21.03.2023 Views

Gambiólogos 2.0

Livro-catálogo da exposição "Gambiólogos 2.0: a gambiarra nos tempos do digital". Realizada na Galeria Oi Futuro - Belo Horizonte/MG, entre junho e agosto de 2014. Curadoria: Fred Paulino. Textos: Giselle Beiguelman, Juliana Gontijo, Raquel Rennó. Realização: Gambiologia

Livro-catálogo da exposição "Gambiólogos 2.0: a gambiarra nos tempos do digital". Realizada na Galeria Oi Futuro - Belo Horizonte/MG, entre junho e agosto de 2014. Curadoria: Fred Paulino. Textos: Giselle Beiguelman, Juliana Gontijo, Raquel Rennó. Realização: Gambiologia

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.





GAMBIOLOGISTS 2.0: MAKESHIFTS IN A DIGITAL ERA

CURADORIA: FRED PAULINO

GALERIA OI FUTURO BH

10 DE JUNHO A 17 DE AGOSTO 2014



Até 2015, o Oi Futuro Belo Horizonte assumiu importante papel

na difusão de criações que cruzam arte, ciência e tecnologia

na produção contemporânea de Minas, do Brasil, do mundo.

A curadoria do espaço cultural valorizou, ano após ano, a convergência

de meios e suportes, divulgando artistas que investem na

experimentação. Sempre em busca de novas linguagens, do que

ainda não tem nome.

Assim, nada mais em linha com a vocação do centro cultural que

"Gambiólogos 2.0 – a gambiarra nos tempos do digital", coletiva de

artistas brasileiros e internacionais que investigam a interseção

entre o artesanal e o eletrônico, fazendo conviver em suas obras

a baixa e a alta tecnologia. A mostra, que ocupou o Oi Futuro no

período de 10 de junho a 22 de agosto de 2014, reuniu importante

conjunto resultante da diversidade de criadores de várias origens

e de trajetórias distintas, impressionando pela criatividade na

transformação de materiais rudimentares em inusitados mecanismos

tecnológicos.

Entre nomes da arte deste nosso tempo, estavam dois grandes brasileiros

já falecidos que, segundo o curador da exposição, Fred Paulino,

foram fontes de inspiração para a ciência da gambiarra: Bispo do

Rosário e Farnese de Andrade. Dois mestres em metamorfosear o

cotidiano, de modo sempre impactante.

Pela ousadia, pela força empática e pela alta carga lúdica das obras

expostas, Gambiólogos 2.0 agradou em muito aos diversos públicos

que nos visitaram. Registros, em imagens e textos, dessa “aventura”

bem-sucedida estão aqui neste livro, que integra a Coleção Oi Futuro

Arte & Tecnologia.

Aproveite!

Roberto Guimarães

Gestor de Cultura - Oi Futuro



sumÁriocontents

APRESENTAÇÃO PRESENTATION FRED PAULINO

PERFORMANCE DE ABERTURA OPENING CONCERT JORGE CROWE

8

14

FARNESE DE ANDRADE

ARTHUR BISPO DO ROSÁRIO

CAO GUIMARÃES

SARA RAMO

MAURO ALVIM

LÚCIO BITTENCOURT

20

24

28

32

40

36

PASSADO E FUTURO DAS IMAGENS QUEBRADAS

PAST AND FUTURE OF BROKEN IMAGES

GISELLE BEIGUELMAN

44

DIRCEU MAUÉS

CHELPA FERRO

O GRIVO

JOSEPH MORRIS

MAREPE

GUTO LACAZ

ZAVEN PARÉ

49

52

54

58

62

66

68

DO USO DAS COISAS DO MUNDO ON THE USE OF WORLDLY THINGS

JULIANA GONTIJO

76

LUCAS BAMBOZZI

LEANDRO ARAGÃO

MARIANA MANHÃES

ARUAN MATTOS E FLÁVIA REGALDO

PAULO NENFLÍDIO

UJINO

MARK PORTER

FERNANDO RABELO

PAULO WAISBERG

ANTHONY GOH E NEIL MENDOZA

CARLOS TEIXEIRA ( EXPOGRAFIA )

CIENTISTAS DA GAMBIARRA, POETAS DO IMPERFEITO

MAKESHIFT SCIENTISTS, POETS OF IMPERFECTION

RAQUEL RENNÓ

131

84

88

92

96

102

106

110

114

118

124

128

COLETIVO GAMBIOLOGIA

138

BIOGRAFIAS BIOGRAPHIES

ENGLISH VERSION

161

154

FICHA TÉCNICA CREDITS

189



Gambiologia surge em 2008 como uma ideia que se materializa

numa plataforma mutante: inicialmente uma campanha, consolidou-se

como um coletivo e hoje evolui para uma plataforma

aberta de investigação criativa e conceitual, proponente de iniciativas

como a “Gambiólogos 2.0”.

O neologismo “gambiologia” refere-se a uma contaminação entre

a arte e a cultura brasileira de improvisação, na relação dessas

com uma precariedade que se origina da escassez de recursos,

permeada por uma abordagem crítica sobre as tecnologias. Esses

pilares são considerados de forma ampla: falamos de uma arte

não necessariamente vinculada ao circuito comercial de galerias

e bienais, muitas vezes, fortemente relacionada ao artesanato e

ao design; do gesto de improvisar para além do imediatismo da

gambiarra, sendo entendido como uma habilidade que emerge

da própria atuação do homem sobre o mundo, para solucionar

necessidades básicas urgentes ou mesmo para garantir a própria

sobrevivência; e da tecnologia como um conhecimento

fluido, intuitivo e muito mais vinculado às estratégias criativas

humanas sobre o universo material que à massacrante indústria

tecnológica, no eterno imperativo pela “inovação”. Gambiologia é

a adoção da gambiarra como opção estética e modus operandi de

criação e, por que não?, uma forma de pensar a existência.

A partir de 2009, reconheci no trabalho de vários artistas,

originários de áreas e nacionalidades diversas, afinidades com

esse recorte, o que levou à realização da primeira edição da

mostra “Gambiólogos”, no ano seguinte. A proposta curatorial

da exposição era direta: “a gambiarra nos tempos do digital”.

Foram selecionadas obras que incorporavam intencionalmente a

gambiarra como recurso estético e (in)formal, em diálogo com as

tecnologias de diversos níveis – analógicas, eletrônicas e/ou digitais.

A exposição resultou numa colagem temática e visual instigante.

A cenografia rústica, instaurada no mezanino de uma antiga

fábrica de tecidos, e a essência dos trabalhos apresentados –

em que a relevância da técnica, um fator quase sempre central

quando se trata de arte eletrônica, mostrou-se menos relevante

que uma espécie de “ímpeto coletivo de solução” –, somadas a

um processo de montagem vibrante, repleto de contaminações

mútuas entre os participantes e de constantes adaptações

11


dos projetos, fizeram com que “Gambiólogos”

demonstrasse uma coesão surpreendente para

um processo quase catártico.

Em tons de precariedade, improvisação, ruídos

low e high tech, reúso de materiais, circuitos

expostos, adesivos, imperfeições funcionais

e diferentes idiomas, manifestava-se naquele

encontro, de maneira tanto quanto espontânea,

uma sugestão de unidade e prosseguimento.

Sobre isso, o pesquisador e articulador Felipe

Fonseca observou, com pertinência, no catálogo

da mostra: “um hipotético exercício colaborativo

de reconstrução – em que se desmontassem todas

as obras e convocassem os artistas para criar

outras com os mesmos materiais – seguramente

resultaria em outros trabalhos interessantes e

questionadores” 1 . Emergia dali uma cena irreverente

e peculiar.

Por fim, “Gambiólogos” antecipava como a agora

multicomentada (e gourmetizada) cultura maker

poderia ser incorporada pelo campo artístico,

no contexto de uma nação que não abrigava,

e ainda não abriga, produção de tecnologia

de ponta – o que implica, desde sempre, a

necessidade de “se virar”, seja com a importação

de equipamentos por meios alternativos,

fugindo das altas taxas de importação, ou

simplesmente adaptando-se, utilizando o que se

tem disponível. Talvez, a partir disso, chamava

também a atenção na mostra um escopo de

possíveis peculiaridades da cena brasileira de

arte eletrônica – ou de grande parte dela – com

relação à produção internacional.

Com o advento da “Facta - revista de gambiologia”,

em 2011 (atualmente na quarta edição), as

discussões e provocações sobre a “gambiarra

tecnológica” ganharam, simultaneamente, sofisticação

e sutileza. A publicação permitiu um

impulso no framework de atuação do projeto.

Ao mesmo tempo em que a gambiarra deixava de

ser o foco central – sendo a revista uma proposta

de almanaque sobre tópicos contemporâneos

diversos, sob um viés crítico e criativo –, o conteúdo

tornava-se mais profuso, sendo a gambiologia

somente o ponto de partida para um emaranhado

temático, a partir da relação dela com outras

áreas do conhecimento. A “Facta” possibilitou

um amadurecimento conceitual e a reunião de

ainda mais gambiólogos, que, de uma forma ou

de outra, reconheceram-se espontaneamente

como parte de uma proposta que já não era mais,

necessariamente, limitada a um grupo ou relacionada

exclusivamente às artes plásticas e

ao design. Pelas páginas da revista, transitam

jornalistas, arquitetos, urbanistas, ilustradores,

músicos, fotógrafos, cientistas, fashionistas, psicólogos,

desocupados criativos...

O desejo de realizar uma segunda edição da

“Gambiólogos” foi a consequência inevitável

desse processo de maturação e da amplificação

da rede de interlocutores do projeto Gambiologia.

Dessa forma, a escolha das quase 40 obras aqui

apresentadas por 28 artistas e coletivos aprimora

a proposta curatorial da primeira edição e guiase

por três eixos, que apresento a seguir.

Primeiro. A adoção, por diversos realizadores

envolvidos com arte eletrônica, de uma estética

despojada – uma celebração da precariedade

–, com a incorporação intencional de baixa

tecnologia nos trabalhos e a mínima preocupação

em ocultar as estruturas de funcionamento.

12


Essa opção estética poderia ser somente uma

questão formal, mas suponho ser também resultado

de outras variáveis, que talvez não sejam

determinantes, mas certamente influenciam o

conjunto das obras: a primeira, já mencionada,

seria a dificuldade no acesso a recursos tecnológicos

mais sofisticados (limitação de budget),

especialmente por artistas originários de países

do eixo sul. O segundo motivo seria, talvez,

mesmo que de maneira inconsciente, a busca

por um tipo de sensorialidade que parece faltar

na arte eletrônica, frequentemente voltada

somente a demonstrações técnicas e níveis de

interatividade, mas pecando em ser hermética

para “não iniciados”. Por essa aproximação sensorial,

passa a adoção de processos artesanais,

mais facilmente reconhecíveis por “leigos”

(afinal, o famoso “ah, isso, até eu mesmo faço!”

não deve ser inexoravelmente negativo).

Na exposição, o despojamento com relação à

tecnologia é latente em muitas obras, como nos

eletrodomésticos e no controlador analógico da

grande instalação de Ujino – curiosamente, um

artista natural do Japão, país referência em inovação

tecnológica –, na ampulheta construída

com tubos de TV periculosamente expostos por

Leandro Aragão, nas engenhocas mínimas de

Joseph Morris, na inutilidade assumida das

máquinas de Aruan e Flávia, no quadro análogoeletrônico

de Fernando Rabelo, cuja composição

é tão aberta e transparente que não há background

possível, e, mesmo, na pilha de câmeras

de papelão de Dirceu Maués, que remontam aos

princípios mais remotos da imagem fotográfica.

O extremo desse conjunto apresenta-se logo na

entrada da galeria: um “Computador”, de Farnese

de Andrade, assemblado muitos anos antes de

qualquer esboço de ciência da gambiarra, completamente

analógico, vindo do mar, lacrado em um

bloco de resina translúcido: confirmação e negação

absolutas da “caixa-preta” da informática.

Segundo. A ideia de colecionismo por meio da

acumulação, ou como os artistas têm utilizado

o excesso de resíduos no mundo atual como

recurso expressivo, para além do senso comum

sobre reciclagem.

A reutilização e o deslocamento funcional

(hacking) de materiais de uso cotidiano ou objetos

descartados definitivamente não são questão

nova na arte. A origem dessas práticas remete

ao readymade e torna-se mais evidente a partir

da metade do século passado, na produção de

assemblages por artistas como Joseph Cornell,

Robert Rauschenberg e Jean Tinguely, este último,

literalmente, um gambiólogo pioneiro, com

a criação de cinéticos a partir de materiais

encontrados, repletos de lâmpadas, refugos industriais

e metal oxidado. Em que se difere, então, a

produção de artistas que utilizam resíduos, quase

um século depois? É que o que antes era somente

uma experimentação estética e conceitual, agora,

com a produção desenfreada e a proporcional

geração de refugos de toda sorte, torna-se também

uma emergência. O artista que reutiliza

materiais neste momento histórico sugere uma

atitude política perante os excessos de nosso

tempo, quase heroica perante o já desgastado

discurso da “sustentabilidade” repetido pelos

departamentos de marketing das corporações.

Marepe transfigura peças automotivas coletadas

em ferros-velhos em uma insólita figura infantil;

Mendoza e Goh concebem um pássaro, a partir

13


de peças de celulares desmontados, que parece

fadado a viver em um zoológico futurístico e

apocalíptico; Bambozzi apresenta uma máquinaorganismo

de grandes dimensões, com engrenagens

mecânicas que remetem aos primórdios da

industrialização e que deglute celulares, pois já

não sabemos mais onde descartá-los; Zaven Paré

transforma uma banal coleção de meccanos em

belos ornamentos indígenas; Sara Ramo, artista

que “investiga o momento em que os objetos

param de fazer sentido na vida das pessoas para

criar situações em que a calma e a ordem se

perdem” 2 , problematiza, em duas obras, nosso

vínculo com o que é afetivo e o que é descartável;

e, finalmente, Bispo do Rosário brinda-nos com

"painéis de apetrechos" que contêm não só

matéria coletada, mas o peso de toda uma vida.

O artista gambiólogo acumula objetos por apreço

estético com todas as épocas e cria obras respondendo

à pergunta: “o que eu posso fazer com isso?”.

As coisas inúteis, quando deslocadas do lugar

de origem, ganham múltiplos sentidos e valor.

Terceiro. A aceitação (ou não) da influência da

cultura popular e do artesanato no campo das

artes plásticas.

A história da arte mostra-nos uma relação

ambígua com os saberes populares. Por um lado,

as origens dos termos “arte” e “artesão” – do latim

ars – são comuns e remetem aos “preceitos para

execução de qualquer coisa” ou aos processos

relacionados a um “ofício manual” 3 . Mais que

isso, o conhecimento das culturas primitivas,

desde sempre, tem sido alimento para artistas

de diversas gerações e origens. Trabalhos

de caráter artesanal evidenciam o status de

peça única, fator que contribui para a maior

valorização das obras. Mas, por outro lado, a

apresentação da arte popular é frequentemente

limitada a espaços ou eventos segmentados, não

integrados ao chamado “contemporâneo”, possuindo,

inclusive, rótulos específicos, como naïf

e frequentemente confundidos com o kitsch.

Suponho que os processos criativos gambiológicos

tensionam essa relação, por se articularem

com estratégias essencialmente populares em

um contexto inédito, em que as linguagens eletrônicas

e a tecnologia digital são cada vez mais

acessíveis. Os trabalhos de gambiologia estão

integrados às práticas contemporâneas, mas esboçam

um frescor e uma espontaneidade muitas

vezes mais evidentes nas criações anônimas

que nos círculos artísticos mais reconhecidos 4 .

A participação dos artistas-artesãos Mauro Alvim

e Lúcio Bittencourt, escultores do aço que apresentam

obras não figurativas extremamente

expressivas, é, dessa maneira, importantíssima

para o conjunto da mostra.

As obras expostas, no entanto, propõem aproximações

e distanciamentos entre esses três

eixos, de forma quase caótica. A instalação em

progresso do Coletivo Gambiologia, disposta

em uma galeria anexa à exposição, talvez seja

o que melhor resume tais contaminações e, não

por acaso, encerra esta publicação. Na caótica

oficina de Jean Baptiste Gambièrre, instalação

que nunca estará pronta, há rastros de tudo o

que foi falado até aqui e mais um pouco.

Diferentemente da primeira edição, a montagem

da “Gambiólogos 2.0” deu-se em um espaço expositivo

mais tradicional, a Galeria Oi Futuro BH,

14


habilmente repaginada pelo arquiteto-artista Carlos M. Teixeira

em uma proposta cenográfica modular e industrial, rígida, mas, ao

mesmo tempo, fluida. Foi laborioso “domesticar” a gambiologia em

um espaço institucional que, se, por um lado, facilitava, ao oferecer

uma estrutura diferenciada, por outro, trazia novos desafios, como

a necessidade de se ocupar duas galerias, dividindo a mostra, e o

longo período de funcionamento (questão sensível para trabalhos

de arte eletrônica, que, com frequência, exigem manutenção).

Para nos prestigiar com artigos que completam este catálogo,

convidei três mulheres com atuação relevante no campo da arte e da

tecnologia brasileira e que já vêm, há alguns anos, acompanhando

as iniciativas da Gambiologia. Agradeço imensamente a: Giselle

Beiguelman, artista, pesquisadora, curadora, referência crucial

em minha trajetória e certamente na de muitos gambiólogos;

Juliana Gontijo, pesquisadora e curadora, autora do livro “Distopias

tecnológicas”, ensaio fundamental sobre artistas brasileiros

contemporâneos que se apropriam criticamente das tecnologias;

e Raquel Rennó, artista, pesquisadora e cidadã do mundo, colaboradora

de projetos passados e futuros, mente inquieta que, a cada

interação, surpreende-me com sua perspicácia e generosidade.

1 FONSECA, Felipe. Gambiólogos: a

gambiarra nos tempos do digital. Belo

Horizonte: 2010. 100 p. Catálogo de exposição,

19 nov. - 15 dez., 2010, Belo Horizonte.

2 GALERIA FORTES VILLAÇA. Artistas:

Sara Ramo. Disponível em: <http://www.

fortesvilaca.com.br/artistas/sara-ramo>.

Acesso em: 21 ago. 2016.

3 CUNHA, Antônio Geraldo da. Dicionário

etimológico da língua portuguesa. 4. ed.

Rio de Janeiro: Lexikon, 2010.

4 É curioso observar que, em inglês, a palavra

ingenuity, que significa “ingenuidade”,

também denota “inventividade” –MICHAELIS:

Dicionário Escolar Inglês. São Paulo: Editora

Melhoramentos. Disponível em: <http://

michaelis.uol.com.br/>. Acesso em: 21 ago. 2016.

Em tempos em que o ativismo cresce e se horizontaliza na mesma

proporção que suas contradições, em que a ilusão de prosperidade

é questionada e o incômodo sobre a situação do homem no

planeta é cada vez mais latente, temos, nesta exposição coletiva,

belos exemplares de como o uso da tecnologia e dos resíduos pode

ser não somente uma forma de expressão criativa, mas também

política. E mais: a enorme diversidade de abordagens sobre o

improviso e a técnica, notória nesta seleção de obras criadas por

artistas de origens e faixas etárias diversas, faz-nos crer que a

gambiarra é, sim, uma ciência.

Fred Paulino

Idealizador e curador

15


16


JORGE CROWE

PERFORMANCE DE ABERTURA

17


18


LUDOTECNIA (BETA TESTING VERSION)

ARTEFATOS ELETRÔNICOS SONOROS / CÂMERAS / PROJEÇÃO ∙ APROX. 35 MIN.

Performance audiovisual com base no uso de brinquedos, hardware personalizado e tecnologia obsoleta. Brinquedos eletromecânicos,

lâmpadas e outros dispositivos são seqüenciados e controlados, sendo parte do som e da construção visual. Câmeras de segurança

capturam as ações sobre a mesa, convidando o público a participar do que está acontecendo no "palco". Répteis mutantes, robôs,

soldados de brinquedo e dinossauros são as personagens desta história em que os gêneros de cinema colidem e se misturam.

Ludotecnia é uma homenagem aos filmes da geração VHS e televisão no sábado à tarde, cheios de criaturas de stop-motion,

cientistas loucos, superpoderes e invasões alienígenas.

19



ARTISTAS

& OBRAS

ARTISTS & ARTWORKS


FARNESE DE ANDRADE

VIEMOS DO MAR ( COMPUTADOR )

ESCULTURA REVESTIDA EM RESINA (POLIÉSTER) ∙ 21,5 × 35,5 × 27,5 CM ∙ 1978

A série Viemos do mar é composta por assemblages criadas a partir de

detritos e formas marinhas recolhidos na praia, como conchas, estrelas-do-mar

e ouriços. A eles, são agregados pedaços de bonecos, bolas

de gude, restos de madeira e outros objetos colecionados pelo artista.

O aspecto futurista da peça Computador, revestida por poliéster, e sua

composição semelhante a um gabinete de computador contrastam com

a organicidade da obra, totalmente analógica.

CORTESIA: MAC - MUSEU DE ARTE CONTEMPORÂNEA DE NITERÓI

22


23


24


25


26


ARTHUR BISPO DO ROSÁRIO

PAINEIS DE APETRECHOS (ABAJUR / DENTADURAS)

ASSEMBLAGES ∙ MADEIRA, METAL, VIDRO, TECIDO, PAPELÃO, OBJETOS ∙ 179 × 67 CM /

109 × 64 CM ∙ S/D

Painéis escultóricos, colagens de objetos, displays precários. Intuição visual e

deslocamento de sentidos. Reorganização do mundo por meio da desorganização da

experiência cotidiana. Os trabalhos de Bispo do Rosário são desenvolvidos a partir de

refugos e fragmentos de tecidos encontrados na Colônia Juliano Moreira, instituição

psiquiátrica no Rio de Janeiro onde o artista passou grande parte da vida e produziu

praticamente toda sua obra.

CORTESIA: MUSEU BISPO DO ROSÁRIO ARTE CONTEMPORÂNEA

27


28


29


30


CAO GUIMARÃES

SÉRIE "GAMBIARRA S" #59, #103, #105, #106

FOTOGRAFIA DIGITAL ∙ 45 × 60 CM / 66 × 100 CM ∙

2000-2014 (EM ANDAMENTO)

As quatro fotos são parte de uma série in-progress

em que, por meio de simplicidade formal e muita

plasticidade, são registradas gambiarras em

diversas localidades do mundo. Nesse conjunto

de imagens, a habilidade do artista de improvisar

dá origem a momentos de estranhamento que são

capazes de reinventar nosso olhar sobre objetos

e situações comuns.

CORTESIA: GALERIA NARA ROESLER

31


32


33


SARA RAMO

ANTES, DEPOIS, AGORA

FOTOGRAFIA DIGITAL ∙ TRÍPTICO

95 × 62 CM (CADA) ∙ 2012

CORTESIA: GALERIA FORTES VILAÇA

34


35


36


TRANSLADO (ON THE MOVE)

VÍDEO DIGITAL ∙ 7'46'' ∙ 2008

“Translado é o título de um vídeo que, apresentei na exposição individual Casi lleno, casi

vacío (“Meio cheio, meio vazio”), em São Paulo. É certo que o vídeo poderia, também, ter

tido o nome da exposição. Alguém aparece de costas e está retirando coisas de uma mala

de viagem. Há um jogo de escala com relação ao possível conteúdo da mala, pois, nela,

cabem mais coisas que o que seria razoável, objetos que vão cobrindo o chão, ocupando

uma sala que, no início, estava vazia. Trata-se de um trabalho sobre a acumulação, sobre

as coisas que carregamos conosco, sobre o que é necessário deixar atrás. É uma viagem

absurda, não se sabe bem de onde se vem, nem aonde se vai, como acontece na vida

mesmo. Ainda sugere um movimento de desapego, é preciso esvaziar a bagagem para

ir, de verdade, a outro lugar.”

CORTESIA: GALERIA FORTES VILAÇA

37


MAURO ALVIM

PAJEÚ, O GRANDE GUERREIRO

ESCULTURA ∙ SUCATAS, FERRAMENTAS E SOLDA ∙ APROX. 40 × 30 × 20 CM ∙ 2012

38


39


40


PAI! EU QUERO ESCANGALHAR A MATADEIRA

ESCULTURA ∙ SUCATAS, FERRAMENTAS E SOLDA ∙ APROX. 60 × 40 × 40 CM / 2012

Duas peças da série Sertões, inspiradas no clássico livro de Euclides da

Cunha. As esculturas em ferro oxidado são criadas a partir de ferramentas

cortantes e pontiagudas que sugerem, em sua forma final, armas de fogo.

A utilização de metal enferrujado e utensílios de uso cotidiano estabelece

um contraste-paradoxo entre instrumentos de combate manual (cortantes) e

de ataque a distância (explosivos). Essas armas-sucatas apontam, ao mesmo

tempo, para o passado e para o futuro e contradizem o avanço civilizatório,

trazendo a barbárie sertaneja de Canudos como metáfora de uma crítica à

destruição praticada pelo homem dito “moderno”.

41


LÚCIO BITTENCOURT

PULSAÇÃO

ESCULTURA ∙ FERRO E SOLDA ∙

APROX. 200 × 150 × 80 CM ∙ 2014

42


43


EXPLOSÃO DEMOGRÁFICA

ESCULTURA ∙ FERRO E SOLDA ∙ APROX. 100

× 70 × 100 CM ∙ 2014

44


Esculturas de metal com grandes dimensões, elaboradas a partir

de materiais reciclados. As obras transitam entre o abstrato e o

figurativo e problematizam o utilitarismo da indústria tecnológica

contemporânea. A fluidez do movimento sugerido pelas peças

contrasta com seu peso material, ao mesmo tempo em que a

decadência de uma humanidade produtora de resíduos em ritmo

descontrolado se evidencia, por meio da transformação singular

desses restos. As esculturas, assim, colidem diferentes tempos:

o da matéria morta e o da viva criação humana.

45


PASSADO E FUTURO

DAS IMAGENS QUEBRADAS

GISELLE BEIGUELMAN

SÃO PAULO EM UMA NOITE DE 1995

Minha filha tinha 4 anos quando introduzimos

a TV cabo em nossa residência. Enquanto ela se

deliciava na sala com a infinidade de botões do

controle remoto, eu estava na cozinha, preparando

o jantar. Tudo corria bem, naquela tranquilidade

duvidosa que acomete mães independentes quando

entregam seus filhos à tutela dos aparelhos

eletrônicos, até que ela gritou:

– Mãããããããããe!

Entre a sala e a cozinha, sei lá quantas imagens

de possíveis desgraças impossíveis passaram pela

minha cabeça. Mayara estaria esmagada embaixo

do aparelho de tevê? Encurralada por algum megainseto

monstruoso desconhecido? Embrulhada

na cortina sem conseguir sair?

Encontrei o pequeno ser perplexo e sisudo sentadinho

no sofá. Olhos azuis infinitos marejados

e fixos em um filme antigo qualquer sem importância.

Profundamente culpada e hesitante, me

disse baixinho, agora baixando os olhos:

– Quebrei a tevê. Não sei o que eu fiz. Mas foi só

neste canal. Nos outros, está tudo bem. Só esse

perdeu as cores. Pode ver. É verdade... Suspirou,

quase num fiozinho de voz titubeante.

Subitamente, me dei conta de que Mayara nunca

havia visto uma imagem em preto e branco na

vida! Nunca vou me esquecer da ternura com que

ela se aninhou no meu colo para se acalmar e

entender o que ocorrera. Limpando seu rostinho

ainda úmido e atônito, eu lhe disse que ela não

havia feito nada de errado, que aquela imagem

era assim mesmo, não estava “quebrada”. Contei,

talvez com simplicidade demais, que, quando eu

era criança, todos os canais da televisão eram

assim, o que lhe causou um profundo espanto:

– Eram todos sem cor?!

Foi meu primeiro contato com o que se convencionou

chamar “conflito de gerações”. Havia um

abismo tecnológico entre nós, e o assunto merecia

mais delicadeza e cuidado da minha parte. Disse,

então, com toda cerimônia:

– Sabe, naquela época, em que todos os canais

da tevê eram em preto e branco, a televisão não

funcionava o dia todo. Eu me lembro de mim, sentadinha

na frente do aparelho, esperando entrar

no ar... E sorri pensativa.

Ela não entendeu.

Diante do seu ar de perplexidade, que hoje, percebo,

era de total incompreensão diante da realidade

intangível que eu narrava (“como assim, entrar

no ar?”), decidi pontuar.

– É que, quando a mamãe era pequena, só passavam

desenhos em uma hora específica do dia.

Não existia Cartoon Network, expliquei.

Ela fez uma cara de solidária cumplicidade na

alegria e na tristeza, me olhando, já com dúvidas

sobre a qualidade de vida que me ofereceram

naquelas eras remotas das imagens “quebradas”.

Procurando uma espécie de luz no fim do túnel,

me disse num tom de “matei a charada”:

– Ah, mas, aí, você pedia, e o vovô descia e pegava

46


um vídeo na locadora!

Sem querer criar traumas sobre uma suposta infeliz

infância que eu teria vivido, murmurei, meio

vacilando, mas enfática:

– Quando a mamãe era pequeninha, não existia

vídeo.

E confessei, de supetão:

– Nem internet.

Ponto.

Foi demais... Mayara ficou absolutamente chocada

e pensativa. Até hoje me pergunto o que ela,

naqueles poucos segundos, refletiu sobre o que

havia sido a meninice de sua mãe. Além de viver

num mundo de imagens quebradas e sem cor, não

tinha tevê 24h, locadora de vídeos nem internet.

Percebendo minha falta de tato na condução da

conversa, achei que era melhor redirecionar. Nessa

época, tínhamos uma estante onde ficavam o CD

player, o aparelho de tevê e o vídeo, então vivo e

operante. Resolvi, como boa professora que sou,

“didatizar” a relação. E passei a contrapor situações,

contando que não existiam CDs, mas tínhamos

LPs. E mostrei nossa bela coleção de vinis. O que

realmente encheu seus olhos. A dimensão das

capas era incrível para ela... O capítulo “tevê”, eu

pulei, por já ter sido muito comentado, e, seguindo

a ordem das prateleiras, quando estava pronta

para falar do vídeo, ela me interrompeu:

– Mamãe, quando você era pequena, já existiam

estantes?

BELO HORIZONTE, 20 ANOS DEPOIS

Flora Mol Álvares Paulino, filha de Fred, curador

de "Gambiólogos 2.0", nasceu em 2014, poucos dias

depois da abertura da exposição que ocupou o Oi

Futuro de 10 de junho a 17 de agosto na capital

mineira. O mundo dela era e será muito diferente

do que vivêramos até então. Ao final da mostra,

no seu primeiro mês de vida, estávamos em plena

ressaca da Copa do Mundo e à véspera da eleição

que colocou às claras os ódios de classe que, por

um brevíssimo período, foi dissimulado, ao menos

nos grandes centros brasileiros.

Minha visita aconteceu no último fim de semana

da exposição, enquanto um workshop gambiológico

acontecia, intensamente povoado e ativo. A sala

expositiva estava calma. Com público, mas sem

as filas ou acotovelamentos que eu presenciara

alguns dias antes, em São Paulo. Na época, estava

em cartaz, no Instituto Tomie Ohtake, uma

retrospectiva da artista Yayoi Kusama, intitulada

“Obsessão infinita”, com multidões a dobrar quarteirões

para entrar.

Malgrado a importância da obra, especialmente

a produzida nos anos 1970, tensionando o papel

de submissão da mulher no Japão, por meio de

formulações pop entre o erótico e o pornográfico,

o que “bombou” foram as obsessões da artista por

bolas e bolinhas. Melhor: o que “bombou” foram

as obras que o público podia usar como cenário

para selfies nas redes sociais.

Não vou entrar aqui no mérito da banalização

da doença mental e do desserviço que esse

tipo de apropriação promove, nem do quanto é

importante, ou não, mobilizar hordas de público

47


para um evento cultural. Não é esse o ponto de

discussão aqui, nem o foro. Mas chamou-me a

atenção esse contraponto com Kusama, acima de

tudo, porque a mostra tinha, entre seus artistas,

Arthur Bispo do Rosário. O que, em si, abre uma

porta para repensar a relação entre arte e loucura

muito além do universo espetacular da moda e

do consumo rápido, o que pessoalmente eu não

poderia fazer. Por outro lado, permite problematizar

como o informal aparece esteticamente em

um país-planeta como o nosso.

Confrontos e contrastes não são novidades na

história do Brasil. O que talvez, todavia, nos

espante é o confronto da classe média contra a

classe média. A tradicional versus a emergente e

vice-versa ou ao contrário. No meio disso tudo,

entre os escombros sociais que nos rodeiam e

as frestas que apontam para diferentes futuros

e modernidades alternativas, uma quantidade

incalculável de aparelhos disfuncionais, máquinas

obsoletas e traquitanas de diferentes portes

proliferou. Pautada pela explosão do consumo e

pela vertigem das promessas do que a revolução

digital nos traria, anunciaram, mas não entregaram,

um mundo conectado, 24h, feliz, sem

fronteiras, colorido e arrojado, como uma capa

da revista “Wired”.

Não que o processo de digitalização da cultura

tenha sido um engodo ou mais uma etapa na longa

história do processo de alienação pelo capital. Pelo

contrário. Vivemos o privilégio de protagonizar um

dos momentos de transformações mais profundas

nas formas de distribuição e circulação da produção

simbólica. Muitos autores, com diferentes

matizes ideológicos, em um espectro que vai de

Negri e Hardt a Maffesoli, passando por Castells,

evidenciam isso por distintos pontos de vista.

Olhar isso tudo de uma “varanda” chamada Belo

Horizonte, onde se cruzam barroco, Tiradentes,

Marília, Dirceu, descarrilamentos da política café

com leite da República Velha, Drummond, JK, Clube

da Esquina, Diretas Já, Tancredo Neves, Pampulha,

Eder Santos e toda uma geração que redefiniu

a produção de imagem no país, no âmago do

processo de globalização, não é fácil.

O ASSALTO AO CAPITALISMO FOFINHO

Encontrar Bispo do Rosário, naquele contexto –

local e temporal –, em meio a artistas de diferentes

gerações, alguns que sequer tinham ideia do que

era o Brasil ou Belo Horizonte, e outros que, como

Mayara e Flora, não têm ideia do que é um mundo

antes da globalização, me fez entender a afirmação

de Fran Tonkiss em “Informalize – Essays on the

political economy of urban form” (2012):

A informalidade é produtiva, abre alternativas

no mundo superprogramado e supercapitalizado

das cidades do mundo rico, injetando vida nos

centros ou oferecendo soluções inusitadas para

viver no mundo saturado dos mercados proprietários

e da depressão dos mercados de trabalho.

Nessa perspectiva, podemos pensar que a globalização

colocou os teóricos diante da necessidade

de dar conta, sob novas abordagens críticas, da reconfiguração

cultural e política da ordem mundial.

O capitalismo, que, até o fim dos anos 1980, foi

tratado como vilão conceitual por excelência do

mundo acadêmico – especialmente na Europa e

na América Latina –, precisou, diante da crise das

utopias de esquerda do século XX e dos modelos

48


revolucionários tradicionais, ser reavaliado.

Não por acaso, desde meados dos anos 1990, vêm

sendo formuladas definições sobre o tema. Para o

sociólogo espanhol Manuel Castells, autor do referencial

“A sociedade em rede”, vivemos hoje um

capitalismo informacional e baseado na produção,

no consumo e na circulação de informações. Para

Antonio Negri e Maurizio Lazzarato, o que vigora

é um capitalismo cognitivo, em que a posse do

saber é a riqueza (e não mais a posse do trabalho

do outro). Até Bill Gates arriscou o seu conceito –

capitalismo criativo –, conclamando os grandes

empresários a investir parte de seus lucros em

atividades sociais.

A essas definições, propomos mais uma: “capitalismo

fofinho”. Trata-se de um regime cuja lógica

se explicita na iconografia da Web 2.0. Ele celebra,

por meio de ícones gordinhos e arredondados, um

mundo cor-de-rosa e azul-celeste, que se expressa

a partir de onomatopeias e exclamações pueris.

Basta pensar em Flickr, Google, Yahoo! e nas fofuras

do passarinho do Twitter ou no coraçãozinho

do Instagram que a afirmação se autoesclarece.

Mas é preciso reforçar, ainda, que essa celebração

de um mundo apaziguado opera por meio de um

design de informação, cujo objetivo parece ser

suprimir a possibilidade de conflito. A forma mais

bem-acabada desse tipo de design é a do Facebook,

o empreendimento online mais bem-sucedido de

todos os tempos.

Espaço de relacionamento protegido, espécie

de jardim murado de redes dentro das redes, o

Facebook é uma máquina de aceitação feliz do

mundo. Não por acaso, não há um recurso nativo

para “descurtir”. Trata-se de uma plataforma para a

aceitação e a construção de rebanhos. Literalmente.

O pai do seu amigo morreu? Sua mãe? O Japão foi

inundado por um tsunami? Uma jornalista sumiu

na Líbia? Quantas pessoas morreram no acidente

de ônibus em Florianópolis? Não importa... Você

pode apertar o botão Like e curtir isso tudo com

seus amigos. E todos saberão que você já está “por

dentro do fato”. Que tal compartilhar?

No limite, essa aceitação de tudo e o aprisionamento,

via algoritmos, entre pares cada vez mais

iguais cria uma verdadeira rede antissocial, pois

esse modelo tende à rarefação dos conflitos, uma

vez que suprime a necessidade de negociação

entre as partes.

Consolidam-se aí mundos planos, de comunidades

cujos membros replicam os gostos uns dos outros

e nos quais entram apenas aqueles que são nossos

semelhantes. Isso não implica, porém, que organizem

redes de inteligência coletiva ou vocação para

o comum. Pelo contrário, fomentam, paradoxalmente,

uma aspiração individualista que calibra o

sucesso de apologias do “faça você mesmo” (DIY,

de preferência, sozinho e sem nenhuma mediação

intelectual. Just do it).

Contudo, são em grande parte os mecanismos

disponíveis nas redes sociais e no seu imaginário

o que permite também a articulação de novas

formas de fazer política, grupos de contestação

que estão dando cara ao século XXI, como ficou

patente com as ações do WikiLeaks, do 15 de maio

espanhol e das manifestações de junho de 2013

no Brasil, todas bastante discutidas nas mídias

de todos os portes.

Mais diluídas e, no entanto, cada vez mais constantes

49


são as infiltrações que se espalham nas próprias

redes sociais e as que se apropriam do repertório

da artemídia, trazendo à tona suas asperezas e

ranhuras. É aí que se compreende o DNA gambiológico.

Na diversidade de práticas e linguagens que

engloba – social, geográfica e geopoliticamente –

tensiona a retórica do mundo sem pontas e sem

perigos, do capitalismo fofinho.

Trata-se de uma ocupação do discurso sobre a

tecnologia que se dá na periferia e nos interstícios

das redes corporativas, contestando a economia

neoliberal dos likes, a usabilidade do design de

informação, a praticidade e o futuro das peças que

mistificamos – e jogamos no lixo – cotidianamente,

como monitores de tevê, câmeras descartáveis,

celulares quebrados, entre outros.

Cada uma das obras criadas para o contexto expositivo

configura-se, assim, como “Zona Autônoma

Temporária” – uma conceituação de Hakim

Bey para grupos que se unem em razão de objetivos

comuns, em formatos não hierárquicos,

como bandos efêmeros. É nesses espaços que a

ideia de ocupação, palavra prenhe de significados

militaristas, ganha novas dimensões, propondo

um território de confluências e objetivos temporários,

baseados em princípios que não cabem

mais em cartilhas de esquerda e direita, mas

que pressupõem a construção coletiva de novas

agendas comuns. Elas reinventam as formas de

sobrevivência,de convivência e especialmente de

construir conhecimento e experimentação estética,

para vazar nas redes de todos os tipos e formas,

em ebulição tecnofágica.

DESOBEDIÊNCIA TECNOLÓGICA

Já disse em outras ocasiões que “tecnofagia” não

é uma tendência nem um movimento, mas uma

conceituação pessoal, elaborada para dar conta de

operações marcantes em um determinado perfil da

produção relacionada à artemídia. Nesse tipo de

produção, chamam atenção a ênfase nos processos

de combinação entre a tradição e a inovação, os

arranjos inusitados entre saberes imemoriais e de

última geração e a revalidação das noções de high

e low tech. Em uma frase, tecnofagia é o encontro

entre a ciência de ponta e a ciência de garagem.

Essa abordagem esboça uma estética que opera

pela combinação e pela remodelagem de equipamentos

e pela produção de dispositivos capazes de

agenciar outras formas de criação e ações micropolíticas

de apropriação das tecnologias, em um

mundo de artefatos que se arruínam no tempo

de um sopro (ou de um clique).

A despeito dessa aceleração constante, as estantes

(as minhas e as do mundo todo) continuam de

pé. Já as imagens quebradas que Mayara, em sua

espontaneidade infantil, denominara não são mais

um comentário engraçadinho. Estão em todo lugar.

Apontando a potência dos resíduos que se realiza

e toma corpo nos dispositivos gambiológicos de

desobediência tecnológica.

Giselle Beiguelman é midiartista e professora na

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade

de São Paulo (FAU-USP). Seus trabalhos

incluem intervenções no espaço público, projetos em

rede e aplicativos para dispositivos móveis. Expôs

nos principais centros de artemídia do mundo, instituições

de pesquisa e espaços dedicados à arte

contemporânea como ZKM (Karlsruhe, Germany),

Gallery @ Calit2 (UCSD, USA) e Bienal de São Paulo.

Foi curadora da exposição "Tecnofagias - 3ª Mostra

3M de Arte Digital" e dos festivais online HTTP_Video

e HTTP_Pix, entre outros. É editora da Revista Select

e autora de vários livros e artigos sobre nomadismo

contemporâneo e cultura digital.

50


DIRCEU MAUÉS

51


52


HORIZONTE REVERSO

INSTALAÇÃO ∙ CAIXAS DE PAPELÃO, LUPAS, PAPEL-VEGETAL E CADEIRA ∙ 200 × 220 CM ∙ 2014

Pequena parede construída a partir do empilhamento de caixas de papelão que funcionam

como câmeras escuras e apontam para o mesmo lugar: uma pequena cadeira iluminada.

A imagem da cadeira e tudo à sua volta são projetados sobre o papel-vegetal contido

no interior das caixas, revelando um mundo de ponta-cabeça.

Várias caixas: vários mundos em mosaico. Efêmeras imagens em tempo real que nos

transportam para um horizonte reverso: o tempo de todos os precursores da fotografia

que, juntos, “ardiam em desejos”, usando uma expressão de Daguerre, pela fixação

da mágica imagem que se projetava no interior da câmera escura. Aqui, a experiência

da imagem perfaz um caminho de volta, em direção à imaterialidade, ao desejo que

precedia a imagem fotográfica como a conhecemos – ou a conhecíamos alguns anos

atrás. Invertida paisagem... Um mundo dentro de uma caixa: o mundo de ponta-cabeça.

Desejos ardem em imagens. Desejos de fixar desejos em desejos inversos, em mundos

paralelos: efêmera imagem.

53


54

CHELPA FERRO


BURACO

ESCULTURA ∙ CAIXA DE SOM, ALTO-FALANTE, AMPLIFICADOR, MICRO-

FONE, PEDESTAL, MICROFONIA ∙ 70 × 40 × 30 CM ∙ 2009

Montagem audiofônica precária, em que a frequência gerada pelo

amplificador agita o alto-falante e gera uma microfonia que, captada

pelo microfone, retorna ao aparelho, gerando um loop infinito de

ruído sonoro.

CORTESIA: GALERIA PROGETTI RIO

55


56


O GRIVO

56'04"

ESCULTURA ∙ MOTOR, MADEIRA, POLIAS DE METAL,

CORREIA, ARAME ∙ APROX. 80 × 40 × 40 CM ∙ 2014

57


O ritmo está por toda parte.

Entidade quantificável, numerável...

No andamento absorto, no ar suspenso, no silêncio,

em sua reincidente divisão do tempo, do espaço.

Unidade de medida a preencher

o vazio que é a verdadeira substância do mundo.

O ritmo,

o que flui,

o que tem movimento...

A cada 56 segundos e 4 frames, um som é produzido pela

máquina/instrumento. A lentidão do mecanismo e o custoso

processo pelo qual se produz o som o valorizam. É criada

uma preparação, uma expectativa, uma suspensão do tempo,

que se resolve com o evento sonoro mecânico acústico. Uma

grande preparação para um som pequeno, suave, singelo.

58


59


FALLING NAIL

EXCUSE ME

60


JOSEPH MORRIS

MERE THINGS (MERAS COISAS)

MADEIRA, PEÇAS ELETRÔNICAS E ENCONTRADAS

DIMENSÕES VARIADAS ∙ 2008/2009

SPRING CATCH

SMALL STRING

61


62


"Mere Things é sobre a apropriação de objetos comuns e sua transformação em

movimentos simples e intimamente envolventes. Fazê-los é uma constante luta

de avanço e recuo entre a minha ideia e a própria fabricação da máquina, com

cada peça emergindo como individual e única, contendo sua própria reflexão.

A minha esperança é que, através de "meras coisas", essas simples máquinas possam

nos conectar empaticamente à nossa humanidade compartilhada."

63


MAREPE

MUTAÇÃO

ESCULTURA ∙ PARTES DE BONECOS E PE-

ÇAS AUTOMOTIVAS ∙ APROX. 100 × 160 ×

100 CM ∙ 2008

64


65


66


“Esta é uma escultura futurista, que remete à ficção científica,

ao caos. Ao mesmo tempo em que a figura de uma criança sugere

uma mensagem de futuro pessimista, o movimento da peça traz

certa esperança, uma vez que sua base é uma mão estendida ao

espectador, propondo uma relação com quem chega.

As peças utilizadas no trabalho foram recolhidas em uma loja de

sucatas automotivas que é um universo muito especial e fascinante:

na parede, estão pendurados objetos de vários tipos, formas e

texturas – materiais pobres, obsoletos, sem perspectiva, que

praticamente seriam descartados como lixo, mas que, quando são

reapropriados e transformados em uma obra, ganham nova vida.

O que mais me interessa nesse trabalho é uma questão pictórica,

de plasticidade, uma combinação de formas que sugere outra

forma. Os materiais parecem nobres, de alta tecnologia, mas são

totalmente pobres. Eles têm aparência sofisticada e seriam difíceis

de ser modelados, mas o resultado da escultura é uma forma

bem simples, que praticamente se assemelha a um readymade.

No final, acho que a obra traz também uma questão do capitalismo,

de uma cultura do descartável que atinge não só os objetos, mas

também as pessoas.”

67


MORSE MOUSE

COLAGEM ∙ LAPTOP, MANIPULADOR TELEGRÁFICO ∙ APROX. 40 × 30 × 30 CM ∙ 2014

"O manipulador telegráfico, aparelho para gerar o ponto e o traço necessários ao

código Morse, pode ter sido o precursor do mouse. Um pequeno objeto, pouco

menor que uma mão, do qual saem fios que o conectam a outro aparelho, que

recebe e transmite o sinal desse objeto. Achei que, substituindo o mouse pelo

manipulador, estaria criando um contraste tecnológico e plástico interessante."

68


GUTO LACAZ

69


ZAVEN PARÉ

LÓRIGINE DU MONDE (A ORIGEM DO MUNDO)

IMAGENS RETROPROJETADAS∙ PROJETOR, SLIDES, METAL

E PLÁSTICO TERMOFORMADO ∙ 40 × 35 × 50 CM ∙ 2005

70


L’Origine du Monde é, antes de mais nada, a pintura

de Courbet. Esta versão é um objeto constituído, basicamente,

por uma imagem projetada, tal como na

parede de uma caverna pré-histórica ou na caverna

do mito platônico. Trata-se, portanto, da origem da

representação: a imagem de um olho. L’Origine du

Monde é um olho, aquele que perseguia Caim, ou

simplesmente um olho no lugar do sexo de uma mulher

– aproximação anatômica feita por Georges Bataille,

no livro Histoire de l’oeil, de 1935. A imagem do olho

torna-se, assim, imagem do órgão sexual feminino,

que se abre e se fecha; uma projeção manipulada pelo

projecionista através de dois slides retroprojetados

seguidamente sobre o molde de um fragmento da parte

inferior de um corpo de mulher.

71


SPLEEN 2.0 (BAÇO 2.0)

ESCULTURA ∙ MECCANO, ALTO-FALANTE, MICROFONE, BOMBA DE AR,

ÁGUA ∙ APROX. 30 × 40 × 20 CM ∙ 2014

Este trabalho procede do contrário dos estudos de anatomia e

da dissecação dos cadáveres. É resultado de um exercício de

montagem e remontagem, peça por peça, dos simulacros de

mecanismos. Manteve-se a presença de um corpo na forma de

um torso, como lugar das origens dos sons e dos ruídos de uma

tragédia, um borbulho num peito. Em um conto de Jean Richepin,

em um enorme galpão, um construtor meio louco constrói uma

laringe humana e uma cavidade bucal impulsionadas pelos foles

de uma forja. O conjunto deveria ser capaz de pronunciar em voz

alta: No começo, era o verbo.

Em todos os lugares, há máquinas, e não metaforicamente: máquinas

de máquinas com os seus acoplamentos, suas conexões.

A máquina-órgão está ligada a uma máquina-fonte: uma emite

um fluxo que a outra acopla. [...] É assim que somos todos

bricoleurs, cada um com suas pequenas máquinas. Uma máquina-órgão

para uma máquina-energia, sempre fluxos e cortes¹.

O ruído desse torso é provocado pela combinação da eletricidade,

do motor da bomba, do efeito do ar na água e desse borbulho

amplificado eletronicamente. Se não podemos desmontar os

milagres para nos divertirmos, trazer de volta à cena o corpo

humano, ou simular os mecanismos da vida para rir, então, por

que tentar entendê-los?

¹ DELEUZE, G.; GUATTARI, F. L’anti-Œdipe. Capitalisme e schizophrénie.

Paris: Minuit, 1972, p. 7 [tradução nossa].

72


73


74


PEÇAS ORNAMENTAIS

ESCULTURAS ∙ MECCANO E PARAFUSOS ∙ DIMENSÕES VARIADAS ∙ 2014

Esses protótipos ornamentais são composições inspiradas em peças

indígenas, feitas a partir de peças de Meccano de metal: tiras perfuradas,

retas ou curvas, placas flexíveis, planas ou curvas, ou rígidas,

com ou sem arestas, vigas (suportes, reforços, bases), acessórios

mecânicos, engrenagens e rodas dentadas, para permitir diferentes

tipos de transmissões (pinhão de 25 dentes e 50 dentes, de 19 e 57

dentes, de 15 e 60 dentes, de 19 e 95 dentes e de 19 e 133 dentes).

75


76


77


DO USO DAS COISAS DO MUND0

JULIANA GONTIJO

Desejamos, compramos, usamos, descartamos.

Essa dinâmica do uso instituída na sociedade de

produção contemporânea implica, em princípio,

receber prontos os elementos que utilizamos em

nosso cotidiano e com os quais convivemos. No

entanto, não é estritamente necessário seguir as

convenções de utilização de um objeto qualquer,

adquirido ou encontrado. Entre o obter e o utilizar,

há uma lacuna, na qual se encontra imbuída uma

pluralidade de escolhas e operações possíveis. O

uso, por si, já conforma uma reinterpretação de

um dado objeto. Longe de ser um ato passivo, o

consumo 1 esconde pequenas operações de modificações

e desvios e pode ser comparável a um ato

de micropirataria. A instituição dessas práticas

desviantes no seio da cotidianidade é algo a que

alude Michel de Certeau:

Na realidade, diante de uma produção racionalizada,

expansionista, centralizada, espetacular

e barulhenta, posta-se uma produção de tipo

totalmente diverso, qualificada como “consumo”,

que tem como característica suas astúcias, seu

esfarelamento em conformidade com as ocasiões,

suas “piratarias”, sua clandestinidade, seu murmúrio

incansável, em suma, uma quase-invisibilidade,

pois ela quase não se faz notar por produtos

próprios (onde teria o seu lugar?), mas por uma

arte de utilizar aqueles que lhe são impostos. 2

Mesmo se enquadradas por práxis prescritas, a

constante manipulação e a modificação na assimilação

de produtos fazem com que persista um

enlace heterogêneo com relação ao sistema, já que

são guiados por desejos e interesses diferentes aos

que lhes deram origem. Esse processo termina,

portanto, por evidenciar as potencialidades ocultas

dos objetos e por levar a um desvio de suas funções

previamente estabelecidas.

A funcionalidade implícita dos objetos tecnológicos

condiz com os parâmetros da sociedade de produção,

em que cada elemento deve cumprir uma meta

de produtividade na cadeia do capital, estruturada

com base nos padrões racionalistas vigentes desde

o século XVIII. A máquina substitui o homem, ou

desempenha funções para ajudá-lo no cumprimento

de suas tarefas. Diante desses aspectos, as máquinas,

ao perder sua funcionalidade original ou apresentar

disfunções, se afastam da regularidade homogênea

dos meios produtivos. Seu ciclo de produção e de

consumo obedece, igualmente, ao imperativo de

progresso técnico e de obsolescência, guiado pelo

poder de comercialização.

Inventar objetos inúteis e maquinarias anômalas

na cadeia industrial e descobrir potencialidades

poéticas, inventivas e lúdicas ocultas em objetos

cotidianos tornam-se gestos libertários que subvertem

os padrões de utilização massivos e a submissão

alienante da tecnocracia pós-industrial. É

esse encontro inventivo com os objetos técnicos e a

posterior utilização disfuncional e heterogênea de

elementos maquínicos que ressurge, em toda sua

potencialidade, em "Gambiólogos 2.0". Os artistas

presentes nessa exposição revelam, em seu universo

poético e conceitual, novas formas de intervenção,

colaboração, participação e interação entre sistemas,

máquinas e seres humanos. Chamam atenção para

movimentos, ruídos e ressonâncias internas dos

dispositivos tecnológicos que recuperam, desarmam

e ressignificam. Evidenciam os processos de

traduções entre sistemas e linguagens, humanos

ou maquínicos. Propõem, igualmente, uma visão

da máquina como elemento vivo. Retomam os primórdios

da técnica para levantar questionamentos

entre os padrões da alta e da baixa tecnologia, entre

as tecnologias obsoleta e de ponta, para finalmente

inquirir sobre as formas de visão e representação

construídas pelas tecnologias e seus aparelhos

óticos. Empregam o precário, a improvisação de

materiais, a imprevisibilidade de funcionamento,

a estética cyberpunk, o lixo tecnológico, assim como

a inutilidade, a degeneração e a obsolescência da

máquina como táticas culturais frente a uma sociedade

cada vez mais tecnocrata.

78


A recuperação de objetos tecnológicos, seu deslocamento funcional

e a valorização do obsoleto materializariam uma nova forma de

pensar a tecnologia, além de considerar a arte como um agente de

transformação tecnológico. Torna-se necessário pensar a técnica

desde um campo ampliado, no qual essa ressurge como téchne 3 ,

ou seja, como um saber articulado que possibilita a emergência

de uma póiesis 4 , inserida numa relação criativa entre partes que

rompe com a concepção antropocêntrica e utilitarista dos objetos

técnicos. A técnica não estaria a serviço do homem nem o homem

se tornaria escravo da técnica; ela é o que existe entre o natural e o

humano e, portanto, possui um pouco dos dois aspectos. Para Gilbert

Simondon 5 , a evolução da técnica obedeceria menos às necessidades

econômicas ou práticas do ser humano que à tendência de

unificação intrínseca de suas partes em um todo unitário, sendo o

homem apenas um operador nesse processo. Segundo o filósofo, a

relação mais adequada com a máquina seria aquela que perpetuasse

sua atividade inventiva, rompendo, assim, a repetição exaustiva de

operações comumente atribuídas às operações dos objetos técnicos.

USO, ACÚMULO, DEJEÇÃO

1 Convém aqui aclarar a diferença

entre consumo e consumismo.

Enquanto o consumo está relacionado

com a satisfação cotidiana de necessidades

primárias, o consumismo, para Zygmunt

Bauman, refere-se à associação da felicidade

com a consumação de um desejo cada vez

maior e mais intenso, implicando o uso

imediato e sua posterior dejeção.

(Cf. BAUMAN, Zygmunt. Vida para

consumo: a transformação das pessoas

em mercadorias. Rio de Janeiro: Jorge

Zahar Ed., 2008.)

2 CERTEAU, Michel de. A invenção do

cotidiano. Petrópolis: Vozes, 1998, p. 94.

3 Téchne é a palavra grega que designava,

simultaneamente, arte e técnica na época

clássica. Referia-se, portanto, a qualquer

fazer produtivo.

4 Póiesis, palavra também de origem grega,

pode ser entendida como todo processo

criativo que, a partir de uma téchne,

proporciona o emergir de um mundo

(Cf. HEIDEGGER, Martin. A questão da

técnica. Em Ensaios e conferências.

Petrópolis: Vozes, 2002).

As distinções entre criar e escolher, entre produzir e consumir são

criticamente desestruturadas no seio da arte com o surgimento do

readymade duchampiano 6 , que incorpora, ironicamente, a arte ao

processo capitalista de produção. Tem-se lugar uma profunda transformação

no estatuto da obra de arte, uma vez que esse processo, no

qual o artista subtrai um objeto do campo mercantil para inseri-lo

no campo artístico, conferindo-lhe, com sua assinatura, um status

de obra de arte, coloca em xeque os conceitos de originalidade (estar

à origem de) e criação (criar desde o nada).

Inaugura-se uma cultura do uso, fundada pela apropriação de objetos

dentro da cadeia de produção. A obra de arte, nesse contexto, passaria

a ser um deslocamento de um produto de uma esfera a outra.

Assim como qualquer objeto cultural, ela surge apenas como uma

terminação temporária inclusa numa rede de elementos interconectados,

através da qual seria possível reinterpretar as existências e

relatos anteriores. Ao se apropriar, reinterpretar, reutilizar e reproduzir

produtos culturais já existentes, inaugura-se uma prática de

pós-produção que, segundo Nicolas Bourriaud, caracterizaria a arte

depois dos anos 1990:

Todas essas práticas artísticas, embora muito heterogêneas em

termos formais, compartilham o fato de recorrer a formas já produzidas.

Elas mostram uma vontade de inscrever a obra de arte

numa rede de signos e significações, em vez de considerá-la como

forma autônoma ou original. [...] A pergunta artística não é mais:

“O que fazer de novidade?” e sim: “O que fazer com isso?”. Dito isso

em outros termos: Como produzir singularidades, como elaborar

sentidos a partir dessa massa caótica de objetos de nomes próprios

e de referências que constituem nosso cotidiano? Assim, os artistas

atuais não compõem, mas programam formas.

79


Se o conceito de Duchamp resumia o ato artístico a um ato de

escolha, em detrimento da atividade manual, as novas estratégias

de pós-produção tomam o objeto como agente ativo, preexistente

num estado anterior, mas dependente da colaboração do artista e

do receptor para a sua transformação.

A assemblage 8 aparentemente irracional das obras de Arthur Bispo do

Rosário ou de Farnese de Andrade mostra uma nova lógica de pensar e

organizar os objetos. A prática da coleta e da coleção para uma posterior

composição de elementos, orientada por uma estética da acumulação,

reverte a usual dejeção dos elementos na esfera do consumo e da

produção. Parte-se do princípio que todo e qualquer elemento pode

ser reincorporado em um novo conjunto, sem perder totalmente seu

sentido original. Os objetos não são descartáveis, estão passiveis de

reinserção numa cadeia constante de transformação. Dentro dessa

lógica, um objeto não morre, mas ressurge para uma nova vida.

A cartografia de objetos cotidianos de Bispo do Rosário, em seus

"Painéis de apetrechos", reorganiza o mundo com base em concepções

subjetivas próprias. Na relação entre objeto e mundo, deflagra

uma realidade oculta que permite imaginar novas possibilidades

de arranjos entre nós e os objetos que nos circundam. Em "Mutação",

Marepe utiliza partes de bonecos e peças industriais para

elaborar uma escultura ciborgue, mescla de humano e máquina,

representação que se vincula a um imaginário cibertecnológico,

típico de relatos de ficção científica. "Viemos do mar (computador)",

de Farnese de Andrade, aproxima uma composição de objetos, supostamente

encontrados na praia e compactados em um bloco de

resina, a um gabinete de computador. Vislumbra-se não apenas a

relação formal entre os dois objetos – bloco de resina e computador

– mas também uma conexão ontológica, em remota época, entre

os objetos residuais e os arquivos digitais. Ambos podem ser lidos

como dados, por meio dos quais seria possível acessar um passado

arquivado em uma memória construída pela coleta de informações,

tal como restos de uma cultura ou resíduos apocalípticos de uma

civilização, reunidos por meio da resina. Transformados em arte,

esses objets trouvés (“objetos encontrados”, em francês), tão utilizados

pelos surrealistas, compõem um conjunto de elementos díspares,

em que cada objeto, reunido por suas qualidades estéticas ou seu

enlace conceitual, conserva suas propriedades originais no interior

do conjunto. Ao possibilitarem a inserção de todo material à esfera

artística, rompem com as fronteiras entre arte e vida.

Operação que visa à resolução de problemas cotidianos de forma

alternativa e barata, a gambiarra estabelece funções pouco comuns

para objetos que se encontram disponíveis. As imagens fotográficas

da série "Gambiarras", de Cao Guimarães, são registros dessas organizações

imprevistas. No entanto, ao se tratar da reapropriação

criativa dos meios e das tecnologias, especialmente em contextos de

recursos materiais escassos, essa tática surge aqui em sua potencialidade

criativa e política. A improvisação e a reciclagem de materiais

5 SIMONDON, Gilbert. El modo de

existencia de los objetos técnicos.

Buenos Aires: Prometeo, 2008.

6 Readymade é uma série de obras,

proposta por Marcel Duchamp, na qual o

artista se apropria de objetos produzidos

em escala industrial para, através de sua

assinatura, inseri-los no campo artístico.

Um de seus readymades mais conhecidos

é a Fonte, de 1917.

7 BOURRIAUD, Nicolás. Pós-produção

– Como a arte reprograma o mundo

contemporâneo. São Paulo: Martins Fontes,

2009, p. 13.

8 Assemblage é um termo usado para

definir colagens com objetos e materiais

tridimensionais.

80


são associadas às práticas de DIY (do it yourself ou

“faça você mesmo”), método pelo qual indivíduos

recorrem a estratégias próprias para produção,

reparo ou transformação de objetos, burlando a

dependência externa na satisfação de um desejo

ou necessidade. Além de oferecer uma alternativa

à cultura de consumo e ao aspecto descartável dos

objetos, apontam também para a necessidade de

aproximação do indivíduo à tecnologia e às suas

instâncias pessoal e criativa. Paulo Waisberg, em

"Abatedouro", ao intervir sobre galinhas de pelúcia

made in China, expõe seus componentes eletrônicos

internos e modifica seu funcionamento, elaborando,

assim, um dispositivo irônico subjacente à inocência

dos brinquedos infantis.

Elementos de baixa tecnologia, aparelhos obsoletos,

objetos manualmente confeccionados, produtos

industriais, artefatos de múltiplas origens são rearmados

em novas configurações, sem obedecer a

hierarquias. Nas "Peças ornamentais", Zaven Paré

utiliza os repertórios formais indígenas, com sua

arte plumária, frágil e de difícil conservação, paradoxalmente

combinados com elementos recuperados

de metal, de origem industrial. É estabelecida,

portanto, uma relação entre a arte indígena e a

mecânica tecnológica, conferindo um semblante

cibernético a um elemento tradicional. A não hierarquização

e a simultaneidade com as quais esses

produtos, comumente pensados como díspares, são

apresentados acentuam o grau de cercania existente

entre produtos artísticos, culturais e industriais.

Na instalação "Horizonte reverso", Dirceu Maués

desenvolve protoaparelhos que retomam os primórdios

da técnica fotográfica das câmeras escuras.

O aparelho ótico criado com caixas de papelão,

lentes e papel vegetal – materiais precários e baratos –

fornece uma imagem ambígua, na qual se confundem

as categorias do low e do high tech: em constante

formação, sem nunca serem fixados, a imagem e

seu suporte relembram os painéis de plasma de

alta definição. O caráter transitório da imagem, sua

textura e sua instabilidade evidenciam a paisagem

como uma construção ficcional e produto de uma

elaboração, simultaneamente, técnica e humana.

Para onde vão os objetos depois de serem descartados?

Essa questão é abordada por Fernando

Rabelo na videoinstalação "Venda-$i". Trata-se do

consumismo cego de tecnologia, no qual evitamos a

pergunta sobre o destino das peças que descartamos

e seus possíveis efeitos ecológicos, econômicos e

sociais. Leandro Aragão, em "Timecode", elabora,

com tubos catódicos de televisores antigos, uma

grande ampulheta que se converte em uma metáfora

da obsolescência programada dos objetos

técnicos, na qual a vida útil já é predeterminada,

e o destino, direcionado ao ferro-velho. "Escape II",

de Anthony Goh e Neil Mendoza, também dá novo

uso a telefones celulares descartados ao elaborar

com eles um pássaro interativo. Os diálogos possíveis

entre tecnologias de diversos períodos históricos

são enfocados com ironia na obra "Morse mouse",

de Guto Lacaz. Em "Das coisas quebradas", Lucas

Bambozzi constrói uma máquina que destrói antigos

telefones celulares, num ato de devorar as tecnologias

obsoletas. A máquina é autônoma, independente do

comando humano, e seu funcionamento é determinado

pelos fluxos eletromagnéticos captados no

espaço em que está situada. Ou seja, é o próprio

uso de equipamentos celulares que determina a

destruição de seus similares, em uma metáfora do

ciclo de consumo e dejeção que guia os aparelhos

tecnológicos em geral.

DISFUNÇÃO, INUTILIDADE, INDETERMINAÇÃO

Cada época histórica inaugura seus padrões de

sociabilidade, ou, como diz Georges Bataille, de

homogeneidade 9 . As concepções imperantes que

guiam as configurações socioeconômicas e as

expressões moral e cultural estipulam um índice

de homogeneização da sociedade ocidental. Para

Bataille, essa homogeneidade está fundamentada

na produtividade e na utilidade, em que apenas

estaria permitida a produção e a conservação do

indivíduo e de sua espécie. Todo elemento heterogêneo

é reprimido, qualquer elemento inútil é

automaticamente excluído. Nosso padrão atual de

homogeneidade agrega, ainda, a justificativa do

capital: tudo o que pode ser comercializado tem

sua existência justificada. Para ser considerado

funcional, o produto deve vender. Seguindo essa

lógica, a técnica e a tecnologia foram embutidas,

desde o século XVIII, em um projeto industrial

cujo objetivo maior é a produtividade e o domínio

racional, técnico e científico do mundo. O modo de

se relacionar com as máquinas guia-se também

por um standard de operação: a máquina é uma

ferramenta que segue uma programação prefixada

no momento de elaboração.

81


Diante desses padrões de homogeneização, Bataille propunha um

novo princípio econômico constituído pelo gasto improdutivo e a

perda. A categoria do inútil, do heterogêneo não homogeneizável,

do que foge às normas, se eleva como uma força que estabelece

equilíbrio necessário diante do socialmente útil, do produtivo, do

homogêneo. Segundo suas próprias definições, a arte seria por si

um elemento heterogêneo, parte do agenciamento improdutivo,

já que possui valor que independe da funcionalidade, além de ser

dotada de finalidade própria. A reapropriação artística dos elementos

industriais e tecnológicos reabilitaria, portanto, o uso heterogêneo,

criativo e disfuncional da técnica.

Nas práticas de desvios operadas pelos artistas-gambiólogos,

vislumbra-se uma discursividade crítica com relação à tecnocracia,

em particular ao determinismo tecnológico no qual cada objeto

possui uma função designada. O erro e a falha ressurgem na programação

como distúrbios que levam à contradição os valores da sublimação

utópica tecnocientífica. Materialização de uma crítica ao

sistema de uso da sociedade capitalista, as macchine inutili (“máquinas

inúteis”), do italiano Bruno Munari expressavam, em princípios

dos anos 1930, uma ruptura radical com a concepção utópica, naif

e tecnofílica que possuía o movimento futurista de Marinetti em

relação à tecnologia e à função dela na época moderna. Ao invés de

representar metaforicamente tais máquinas como fontes de poder

e de dinamismo, Munari se movia na direção oposta, próximo ao

espírito dadaísta, por sua atitude de negação diante da racionalidade

industrial e econômica. Valia-se, então, da fragilidade de elementos

como papel, madeira e fios de seda, para poder fazer com que a

obra se mova livremente como uma obra cinética. Conhecido como

“o novo Leonardo”, ele propunha uma verdadeira aprendizagem da

linguagem das máquinas, a fim de elaborar uma arte total e orgânica

em permanente transformação, cuja estrutura básica passava pela

tecnologia. Elas são inúteis já que “não produzem, como as demais

máquinas, bens de consumo material; não eliminam mão de obra

nem fazem aumentar o capital” 10 .

A proposta crítica de inventar “máquinas inúteis” é retomada na

obra homônima de Aruan Mattos e Flávia Regaldo, que utilizam

conhecimentos científicos para construir estruturas nas quais a

funcionalidade é inexistente e a eficácia da ciência e da tecnologia,

ironicamente contestada. A criação de máquinas autônomas, sem

função aparente, emerge também na construção low tech de "Thisthose

(window)", de Mariana Manhães. A imprevisibilidade de comportamento

das peças eletromecânicas e a utilização de elementos que

simulam movimentos fisiológicos (sacos plásticos que se enchem

intermitentemente de ar) servem aqui para construir uma relação

com os comportamentos orgânicos de um corpo organizado, sujeito à

interação intrínseca entre suas partes, e independente da manipulação

humana. Na emergência de uma poética do cotidiano, objetos da

coleção pessoal da artista, como xícaras, vasos e bules, são escolhidos

9 Cf. BATAILLE, Georges. La estructura

psicológica del fascismo. Em La

conjuración sagrada (Ensayos 1929-

1939). Buenos Aires: Adriana Hidalgo

Editora, 2003.

10 MUNARI, Bruno. El arte como oficio.

Barcelona, Labor, 1968, p. 17.

82


para serem animados em vídeos artesanais que,

por sua vez, comandam os movimentos das peças

mecânicas e eletrônicas de suas obras.

Partes de objetos industriais são retiradas de suas

estruturas originais, pelo interesse despertado no

movimento ou pela sonoridade que produzem, e

reordenadas para constituir pequenas máquinas

em "Mere things", de Joseph Morris. O que anteriormente

possuía uma funcionalidade específica agora

dispara em Morris um pensamento imaginativo que

vê sistemas de engrenagens, impulsos mecânicos,

reações em cadeia. Pequenas rodas de metal, fragmentos

de dispositivos reprodutores de fita cassete,

objetos oriundos de múltiplos equipamentos sofrem

uma nova organização funcional de elementos, na

qual eclode uma nova lógica de ordenação.

A interação entre reações químicas, movimentos

eletromecânicos e captura e projeção de imagem

atua, em "Translator", de Mark Porter, na estruturação

e no comportamento de uma máquina que

modifica gradualmente a si mesma e o espaço em

que se encontra por meio de desenhos na parede.

Na expulsão de líquidos e na simultânea e constante

formação de imagens, a estrutura eletromecânica e

digital imita, de certa forma, os padrões irregulares

do gestual humano. Da determinação da execução,

do controle e da precisão que geralmente se induz

das máquinas, surgem elementos de indeterminação,

aleatoriedade, que relativizam o poderio humano

sobre os objetos técnicos que o circundam.

RUÍDO, SILÊNCIO, ALEATORIEDADE

Ao se experimentar as potencialidades esquecidas

de objetos, manufaturados ou não, percebe-se igualmente

que todos os objetos são possíveis emissores

de sonoridades. Nessa busca por ampliar o universo

sonoro, pode-se encontrar a utilização não convencional

de instrumentos musicais tradicionais,

assim como a criação de aparelhos sonoros, híbridos

e heterogêneos, feitos com objetos recuperados,

manipulados, reconvertidos e incorporados a

sistemas eletromecânicos. Engenhocas maquínicas

são, assim, construídas para funcionar de maneira

autônoma na produção do som. A fabricação artesanal,

as gambiarras e a conjugação do low com o

high tech fazem frente à industrialização excessiva

dos objetos contemporâneos e ao ciclo de obsolescência

vertiginosa que acompanha essa produção.

A recuperação do artesanal e a combinação da tecnologia

digital com a analógica são parte do trabalho

de Paulo Nenflidio. Máquinas sonoras e outros

objetos surgidos da invenção e da improvisação de

materiais articulam a experimentação com a física

mecânica, a eletroacústica e a eletrônica, dentro

de uma elaboração formal e visual sofisticada.

"Máquina de trovão" recria sonoramente o fenômeno

eletromagnético através da programação

digital, que aciona os elementos eletromecânicos da

máquina-escultura de forma aleatória e autônoma.

A aproximação entre o natural e o tecnológico é, então,

resgatada por meio da simulação de ruídos naturais.

Em "The ballad of extended backyard", o artista

japonês Ujino resgata a poética dos ruídos do mundo

contemporâneo utilizando elementos heterogêneos

de segunda mão, como liquidificadores, secadores

de cabelo, lustres, toca-discos, partes de guitarra,

combinados para formar uma grande máquina

sonora que executa automaticamente uma seção

rítmica. A estrutura tem um funcionamento semelhante

ao de uma caixa de música: um toca-discos

provoca a rotação de um vinil ao qual se encontram

acoplados, na superfície, pedaços de lápis. Ao

atingir interruptores localizados acima do disco,

esses lápis fecham os circuitos elétricos que ligam

ou desligam os eletrodomésticos, produzindo sons

dentro de uma série rítmica uniforme. A partitura

torna-se algo visível, exposta ao espectador. A circularidade

dos padrões sonoros, na qual se perde

qualquer sentido de progressão ou conceito de

desenvolvimento sobre o tempo, faz da peça musical

de Ujino uma antissinfonia executada por um

grupo musical autômato 11 . Os mecanismos dessa

escultura sonora dotados de movimentos próprios

é que conduzem uma execução singular,

e proclamam a autonomia da máquina.

Do consumo de massa e do desperdício proveem o

excesso de elementos e a experimentação da capacidade

combinatória imanente de elementos ordinários, a

fim de se sair do comercialmente dado e consumido.

Surge, então, uma miscelânea de elementos agrupados

de forma não hierárquica, já que coloca num

mesmo patamar o objeto comum e o artístico, os

sons musicais e amusicais. Tudo é passível de combinação,

de incorporação. Essa congregação desafia

e subverte as distinções feitas pela cultura erudita,

entre os padrões estratificados e convencionais da

arte e os objetos e sonoridades do mundo.

83


Ao resgatar a poética dos ruídos do mundo, essas propostas artísticas

seguem as trilhas abertas da estética do noise (ruído) 12 , as técnicas

de sampling da música concreta 13 , a imprevisibilidade da música

aleatória e as possibilidades de programação da música eletrônica,

associadas intrinsecamente com a máquina, hardware e software

incluídos. A reconsideração do ruído como elemento musical termina

por colocar em questão e dispensar as convenções de harmonia,

escala e ritmo. Luigi Russolo, em princípios do século XX, sustentava

que a tecnologia pós Revolução Industrial deveria ser incorporada

imediatamente à arte. O ruído urbano, provocado por máquinas e

aparelhos elétricos, ao remeter à própria experiência da vida, não

poderia estar dissociado da experiência estética. A reconsideração

do ruído como elemento musical, assim como a utilização de

elementos extramusicais na composição, incluindo sons de qualquer

procedência, seguiu sendo experimentada na música concreta de

Pierre Schaeffer, nos anos 1940.

Na mesma década, John Cage elabora composições utilizando

objetos ordinários: sucata, potes de cozinha, liquidificadores,

chaleiras. Os ruídos contemporâneos e também o silêncio ressurgem

como componentes intrínsecos e necessários à experiência sonora

e musical. O silêncio é, para Cage, a base sobre a qual se organiza

a divisão métrica do tempo, e que fundamenta toda composição.

Sons de qualquer tipo poderiam, então, emergir em determinado

compasso sem qualquer sintaxe, ordem ou sentido de progressão.

O ruído formaria, assim, parte do silêncio. Combinados ao acaso,

os dois subscrevem possibilidades infinitas de variação e de

aleatoriedade. O mais importante seria aceitar as sonoridades

que irrompem no vazio e abrir-se à ausência de intencionalidade

na composição. A intencionalidade passa a ser, para Cage, a única

diferença entre os ruídos que brotam espontaneamente no silêncio

e aqueles provocados pelo músico.

Essa relação intrínseca entre o silêncio e o ruído ressurge na obra

"0:56:04", d'O Grivo, escultura sonora que, em homenagem a Cage,

tem a duração explícita no título. Essa duração métrica é o tempo

necessário para as engrenagens da pequena engenhoca construída

pelo duo provocarem um ruído: o som quase inaudível de uma haste

de metal percutindo sobre uma corda de instrumento musical.

Ao mesmo tempo, esse som ínfimo, que irrompe no silêncio da

nossa espera frente à obra, justifica ironicamente toda a complexa

estrutura de engrenagens. A obra conecta, portanto, a visualidade

e a sonoridade dos objetos concretos.

Em "Buraco", do coletivo Chelpa Ferro, uma caixa de madeira de

alto-falantes, um microfone e outros equipamentos de áudio ligados

em série tornam audível um ruído gerado pela associação e pelas

múltiplas traduções de impulsos entre um equipamento e outro.

A autoprodução eletromecânica do som problematiza o próprio

papel do músico como único criador de sonoridades e controlador

da composição e sugere um trabalho compartilhado com a aleato-

11 Os autômatos são mecanismos

eletromecânicos capazes de movimento

próprio, à semelhança do humano. Foram

especialmente populares no século XVIII

quando, ao integrarem feiras e parques

de diversão, produziam uma mistura de

curiosidade, assombro e repulsão por

onde passavam.

12 Noise é um termo usado para

descrever algumas variedades de músicas

experimentais e arte sonora que utilizam

ruídos acústicos ou eletrônicos, produzidos

de forma imprevista ou utilizando

gravações prévias. Essas experimentações

podem provocar efeitos de atonalidade, de

repetição, de cacofonia, de dissonância etc.

13 Sampling é a coleção, e posterior

combinação, de amostras pré-gravadas

de áudio.

14 Trata-se de projetos encontrados nas

plataformas digitais, como a internet,

que são de uso gratuito e, através do

acesso dado ao código de fonte, podem

ser alterados e redistribuídos por

qualquer usuário.

84


riedade dos instrumentos tecnológicos, analógicos

ou digitais.

MANIPULAÇÃO, HACKERISMO, AUTONOMIA

Alguns gambiólogos, ainda, se reapropriam de códigos

de circuitos eletrônicos já inventados, conhecidos por

open source, free software e open hardware 14 , disponíveis

na internet, para modificá-los em suas propostas

artísticas, associadas às práticas DIY. O uso dessas

plataformas na criação artística subverte o domínio

político-mercadológico que envolve as tecnologias

e conduz a arte a uma instância política, além de

problematizar características formais e conceituais

próprias da era da ciberinformação. O acesso ao

funcionamento interno dos dispositivos eletrônicos

ou, como nomeou Vilém Flusser, a abertura da

“caixa-preta”, possibilita a modificação simultânea

da máquina e de seu usuário, ação que ultrapassa

a interatividade da programação ordinária.

Às táticas de apropriação e desvio empregadas

nos projetos artísticos, agrega-se a realização de

oficinas abertas de eletrônica como ferramenta

para promover a horizontalidade do discurso e

o intercâmbio, inseridos na concepção DIY. Na

"Oficina de Jean Baptiste Gambièrre", promovida pelo

Coletivo Gambiologia (Fred Paulino, Ganso e Lucas

Mafra), é uma instalação em contínuo processo de

construção, que mostra, como em uma grande oficina

aberta, processos de produção, de desmontagem

de peças, de construção de gambiarras eletrônicas.

Com relação às oficinas realizadas pelo grupo

desde 2010, percebemos a intenção de se criar uma

aproximação efetiva dos indivíduos com os objetos

técnicos, direcionada para ampliar o conhecimento e

fomentar as ações de manipulação e ressignificação

criativa e inventiva desses objetos.

Essa prática de oficinas se alinha ao movimento

cultural maker, que surge em 2005 como uma forma

de potencializar uma abordagem mais participativa

da técnica e da tecnologia e contribuir com essa

abordagem, utilizando práticas DIY. Nesse contexto,

assistimos à emergência dos hackerspaces,

espaços comunitários em que se compartilham

ferramentas e conhecimentos e se reintroduzem,

após o afastamento do indivíduo da instância da

produção da era industrial, da fabricação direta, do

uso de habilidades e do envolvimento pessoal em

manutenção, transformação e invenção de artefatos

múltiplos envolvendo eletrônica, computação, robótica,

metalurgia, marcenaria, entre outras disciplinas.

Dessa forma, enfatiza-se o aprendizado por meio do

fazer, o trabalho colaborativo em rede e o compartilhamento

de conhecimento. A intencionalidade em

compartir e ampliar o conhecimento tecnológico se

apresenta como uma ferramenta política dentro de

um contexto global no qual a influência – política,

econômica, social e cultural – passa, sobretudo, pela

dominação tecnológica das grandes corporações.

Os objetos e instalações presentes em "Gambiólogos

2.0", construídos com uma variedade de elementos

oriundos de lojas de eletrônica, ferros-velhos, feiras

de antiguidade e lixo descartado nos ambientes

urbanos, recuperam a instância da invenção criativa.

LEDs, circuitos eletrônicos reaproveitados, adesivos,

bonecos, peças esculpidas de madeira, entre outros

materiais, compõem uma estética do excesso que

condiz com os excessos da contemporaneidade. Não

se trata apenas de refletir sobre um tipo de prática

artística que utiliza a baixa tecnologia e a reciclagem

de materiais, mas identificar um modo de reelaboração

criativa que criticamente reconsidera a definição

utilitária dos objetos, a ideia de progresso técnico e a

obsolescência dos dispositivos tecnológicos.

Juliana Gontijo é pesquisadora, docente e curadora

independente. Graduada em cinema pela Universidade

Sorbonne Nouvelle (Paris) e em Historia

da Arte pela Universidade Le Mirail (Toulouse),

atualmente é doutoranda em História e Teoria da

Arte pela Universidade de Buenos Aires. Trabalhou

na coordenação de exposições na Fundación PROA

(Buenos Aires, 2011-2012) e foi responsável pelo setor

cultural da FUNCEB (Buenos Aires, 2008 e 2009).

Coordenou o projeto de residência artística "Arte in

loco" (Buenos Aires - Rio de Janeiro), ganhador do

prêmio Rede Nacional Funarte 2009. É autora do livro

"Distopias tecnológicas" (Ed. Circuito, 2014), contemplado

com Bolsa de Estímulo à Produção Crítica

da Funarte. Foi docente em Estética e Teoria da Arte

no Instituto de Artes da Universidade do Estado do

Rio de Janeiro (2013-2014). Entre suas curadorias,

destacam-se "Instabilidade estável" (Paço das Artes,

São Paulo, 2014) e "Alter Máquina" (Instituto Di

Tella, Buenos Aires, 2015).

85


86

LUCAS BAMBOZZI


DAS COISAS QUEBRADAS

MÁQUINA DE CONSOLIDAÇÃO DE OBSOLESCÊN-

CIA A PARTIR DE CAMPOS ELETROMAGNÉTICOS

∙ APROX. 200 × 150 × 200 CM ∙ 2012

87


Instalação-máquina que se vale dos fluxos eletromagnéticos

existentes no espaço onde é instalada para deglutir aparelhos

de celular obsoletos. Quanto mais intensos são os sinais, mais

acelerada e efetiva é a operação da obra. Vários módulos aparecem

integrados, explicitando a precisão precária dos movimentos: o

mecanismo que empurra e dispensa os celulares, as engrenagens

e correntes acionadas pelo motor que move a morsa hidráulica,

um nicho de escoamento do material dilacerado. O funcionamento

é lento e preciso e obedece a padrões dinâmicos.

O trabalho trata do fluxo de comunicação que nos rodeia e sua

potencial transformação em dejetos. Somos usuários de um sistema

em teste contínuo, que jamais estará pronto. Utilizamos hardware

disfuncional e nos deixamos regular por redes que avançam sobre

nossas vidas. A onipresença da comunicação aumenta, e passamos a

ser agentes, operadores e reféns desse fluxo. Das coisas quebradas

opera entre as redes e o mundo real, em que a autonomia eventualmente

caduca, os princípios se mostram obsoletos e percebemos

que estamos na era da internet das coisas quebradas.

CONCEPÇÃO: LUCAS BAMBOZZI / DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO: RADAMÉS AJNA / MONTAGEM E MECÂNICA: LEONARDO CEOLIN / APOIO TÉCNICO: GUIMA SAN / ASSISTÊNCIA

E PRODUÇÃO: LUCIANA TOGNON / PROJETO COMISSIONADO PELA MOSTRA 3M DE ARTE DIGITAL

88


89


90


LEANDRO ARAGÃO

TIMECODE

VÍDEO-OBJETO ∙ TUBOS DE IMAGEM CRT, LÂMPADA, FERRAGENS,

PLACAS RASPBERRY PI, SISTEMA ELETRÔNICO AUDIOVISUAL ∙

01'16", SEM ÁUDIO, LOOP, 640 × 480 PX ∙ COR ∙ 35 × 30 × 100 CM ∙ 2014

91


92


Ampulheta digital montada com tubos de raios catódicos.

Se a ampulheta é um relógio de grãos de areia que caem,

Timecode é um relógio de videoframes de grãos de areia que não

caem, mas dão essa impressão. Cada frame retrata um instante

desse jogo entre a gravidade e os grãos da areia. A obra emula o

funcionamento da antiga invenção, mas também a subverte. No

relógio de areia, a força motriz vem da natureza. Na obra, ela é

uma invenção de seu criador, que edita o tempo ao seu modo,

assim como reedita o nosso próprio tempo, reintegrando a ele

tanto o tubo quanto a ampulheta. O tempo faz parte da obra, não

pode prescindir dela. Nesse sentido, o artefato parece se proteger

da ideia de prazo, aproximando a noção de tempo de algo mais

ligado ao sentido de ensejo.

Timecode não existe para ganhar tempo, mas para propor

um acordo, ganhar do tempo aquilo que dele é nosso, essa contínua

invenção.

93


MARIANA MANHÃES

THISTHOSE (WINDOW) ESTAAQUELA (JANELA)

VÍDEO DE ANIMAÇÃO ∙ LCD/DVD PLAYER, CIRCUITOS ELETRÔNICOS, MOTORES,

TUBOS DE PVC, VENTOINHAS, SACOS PLÁSTICOS ∙ APROX. 50 × 160 × 150 CM ∙ 2012

94


95


96

Uma janela que fala e respira é apresentada em um monitor.

Sensores de luminosidade captam a luz da tela e fazem a obra

reagir, inflando e desinflando sacos plásticos instalados no

trabalho, num movimento que lembra a respiração.


97


98


ARUAN MATTOS E FLÁVIA REGALDO

99


100


MÁQUINAS INÚTEIS: MÁQUINA DE ABSORÇÃO

ESCULTURA ∙ PARAJU, MUIRACATIARA, CERÂMICA, ÁGUA, VIDRO, RESIS-

TÊNCIA, TERMOSTATO ∙ 230 × 50 × 50 CM ∙ 2013

Uma estrutura de madeira sustenta um recipiente de vidro que, aproximadamente

a cada 50 segundos, libera uma gota de água. A gota despejada,

ao entrar em contato com a cerâmica, é lentamente absorvida. Uma

resistência em contato com a cerâmica libera calor através do controle

do termostato, evitando que ela fique saturada.

101


MÁQUINAS INÚTEIS:

MÁQUINA DE SUSPENSÃO

ESCULTURA ∙ PARAJU, MUIRACATIARA,

MINÉRIO DE FERRO, IMÃ DE NEODÍMIO,

VIDRO, METAL, MOTOR DE 1 RPM, VEN-

TOINHA ∙ 140 × 45 × 40 CM ∙ 2013

Um pequeno motor realiza um movimento

cíclico de descida e subida de um ímã.

Por sua vez, este se aproxima de grãos

de minério depositados dentro de uma

estrutura de vidro que, atraídos, entram

em suspensão. Com o afastamento do

ímã, os grãos caem novamente.

102


103


PAULO NENFLÍDIO

MÁQUINA DO TROVÃO

CONSTRUÇÃO EM MADEIRAS DIVERSAS, CIRCUITO ELE-

TRÔNICO, SOLENOIDE, CHAPA DE COBRE, CORDA DE AÇO,

TRILHO DE IMPRESSORA ∙ 150 × 50 × 30 CM ∙ 2014

CORTESIA: GALERIA A GENTIL CARIOCA

104


105


106

A obra produz uma composição

sonora e visual inspirada no momento

antes da chuva. Todo som

produzido é de origem acústica

e mecânica. Entre os elementos

sonoros, estão uma chapa de cobre

que, ao entrar em vibração em

frequências baixas, reproduz o

som de ventania e, ao vibrar em

frequências altas, simula um som

de trovoada. Uma corda produz

diversos harmônicos através de

um sistema de feedback eletromagnético.

Dentro de uma pequena

janela, estão os relâmpagos.

O silêncio também entra como

importante elemento na composição,

que é totalmente aleatória.


107


UJINO

THE BALLAD OF EXTENDED BACKYARD

(DINING SECTION REGENERATED)

A BALADA DO QUINTAL EXTENDIDO (SALA DE JANTAR REGENERADA)

INSTALAÇÃO ∙ SISTEMA DE SOM, INSTRUMENTOS MUSICAIS,

ELETRODOMÉSTICOS, LUMINÁRIAS, CONTROLADOR ELETRÔNICO

∙ 400 × 400 × 300 CM ∙ 2010-2014

CORTESIA: YAMAMOTO GENDAI GALLERY

108


Máquina de percussão em escala humana, parte da série Rotores. Utiliza

aparelhos eletrodomésticos comuns com motores e a tecnologia de amplificação

do Rock'n Roll para criar uma espécie de escultura sonora/projeto de

performance. Sua gênese é o consumismo de massa, a cultura do descartável

na qual fui criado, até 1989, com o fim de um Japão que estava mais rico e em

constante crescimento material.

O controle do sistema é feito pela Rotatorhead. Coloca-se na vitrola um disco

de vinil, em cuja superfície há pedaços de lápis de cor. O ritmo gerado pelo giro

do disco faz com que os lápis liguem e desliguem interruptores que controlam

as lâmpadas e eletrodomésticos.

109


110


111


MARK PORTER

TRANSLATOR (TRADUTOR)

ESCULTURA ∙ AÇO, ALUMÍNIO, BOMBA DE AR, VIDRO, TINTA,

CÂMERA, PROJETOR DE VÍDEO ∙ 170 × 150 × 120 CM ∙ 2014

"A obra foi inspirada pelo convite para participar da

exposição e a considero um intercâmbio com uma parte

do mundo que é estranha para mim. Translator é uma

metáfora para o intercâmbio cultural, interpretação/ruído

e troca de perspectiva. A escultura cria um desenho

na parede, expulsando um fluido composto por sabão

e pigmento. Uma câmera captura ao vivo o processo

de desenho, projetando-o em uma parede adjacente."

112


113


PRELIMINARY FOR AUTOHEMORRHAGING ACTUATOR

(PRELIMINAR PARA ATUADOR AUTOHEMORRÁGICO)

TRANSFERÊNCIA DE ÓLEO DE WINTERGREEN, GRAFITE, LÁPIS DE COR,

LÁPIS PASTEL, GESSO SOBRE PAPEL ∙ DIMENSÕES VARIADAS ∙ 2012

114


"Em 2012 eu apresentei uma instalação interativa, cinética, site-specific,

chamada Autohemorrhaging actuator. A obra era colaborativa.

Por meio de um sensor de movimento, a presença do espectador

causava marcas vermelhas sobre a superfície da parede. Quanto mais

interação, mais elaborado o desenho foi se tornando. Uma série de

desenhos preliminares foram então criados a partir do resultado."

115


FERNANDO RABELO

VENDA-$I

OBJETO ELETRÔNICO ∙ APROX.90 × 60 CM ∙ 2014

116


117


118


A obra originou-se da reutilização de diversos materiais que

seriam descartados pelo autor e de outros coletados nas ruas

durante os meses anteriores à exposição. Entre eles, estão sobras

de embalagens, peças de automóvel, cabos e carregadores de

celular semidanificados, moldura de janela, microprojetor, monitor,

parafusos, etc., conectados a um microcontrolador Raspberry PI.

O título propõe um ato de constante processo de venda de si

($i) às necessidades tecnológicas industriais, de consumo, que

substitui, de certa forma, o pensar/agir numa tecnologia local,

social e ambiental.

Venda-$i também trata da venda dos objetos de arte, e dos

artistas, cada vez mais construídos para o nicho do mercado/

galerias de arte. Os negócios são mais relevantes que o ato criativo.

119


120

PAULO WAISBERG


121


122


ABATEDOURO

BICHOS DE PELÚCIA DESMONTADOS E

CONECTADOS A UM CONTROLADOR ∙ 2014

Frangos robóticos pendurados em varal.

123


124


PULMÃO

SACOS PLÁSTICOS, VENTILADORES, LUZES VER-

MELHAS, COMPONENTES ELETRÔNICOS ∙ 2014

Está vivo e respira.

125


ANTHONY GOH E NEIL MENDOZA

ESCAPE II

ESCULTURA ∙ TELEFONES CELULARES, GAIOLA, ELETRÔNICOS ∙ APROX. 40 × 150 × 40 CM ∙ 2012

126


127


128


Telefones celulares são onipresentes na sociedade de hoje, mas

muitas vezes seu uso tem consequências indesejáveis, invadindo e

alterando nossa socialização e distanciando as pessoas, ao arrastálas

para o mundo digital. Também são uma fonte enorme de lixo

eletrônico. Esta instalação desengessa dispositivos e sugere uma

realidade alternativa, onde ruídos e telefones indesejáveis tornam-se

algo belo, proporcionando-lhes uma nova vida através da criação

de uma experiência coletiva compartilhada.

129


CARLOS M. TEIXEIRA VAZIO S/A

EXPOGRAFIA GAMBIÓLOGOS 2.0

O projeto expográfico busca não compartimentar as salas da exposição.

Evitando a ideia de separar as obras em ambientes estanques – solução

comum em exposições de muitas obras e pouco espaço –, a mostra tem seus

objetos justapostos num espaço contínuo. As telas metálicas que servem de

suporte para as obras não as separam por salas, assim criando uma sobreposição

visual de quadros e obras que confirma o conceito de acumulação e

colagem da mostra.

As inevitáveis paredes brancas usualmente criam salas estáticas e retiram

das galerias sua amplidão, transformando-as em espaços amorfos, clínicos,

domesticados. A expografia comum trata a continuidade espacial como um

problema e não consegue enxergar possibilidades na ideia de permeabilidade

visual. É por isso que projetar uma exposição quase sempre é sinônimo de

criar “ambientes” e, infelizmente, foi por isso que os cavaletes de vidro que

Lina Bo Bardi desenhou para o MASP foram arquivados por duas décadas.

Tal recusa dos agentes culturais mais conservadores em aceitar propostas

expográficas não estanques esteve longe da nossa experiência em "Gambiólogos

2.0". A exposição tem sua proposta curatorial articulada sobre a improvisação,

o colecionismo, a acumulação e a aceitação (ou não) da cultura popular nas

artes plásticas. E sua expografia procura refletir e se misturar com esses

temas, endossando a materialidade mundana de suas obras e procurando ser

um elemento capaz de potencializar a força dos objetos expostos.

FOTOS : GUSTAVO XAVIER

130


131


132


CIENTISTAS DA GAMBIARRA,

POETAS DO IMPERFEITO

RAQUEL RENNÓ

O repentista paraibano Pinto do Monteiro define

poesia como “a arte de se tirar de onde não tem

e colocar onde não cabe”. Caminhar por entre as

obras selecionadas para "Gambiólogos 2.0" nos

permite compreender a narrativa poética que

se constrói com obras de artistas de países e

épocas distintas ali exibidas. Poeta, autor, fazedor

são termos sinônimos do grego poete 1 . Os artistas

da gambiarra criam a partir do lixo, isto é, um

conjunto desprezado, simbolicamente excluído,

mas excedente em seu sentido material.

Os artistas gambiológicos atuam como poetas

porque ressignificam o que perdeu sentido em

um sistema de signos e adquiriu o significado

generalizante de lixo, de descarte. Na exposição,

Sara Ramo, em "Translado", introduz esse universo

ao mostrar o excesso de objetos que possuímos

e que nos identificam. O acúmulo é nossa sina.

Os objetos que possuímos e que transportamos

estão dotados por nós de significado. Muitas vezes,

é apenas isso o que os diferencia do lixo.

A destacada presença de Bispo do Rosário no conjunto

de "Gambiólogos 2.0" evidencia a escritura

poética como parte de seu trabalho. Bispo escreve

com os objetos. Seus "Painéis de Apetrechos" são

constituídos por frases divididas em quatro colunas.

O artista estrutura o caos como um poeta estrutura

versos, evidenciando elementos em uma

composição de rimas, de sonoridades diversas.

A construção poética, segundo Bakhtin, possui

essa característica de constante reinterpretação

do cotidiano, de reconhecimento de objetos que,

paradoxalmente, dadas a banalidade e a presença

massiva no mundo, tendem à invisibilidade:

[...] todo discurso concreto (enunciação) encontra

aquele objeto para o qual está voltado sempre,

por assim dizer, já desacreditado, contestado,

avaliado, envolvido por sua névoa escura ou,

pelo contrário, iluminado pelos discursos de

outrem que já falaram sobre ele. O objeto está

amarrado e penetrado por ideias gerais, por

pontos de vista, por apreciações de outros e por

entonações (BAKHTIN, 1935, p. 100).

Bakhtin (1990, p. 1-2) nota que apenas a práxis do

indivíduo permite conectar os três domínios da cultura

humana – a ciência, a arte e a vida. Sem esse

fazer contínuo, há o que o autor denomina de ações

“mecânicas”, um conjunto cujos elementos estão

unidos no espaço e no tempo de modo externo,

sem estarem imbuídos de uma unidade interna de

significação; as partes do todo são contíguas, mas

permanecem distantes umas das outras. O único

modo de superar o fazer mecânico seria “evitar a

inspiração que evita a vida e é por ela ignorada”.

Sem o cotidiano, enfim, não há fazer artístico.

O artista gambiólogo é também um colecionador

que tem um olhar atento à recolha e à seleção

do que vai ser usado e às infinitas combinações

que podem ser propostas. Na obra gambiológica,

o processo define o conceito. É a partir do que se

encontra, do que está disponível que o resultado

aparece. É a quantidade, o excesso que define

seu fazer poético.

Os processos gambiológicos são velhos conhecidos

de pessoas das mais variadas culturas, exista um

nome específico para essas práticas em outros

idiomas, ou não. O impulso gambiológico é nato;

daí a necessidade de controle constante do lixo

por parte do poder público, que em alguns casos

pune quem recolhe dejetos sob a justificativa da

manutenção da higiene e da segurança 2 .

133


O foco da gambiarra não é o produto, é o processo. O não planejamento

das construções informais trata de acoplamentos, de

justaposições que vão ocorrendo pouco a pouco. É mais Tetris e

Lego que arquitetura. São soluções que, por isso mesmo, tornam-se

máquinas inúteis e extremamente críticas. A gambiarra é, portanto,

também um ato contestatório. Uma constante desobediência ao

planejamento limpo que oculta seus processos constituintes e que

impõe apenas um uso aos objetos, previamente determinado de

cima para baixo. Daí decorre o equívoco de se aceitar a arte da

gambiarra como produção cotidiana, mas não a gambiarra na arte,

em seus espaços excludentes, sob a acusação de uma “cosmética

do precário” (OBICI, 2014, p. 69).

A gambiarra trata de processos que ocorrem de modo mais evidente

em contextos de limitação econômica, mas os transcende. É apenas

quando o “faça você mesmo” é sucumbido pela estrutura

industrial de massa (por meio de ações de força do marketing e do

próprio poder público), quando o espaço artístico recolhe-se em

um “distanciamento estético”, como define Bourdieu (2007, p. 35),

que a potência de um discurso pode ser silenciada em pura indiferença.

Dessa forma, a crítica às forças de poder, principalmente

industrial e tecnológico, aparece de distintas maneiras, mas de

modo constante nas obras da exposição.

A exposição traz o espaço urbano para dentro da galeria. Não

como representação congelada, mas especialmente mostrando os

processos e fluxos que ocorrem na cidade. Soja (1993, p. 19) disse

que os arquitetos e urbanistas ainda estavam atados ao espaço

percebido e ao espaço representado, mas tinham dificuldade em

participar do espaço vivenciado. Nesse aspecto, as obras expostas

possibilitam uma virada na compreensão da gambiarra nas

galerias, posicionando-a como algo que vai além da estetização

do residual, embora o residual tenha uma estética, e isso esteja

bastante claro na exposição. Como coloca Denise Scott Brown (1969,

p. 185), “mesmo depois que as modas artísticas mudarem, ainda

estaremos aqui, porque esta é uma cidade pop, esta aqui, a que

temos”. Nesse sentido, gambiarra é uma chamada e um convite

à participação.

A obra gambiológica nunca se percebe como ponto final, somente

como um intervalo. Se, como Perec (2001, p. 47), concordamos que

o espaço é uma dúvida e nunca nos é dado, teremos que acreditar,

também, que o processo de designação temporária que as obras gambiológicas

evidenciam faz delas a ciência das ruas, do nomadismo,

do pensamento em movimento. Um tipo de arte/ciência que assume

que pode pontuar mas não isolar, que deve apresentar em

conjunto o emaranhado de onde provém. Uma ciência que mostra

continuamente o protagonismo dos procedimentos processuais

em relação à obra finalizada.

134


Ao combinar artistas de trajetórias e contextos muito distintos,

"Gambiólogos 2.0" problematiza também o ciclo de obsolescência

das marcas e conceitos rígidos que o próprio mercado da arte

constantemente impõe. O que poderia servir de traço distintivo,

portanto, vira um traço comum, permeável a jovens artistas que

trabalham com eletrônica, robótica, artistas populares e artistas

contemporâneos que utilizam pouco ou nada das tecnologias

digitais. Dessa forma, a gambiarra conecta a produção da cultura

popular à arte. Não é uma institucionalização de uma prática exclusiva

das ruas, mas a evidência de que o artista popular e o artista

erudito possuem processos similares, mostrando uma possibilidade

transgressora que vai além das obras e traz reflexão crítica sobre

o próprio espaço da arte.

Joseph Morris, com as obras da série "Mere things", traz a banalidade

dos objetos e a simplicidade da estrutura maquínica

que propõe um modo de se reconectar com os objetos que

compartilhamos. Retoma o que fala Bakhtin sobre a importância

da presença humana na conexão entre arte, ciência e vida.

Cao Guimarães, com suas "Gambiarras", evidencia o repertório

das ruas e de blogs como There, I fixed it 3 , além dos milhares de

posts com gambiarras, dos mais variados tipos, compartilhados

em redes sociais diariamente, o que confere um novo sentido às

obras e contribui para apagar as fronteiras rígidas entre o espaço

expositivo e o que ocorre fora dele.

Há que se referendar, ainda, a própria disposição das obras na

exposição, deixando claro que não estamos no tradicional cubo

branco das galerias, ou no cubo negro das exposições de arte digital.

As estruturas de metal que dividem (e não isolam) a sala propõem

um espaço que remete às oficinas de trabalho, o que podemos

chamar de cubos cinza.

Não é casual que os Gambiólogos (Fred, Lucas e Ganso), dentre

tantas atividades realizadas, nunca tenham deixado de lado as oficinas,

que, aliás, são parte da própria exposição "Gambiólogos 2.0".

As atividades integram o processo de se entender a ciência da gambiarra

como algo que se constrói coletivamente e de modo contínuo.

O ato de construir é parte fundamental da ciência gambiológica.

Sennet (2009, p. 45) nota que a separação criada entre as ações da

mão e da mente não é apenas intelectual, mas social. Incluir o

fazer artesanal nessa dinâmica é subversivo, na medida em que

substitui distanciamento por familiaridade e por participação, sem

necessariamente cair em armadilhas das chamadas tecnologias

interativas, que, em grande parte, apenas reproduzem modos de

participação pré-programados e previsíveis das interfaces comerciais.

Ujino menciona que espera “que no futuro as pessoas possam

conectar e rearranjar tecnologias a partir do que elas mesmas

queiram”. É o mesmo que ocorre com Jorge Crowe, artista sonoro

que participou da exposição com uma performance. Jorge é artista

mas também oficineiro de longa data. Nas oficinas, ele organiza o

1 Early 14c., “a poet, a singer” (c.1200 as

a surname), from Old French poete (12c.,

Modern French poète) and directly from

Latin poeta “a poet”, from Greek poetes

“maker, author, poet”, variant of poietes,

from poein, poiein “to make, create,

composse”, from PIE *kwoiwo – “making”,

from root *kwei – “to pile up, build, make”

(cognates: Sanskrit cinoti “heaping up,

piling up”, Old Church Slavonic cinu “act,

deed, order”). Disponível em: http://www.

etymonline.com/index.php?term=poet.

Acesso em: 26 fev. 2015.

2 Sobre o tema, a obra Os respigadores e

a respigadora, de Agnès Varda (2000), é

um ensaio fílmico fundamental.

3 http://failblog.cheezburger.com/

thereifixedit

135


que reside na essência de seu trabalho. Seu Laboratório

de Juguete, ou Toylab, é um modo de

reconstruir brinquedos tecnológicos baratos (made

in China) com outras funções ou características.

É um método de reconhecer os objetos, principalmente

brinquedos, que são produzidos e vendidos

em massa em todo o mundo.

Desde o significado original 4 até o uso atual na língua,

gambiarra trata do que conecta. E, se há algo

de típico nas gambiarras, esse algo é que as conexões

se fazem constantemente visíveis. Enquanto

os arranjos tecnológicos comerciais ocultam os

processos dos quais se resultam e apresentam-se

de modo quase mágico para os consumidores, a

gambiarra expõem suas conexões. Como nota Obici

(2014, p. 43), “(…) a gambiarra institui, mesmo que

temporariamente, a inversão dos desígnios embutidos

na tecnologia, revelando o avesso da ordem

que ela instaura”. Podemos ver como as partes

se combinam, como a estrutura está organizada.

O que constatamos na exposição não é apenas uma

conexão estética entre as obras dos artistas, mas

um mecanismo de operação dos mais importantes.

Gambiologia é, assim, a ciência da gambiarra.

O cientista-experto se evidencia como construção

na figura de Jean-Baptiste Gambièrre, que ironiza

o cientista como detentor de um saber que recusa

o mundano e as rígidas estruturas oficiais de validação

do que se considera ou não ciência. No entanto, se

olharmos para além do senso comum do que se considera

ciência, podemos ver que há muito de gambiarra

no processo científico. O ato de coletar, selecionar

e reordenar, de se retirar de um conjunto existente

o que se considera interessante e estruturá-lo em

novas combinações, “unindo duas coisas que pertencem

a mundos distintos… este é o principio do

salto científico e criativo” (SENNET, 2009, p. 211).

No método científico, as hipóteses são confirmadas

ou refutadas, mas sempre se aprende do experimento.

Nesse ponto, o cientista e o hacker atuam

da mesma maneira:

se você faz um experimento e requer que ele

tenha o resultado que você espera, isso não é

boa ciência, na verdade isso não é nem ciência.

Ciência significa que você está aberto ao experimento,

tenha ele o resultado esperado ou não. (...)

A ciência, assim como o hacking, pede muitos

fracassos. Antes de propor novas teorias você

deve tentar muitas vezes, experimentar muito

e os resultados serão continuamente inesperados.

É assim que você aprende e é assim que a

ciência progride (ALTMAN, 2014).

A subversão nas práticas da ciência se relaciona

com processos criativos na arte que se apropria

da ciência e da tecnologia e supera dicotomias

entre amador e profissional, digital e analógico

ou mesmo entre o conhecimento tradicional e o

científico. Essas práticas dialogam com as propostas

de ciência aberta e de compartilhamento

de conhecimento que vemos atualmente nos

hackerspaces e laboratórios de ciência “faça você

mesmo”. A Gambiologia ainda propõe uma ciência

do coletivo, do “faça você mesmo”, mas também

a ciência que tem relação com processos científicos

mais tradicionais, de pesquisa, análise e

proposição de resultados que podem ser tornados

mais genéricos ou amplos. Da mesma forma, há

uma correlação entre acúmulo tanto da parte do

cientista quanto da parte do gambiólogo. Mais do

que subverter a arte e a ciência, a Gambiologia

é uma alegoria que pertence à arte e à ciência.

Enquanto máquinas trabalham na produção da

perfeição, os gambiólogos retomam a imperfeição

no arranjo de objetos para compor as obras. Não

se trata de uma mera apropriação dos objetos

vulgares e cotidianos em arranjos formais que

mantêm o distanciamento entre público e obra; a

gambiarra aparece como modo de discutir os processos

comunicativos em sistemas tão complexos

como os que conectam a linguagem humana à

artificial, como faz Zaven Paré, que trata da robótica

a partir da linguagem. Como bom conhecedor

da linguagem, sabe que ela deve ser incompleta.

Esse é o paradoxo do robô: se aparece “perfeito”,

está fechado em um ciclo, em si mesmo. E deixa

de comunicar. Apenas a abertura, a diferença e

a incompletude produzem informação. Dentro

dessa perspectiva, também podemos mencionar

o trabalho de Mark Porter, "Translator", que

nos mostra uma escultura cinética que gradualmente

vai alterando o espaço onde está inserida.

O mechanical-drawings-turned-sculptures “retrata a

irregularidade das ações humanas”. Ao invés da

linguagem nivelada, necessária para a comunicação

entre máquinas, Porter traz a máquina como

geradora de linguagens irregulares.

136


Mariana Manhães, em "Thisthose (window)", por sua vez, mostra

seu estúdio como se estivesse vivo, com objetos que “suspiram”.

Paulo Waisberg, com as obras "Pulmão" e "Matadouro", amplia essa

sensação de angústia dos objetos e das máquinas. Mais uma vez,

o antropomorfismo (principalmente em "Matadouro") se mostra

de modo incompleto, aberto, imperfeito, mas necessário para que

nos conectemos com essas máquinas que descartamos.

Anderson diz que a cultura maker anuncia a terceira Revolução

Industrial, com a possibilidade da customização do design e

da produção individualizada. Mesmo com todos os já conhecidos

problemas sociais, econômicos e ecológicos que a produção

industrial vem gerando, ainda vivemos sob o fascínio da possibilidade

de construir coisas. Dentro desse constante culto

ao objeto, a gambiarra adquire relevância como alternativa

e crítica, como nos mostram Anthony Goh e Neil Mendoza com

"Escape II", um “pássaro” feito de componentes de celulares em

uma gaiola, que nos convida a observar e, ao mesmo tempo, nos

dar conta do gadget que nos observa e nos controla continuamente,

construído com restos de aparelhos que foram descartados. Se, por

um lado, ainda perdura a associação do “faça você mesmo” e da

gambiarra como prática de contextos econômicos em que “não há

outra alternativa”, por outro, os artistas gambiológicos nos mostram

que há muito mais nessas práticas do que pode parecer. Há uma

estrutura cognitiva, um modus operandi que enfrenta o excesso e

o caos e, dele, retira um modo de conhecimento.

Questionar “as máquinas perfeitas” implica também em questionar

os conceitos de velocidade e eficiência inerentes ao discurso da indústria

tecnológica. Isso fica evidente na série de Aruan Mattos e Flávia

Regaldo, “Máquinas inúteis”. Os artistas nos mostram máquinas

que subvertem a rapidez das máquinas tecnológicas digitais.

Impõem outra temporalidade, propõem contemplação e espera.

E não respondem às demandas de processamento complexo nem a

funções que buscam a efetividade das máquinas. Guto Lacaz, por

sua vez, é um mestre em máquinas inúteis. Seus acoplamentos

entre objetos e funções distintas remetem à efemeridade das construções

da favela. Mauro Alvim, com "Pai, eu quero escangalhar a

matadeira", constrói um boi-canhão com sucata de ferro. A escultura

é parte de uma série sobre a Guerra de Canudos e traz a utopia

de um mundo possível de ser conduzido de modo horizontal, fora

das hierarquias excludentes. Interessante pensar que Canudos

também nos remete à origem do termo favela 5 , a configuração

urbana que mais se associa às práticas da gambiarra no Brasil,

inclusive a partir da acepção nos dicionários, que fazem referência

às conexões clandestinas de luz.

As obras gambiológicas também questionam a ideia de tecnologia

como algo globalizado, abstrato e limpo. A tecnologia, seja high seja

low tech, é suja e concreta. A diferença reside entre objetos que nos

permitem observar essas características e outros que se ocultam

4 De acordo com tese de Giuliano Obici,

Houaiss aponta o surgimento do termo

gambiarra em 1881, período síncrono da

industrialização e da urbanização que se

dão na passagem do século XIX para o XX.

A gambiarra aparece com o desenvolvimento

e o crescimento desordenado das cidades e o

aparecimento das favelas, constituídas por

moradias precárias (barraco e puxadinho),

falta de infraestrutura (gambiarra) ou falta

de regularização que abre um campo para o

exercício de práticas ilegais.

5 Favela se referia às plantas comuns nos

morros onde estava construída Canudos.

6 http://en.wikipedia.org/wiki/Great_Pacific_

garbage_patch.

7 Arthur Cravan se afogou no Pacífico, em

1918, mesmo oceano onde temos a maior

área de lixo em todo o mundo, o já citado

Great Pacific Garbage Patch.

8 “God becomes evil”, ou: “Deus torna-se

o Diabo”.

137


sob o manto da pura abstração. Mackenzie (2006,

p. 3) critica o erro em se limitar a entender a tecnologia

e mesmo o software como virtualidade. Para ele,

é necessário ver o código como prática e matéria,

até mesmo para compreender como se deu

a construção discursiva que deu origem à ideia

de invisibilidade e, consequentemente, a todas as

implicações sociais e políticas deste fenômeno.

Assim, retiramos a tecnologia do ambiente puramente

técnico e podemos compreendê-la a partir

de seus entrelaçamentos com as práticas culturais.

O código expressa relações abstratas e operações

formais entre distintos grupos. O contexto concreto,

social, econômico, intelectual e mesmo físico onde

esses grupos estão tem impacto direto na construção

do código.

Ao ressignificar o lixo, os dejetos, os artistas selecionados

questionam o ciclo da obsolescência

programada, da imposição constante da prática

de usar e jogar fora. Da mesma forma, a materialidade

das tecnologias se faz presente de modo

evidente. Lucas Bambozzi, com a instalação

"Das coisas quebradas", traz uma máquina que

destrói celulares, evidenciando a saturação e reduzindo

objetos de presença massiva, que, ao mesmo

tempo, são objetos de status e estão na condição

de sucata. A obra de Fernando Rabelo, "Venda-$i",

é composta de circuitos usados em um conjunto

que se mostra falho, decadente, pleno de erros.

É a tecnologia em seu funcionamento real, circuitos

expostos encontrados em pilhas de lixo contra os

circuitos ocultos das novas máquinas.

A exposição, portanto, trata de um tema contemporâneo,

um retrato do que vivemos. Se nos afogamos

em lixo, se o antropoceno está na pauta das

discussões filosóficas, ecológicas, tecnológicas, se,

em um futuro não tão distante, nosso mar será um

Great Pacific Garbage Patch 6 , a Gambiologia revela

o mais concreto de nossa existência: a busca da

perfeição e da fórmula da vida nas ciências, de

um lado, e um planeta cada vez mais destruído e

coberto de lixo, de outro. As obras dialogam com

esse contexto paradoxal. Os gambiólogos são os

artistas do antropoceno. Uma obra que resume isso

é "Viemos do mar", de Farnese de Andrade, que

mostra um conjunto de peças marítimas misturadas

com objetos cotidianos que nos dão a ideia de

que estamos olhando nossas próprias entranhas.

O que não deixa de ser verdade: os dejetos são

nossas entranhas abertas, nossa produção maior,

com a qual cobrimos o mundo.

Como poetas do excesso, os artistas gambiólogos

recuperam a frase do poeta Arthur Cravan 7 , “eu

tenho 20 países em minha memória e as cores de

cem cidades em minha alma”. Se nosso contexto

de vida atual revela o fracasso do homem como

demiurgo, reside na força da criação imperfeita

o fazer poético que tira de onde não tem e coloca

onde não cabe, ou, como disse Nam June Paik:

“When too perfect, lieber Gott böse 8 ”.

Raquel Rennó (São Paulo, 1972) é professora adjunta

do Centro de Cultura, Linguagens e Tecnologias

Aplicadas – CECULT da Universidade do

Recôncavo da Bahia e professora do mestrado em

Artes, Cultura e Linguagens do Instituto de Artes

e Design da Universidade Federal de Juiz de Fora.

Doutora em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia

Universidade Católica de São Paulo (2007). É consultora

dos cursos de extensão universitária em Arte

e Tecnologia e membro do conselho de redação da

revista ARTNODES da UOC (Universitad Oberta de

Catalunya). Pesquisadora-líder do grupo de estudos

em Práticas Artísticas, Espacialidade e Ciências

da Vida (PAEC/CNPQ) e membro do International

Society for Biosemiotics, do International Center

for Info Ethics (ICIE) e do Bioart Society (Helsinki).

Participa de projetos de pesquisa e experimentação

em arte e cultura digital com artistas e pesquisadores

latino-americanos e europeus na Associação

Cultural ZZZINC (Barcelona). Membro da ONG

Outras Tribos-Bailux, que atua no âmbito da inclusão

digital e preservação cultural com ativistas e

lideranças da comunidade Pataxó de Aldeia Velha. Codirige

o festival Tropixel, nodo brasileiro do Pixelache

(Finlândia), plataforma transdisciplinar para artes

experimentais, design, pesquisa e ativismo.

138


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ALMEIDA, J.; SILVA, J. A. Ordenação

e vertigem. São Paulo: Centro Cultural

Banco do Brasil, 2003.

ALTMAN, M. The hackerspace

movement. In: TED BRUXELAS, 14 nov.

2012. Disponível em: https://www.youtube.

com/watch?v=WkiX7R1-kaY. Acesso em:

20 jan. 2015.

_________ The importance of failure.

In: 15ÈME RECONTRES MONDIALES DU

LOGICIEL LIBRE, Montpellier, 13 ago. 2014.

Disponível em: https://www.youtube.com/

watch?v=Hwuqrv8aeyo. Acesso em: 15

dez. 2014.

ANDERSON, C. Makers: The new

industrial revolution. New York: Crown

Business, 2014

BAHKTIN, M. Art and answerability.

Texas: University of Texas Press, 1990.

______ Questões de literatura e de estética:

a teoria do romance. 2. ed. São Paulo:

Unesp Hucitec, 1990

BOUFLEUR, R. N. A questão da

gambiarra: formas alternativas de

desenvolver artefatos e suas relações com

o design de produtos. 2006. Dissertação

(Mestrado em Design e Arquitetura) –

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo,

Universidade de São Paulo, São Paulo,

2006. Disponível em: http://www.teses.

usp.br/teses/disponiveis/16/16134/tde-

24042007-150223/. Acesso em: 26 fev.

2015.

BOURDIEU, P. Distinção – A distinção

crítica social do julgamento. São Paulo:

Edusp, 2007.

BOUMAN, O.; KHOUBROU, M.;

KOOLHAAS, R. (Orgs.). Al Manakh.

Amsterdam: Archis Foundation, 2007.

CRAVAN, A. Cravan. Œuvres. Paris:

éditions Ivrea, 1992.

DELGADO, M. Sociedades Movedizas.

Barcelona: Anagrama, 2007.

KOOLHAAS, R.; BOERI, S.; KWINTER, S.;

FABRICIUS, D.; TAZI, N.; OBRIST, H. U.

Mutaciones. Barcelona: Actar, 2001.

LALLEMENT, M. L’age du faire: Hacking,

travail, anarchie (la coulers des idées).

Paris: Seuil, 2015.

MACKENZIE, A. Cutting Code – Software

and sociality. New York: Peter Lang, 2006.

OBICI, G. L. Gambiarra e

experimentalismo sonoro. 2014. Tese

(Doutorado em Musicologia) - Escola de

Comunicações e Artes, Universidade de

São Paulo, São Paulo, 2014. Disponível

em: http://www.teses.usp.br/teses/

disponiveis/27/27157/tde-30102014-

153449/. Acesso em: 26 fev. 2015.

PEREC. G. Especies de Espacios.

Barcelona: Montesinos, 2001.

SCOTT-BROWN, D. On pop art,

permissiveness and planning. AIP

Journal, p. 184-186, maio 1969.

SENNETT, R. The Craftsman. New

Haven: Yale University Press, 2009.

SOJA. E. Geografias pós-modernas:

a reafirmação do espaço na teoria social

crítica. Tradução Vera Ribeiro. Rio de

Janeiro: Zahar, 1993.

139


140


COLETIVO GAMBIOLOGIA

FRED PAULINO ∙ LUCAS MAFRA ∙ PAULO HENRIQUE PESSOA ( GANSO )

A OFICINA DE JEAN BAPTISTE GAMBIÈRRE

E SEUS DISCÍPULOS

OCUPAÇÃO ∙ GAMBIARRAS, TÉCNICAS MISTAS ELETRÔNICAS, COLECIONISMO

PSICODÉLICO ∙ DIMENSÕES VARIADAS ∙ 2008/2014

141


142


143


144


145


146


147


Grande instalação processual que simula o ateliê do patrono

fictício da Gambiologia. Trata-se de uma ocupação temporária,

em constante transformação durante o período de Gambiólogos

2.0, que remete aos ateliês de trabalho do grupo e às oficinas de

cientistas da gambiarra como um todo.

Nesta instalação, o Coletivo Gambiologia apresentou a maior

parte de seu acervo criado entre 2008 e 2014, além de peças

inéditas produzidas para esta mostra. Estiveram expostos objetos

de coleções pessoais dos integrantes e trabalhos que incluem:

assemblages, esculturas, luminárias, projeções, adesivoterapia,

o Gambiocycle (triciclo-conceito multimídia) e eletrônicos dos

mais diversos.

Novos trabalhos foram sendo desenvolvidos e incorporados

durante o período do evento e também foram realizadas, na

instalação, oficinas de gambiologia para o público visitante.

A obra só foi considerada concluída no último dia da exposição,

quando aconteceu um evento de "desinauguração".

148


149


150


151


152


153


154


155



BIOGRAFIAS

BIOGRAPHIES


ANTHONY GOH

Artista interdisciplinar que trabalha com escultura

e movimento. Seu trabalho é um estudo profundo

e meditativo sobre a natureza da consciência humana

e centra-se na forma como a nossa relação

com o mundo natural pode mudar radicalmente

nossas ideias sobre o que realmente somos. Além

de fazer obras de arte e performance, ministra

oficinas sobre movimento, meditação e aprofundamento

de nossa conexão com a natureza.

ARTHUR BISPO DO ROSÁRIO

Nascido em Japaratuba, Sergipe, em 1909. Viveu

por meio século recluso em um hospital psiquiátrico.

Transitando entre a realidade e o delírio,

acreditava estar encarregado de uma missão divina

e utilizava materiais dispensados no hospital

para produzir peças que mapeavam sua realidade.

Valendo-se da palavra como elemento pulsante,

manipulou signos e brincou com a construção e a

desconstrução de discursos para criar bordados,

assemblages, estandartes e objetos que seriam,

posteriormente, consagrados como obras referenciais

da arte contemporânea brasileira. Faleceu em

1989, no Rio de Janeiro, recebendo reconhecimento

póstumo imediato. Em 1995, representou o Brasil

na 46ª Bienal de Veneza. Em 2012, foi o artista

homenageado na 30º Bienal de São Paulo.

ARUAN MATTOS E FLÁVIA REGALDO

Naturais de Belo Horizonte, trabalham juntos

desde 2009. Participaram de diversas exposições,

bolsas e residências. Em 2009, receberam

o prêmio Interações Estéticas Funarte; em 2010,

realizaram residência artística no JA.CA – Jardim

Canadá Centro de Arte e Tecnologia (MG); em 2011,

participaram do Programa Rede Nacional Funarte

Artes Visuais; em 2011, integraram o programa

de exposições do Centro Cultural São Paulo; em

2013, receberam a Bolsa Funarte de Estímulo à

Produção em Artes Visuais; em 2014, participaram

de residências artísticas no museu La Ene (ARG)

e Ateliê Aberto (SP).

CAO GUIMARÃES

Nasceu em 1965, em Belo Horizonte, onde vive e

UK

BR

BR

BR

trabalha. Seus trabalhos são fotografias e peças

audiovisuais expandidas, situadas na fronteira entre

filme e artes visuais. Teve filmes exibidos em:

Festival de Locarno, Sundance Film Festival, Cannes

Film Festival, Rotterdam International Film Festival,

entre outros. Seu longa metragem “Otto” (2012)

recebeu três prêmios no Festival de Brasília do

Cinema Brasileiro (2012). Participou da Bienal de São

Paulo, da Bienal do Mercosul, da Bienal de Montreal e

da Bienal de Arquitetura e Urbanismo de Shenzhen.

Sua obra está representada internacionalmente

em museus e coleções privadas como: Fondation

Cartier, Tate Modern, Guggenheim Museum (Nova

Iorque), Museu de Arte Moderna de São Paulo, MoMA

e Instituto Inhotim, entre outros.

CARLOS M. TEIXEIRA

Formado em arquitetura pela UFMG e mestre em

urbanismo pela Architectural Association (Londres).

Fundou o estúdio Vazio S/A, onde desenvolve

pesquisas urbanas com grupos interdisciplinares

e projetos arquitetônicos. Publicou os livros “Em

Obras: História do Vazio em BH”, “O Condomínio

Absoluto”, “Espaços Colaterais”, “Entre: Architecture

from the Performing Arts” e foi bolsista do

programa Virtuose do Ministério da Cultura. Expôs

seus trabalhos na IV Bienal de Arquitetura de

São Paulo; Pavillion de l’Arsenal (Paris), IX Bienal

de Arquitetura de Veneza, RIBA (Londres), Victoria

& Albert Museum (Londres) e 29ª Bienal de Arte

de São Paulo, entre outros.

CHELPA FERRO

BR

Grupo composto pelos artistas Luiz Zerbini, Barrão

e Sérgio Mekler. Realizam desde 1995 um trabalho

que mistura experiências com música eletrônica,

esculturas e instalações tecnológicas em apresentações

ao vivo e exposições, realizando trabalhos

em diversos formatos: objetos, instalações, vídeos,

performances, apresentações de palco e discos. O

trio faz uso não convencional dos instrumentos

musicais, além de incorporar às performances instrumentos

inventados a partir de eletrodomésticos

e objetos de uso cotidiano, explorando os limites

entre barulho e música. Apresentou-se em museus

e galerias de arte no Brasil, na Europa e nos

Estados Unidos e em bienais como as de Veneza,

São Paulo e Havana. Seus integrantes vivem e tra-

BR

158


balham no Rio de Janeiro, onde exercem também

trajetórias artísticas individuais.

coletivo GAMBIOLOGIA

Formado em 2009 pelos artistas e designers Fred

Paulino, Lucas Mafra e Paulo Henrique Pessoa

(Ganso), o grupo adota a gambiarra como inspiração

para trabalhos em arte e tecnologia. Sua

produção desdobra-se em múltiplas iniciativas

como: criação de eletrônicos, instalações, esculturas

e objetos decorativos; circuito de oficinas

de arte eletrônica e reciclagem; organização de

projetos colaborativos como a exposição “Gambiólogos”

e a “Facta - revista de gambiologia”. O trio

participou de diversos eventos no Brasil e exterior

como: Zero1 Biennial (EUA), ISEA - International Society

for Electronic Arts (EUA), Cream - International

Festival for Arts and Media (Japão) e Mostra 3M de

Arte e Tecnologia (São Paulo). Receberam, em 2011,

menção honrosa no Prix Ars Electronica (Áustria).

DIRCEU MAUÉS

Graduado e mestre em Artes pela UnB. Atuou

como fotógrafo nos principais jornais impressos

de Belém-PA de 1997 a 2008. Em 2003, iniciou

trabalho autoral nas áreas de fotografia, cinema

e vídeo, realizando pesquisas com a construção

de câmeras artesanais e utilização de aparelhos

precários. Foi artista residente, pelo programa Rumos

Itaú Cultural, em Künstlerhaus Bethanien/

Berlim. Recebeu a bolsa Funarte de estímulo à

criação artística. Foi premiado pelo Videobrasil

(São Paulo) com residência em WBK – Vrije Academy,

Haia, Holanda. Seus trabalhos fazem parte

dos acervos: Coleção Pirelli-Masp de Fotografia,

Coleção Fnac, Festival Internacional de Arte Contemporânea

Sesc – Videobrasil, Museu de Arte

Contemporânea do Paraná, Museu do Estado do

Pará, entre outros.

FARNESE DE ANDRADE

Natural de Araguari - MG (1926). Começou a carreira

como desenhista e gravador e, a partir de

1964, iniciou a produção de assemblages, utilizando

principalmente poliéster, madeira, peças de antiquário

e objetos ressignificados. Residiu em Roma

e Barcelona. Durante sua vida, recebeu prêmios,

BR

BR

BR

realizou exposições individuais e participou de

importantes eventos no Brasil e no exterior, como

Bienal de Veneza, Bienal de São Paulo, Bienal Pan-Americana,

Salão Nacional de Arte Moderna e Bienal

Internacional de Escultura. Faleceu em 1996 no Rio

de Janeiro. Seus trabalhos permanecem sendo

apresentados no Brasil e exterior.

FERNANDO RABELO

Natural de Belo Horizonte - MG. É coordenador

do curso de Artes Visuais da UFRB, em Cachoeira

- BA. Participou de exibições internacionais

e nacionais e recebeu o 8º Prêmio Sergio Motta

de Arte e Tecnologia (2009/2010). Suas obras são

baseadas em possibilidades tecnológicas reconfiguradas

de forma crítica, reflexiva e propositiva,

em que convivem animação, ilustração, projetos

educativos e instalações com gambiarras domésticas

interativas ou sistemas sofisticados de projeção

digital. Recentemente, criou o 1º Festival de

Projeções Mapeadas e Interativas – Reconvexo.

FRED PAULINO

Natural de Belo Horizonte - MG (1977), onde vive e

trabalha. É cientista da computação pela UFMG e

pós-graduado em arte contemporânea pela UEMG.

Atua desde os anos 1990 como artista, designer,

curador e pesquisador, com interesse nas relações

entre arte, tecnologia, política e cultura popular.

Realiza obras em diversos suportes: eletrônica,

programação, experimentações gráficas, colagens

de objetos, street art e vídeo. Foi diretor criativo

do Osso Design e um dos fundadores do Estúdio

Mosquito. Desde 2009 coordena o Coletivo

Gambiologia. É idealizador e curador das exposições

“Gambiólogos – a gambiarra nos tempos do

digital” (2010 e 2014). É editor da “Facta - revista

de gambiologia”.

GUTO LACAZ

Natural de São Paulo (1948). É artista multimídia,

ilustrador, designer, inventor, desenhista e cenógrafo.

Sua produção transita entre o design gráfico,

a criação com objetos do cotidiano, a exploração

das possibilidades tecnológicas na arte e o universo

da mídia e do consumo. Como designer,

produz logomarcas, projetos gráficos de livros e

BR

BR

BR

159


revistas, cartazes, ilustração, exposições e projetos

especiais. Apresentou obras em diferentes eventos

e espaços públicos, como: Galeria São Paulo, Sesc

Belenzinho, Sesc Pinheiros, Funarte-SP, 18ª Bienal de

São Paulo, CCSP e Parque do Ibirapuera.Recebeu prêmios

como Bolsa Guggenheim, APCA Obra Gráfica,

Prêmio Abril de Jornalismo e Prêmio Excelência Gráfica,

entre outros. Publicou os livros “Desculpe a

letra”, “Gráfica”, “omemhobjeto” e “80 desenhos”. É

membro da AGI – Alliance Graphic Internationale.

JORGE CROWE

Natural de Mendoza - Argentina (1976). É artista

visual, com pós-graduação em eletrônica. Realiza

hardware hacking, circuit bending e bricolagem em

electrônica aplicados a teatro, mídia arte e educação.

É coordenador do Laboratório de Juguetes

(Toy Lab), espaço de divulgação e ensino de tecnologias

abertas para fins criativos. É professor

no Mestrado em Arte Eletrônica da UNTREF, em

Buenos Aires. Já expôs seus brinquedos e objetos

em diferentes galerias, festivais e eventos na

Argentina, Uruguai e Brasil, como FILE - Festival

INternacional de Linguagem Eletrônica (São Paulo)

e Dorkbot (Montevidéu), entre outros.

JOSEPH MORRIS

Escultor contemporâneo. Nasceu e trabalha em

Nova Iorque, onde atualmente é professor visitante

no departamento de Desenho Industrial do Pratt

Institute. Mestre em arte e tecnologia pelo Instituto

de Arte de Chicago. Bacharel em Escultura

pelo Purchase College (NY). Participou de exposições

como: Gibney Dança e Common Pessoas

Gallery (Nova Iorque), Projetos Acre e The Glass

Curtain Gallery (Chicago) e ISEA - International

Symposium on Electronic Art (Albuquerque). Em

2013, foi premiado com uma residência no ACRE

Projects em Steuben, WI, e uma bolsa de residência

em 2010 no The Contemporary Artists Center

em Troy, Nova Iorque.

LEANDRO ARAGÃO

Natural de Belo Horizonte - MG (1983). É bacharel

pela Escola de Belas Artes da UFMG. Residiu em

Boston e Los Angeles, quando iniciou estudos em

fotografia e vídeo por meio de experimentações na

New England School of Photography. Realiza obras

AR

US

BR

audiovisuais e exposições com Eder Santos, André

Hallak e Barão Fonseca, na produtora Trem Chic.

Como artista, cria objetos “videogambiarrísticos”

e intervenções em espaços públicos. Atua também

como cenógrafo e diretor de arte. Participou de

eventos e exposições como: Festival arte.mov - Arte

em Mídias Móveis, Gambiólogos 2010, Coletiva Galeria

Celma Albuquerque, entre outros.

LUCAS BAMBOZZI

Artista multimídia e pesquisador em novos meios.

Dedica-se à exploração crítica de novos formatos.

Produz vídeos, instalações, performances audiovisuais

e projetos interativos exibidos em mais de 40

países. Foi curador e coordenador de eventos como

Sónar SP, Nokia Trends, Motomix, Red Bull House

of Art e Lugar Disssonante. Foi artista residente

e concluiu seu MPhil na Universidade de Plymouth

(Inglaterra). Em 2010, recebeu o Prix Ars Eletronica.

Em 2011, teve uma retrospectiva no Laboratório

Arte Alameda (México). Participou de exposições

como: Tecnofagias (Instituto Tomie Ohtake, SP),

Zero1 Biennial (EUA), Bienal de Artes Mediales (Chile)

e Singularidades (Itaú Cultural, SP). Foi criador e

coordenador do Festival arte.mov – Arte em Mídias

Móveis e do Labmovel. Foi um dos idealizadores

e curadores do Multitude, no Sesc Pompeia (SP).

LUCAS MAFRA

Nasceu e vive em Belo Horizonte - MG. Designer

de produtos pela Universidade Fumec. É hobbysta

e artista autodidata em eletrônica há mais de

15 anos. Projeta, desenha e constrói produtos

eletrônicos e luminárias a partir de materiais

reciclados, com ampla experiência na utilização de

LEDs e em circuit bending. Foi co-curador e designer

na exposição LEDesign (Belo Horizonte, 2008).

Integra o Coletivo Gambiologia.

LÚCIO BITTENCOURT

BR

Natural de Mogi das Cruzes - SP (1953), iniciou sua

carreira artística em 1979. Já produziu mais de 12

mil peças, entre elas, 200 monumentos instalados

em praças públicas de diversas cidades. Foi contemplado

com prêmios como o do Salão Oficial

de Taubaté (1979). Teve exposições individuais

e já participou de diversas coletivas no Brasil e

exterior. Tem obras espalhadas por cidades como

BR

BR

160


Lisboa, Lyon, Porto Rico e Paris.

MAREPE

Natural de Santo Antônio de Jesus - BA (1970),

onde vive e trabalha. Apresentou, desde 1990,

aproximadamente 20 exposições individuais em

museus e galerias como Anton Kern Gallery (Nova

Iorque), Museu de Arte Moderna de São Paulo, Museu

de Arte da Pampulha (Belo Horizonte) e Tate Modern

(Londres). Participou de coletivas em importantes

eventos e centros de arte, como 3ª Bienal da

Bahia (Salvador), Itaú Cultural (São Paulo), MoMA

PS1 (Long Island, EUA), Museu de Arte Moderna Rio

de Janeiro, MOT Museum of Contemporary Art (Tokyo,

Japão), Centre Pompidou (Paris, França), Bienal Mercosul

(Porto Alegre), Biennale di Venezia (Itália) e Istanbul

Biennial (Turquia). Sua obra integra coleções

de arte como: Ellipse Foundation (Alcoitão, Portugal),

Instituto Inhotim (Brumadinho - MG), MAM – Museu

de Arte Moderna de São Paulo, The Museum of Modern

Art (Nova Iorque) e Tate Collection (Londres).

MARIANA MANHÃES

Natural de Niterói-RJ (1977). Trabalha em diferentes

mídias: desenho, vídeo, fotografia e “máquinas

orgânicas”. Desde 2000 tem participado de

exposições em museus e galerias no Brasil e no

exterior, tais como: Bienal de Vancouver (Canadá),

Shanghart Gallery (Xangai, China), CCBB (Rio de

Janeiro), Martin-Gropius-Bau (Berlim, Alemanha),

Itaú Cultural (São Paulo), Instituto Tomie Ohtake

(São Paulo) e Museu de Arte Moderna (Rio de Janeiro),

entre outros. Apresentou individuais no

Paço Imperial (Rio de Janeiro, 2013), no CCBB Rio

e no Museu de Arte Contemporânea de Niterói.

Recebeu relevantes prêmios e em 2012, concluiu

mestrado em Comunicação e Cultura pela UFRJ.

MARK PORTER

Escultor nascido 60 milhas ao sul de Chicago (EUA).

É coordenador de exposições e curador no Columbia

College Chicago desde 2005. Completou BA e

MA em Escultura na Eastern Illinois University

e um MFA em escultura na Universidade de Michigan

(2002). Foi curador das exposições Active/

Inactive (2006) e Machinations: Kinetic Sculptures in

the Age of the Open-source (2012), focadas em arte

cinética e interativa, assim como construções e

BR

BR

US

esculturas site-specific. Já expôs seu trabalho em

várias individuais e coletivas, incluindo Autohemorrhaging

Actuator, Territorial Markers, Recent

Drawing Machines by Mark Porter, Nurture/Alter,

Counterparts, Rube Goldberg’s Ghost, Bauhaus Now,

Stop, Start, Repeat e Olfaction.

MAURO ALVIM

Natural de Chiador - MG (1966). Desde os anos

2000 dedica-se inteiramente à criação de esculturas

em sucatas e relíquias. Divide suas criações

entre esculturas de motocicletas, peças inspiradas

na literatura universal e regional e obras que denunciam

as agressões ao meio ambiente. Realizou

diversas exposições em Juiz de Fora - MG, onde

reside atualmente, e em outros estados do Brasil,

bem como no Uruguai, em que participou do

Encontro Internacional de Escultores.

NEIL MENDOZA

Artista e tecnólogo criativo explorando formas

de dar vida a objetos e espaços através do uso de

tecnologia digital e mecânica. É membro fundador

do coletivo Is this good?. Seu trabalho foi exibido

em eventos e festivais como: The AND Festival, The

Barbican, BBC Big Screens, ISEA, Kinetica, The Museum

of London, The Nottingham Playhouse, PICNIC

Festival, The Science Museum, The V&A e Watermans,

entre outros.

O GRIVO

Duo de Belo Horizonte, que desde os anos 1990

atua no campo da “música nova”. Realizam concertos,

instalações e objetos que exploram novas

fontes sonoras acústicas e eletrônicas, a construção

de “máquinas e mecanismos sonoros” e

a utilização, não convencional, de instrumentos

musicais tradicionais. Seus trabalhos propõem

uma interseção entre as informações visuais e

sonoras, dialogando com cinema, vídeo, teatro e

dança, em busca um estado de curiosidade e disposição

contemplativa para a escuta e a discussão

das relações dos sons com o espaço.

PAULO HENRIQUE PESSOA “GANSO”

Natural de Martinópolis - SP (1955) e radicado em

BR

UK

BR

BR

161


Belo Horizonte - MG. Formado em desenho industrial

pela FUMA, atual UEMG. Como artista gráfico,

dirigiu o Estúdio Gorilla, realizando projetos em

moda, cenografia, comunicação visual e ilustração.

Atuou como diretor de arte, cenógrafo e figurinista

em comerciais, programas de televisão, peças

de teatro como “Um Molière imaginário” (Grupo

Galpão), e longa-metragens, como “Uma onda no

ar” (Helvécio Ratton). Desde os anos 1970, tem

participado de exposições de arte e design, como

o Salão Nacional de Artes Plásticas (MinC/Funarte,

1985). Possui trabalho reconhecido na concepção e

montagem de luminárias a partir de antiguidades

e materiais reutilizados, integrando coleções de

arte. Concebeu e produziu o espaço-conceito “Bar

do Ganso”, no Instituto Inhotim, em exposição permanente.

Foi tema do filme “Encomenda ao Ganso”

e é mestre consultor do Coletivo Gambiologia.

PAULO NENFLÍDIO

Artista sonoro, formado em artes plásticas pela

USP e em eletrônica pela ETE Lauro Gomes. Suas

obras são esculturas, instalações, objetos, instrumentos

e desenhos em que estão presentes: som,

eletrônica, movimento, construção, invenção, aleatoriedade,

física, controle, automação e gambiarra.

Integrou a Bolsa Pampulha, em Belo Horizonte

(2003) e recebeu o Prêmio Sergio Motta de Arte e

Tecnologia (2005). Em 2009, realizou residência e

produziu uma exposição individual no ASU Art

Museum (Arizona). Participou da 7ª Bienal de Artes

Visuais do Mercosul e da Paralela 2010. Recebeu o

Prêmio Marcantonio Vilaça de Artes Plásticas (2011).

PAULO WAISBERG

Arquiteto, professor universitário e artista. Seu

escritório anda cada vez mais envolvido com a

produção de espaços efêmeros. A transição é uma

oportunidade para experimentar, tanto no uso de

novas técnicas e materiais quanto no potencial

de emocionar as pessoas pela imersão em lugares

inusitados. Nas explorações artísticas com tecnologia,

encontra uma convergência entre as práticas

e, vez por outra, um curto-circuito.

SARA RAMO

Natural de Madrid (1975). Sua obra se apropria de

elementos e cenas de cada dia, removendo-os do

BR

BR

ES/BR

seu contexto original e reorganizando-os em vídeos,

fotografias, colagens, esculturas e instalações

que propõem uma maneira particular de organização,

fundamentada em um desejo transgressor.

Exposições recentes incluem Desvelo y traza (Madrid,

Espanha), 9ª Bienal do Mercosul (Porto Alegre),

Astrup Fearnley Museet (Oslo, Noruega), Ambos Planos

de Fuga (CCBB São Paulo) e Penumbra (Fund.

Eva Klabin, Rio de Janeiro). Participou do Panorama

de Arte Brasileira do MAM - São Paulo (2011) e da

Bienal de São Paulo (2010), além de exposições em

instituições de importância nacional e internacional,

como a Bienal de Veneza (2009). Sua obra

está nas coleções do Instituto Inhotim, do Museu

de Arte Moderna do Rio de Janeiro, do Instituto Itaú

Cultural e da Fundacione Casa di Risparmio di Modena

(Itália), entre outros.

UJINO

Natural do Japão (1964). Desde os anos 1990, tem

produzido esculturas e instalações sonoras. Sua

principal série, The Rotators, foi mostrada em exposições

e performances ao vivo dentro e fora do

Japão. Suas obras foram expostas em grandes instituições

e bienais internacionais, incluindo exposição

individual no Projeto Espaço Hayward Gallery

(Londres, Reino Unido), Bienal de Sydney (Austrália),

ZKM Karlsruhe (Alemanha), Deitch Projects (Nova

Iorque), Nam June Paik Art Center (Coréia), entre

outros. Em 2013, realizou a retrospectiva POP /

LIFE no Museu de Hakone Open-Air (Japão).

ZAVEN PARÉ

FR/BR

Artista e pesquisador do HTCE (História das Ciências

e das Técnicas e Epistemologia) da UFRJ. Foi

o inventor das primeiras marionetes eletrônicas

(coleções Ballard Institute/Connecticut e Musées

Gadagne/Lyon) nos anos 1990. Foi bolsista do

French American Fund for Performing Arts, da Bolsa

RioArte, da Villa Kujoyama/Kioto, da Japan Society

for Promotion of Sciences (JSPS), do Intelligent Robotics

Laboratory na Universidade de Osaka (2010).

Recebeu o Prêmio Sergio Motta de Arte e Tecnologia

(2011). Seus trabalhos foram apresentados em vários

espaços dedicados à arte e à tecnologia, como

California Institute of the Arts (EUA), Laboratório de

Arte Alameda (México) e a Bienal de Arte Contemporânea

de Lyon (França, 2013).

JP

162


ENGLISH VERSION


Up to 2015 Oi Futuro Belo Horizonte had assumed an

important role in disseminating creations that cross art,

science and technology in the contemporary production

of Minas Gerais, Brazil, and the world. The curatorship

of this cultural space has valued, year after year, the

convergence of media and supports, promoting artists

who invest in experimentation. Always seeking new

languages, what has not yet been named.

Therefore, there is nothing more in line with the

vocation of this cultural center than "Gambiologos 2.0 –

makeshifts in a digital era", a collective of Brazilian and

international artists who investigate the intersection

between crafts and electronics, making low and high

technologies alive in their works. The exhibition, which

occupied Oi Futuro between June 10th and August

22th of 2014, brought together an important collection,

resulting from the diversity of creators from various

backgrounds and different paths, causing an impression

for its creativity in transforming rudimentary materials

in unusual technological mechanisms.

Among the names of the artists of our time there

were two great deceased Brazilians who, according to

Fred Paulino, the exhibition's curator, were sources

of inspiration for the science of makeshifts: Bispo do

Rosário and Farnese de Andrade. Two masters in the

metamorphose of everyday life, always in an impactful

way.

For its daring, its empathic force and the high ludic way

of its exhibited pieces, "Gambiologos 2.0" had much

pleased the different audiences that visited us. Records

in images and texts of this successful "adventure" are

in this book, which integrates the Oi Futuro Art and

Technology Collection.

Enjoy!

ROBERTO GUIMARÃES

Culture Manager - Oi Futuro

164


Gambiologia arises in 2008 as an idea embodied in a mutant platform:

initially a campaign, it has established itself as a collective and today it

had evolved into an open platform for creative and conceptual research,

being the proponent of initiatives such as the exhibition "Gambiologos 2.0"

(Gambiologists 2.0).

The neologism gambiologia 1 refers to a contamination between art and

the Brazilian tradition of gambiarra 2 , in its relationship with a precariousness

originated from the scarcity of resources, permeated by a critical

approach on technologies. These pillars are considered broadly: we speak

of an art not necessarily linked to the commercial circuit of galleries and

biennials, often strongly related to crafts and design; of the gesture to

improvise beyond the immediacy of the gambiarras, being understood

as a skill that emerges from the action of man over the world to solve

urgent basic needs or even to ensure one own's survival; and of technology

as a fluid, intuitive knowledge, much more linked to human creative

strategies in the material universe than to the overwhelming technology

industry, in its eternal imperative for "innovation." Gambiologia is the

adoption of makeshifts as an aesthetic choice and a modus operandi of

creation and, why not?, a way of thinking about existence.

From 2009 on, I have recognized in the work of several artists, originated

from different areas and nationalities, affinities with this framework,

which led to the first edition of the "Gambiologos" exhibition in the following

year. The curatorial proposal of the exhibition was direct: "makeshifts in a

digital era." It presented pieces that intentionally incorporated gambiarra

as an aesthetic and (in)formal source, in dialogue with the technologies

of different levels - analog, electronic and/or digital.

The exhibition resulted in a provocative thematic and visual collage.

The rustic scenery, established on the mezzanine of an old cloth factory,

and the essence of the works presented - in which the relevance of the

technical, an almost always central factor when it comes to electronic

art, was less relevant than a kind of "collective momentum of solution"-,

added to a vibrant assembly process, full of mutual contamination

between the participants and constant adjustments to the projects,

making "Gambiologos" a show with a surprising cohesion, given its almost

cathartic process.

In tones of precariousness, improvisation, low and high tech noise, reuse

of materials, exposed circuits, stickers, functional imperfections and

different languages, in that encounter, quite spontaneously, a suggestion

of unity and continuation manifested itself. About this, the researcher

and articulator Felipe Fonseca pertinently noted in the exhibition catalog:

"a hypothetical collaborative exercise of reconstruction – where all

works were taken apart and artists would convene to make others with

the same materials – would certainly result in interesting and instigating

works." 3 From that encounter emerged an irreverent and peculiar scene.

165


Finally, "Gambiologos" anticipated how the now multicommented

(and gourmetized) maker culture could be

incorporated into the artistic field, in the context of a

nation that didn't manufacture, and still doesn't, high

technology - which implies, since always, the need to

"find a way", being it with the import of equipment by

alternative means, running from high custom taxes,

or simply adapting, making use of what is available.

Perhaps, from that, it also drew attention at the show

a scope of possible peculiarities of the Brazilian electronic

art scene.

With the advent of "Facta, the gambiologia magazine"

in 2011 (now in its 4th edition), the discussions

and provocations about the "technological gambiarra"

have gained, simultaneously, both sophistication

and subtlety. This publication has allowed a boost in

the project with respect to its original framework.

While gambiarra ceased to be the main focus - being

the magazine a proposal for an almanac on various

contemporary topics, from a critical and creative view

- the content became more profuse, being gambiologia

the starting point for the proposal of relationships

between many areas of knowledge. "Facta" improved

the whole’s conceptual maturity, and allowed for the

meeting of even more gambiologists, who in one way or

another recognized themselves spontaneously as part

of a set that was no longer necessarily limited to a group

or solely related to art and design. Many who collaborate

with the magazine are journalists, architects,

urban designers, illustrators, musicians, photographers,

scientists, fashionists, psychologists, creative

idlers transiting...

The desire for a second edition of "Gambiologos" was

the inevitable consequence of the amplification of this

network of partners and the perception of maturity

of the Gambiologia project. Thus, the choice of nearly

40 works presented here by 28 artists and collectives

enhances the curatorial proposal of the first edition

and is guided by three axes, which I present below.

First. The adoption by many electronic artists of a

despoiled aesthetic – a celebration of precariousness

– with a purposeful incorporation of low technology in

the works and a minimum concern to conceal operating

structures.

This aesthetic option could be only a formal matter,

but I suppose it is also a result of other variables, which

may not be decisive, but certainly influence the whole

set of works: the first one, already mentioned, would

be the difficulty in accessing sophisticated technological

resources (budget limitation), especially by

artists from southern countries. The second reason

is, perhaps even unconsciously, the search for a kind

of sensuousness that seems to be lacking in electronic

art, often focused only in technical demonstrations and

levels of interactivity, many times not being accessible

to the "uninitiated". Because of this sensory

approach, there is the adoption of craft processes, easily

recognizable by "laic" (after all, the famous "ah, that

even I can do!" should not be relentlessly negative).

In the exhibition, dispossession regarding technology

is latent in many works, such as in the appliances and

in the analog controller of Ujino's large installation –

interestingly an artist born in Japan, a country that is

reference in technological innovation –, in the hourglass

built with TV tubes exposed by Leandro Aragão,

in the minimum gadgetry of Joseph Morris, in the assumed

uselessness of Aruan and Flavia's machines, in

Fernando Rabelo's analogical-electronic frame, which

composition is so open and transparent that there is

no possible background, and even in the pile of cardboard

cameras by Dirceu Maués, which brings us back

to the very beginnings of the photographic image.

The extreme of this set is displayed at the entrance

of the gallery: A "Computer" by Farnese de Andrade,

assembled many years before any draft of the science

of gambiarra, completely analogical, coming from the

sea, sealed in a translucent resin block: confirmation

and absolute denial of computers’ "black boxes".

Second. The idea of collecting by accumulating, or:

how are artists using the excess of waste in the contemporary

world as a significant expressive feature, in

addition to common sense on recycling.

Reuse and functional displacement (hacking) of everyday

materials or discarded objects in the Arts are

definitely not a new issue. The origins of these practices

refer to the readymade and becomes more evident

from the middle of the last century on, in the production

of assemblages by artists such as Joseph Cornell,

Robert Rauschenberg and Jean Tinguely, the latter

being literally a pioneer gambiologist with his creation

of found-objects, kinetic assemblages full of bulbs,

industrial waste and rusted metal. What are the

differences, then, of the artistic production who uses

waste nearly a century later? It is that what was only

an aesthetic and conceptual experimentation, become

now, with a rampant production and proportional

generation of waste of all kinds, an emergency. The

artist who reuses materials in this historical moment

suggests a political attitude towards the excesses of

our time, an almost heroic saying given the overused

discourse of "sustainability" repeated by corporate

marketing departments.

Marepe transfigures automotive parts collected from

junkyards in an unusual child figure; Mendoza and

Goh conceive a bird, from dismantled cell parts, which

seems fated to live in a futuristic and apocalyptic zoo;

Bambozzi features a large machine-body, with mechanical

gears referring to the beginnings of industrialization,

who swallows mobiles, because we no longer

know where else to discard them; Zaven Paré transforms

an ordinary collection of meccanos in beautiful

indigenous jewelry; Sara Ramo, an artist who "investigates

the moment at which the objects stop making

sense in people’s lives in order to create situations

166


bereft of calm and order" 4 , discusses in her two pieces

our bond with what is affective and what is disposable;

and finally Bispo do Rosário provides us with "tackle

panels" that contain not only collected matter, but also

the weight of a lifetime.

The gambiological artist collects objects for aesthetic

appreciation to all epochs and creates works by answering

the question: "What can I do with it?". Useless

things, when moved from their places of origin, earn

multiple meanings and value.

Third. The acceptance (or not) of the influence of popular

culture and of crafts in the field of Fine Arts.

Art history shows us an ambiguous relationship with

popular knowledge. On the one hand, the origins of

the terms "art" and "artisan" - from the Latin ars - are

common and refer to the "precepts to execute anything"

or to the processes related to a "manual labor" 5 .

More than that, the knowledge of primitive cultures,

since always, has been nourishment for artists from

different generations and backgrounds. Handmade

works upgrade the status of an unique piece, while

contributing to valuing it. But on the other hand, the

presentation of folk art is often limited to targeted

events, not integrated into the so-called "contemporary",

having even specific labels, such as naïve and

being often confused with kitsch.

I suppose the gambiological creative processes tense

this relationship, because they are articulated with

essentially popular strategies in an unprecedented

context, in which electronic languages and digital

technology are increasingly accessible. Gambiological

works are integrated into contemporary practices,

but they outline freshness and spontaneity, often

more evident in anonymous creations than in the

most recognized artistic circles. 6 The participation of

artisans-artists Mauro Alvim and Lucio Bittencourt,

steel sculptors who present extremely expressive

non-figurative pieces, is, thus, very important for the

whole of the show.

The exhibited works, however, suggest similarities

and differences between these three axes in an almost

chaotic way. The installation in progress of the Gambiologia

Collective, displayed in a gallery attached to

the exhibition, perhaps is what best summarizes such

contaminations and, not by chance, closes this publication.

In Jean Baptiste Gambièrre's chaotic workshop,

installation that will never be ready, there are traces

of everything that has been covered so far, and more.

Unlike the first edition, the assembly of "Gambiologos

2.0" took place in a more traditional exhibition space, the

Oi Futuro BH gallery, smartly remodeled by architectartist

Carlos M. Teixeira in a modular and industrial

scenic proposal, rigid, but also fluid. It was laborious

to "domesticate" gambiologia in an institutional space

that, on the one hand, facilitated by offering a differentiated

structure, but on the other brought new

challenges, such as the need to occupy two galleries,

dividing the show, and the long operation period

(a sensitive issue for electronic artworks, which often

require maintenance).

To honor us with articles that complete this catalog,

I have invited three women with significant contributions

to the field of art and technology in Brazil and

who have, for a few years already, been following the

Gambiologia initiatives. I very much thank: Giselle

Beiguelman, artist, researcher, curator, and a crucial

reference in my career and certainly in the career of

many gambiologists; Juliana Gontijo, researcher and

curator, author of "Technological Dystopias", a fundamental

essay on contemporary Brazilian artists

who appropriates technologies critically; and Raquel

Rennó, artist, researcher and citizen of the world,

collaborator of past and future projects, restless

mind that, in every interaction, surprises me with

her perspicacity and generosity.

At a time when activism grows and horizontalizes at

the same proportion as its contradictions, in which the

illusion of prosperity is questioned and the uncomfort

about human situation on the planet is increasingly

latent, we have, in this collective exhibition, a beautiful

sample of how the use of technology and waste

can be more than a way of creative expression, but

rather a political move. And more: the enormous

diversity of approaches to improvisation and technique

that is evident in this selection of works, created by

artists from different origins and ages, makes us

believe that gambiarra is, indeed, a science.

FRED PAULINO

Founder and curator

1 “The science of gambiarra”.

2 Gambiarra is a Brazilian – but not only - cultural practice which

refers to “solving problems in alternative ways” or “giving unusual

functions to objects”. It is a “makeshift”, a "life hack", a “jury rig”, or

“a workaround, a quick-and-dirty solution, (…) a clumsy or inelegant,

yet effective, solution to a problem, typically using parts that are

cobbled together” (Wikipedia).

3 FONSECA, Felipe. Gambiólogos: a gambiarra nos tempos do digital.

Belo Horizonte, Brazil. Exhibition Catalogue. 2010: 19 nov - 15 dez.

4 FORTES VILLAÇA GALLERY. Artists: Sara Ramo. Available in:

<http://www.fortesvilaca.com.br/artistas/sara-ramo>. Access in

Aug., 21, 2016.

5 CUNHA, Antônio Geraldo da. Dicionário etimológico da língua

portuguesa. Rio de Janeiro: 4. ed. Lexikon, 2010.

6 It is curious to observe that in the English Language the word

"ingenuity", which in Brazilian Portuguese denotes "naivety", also

denotes "invent" - MICHAELIS: Dicionário Escolar Inglês. São

Paulo: Editora Melhoramentos. Available in: <http://michaelis.uol.

com.br/>. Access in: ago. 21. 2016.

167


PAST AND FUTURE OF BROKEN IMAGES

GISELLE BEIGUELMAN

SÃO PAULO IN A 1995 NIGHT

My daughter was four years old when we introduced

cable TV in our home. While she dedicated herself, in

the living room, to the many buttons on the remote

control, I was in the kitchen cooking. Everything was

going well, in that doubtful tranquility that usually

takes independent moms when they grant their kids

to electronic machines' tutelage, when she shouted:

- MOOOOOOOOM!

From the kitchen to the living room, I don't know how

many images of possible impossible disasters passed

through my mind. Would Mayara be smashed under the

TV set? Would a monstrous and unknown mega insect

trap her? Would she be wrapped inside the curtains

not being able to breath?

I found the little being, astonished and serious, seated

on the couch. Her endless wet blue eyes were fixed

on an unimportant old movie. Profoundly guilty and

hesitant, she told me softly, moving her eyes down:

- I broke the TV. I don't know what I did. But it was only

this channel. The others are all good. It just lost its

colors. See. It is true... She sighed almost in a little

string of a tottery voice.

Suddenly I realized that Mayara had never seen a black

and white frame in her life! I will never forget her tenderness

when she nested on my lap to calm down and

understand what had happened. Cleaning her still humid

and astonished face, I told her she had done nothing

wrong; that image was like that, it wasn't "broken".

I told her, maybe with too much simplicity, that when

I was a child all TV channels were like that, what caused

her profound amazement:

- Were they all colorless?

This was my first contact with the so called "conflict

of generations". There was a technological abyss between

us and the issue deserved more sensibility and

tenderness of my part. So, I carefully said:

- You know, at that time, when all television channels

were black and white, the TV didn't work all day.

I remember me sitting in front of it, waiting for the

broadcast...

And I smiled, thoughtful.

She didn't understand.

Before her expression of perplexity, which today I realized

was due to her total lack of understanding the

intangible reality I was narrating ("what is that, broadcasting?"),

I decided to point out.

- When mommy was little, we had cartoons only in a

specific time of the day. Cartoon Network didn't exist,

I explained.

She made up a face of solidary complicity in joy and

sadness, starring at me, already with doubts about the

quality of life they offered me in those remote times

of "broken images". Looking for a kind of light in the

end of the tunnel, she told me in a tone of spelling

out a riddle:

- Ah, but then you asked for it and grandpa would go

and get a video in the store!

Without intending to create any traumas about a supposedly

unhappy childhood of mine, I murmured, a

little trembling, but emphatic:

- When mommy was little there was no video.

And I suddenly confessed:

-Nor Internet.

Period.

It was too much. Mayara was absolutely chocked and

mindfull. Until today I ask myself what she, in those

few seconds, was thinking about what her mother

childhood had been. Besides living in a world of colorless

and broken images, there was no 24h TV, videostore

nor internet.

Realizing my lack of feeling in the direction of that

conversation, I thought it was better to go another

way. At that time we had a shelf where the CD player,

TV and video were, back then still alive and operating.

I've decided, as a good teacher that I am, to be more

didactic in the relationship. I started to compare the

situations, saying we had no CDs but that we had LPs.

And I showed her our beautiful collection of LPs, what

really did fill her eyes. The dimension of the covers

was incredible for her...The chapter "TV" I skipped,

for it had already been commented, and following the

shelf, when I was ready to talk about the video, she

interrupted me:

- Mom, did shelves already existed when you were little?

168


BELO HORIZONTE, 20 YEARS LATER

Flora Mol Álvares Paulino, daughter of Fred, the curator

of Gambiólogos 2.0, was born in 2014, a few days after the

opening of the exhibition that took place at Oi Futuro

from June 10 to August 17 in Belo Horizonte, the capital

of Minas Gerais state in Brazil. Her world was and will

be much different than what we had lived until then.

In the end of this exhibition, in her first month of life,

we were just recovering from the World Cup hangover

and on the eve of an election that brought out social

classes hatred, which for a very short time had been

hidden, at least in large Brazilian cities.

My visit to the exhibition happened in its the last weekend,

when the Gambiologia workshop was going on, very full

and active, by the way. The exhibition room was calm.

There was an audience, but no lines of people pushing

and shoving, what I had seen in São Paulo at about that

time, in a historical exhibition of the artist Yayou Kusama,

called Infinite Obsession; multitudes of people waiting in

a several blocks long line, eagers to get in.

In spite of the importance of her work, mainly what had

been produced in the years of 1970, stressing women’s

submission role in Japan through pop formulations

between the erotic and the pornographic, what was really

a hit was the artist’s obsession for balls and little balls.

Rather: what was really a hit were the works that visitors

could use as sceneries for "selfies" in social networks.

I am not going to deal here with mental illness and

the disservice this type of theme promotes, neither I

am going to say how important or not it is to mobilize

hordes of people for a cultural event. This is not what

is being discussed here, neither it is the forum for it.

But this counterpoint with Kusama called my attention,

mainly because the exhibition had Arthur Bispo do

Rosário among various artists. This fact itself opens

up a door to rethink the relationship between art and

madness far beyond the amazing universe of fashion

and immediate consumption, something I could not

possibly do. On the other hand, it is possible to discuss

and question how the informal shows up in a large

country as ours.

Confrontations and contrasts are not new in our Brazilian

history. But what is surprising here is the confrontation

within the middle class. The traditional middle class

is fighting the emerging middle class and vice-versa,

or the opposite. And among this, among the social

rubble around us and the small gaps that point to different

futures and alternative modernities, we have an

incalculable amount of dysfunctional gadgets, wornout

machinery and jalopies of all sorts. Guided by the

explosion of consumption and vertigo or promises of

what the digital revolution would bring us, a 24-hour

connect and happy world, without borders, colorful and

daring as the cover of Wired magazine, was announced

but not delivered yet.

I am not saying the process of digitizing culture has

been deceptive or one more stage in the long history

of capital disposal. Rather the opposite. We are living

a project of taking part in times of deep changes, in

the form of distribution and circulation of symbolic

production. Some writers, with diverse ideological

shades, from Negri and Hardt to Maffersoli, passing by

Castells, show this in distinct points of view.

Looking at all this from a “balcony” called Belo Horizonte

("Beautiful Horizon"), where baroque, Tiradentes, Marília,

Dirceu, derailments of the coffee and milk politics of

the Old Republic, Drummond, JK, Clube da Esquina,

Diretas Já, Tancredo Neves, Pampulha, Eder Santos and

all of a generation that has redefined image production

in the country in the core of a globalization process;

it is not easy.

THE ASSAULT ON CUTE CAPITALISM

To see Bispo do Rosário in that context – local and time

wise – together with artists from different generations,

some of which had no idea of what Brazil or Belo Horizonte

were, and others who, as Mayara and Flora, have

no idea of what is a world before globalization, made me

understand Fran Tonkiss’ statetement in Informalize –

Essays on the political economy of urban form (2012):

Informality is productive, it opens alternatives in

the super programmed and super capitalized world

of cities in the rich world, injecting life in centers or

offering unexpected solutions for living in a world

of saturated markets of ownership and depression

of labor.

In such a perspective, we can consider that globalization

has put theorists in a position of being responsible for

coping with cultural and political reconfigurations of the

world order under new critical approaches. Capitalism,

which until the end of the 1980s was treated as the

quintessential villain of the academic world, mainly

in Europe and Latin America, needed to be revaluated,

considering the crisis of the leftist utopias of the 20th

century and traditional revolutionary models.

It is not by chance that definitions around this theme

have been formulated since the early 1990’s. For Spanish

sociologist Manuel Castells, who wrote The Rise of the

Network Society, today we live an informational capitalism,

which is based on production, consumption

and the circulation of information. For Antonio Negri

and Murizio Lazzarato, it is a cognitive capitalism that

prevails, one in which knowledge is wealth (and not

the ownership of someone's work anymore). Even Bill

Gates dared his own concept – creative capitalism –

calling rich entrepreneurs to invest their money in

social activities.

We propose a new definition to be added to these: “cute

capitalism”. This would be a system whose logic is explained

in the iconography of the Web 2.0. It celebrates,

through chubby and round icons, a world that is pink and

sky blue, expressing itself through onomatopoeias and

169


puerile exclamations. All that one has to do is to think

about Flickr, Google, Yahoo!, and the cute things of the

Twitter bird or the little heart of Instagram, and this

statement is explained. But it is necessary to say that

this celebration of a peaceful world operates through

a design of information which purpose seems to be to

exclude the possibility of conflict. The most successful

sample of this type of design is the Facebook, the most

successful online undertaking ever recorded.

A space of protected relationships, a sort of a walled

garden of nets inside nets, Facebook is a machine of

happy acceptance of the world. Not by chance, there

is not an original tool to “dislike”. It is a platform to

accept and build herds. Literally. Your friend’s father

died? His mother? Japan has been flooded by a tsunami?

A journalist has disappeared in Lybia? How many

people died in the bus crash in Florianópolis? It doesn’t

matter… You can press the Like button and enjoy all

of these with your friends. And everybody will know

“you are updated”. What about sharing it?

Bordering it all there is this acceptance of everything

and the feeling of being imprisoned, through algorithms,

among pairs increasingly similar; this creates a

true antisocial network, as this model tends to rarefy

conflicts, as it eliminates the need of negotiation between

the parts.

Flat worlds are consolidated; they are communities

whose members repeat each other’s likes and only

those who are similar are welcomed. This doesn't mean,

however, that they organize and build networks of

collective creativity or a common vocation. Rather on

the contrary, they paradoxically foster individual aspirations

that calibrates the success of “do it yourself”

apologies (do it yourself, preferably alone and without

any intellectual mediation. Just do it).

However, social networks mechanisms and their imaginaries

also allow an articulation of new ways of conducting

politics, protesting groups that are typifying the

21st century, as it was quite clear in WikiLeaks actions,

on the Spanish May 15th and on June 2013 protests in

Brazil – all of them largely in all sorts of media.

Not so dense but increasingly more and more frequent

are the infiltrations spread on social networks and the

ones taking up media art repertoires to surface its asperities

and roughness. And then one can understand

the gambiological DNA. In the multitude of styles and

languages it comprehends - social, geographic and

geopolitically – the retoric of the world with no edges

or dangers, of the cute capitalism, is stressed.

It is about an use of the discourse on technology that

occurs in the outskirts and interstices of corporative

networks, questioning the neoliberal economy of the

likes, the usability of information design, the use and

the future of the things we mystify – and throw away

– daily, as TV sets, disposable cameras, broken cell

phones and others.

Each work created for the exhibition reconfigure, thus,

as a “Temporary Autonomous Zone” – a concept created

by Hakim Bey for groups that are together around a

common goal, in non-hierarchical forms, as ephemeral

gangs. In these spaces, the idea of occupation, a word

full of military meanings, gains new dimensions by

proposing a territory of confluences and temporary goals,

based on principles that no longer belong in left and

right booklets, but assume the collective construction of

new common agendas. They reinvent forms of survival,

interaction and mainly, the building of knowledge and

aesthetic experimentation, to be spread in networks

of all types, in a boiling technophagy.

TECHNOLOGICAL DISOBEDIENCE

I’ve already said that technophagy is not a trend nor a

movement, but rather a personal conceptualization,

formulated to refer to relevant operations of a certain

profile in media art production. In this type of production,

the emphasis in the combination processes between

tradition and innovation, uncommon arrangements

between immemorial knowledge and those of the last

generation, and the update of notions of high and low

tech. In just one sentence, technophagy is the encounter

of high tech and garage sciences.

This approach sets out an aethetics that operates through

combination and remodelling of different appliances

as well as the development of gagdges that are able

to produce other forms of creations and micropolitical

actions of technology appropriation, in a world of

artifacts that may ruin as fast as a sigh (or as a click).

Regardless of this constant acceleration, shelves (mine

and everybody else’s) are standing still. As for the

broken images named by Mayara in her childish spontaneity,

they are no longer a cute comment. They are

everywhere, indicating the potency of these residues

that happen and are embodied in the gambiological

gadgets of technological disobedience.

Giselle Beiguelman is a media artist and professor at the School of Architecture and Urbanism of the University of Sao Paulo

(FAU-USP). Her work include interventions in public spaces, networked projects and mobile art applications, exhibited internationally

in the main media art museums, research centers and contemporary art venues like, ZKM (Karlsruhe, Germany),

Gallery @ Calit2 (UCSD, USA) and the Sao Paulo Biennial. Curator of Technofagias – the 3rd 3M Digital Art Show and the on-line

festivals HTTP_Video and HTTP_Pix among others, she is editor of seLecT magazine and the author of many books and articles

about the contemporary nomadism and digital culture practices.

170


ON THE USE OF WORLDLY THINGS

JULIANA GONTIJO

We wish, we buy, we use, we discard. This dynamic

of usage set in the contemporary production society,

implies, in principle, to get the elements we use in our

daily life and which we live with already ready. However,

it is not strictly necessary to follow the conventions

of usage of any object, being it purchased or found.

Between obtaining and using is a gap, in which is imbued

a plurality of choices and possible operations. The use,

per si, already conforms a reinterpretation of a given

object. Far from being a passive act, consumption 1

hides small operations of modifications and deviations

and it can be comparable to an act of micropiracy.

The institution of these deviant practices within daily

life is something mentioned by Michel de Certeau:

In reality, a rationalized, expansionist, centralized,

spectacular and clamorous production is confronted

by an entirely different kind of production, called

"consumption" and characterized by its ruses, its

fragmentation (the result of the circumstances), its

poaching, its clandestine nature, its tireless but quiet

activity, in short by its quasi-invisibility, since it shows

itself non it os own products (where would it place

then?) but in an art of using those imposed on it. 2

Even if framed by prescribed praxis, constant manipulation

and modification in the assimilation of products

cause persistence of a heterogeneous link with the

system, since they are guided by desires and interests

which are distinct to those they originated from. This

process, therefore, ends up to highlight hidden potentialities

of objects and leading to a deviation from its

previously established functions.

The underlying functionality of technological objects

is consistent with the parameters of the society of

production, where each element must meet a productivity

goal in the capital chain, structured around

rationalist standards existing since the 18th century.

Machines replace people in the production chain, or

performs functions to assist them in fulfilling their

tasks. Given these aspects of the society of production,

machines, while losing their original functionality

or presenting dysfunctions, move away from

the homogeneous regularity of production means.

Its production and consumption cycles obey, also, to the

need for technical progress and obsolescence, driven

by commerce strength.

Inventing useless objects and anomalous machinery in

the industrial production chain, and discover poetic,

inventive and playful potentialities hidden in everyday

objects become libertarians gestures, subverting

massive usage patterns and the alienating submission

of post-industrial technocracy. It is this encounter

with inventive technical objects, and the subsequent

dysfunctional and heterogeneous use of machinic

elements that emerges with all potentiality in "Gambiologos

2.0" exhibition. The artists featured in this

show reveal in their poetic and conceptual universes

new forms of interventions, collaboration, participation

and interactions between systems, machines

and humans. They call our attention to movements,

internal noises and resonances of technological devices

that retrieve, disarm and resignify. They reveal the

translation processes between systems and languages,

human or machine-like beings. They also propose a

view of the machine as a living element. Going back to

the dawn of technology to raise questions about high

and low technology standards, obsolete and cutting

edge technologies, to finally inquire about the forms

of vision and representation built by technology and

its optical devices. They make use of the precarious,

improvised materials, unpredictability of operation,

cyberpunk aesthetic, technological waste as well as

the futility, degeneration and obsolescence of the

machine as a cultural tactics to face an increasingly

technocratic society.

The refurbishing of technological objects, their functional

displacement, and the appreciation of the obsolete

materialize a new way of thinking about technology

besides to consider art as a technological transformation

agent. It is necessary to think about technique from

an expanded point of view, one in which this emerges

as téchne 3 , i.e. as articulated knowledge that allows for

the emergence of a poiesis 4 , within a creative relation-

1 Here we should clarify the difference between consumption and consumerism.

While consumption is related to daily satisfaction of basic

needs, consumerism, for Zygmunt Bauman, refers to the association

of happiness with the consummation of a growing and increasingly

intense desire, involving immediate use and subsequent dejection.

(Cf. BAUMAN, Zygmunt. Consuming life. Polity Press, 2007).

2 CERTEAU, Michel de. The practice of everyday life. University

of California Press, 1988, p. 31.

3 Téchne is a Greek word used both for art and technique in the

classical period. It referred, thus, to any productive making.

4 Poiesis, also of Greek origin, can be understood as the entire creative

process that, from a téchne, provides the emergence of a whole

world (Cf. HEIDEGGER, Martin. A questão da técnica. Em Ensaios e

conferências. Petrópolis: Vozes, 2002).

5 SIMONDON, Gilbert. El modo de existencia de los objetos técnicos.

Buenos Aires: Prometeo, 2008.

171


ship of parts that break with the anthropocentric and

utilitarian tradition of technical objects. Technique

is not at people's service nor are people slave of technique;

it would be what is in between natural and

human, therefore containing a bit of both. For Gilbert

Simondon 5 , the evolution of technique would obey

less to economic needs or to human practices than to

an intrinsic unification urge of mending parts into a

unitary whole, and humans would be only operators in

this process. According to this philosopher, the most

appropriate relationship of humans with machines

would be one where inventiveness could be perpetuated,

thus breaking the exhaustive repetition of operations

commonly attributed to technical objects' operations.

USE, ACCUMULATION, DEJECTION

The distinctions between creating and choosing, producing

and consuming are critically unstructured within

art with the emergence of the Duchampian readymade 6 ,

which, ironically, incorporates art to capitalist production

processes. A profound transformation in the statute

of the artwork takes place, because in this process the

artist subtracts an object from the mercantile field to

place it in the artistic field, granting it, with a signature,

a status of art, thus calling into question concepts of

originality (being the source of) and creation (to create

from nothing).

A culture of the use is inaugurated, grounded by the

appropriation of objects of within the production chain.

The artwork, in this context, would be a shift of a product

from one realm to another. Just like any cultural object,

it appears only as a temporary end, included in a network

of interconnected elements, through which it would be

possible to reinterpret previous inventories. By appropriating,

re-interpreting, re-using and reproducing

existing cultural products, a practice of post-production

is installed, which according to Nicolas Bourriaud,

characterizes art after the 1990s 7 :

6 Readymade is a series of works proposed by Marcel Duchamp, in

which the artist appropriates of industrial scale objects and, through

his signature, places them in the artistic realm. One of his best-known

readymades is the Fountain (1917).

7 BOURRIAUD, Nicolás. Postproduction – Culture as a screenplay:

how art reprograms the world. New York: Lucas & Sternberg,

2002, p. 7.

8 Assemblage is a term used to define collages with objects and

three-dimensional materials.

All these artistic practices, although formally heterogeneous,

have in common the recourse to already

produced forms. They testify to a willingness to

inscribe the work of art within a network of signs and

significations, instead of considering it an autonomous

or original form. [...] The artistic question is no longer:

"what can we make that is new?" but "how can we

make do with what we have?" In other words, how

can we produce singularity and meaning from this

chaotic mass of objects, names, and references that

constitutes our daily life? Artists today program

forms more than they compose them.

If Duchamp's concept summarized the artistic act as

an act of choice, at the expense of manual activity,

new post-production strategies take the object as an

active agent, already existing in a previous state but

dependent on the artist collaboration and on the receiver

for its transformation.

The seemingly irrational assemblages 8 of Arthur Bispo

do Rosario's or Farnese de Andrade's works reveal

a new logic of thinking and organizing objects. The

practice of collecting for a later composition, oriented

by an aesthetic of accumulation, reverses the usual

dejection of elements in the sphere of consumption

and production. It starts from the principle that every

element can be reincorporated in a new set without

completely losing its original meaning. The objects

are not disposable, they are eligible for resettlement

in a constant transformation chain. Within this logic,

an object doesn't die, but it rises again to a new life.

The cartography of Bispo do Rosario's everyday objects,

in his "Tackle panels", rearrange the world based on

singular subjective views. In the relationship of the

object with the world there is a hidden reality that

allows for the imagination of new arrangement possibilities

between us and the objects surrounding us. In

"Mutation", Marepe uses dolls and industrial parts to

develop a cyborg sculpture, mix of human and machine,

a representation that is linked to a cibertech imaginary,

typical of science fiction stories. "We came from

the sea - Computer" by Farnese de Andrade approximates

a composition of objects, allegedly found on the

beach and compressed into a resin block to a computer

case. It sees not only the formal relationship between

two objects - resin block and computer - but also an

ontological connection, in a remote epoch, between

residual objects and digital files. Both can be read as

data, through which it would be possible to access a

past filed in a memory built by information gathering,

172


such as remains of a culture or apocalyptic waste of a

civilization, assembled by the resin. Transformed into

art, these objets trouvés ("found objects" in French), so

much used by the Surrealists, compose a collection of

disparate elements, where each object, gathered due

its aesthetic qualities or its conceptual link, retains its

original properties inside the set. While making it possible

the inclusion of all materials in the artistic realm,

they break with the boundaries between art and life.

An operation that aim at solving everyday problems

in alternative and inexpensive ways, the gambiarra

("makeshift", "life hack") establishes some unusual

functions for available objects. The photographic images

of the series Gambiarras by Cao Guimarães are records

of this unforeseen organization. However, when dealing

with creative re-appropriation of means and technologies,

especially in contexts of scarce materials and

resources, this tactic shows creative and political

potential. Improvisation and recycling of materials are

associated with DIY (do-it-yourself) practices, method

by which individuals resort to their own strategies for

production, repairing or transforming objects, breaking

external dependence on the satisfaction of a desire

or need. In addition to offering an alternative to the

culture of consumption and to the disposable aspect of

objects, it also points to the need for a closer relationship

between the individual and technology, stressing

its personal and creative instances. Paulo Waisberg in

"Slaughterhouse", by intervening on stuffed chicken made

in China, exposes its internal electronics components

and modifies its operation, thus preparing an underlying

ironic device to the innocence of children's toys.

Low-tech elements, old devices, handmade objects,

industrial products, artifacts from multiple sources

are assembled in new configurations, without obeying

hierarchies. In "Bas relief", Zaven Paré uses indigenous

formal repertoires, with its feather, fragile and difficult

conservation, paradoxically combined with recovered

metal elements, of industrial origin. It is established,

therefore, a relationship between indigenous art and

mechanical technology, granting a cyber face to a traditional

element. The non-hierarchical ways and the

simultaneity with which these products, commonly

thought of as disparate, are presented, accentuate

the degree of proximity between artistic, cultural and

industrial products.

In the installation belonging to the series "Reverse

Landscapes", Dirceu Maues develops proto-devices

which take over the dawn of photography technique,

the dark cameras. The optical device created with

cardboard boxes, lenses and tracing paper - precarious

and cheap materials - provides an ambiguous image, in

which the categories of low and high tech are confused:

in constant formation, without never being fixed, the

image and its support recall high definition plasma

display panels. The transitional character of the image,

its texture and its instability show the landscape as a

fictional construction and as a product of a development

that is simultaneously technical and human.

Where do objects go after they are discarded? This

issue is addressed by Fernando Rabelo in his video

installation "Venda-$i". This is the blind technology

consumerism, in which we avoid the question of our

discarded parts fate, and its possible ecological, economic

and social effects. In "Timecode", Leandro Aragão

prepares a large hourglass with cathode ray tubes from

old televisions, building a metaphor of the programmed

obsolecense of technical objects, in which life is already

predetermined and the destination is the junkyard. In

"Escape II", Anthony Goh and Neil Mendoza also confer

new uses to discarded cell phones by developing an

interactive bird with them. The possible dialogues

between technologies from different historical periods

are addressed with irony in "Morse mouse", by Guto

Lacaz. In "Of broken things", Lucas Bambozzi builds a

machine that destroys old mobile phones in an act of

devouring obsolete technologies. The machine is autonomous

and independent of human control, with its

operation being determined by electromagnetic flows

in the space in which it is situated. In other words,

it is the use of mobile equipment which determines

the destruction of their counterparts, in a metaphor

of the consumer cycle and the dejection that guides

technological apparatuses in general.

DYSFUNCTION, INEPTITUDE, INDETERMINACY

Each historical epoch inaugurates its sociability patterns

or, as Georges Bataille puts it, homogeneity 9 . The

prevailing conceptions guiding socioeconomic settings,

as well as moral and cultural expressions, stipulate a

homogenization index of Western society. For Bataille,

this homogeneity is based on productivity and utility, in

which the production and preservation of an individual

and his species are allowed. Each heterogeneous element

is suppressed and any inept element is automatically

discarded. Our current standard of homogeneity also

adds the justification of capital: everything that can

be commercialized has its existence justified. In order

to be considered functional, the product must sell.

173


Following this logic, technique and technology have

been built since the eighteenth century for an industrial

project which main objective is productivity and the

rational, technical and scientific domain of the world.

The way of relating to machines is also guided by an

operational standard: the machine is a tool that follows

a fixed programming coined at the time of its making.

Given these homogenization standards, Bataille proposed

a new economic principle constituted by unproductive

spending and loss. The category of useless, non

homogeneized, heterogeneous and fleeting the rules

rise like a force that establishes a necessary balance

of the socially useful, productive and homogeneous.

According to its own definitions, art would itself be a

heterogeneous element, part of the unproductive agency,

since it has a value that is independent of functionality,

besides it being endowed with its own purpose. The

artistic reappropriation of industrial and technological

elements would rehabilitate, therefore, the heterogeneous,

creative and dysfunctional use of technique.

In the practical deviations operated by the gambiologists-artists,

we have a glimpse of a critical discourse

regarding technocracy, particularly of tech determinism,

in which each object has a designated function.

Error and fault reappear on programming as disorders

leading to the contradiction of utopian techno-scientific

sublimation values. Materialization of a critique of the

capitalist society use system, the macchine inutili ("useless

machines"), by the Italian Bruno Munari, expressed in

the early 1930s a radical break with the utopian, naive

and technophilic conception of the Futurist movement

leaded by Marinetti in relation to technology and its

function in modern times. Rather than metaphorically

represent such machines as sources of power and

dynamism, Munari went in the opposite direction, near

the Dadaist spirit, carrying a denial attitude towards

industrial and economic rationalities. He used, then,

fragile elements as paper, wood and silk thread in order

to make the work move freely as a kinetic piece. Known

as "the new Leonardo", he proposed a real learning of

the language of machines in order to prepare a full and

organic art in permanent transformation, in which

the basic structure would pass through technology.

9 Cf. BATAILLE, Georges. La estructura psicológica del fascismo. In La

conjuración sagrada (Ensayos 1929-1939). Buenos Aires: Adriana

Hidalgo Editora, 2003.

They are useless machines since they "don't produce,

alike other machines, material consumer goods, don't

eliminate labor nor increase capital" 10 .

The critical intent of inventing "useless machines" is

taken up on the homonymous piece of Aruan Mattos

and Flavia Regaldo, who use scientific knowledge to

build structures where functionality is non-existent and

the effectiveness of science and technology is ironically

challenged. The creation of autonomous machines,

without apparent function, also emerges in the low

tech "Thisthose (Window)" by Mariana Manhães. The

unpredictable behavior of electromechanical parts

and the use of elements that simulate physiological

movements (plastic bags that are intermittently filled

with air) are used here to build a relationship with the

organic behavior of an organized body, subject to the

intrinsic interaction between parts, and independent

of human manipulation. In the emergence of a poetics

of everyday life, objects from the artist's personal

collection such as cups, vases and teapots are chosen

to be animated in craft videos that, in turn, command

the movements of the mechanical and electronic parts

of her pieces.

Parts of industrial objects are taken from their original

structures by the interest arisen by the movement or by

the sound they produce, and rearranged to form small

machines in "Mere things", by Joseph Morris. What

previously had a specific functionality now causes in

Morris an imaginative thinking which sees gear systems,

mechanical impulses, chain reactions. Small metal

wheels, fragments of devices that reproduce cassette

tapes, objects from multiple equipments undergo a

new functional organization of elements, which erupts

a new ordering logic.

The interaction between chemical reactions, electromechanical

motion and image capturing and projection

operates in "Translator", by Mark Porter, in the

structuring and behavior of a machine that gradually

modifies itself and the space in which it is by performing

drawings on the wall. In the expulsion of liquids

together with simultaneous and continuous image

making, the electromechanical and digital structure

somewhat mimics the irregular patterns of human

gestures. From the determined execution, control and

precision that it is usually induced to machines, elements

of uncertainty and randomness arise, which relativize

human superiority over technical surrounding objects.

10 MUNARI, Bruno. El arte como oficio. Barcelona, Labor, 1968, p. 17.

174


NOISE, SILENCE, RANDOMNESS

As one experiences the forgotten potential of objects,

manufactured or not, one can also perceive that all

objects are possible sound emissors. In this quest for

expanding the sound universe, it is possible to find unconventional

uses of traditional musical instruments,

as well as the creation of sound devices, hybrid and

heterogeneous, made with retrieved, manipulated

objects converted and incorporated into electromechanical

systems. Machinic stuff are thus, constructed,

to autonomously operate in the production of sound.

Small-scale manufacturing, hacks and the combination

of low and high techs are facing the excessive industrialization

of contemporary objects and the vertiginous

obsolescence cycle that accompanies this production.

The reclamation of craft and the combination of digital

and analogue technologies are parts of Paulo Nenflidio's

work. Sound machines and other objects arising from

invention and improvisation of materials articulate the experimentation

with mechanical physics, electro-acoustic

and electronics, within a sophisticated formal and

visual formulation. The "Thunder Machine" sonically

recreates the electromagnetic phenomenon through

digital programming, which randomly and autonomously

triggers the electromechanical elements of

this machine-sculpture. The approximation of natural

and technological is then rescued by this simulation

of natural noises.

In "The ballad of extended backyard", the Japanese

artist Ujino rescues the poetics of the contemporary

world sounds by using heterogeneous secondhand

elements such as blenders, hair dryers, chandeliers,

turntables, guitar parts, combined to make a large

sound machine that automatically performs a rhythm

section. The structure has a function that is similar to

a music box: a turntable causes the rotation of a vinyl

to which pencil pieces onto the surface are attached.

Upon reaching the switches located above the vinyl,

these pencils close the electrical circuits turning on

or off the appliances, producing sounds within a uniform

rhythmic series. The score becomes something

visible, exposed to the viewer. The roundness of the

sound patterns, in which any sense of progression or

time development concept are lost, makes this musical

piece by Ujino a anti-symphony performed by an

automaton musical group 11 . The mechanisms of this

sound sculpture, endowed with its own movements,

are leading a singular execution and proclaim the

autonomy of the machine.

Mass consumption and waste give the extra elements

and the experimentation with the immanent combining

ability of ordinary elements in order to escape

from the commercially given and consumed. There

is, then, a miscellany of elements clustered in non-hierarchical

ways, since common and artistic, musical

and non-musical objects are put on the same level.

Everything is subject of combination, of incorporation.

This congregation defies and subverts the distinctions

made by the erudite culture, between stratified and

conventional standards of art and the objects and

sounds of the world.

By rescuing the poetry of the world's noise 12 , these

artistic proposals follow the trails opened by the noise

aesthetics, the sampling techniques of concrete music 13 ,

the unpredictability of random music and the programming

possibilities of electronic music, intrinsically

associated with the machine, hardware and software

included. The reassessment of the noise as a musical

element questions and dispenses the conventions of

harmony, scale and rhythm. Luigi Russolo, already in

the early 20th century, held that the post Industrial

Revolution technologies should be incorporated immediately

to art. The urban noise caused by electrical

machines and apparatus, by referring to the very

experience of life, could not be dissociated from the

aesthetic experience. The reappraisal of the noise as

a musical element, as well as the use of extramusical

elements in the composition, including sounds from

any source, continued to be experienced in the concrete

music of Pierre Schaeffer in the 1940s.

In this same decade John Cage elaborates compositions

using ordinary objects: scrap, cooking pots, blenders,

kettle. Contemporary noise and also silence resurface

as intrinsic and necessary components for sound and

music experience. Silence is, for Cage, the basis upon

one organizes the metric division of time, and it underlies

the entire composition. Sounds of any kind could,

therefore, emerge in a certain compass without any

syntax, order or sense of progression. The noise would

thus be part of silence. Combined randomly, the two

align endless possibilities of variation and randomness.

12 Noise is a term used to describe some varieties of experimental

music and sound art that use acoustic or electronic noise produced

unexpectedly or using previous recordings. These experimentations

may cause effects of atonality, repetition, cacophony, dissonance etc.

13 Sampling is the collection and subsequent combination of pre-recorded

audio samples.

175


The most important would be to accept the sounds

erupting in emptyness and to be open to the absence

of intentionality in the composition. Intention is now

for Cage the only difference between the noises that

spontaneously spring up in silence and those caused

by the musician.

This intrinsic relationship between silence and noise

reappears in "00:56:04" by O Grivo, a sound sculpture

in honor of Cage that explicitly carries its duration in

the title. This metric duration is the required time for

the gears of the small gadget built by the duo to cause a

noise: the barely audible sound of a metal rod tapping

a musical instrument string. At the same time, this

lowermost sound that breaks the silence of our waiting

ironically justifies the whole complex structure of

gears. The project connects, therefore, the visual and

the sound of concrete objects.

In "Hole", by the Chelpa Ferro group, a wooden box

of speakers, a microphone and other audio equipment

connected in series make audible a noise that

is generated by association and multiple translations

of the impulses between one device and another. The

self-production of electromechanical sound questions

the musician's role as a sole creator of sounds and

controller of the composition, suggesting a piece that

is shared with the randomness of technological instruments,

be analog or digital.

HANDLING, HACKING, AUTONOMY

Some gambiologists also reappropriate codes of electronic

circuits already invented, known as open source, free

software and open hardware 14 that are available online

to modify them in their artistic proposals, associated

with DIY practices. The use of these platforms in artistic

creations subverts the political-marketing field that

involves technology and leads art to a political realm,

discussing, as well, its own formal and conceptual characteristics

within the era of ciberinformation. Access

to the internal functions of electronic devices or, as

Flusser puts it, the opening of the "black box" allows

for the simultaneous modification of the machine and

its user, action that goes beyond the interactivity of

ordinary programming.

14 Projects found online, which are free to use and, through the access

given to the source code, they can be altered and redistributed by anyone.

To the tactics of appropriation and detour employed in

artistic projects, open electronic workshops concerning

DIY design as a tool to promote horizontality of

speech and exchange are assembled. The "Workshop

of Jean Baptiste Gambièrre" set up by the Gambiologia

Collective (Fred Paulino, Ganso and Lucas Mafra) is a

work-in-progress installation that reveals production

processes, disassemblage of parts and electronic hacks

as in a large open workshop. Regarding these workshops

produced by the group since 2010, we realize

the intention of creating an effective approximation

of the individuals with technical objects, with an aim

to increase knowledge and promote actions of manipulation

and creative and inventive reinterpretations

of these objects.

This practice of workshops is aligned with the "maker

movement" that arises in 2005 as a way to leverage a

more participatory approach to technique and technology,

contributing to this approach by using DIY

practices. In this context, we see the emergence of

hackerspaces, which are community spaces where

tools and knowledge are shared and reintroduced,

after the removal of the individual from the instance of

production of the industrial age, direct manufacturing,

use of skills and personal involvement in maintenance,

transformation and invention of multiple artifacts

that involve electronics, computing, robotics, metalworking,

carpentry, among other disciplines. In so

doing, learning by making, collaborative networking

and knowledge sharing are emphasized. The intention

in sharing and expanding technological knowledge

is presented as a political tool in a global context in

which influence – political, economic, social and cultural

– takes place mainly through large corporations'

technological domination.

The objects and facilities that are present at "Gambiologos

2.0", built with a variety of elements from electronic

shops, junkyards, antique fairs and discarded garbage

from urban environments, recover the instance of

creative invention. LEDs, reused electronic circuits,

stickers, dolls, wooden carved pieces, among other

materials, compose an aesthetics of the excess that

matches the excesses of contemporaneity. It is not just

about considering a certain type of artistic practice

that uses low-tech and recycling of materials, but it

is about identifying a creative rework that critically

reconsiders the utilitarian definition of objects, the

idea of technical progress and the obsolescence of

tech devices.

Juliana Gontijo is a researcher, lecturer and independent curator. She holds degrees in Cinema from the Sorbonne Nouvelle University (Paris)

and in Art History from the University Le Mirail (Toulouse.) She is currently a doctoral student in Art History and Theory at the University

of Buenos Aires. He worked as exhibition coordinator at the Fundación Proa (Buenos Aires, 2011-2012) and was responsible for the cultural

sector at FUNCEB (Buenos Aires, 2008-2009). She coordinated the artistic residency "Arte in loco" (Buenos Aires - Rio de Janeiro), winner of

the Funarte National Network award (2009). She is the author of the book "Technological dystopias" (Ed. Circuito, 2014), awarded with the

Funarte Stimulus to Critical Production grant. She was a lecturer at the Arts Institute of the Rio de Janeiro State University (2013-2014). Among

his curatorships, stand out "Stable Instability" (Paço das Artes, São Paulo, 2014) and "Alter Machine" (Di Tella Institute, Buenos Aires, 2015).

176


MAKESHIFT SCIENTISTS, POETS OF IMPERFECTION

RAQUEL RENNÓ

Pinto do Monteiro, a repentist poet from the state of

Paraiba in northeast Brazil, defines poetry as "the art of

taking from where you don't have and placing it where

it doesn't not fit." A walk among the works selected for

"Gambiologos 2.0" allows us to understand the poetic

narrative that is constructed by artists from different

countries and moments who are exhibiting in the

show. Poet, author and maker are synonymous with

the Greek term poete 1 . The gambiological artists create

from waste, this being a despised group, symbolically

excluded but a surplus in its material sense. They act

as poets because they resignify things that have lost its

sense in a system of signs and have gained the generalized

meaning of garbage, disposal. In the exhibition,

Sara Ramo in "On the move" introduces this universe

by showing the excess of objects we possess and that

identify us. Accumulation is our fate. The objects we

have and that we transport with us are meaningful to

us. Often, that’s all that differentiates them from trash.

The prominent presence of Bispo do Rosário in the

exhibition highlights poetic writing as part of his work.

Bispo writes with objects. His "tackle panels" consist

of phrases that are layed out in four columns. The

artist structures chaos as a poet structures verses,

highlighting elements in a composition of rhymes of

different sounds. Poetic construction, according to

Bakhtin, has this characteristic of constant reinterpretation

of everyday life, of the recognition of objects

that, paradoxically, given their banality and massive

presence in the world, tend to invisibility:

[...] all concrete speech (articulation) meets the object

for which it is facing already, so to speak, discredited,

contested, evaluated, surrounded by a dark mist or, on

the contrary, illuminated by the speeches of others who

have already spoken about it. The object is bound and

penetrated by general ideas, by views, by assessments

of others and intonations (BAKHTIN, 1935: 100).

Bakhtin (1990: 1-2) notes that only individual praxis

allows us to connect the three domains of human

culture - science, art and life. In the absence of this

continuous practice there is what the author calls

"mechanical" actions, a set whose elements are united

in space and time in an external mode, without being

imbued with an internal unit of meaning; parts of

the whole are contiguous, but remain far apart. The

only way to overcome mechanical actions would be

by “preventing the inspiration that avoids life and is

ignored by it." Without the everyday, finally, there is

no artistic production.

The gambiological artist is also a collector who has a

watchful eye on the picking and selection of what

will be used and the endless combinations that can be

proposed. In gambiological works the process defines.

It is from what is found, from what is available that

the result appears. It's the amount, the excess that

defines poetry.

Gambiological processes are old acquaintances of people

from different cultures, wether there is a specific name

for these practices or not. The gambiological impulse

is natural born; hence the need for constant control

of waste by public authorities, which in some cases

punishes anyone who pick up waste, justifying it as

maintainance of hygiene and safety 2 .

The focus of gambiarra is not the product, it is the process.

The non-planning of informal constructions comes

to couplings, juxtapositions that occur gradually. It is

more Tetris and Lego than architecture. These solutions,

therefore, become useless and extremely critical

machines. The gambiarra is therefore also a contestatory

act – a constant disobedience to clean design that hides

its constituent processes and imposes just one use of

the objects, previously determined from top to bottom.

Hence the mistake of accepting the art of gambiarra as

daily production but not in the Arts, in its exclusive

spaces, being it charged with accusations of "cosmetics

of the precarious" (OBICI, 2014: 69).

Gambiarra refers to processes that occur in a more evident

way in limited economic contexts, but it transcends

them. It is only when the "do it yourself" is succumbed

1 Early 14c., “a poet, a singer” (c.1200 as a surname), from Old French

poete (12c., Modern French poète) and directly from Latin poeta “a

po-et”, from Greek poetes “maker, author, poet”, variant of poietes,

from poein, poiein “to make, create, composse”, from PIE *kwoiwo

– “making”, from root *kwei – “to pile up, build, make” (cognates:

Sanskrit cinoti “heaping up, piling up”, Old Church Slavonic činu

“act, deed, order”). Available at: http://www.etymonline.com/index.

php?term=poet. Accessed in: February 26, 2015.

2 About this theme: Os respigadores e a respigadora, de Agnes Vardá

(2000), is a core film essay.

177


by mass industrial structure (through the force of marketing

actions and public administration itself), when

the artistic space is taken up in a "aesthetic distance",

as defined by Bourdieu (2007: 35), so that the power of a

speech can be silenced in pure indifference. Thus, the

critical forces of power, especially those industrial and

technological forces, appear in different but consistent

ways in works of the exhibition.

The exhibition brings the urban space into the gallery

– not as frozen representation, but especially showing

the processes and flows that occur in the city. Soja

(1993: 9) said that architects and planners were still

tied to perceived and represented space, but they have

difficulty in participating in the experienced space. In

this respect, the artworks exhibited allow a turning

point in understanding the makeshifts in galleries,

positioning it as something that goes beyond residual

aesthetization, although the residual has an aesthetic,

and this is quite clear in the exhibition. As Denise Scott

Brown (1969: 185) puts it, "even after the artistic fashions

change, we will still be here because this is a pop city,

this one, the one we have." In this sense, gambiarra is

a call and an invitation to participate.

The gambiological artwork never realizes itself as an

end, only as a range. If we agree to Perec (2001: 47) that

space is a doubt and is never given to us, we have to

believe, too, that the temporary designation processes

that gambiological works show turns it into the science

of streets, of nomadism, of movement in thought.

A kind of art/science that assumes that it can spot

but not isolate, that must present together the tangle

of where it originates. It is a science that continually

shows the role of procedural requirements in relation

to the fin-ished work.

By combining artists’ trajectories and different contexts,

"Gambiologos 2.0" also discusses the obsolescence cycle

of brands and the rigid concepts the art market imposes.

What could serve as a hallmark therefore becomes a

common thread, permeable to young artists working with

electronics, robotics, popular and contemporary artists

who use little or nothing of digital technologies. Thus,

gambiarra connects the production of popular culture to

art. It is not an institutionalization of an exclusive street

practice, but rather the evidence that popular artists

and erudite artists have similar processes, revealing

a transgressive possibility that goes beyond the works

and brings critical reflections on the art scene itself.

3 http://failblog.cheezburger.com/thereifixedit.

Joseph Morris, with the "Mere things" series, brings the

banality of the objects and the simplicity of machinical

structure, that proposes a way to reconnect with the

objects we share. He takes up the writings of Bakhtin on

the importance of human presence on the connection

between art, science and life. Cao Guimarães, with his

"Gambiarras", shows the repertoire of the streets and

blogs such as There, I fixed it 3 , in addition to thousands

of posts with life hacks of various types, shared on

social networks daily, which gives a new meaning to

the works and contributes to erase the rigid boundaries

between the exhibition space and what happens out of it.

I must endorse also the very layout of the works on

display, making it clear that we are not in the traditional

white cube galleries, or the black cube of digital

art exhibitions. The metal structures that divide (and

not isolate) the room propose a space that refers to the

workshops, which we can call gray cubes.

It is no coincidence that the Gambiologos (Fred, Lucas

and Ganso), among many activities, have never overlooked

the workshops, which, incidentally, are part of

the "Gambiologos 2.0" exhibition. The activities cover

the process of understanding the science of gambiarra

as something collectively and continuously built.

The act of making is a fundamental part of the gambiological

science. Sennet (2009: 45) notes that the

separation created between the actions of the hand

and mind are not only intellectual, but rather social.

To include the handmade in this dynamic is subversive

in that it replaces distance for familiarity and

participation, without necessarily falling into traps of

so-called interactive technologies, which largely only

reproduce pre-programmed and predictable interactions

of commercial interfaces. Ujino mentions that

he hopes "that in the future people can connect and

rearrange technologies from what they themselves

want." It is the same with Jorge Crowe, a sound artist

who attended the show with a performance. Jorge is

an artist but also long-time workshop coordinator.

In their workshops, he organizes what lies at the heart

of his work. His "Toylab" is a proposal to rebuild cheap

tech toys (made in China) with distinct functions or

features. It is a method for recognizing objects, especially

toys, which are produced in mass and sold worldwide.

From its original meaning 4 to current usages in language,

gambiarra is about connections. And if there is something

typical in hacks, this is something that connections

are constantly made visible. While commercial technological

arrangements conceal the processes where

178


results and presence are almost magical to consumers,

the gambiarra exposes its connections. As Obici notes

(2014: 43), "(...) a hack establishes, even temporarily, the

reversal of embedded designs in technology, revealing

the reverse of the order that it establishes”. We can

see how the parts are combined, as the structure is

organized. What we see in the exhibition is not only

an aesthetic connection between artists' pieces, but a

very important operating mechanism.

Gambiologia is thus the science of gambiarra. The scientist-expert

is evident in the figure of Jean-Baptiste

Gambièrre, who mocks the scientist that have knowledge

but rejects the mundane, as well as the rigid official

structures of validation of what is considered science

or not. However, if we look beyond the common sense

of what is considered science, we notice that there

is a lot of hacking in the scientific process. The act

of collecting, selecting and reordering, withdrawing

from an existing set what is considered interesting and

structure it in new combinations, "uniting two things

that belong to different worlds ... this is the beginning

of the scientific and creative leap" (SENNET, 2009: 211).

In the scientific method, hypotheses are confirmed or

refuted, and scientists learn with experimentation.

At this point, the hacker and the scientist operate in

the same manner:

if you try an experiment and you require the outcome

to be what you expect, this is not good science. In fact

this isn't even science, it's bad science maybe, but it's

not science. Good science requires that you are open

to the outcome whether it's what you're expecting or

not. (...) Science, like hacking, requires lots of failures.

Before coming out with useful theories you've got to

try things again and again and come out with the

unexpected almost all the time. This is how we learn,

this is how science progressess (ALTMAN, 2014).

The subversion of science practices relates to creative

processes in the art that appropriates science and technology

and overcomes dichotomies between amateur

and professional, digital and analog, or even between

traditional and scientific knowledge. These practices

dialogue with the proposals for open science and knowledge

sharing we see today in hackerspaces and DIY

science labs. Gambiologia also proposes a science of the

collective, of "do it yourself", but also the science that

has to do with more traditional scientific processes,

research, analysis and proposition of results that can

be made more generic or broad. Likewise, there is a

correlation between the accumulation in both the scientist

and the gambiologist. More than a subversion of

art and science, Gambiologia is an allegory that belongs

to art and science.

While machines work in the production of perfection,

the gambiologists boil imperfection down to the arrangement

of objects to compose the works. It is not a mere

appropriation of ordinary, everyday objects into formal

arrangements that sustain the gap between the public

and the work art; the gambiarra appears as a way to

discuss the communicative processes in complex systems

such as those that connect human language to

the artificial, as does Zaven Paré, which deals with

robotics from language. As a good expert of language,

he knows it must be incomplete. This is the paradox of

the robot: if it appears "perfect", it is locked in a cycle

in itself. And it stops communicating. Only opening,

difference and incompleteness produce information.

Within this perspective, we can also mention the

work of Mark Porter, "Translator", which shows a

kinetic sculpture that gradually alters the space where

it operates. The mechanical-drawings-turned-sculptures

"portray the irregularity of human actions." Instead of

even language, required for communication between

machines, Porter brings the machine as a generator

of irregular languages.

Mariana Manhães in "Thisthose", in turn, shows her

studio as if was alive with, objects that "sigh". Paulo

Waisberg extends this sense of anguish of objects and

machines with the works "Lung" and "Slaughterhouse".

Again, the anthropomorphic (mainly in "Slaughterhouse")

is shown as incomplete, open, imperfect, but necessary

for us to connect with the machines we discard.

Anderson says that maker culture announces the third

industrial revolution, with the possibility of customized

design and individualized production. Even with all the

known social, economic and ecological problems that

industrial production has generated, we still live under

the spell of the possibility of building things. Within

this constant worship of the object, makeshift becomes

relevant as an alternative and critical view, as shown

4 According to Giuliano Obici's thesis, Houaiss points the emergence

of the term gambiarra in 1881, period synchronous to industrialization

and urbanization that occur in the late nineteenth century to

the twentieth. The gambiarra appears with disorderly growth and

development of cities and the emergence of slums, consisting of substandard

housing (shacks), lack of infrastructure (gambiarra) or lack

of regulation that opens a field for the exercise of illegal practices.

179


by Anthony Goh and Neil Mendoza with "Escape II," a

"bird" made of cellphone components in a cage, which

invites us to observe and, at the same time, to realize

the gadget that observes and controls us continually,

built with discarded cellphone scraps. On the one hand,

it still endures the association of "do it yourself" and

gambiarra as a practice of contexts in which "there is no

alternative”. On the other, gambiological artists show us

that there is much more in these practices than it may

seen. There is a cognitive structure, a modus operandi

that faces the excess and chaos, and pick up a way of

knowledge from it.

Questioning "the perfect machines" also implies questioning

the concepts of speed and efficiency that are

inherent in tech industry. This is evident in the series of

Aruan Mattos and Flavia Regaldo, "Useless machines".

The artists present machines that subvert the speed

of digital technology ones. By imposing another temporality,

propose contemplation and waiting. And

do not answer the complex processing demands or

functions that seek the effectiveness of the machines.

Guto Lacaz, in turn, is a master of useless machines.

His couplings between objects and distinct functions

refer to the transience of buildings in the favela (slum).

Mauro Alvim, with "Father! I want to queer the cannon"

builds a bull-cannon with scrap iron. The sculpture

is part of a series on the historical Canudos War in

Brazil and brings the utopia of a possible world to be

driven horizontally, outside exclusive hierarchies. It

is also interesting to think that Canudos brings us to

the origin of the term favela 5 , the urban setting that is

the most associated to gambiarra practices in Brazil,

including from dictionaries, which make reference to

clandestine light connections.

The gambiologia also questions the idea of technology

as something global, abstract and clean. Technology,

being it high or low tech, is dirty and concrete. The

difference is that some objects allow us to observe

these features and others hide them under the cloak

of pure abstraction. Mackenzie (2006: 3) criticizes the

error of a limited understanding of technology and

5 The word favela referred to common plants in the hills where

Canudos was built

6 http://en.wikipedia.org/wiki/Great_Pacific_garbage_patch.

7 Arthur Cravan drowned in the Pacific in 1918; the same ocean where

we have the largest area of waste worldwide, the aforementioned

Great Pacific Garbage Patch.

8 “God becomes evil”

software as virtuality. For him, it is necessary to see

code as practice and matter, even to understand how

the discursive construction gave rise to the idea of

invisibility and hence all social and political implications

of this phenomenon. So we remove technology

from purely technical environments and it is possible

to understand it from its entanglements with cultural

practices. Coding expresses abstract relations and

formal operations between different groups. The concrete,

social, economic, intellectual and even physical

context where these groups are has a direct impact on

code building.

By reframing trash, waste, the selected artists question

the cycle of planned obsolescence, the constant

imposition of the practice of using and throwing away.

Likewise, the materiality of technologies is clearly

presented. Lucas Bambozzi, with the installation "Of

broken things", brings a machine that destroys cellphones,

highlighting saturation and reducing objects

of massive presence which are, at the same time, objects

of status but are in scrap condition. The piece of

Fernando Rabelo, “Venda-$i” is a set of circuit that are

flawed, decadent and full of errors. It's the technology in

its actual operation, exposed circuits found in garbage

piles against hidden circuits within new machines.

The exhibition, therefore, deals with a contemporary

theme, a picture of what we live in. If we are drown in

garbage, if the anthroposcene is on the agenda of philosophical,

ecological and technological discussions, if,

in a not so distant future, our sea will be a Great Pacific

Garbage Patch 6 , the gambiologia reveals the most concrete

of our existence: the search for perfection and for the

formula of life in the sciences on one hand, and an

increasingly destroyed and trashed world, on the other.

The artworks dialogue with this paradoxical context.

The gambiologos are the artists of the anthroposcene.

A piece that may sum it up is "We came from the sea,"

by Farnese de Andrade, which shows a set of maritime

pieces mixed with everyday objects that give us the

idea that we are looking at our own guts. What is indeed

true: the trash is our open guts, our main production,

with which we cover the world.

As poets of the excess, the gambiologos bring back the

words of poet Arthur Cravan 7 , "I have twenty countries

in my memory and trail in my soul the colors of one

hundred cities". If our current life context reveals the

failure of humans as demiurges, it lies in the strength

of imperfect creation the poetic making that takes from

where you don't have and places it where it doesn't fit.

Or, as well said by Nam June Paik: "When too perfect,

lieber Gott böse" 8 .

180


References:

ALMEIDA, J.; SILVA, J. A. Ordenação e vertigem.

São Paulo: Centro Cultural Banco do

Brasil, 2003.

ALTMAN, M. The hackerspace movement. In:

TED BRUXELAS, 14 nov. 2012. Disponível em:

https://www.youtube.com/watch?v=WkiX7R-

1-kaY. Acesso em: 20 jan. 2015.

_________ The importance of failure. In: 15ÈME

RECONTRES MONDIALES DU LOGICIEL

LIBRE, Montpellier, 13 ago. 2014. Disponível

em: https://www.youtube.com/watch?v=Hwuqrv8aeyo.

Acesso em: 15 dez. 2014.

ANDERSON, C. Makers: The new industrial

revolution. New York: Crown Business, 2014

BAHKTIN, M. Art and answerability. Texas:

University of Texas Press, 1990.

______ Questões de literatura e de estética:

a teoria do romance. 2. ed. São Paulo: Unesp

Hucitec, 1990

BOUFLEUR, R. N. A questão da gambiarra:

formas alternativas de desenvolv-er artefatos e

suas relações com o design de produtos. 2006.

Dissertação (Mestrado em Design e Arquitetura)

– Faculdade de Arquitetura e Urbanismo,

Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006.

Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/

disponiveis/16/16134/tde-24042007-150223/.

Acesso em: 26 fev. 2015.

BOURDIEU, P. Distinção – A distinção crítica

social do julgamento. São Paulo: Edusp, 2007.

BOUMAN, O.; KHOUBROU, M.; KOOLHAAS,

R. (Orgs.). Al Manakh. Amster-dam: Archis

Foundation, 2007.

CRAVAN, A. Cravan. Œuvres. Paris: éditions

Ivrea, 1992.

DELGADO, M. Sociedades Movedizas. Barcelona:

Anagrama, 2007.

KOOLHAAS, R.; BOERI, S.; KWINTER, S.;

FABRICIUS, D.; TAZI, N.; OBRIST, H. U. Mutaciones.

Barcelona: Actar, 2001.

LALLEMENT, M. L’age du faire: Hacking,

travail, anarchie (la coulers des idées). Paris:

Seuil, 2015.

MACKENZIE, A. Cutting Code – Software

and sociality. New York: Peter Lang, 2006.

OBICI, G. L. Gambiarra e experimentalismo

sonoro. 2014. Tese (Doutorado em Musicologia)

- Escola de Comunicações e Artes, Universidade

de São Paulo, São Paulo, 2014. Disponível

em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27157/tde-30102014-153449/.

Acesso

em: 26 fev. 2015.

PEREC. G. Especies de Espacios. Barcelona:

Montesinos, 2001.

SCOTT-BROWN, D. On pop art, permissiveness

and planning. AIP Journal, p. 184-186,

maio 1969.

SENNETT, R. The Craftsman. New Haven:

Yale University Press, 2009.

SOJA. E. Geografias pós-modernas: a reafirmação

do espaço na teoria social crítica. Tradução

Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 1993.

Raquel Rennó (São Paulo, 1972) is an adjunt professor at the Center of Culture, Languages ​and Applied Tecnologies - CECULT (Bahia Reconcavo's

University) and professor in the Master of Arts, Culture and Languages ​of the Institute of Art and Design (Federal University of Juiz de Fora).

She is PhD in Communication and Semiotics from (Catholic University of São Paulo - 2007). She's a consultant of extension courses in Art and

Technology and a member of Artnodes magazine editorial board of the UOC (Universitad Oberta de Catalunya). She is a leader researcher of

the study group in Artistic Practices, Spatiality and Life Sciences (PAEC/CNPQ) and member of the International Society for Biosemiotics, the

International Center for Ethics Info (ICIE) and Bioart Society (Helsinki). She participates in research projects and experimentation in art and

digital culture with Latin American and European artists and researchers at ZZZINC (Barcelona). She is a member of the NGO "Other Tribes -

Bailux" with activists and leaders which works in the realm of digital inclusion and cultural preservation of the Pataxó indigenous community

in Bahia, Brazil. She is a co-director of Tropixel festival, the Brazilian node of Pixelache (Finland), a transdisciplinary platform for experimental

arts, design, research and activism.

181


ARTISTS & ARTWORKS

---------------------------------------------------------------------------------------------------

ANTHONY GOH & NEIL MENDOZA

Anthony is a UK-based interdisciplinary artist who works with

sculpture and movement. His work is informed by a deep meditative

study into the nature of human consciousness, and is focused

on how our relationship with the natural world can fundamentally

change our ideas of what we really are. As well as making artwork

and performance, he teaches workshops in movement, meditation

and deepening our connection with nature.

Neil is an artist and creative technologist exploring ways of breathing

life into objects and spaces through the use of digital and mechanical

technology. He is a founding member of the collective is this good?.

His work has been exhibited by The AND Festival, The Barbican, BBC

Big Screens, ISEA, Kinetica, The Museum of London, The Nottingham

Playhouse, Oi Futuro, PICNIC Festival, The Science Museum, The

V&A and Watermans, among others.

ESCAPE II

SCULPTURE ∙ MOBILE PHONES, BIRD CAGE, ELECTRONICS ∙ APPROX. 40 × 150 × 40 CM / 2012

Mobile phones are ubiquitous in today's society but often their

use has unintended consequences, intruding into and changing

social situations, distancing people in real life by dragging them

into the digital world. They are also a massive source of electronic

waste. This installation takes cast off devices and suggests an

alternate reality in which these unwanted phones and noises

become something beautiful, giving them a new life by creating

an experience that people can share together in person.

PG. 124 - 127

---------------------------------------------------------------------------------------------------

ARTHUR BISPO DO ROSÁRIO

Born in Japaratuba at Sergipe state in Brazil in 1909. He had a

reclusive life in a psychiatric hospital for half a century. Transiting

between reality and delirium, he believed to be in charge of a divine

mission and used dispensed materials at the hospital to produce his

pieces, which mapped his reality. Making use of the word as a pulsing

element, he manipulated signs and played with the construction and

deconstruction of discourse to create his embroideries, assemblages,

banners and objects that would later be consecrated as reference

works of contemporary Brazilian art. He passed away in 1989 in

Rio de Janeiro, being granted immediate posthumous recognition. In

1995 he represented Brazil at the 46th Venice Biennale. In 2012 he

was honored at the 30th São Paulo Biennial.

TACKLE PANELS (LAMP / DENTURES)

ASSEMBLAGES ∙ WOOD, IRON, GLASS, CARDBOARD, FABRIC, OBJECTS ∙ 179 × 67 CM /

109 × 64 CM ∙ N. D.

Sculptural panels, collages of objects, precarious displays. Visual

intuition and sense displacement. Reordering the world through the

clutter of everyday experience. These works were developed from

discarded objects found at the Juliano Moreira psychiatric institution

in Rio de Janeiro where the artist spent much of his life and produced

most of his work.

PG. 24 - 27

---------------------------------------------------------------------------------------------------

ARUAN MATTOS & FLÁVIA REGALDO

They are born in Belo Horizonte and work together since 2009. They

have participated in several exhibitions, scholarships and residences

as: Aesthetic Interactions - Funarte (2009); JA.CA Center (Minas

Gerais, Brazil - 2010); Funarte Visual Arts (2011 and 2013); São Paulo

Cultural Center - CCSP (2011); La Ene (Argentina) and Ateliê Aberto

(São Paulo, Brazil in 2014.

USELESS MACHINES:

ABSORPTION MACHINE

SCULPTURE ∙ PARAJU, MUIRACATIARA, CERAMICS, WATER, GLASS, RESISTANCE, THER-

MOSTAT ∙ 230 × 50 × 50 CM ∙ 2013

A wood structure supports a glass container that, in approximately

every 50 seconds, releases a drop of water. The drop touches the

ceramic and is slowly absorbed. A resistance that is in contact with

the ceramic releases heat by the thermostat control, preventing it to

become saturated.

USELESS MACHINES:

SUSPENSION MACHINE

SCULPTURE ∙ PARAJU, MUIRACATIARA, IRON ORE, NEODYMIUM MAGNET, GLASS,

METAL, 1 RPM MOTOR, FAN ∙ 140 × 45 × 40 CM ∙ 2013

A small motor performs the cyclical descent and ascent movement

of a magnet. In turn, the magnet approaches ore grains deposited in

a glass structure, which are drawn to suspension. With the removal

of the magnet, the grains fall again.

PG. 96 - 101

---------------------------------------------------------------------------------------------------

CAO GUIMARÃES

Born in 1965 in Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil, where he lives

and works. His works are photographs and expanded audiovisual

pieces, often situated on the border between film and visual arts. His

films have been shown in festivals such as Locarno Film Festival,

Sundance Film Festival, Cannes Film Festival, Rotterdam International

Film Festival, among others. His feature "Otto" (2012) was granted

three awards at the Brasília Film Festival (2012). He participated

in the São Paulo Biennial, Brazil; Mercosul Biennial in Porto Alegre,

182


Brazil; the Biennial of Montreal, Canada, and the Biennale of Architecture

and Urbanism in Shenzhen, China. His work is internationally

featured in museums and private collections, including the Fondation

Cartier Pour L'Art Contemporain, Paris, France; Tate Modern, London,

England; Guggenheim Museum, New York, USA; Museum of Modern

Art of São Paulo, São Paulo, Brazil; MoMA, New York, USA; Instituto

Inhotim, Brumadinho, Brazil; among others.

GAMBIARRA SERIES (#59, #103, #105, #106)

DIGITAL PHOTOGRAPHY ∙ 45 × 60 CM / 66 × 100 CM ∙ 2000-2014 (IN PROGRESS)

The four photos are part of an "in-progress" series, in which, with

formal simplicity and great plasticity, makeshifts in various locations

worldwide are recorded. In this set of images, the artist's ability to

improvise gives rise to moments of weirdness that are able to reinvent

our common view of ordinary objects and situations.

PG. 28 - 31

---------------------------------------------------------------------------------------------------

CARLOS M. TEIXEIRA

He has a BA at UFMG (1992, Belo Horizonte, Brazil) and a Master’s

Degree at the Architectural Association School of Architecture (1994,

London). Frequently focusing the contradictions between “voids” and

“fulnesses”, construction and destruction, his projects ranges from

private houses to researches in urban scale. He published the books:

“Under Constructon: History of the Void in BH”, "Collateral Spaces"

(Cidades Criativas, 2008) and “Entre: Architecture from the Performing

Arts”. He has shown his work at IV Bienal de Arquitetura de São

Paulo; Pavillion de l'Arsenal, Paris; IX Venice Biennale; Royal Institute

of British Architects (RIBA), London; the Victoria & Albert Museum

(London); 29th Sao Paulo International Art Biennial, among others.

GAMBIÓLOGOS 2.0 EXPOGRAPHY

The expographic project seeks not to compartmentalize the exhibition

rooms. Avoiding the idea of separating the works in tight environments

- a common solution in exhibitions of many pieces and little

space - this show has its objects juxtaposed in a continuous space.

The metal screens that support the works don't t separate them

by rooms, thus creating a visual overlay of frames and works that

confirms the concept of accumulation and bonding of this show.

The inevitable white walls usually create static rooms and remove

the spaciousness of galleries, transforming them into amorphous,

clinical and domesticated spaces. The common expography treats

spatial continuity as a problem and can't see possibilities in the idea

of visual permeability. That's why to design an exhibition is almost

always synonymous of creating "environments" and, unfortunately,

that's why the glass trestles that Lina Bo Bardi designed for MASP

were filed for two decades.

Such refusal of the more conservative cultural agents to accept non

static expographic proposals was far from our experience in "Gambiólogos

2.0". The exhibition has its curatorial proposal articulated

on improvisation, collecting, accumulation and acceptance (or not)

of popular culture in Fine Arts. And its expography seeks to reflect

and blend in with these themes, endorsing the mundane materiality

of its works and trying to be an element capable of enhancing the

strength of the exhibited objects.

PG. 128 - 130

---------------------------------------------------------------------------------------------------

CHELPA FERRO

It's a group formed by Luiz Zerbini, Barrão and Sergio Mekler. Since

1995 they develop a work that blends experimenting with electronic

music, sculptures and technological facilities in live performances and

exhibitions. They have presented work in several formats: objects,

installations, video, performance and recorded albums. The trio makes

unconventional use of musical instruments besides incorporating

invented instruments from appliances and everyday objects in the

performances, exploring the boundaries between noise and music.

Chelpa Ferro has presented works in museums and art galleries in

Brazil, Europe and the United States and biennials such as the Venice,

Sao Paulo and Havana. The group members live and work in Rio

de Janeiro, where they also perform their solo artistic trajectories.

HOLE

SCULPTURE ∙ SPEAKER, AMPLIFIER, MICROPHONE, STAND, HOWLING ∙ 70 × 40 × 30 CM ∙ 2009

Precarious audiophonic assembly, in which the frequency generated

by the amplifier shakes the speaker and generates a howling which,

picked up by the microphone, returns to the device and generates

an endless loop of noise.

PG. 52 - 55

---------------------------------------------------------------------------------------------------

DIRCEU MAUÉS

Bachelor and Master in Fine Arts from UnB (2012). He worked as

a Photographer in the major newspapers of Belém-PA from 1997

to 2008. In 2003 he began his original work in the fields of photography,

film and video, performing research with the construction

of handmade cameras and using precarious equipment. He was a

resident artist sponsored by the Itaú Cultural Rumos program in

Künstlerhaus Bethanien/Berlin. He received the Funarte award for

artistic creation and a residence award in WBK - Vrije Academy

(The Hague, Netherlands) from the International Contemporary

Art Festival SESC-Videobrasil (São Paulo). His works are part of

collections such as: Pirelli-Masp Photography, Fnac, International

Contemporary Art Festival SESC-Videobrasil, MAC-PR (Museum of

Contemporary Art - Paraná, Brazil) and MEP (Pará State Museum,

Brazil), among others.

183


REVERSE LANDSCAPE

INSTALLATION ∙ CARDBOARD BOXES, MAGNIFIERS, PAPER, CHAIR ∙ 200 × 220 CM ∙ 2014

This piece consists of a small wall, built from the stacking of simple

and precarious cardboard boxes, which serve as dark cameras and

point to the same place: a small illuminated chair. The chair's image

and everything around it is projected onto the paper inside the boxes,

revealing an upside down world.

Several boxes: many worlds in mosaic. Ephemeral real-time images

that transport us to a reverse horizon: to the time of all Photography

precursors which, together, "burned in desires," to use Daguerre's

expression, for the magical image projected inside the black box. Here,

the experience of image makes a way back towards immateriality,

towards the desire that preceded the photographic image as we know

it - or as we knew it a few years ago. Inverted landscape... A world

within a box: the world upside down. Desires burn in images. Desires

to fix desires in inverted desires, in parallel worlds: ephemeral image.

PG. 49 - 51

---------------------------------------------------------------------------------------------------

FARNESE DE ANDRADE

Born in 1926 in Araguari, Minas Gerais, Brazil. He began his career

as a drawer and engraver and from 1964 on he worked on producing

assemblages, mainly using polyester, wood, antiques and found objects.

He lived in Rome and Barcelona. In life, he won numerous awards

and held dozens of solo exhibitions, participating in important exhibitions

in Brazil and abroad, such as the Venice Biennale, Sao Paulo

Biennial, Pan-American Biennial, National Salon of Modern Art and

International Sculpture Biennale. He died in 1996 in Rio de Janeiro.

His works remain being presented in many art events worldwide.

WE CAME FROM THE SEA (COMPUTER)

SCULPTURE COATED WITH RESIN (POLYESTER) ∙ 21.5 × 35.5 × 27.5 CM ∙ 1978

"We came from the sea" series is composed of assemblages created

from debris and marine forms collected on the beach, such as shells,

starfishes and sea urchins. To them, pieces of dolls, marbles, pieces

of wood and other objects collected by the artist are aggregated.

The futuristic look of the "Computer" wrapped in polyester and its

composition similar to a computer cabinet contrast with the piece's

organic aesthetics which is entirely analogic.

PG. 20 - 23

---------------------------------------------------------------------------------------------------

FERNANDO RABELO

He was born in Belo Horizonte, Brazil. He is currently the coordinator

of Visual Arts course at UFRB (Bahia, Brazil). He participated

in international and national exhibitions, and have won the Sergio

Motta Award for Art and Technology in 2009/2010. His works are

based on critically, reflective and purposeful reconfigured technological

possibilities, in which live animation, illustration, educational projects

and installations where interactive domestic hacks or sophisticated

digital projection systems coexist. He has recently created "Reconvexo

- Video Mapping and Interactivity Festival.

VENDA-$I

ELECTRONIC OBJECT ∙ APPROX. 90 × 60 CM ∙ 2014

It was originated from the reuse of various materials that would

otherwise be discarded by the author, as well as others collected in

the streets during the months prior to the exhibition. Among them

are packaging leftovers, auto parts, cables and semi-damaged mobile

phone chargers, window frame, microprojector, monitor, screws, etc.,

all connected to a Raspberry PI microcontroller.

The title suggests an act of a constant process of selling oneself ($i)

to the industrial technology needs of consumption, what replaces,

in a way, the thinking/acting in a local, social and environmental

technology.

“Venda-$i" also deals with the sale of art objects, and of artists,

increasingly built for the art galleries market. Business is more

relevant than the creative act on itself.

PG. 114 - 117

---------------------------------------------------------------------------------------------------

FRED PAULINO

(GAMBIOLOGIA COLLECTIVE)

Born in Belo Horizonte, Brazil (1977) where he lives and works.

Computer Scientist from UFMG, holds a graduate degree in Contemporary

Art from UEMG. He performs since the 1990's as an artist,

designer, curator and researcher, focusing on the relationship between

art, technology, politics and popular culture. His pieces are in diverse

media: electronics, programming, graphic experimentation, object

collagesm, street art and video. He was creative director at Osso

Design and one of the founders of Mosquito Studio. Since 2008 he

coordinates the Gambiologia Collective. He curated the exhibitions

"Gambiólogos - Makeshifts in a digital era" (2010 and 2014). He is

the editor of "Facta - the gambiologia magazine".

PG. 138 - 153

---------------------------------------------------------------------------------------------------

GAMBIOLOGIA COLLECTIVE

Formed in 2009 by artists-designers Fred Paulino, Lucas Mafra and

Paulo Henrique Pessoa ('The Goose"). The group adopts the culture

of makeshifts as inspiration for works on art and technology. Their

creations unfold in multiple initiatives, such as: development of

creative electronics, installations, sculptures and decorative objects;

workshops on electronic art and reusing; proposal of collaborative

projects such as "Gambiólogos" exhibitions and "Facta - the gambiologia

184


magazine"). They participated in several events in Brazil and abroad,

among them: Zero1 Biennial (San Jose, USA); ISEA - International

Symposium on Elecronic Art (Albuquerque, USA); Tecnofagias (São

Paulo, Brazil, CREAM - International Festival for Arts and Media

(Yokohama, Japan); and Arte.mov Festival (Brazil). The collective

received an honorable mention at the Prix Ars Electronica in Austria.

THE WORKSHOP OF JEAN BAPTISTE GAMBIÈRRE

AND HIS DISCIPLES

OCCUPATION ∙ GAMBIARRAS, HACKS, MIXED ELECTRONIC TECHNIQUES, PSYCHEDELIC

COLLECTIONISM ∙ VARIOUS SIZES ∙ 2014

Large in-process installation simulating the studio of Gambiologia's

fictional patron. This is a temporary and permanently in change

occupation that happens during the exhibition, which refers to the

workshops of the collective members and any gambiologist.

In this installation, Gambiologia presented the most part of its pieces

created from 2008 to 2014, as well as original pieces produced for

this show. Objects of collection and pieces that include: assemblages,

sculptures, lamps, projections, stickertherapy, the Gambiocycle (a

multimedia-concept-tricycle) and many other electronics.

New works had been incorporated during the event and workshops

for the visitors were held, in a way that this piece was considered

done only on the last day of the exhibition.

PG. 138 - 153

---------------------------------------------------------------------------------------------------

GUTO LACAZ

Born in São Paulo, Brazil (1948). He is a multimedia artist, illustrator,

designer, inventor and set designer. His production transits between

graphic design, pieces made by ordinary objects, the exploration of

technological possibilities in the arts and the world of media and

consumption. As a graphic designer, he produces logos, books and

magazines, posters, illustration, exhibitions and special projects. He

was featured in many events and public spaces such as: São Paulo

Gallery, SESC Belenzinho, SESC Pinheiros, Funarte-SP, São Paulo

Biennial, CCSP and Ibirapuera Park. He has received awards such as

the Guggenheim Scholarship, APCA Graphic Work, Abril Journalism

Award and Graphic Excellence Award, among others. He published

the books “Desculpe a letra”, “Gráfica”, “omemhobjeto” and “80

desenhos”. He is a member of AGI - Alliance Graphic Internationale.

MORSE MOUSE

COLLAGE ∙ LAPTOP, TELEGRAPHIC MANIPULATOR ∙ APPROX. 40 × 30 × 30 CM ∙ 2014

"The telegraphic manipulator, apparatus for generating the dots and

lines necessary to the Morse code, may have been the precursor of

the mouse. A tiny object, slightly smaller than a hand, where there

are wires connecting it to another device that receives and transmits

the signal of this object. I thought that by replacing the mouse with

the manipulator I would be creating an interesting technological and

aesthetical contrast."

PG. 66 - 67

---------------------------------------------------------------------------------------------------

JORGE CROWE

Born in Mendoza, Argentina (1976). He has a BA in Visual Arts

and a postgraduate in Electronics applied to Arts. His works with

hardware hacking, circuit bending, DIY and open source electronics

applied to theatre, media arts and education. He runs the "Toy Lab"

in Argentina. He is also a teacher at the Master’s degree in Electronic

Arts (UNTREF – Buenos Aires). He has exhibited his toys and objects

in different galleries, festivals and events in Argentina, Uruguay and

Brazil such as FILE’09 São Paulo, FILE Prix Lux, Dorkbot Montevideu,

amongst others.

LUDOTECNIA (BETA TESTING VERSION)

NOISE ELECTRONICS, VIDEO CAMERAS, PROJECTORS ∙ LIVE ∙ APPROXIMATE TIME: 35 MINUTES

It's an audiovisual performance based on the use of toys, hardware

hacking and obsolete technology. Electromechanical toys, lamps

and other devices are sequenced and controlled, while being part

of the sound and visual setup. Security cameras capture actions on

the table, allowing the public to participate in what is happening in

the "stage". Mutant reptiles, robots, toy soldiers and dinosaurs are

the characters in this story where film genres collide and mingle.

Ludotecnia is a tribute to the VHS generation and its TV shows on

Saturday afternoons, full of stop motion creatures, mad scientists,

superpowers and alien invasions.

PG. 14 - 17

---------------------------------------------------------------------------------------------------

JOSEPH MORRIS

He is a contemporary sculptor born in New York City (1984), where

he lives and works. He is currently Visiting Professor and Technician

in Pratt Institute’s department of Industrial Design. He has a MFA

in Art and Technology Studies at The School of the Art Institute of

Chicago, and a BFA in Sculpture from State University of New York

at Purchase College. He has exhibited in the US and abroad in shows

such as: Gibney Dance in Lower Manhattan, Common People Gallery

in Brooklyn, NY, ACRE Projects, and The Glass Curtain Gallery

in Chicago, IL, and Warehouse 508 in Albuquerque, NM during

ISEA - International Symposium of Electronic Arts. In 2013, he was

awarded a residency at ACRE Projects in Steuben, WI, and a residency

fellowship in 2010 at The Contemporary Artists Center in Troy, NY.

MERE THINGS SERIES:

FALLING NAIL, SPRING CATCH, EXCUSE ME & SMALL STRING

ELECTRONIC SCULPTURES ∙ WOOD, FOUND AND ELECTRONIC PARTS ∙ VARIOUS

DIMENSIONS ∙ 2008-2009

185


"It is about taking ordinary objects, and turning them into simple

movements that are intimately engaging. Making them is a constant

back and forth struggle between my idea and the making of the machine,

with each piece emerging as individual and unique, containing their

own reflection. It is my hope that through Mere Things, these simple

machines can empathetically connect us to our shared humanity."

PG. 58 - 61

---------------------------------------------------------------------------------------------------

LEANDRO ARAGÃO

Born in Belo Horizonte, Brazil (1983). He is a bachelor in Fine Arts

at UFMG. He lived in Boston and Los Angeles, where he began his

studies in Photography and Video at the New England School of

Photography. He develops audiovisual works and exhibitions with his

partners Eder Santos, André Hallak and Barão Fonseca in the "Trem

Chic" production company. He creates objects using "makeshift video"

which are presented in public spaces. He also works as set designer

and art director. He participated in exhibitions such as Arte.mov

Festival - Art in Mobile Media and Gambiólogos 2010, among others.

TIMECODE

VIDEO OBJECT ∙ CRT IMAGE TUBES, BULB, HARDWARE, RASPBERRY, AUDIOVISUAL ELEC-

TRONICS SYSTEM ∙ 01'16 ", NO AUDIO, LOOP, 640 × 480 PIXELS, COLOR ∙ 35 × 30 × 100 CM ∙ 2014

Digital hourglass mounted with cathode ray tubes.

If an hourglass is a clock of sand grains that fall, "Timecode" is a

clock of videoframes of sand grains that don't fall, but give us the

impression of falling. Each frame depicts a moment of this game of

gravity and sand grains. The piece emulates the functioning of the

former invention, but also subvert it. In the hourglass the driving

force comes from nature, wether in this piece it is an invention of its

creator, who edits time in his own way, as well as reedits our own

time, thus integrating both the tube and the hourglass into it. In

Time is part of the work, it can't prescind it. In this sense, this device

seems to protect itself from the idea of a scheduling, approaching the

notion of time to something more connected to a sense of occasion.

"Timecode" doesn't exist for gaining time, but rather for proposing an

agreement; to win back from time what is ours, this continuous invention.

PG. 88 - 91

---------------------------------------------------------------------------------------------------

LUCAS BAMBOZZI

Multimedia artist and new media researcher. He dedicates himself to

the critical exploration of new media formats. He produces videos,

installations, audiovisual performances and interactive projects. His

works were exhibited in more than 40 countries. He was a curator

and coordinator of events such as Sónar SP, Nokia Trends, Motomix,

Red Bull House of Art and Disssonant Place. He was an artist in residence

at CAiiA-STAR Centre / i-DAT (Planetary Collegium) and has

completed his MPhil at the University of Plymouth, England. In 2010

he received the Prix Ars Electronica. In 2011 he had a retrospective

at Arte Alameda, in Mexico City. He has participated in dozens of

exhibitions such as: Tecnofagias (Sao Paulo, Brazil), Zero1 Biennial

(San Jose, USA), Bienal de Artes Mediales (Chile) and Singularidades

(Itaú Cultural, Sao Paulo, Brazil). He was the creator and coordinator

of Arte.mov Festival - Art in Mobile Media, Labmovel and Multitude

Exhibition at the SESC Pompeia (Sao Paulo, Brazil).

OF BROKEN THINGS

OBSOLESCENCE CONSOLIDATION MACHINE FROM ELECTROMAGNETIC FIELDS ∙ APPROX.

200 × 150 × 200 CM ∙ 2012

Installation-machine that draws from the electromagnetic flows

existing in the space where it is installed in order to swallow obsolete

mobile devices. The more intense the signals are, the faster and

more effective the operation of the piece becomes. Several modules

are integrated, showing the precarious precision of movements: the

mechanism that pushes and dispenses cell phones, the gears and

chains driven by the motor that drives the hydraulic vise, a niche of

flow of the torn material. Its operation is slow, precise, and it complies

with dynamic patterns.

The piece deals with the flow of communication around us and its

potential transformation into waste. We are users of a system in

continuous testing, which will never be ready. We use dysfunctional

hardware and let ourselves be regulated by networks that are increasingly

encroaching on our lives. The ubiquity of communication

increases and we become agents, operators and hostages of this flow.

"Of broken things" operates between networks and the real world,

where autonomy eventually expires, principles become obsolete, and

we realize that we are in the internet age of broken things.

Concept: Lucas Bambozzi / Tech Development: Radames Ajna /

Assembly and Mechanics: Leonardo Ceolin / Tech Support: Guima

San / Assistance and Production: Luciana Tognon / Commissioned

by 3M Digital Art Show

PG. 84 - 87

---------------------------------------------------------------------------------------------------

LUCAS MAFRA

(GAMBIOLOGIA COLLECTIVE)

Born in Belo Horizonte, Brazil, where he lives and works. He is a

bachelor in Product Design at Fumec University. He is a hobbyist

and self-taught artist in electronics for over 15 years. He designs,

draws and builds electronics and lamps from reused materials, with

extensive experience in the use of LEDs and circuit bending. He was

cocurator and designer in "LEDesign" show in Belo Horizonte (2008).

He integrates the Gambiologia collective since 2008.

PG. 138 - 153

---------------------------------------------------------------------------------------------------

LÚCIO BITTENCOURT

Born in 1953 in Mogi das Cruzes, Brazil, he began his artistic career

in 1979. He has produced more than 12 thousand pieces, among them

186


200 monuments that are installed in public spaces of several cities.

He has been granted with awards auch as the Art Saloon Taubaté

(Brazil, 1979). He had solo shows and has participated in many

collective exhibitions in Brazil and abroad. His works are shown in

Lisbon, Lyon, Puerto Rico and Paris.

DEMOGRAPHIC EXPLOSION

SCULPTURE ∙ SCRAP AND SOLDER ∙ APPROX. 100 × 70 ×100 CM ∙ 2014

PULSATION

SCULPTURE ∙ SCRAP AND SOLDER ∙ APPROX. 200 × 150 × 80 CM ∙ 2014

Large dimensions metal sculptures made from scrap. The pieces

oscillate between abstract and figurative, problematizing the utilitarianism

of contemporary technological industry. The fluidity of

movement suggested by the pieces contrast with its weight, while

the decay of a humanity that produces waste in an uncontrolled

pace is evident, through a singular transformation of these residues.

The sculptures, thus, collide different times: of dead matter and of

living human creation.

PG. 40 - 43

---------------------------------------------------------------------------------------------------

MAREPE

Born in 1970 in Santo Antonio de Jesus (Bahia, Brazil), where he lives

and works. Since 1990 he's presented about 20 solo exhibitions in

museums and galleries such as Anton Kern Gallery (New York, USA),

São Paulo Museum of Modern Art (Brazil), Pampulha Art Museum

(Belo Horizonte, Brazil) and Tate Modern (London, England). He

participated in major events and art centers in several countries, as

the 3rd Biennial of Bahia (Salvador), Itaú Cultural (São Paulo), MoMA

PS1 (Long Island, USA), Museum of Modern Art Rio de Janeiro (Brazil)

MOT Museum of Contemporary Art (Tokyo, Japan), Centre Pompidou

(Paris, France), Mercosul Biennial (Porto Alegre, Brazil), Biennale di

Venezia (Italy) and Istanbul Biennial (Turkey). His work integrates

important collections such as Ellipse Foundation (Alcoitão, Portugal),

Inhotim Contemporary Art Center (Brumadinho, Belo Horizonte,

Brazil), MAM - São Paulo Museum of Modern Art, The Museum

of Modern Art (New York, USA) and Tate Collection (London, UK).

shop, which is a very special and fascinating universe: on the wall,

objects of various types, shapes and textures are hanged - poor

materials, obsolete, dead-end, which practically would be discarded

as junk, but when they are re-appropriated and transformed into a

piece, they get new life.

What interests me the most in this work is a pictorial issue, of plasticity,

a combination of forms suggesting another form. The materials

seem noble, high-tech, but they are totally poor. They have a sophisticated

look and would be difficult to be modeled, but the result of the

sculpture is a very simple form that almost resembles a readymade.

In the end, I think it also brings the issue of capitalism, of a disposable

culture that affects not only objects, but also people."

PG. 62 - 65

---------------------------------------------------------------------------------------------------

MARIANA MANHÃES

Born in Niterói, Brazil (1977). She works in different media: drawing,

video, photography and "organic machines." Since 2000 she's

participated in exhibitions at museums and galleries in Brazil and

abroad, such as: Vancouver Biennial (Canada), Shanghart Gallery

(China), The Mattress Factory (USA), CCBB (Rio de Janeiro, Brazil),

Martin-Gropius-Bau (Berlin), Itaú Cultural (Sao Paulo, Brazil), Tomie

Ohtake Institute (Sao Paulo, Brazil), Museum of Modern Art (Rio de

Janeiro, Brazil), among others . She presented solo shows at the Imperial

Palace (Rio de Janeiro, Brazil, 2013), CCBB (Rio de Janeiro, Brazil,

2010) and the Museum of Contemporary Art (Niterói, Brazil , 2007).

She received relevant awards and in 2012 she got her Master's degree

in Communications and Culture from UFRJ (Rio de Janeiro, Brazil).

THISTHOSE (WINDOW)

ANIMATION ∙ LCD/DVD PLAYER, ELECTRONIC CIRCUITS, MOTORS, PVC TUBES, FANS,

PLASTIC BAGS ∙ APPROX. 50 × 160 × 150 CM ∙ 2012

The animation of a window that speaks and breathes is displayed on

a video monitor. Light sensors capture the screen's bright and makes

the piece react, inflating and deflating plastic bags installed at it, in

a movement reminiscent of breathing.

PG. 92 - 95

---------------------------------------------------------------------------------------------------

MUTATION

SCULPTURE ∙ PIECES OF DOLLS AND AUTO PARTS ∙ APPROX. 100 × 160 × 100 CM ∙ 2008

"This is a futuristic sculpture, which refers to science fiction, to chaos.

At the same time that the figure of a child suggests a pessimistic

future message, the movement of the piece brings us some hope,

since its own base is a hand reaching towards the visitor, suggesting

a relationship with the one who arrives.

The parts used in this work were collected in a surplus automotive

MARK PORTER

He is a sculptor born 60 miles south of Chicago, Illinois (USA). He has

served as Exhibition Coordinator and Curator at Columbia College

Chicago since 2005. He completed BA and MA degrees in sculpture at

Eastern Illinois University and an MFA in sculpture at the University

of Michigan in Ann Arbor, USA. He curated the exhibitions "Active/

Inactive" (2006) and "Machinations: Kinetic Sculptures in the Age of

the Open-source" (2012), both focused on kinetic, interactive sculptures

and site-specific works. He has exhibited his work in various solo and

187


group exhibitions including Autohemorrhaging Actuator, Territorial

Markers, Recent Drawing Machines by Mark Porter, Nurture/Alter,

Counterparts, Rube Goldberg’s Ghost, Bauhaus Now, Stop, Start,

Repeat and Olfaction.

TRANSLATOR

SCULPTURE ∙ STEEL, ALUMINUM, AIR PUMP, GLASS, INK, CAMERA, VIDEO PROJECTOR

∙ 170 × 150 × 120 CM ∙ 2014

"The piece was inspired by the invitation to participate at this exhibition.

This work is an exchange with a part of the world that is foreign to

me. It is a metaphor for cultural exchange, interpretation/noise and

swap of perspective. The sculpture creates a drawing on the wall by

dispensing a fluid made of soap and pigment. A video camera feeds

live the process of drawing for the video projector, which translates

the video signal and projects it on an adjacent wall.

PRELIMINARY FOR AUTOHEMORRHAGING ACTUATOR

WINTERGREEN OIL TRANSFER, GRAPHITE, PENCIL, OIL STICK AND PLASTER ON PAPER

∙ VARIOUS DIMENSIONS ∙ 2012

"In 2012 I presented this site-specific, interactive and kinetic installation.

It was a collaborative effort between sculpture and public.

Activated by a motion sensor, the presence of the viewer caused

each form to make red markings upon the wall surface. The more

interaction between sculpture and public, the more elaborate the

drawing on the wall became. A series of preliminary drawings were

then created through the installation.

PG. 110 - 113

---------------------------------------------------------------------------------------------------

MAURO ALVIM

Born in Chiador, Minas Gerais, Brazil (1966). Since the 2000s he

dedicates himself entirely to creating sculptures from scrap and

relics. He divides his creations between motorcycle sculptures, pieces

inspired by the universal and regional literature and works denouncing

attacks on the environment. He has held several exhibitions in Juiz

de Fora, Brazil, where he currently lives and in other states of Brazil

and Uruguay, where he attended the International Sculptors Meeting.

rusty metal and everyday use utensils establish a contrast-paradox

between manual combat tools (sharp) and distance attack tools

(explosives). These weapons-scraps point at the same time to the

past and to the future, contradicting the civilizatory advance, using

the backwoods barbarism of Canudos as a metaphor for a critique

of the real destruction practiced by men called "modern".

PG. 36 - 39

---------------------------------------------------------------------------------------------------

O GRIVO

They began their research in the field of "new music" in the 1990s.

They present installations and concerts that explore new acoustic

and electronic music sources, the construction of "sound machines

and mechanisms" and the unconventional use of traditional musical

instruments. Their pieces propose intersections between visual and

audio information in a dialogue with film, video, theater and dance.

They propose a state of curiosity and contemplative disposition to

listening and discussing the relations of sound with space.

56'04 "

MOTOR, WOOD, METAL PULLEYS, BELT, WIRE / 2014

Rythm is everywhere.

Quantifiable entity, numerable...

In absorbed progress, in suspended air,

in silence,

in its recidivist division of time, space.

Measurement unit to be filled

void that is the true substance of the world.

Rythm,

what flows,

what owns motion...

In every 56 seconds and 4 frames a sound is produced by the machine/tool.

The slowness of the mechanism and the costly process

by which the sound is produced values it. It is created a preparation,

an expectation, a time suspension that is solved with the acoustic

mechanical sound event. A great preparation for a rather small, soft

and simple sound.

PG. 54 - 57

---------------------------------------------------------------------------------------------------

PAJEU, THE GREAT WARRIOR

SCULPTURE ∙ SCRAPS, TOOLS AND WELDING ∙ APPROX.40 × 30 × 20 CM ∙ 2012

FATHER! I WANT TO QUEER THE CANNON

SCULPTURE ∙ SCRAPS, TOOLS AND WELDING ∙ APPROX. 60 × 40 × 40 CM ∙ 2012

Two pieces that compose the series "Sertões", inspired by Euclides

da Cunha classic book. The sculptures in oxidized iron use sharp and

pointed tools, suggesting firearms in its final form. The use of the

PAULO HENRIQUE PESSOA “THE GOOSE”

(GAMBIOLOGIA COLLECTIVE)

He was born in Martinópolis, Brazil (1955) and is based in Belo

Horizonte since the 1960s. He graduated in Industrial Design from

FUMA (currently UEMG). As a graphic artist, he directed the Gorilla

Studio, performing projects in fashion, set design, visual communication

and illustration. He served as art director, set designer and

costume designer in commercials, television shows, plays such as "An

imaginary Molière" (Grupo Galpão), and feature films like "Something

188


in the Air", by Helvécio Ratton. Since the 1970s he has participated

in art and design exhibitions, such as the National Exhibition of Fine

Arts (Funarte, 1985). His work with light design using antiques and

reused materials is well recognized. He has conceived and produced

the space-concept "Bar do Ganso" (The Goose's Bar) on permanent

display at the Inhotim Institute. He was the theme of the film "Encomenda

ao Ganso" (Ordering from The Goose) and he is a master

consultant of the Gambiologia Collective.

PG. 138 - 153

---------------------------------------------------------------------------------------------------

PAULO NENFLÍDIO

Sound artist, graduated in Fine Arts from USP and in Electronics by

ETE Lauro Gomes. His works are sculptures, installations, objects,

instruments and sketches containing: sound, electronics, motion,

construction, invention, randomness, physics, control, automation

and "gambiarra". In 2003, he participated at the residency Bolsa

Pampulha in Belo Horizonte. In 2005 he received the Sergio Motta

Art and Technology award. In 2009, he held artistic residence at

ASU Art Museum in Arizona, producing a solo exhibition. He participated

in the 7th Biennial of Visual Arts of Mercosur and in the

show "Parallel" (2010). In 2011 he received the CNI SESI Marcantonio

Vilaça Fine Arts award.

THUNDER MACHINE

CONSTRUCTION IN VARIOUS WOODS, ELECTRONIC CIRCUIT, SOLENOID, COPPER PLATE,

STEEL ROPE, PRINTER RAIL ∙ 15× 50 × 30 CM ∙ 2014

It is a work that produces a sonic and visual composition inspired by

the moment just before the rain. All sound produced is of acoustic

and mechanical origin. Among the sound elements there is a copper

plate which, when vibrating in low frequencies, plays the sound of

wind and when vibrating in high frequencies produces a thunderous

sound. A rope produces several harmonics through an electromagnetic

feedback system. Within a small window there are the lightnings.

The silence also comes as an important element in this completely

random composition.

PG. 102 - 105

---------------------------------------------------------------------------------------------------

PAULO WAISBERG

Architect, professor and artist. His studio is increasingly involved with

the production of ephemeral spaces. The transition is an opportunity

to experiment, both in the use of new techniques and materials and

in the potential of touching people by immersion in unusual places.

In his artistic explorations with technology, he gets a convergence

of practices and, occasionally, a short circuit.

SLAUGHTERHOUSE

DISMANTLED STUFFED ANIMALS CONNECTED TO A CONTROLLER ∙ 2014

Robotic chickens hanging on clothesline.

LUNG

PLASTIC BAGS, FANS, RED LIGHTS, ELECTRONICS ∙ 2014

It's alive and it's breathing.

PG. 118 - 123

---------------------------------------------------------------------------------------------------

SARA RAMO

Born in Madrid, 1975. She appropriates elements and scenes from

the every day, by removing them from their original context and

re-organizing them in her video, photographs, collages, sculptures

and installations, proposing a very particular way of organization

based on a transgressor will. Her recent exhibitions include Desvelo y

traza (Madrid, Spain), 9th Mercosur Biennial (Brazil); Imagine Brasil,

(Oslo, Norway), Planos de Fuga (Sao Paulo, Brazil) and Penumbra (Rio

de Janeiro, Brazil). She participated in the Brazilian Art Pan MAM

(Sao Paulo, 2011) and of Sao Paulo Biennial de São Paulo (2010). In

addition to exhibitions in institutions of international relevance such

as the Venice Biennale (2009). Her work is in the collections of Inhotim,

Belo Horizonte, Brazil; Museum of Modern Art, Rio de Janeiro,

Brazil; Itau Cultural Institute, Sao Paulo, Brazil; and di Risparmio

di Fundacione Casa Modena, Italy; among others.

ON THE MOVE

DIGITAL VIDEO ∙ 7'46'' ∙ 2008

"This is a video I presented in the solo exhibition "Casi lleno, casi

vacío" ("Half full, half empty"), in São Paulo. Admittedly the video

could also have had the same name as the exhibition. Someone's

back appear and the person is pulling things from a suitcase. There

is a scale game in regards to the possible contents of the suitcase.

In it, more things than what would be reasonable fit, objects that are

covering the floor, occupying a room that was empty at first. This is

a piece about the accumulation of the things we carry with us, about

what must be left behind. It is an absurd journey, it is not clear where

it comes from or where it goes, as it is in life itself. It also suggests

a detachment movement, since you need to throughly empty your

luggage to really go another place."

BEFORE, AFTER, NOW

TRIPTYCH PHOTOGRAPHY ∙ 95 × 62 CM (EACH) ∙ 2012

PG. 32 - 35

---------------------------------------------------------------------------------------------------

189


UJINO

Since the 1990s, Japanese artist Ujino (b.1964) has produced a

number of sound sculptures and installations as a process of what

he claims “research on the material world”. Ujino's best known The

Rotators project has been widely acclaimed, and lead to a number

of exhibitions and live performances inside and outside Japan. His

artworks have been exhibited at a number of major international

institutions and biennales, including his solo exhibition at Hayward

Gallery Project Space in London, and group shows at Biennale of Sydney

(Australia), ZKM Karlsruhe (Germany), Deitch Projects (New York),

Nam June Paik Art Center(Korea) and Mori Art Museum (Tokyo),

among others. In 2013 his major museum solo exhibition POP/LIFE

was held at The Hakone Open-Air Museum in Japan, presenting an

retrospective of his works.

THE BALLAD OF EXTENDED BACKYARD

(DINING SECTION REGENERATED)

INSTALLATION ∙ SOUND SYSTEM, MUSICAL INSTRUMENTS, LAMPS, HOME APPLIANCES,

ELECTRONIC CONTROLLER ∙ APPROX. 400 × 400 × 300 CM ∙ 2010-2014

This installation is a part of "The Rotators" series. It is an human

scale drum machine using common household electric appliances

with motors and the amplifying technologies of rock’n roll forming

a sound sculpture or performance project. Its genesis is the mass

consumerism, the disposable culture I was raised in, up until 1989,

with the end of a Japan that was constantly growing materially and

becoming richer.

The core section to control the unit is the Rotatorhead. A disc with

color pencils embedded onto it surface is set in the turntable. The

uniform rhythm starts. As the pencils hit the switches, the home

appliances are turned on and off.

PG. 106 - 109

---------------------------------------------------------------------------------------------------

ZAVEN PARÉ

Artist and researcher of the HTCE (History of Science, Techniques

and Epistemology) at UFRJ. He was the inventor of the first electronic

puppets (collections Ballard Institute/Connecticut and Musées Gadagne/

Lyon) in the 1990s. He was a fellow of the French American Fund for

the Performing Arts, of the RioArte Award, of the Villa Kujoyama/

Kyoto, of the Japan Society for the Promotion of Sciences (JSPS) and

of the Intelligent Robotics Laboratory of Professor Hiroshi Ishiguro

at Osaka University (2010). He has received the Sergio Motta Art

and Technology award in 2011. His works have been presented in

several places dedicated to art and technology, such as the California

Institute of the Arts, the Alameda Art Lab in Mexico, and also during

the Biennial of Contemporary Art of Lyon (France).

representation: the image of an eye. It is an eye, the one that chased

Cain, or simply an eye on the place of the sex of a woman - an anatomical

approach made by Georges Bataille in the book "Histoire

de l'oeil", 1935. The image of the eye becomes thus the image of the

woman sex, which opens and closes; two manipulated slides projected

sequentially on a frame that is the lower part of a woman's body.

SPLEEN 2.0

This work comes from the contrary of the anatomy studies and dissection

of corpses. It is the result of an exercise of assemblage and

reassemblage, piece by piece, simulacra of mechanisms. The presence

of a body remained, in the form of a torso it is a place of origin of the

sounds and noises of a tragedy, a bubble in a chest. On a tale by Jean

Richepin, in a huge shed, a bit crazy builder builds a human larynx

and an oral cavity driven by the bellows of a forge. The set should be

able to say out loud: "In the beginning was the Word".

There are machines everywhere, and not just metaphorically:

machines of machines, with their engagements and connections.

The machine-body is connected to a machine-source: one

emits a stream that engages another. "[...] This is how we are

all bricoleurs, each with our little machines. A machine-body

for a machine-source, always flows and cuts"¹.

The noise in this torso is caused by the combination of electricity, of

the pump motor, of the effect of the air bubble in water and of this all

amplified electronically. If we can not dismantle miracles to have fun,

bring back the human body to the scene, or simulate the mechanisms

of life so to laugh, thus why trying to understand them?

¹DELEUZE, G.; GUATTARI, F. L'anti-Oedipe. Capitalisme et schizophrénie.

Paris: Minuit, 1972, p. 7 [our translation].

ORNAMENTAL PIECES

SCULPTURE ∙ MECCANO AND SCREWS ∙ VARIOUS DIMENSIONS ∙ 2014

These ornamental prototypes are compositions inspired in indigenous

pieces, made from Meccano metal parts: perforated strips, straight

or curved, flexible plates, flat, curved or rigid, with or without edges,

beams (brackets, ribs, base), mechanical accessories, gears and

sprockets to allow for different types of transmissions.

PG. 68 - 75

---------------------------------------------------------------------------------------------------

ORIGIN OF THE WORLD

PROJECTED IMAGES ∙ PROJECTOR, SLIDES, METAL AND THERMOFORMED PLASTIC∙ 40

× 35 × 50 CM ∙ 2005

"L'Origine du Monde" is, first of all, the Courbet painting. This version

is an object consisting basically of a projection, such as the wall of a

prehistoric cave or the Platonic cave myth. It is therefore the origin of

190


FICHA TÉCNICA

ARTISTAS PARTICIPANTES / INVITED ARTISTS

Anthony Goh e Neil Mendoza ∙ Artur Bispo do Rosário ∙ Aruan Mattos e Flávia Regaldo ∙ Cao Guimarães

Carlos M. Teixeira ∙ Chelpa Ferro ∙ Coletivo Gambiologia (Fred Paulino, Ganso e Lucas Mafra) ∙ Dirceu Maués

Farnese de Andrade ∙ Fernando Rabelo ∙ Guto Lacaz ∙ Jorge Crowe ∙ Joseph Morris ∙ Leandro Aragão

Lucas Bambozzi ∙ Lúcio Bittencourt ∙ Marepe ∙ Mariana Manhães ∙ Mark Porter ∙ Mauro Alvim ∙ O Grivo

Paulo Nenflídio ∙ Paulo Waisberg ∙ Sara Ramo ∙ Ujino ∙ Zaven Paré

CONCEPÇÃO E CURADORIA

CONCEPTION AND CURATORSHIP

Fred Paulino

REALIZAÇÃO ORGANIZATION

Coletivo Gambiologia

ASSISTENTE DE CURADORIA

CURATORSHIP ASSISTANT

Fernanda Salgado

PRODUÇÃO PRODUCTION

Cuca Cultural

Tatiana de Azevedo Camargo

Michele Ruas Porto

PROJETO EXPOGRÁFICO EXPOGRAPHY

Carlos Teixeira (Vazio S/A)

MONTAGEM CENOGRÁFICA E ILUMINAÇÃO

SCENOGRAPHY ASSEMBLY AND LIGHTING

Marcos Lustosa

Nado Rohrmann

PROJETO GRÁFICO GRAPHIC DESIGN

Xande Perocco

Fred Paulino

ILUSTRAÇÕES ILLUSTRATIONS

Xande Perocco

FOTOGRAFIA PHOTOS

Nidin Sanches

PRODUÇÃO AUDIOVISUAL VIDEO PRODUCTION

Apiário

OFICINAS WORKSHOPS

Coletivo Gambiologia

Dirceu Maués

TEXTOS PARA CATÁLOGOCATALOGUE ARTICLES

Giselle Beiguelman

Juliana Gontijo

Raquel Rennó

ESTAGIÁRIOS TRAINEES

Bernardo Ávila

Carol Katagiri

Guilherme Malaquias

Jordana Aguiar

ASSISTENTES MONTAGEM COLETIVO

GAMBIOLOGIA ASSEMBLY ASSISTANTS

André Simões

Laura Potter

Sophia Potter

MONITORIA GALLERY TUTORS

Erickson Henrique

Isabella Proença

Mirna Silva

Naira Heredia

ASSESSORIA DE IMPRENSA PRESS OFFICE

LEC Comunicação

ASSESSORIA FINANCEIRA FINANCIAL ASSISTANT

Sílvia Batista

REVISÃO CATÁLOGO TEXT REVIEW

Cláudia Rezende (Bontexto)

VERSÃO PARA INGLÊS ENGLISH VERSION

Luciana Tanure

(Access Invisível Produções)

TRANSPORTE DE OBRASARTWORK TRANSPORTATION

Vanguardian

APOIADORES SUPPORT

Casa dos Contos

Casa Una

Hoje em Dia

Hotel Quality

Oi Kabum

Rede Minas

Remo Equipamentos

AGRADECIMENTOS / THANKS TO

Alexandre Telles, Aline X, Aluizer Malab, Ana Tereza Brandão, Andrei Policarpo, André Mintz, Bárbara Pontello,

Beatriz Leite, Birimbica Potter, Danillo Barata, Danusa Carvalho, Davi Melquiades, Diana Gebrim, Eduardo de Jesus,

Elisiana Frizzoni Candian, Fabiana Martins Mouchrek, Felipe Rossi, Fernanda Rodrigues, Flavia Frota de Souza,

Flavia Peret, Geraldo Magela Paulino, Gizele Linhares, Gustavo Goulart, Izadora Fernandes, Keyla Monadjemi,

Lucas Freitas, MAC de Niterói (Angélica Pimenta e Márcia Müller), Marina Purri, Marcela Santana, Morgana Rissinger,

Nícia Mafra, Pedro David, Pedro Motta, Rafael Portugal, Rainer Parreiras, Raquel Valadares, Renato Rossi,

Ricardo Portilho, Roberto Bellini, Sérgio Borges, Sérgio Ricardo Pereira, Sidnei Pereira, Sônia Valadares, Thais Mol,

Tiago Rubini e Valéria Braga.


OI FUTURO

DIRETORIA EXECUTIVA EXECUTIVE BOARD

PRESIDÊNCIA PRESIDENT

Marco Schroeder

VICE-PRESIDÊNCIA VICE-PRESIDENT

José Augusto da Gama Figueira

DIRETORES EXECUTIVE OFFICERS

Roberto Terziani

Suzana Santos

ADMINISTRATIVO, FINANCEIRO, PLANEJAMENTO E DESEMPENHO

FINANCIAL AND ADMINISTRATIVE PLANNING

Sara Crosman

CULTURA CULTURE

GESTÃO DE CULTURA MANAGER CULTURE

Roberto Guimarães

GERÊNCIA DE CULTURA MANAGEMENT CULTURE

Victor D´Almeida

CURADORIA DE ARTES VISUAIS VISUAL ARTS CURATOR

Alberto Saraiva

PRODUÇÃO DE ARTES VISUAIS PRODUCTION OF VISUAL ARTS

Claudia Leite

PATROCÍNIOS CULTURAISCULTURAL SPONSORSHIPS

Luciana Adão

Joseph Andrade

MUSEOLOGIA MUSEOLOGY

Bruna Cruz

COORDENAÇÃO OI FUTURO BH BH OI FUTURO COORDINATION

Sérgio Ricardo Pereira

EQUIPE CULTURACULTURE TEAM

Jairo Vargas

João André Macena

Marcelo Stu

Marciel Oliveira

Raphael Fernandes

Yuri Chamusca

Zelia Peixoto

ESTAGIÁRIA TRAINEE

Lara Rabello

ASSESSORIA DE IMPRENSA PRESS OFFICE

Letícia Duque

Carla Meneghini

Barbara Gazal


COLEÇÃO ARTE & TECNOLOGIA OI FUTURO

1. Corpos Virtuais

Ivana Bentes [org.], 2005

2. Estado de Atividade Funcional:

E.A.F. Tina Velho

Alberto Saraiva [org.], 2005

3. Ciclo Paradigma Digital: FotoRio 2005

Milton Guran [org.], 2005

4. Geração Eletrônica

Tom Leão [org.], 2006

5. FILE RIO 2006:

Festival Internacional

de Linguagem Eletrônica

Paula Perissinotto e Ricardo

Barreto [org.], 2006

6. Pintura em Distensão

Zalinda Cartaxo, 2006

14. Filmes de Artista: Brasil 1965-80

Fernando Cocchiarale [org.],

Coedição Contra Capa, 2007

15. Dança em Foco: Videodança

Paulo Caldas e Leonel Brum [org.],

2007

16. Atlas Américas

Paulo Herkenhoff [org.],

Coedição Contra Capa, 2007

17. Fotografia e Novas Mídias: FotoRio

2007

Antonio Fatorelli [org.],

Coedição Contra Capa, 2007

18. Babilaques:

alguns cristais clivados

Waly Salomão e outros,

Coedição Contra Capa, 2007

26. Performance Presente Futuro

Daniela Labra [org.],

Coedição Contra Capa, 2008

27. Arte da Antártida

Alfons Hug,

Coedição Aeroplano, 2009

28. FILE RIO 2009:

Festival Internacional

de Linguagem Eletrônica

Ricardo Barreto e Paula

Perissinotto [org.], 2009

29. Meias Verdades

Ligia Canongia, 2009

30. Dança em Foco: A Dança na Tela

Paulo Caldas, Eduardo Bonito e

Regina Levy [org.],

Coedição Contra Capa, 2009

7. Wilton Montenegro:

Notas do Observatório,

Arte Contemporânea Brasileira

Glória Ferreira [org.], 2006

8. Nam June Paik:

videos 1961–2000

Nelson Hoineff [org.], 2006

9. Vicente de Mello,

Áspera Imagem

Alberto Saraiva [org.],

Coedição Aeroplano, 2006

10. Dança em Foco:

Dança e Tecnologia

Paulo Caldas e Leonel Brum [org.],

2006

11. Câmaras de Luz

Ligia Canongia [org.], 2006

12. Multiplicidade:

Imagem_som_inusitados

Batman Zavareze [org.], 2006

13. FILE RIO 2007:

Festival Internacional

de Linguagem Eletrônica

Ricardo Barreto e Paula

Perissinotto [org.], 2007

19. Relíquias e Ruínas

Alfons Hug [org.],

Coedição Contra Capa, 2007

20. FILE RIO 2008:

Festival Internacional

de Linguagem Eletrônica

Paula Perissinotto e Ricardo

Barreto [org.], 2008

21. Poiesis

André Vallias, Friedrich W. Bloch,

Adolfo Montejo Navas [orgs.], 2008

22. Ivens Machado:

Encontro / Desencontro

Alberto Saraiva [org.],

Coedição Contra Capa, 2008

23. Dança em Foco:

Entre Imagem e Movimento

Paulo Caldas, Eduardo Bonito

e Regina Levy [orgs],

Coedição Contra Capa, 2008.

24. Hüzün. Carlos Vergara

Luiz Camillo Osório,

Coedição Contra Capa, 2008

25. Marcos Chaves

Alberto Saraiva,

Coedição Aeroplano, 2008

31. Gary Hill: O Lugar Sem o Tempo.

Taking Time From Place

Marcello Dantas [org.],

Coedição Contra Capa, 2009

32. Entre Temps:

Uma década de videoarte

francesa na coleção do Musée d’Art

moderne de la Ville de Paris/ARC

Angeline Scherf, Odile Burluraux,

Jean-Max Colard, 2009

33. Performance Presente Futuro. Vol. II

Daniela Labra [org.],

Coedição Aeroplano, 2009

34. Entreouvidos: Sobre Rádio e Arte

Lilian Zaremba [org.],

Coedição SOARMEC Editora, 2009

35. Pierre et Gilles:

A Apoteose do Sublime

Marcus de Lontra Costa,

Coedição Aeroplano, 2009

36. FILE 8 BIT GAME PEOPLE:

Festival Internacional

de Linguagem Eletrônica

Paula Perissinotto e Ricardo

Barreto [org.], 2009


37. Frederico Dalton:

Fotomecanismos

Coedição Contra Capa, 2007

38. Multiplicidade:

Imagem_som_inusitados

Batman Zavareze [org.], 2007

39. Multiplicidade 2008

Batman Zavareze [org.]

Coedição Aeroplano, 2009

40. Multiplicidade 2009

Batman Zavareze [org.]

Coedição Aeroplano, 2010

41. A Carta da Jamaica

Alfons Hug [org.]

Coedição Aeroplano, 2010

42. SONIA ANDRADE: VIDEOS

André Lenz [org.]

Coedição Aeroplano, 2010

43. Livro de Sombras:

Pintura, Cinema, Poesia

de Luciano Figueiredo

Katia Maciel e André Parente [org.]

Coedição +2 Produções, 2010

44. WLADEMIR DIAS-PINO

Wlademir Dias-Pino [org.]

Coedição Aeroplano, 2011

45. Multiplicidade 2010

Batman Zavareze [org.]

Coedição Aeroplano, 2011

46. FAD - Festival de Arte Digital 2010

FAD - Festival de Arte Digital [org.].

Coedição ICC Instituto cidades

criativas, 2010

47. Arte e novas espacialidades:

relações contemporâneas

Eduardo de Jesus [org.]

Coedição F10, 2011

48. ReVIDEO: Lenora de Barros

Lenora de Barros, Alberto Saraiva

[org.]. Coedição Automática

Edições, 2011

49. Performance Presente Futuro Vol. III

Daniela Labra [org.]

Coedição Automática Edições, 2011

50. Projetor: Tony Oursler

Paulo Venancio Filho [org.]

Coedição Automática Edições, 2011

51. Geração Eletrônica 2011

Bruno Katzer, Rossine A.

Freitas, Tom Leão [org.]

Edição Oi Futuro, 2011

52. FILE Games Rio 2011:

Eu quero jogar

Ricardo Barreto e Paula

Perissinotto [org.]

Coedição F10, 2011

53. Trans - Adriana Varella

Alberto Saraiva [org.]

Coedição Aeroplano, 2011

54. Power Pixels

Miguel Chevalier

Coedição Aeroplano, 2011

55. Warhol TV

Judith Benhamou-Huet [org.]

Coedição Aeroplano, 2011

56. Além Cinema

Neville D'Almeida

Coedição Nova Fronteira, 2011

57. Luciferinas, Simone Michelin

Simone Michelin [org.]

Coedição Aeroplano, 2011

58. Pulso Iraniano

Marc Pottier [org.]

Coedição Aeroplano, 2011

59. Era uma vez...

Aída Marques e Elianne Ivo [org.]

Coedição Aeroplano, 2011

60. Letícia Parente

André Parente e Katia Maciel [org.]

Coedição +2 Editora, 2011

61. Gabriele Basilico

Nina Dias e Paola Chieregato [org.]

Coedição Francisco Alves, 2011

62. Brígida Baltar: O

que é preciso para voar

Brígida Baltar e Marcelo Campos

Coedição Aeroplano, 2012

63. Multiplicidade 2011

Batman Zavareze [org.]

Coedição Aeroplano, 2012

64. High-Tech/Low-Tech -Formas de

Produção

Alfons Hug [org.]

Coedição Aeroplano, 2012

65. Atos de Fala

Felipe Ribeiro [org.]

Coedição Rizoma, 2011

66. Sebastião Barbosa, fotógrafo

Felippe Schultz Mussel [org.]

Coedição Letra e Imagem, 2012

67. FILE RIO 2012:

Festival Internacional

de Linguagem Eletrônica

Paula Perissinotto e Ricardo

Barreto [org.]

Coedição Aeroplano, 2012

68. Iluminando o futuro -

50 anos de Jorginho de Carvalho.

EPA!, Miguel Colker [org.]

Coedição Aeroplano, 2012

69. I Seminário Oi Futuro Mediação

em Museus: Arte e Tecnologia -

Reflexões e Experiências

Adriana Fontes e Rita Gama [org.]

Coedição Livre Expressão, 2012

70. Predicament -Situações Difíceis

Yann Lorvo e Stéphanie Suffren

Coedição Apicuri, 2012

71. Xico Chaves

Alberto Saraiva [org.]

Coedição F10, 2012


72. Multiplicidade 2012

Batman Zavareze [org.]

Coedição Aeroplano, 2013

73. Poesia Visual

Alberto Saraiva [org.]

Coedição F10, 2013

74. Transperformance

Lilian Amaral [org.]

Coedição F10, 2013

75. Regina Vater: Quatro Ecologias

Paula Alzugaray [org.]

Coedição F10, 2013

76. EXPO(R) GODARD

Aída Marques, Anne Marquez

e Dominique Païni [org.]

Coedição 7 Letras, 2013

77. MACHINARIUM

Marisa Flórido e

Monica Mansur [org.]

Coedição Binóculo Editora, 2013

78. Ana Vitória Mussi

Marisa Flórido [org.]

Coedição Apicuri e F10, 2013

79. Bill Lundberg

Alberto Saraiva [org.]

Coedição F10, 2013

80. Paulo Climachauska

Alberto Saraiva

Coedição Coletiva Projetos

Culturais, 2013

81. FILE GAMES RIO 2014:

Festival Internacional

de Linguagem Eletrônica

Paula Perissinotto e

Ricardo Barreto [org.]

Coedição FILE, 2014

82. Nenhuma Ilha -

Elisa de Magalhães

Marcelo Campos [org.]

Coedição Letra&Imagem, 2014

83. Anatomia da Luz

Martha Pagy [org]

Albano Afonso, 2014

84. BRICS

Alfons Hug [org.]

Coedição Editora Atlântica, 2014

85. Foto + vídeo + arte

contemporânea: FotoRio 2009

Milton Guran [org.],

Coedição Aeroplano, 2010

86. FILE RIO 2010:

Perspectivas da arte digital

Paula Perissinotto e Ricardo

Barreto [org.], 2010

87. Videofotopoesia - Tadeu Jungle

Alberto Saraiva [org.]

Coedição F10, 2014

88. Paisagens Cromáticas

Isabel Portella

Coedição Apicuri, 2013

89. Apichatpong Weerasethakul

Daniella Azzi e Francesca Azzi

[org.]

Coedição Iluminuras, 2014

90. Marulhar - artistas

portugueses contemporâneos

Delfim Sardo

Coedição Nau das Letras Editora de

Livros Ltda, 2014

91. O Papagaio de Humboldt

Alfons Hug [org.]

Coedição Nau das Letras Editora de

Livros Ltda, 2015

92. Niura Bellavinha:

Em torno da luz

Alberto Saraiva [org.]

Coedição Nau Editora, 2014

93. Poesia Visual 2

Alberto Saraiva [org.]

Coedição F10, 2015

94. Transperformance 2

Marisa Flórido [org.]

Coedição F10, 2015

95. Desenlace -

Miguel Angel Rios & Teresa Serrano

Luiza Interlenghi [org.]

Coedição Memória Visual, 2015

96. Atos de Fala

Felipe Ribeiro [org.]

Coedição Rizoma, 2014

97. Daniel Senise

Alberto Saraiva, Flavia Corpas e

Paulo Miyada

Coedição Cosac Naify, 2015

98. Somos Iguais -Nazareno

Nazareno e Tainá Azeredo [org.]

Edição ADUPLA, 2015

99. Área 91 - Thales Leite

Marisa Flórido Cesar [org.]

Coedição F10, 2016

100. Poesia Visual 3

Alberto Saraiva [org.]

Coedição F10, 2016

101. Transperformance 3

Gabriel Bogossian, Luísa Duarte

[orgs.].

Coedição F10, 2016

102. Gambiólogos 2.0:

A gambiarra nos tempos do digital

Fred Paulino [org.]

Coedição Fogão de Lenda, 2016


Catalogação-na-fonte

Segemar Oliveira Magalhães CRB/6 1975

P328g

2016

Paulino, Fred (Org.).

Gambiólogos 2.0: a gambiarra nos tempos do digital /

Fred Paulino (Org.) ; Raquel Rennó ; Giselle Beiguelman

; Juliana Gontijo. – Belo Horizonte / Rio de Janeiro:

Fogão de Lenda Editora / Oi Futuro (Instituto Telemar),

2016.

196 p. : il. ; 19,5 x 25,5 cm.

Coleção Arte e Tecnologia

ISBN: 978-85-68657-05-8

1. Arte Contemporânea 2. Criatividade 3. Arte,

Tecnologia e Sociedade 4. Exposição de Arte 5. Cultura

– Brasil 6. Tradição - Brasil I. Título. II. Rennó, Raquel

III. Beiguelman, Giselle IV. Gontijo, Juliana V. Tanure,

Luciana. VI. Saraiva, Alberto VII. Perocco, Xande VIII.

Rezende, Cláudia IX. Sanches, Nidin.

CDD – 22. ed. – 700

ORGANIZAÇÃO

PRODUÇÃO

PATROCÍNIO

REALIZAÇÃO

CA: 1764/001/2013

Cuca

CULTURAL

INCENTIVO


ESTA EXPOSIÇÃO É DEDICADA A

RODRIGO MINELLI E FLORA MOL


www.gambiologia.net

Este livro foi composto em "Rosewood Fill", "Univers Condensed" e "Caecilia".

Capa em papelão Paraná revestido em Kraft 110g/m².

Miolo nos papéis Offset 90g/m² e Marcatto Originale Crema 80g/m².

Impresso em Belo Horizonte pela Rona Editora, em setembro de 2016.



Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!