalta
que a “vida é uma vibração imensa que enche o universo e cujo foco
está em Deus. Cada alma, centelha destacada do Foco Divino, tornase,
por sua vez, um foco de vibrações que hão de variar, aumentar de
amplitude e intensidade, consoante o grau de elevação do ser”. 5 Ainda
pondera que é “pelo acordo, pela união da razão humana com a razão
divina que se edificam as obras preparatórias do reino de Deus, isto é,
do reino da sabedoria, da justiça, da bondade, de que todo ser racional
e consciente tem em si a intuição” . 6
No livro O sentido da vida, José Herculano Pires afirma que o Espiritismo
“é o fermento da parábola evangélica, destinado a levedar toda
a massa dos conhecimentos e das experiências do homem na Terra,
para o estabelecimento do Reino de Deus entre todos os povos” 7 . E
as Obras Básicas, assim como as clássicas e subsidiárias, lançam luzes
sobre como se opera a Providência Divina.
Afirmou o filósofo Francis Bacon (1561-1626) que “o conhecimento
é em si mesmo um poder”. Refletindo sobre tal assertiva, é correto
dizer que adquirimos pelo conhecimento espírita inclusive o “poder” de
entender que a Providência Divina é o próprio Poder de Deus de não
somente criar, como também de reger toda a Sua criação.
A frase de Jesus “Meu Deus e vosso Deus, Meu Pai e vosso Pai” é
uma senha poderosa para que possamos acessar a nossa condição de
não somente Suas criaturas, mas de Seus filhos.
1 (in: Dicionário Online de Português).
2 ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia.
3 REALE. Giovanni, ANTISERI, Dario. História da Filosofia. Volume 2. Tradução Ivo Storniolo.
São Paulo: Paulus, 2003, p. 14
4 REALE. Giovanni, ANTISERI, Dario. História da Filosofia. Volume 2. Tradução Ivo Storniolo.
São Paulo: Paulus, 2003, p. 15.
5 DENIS, Léon. O Problema do Ser, do Destino e da Dor. FEB: Versão Digital, 2013, p 83.
6 Ibidem, p. 91.
7 PIRES, José Herculano. O Sentido da Vida. São Paulo: Editora Paideia. Versão PDF, p.
67. Disponível em: http://www.autoresespiritasclassicos.com.
34 Atração_ julho de 2022