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Gambiólogos 2.0

Livro-catálogo da exposição "Gambiólogos 2.0: a gambiarra nos tempos do digital". Realizada na Galeria Oi Futuro - Belo Horizonte/MG, entre junho e agosto de 2014. Curadoria: Fred Paulino. Textos: Giselle Beiguelman, Juliana Gontijo, Raquel Rennó. Realização: Gambiologia

Livro-catálogo da exposição "Gambiólogos 2.0: a gambiarra nos tempos do digital". Realizada na Galeria Oi Futuro - Belo Horizonte/MG, entre junho e agosto de 2014. Curadoria: Fred Paulino. Textos: Giselle Beiguelman, Juliana Gontijo, Raquel Rennó. Realização: Gambiologia

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dos projetos, fizeram com que “Gambiólogos”

demonstrasse uma coesão surpreendente para

um processo quase catártico.

Em tons de precariedade, improvisação, ruídos

low e high tech, reúso de materiais, circuitos

expostos, adesivos, imperfeições funcionais

e diferentes idiomas, manifestava-se naquele

encontro, de maneira tanto quanto espontânea,

uma sugestão de unidade e prosseguimento.

Sobre isso, o pesquisador e articulador Felipe

Fonseca observou, com pertinência, no catálogo

da mostra: “um hipotético exercício colaborativo

de reconstrução – em que se desmontassem todas

as obras e convocassem os artistas para criar

outras com os mesmos materiais – seguramente

resultaria em outros trabalhos interessantes e

questionadores” 1 . Emergia dali uma cena irreverente

e peculiar.

Por fim, “Gambiólogos” antecipava como a agora

multicomentada (e gourmetizada) cultura maker

poderia ser incorporada pelo campo artístico,

no contexto de uma nação que não abrigava,

e ainda não abriga, produção de tecnologia

de ponta – o que implica, desde sempre, a

necessidade de “se virar”, seja com a importação

de equipamentos por meios alternativos,

fugindo das altas taxas de importação, ou

simplesmente adaptando-se, utilizando o que se

tem disponível. Talvez, a partir disso, chamava

também a atenção na mostra um escopo de

possíveis peculiaridades da cena brasileira de

arte eletrônica – ou de grande parte dela – com

relação à produção internacional.

Com o advento da “Facta - revista de gambiologia”,

em 2011 (atualmente na quarta edição), as

discussões e provocações sobre a “gambiarra

tecnológica” ganharam, simultaneamente, sofisticação

e sutileza. A publicação permitiu um

impulso no framework de atuação do projeto.

Ao mesmo tempo em que a gambiarra deixava de

ser o foco central – sendo a revista uma proposta

de almanaque sobre tópicos contemporâneos

diversos, sob um viés crítico e criativo –, o conteúdo

tornava-se mais profuso, sendo a gambiologia

somente o ponto de partida para um emaranhado

temático, a partir da relação dela com outras

áreas do conhecimento. A “Facta” possibilitou

um amadurecimento conceitual e a reunião de

ainda mais gambiólogos, que, de uma forma ou

de outra, reconheceram-se espontaneamente

como parte de uma proposta que já não era mais,

necessariamente, limitada a um grupo ou relacionada

exclusivamente às artes plásticas e

ao design. Pelas páginas da revista, transitam

jornalistas, arquitetos, urbanistas, ilustradores,

músicos, fotógrafos, cientistas, fashionistas, psicólogos,

desocupados criativos...

O desejo de realizar uma segunda edição da

“Gambiólogos” foi a consequência inevitável

desse processo de maturação e da amplificação

da rede de interlocutores do projeto Gambiologia.

Dessa forma, a escolha das quase 40 obras aqui

apresentadas por 28 artistas e coletivos aprimora

a proposta curatorial da primeira edição e guiase

por três eixos, que apresento a seguir.

Primeiro. A adoção, por diversos realizadores

envolvidos com arte eletrônica, de uma estética

despojada – uma celebração da precariedade

–, com a incorporação intencional de baixa

tecnologia nos trabalhos e a mínima preocupação

em ocultar as estruturas de funcionamento.

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