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Por Domingos Pascoal
Esperamos demais
Aracaju SE BR
Formado em Filosofia e Ciências Jurídicas e pós-graduado em Gestão de Pessoas, Advogado, Jornalista e ocupante
da cadeira nº 17 da Academia Sergipana de Letras. Membro da Associação Cearense de Escritores - ACE
O que você está esperando? Já percebeu que nós
esperamos demais para fazer o que tem de ser feito
hoje, com urgência? Já percebeu que nesta espera o
que somamos é também uma subtração? Por exemplo:
quando você espera mais um mês para realizar
uma coisa, é exatamente menos um mês que você
terá para realizá-la. Ou seja, esperamos sempre pelo
dia de amanhã, pelo mês que vem, pelo ano que
vem. Afirmamos categóricos: “Amanhã eu faço; no
mês que vem, eu cumpro; no próximo ano, eu realizo...”.
Somamos sempre um dia, um mês ou um ano
para a realização de nosso projeto e diminuímos
exatamente o mesmo período em sua execução. Pois
aquele tempo vivido, agora, significa exatamente
menos tempo para viver no futuro. É aí que percebemos
o quanto ele voa, a vida passa e estamos
esperando. Às vezes, acordamos deste sono letárgico
e, desesperadamente, lamentamos o que se foi, o
momento que passou, a oportunidade perdida.
O pior é que o tempo é guloso e leva, invariavelmente,
os nossos melhores momentos, as nossas
melhores oportunidades e as nossas mais ricas energias.
Ficam apenas as lembranças e as lamentações.
“Poxa! Bem que devia ter feito isto ou aquilo; como
fui perder aquela oportunidade? Naquela época, eu
tinha toda a condição para realizar, agora não tenho
mais. Que pena!” Oportunidade passada mais ocasião
perdida é igual a lamentação futura.
De repente, sentimos urgência de viver, de fazer,
de realizar mais. A verdade é que procrastinamos
demais o que deve ser feito, quando dispomos de
apenas um dia de cada vez, sem nenhuma garantia
de um amanhã.
Reclamamos que a vida é curta e, mesmo assim,
agimos como se fôssemos eternos. Não. Não somos.
Somos finitos e temos uma existência muito curta
para esperar sempre um amanhã que sequer sabemos
se vai chegar.
Esperamos demais como se tivéssemos à nossa
disposição um estoque inesgotável de tempo e oportunidades.
Demoramos para pedir desculpas e perdoar,
para relevar os rancores e refazer as amizades,
para nos doar mais, para expressar gratidão àqueles
que nos deram, às vezes, tudo o que tinham, e que
representa agora tudo o que temos.
Esperamos demais para agradecer, elogiar, consolar
e validar as pessoas, para ser generosos, deixando
que a demora diminua a alegria de doar e receber,
para sermos verdadeiramente pais de nossos
filhos, curtir o desenvolvimento e o crescimento deles,
e, aí, logo a vida os faz crescer e nos abandonar.
Esperamos demais para ser carinhosos com os nossos
cônjuges, com os nossos irmãos, amigos e colaboradores,
para dar carinho, amor e sermos gratos
aos nossos pais. Quem sabe, daqui a pouco tempo
será tarde demais.
Esperamos demais para ir atrás da nossa felicidade,
para perseguir nossos sonhos e realizar nossa
missão, para dizer o quanto uma pessoa é importante
na nossa vida, ou seja, esperamos demais para
deixar sair, do fundo do coração, aquela expressão
sincera: “eu te amo”, que tanto bem faz não só a
quem diz como a quem ouve.
Esperamos demais, ou temos ciúme, medo ou
vergonha de verbalizar o que, às vezes, o coração
pede para ser mais e parecer menos, para ser bons
filhos, bons namorados, bons cônjuges, bons pais,
bons cidadãos...
Atenção! O tempo não espera. Deus é quem está
esperando. Esperando que deixemos de esperar, esperando
que façamos o nosso melhor, que sejamos
o nosso melhor...
48 Atração_ julho de 2022