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Mala Direta<br />
Básica<br />
9912281412/2011-SE/SPM<br />
Correcta Editora<br />
MARÇO | 2024<br />
Nº 296 • ANO 29<br />
IMPRESSO FECHADO<br />
Pode ser aberto pela ECT<br />
Especial Seguro Rural<br />
O APOIO DO<br />
SEGURO AO<br />
PRODUTOR RURAL<br />
Mercado: PSR deve se aproximar dos<br />
princípios da sustentabilidade<br />
Consumidores: baixa adesão é um desafio<br />
para Governo e mercado<br />
ESG: sustentabilidade faz parte da cadeia<br />
produtiva do agronegócio<br />
Cobertura completa do evento “A força da comunicação no mercado de seguros”
EDITORIAL<br />
Sustentabilidade<br />
no campo<br />
Em 2023, o seguro rural representou cerca de 11,2% da arrecadação<br />
de prêmios do mercado de seguros. Isso mostra<br />
que o potencial de crescimento do mercado é muito<br />
grande, considerando que o agronegócio é responsável por mais<br />
de 23% do PIB brasileiro.<br />
A carteira registrou um aumento significativo em sua arrecadação<br />
no acumulado do ano de 2023, atingindo a marca de<br />
R$ 11,1 bilhões, representando um crescimento de 4,5% em relação<br />
ao período anterior.<br />
As oportunidades são grandes, entretanto, barreiras<br />
como falta de subvenção e conhecimento, mais um vez, emperram<br />
o desenvolvimento de novos produtos e serviços que possam<br />
atrair o produto rural.<br />
Para preencher esta lacuna, muitas empresas estão investindo<br />
em novas tecnologias de olho na possibilidade de escalar<br />
produtos que possam atender a demanda de regiões e culturas<br />
específicas, ampliando a base de cobertura de clientes. Mas, para<br />
ampliar sua contratação, os pequenos produtores ainda dependem<br />
da subvenção governamental, cujos valores são definidos<br />
safra a safra.<br />
Das novidades que o setor pode apresentar aos produtores,<br />
o seguro paramétrico (que já não é tão novo assim), contribui<br />
para a celeridade do processo de regulação de sinistros. Outro<br />
ponto importante podem ser os investimentos em energia limpa,<br />
que abrem espaço para mais competitividade e inovações.<br />
MARÇO • 2024 • Nº 296 • ANO 29<br />
EXPEDIENTE<br />
Diretora de Redação:<br />
Kelly Lubiato - MTB 25933<br />
klubiato@revistaapolice.com.br<br />
Diretora de Negócios:<br />
Graciane Pereira<br />
graciane@revistaapolice.com.br<br />
Redação:<br />
Nicole Fraga - MTB 92836<br />
nicole@revistaapolice.com.br<br />
Colaborador:<br />
André Felipe de Lima<br />
Diagramação e Arte:<br />
Enza Lofrano<br />
Tiragem:<br />
12.000 exemplares<br />
Circulação:<br />
Nacional<br />
Periodicidade:<br />
Mensal<br />
Os artigos assinados são de<br />
responsabilidade exclusiva de<br />
seus autores, não representando,<br />
necessariamente, a opinião desta revista.<br />
Esta revista é uma<br />
publicação independente<br />
da Correcta Editora Ltda e<br />
de público dirigido<br />
Boa leitura<br />
Diretora de Redação<br />
CORRECTA EDITORA LTDA<br />
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Edifício Edel Trade Center<br />
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Mande suas dúvidas,<br />
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ESPECIAL SEGURO RURAL<br />
ESG<br />
O investimento em<br />
sustentabilidade é<br />
primordial para garantir<br />
a eficiência da produção.<br />
Cada vez mais o mercado<br />
de seguros, e o consumidor,<br />
estão preocupados com a<br />
forma como os produtos são<br />
desenvolvidos e não apenas<br />
com seu destino final<br />
>> PÁG. 16<br />
MERCADO<br />
Produtores rurais e mercado<br />
de seguros aguardam a<br />
reformulação do Programa<br />
de Subvenção ao Prêmio do<br />
Seguro Rural (PSR) para a<br />
safra 2024/2025. Enquanto<br />
isso, carteira continua com<br />
participação de cerca de<br />
11% no mercado brasileiro<br />
de seguros<br />
>> PÁG. 10<br />
CONSUMIDORES<br />
O que impede o mercado<br />
de seguro rural de atrair<br />
uma nova fatia de clientes?<br />
A falta de cultura é um<br />
entrave, mas, o principal<br />
deles é o baixo investimento<br />
em políticas de fomento<br />
à compra de apólices que<br />
garantam a continuidade<br />
dos negócios<br />
>> PÁG. 20<br />
ÍNDICE<br />
05 painel<br />
08 gente<br />
09 alba seguradora<br />
Carlos Alberto Trindade é o novo CEO da<br />
Alba Seguradora e deverá conduzir o novo<br />
momento da companhia, buscando a<br />
liderança de mercado<br />
ESPECIAL SEGURO RURAL<br />
14 alper<br />
Corretora trabalha na criação de produtos<br />
e serviços para atender às necessidades dos<br />
produtores rurais<br />
15 bradesco seguros<br />
Seguradora investe na proteção do<br />
agronegócio brasileiro com vários produtos<br />
específicos. Foco agora está na proteção de<br />
máquinas e equipamentos do produtor rural<br />
25 gallagher<br />
Corretora apoia seus clientes para encontrar<br />
os melhores negócios de seguros rurais e<br />
ainda busca formas cobertura para energia<br />
limpa e de baixo carbono<br />
26 evento<br />
Freela promove evento “A força da<br />
comunicação no mercado de seguros” e lota<br />
auditório da ENS com debate sobre o melhor<br />
caminho para levar o setor aos lares dos<br />
brasileiros<br />
30 legislação<br />
A Lei Especial dos Contratos de Seguros, o<br />
PLC 29/2017 pode estar bem próxima de ser<br />
votada pelo Senado. O texto, que foi escrito<br />
após acordo entre entes do mercado, ainda<br />
deverá passar por algumas alterações<br />
Os artigos assinados são de<br />
responsabilidade exclusiva de seus autores,<br />
não representando, necessariamente, a<br />
opinião desta revista.<br />
4
PAINEL<br />
parceria<br />
Acordo para o ramo de seguro de vida<br />
A partir de 01/04/2024, a Icatu passa a ser a seguradora<br />
oficial do PASI - Plano de Amparo Social Imediato,<br />
o primeiro seguro popular do Brasil. Ao todo, o<br />
PASI conta com cerca de 50 mil<br />
empresas parceiras na categoria<br />
de Pequenas e Médias Empresas<br />
(PME) e oferece seguros a partir<br />
de R$1,50. O PASI será responsável<br />
pela estratégia, administração<br />
e operação do seguro, mantendo<br />
as coberturas, serviços e<br />
valores dos contratos em vigor.<br />
Já a Icatu, como seguradora<br />
oficial, entra com a garantia do<br />
produto e com diversos benefícios<br />
para a base de corretores do PASI. Os profissionais<br />
terão à disposição materiais de venda e comunicação,<br />
incentivos e campanhas regulares.<br />
De acordo com Alaor Silva Junior, presidente do<br />
PASI, a parceria é a união de propósitos das duas empresas.<br />
“O PASI tem como objetivo a democratização do<br />
acesso ao seguro no Brasil. Conhecemos os desafios que<br />
os empreendedores enfrentam e as necessidades das<br />
PMEs. Por isso, o nosso desafio é levar a proteção do<br />
seguro, criando coberturas e benefícios para necessidades<br />
específicas. Vimos muitas<br />
sinergias entre esse nosso propósito<br />
e o da Icatu e estamos<br />
certos de que será uma união<br />
de sucesso”, afirma.<br />
“Estamos orgulhosos de<br />
consolidar essa parceria entre<br />
duas instituições brasileiras de<br />
renome, ambas com um histórico<br />
de excelência no mercado<br />
de seguros. Vemos essa conexão<br />
como uma oportunidade<br />
para acelerar a democratização do acesso à proteção<br />
financeira no País. Ao lado do PASI, reforçamos o papel<br />
da Icatu como agente de transformação da sociedade<br />
e o nosso compromisso com a oferta de serviços<br />
e soluções únicas para diferentes tipos de demandas,<br />
perfis e necessidades”, afirma Luciano Soares, CEO da<br />
Icatu.<br />
inovação<br />
7ª edição do Insurtech Brasil está com inscrições abertas<br />
A 7ª edição do Insurtech Brasil, evento focado em<br />
tecnologia e inovação para o mercado de seguros, já está<br />
com inscrições abertas. O encontro acontecerá no dia 03<br />
de julho, no Amcham Business Center, em São Paulo.<br />
A programação deste ano abordará temas que<br />
seguem relevantes para o desenvolvimento do mercado<br />
segurador brasileiro, como Embedded Insurance, Open<br />
Insurance, Open Finance e Inteligência Artificial. Ao todo,<br />
serão 31 painéis distribuídos em quatro salas diferentes,<br />
divididas entre o Business Hall e o Insurtech Hall.<br />
“A cada ano que passa, o Insurtech Brasil vai se<br />
consolidando como uma plataforma de negócios e networking<br />
para inovação no mercado segurador. Isso acontece<br />
devido ao formato do evento, que permite uma enorme<br />
interação com os líderes e empreendedores que estão<br />
reinventando a indústria de seguros no nosso país”, disse<br />
José Prado, CEO do evento.<br />
O primeiro lote de ingressos já está disponível e<br />
o valor da inscrição pode ser parcelado em até 12 vezes<br />
no cartão. Vale lembrar ainda que as compras antecipadas<br />
oferecem desconto em relação ao preço final que será cobrado<br />
no dia do evento.<br />
5
PAINEL<br />
evento<br />
A importância do corretor de seguros<br />
A reformulação estratégica da Porto, realizada nos<br />
últimos anos, que resultou na sua divisão em verticais de<br />
negócios, foi um dos assuntos comentados por Luiz Arruda,<br />
vice-presidente Comercial e Marketing, durante sua<br />
participação no almoço do CCS-SP (Clube dos Corretores<br />
de Seguros de São Paulo), que ainda está em curso, Arruda<br />
garantiu que “o corretor sempre esteve no centro das<br />
decisões”.<br />
Além de Arruda, também foram recebidos pelo<br />
mentor Álvaro Fonseca e diretoria do CCS-SP no encontro<br />
o diretor Comercial de SP Capital e Metropolitana, Emerson<br />
Valentim, a diretora Executiva de Produção Brasil, Eva<br />
Miguel, e o superintendente de Marketing, Oliver Haider.<br />
Segundo o vice-presidente da Porto, as mudanças na empresa<br />
trouxeram a revitalização da marca, de processos, de<br />
pessoas, da imagem do corretor e até de hábitos de compra<br />
do consumidor. “Declaramos ao mercado que queríamos<br />
ser mais do que uma seguradora”, disse.<br />
Na criação das verticais de negócios Porto Bank,<br />
Porto Saúde, Porto Seguro e, mais recentemente, Porto<br />
Serviço, Arruda afirmou que os corretores dividiram com<br />
a empresa a responsabilidade de reformular o seu papel<br />
na sociedade. A dinâmica de comercialização, em especial,<br />
passou por um reajuste, colocando em evidência a<br />
importância desses profissionais. “Na Porto, o que faz a<br />
diferença é a credibilidade do corretor junto ao seu cliente.<br />
Nenhuma empresa tem tantos dados do cliente quanto<br />
ele”, disse.<br />
Segundo Arruda, o personalismo da relação do<br />
corretor com o cliente é um diferencial que gera resultados<br />
para toda a cadeia. “Significa produtos melhores,<br />
maior saúde financeira para o corretor e maior proximidade<br />
com os clientes, além do crescimento das seguradoras”,<br />
disse. Por isso, a Porto tem lançado várias campanhas<br />
de vendas e incentivos comerciais. Uma das campanhas é<br />
a “Fecha com a Porto”, que tem como objetivo reconhecer<br />
e valorizar o trabalho dos corretores, incentivando-os a<br />
comercializarem produtos das verticais de negócios.<br />
representatividade<br />
Fenacor comemora 49º aniversário da Carta Sindical<br />
A Fenacor (Federação Nacional dos Corretores<br />
de Seguros) celebrou o 49º aniversário<br />
do reconhecimento da Federação como entidade<br />
coordenadora dos interesses dos Corretores<br />
de Seguros, conforme a Carta Sindical concedida em 1975<br />
pelo Ministério do Trabalho e Emprego.<br />
Desde então, a Fenacor dedica-se a representar<br />
os corretores de seguros em todas as esferas, buscando<br />
sempre a valorização da profissão e o aprimoramento das<br />
condições de trabalho dos profissionais do ramo.<br />
É importante ressaltar o notável crescimento<br />
da Federação ao longo desses anos. Inicialmente,<br />
eram apenas cinco sindicatos estaduais<br />
(Sincors). Atualmente, a entidade agrega<br />
24 sindicatos de todas as regiões do Brasil, representando<br />
aproximadamente 139 mil corretores de seguros, pessoas<br />
físicas e jurídicas, registrados na Susep (Superintendência<br />
de Seguros Privados). Esse crescimento demonstra a confiança<br />
e o reconhecimento cada vez maiores dos profissionais<br />
do setor no trabalho desenvolvido pela Fenacor.<br />
6
gente<br />
UMA NOVA TRANSFORMAÇÃO<br />
A Mapfre anunciou a contratação de<br />
Daniela Neves como nova head de Transformação<br />
da companhia. A executiva<br />
possui mais de 20 anos de<br />
experiência no mercado financeiro<br />
e na liderança de<br />
negócios de varejo.<br />
“Estou muito contente<br />
em assumir esse novo<br />
desafio na Mapfre e animada<br />
em iniciar esse ciclo na companhia. Chego<br />
com o objetivo de construir e entregar ainda mais<br />
resultados. Me junto ao time de Transformação<br />
para aprimorar o olhar de inovação e agilidade nos<br />
processos, para uma seguradora que já vem conquistando<br />
resultados extremamente positivos ao<br />
longo dos últimos anos”, reforça Daniela.<br />
TECNOLOGIA APLICADA<br />
A It’sSeg Company<br />
anunciou a chegada de<br />
Leonardo Pupim como<br />
novo diretor de tecnologia.<br />
Com sólido conhecimento<br />
em TI, atuação e<br />
liderança de diferentes times<br />
em TI, contribuiu em<br />
contextos de novos negócios, transformação digital,<br />
startups e M&As, somando mais de 20 anos<br />
de experiência em grandes empresas como TEC-<br />
BAN, ABN Real, Santander, Alelo Brasil, Dasa e Ben<br />
Visa Vale.<br />
Leonardo é formado em Ciências da Computação<br />
pela USP, pós-graduado em Engenharia<br />
de Software pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas<br />
e Administração pelo Instituto Mauá de Tecnologia<br />
e possui especialização em Liderança de<br />
Transformação Digital pelo Insead.<br />
BOLINHAS ELEITAS<br />
CEO PARA AMÉRICA LATINA<br />
O Clube do Bolinha de Santa Catarina<br />
empossou sua nova diretoria. Para a Gestão<br />
2024/2025, a confraria possui como integrantes:<br />
Reitor: Jean Carlos dos Santos; Diretor Secretário:<br />
Fabrício Cardozo; Diretor Tesoureiro: Arthur<br />
Ludwig Neumann.<br />
O novo reitor já faz parte da história do Clube<br />
da Bolinha há 10 anos. “Já ocupei as outras cadeiras<br />
em antigas gestões, como diretor secretário<br />
e diretor tesoureiro e sei da responsabilidade, agora<br />
ainda mais. Esse ano será muito importante para<br />
o mercado de seguros no geral, sendo marcado<br />
pelos 100 anos do SindsegSC e os 35 anos do nosso<br />
Clube da Bolinha. Estou animado para enfrentar<br />
este novo desafio”, completa Santos.<br />
A Universal Assistance, empresa especialista<br />
em seguro viagem que faz parte do grupo<br />
Zurich Seguros, anunciou o argentino Fernando<br />
García Ruiz como novo CEO Regional para a<br />
América Latina.<br />
Com uma sólida trajetória<br />
e experiência no setor,<br />
Ruiz assume o desafio<br />
de liderar a empresa em<br />
uma fase de crescimento<br />
significativo e retomada<br />
dos investimentos no setor<br />
de turismo. Em sua nova<br />
posição, Ruiz destaca a importância da equipe e a<br />
confiança renovada dos clientes: “É um privilégio<br />
liderar uma empresa tão grande e confiável como<br />
a Universal Assistance. A parceria com a Zurich nos<br />
proporciona não apenas respaldo financeiro e experiência,<br />
mas também um compromisso compartilhado<br />
com a excelência e a inovação na indústria<br />
do turismo”.<br />
8
GENTE<br />
ALBA SEGURADORA<br />
Carlos Alberto Trindade inicia<br />
novos desafios<br />
EXECUTIVO ASSUMIU A DIREÇÃO DA<br />
ALBA SEGURADORA. O NOVO CEO IRÁ<br />
CONDUZIR A COMPANHIA EM SEU<br />
REPOSICIONAMENTO DE MERCADO,<br />
PARA LIDERAR OS SEGMENTOS NOS<br />
QUAIS ATUA<br />
Após a venda da operação do<br />
Hospital Aliança para a Rede<br />
D’Or, o Grupo Aliança da Bahia<br />
retoma suas atividades no setor de seguros.<br />
Como parte desse processo, Carlos<br />
Alberto de Figueiredo Trindade Filho assumiu<br />
o cargo de CEO. Com atuação de<br />
mais de quatro décadas no ramo de seguros,<br />
Beto Trindade – como é conhecido<br />
no mercado – sucede a José Renato de<br />
Almeida Gonçalves Tourinho à frente da<br />
Alba Seguradora.<br />
A chegada de Trindade à companhia<br />
integra o plano estratégico elaborado<br />
com a consultoria E&Y para que, nos<br />
próximos anos, a Alba se torne uma das<br />
líderes nos segmentos que atua.<br />
Desde junho de 2023, a Alba Seguradora<br />
é o novo nome da centenária<br />
Companhia de Seguros Aliança da Bahia –<br />
a mais antiga empresa do setor ainda em<br />
operação, fundada em 1870. Por mais de<br />
uma década, a venda de novas apólices<br />
da seguradora foi interrompida – no segmento,<br />
o foco da companhia se restringiu<br />
à gestão da carteira já existente, no período<br />
em que Grupo Aliança deu prioridade<br />
à área hospitalar.<br />
A nova marca e identidade visual<br />
refletem o momento da companhia, que<br />
pretende ser mais moderna e digital. No<br />
plano comercial da seguradora, os riscos<br />
pessoais representam 70% da operação,<br />
com todo o portfólio: vida individual, acidentes<br />
pessoais, vida em grupo, capital<br />
global, PME, prestamista etc.<br />
Nos seis meses de retomada da operação da Alba, os contratos<br />
firmados garantem prêmios que somam R$ 136 milhões nos<br />
segmentos de garantia estendida e prestamista, e R$ 144 milhões<br />
no de vida.<br />
Na década de 1940, a seguradora foi líder do mercado brasileiro.<br />
Ficou entre as dez maiores nas décadas de 1980 e 1990. Em<br />
1995, tornou-se acionista do Brasilcap – a participação atual é de<br />
15,86% do capital social. Em 1997, passou a ser sócia da Aliança do<br />
Brasil, cuja participação foi vendida em 2008.<br />
Beto Trindade, que já atuava como consultor da Alba Seguradora,<br />
conta, para o novo cargo, com a experiência de quem já<br />
passou pelas áreas Comercial, Marketing, Estratégia e gestão das<br />
business units de Seguros de Automóveis, Vida, Previdência, Ramos<br />
Elementares (incluindo Grandes Riscos) de grandes seguradoras e<br />
corretoras de seguros.<br />
O executivo especializou-se na gestão dessas organizações,<br />
participando de diversos conselhos de administração e ocupando<br />
cargos de vice-presidente e presidente. Entre as instituições de ensino<br />
onde desenvolveu suas atividades acadêmicas, destacam-se a<br />
London Business School, a Fundação Dom Cabral e a Faculdade de<br />
Economia, Administração e Atuária da Universidade de São Paulo<br />
(FEA/USP).<br />
9
ESPECIAL SEGURO RURAL<br />
MERCADO<br />
Em meio às incertezas, há otimismo<br />
SEGURADORAS E PRODUTORES RURAIS AGUARDAM A REFORMULAÇÃO DO PSR, O PROGRAMA<br />
FEDERAL DE SUBVENÇÃO AO SEGURO RURAL. MINISTÉRIO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA DIZ À<br />
APÓLICE ESTAR TRABALHANDO PARA MELHORÁ-LO E SUSEP SUGERE AO GOVERNO APROXIMÁ-LO<br />
AINDA MAIS DE REQUISITOS DE SUSTENTABILIDADE<br />
André Felipe de Lima<br />
O<br />
plano é ambicioso. O Conselho<br />
Nacional de Desenvolvimento<br />
Industrial foi enfático ao recentemente<br />
apresentar como meta do Governo<br />
Federal — a partir do programa Nova<br />
Indústria Brasil — ampliar a participação<br />
da agroindústria no produto interno bruto<br />
(PIB) agropecuário dos atuais 23% para<br />
50%, garantindo a sustentabilidade ambiental<br />
durante a produção. Os números<br />
falam por sim. Dados de 2023, referentes<br />
à linha de negócio rural disponíveis no<br />
Painel de Inteligência do Mercado de Seguros<br />
organizado pela Superintendência<br />
de Seguros Privados (Susep), apontam<br />
que foram registrados em prêmios R$<br />
13,9 bilhões e, em sinistros, R$ 4,6 bilhões.<br />
O crescimento da carteira rural, de<br />
2022 para 2023, foi de 3,9%. Até dezembro<br />
do ano passado, os seguros rurais correspondiam<br />
ao terceiro grupo de seguros<br />
mais comercializados no Brasil, alcançando<br />
percentual de 11,2% de participação<br />
no mercado, ficando atrás somente do<br />
seguro de automóvel, com 44,6%, e do<br />
seguro patrimonial, com 21,9%, como<br />
informa o presidente da comissão de se-<br />
guro rural da Fenseg, Joaquim Neto. Destaca-se na ampla carteira<br />
rural, pontualmente, o seguro agrícola que, no ano passado, obteve<br />
arrecadação de R$ 5,5 bilhões. “Mas tivemos uma redução de arrecadação<br />
frente ao ano anterior, de 11,72%. Um ponto interessante é<br />
que no ano passado tivemos a ocorrência de indenizações da ordem<br />
de R$ 2,4 bilhões. E no ano anterior, em 2022, a cifra alcançada de<br />
indenizações foi de R$ 8,8 bilhões. Portanto, em 2023, a redução foi<br />
de 72,22%”, explica Neto.<br />
O vilão para essa queda tem nome e sobrenome: o fenômeno<br />
climático El Niño foi devastador ao provocar uma seca sem precedentes<br />
no centro-oeste, afetando drasticamente a plantação de<br />
soja do Mato Grosso, o principal estado produtor agrícola do país,<br />
e chuva sem parar, que comprometeu severamente a plantação de<br />
milho e de trigo no sul, sobretudo no Rio Grande do Sul. O resumo<br />
da tragédia é que a produção total de grãos deverá cair de 319,8<br />
milhões de toneladas em 2023 para quase 300 milhões de toneladas<br />
este ano, conforme dados de relatório da Companhia Nacional de<br />
Abastecimento (Conab).<br />
Fundador e CEO da Agrotools, Sergio Rocha destaca que, embora<br />
a variação climática tenha impactado significativamente a carteira<br />
do seguro rural, esse impacto ocorre justamente por não haver<br />
uma política maior em relação a essa categoria de seguro, que reflete<br />
diretamente na segurança alimentar de milhões de pessoas. “Alguns<br />
números importantes neste sentido vêm do Proagro. Além disso, outros<br />
números chamam atenção. Até 2050, segundo a ONU, a produção<br />
alimentar tem que crescer 20%, e o Brasil é responsável por 40% desse<br />
crescimento. Estamos falando de um número bastante representativo.<br />
10
A segurança alimentar global hoje está vinculada a uma atividade com<br />
alto índice de risco, sobretudo pelos fatores climáticos extremos que<br />
estão crescendo, mesmo com políticas de baixo carbono e outras iniciativas,<br />
os fatores climáticos extremos são a grande alavanca deste<br />
risco”, alerta Rocha.<br />
NOVOS MODELOS DO PLANO SAFRA E DO PSR<br />
Dois programas federais concentram-se na mitigação de risco<br />
da atividade rural: a subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR)<br />
e o Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro). Enquanto<br />
o PSR concede subvenção ao produtor rural para que reduza<br />
o custo das apólices de seguro oferecidas pelo setor privado, o Proagro,<br />
como mencionado por Sergio Rocha, exonera o beneficiário do<br />
cumprimento de obrigações financeiras em operações de crédito<br />
rural de custeio, além de indenizar os recursos próprios do beneficiário,<br />
utilizados em custeio rural, inclusive em empreendimento não<br />
financiado, no caso de perdas de receitas em consequência de fenômenos<br />
climáticos naturais, pragas e doenças, na forma estabelecida<br />
pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).<br />
Considerado insuficiente, o PSR não tem atendido a demanda<br />
do agronegócio, que é um dos setores vitais para a economia brasileira.<br />
Em função disso, o Ministério da Agricultura promete um novo<br />
modelo do produto na safra 2024/25. O órgão enfatiza apenas que<br />
um novo desenho, em breve, será anunciado. Para a safra de 2023/24,<br />
o PSR teve orçamento de R$964,5 milhões, com o risco de parte do<br />
montante ser revertida pelo Governo para outros fins. O ministro do<br />
Mapa, Carlos Fávaro, já reconheceu publicamente que o volume atual<br />
do PSR é realmente pouco e pleiteia dobrá-lo. Hoje, a subvenção<br />
é de 20% em todo o país, mas nordeste e norte recebem 30%. Algumas<br />
culturas, como hortaliças, frutas, café, cana-de-açúcar, além de<br />
florestas, pecuária e aquicultura, recebem 40% de subvenção.<br />
Em nota enviada à reportagem da Apólice, o Mapa justifica-<br />
-se: “O orçamento do PSR tem como referência o ano civil e não o<br />
ano safra. Em relação ao exercício de 2024, foi aprovado um montante<br />
de R$ 964 milhões. Nesse sentido, o Ministério da Agricultura<br />
tem buscado aumentar os recursos disponíveis para atender à crescente<br />
demanda por seguro rural.”<br />
O Proagro, que chegou a R$ 9,4 bilhões no ano passado, também<br />
será reformulado para ampliar a ajuda aos produtores, principalmente<br />
os da agricultura familiar, a enfrentarem os efeitos climáticos<br />
e corrigir erros que culminaram em fraudes.<br />
Para Leila Harfuch, consultora da Agroicone, o Brasil precisa<br />
de um modelo próprio de seguro para o setor, considerando a estrutura<br />
da agropecuária e da própria política agrícola. Ela diz que a<br />
Agroicone preparou propostas para o Plano Safra 2024/2025 sugerindo<br />
incentivo no crédito rural de custeio (com redução na taxa de<br />
juros) para produtores que contratam seguro rural sem subvenção<br />
econômica, dado que o crédito é a prioridade da política agrícola<br />
no Brasil. “Tomando como exemplo o crédito rural de custeio no<br />
Pronamp, para médios produtores rurais, na safra 2022/2023 foram<br />
financiados R$46,8 bilhões para uma área de 9,35 milhões de<br />
hectares. Deste total, R$27 bilhões de custeio alocado para 5,9 milhões<br />
de hectares não tinham seguro rural ou adesão ao Proagro,<br />
JOAQUIM NETO,<br />
da Fenseg<br />
estando descoberto dos riscos climáticos.<br />
Esta área é quase equivalente à área segurada<br />
no PSR em 2023 (6,25 milhões de<br />
ha). E ainda, 67% dos recursos do crédito<br />
de custeio no Pronamp não possuem<br />
subvenção econômica (fonte de recursos<br />
obrigatórios), sendo os incentivos via custeio<br />
com custo nulo de subvenção econômica”,<br />
assinala Leila<br />
A consultora garante que a sugestão<br />
tem grande potencial para massificar<br />
o seguro, reduzir os custos ao Tesouro<br />
Nacional, proteger a carteira de crédito<br />
de eventos climáticos e recorrentes<br />
renegociações de dívidas rurais e ainda<br />
compartilhar os riscos entre instituições<br />
financeiras e seguradoras. “Além da questão<br />
dos recursos destinados à política de<br />
gestão de riscos, é preciso entendê-la de<br />
forma integrada. O incentivo à adoção de<br />
estratégias de manejo mitigadoras de riscos<br />
climáticos (como a adoção de práticas<br />
do Plano ABC+ que combinam mitigação<br />
e adaptação às mudanças do clima), bem<br />
como o fortalecimento de instrumentos<br />
que compõem a política de gestão de risco,<br />
como o Zoneamento Agrícola de Risco<br />
Climático (Zarc), são fundamentais. Nossas<br />
propostas incluem a gestão integrada<br />
de riscos, climáticos, ambientais, sociais<br />
e econômicos. Essas propostas estão alinhadas<br />
à estratégia do Mapa para gestão<br />
de riscos e integrar a política de crédito<br />
à de seguro tem grande potencial para<br />
implementar a própria agenda do Mapa.”<br />
11
ESPECIAL SEGURO RURAL<br />
MERCADO<br />
SERGIO ROCHA,<br />
da Agrotools<br />
O setor de seguros parece, contudo,<br />
atento ao desafio climático. A Confederação<br />
Nacional das Seguradoras (CNseg)<br />
propõe a criação de um Fundo do<br />
Seguro Rural (FSR), que teria cerca de R$<br />
4,5 bilhões e seria constituído por aportes<br />
da União e seguradoras que operam o<br />
seguro rural, sendo facultativo aos resseguradores<br />
que contratarem o FSR. Tudo<br />
ainda está, contudo, no papel. Enquanto<br />
isso, o PSR segue insuficiente.<br />
“Há falta de recurso disponibilizado<br />
para subvenção ao prêmio do seguro rural.<br />
Sem essa subvenção, ou essa subvenção<br />
sendo destinada em momento tardio,<br />
acaba desestimulando os agricultores em<br />
contratar o seguro. Recentemente, vimos<br />
uma divulgação de notícias relacionadas<br />
a agricultores que não conseguiram assumir<br />
seus compromissos financeiros, principalmente<br />
atrelados a financiamentos<br />
bancários ou a trocas de insumos frente<br />
à produção agrícola que dão o nome de<br />
‘Barter’ [operação financeira entre os produtores<br />
rurais e empresas de produtos utilizados<br />
no agronegócio]. Isso é uma perda<br />
muito grande para o setor do agronegócio”,<br />
preocupa-se Joaquim Neto.<br />
Somente 55% das apólices do ano<br />
passado contaram com o estímulo ou<br />
amparo do PSR. Pelos cálculos dos especialistas<br />
da Fenseg, o setor de seguros<br />
teria necessitado de um valor superior ao<br />
prometido pelo ministro Fávero, ou seja,<br />
R$2,7 bilhões, um valor que supera mais<br />
que o dobro do que o PSR destinou ao produtor rural para 2023/24.<br />
“Há uma necessidade premente de o governo entender e conseguir<br />
aportar mais recursos para o PSR. O que temos feito junto ao Ministério<br />
da Agricultura é posicionar as demandas e necessidades do setor,<br />
porque entendemos que, com o seguro, esses agricultores se encontram<br />
garantidos das perdas e evitam renegociações de dívidas<br />
e maiores aportes do governo, que paga pelas perdas. Tudo acaba<br />
sendo muito mais elevado do que [somente] auxiliar pagando parte<br />
do prêmio do seguro através da subvenção”, explica Neto.<br />
No plano agrícola e pecuário são — “ou deveriam ser”, como<br />
alerta o assessor técnico da Comissão Nacional de Política Agrícola<br />
da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Guilherme<br />
Rios — anunciadas questões pontuais sobre o seguro, como mudanças<br />
na distribuição dos recursos e alteração dos limites de subvenção<br />
por CPF e cultura. “O que não ocorreu no anúncio do Plano<br />
[Safra] 2023/24, quando o PSR foi totalmente ‘esquecido’ pelo Ministério<br />
da Agricultura”, frisa Rios.<br />
Como observa o analista técnico da CNA, e a nota do Mapa<br />
enviada à Apólice reforça isso, o PSR, possui orçamento anual, anunciado<br />
na Lei Orçamentária Anual (LOA), e não é dividido por safra,<br />
mas por ano civil. “Em 2023, o orçamento inicial era de R$1,06 bilhão,<br />
porém, com um cancelamento de parte dos recursos no fim<br />
do ano, o valor aplicado ficou em apenas R$933,09 milhões, cobrindo<br />
somente 6,25 milhões de hectares. Para 2024, a situação é ainda<br />
mais preocupante, o recurso deste ano pode sofrer cortes a qualquer<br />
momento, uma vez que o presidente da República derrubou<br />
emendas que impediam o contingenciamento de itens como defesa<br />
agropecuária, Embrapa e o próprio seguro rural”, teme o representante<br />
da CNA, lembrando, inclusive, que foram cancelados R$17 milhões<br />
do PSR. “A dotação atualizada de recursos, em 2024, do PSR é<br />
de R$947,57 milhões”, afirma.<br />
Guilherme Rios sugere que um modelo de subvenção ao seguro<br />
perfeito seria aquele que atendesse todas as particularidades<br />
da agropecuária brasileira. “Atualmente, muitos produtores deixam<br />
de contratar o seguro por conta de falta de produtos aderentes à<br />
sua realidade. Por exemplo, produtores de regiões áridas têm a cobertura<br />
de geada incluída na apólice sem a possibilidade de personalização,<br />
o que tornaria o produto mais barato. Além disso, a falta<br />
de dados para definir as produtividades regionais faz com que a<br />
produtividade garantida seja muito aquém para muitos produtores<br />
mais tecnificados”, ressalta Rios, ponderando, entretanto, que o “produto<br />
ideal” teria custos compatíveis com a atividade, customização<br />
de coberturas e utilização de mitigadores de riscos como redutor de<br />
taxas. “O atual modelo poderia ser facilmente convertido para este<br />
modelo se políticas estruturantes fossem aplicadas. O investimento<br />
em tecnologia, pesquisa climática e o direcionamento das políticas<br />
públicas para ações basilares, tornando o seguro rural uma política<br />
de estado, possibilitaria a criação desse novo modelo”, sinaliza Rios.<br />
MAPA PROMETE “MUDANÇAS”<br />
Em nota, o Mapa informa que busca, por meio do PSR e do<br />
Programa Nacional de Zoneamento Agrícola de Risco Climático<br />
(ZARC), apoiar o produtor rural no momento da contração de uma<br />
12
QUANTIDADE DE APÓLICES POR SEGURADORA<br />
QUANTIDADE DE APÓLICES POR ANO<br />
Brasilseg<br />
Mapfre<br />
Essor<br />
Swiss Re<br />
Allian<br />
Nobre<br />
Sancor<br />
Fairfax<br />
Newe<br />
Tokio Marine<br />
Porto Seguro<br />
Too<br />
Aliança do Brasil<br />
TOTAL DO VALOR SEGURADO POR ANO (R$)<br />
TOTAL DO ÁREA SEGURADA POR ANO<br />
proteção para a sua atividade. E prossegue:<br />
“Além disso, fornece orientações relevantes<br />
a serem observadas no decorrer<br />
da safra, com o objetivo de mitigar eventuais<br />
perdas decorrentes de eventos climáticos<br />
adversos.”<br />
O Ministério diz ainda que os<br />
avanços qualitativos derivaram, principalmente,<br />
de aperfeiçoamentos na gestão<br />
do programa e nos produtos ofertados<br />
pelas seguradoras. “O modelo de distribuição<br />
do orçamento, o qual não define<br />
mais recursos por empresa (desde o ano<br />
de 2015), mas por grupo de atividades,<br />
permitiu a plena liberdade para que o<br />
produtor escolha qualquer uma das seguradoras<br />
habilitadas (atualmente são 17<br />
operando no Programa), conferiu maior<br />
eficácia na alocação dos recursos públicos<br />
e facilitou o planejamento dos produtores<br />
e dos agentes de mercado.”<br />
Segundo o Mapa, além disso, a<br />
redefinição dos percentuais de subvenção<br />
e do limite de subvenção anual por<br />
beneficiário conferiu maior eficiência ao<br />
Programa, na medida em que sua abrangência<br />
em termos de área e beneficiários<br />
amparados foi mantida mesmo diante do<br />
cenário de restrição orçamentária observado<br />
em anos anteriores. “A respeito de<br />
eventuais alterações no modelo atual, esclarecemos<br />
que ainda estão em fase inicial<br />
de estudos algumas propostas para o<br />
aperfeiçoamento do PSR. Entretanto, na<br />
oportunidade do lançamento do próximo<br />
Plano Safra, algumas novidades deverão<br />
ser anunciadas.”<br />
SUSEP QUER SEGURO RURAL COM<br />
SUSTENTABILIDADE<br />
Em nota encaminhada à reportagem,<br />
a Superintendência de Seguros<br />
Privados argumenta que a busca por ampliação<br />
da subvenção é “algo frequente” e<br />
apontado pelo mercado como “necessário<br />
ao atendimento das demandas cada vez<br />
maiores” por contratação do seguro rural,<br />
instrumento essencial na evolução e bom<br />
desenvolvimento da política agrícola do<br />
País. E assinala: “Todos os países onde o<br />
agronegócio exerce relevância possuem<br />
mecanismos de incentivo e fomento à<br />
contratação deste seguro. Por outro lado, a<br />
13
ESPECIAL SEGURO RURAL<br />
MERCADO<br />
Susep vê ainda a necessidade de o seguro<br />
rural estar integralmente alinhado à agenda<br />
de sustentabilidade do Governo, o que<br />
vem sendo feito mediante discussão intensa<br />
entre os órgãos, com internalização<br />
das boas práticas e regras para o setor.”<br />
A Susep alega estar participando<br />
ativamente das discussões alusivas ao<br />
seguro rural com o Ministério da Fazenda.<br />
“Como destaque podemos indicar as<br />
relacionadas à agenda de sustentabilidade,<br />
cuja pauta tem um apelo ainda maior<br />
para esta categoria de seguro. Neste<br />
tema, a Susep vem estudando o assunto<br />
com bastante profundidade, no sentido<br />
de elaborar diretrizes específicas sobre<br />
a matéria, em alinhamento à agenda maior de sustentabilidade do<br />
Governo Federal. Discussões também relacionadas à possibilidade<br />
de revisão do atual fundo garantidor das operações no seguro rural<br />
também estão sendo feitas, dentro da Agenda de Reformas Financeiras<br />
do Ministério da Fazenda. Ainda, o Plano de Regulação da<br />
Susep para o ciclo 2023/2024 prevê a discussão e estruturação de<br />
clausulados referenciais no âmbito da subvenção, de forma a mitigar<br />
assimetrias de contratação entre segurados e seguradoras, muito<br />
presente no seguro rural.”<br />
Apesar da insegurança e intensas discussões em torno do<br />
PSR, há projeções de que o seguro rural, este ano, deverá expandir-<br />
-se, como sinaliza a Susep. “As previsões para o setor são bastante<br />
otimistas, capitaneadas pelo apelo cada vez maior que o seguro rural<br />
possui para o agronegócio no País, neste momento de eventos<br />
climáticos adversos, como ferramenta poderosa na gestão de riscos<br />
e mitigador de perdas.”<br />
ALPER SEGUROS<br />
Produtos criados para atender as<br />
necessidades do produtor rural<br />
EMPRESA CONHECE O PAPEL RELEVANTE DO PRODUTOR E MONTOU ESTRUTURA<br />
PARA DAR SUPORTE E ATENDIMENTO PARA TODOS, EM QUALQUER REGIÃO DO PAÍS<br />
AAlper possui uma área de negócios<br />
100% dedicada ao agro,<br />
com um investimento grande em<br />
equipe técnica e comercial, assim como em<br />
tecnologia. “A nossa preocupação é criar<br />
produtos exclusivos para facilitar a contratação<br />
do seguro e mitigar riscos, entregando<br />
aos parceiros e clientes a melhor experiência<br />
em seguros”, afirma André Lins, vice-presidente<br />
de Agro da Alper Seguros.<br />
A corretora trabalha com toda a<br />
cadeia de produtos para agro. “Somos<br />
líderes nacionais no seguro de armazenagem<br />
e beneficiamento de algodão. Temos<br />
a liderança no setor sucroalcooleiro;<br />
na parte de RD Equipamentos de Máquinas<br />
agrícolas, temos mais de 15 mil itens<br />
segurados, e sempre buscamos a expansão<br />
de novas culturas e setores, como o<br />
potencial para o seguro pecuário, frutas,<br />
floresta e seguro de açúcar”.<br />
“Na Alper estamos sempre preocupados em trazer novas soluções<br />
que facilitem a vida dos nossos clientes, tanto é que temos<br />
uma área integralmente dedicada a isso, a AlterTech (empresa spin-<br />
-off de tecnologia do grupo). Recentemente fizemos o lançamento<br />
da Agrobiz, que é uma plataforma 100% digital e integrada para<br />
gestão de seguros, contratação de seguros e serviços relacionados<br />
ao ecossistema de Agro”, descreve Lins.<br />
O objetivo dessa plataforma é atender as dores desse setor<br />
que usa a tecnologia como ferramenta fundamental para operações<br />
do dia-a-dia. Por isso, a solução digital promete simplificar e aprimorar<br />
a experiência de gestão do campo, não somente com o seguro,<br />
mas com tudo que permeia o ecossistema. “Dentro da plataforma,<br />
teremos serviços como monitoramento por satélite, drones, análise<br />
de solo e até dados como a cotação de commodities nacionais e<br />
internacionais”.<br />
Lins complementa: “Somos uma consultoria de seguros que<br />
vai muito além, com trabalho constante de revisão das modalidades<br />
comercializadas, criando novos modelos de dados para fazer evoluir<br />
o seguro. Estamos presentes nas principais do país, com presença<br />
física, mas com equipe técnica e comercial no Brasil inteiro”.<br />
14
ESPECIAL SEGURO RURAL<br />
BRADESCO SEGUROS<br />
Protegendo o futuro do<br />
AGRONEGÓCIO BRASILEIRO<br />
O MERCADO ESPECIALIZADO EM SEGUROS PARA EQUIPAMENTOS AGRÍCOLAS DEVERÁ ENFRENTAR<br />
GRANDES DESAFIOS PELO AVANÇO DA TECNOLOGIA E COMPLEXIDADE DOS MAQUINÁRIOS<br />
O<br />
agronegócio é uma das bases da economia nacional e um<br />
setor estratégico para a Bradesco Seguros, pois a companhia<br />
tem um compromisso sólido com o fornecimento de<br />
coberturas para Equipamentos Agrícolas. Nos próximos anos, inclusive,<br />
o mercado voltado para esse tipo de equipamento enfrentará<br />
desafios, mas ao mesmo tempo grandes oportunidades, e prevê-se<br />
uma crescente demanda por seguros especializados, à medida que<br />
os maquinários agrícolas se tornam mais complexos e tecnológicos.<br />
O que incentivará o desenvolvimento de produtos personalizados<br />
por parte das seguradoras, ajustados às necessidades específicas de<br />
cada cliente. Além da integração de tecnologias digitais, como drones<br />
e análise de dados, que simplificará ainda mais a subscrição de<br />
seguros e a gestão de sinistros.<br />
Pensando nesse cenário e com o objetivo de atender a todas<br />
as demandas do segmento agrícola, a Bradesco Seguros oferece um<br />
produto que ampara acidentes, avarias, perdas e danos materiais de<br />
origem súbita, imprevista e acidental ao equipamento segurado,<br />
além de danos de causa externa. Atualmente, há cobertura para 350<br />
tipos de equipamentos direcionados para o segmento no sistema<br />
de cálculo da seguradora, com uma equipe técnica especializada<br />
disponível para avaliar e realizar o devido enquadramento caso algum<br />
equipamento específico não seja encontrado.<br />
No que diz respeito aos investimentos em tecnologia, o foco<br />
está na digitalização de processos e na implementação de soluções<br />
inovadoras para aprimorar a experiência do cliente e aumentar a<br />
eficiência operacional. A Bradesco Seguros está adotando sistemas<br />
avançados de análise de dados, inteligência artificial e aprendizado<br />
de máquina para aprimorar a precificação de riscos, detectar fraudes<br />
e oferecer produtos mais personalizados aos segurados. Além<br />
disso, investimentos em modernização das plataformas de atendimento<br />
ao cliente visam proporcionar suporte rápido e eficiente aos<br />
segurados.<br />
A Bradesco Seguros também está investindo constantemente<br />
neste segmento, com melhorias previstas nos próximos anos,<br />
como o lançamento de um novo produto direcionado para equipamentos<br />
agro. A carteira de equipamentos agrícolas representa<br />
cerca de 70% de toda a produção da companhia, demonstrando a<br />
relevância deste segmento.<br />
“Estamos comprometidos em acompanhar o avanço tecnológico<br />
e as demandas do campo, garantindo a proteção e segurança<br />
de equipamentos essenciais para o desenvolvimento do agronegó-<br />
Estamos comprometidos<br />
em acompanhar o avanço<br />
tecnológico e as demandas<br />
do campo, garantindo a<br />
proteção e segurança de<br />
equipamentos essenciais<br />
para o desenvolvimento do<br />
agronegócio brasileiro”<br />
RAQUEL CERQUEIRA<br />
cio brasileiro. Com uma equipe altamente<br />
especializada e investimentos contínuos<br />
em pesquisa e aprimoramento, buscamos<br />
oferecer produtos cada vez mais competitivos<br />
e atrativos, contribuindo para o<br />
crescimento e a sustentabilidade do setor<br />
agrícola no País", destacou, Raquel Cerqueira,<br />
Superintendente Executiva de Ramos<br />
Elementares da Bradesco Seguros.<br />
15
ESPECIAL SEGURO RURAL<br />
ESG<br />
Sigla essencial<br />
MUNDO ESTÁ DE OLHO NO<br />
O<br />
AGRONEGÓCIO BRASILEIRO,<br />
mundo inteiro olha para o Brasil<br />
PRINCIPALMENTE SE O<br />
com muita atenção por conta dos<br />
desafios climáticos dos últimos<br />
PRODUTOR ESTÁ EM DIA<br />
anos. Esse olhar estará mais evidente por<br />
COM AS PRÁTICAS ESG<br />
conta da cúpula do G20, que será realizada<br />
em novembro, no Rio de Janeiro. Go-<br />
André Felipe de Lima<br />
vernos e mercados querem saber como<br />
se aplica por aqui a gestão de ESG (Environmental,<br />
Social and Governance), uma<br />
sigla em inglês que significa sustentabilidade<br />
ambiental, social e de governança<br />
corporativa. A preocupação é fundamentada<br />
em muitos fatores sociopolíticos e<br />
econômicos, mas, sobretudo, quando se<br />
considera um dado alarmante proferido<br />
pela secretária de Mudança do Clima do<br />
Ministério do Meio Ambiente, Ana Toni,<br />
em outubro do ano passado, durante depoimento<br />
à Comissão de Meio Ambiente<br />
e Desenvolvimento Sustentável da<br />
Câmara dos Deputados. Segundo a executiva,<br />
3.679 municípios brasileiros, ou<br />
seja, 66% de um total de 5.570, não estão<br />
preparados para enfrentar as mudanças<br />
climáticas. E mais: 4 milhões de pessoas<br />
no Brasil foram afetadas diretamente por<br />
eventos relacionados às mudanças climáticas<br />
entre 2013 e 2022, como a redução<br />
das chuvas entre o centro e o norte<br />
do País e as inundações nas regiões sul e<br />
Para Nayara Marcato, advogada especialista em direito do<br />
sudeste, e 10,6 milhões de hectares relacionados<br />
à agricultura serão perdidos até<br />
manter o foco nesta pauta e aplicá-la de forma coerente e condi-<br />
agronegócio, o produtor rural terá um desafio cada dia maior em<br />
2030, com muitas culturas sendo redistribuídas<br />
para outras localidades.<br />
‘Greenwashing’, que se traduz em divulgar práticas falsas de ESG. Ou<br />
zente com a realidade de sua propriedade. “Temos inclusive o termo<br />
Em meio a dados tão alarmantes<br />
seja, viveremos em uma realidade mundial cada dia mais atenta ao<br />
como os apresentados por Ana Toni, o setor<br />
de agronegócios, apesar de represenvia<br />
a advogada.<br />
que realmente está sendo realizado e, não apenas, divulgado”, abretar<br />
quase 24% do PIB brasileiro, vive uma<br />
ela reforça que algumas ações práticas relacionadas à pauta<br />
crise de identidade e até mesmo de risco<br />
ESG podem ser adotadas no agronegócio brasileiro, como o cumprimento<br />
estrito da legislação trabalhista e florestal, rastreabilidade da<br />
reputacional. Paralelamente ao desafio<br />
climático e ao elevado índice de desmatamentos,<br />
existem outros previstos para este<br />
de carbono, uso consciente de recursos naturais, avaliação do im-<br />
cadeia de valor, investimento em tecnologias, redução das emissões<br />
ano que preocupam especialistas e mercado,<br />
dentre os quais os custos de produção<br />
Como observa Nayara, a rotina extenuante do campo não “fapacto<br />
da fazenda na sociedade e uma liderança mais transparente.<br />
elevados. Tudo isso cerca a sigla ESG e está<br />
vorece amadores”. Ela frisa que os desafios cotidianos pelos quais<br />
diretamente atrelado ao setor de seguros.<br />
atravessam e superam o homem do campo, independentemente de<br />
16
NAYARA MARCATO,<br />
advogada<br />
seu porte e atuação, obriga-o a estar atento às exigências e possibilidades<br />
para potencializar o lucro do seu negócio. “Existem alguns<br />
incentivos que podem favorecer o setor rural para conquistar melhores<br />
resultados em suas práticas ESG”, diz a advogada, assinalando<br />
que uma dessas práticas vem do governo nacional, que oferece incentivos<br />
fiscais relacionados à redução de taxas de juros, por exemplo,<br />
como parte do Plano Safra 2023/24, para incentivar a adoção<br />
de práticas mais sustentáveis. Outro exemplo citado por Nayara é<br />
o Programa Nacional de Crescimento Verde, criado pelo Governo<br />
federal no dia 25 de outubro de 2021 com o objetivo de viabilizar<br />
financiamentos para projetos e atividades econômicas sustentáveis.<br />
“Além disso, existem as certificações que oferecem suporte importante<br />
para organizar seus processos ESG nas propriedades. Ou seja,<br />
o produtor agrícola está atento aos programas e possibilidades sustentáveis<br />
e governamentais e, atualmente, depende dele encontrar<br />
meios para se organizar e colocá-las em prática de forma assertiva.<br />
Vale ressaltar que, no que tange questões<br />
legais e certificações, o direito no agro é<br />
um importante aliado”, enfatiza.<br />
O diretor técnico responsável pelas<br />
áreas de RD Equipamentos, produto<br />
Financial Lines & Responsabilidade Civil<br />
e Produto Agricultura da Sompo Seguros,<br />
Felipe Prado Ribeiro, assinala que as<br />
seguradoras têm investido em soluções<br />
voltadas a novas coberturas e serviços<br />
agregados que conferem mais qualidade<br />
e precisão em processos que vão desde a<br />
subscrição até a indenização do sinistro.<br />
Monitoramento via satélite, utilização<br />
de drones ou envio de imagens online<br />
nas vistorias de sinistros são alguns dos<br />
recursos implementados, lista Ribeiro.<br />
“Em muitas situações, o conhecimento<br />
do comportamento e ciências da natureza,<br />
bem gerenciados, contribuem com a<br />
eficiência no campo. Um exemplo disso<br />
é a tecnologia de controle biológico de<br />
pragas em lavouras, que consiste no manejo<br />
de predadores, parasitóides, fungos<br />
e vírus. Esse recurso controla o ataque de<br />
lavouras por insetos indesejados, plantas<br />
daninhas e doenças ao mesmo tempo em<br />
que reduz o uso de defensivos agrícolas<br />
químicos”, exemplifica.<br />
O executivo da Sompo destaca<br />
que o uso de conhecimento e de recursos<br />
contribui para mitigar riscos, favorecendo<br />
o gerenciamento dos negócios no dia a<br />
dia do campo. Pensando em novos usos<br />
para tecnologias já existentes, explica ele,<br />
17
ESPECIAL SEGURO RURAL<br />
ESG<br />
FELIPE PRADO RIBEIRO,<br />
da Sompo<br />
podem ser desenvolvidas soluções por<br />
meio de geotecnologias como o sistema<br />
global de posicionamento (GPS) ou sistema<br />
de informação geográfica (SIG) ou<br />
ainda sistemas de monitoramento via satélite<br />
para acompanhar dados históricos<br />
e meteorológicos e também a produtividade<br />
da área plantada, além de analisar<br />
impacto climático na safra, monitorar a<br />
taxa de umidade do solo e, com isso, propor<br />
coberturas customizadas.<br />
Há cerca de 20 anos, a Sompo<br />
atua no ramo de seguros para máquinas<br />
& implementos agrícolas (benfeitorias<br />
e penhor rural). Em 2019, a seguradora<br />
investiu em uma área específica de agronegócio.<br />
Naquele mesmo ano, lançou<br />
MARCELO PIMENTA,<br />
da Serasa Experian<br />
produtos de seguro agrícola desenhados para atender características<br />
regionais e configurados em conformidade com as necessidades<br />
específicas dos clientes. “As apólices de seguro agrícola são fechadas<br />
por safra. já as apólices de máquinas & implementos agrícolas podem<br />
ser contratadas com vigência anual ou plurianual, com limite<br />
máximo de cinco anos”, explicou Ribeiro.<br />
Em maio de 2023, a Serasa Experian ouviu 337 mil produtores<br />
rurais de todo o Brasil. Um dos resultados apontados pela pesquisa,<br />
divulgada em julho do mesmo ano, é que 91,8% (ou seja, 9 entre<br />
10 produtores) disseram atuar em compliance com a conformidade<br />
socioambiental, que passou a ser exigida pelo Banco Central para a<br />
concessão de linhas de crédito e fundos de investimento. “Precisamos<br />
usar os dados para trazer mais clareza ao movimento socioambiental<br />
no Brasil, pois uma maior parte do agronegócio está disposta<br />
a seguir dentro desses moldes. Dessa forma, para coletar e analisar<br />
essas informações, expandimos nosso portfólio como empresa, fazendo<br />
o uso da tecnologia de monitoramento por satélite, que é<br />
fundamental para comprovação desses cenários no campo, justiça o<br />
head de agronegócio da Serasa Experian, Marcelo Pimenta.<br />
O especialista aponta outro recorte que considera importante:<br />
as análises complementares, que cruzam dados do perfil de crédito<br />
com os de ESG. Ou seja, com esse tipo de avaliação mais completa é<br />
possível mostrar ao credor que, alguns perfis que atuam como ótimos<br />
pagadores podem estar infringindo leis socioambientais. “É preciso<br />
olhar por óticas diferentes antes de fazer negócio. Além disso, o produtor<br />
também é beneficiado pela completude dessa análise, já que<br />
aqueles que possuem desempenho positivo terão maior visibilidade<br />
para o mercado e, sendo assim, melhores oportunidades de acesso<br />
ao crédito”, pontua Pimenta, que informa ainda não haver uma data<br />
prevista para um novo estudo para o ESG no agro em 2024.<br />
Embora o setor do agronegócio tenha aderido aos conceitos<br />
de ESG, como indica a pesquisa da Serasa Experian, há casos cada<br />
vez mais frequentes de desmatamento e queimadas provocados por<br />
produtores rurais e de exploração do trabalho de empregados em<br />
zonas rurais que seguem a contramão de qualquer premissa ESG.<br />
Para Pimenta, é necessário destacar que um percentual “extremamente<br />
relevante” do agronegócio cumpre a legislação socioambiental<br />
vigente. “Como qualquer outro segmento da sociedade,<br />
existe um pequeno percentual que descumpre regras e que causa a<br />
maioria das infrações. Num estudo anterior que fizemos, o 1% que<br />
não cumpre as regras ESG era responsável por 35% das infrações<br />
do Ibama e 100% das denúncias de trabalho análogo à escravidão.<br />
Como este é um assunto muito sensível e de grande vigilância midiática,<br />
é amplamente coberto, mas diz respeito a um número pequeno<br />
de pessoas ou empresas que são responsáveis por estes problemas.<br />
Também é necessário dizer que uma boa parte do desmatamento e<br />
queimadas ocorre em terras devolutas da União e não em propriedades<br />
rurais produtivas”, pondera o executivo da Serasa Experian.<br />
CORRETORES, ESG E SEGURO PARAMÉTRICO<br />
Sócio fundador da corretora de seguros Personnalitè GR, Rafael<br />
Viana projeta o olhar de quem comercializa as apólices para o<br />
mercado agro. Para ele, a abordagem ESG tem se mostrado cada vez<br />
18
mais relevante para o setor agrícola no Brasil. Em termos ambientais,<br />
diz ele, os produtores rurais estão adotando práticas sustentáveis,<br />
como a gestão eficiente da água, o uso de energias renováveis e a<br />
conservação do solo. “Socialmente, há um foco crescente na segurança<br />
e bem-estar dos trabalhadores rurais, além do engajamento<br />
com as comunidades locais. Quanto à governança, a transparência<br />
nas operações e a conformidade com regulamentações ambientais<br />
e trabalhistas são prioridades. Essas práticas não apenas contribuem<br />
para a sustentabilidade ambiental e social, mas também podem<br />
melhorar a reputação das empresas agrícolas, atrair investimentos<br />
responsáveis e abrir portas para parcerias comerciais com organizações<br />
que valorizam a sustentabilidade”, avalia Viana.<br />
Segundo Viana, os desafios encontrados pelos corretores incluem<br />
a falta de conhecimento sobre os benefícios do seguro por<br />
parte dos produtores rurais, a complexidade dos processos de contratação<br />
e a precificação do seguro, que muitas vezes pode ser considerada<br />
alta pelos agricultores (percepção de valor). “É importante<br />
ressaltar que o contexto do seguro agro não ficou no passado. Com<br />
o aumento da conscientização sobre os riscos envolvidos na atividade<br />
agrícola e com o desenvolvimento de produtos mais adequados<br />
às necessidades dos produtores, o seguro agro tem se mantido relevante<br />
e está em constante evolução para atender às demandas do<br />
setor”, pondera o corretor da Personnalitè GR.<br />
Para Rafael Viana, comentar a quantidade de corretores é<br />
algo muito subjetivo: “O que percebo atualmente é que o mercado<br />
possui poucos especialistas para tratar sobre o tema e alguns se tornam<br />
aventureiros em querer conduzir assuntos que são complexos,<br />
possuem legislações específicas e condições especiais.”<br />
Quanto à difusão do seguro paramétrico, Viana o reconhece<br />
como uma forma inovadora de proteção financeira que difere dos<br />
seguros tradicionais, pois não se baseia em perdas reais, mas sim<br />
em parâmetros predefinidos, como índices climáticos ou de produção:<br />
“Quando esses parâmetros atingem um certo nível, o pagamento<br />
do seguro é acionado, independentemente das perdas reais<br />
sofridas pelo segurado. No Brasil, a difusão do seguro paramétrico<br />
tem sido gradual, mas crescente, especialmente no setor agrícola.<br />
Produtores rurais estão cada vez mais interessados nessa modalidade<br />
devido à sua capacidade de proteger contra eventos climáticos<br />
extremos, como secas ou excesso de chuvas, que podem impactar<br />
negativamente a produção agrícola. Além disso, o seguro paramétrico<br />
oferece uma forma mais ágil e transparente de indenização em<br />
comparação com os seguros tradicionais, o que tem contribuído<br />
para a sua adoção no país.”<br />
RISCOS DE IMAGEM<br />
Apólice conversou com os especialistas sobre como as questões<br />
de invasão de sítios arqueológicos ou de terras indígenas impactam<br />
o seguro e como fica o cuidado com os trabalhadores rurais,<br />
que devem ter condições ideias para alojamento nas fazendas.<br />
Segundo a advogada Nayara Marcato, a legislação brasileira<br />
determina que a contratação do seguro rural é obrigatória para<br />
os produtores rurais que acessam crédito rural, conforme a Lei nº<br />
10.823, de 2003. Ela explica que, no contexto da invasão de sítios<br />
RAFAEL VIANA,<br />
da Personnalitè GR<br />
arqueológicos ou de terras indígenas, a<br />
apólice de seguro rural pode ser afetada<br />
dependendo das cláusulas específicas do<br />
contrato: “Caso a invasão resulte em danos<br />
à propriedade rural, o segurado poderá<br />
acionar o seguro para cobrir os prejuízos,<br />
desde que a apólice contemple tal<br />
situação. Por outro lado, se a invasão for<br />
considerada um risco excluído pela seguradora,<br />
os danos não serão indenizados.”<br />
Quanto ao cuidado com os trabalhadores<br />
rurais, Nayara ressalta que a legislação<br />
trabalhista estabelece que o empregador<br />
rural é responsável por garantir<br />
condições adequadas de alojamento<br />
para seus funcionários, conforme a Norma<br />
Regulamentadora 31 (NR-31), do Ministério<br />
do Trabalho. “O descumprimento<br />
dessas normas pode resultar em penalidades<br />
legais e impactar a imagem e reputação<br />
da empresa perante a sociedade e<br />
investidores, especialmente no contexto<br />
da crescente preocupação com a sustentabilidade<br />
e responsabilidade social das<br />
empresas, aspectos centrais do ESG”, alerta<br />
advogada, que conclui: “É fundamental<br />
que produtores rurais estejam atentos às<br />
questões relacionadas à invasão de sítios<br />
arqueológicos ou de terras indígenas e<br />
ao cuidado com os trabalhadores rurais,<br />
não apenas para garantir a conformidade<br />
legal, mas também para mitigar riscos e<br />
promover uma atuação sustentável e socialmente<br />
responsável, em linha com os<br />
princípios do ESG”.<br />
19
ESPECIAL SEGURO RURAL<br />
CONSUMIDORES<br />
O que falta,<br />
Sertanejo homem forte, dizia o<br />
poeta assim...”. Essa frase foi imortalizada<br />
por um dos sambas mais<br />
lindos já compostos para o desfile das escolas<br />
de samba do Rio de Janeiro. A letra<br />
da tradicional agremiação Em Cima da<br />
Hora, do carnaval de 1976, entrou para a<br />
história da música popular brasileira por<br />
narrar a bravura do povo nordestino para<br />
enfrentar as adversidades. Encarar, principalmente,<br />
a amarga e impiedosa seca.<br />
Mas sem quem os ajude essa missão torna-se<br />
idílica. Há, ainda bem, exemplos (e<br />
dos bons!) que fogem à regra do crônico<br />
descaso do poder público e de poderosos<br />
segmentos (sim, eles também!) de mercado.<br />
Em 2012, o jovem José Carlos Brito,<br />
com sua parceira Karla Fernanda, rumou<br />
para a pequena e sertaneja Betânia, no<br />
PROGRAMAS DE INCENTIVO AO SEGURO<br />
RURAL EXISTEM, MAS O VOLUME OFERECIDO É<br />
INSUFICIENTE. PARADOXALMENTE, GOVERNO E<br />
INDÚSTRIA AINDA ESBARRAM NO CRÔNICO DESAFIO<br />
DO MERCADO SEGURADOR NO PAÍS: A BAIXA ADESÃO<br />
AO SEGURO DEVIDO À FALTA DE CULTURA DO<br />
BRASILEIRO EM LIDAR COM ESSE TIPO DE PROTEÇÃO<br />
André Felipe de Lima<br />
Piauí. A região tem alarmantes indicadores de insegurança alimentar,<br />
dos mais graves no país. Brito morava em Teresina, a capital, distante<br />
cerca de 500 km de Betânia. Logo que chegou não se intimidou com<br />
a seca assoladora, talvez a pior de décadas, e ofereceu água, comida e<br />
roupas para pessoas que viviam em extrema pobreza. O comovente<br />
trabalho social rendeu-lhe um apelido: “Zé da Água”. A alteridade e<br />
ímpeto nortearam-no a criar o Instituto Novo Sertão e a ensinar os<br />
cidadãos dos pobres vilarejos de Betânia a plantar, colher e vender.<br />
Nascera, em 2020, dessa jornada solidária a feira chamada “Quitandas<br />
dos quintais”, que permitiu a cerca de 30 famílias sertanejas gerarem<br />
renda com o que aprenderam a plantar em seus quintais. Uma<br />
profunda e emocionante transformação de vida graças à agricultura<br />
motivada pela solidariedade. Em novembro do ano passado, o Instituto<br />
Novo Sertão, esteve entre os vencedores do prêmio criado pelo<br />
movimento suprapartidário e multissetorial Pacto Contra Fome, cujo<br />
propósito é contribuir no combate à fome e na redução do desperdício<br />
de alimentos no Brasil. A premiação foi idealizada em cooperação<br />
com a Unesco e a Organização das Nações Unidas para a Alimentação<br />
e a Agricultura, a FAO (Food and Agriculture Organization).<br />
20
Apólice conversou com “Zé da Água” para entender como<br />
se constitui o seguro, no caso o rural, na vida daquelas pessoas: “O<br />
foco dos nossos projetos são famílias em alta vulnerabilidade social<br />
e que estão em situação de insegurança alimentar. Nesse caso, eles<br />
começam a produzir alimentos orgânicos em pequenos espaços<br />
para consumo e venda do excedente. São pessoas de baixa renda,<br />
que produzem para sair da vulnerabilidade social e insegurança alimentar.<br />
Essa temática de seguro agrícola acaba não sendo conhecida<br />
por eles. Confesso que nós mesmos, da organização, não temos<br />
conhecimento sobre esse produto de seguro rural. O único seguro<br />
que essa população tem acesso é o seguro Safra, oferecido pelo<br />
Governo federal, que paga um valor anual para os produtores que<br />
não tiveram colheita. Mas a população [da comunidade agrícola de<br />
Betânia] enxerga mais como um benefício social do que um seguro<br />
propriamente.”<br />
Igualmente aos cidadãos de Betânia, que fizeram de seu solo<br />
árido terra viva para o plantio que garante a subsistência de todos,<br />
há no Brasil um percentual elevadíssimo de agricultores que sequer<br />
sabem o que é seguro e a importância dele para manter suas produções.<br />
Embora exista o seguro subvencionado pelo Governo Federal<br />
via Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), o que se percebe é<br />
a necessidade urgente de que a indústria do seguro definitivamente<br />
acorde para a realidade da agricultura familiar, que representam 77%<br />
dos 5 milhões de estabelecimentos agrícolas do país nos mais de 5<br />
mil municípios brasileiros, que ocupam uma área de 80,1 milhões<br />
de hectares, conforme dados do Censo Agropecuário de 2017/18,<br />
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que fez uma<br />
fotografia do campo brasileiro a partir de dados relativos de 2016. O<br />
próximo Censo Agropecuário está previsto para este ano, segundo o<br />
presidente do IBGE, Marcio Pochmann, revelou ao jornal Valor Econômico,<br />
com estimativa de que os dados<br />
sejam divulgados somente em 2026.<br />
Consultoria fundada em 2013 que<br />
atende a agropecuária brasileira, a Agroicone<br />
divulgou recentemente um estudo<br />
que aponta que a área de lavoura diminuiu<br />
nos últimos dois anos. Uma das idealizadoras<br />
do estudo é a sócia da Agroicone,<br />
Leila Harfuch, cujas análises concentram-<br />
-se no agronegócio, na agricultura familiar,<br />
no comércio internacional, na mudança<br />
do clima e na sustentabilidade.<br />
De acordo com o Programa de<br />
Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural<br />
(PSR), política de seguro rural no Brasil, os<br />
dados mostram que em 2021 foram segurados<br />
13,69 milhões de hectares, atingindo<br />
um pico histórico do programa, mas<br />
teve uma sequência de queda na área<br />
segurada para 7,12 milhões em 2022 e de<br />
6,25 milhões em 2023. Ainda que o número<br />
de apólices tenha caído de forma quase<br />
proporcional à área segurada, o valor<br />
do prêmio pago não acompanhou esta<br />
queda, mostrando que o custo do seguro<br />
por hectare aumentou significativamente<br />
nos últimos dois anos, refletindo tanto o<br />
aumento nos custos de produção das atividades<br />
agropecuárias quanto no custo<br />
do próprio seguro. “Isso também decorre<br />
21
ESPECIAL SEGURO RURAL<br />
CONSUMIDORES<br />
exemplo, a compra de GPS, drones e sensores para a chamada agricultura<br />
de precisão.<br />
Paralelamente a esse contexto, o fato é que o segurador precisa<br />
olhar para esse produtor familiar. Para isso, precisa rever a comunicação<br />
com esse público, que definitivamente não está familiarizado<br />
com a importância do seguro. A cultura do seguro, como dizem,<br />
ainda não “pegou” na agricultura familiar como deveria. Certamente<br />
esse é um dos fatores, mas isso não impede uma ação de aproximação<br />
mais efetiva entre o seguro privado (quem sabe “inclusivo”)<br />
e o produtor, principalmente aquele que luta, antes de tudo, para<br />
sobreviver como os da pequena Betânia, no Piauí.<br />
JOSÉ CARLOS BRITO,<br />
do Zé da Água<br />
das altas sinistralidades ocorridas nos últimos<br />
anos, com aumento da frequência<br />
dos eventos climáticos, prejudicando os<br />
produtores e o mercado segurador”, explica<br />
consultora da Agroicone. “É preciso<br />
massificar o seguro rural no Brasil, abarcando<br />
mais regiões, produtos segurados<br />
e produtores. O PSR possui limitação de<br />
recursos para subvenção e ainda são discricionários.<br />
Por isso é preciso pensar em<br />
modelos alternativos para o Brasil”, acrescenta<br />
Leila.<br />
O governo brasileiro mantém programas<br />
de apoio como o Programa Nacional<br />
de Fortalecimento da Agricultura<br />
Familiar (Pronaf), que oferece crédito rural<br />
com juros mais baixos, e o Programa<br />
de Aquisição de Alimentos (PAA), que estimula<br />
a compra de produtos da agricultura<br />
familiar pelos órgãos públicos, mas é<br />
flagrante a necessidade de ampliação de<br />
programas de incentivo e de subsídios<br />
ao setor. Bons ventos, em tese, parecem<br />
soprar nesse sentido. Em março, o presidente<br />
Luiz Inácio Lula da Silva sancionou<br />
a lei 14.828/2024, que inclui na legislação<br />
sobre agricultura a modernização e<br />
o desenvolvimento sustentáveis. A nova<br />
lei também acrescenta a inovação e o<br />
desenvolvimento tecnológico entre os<br />
aspectos a serem considerados no planejamento<br />
e na execução das ações da<br />
política nacional da agricultura familiar<br />
e empreendimentos familiares rurais. Os<br />
bancos públicos deverão financiar, por<br />
ENTRAVES<br />
Assessor técnico da Comissão Nacional de Política Agrícola da<br />
Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Guilherme<br />
Rios diz que, embora o setor produtivo tenha feito muito no passado<br />
para divulgar e conscientizar os produtores sobre a importância desse<br />
tipo de ferramenta, devido à falta de incentivos do governo aos<br />
instrumentos de gestão de riscos, o produto “seguro rural” é visto<br />
com certa desconfiança no momento. “Os seguidos anos de sinistros,<br />
cobertura insuficiente, prêmios com custo elevado e problemas<br />
com as indenizações colocaram todo um trabalho cultural de anos<br />
em situação delicada.”<br />
Para Rios, o público familiar utiliza o Programa de Garantia<br />
da Atividade Agropecuária (Proagro), que é vinculado ao financiamento<br />
rural como ferramenta de gestão de riscos. Para aqueles que<br />
possuem projetos de crédito rural de até R$ 335 mil, sua contratação<br />
é obrigatória, enfatiza o representante da CNA. “Porém, para aqueles<br />
que não financiam, são poucas as opções de ferramentas para se<br />
resguardar de ameaças climáticas, por exemplo. Produtos de menor<br />
expressão econômica como as hortaliças não encontram produtos<br />
de seguro que sejam aderentes à sua realidade”, alerta.<br />
Rios reconhece que algumas iniciativas do Programa de Subvenção<br />
ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) em direção ao público familiar<br />
foram feitas nos últimos anos, mas sem sucesso, devido à falta<br />
de customização dos produtos e orçamento insuficiente. “Hoje, o<br />
que se vê é a solicitação de medidas de amparo para os produtores<br />
afetados pelo clima. Medidas que vão desde o fortalecimento de<br />
programas de garantia de preços até a renegociação e prorrogação<br />
de créditos”, resume.<br />
CULTURA DIFICÍL DE ENGRENAR<br />
O cenário é o seguinte: o número de produtores com seguro,<br />
como reforçam especialistas do mercado, teria despencado de 127<br />
mil em 2022 para 68 mil no ano passado e, logo, a área coberta por<br />
seguros também teria caído 50%. A Susep, em nota enviada à Apólice,<br />
afirma, entretanto, que sobre a quantidade de produtores agrícolas<br />
com seguro e redução da área segurada, o banco de dados do<br />
seguro rural para o ciclo 2022/2023 ainda não está completamente<br />
disponível, pois a autarquia aguarda dados de diversas empresas.<br />
Em 2022, um levantamento realizado com cafeicultores pela<br />
CNA, com apoio do Café Point, revelou que 86% deles não contratam<br />
seguro rural e apenas 14% contrataram para a safra 2022/23.<br />
22
“O que temos identificado, sem dúvida nenhuma, nas últimas<br />
décadas, é uma pequena cultura do agricultor em adquirir o seguro”,<br />
reconhece Joaquim Francisco Rodrigues Cesar Neto, presidente da<br />
Comissão de Seguro Rural da Federação de Seguros Gerais (Fenseg).<br />
Ele argumenta, entretanto, que essa realidade vem mudando principalmente<br />
por conta do advento da subvenção ao seguro rural, seja<br />
ela na instância federal, seja ela na instância estadual. Neto cita como<br />
exemplos os estados de Paraná e São Paulo, que já têm programas<br />
consolidados de subvenção, com os quais os agricultores têm a possibilidade<br />
de auxílio de redução do custo na aquisição do seguro.<br />
Mas Neto frisa que, além dessa questão cultural, há três razões<br />
para essa queda da difusão do seguro entre os agricultores,<br />
sobretudo os de produção familiar. A primeira delas é a diminuição<br />
dos valores do PSR nos últimos três anos; a segunda é o fato de os<br />
resseguradores não aportarem muita capacidade para o nosso país<br />
e a terceira refere-se ao equilíbrio de taxas. “Tivemos aumentos de<br />
valores a serem arrecadados para a mesma área, para a mesma produção<br />
correspondente dos anos anteriores. E entendemos que o reajuste<br />
de taxas para manter o equilíbrio foi necessário, justamente<br />
para retornar o interesse dos resseguradores”, enfatiza o representante<br />
da Fenseg.<br />
Segundo Neto, o produtor rural e o mercado de seguros ainda<br />
dependem “bastante” do orçamento do PSR. “Sem ele, a contratação<br />
de seguro agrícola entra em colapso, porque é muito caro para<br />
o agricultor contratar um seguro. Temos que lembrar que o seguro<br />
é mutualismo. Muitos devem contratar para poucos utilizarem. Mas<br />
no seguro agrícola temos visto o inverso disso. Poucos contratam e<br />
muitos desses que contratam têm indenização, o que acaba sendo<br />
nocivo para a carteira. A melhor forma para estimular isso é termos<br />
mais recursos de subvenção [recursos do PSR] para podermos pulverizar<br />
a contratação geograficamente em mais estados”.<br />
Ouvimos o Mapa, que, em nota, declara: “Como forma de incentivar<br />
os agricultores familiares, que contratam o crédito de custeio<br />
no Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar<br />
(Pronaf), a contratar o seguro rural, o Ministério da Agricultura e<br />
Pecuária implementou, por dois anos consecutivos, o projeto-piloto<br />
de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural para operações de crédito<br />
de custeio enquadradas no Pronaf. Em 2021, foram destinados R$<br />
80 milhões, o que proporcionou a contratação de 17 mil apólices,<br />
beneficiando cerca de 15 mil produtores”.<br />
Na mesma nota enviada à Apólice, o Mapa justifica tratar-se<br />
de uma iniciativa do Ministério que possui o intuito de “promover o<br />
acesso do agricultor familiar ao seguro rural privado, como uma alternativa<br />
de gerenciamento de riscos climáticos”. Assim, prossegue<br />
a nota, os agricultores familiares “puderam conhecer as vantagens<br />
proporcionadas” pelo seguro rural, em termos de coberturas dos<br />
produtos, processo de contratação e pagamento de indenizações,<br />
de forma a escolher o mitigador de riscos que melhor atenda suas<br />
necessidades. “Nesse projeto-piloto, o produtor teve um percentual<br />
diferenciado de subvenção ao prêmio, de 60% para todo o país,<br />
bem superior aos percentuais adotados para o restante do PSR. Com<br />
isso, o custo de aquisição do seguro rural ficou ainda mais atrativo<br />
para o produtor rural, viabilizando sua contratação a um custo mais<br />
LEILA HARFUCH,<br />
da Agroicone<br />
acessível. Nesse sentido, foram proporcionadas<br />
no projeto-piloto condições diferenciadas<br />
para atrair esses produtores.<br />
Além disso, o projeto também serviu para<br />
avaliar a capacidade das seguradoras de<br />
ofertar produtos compatíveis a esse perfil<br />
de produtor rural”, responde o Mapa.<br />
QUEM É O PRODUTOR RURAL?<br />
O perfil médio do consumidor de<br />
seguro rural no Brasil, reforça o Mapa, é<br />
de pequenos e médios produtores. Com<br />
base nos dados do PSR, aproximadamente<br />
80% das apólices contratadas possuem<br />
até 80 hectares. Já 70% das apólices possuem<br />
o valor de importância segurada<br />
de até R$ 350 mil. E 60% dos produtores<br />
recebem até R$ 10 mil de subvenção ao<br />
prêmio.<br />
“Hoje, o PSR atende propriedades<br />
com área média de 100 hectares, concentrando-se<br />
nas atividades de grãos. Em<br />
2023, foram cobertos apenas 6,25 milhões<br />
de hectares no Brasil com os recursos do<br />
PSR. Valor muito aquém da dimensão do<br />
agro brasileiro”, avalia Guilherme Rios, da<br />
CNA. Nos Estados Unidos, ele explica, a<br />
subvenção chega a 60% do prêmio e o<br />
país segura 90% de sua área cultivada.<br />
“No Brasil, a subvenção para algumas atividades<br />
é de no máximo 40% do prêmio<br />
e a área segurada nos últimos anos é menor<br />
do que 15%. Além do que, apenas os<br />
grãos possuem produtos de seguro mais<br />
sólidos e de escala”, esclarece Rios.<br />
23
ESPECIAL SEGURO RURAL<br />
CONSUMIDORES<br />
Em nota, o Mapa justifica que as contratações do PSR estão<br />
concentradas principalmente em seis atividades, sendo elas soja,<br />
milho, trigo, maçã, café e uva, que representaram aproximadamente<br />
85% do orçamento aplicado no ano de 2023. “Não há um segmento<br />
específico considerado problemático para a subvenção ao seguro,<br />
pois atualmente há diversas opções de produtos de seguro para todas<br />
as atividades e regiões do país”, enfatiza o Ministério.<br />
GUILHERME RIOS,<br />
da CNA<br />
Soja e milho são as culturas que<br />
mais utilizam o seguro rural. Inclusive,<br />
os atuais modelos são desenhados para<br />
atendê-los, como explica Rios: “Além do<br />
que, a elevada tecnologia e padronização<br />
da produção facilita a mensuração e<br />
criação de metodologias específicas para<br />
segurar tais produtos. Entre os produtores<br />
de grãos, a cultura do seguro rural já<br />
é mais difundida e ele é de fato encarado<br />
como um investimento em gestão de riscos.<br />
Já para hortaliças e alguns segmentos<br />
da pecuária, os produtores estão completamente<br />
desatendidos no que se refere<br />
ao seguro. Existem poucos produtos e<br />
os que estão disponíveis não atendem ás<br />
particularidades desses segmentos.”<br />
O especialista da CNA assinala<br />
que, atualmente, o PSR possui divisão de<br />
seu “escasso orçamento” [frisa Rios] por<br />
culturas, sendo divido entre grãos, frutas,<br />
pecuária, florestas e outros (aquícola,<br />
café, cana-de-açúcar e olerícolas). Sendo<br />
que a maior parte é destinada aos grãos.<br />
“O ideal, além de um orçamento suficiente,<br />
é que a divisão destinasse maiores<br />
montantes para frutas, olerícolas e pecuária.<br />
Pois uma vez que tenhamos parte do<br />
prêmio garantido, conseguiríamos atrair<br />
e construir novos modelos de seguro e<br />
produtos que atendem esses segmentos.<br />
Outra questão que poderia desenvolver<br />
o seguro em regiões que pouco contratam,<br />
como o norte e nordeste, é a divisão<br />
também por regiões”, sugere Rios.<br />
SINISTROS MAIS COMUNS<br />
Segundo o Mapa, as apólices de seguro rural em geral podem<br />
ter diversos riscos cobertos. Dentre os mais comuns estão seca, chuva<br />
excessivas, geadas, granizos, ventos fortes e inundações. A seca é<br />
o evento responsável pela maior quantidade de avisos de sinistros.<br />
Como explica Rios, da CNA, dos acionamentos em 2023, os<br />
eventos mais recorrentes foram granizo, geada, seca e chuva excessiva.<br />
“Como estávamos sob influência do El Niño, produtores do Brasil<br />
sofreram com diferentes fenômenos. Tivemos excesso de chuva no<br />
sul e seca histórica no norte e nordeste. Hoje, a questão ambiental<br />
não é atendida plenamente nos seguros mais comuns, como multirrisco,<br />
custeio, produtividade etc., e o que se estuda é a criação de<br />
produtos que atendam às reservas e unidades de conservação. Com<br />
este modelo, o produtor poderia conseguir recursos para recuperar<br />
essas áreas em situações de degradação ambiental, incêndio, pilhagem<br />
ou qualquer outro acontecimento que venha a trazer danos a<br />
área que deveria permanecer preservada”, analisa.<br />
As sucessivas catástrofes ambientais registradas nos últimos<br />
anos no Brasil acenderam o sinal de alerta do poder público e da<br />
sociedade. Discute-se a regulamentação do Fundo de Catástrofe do<br />
Seguro Rural, que consiste na Lei Complementar nº 137/2010, que<br />
autoriza a participação da União neste fundo destinado à cobertura<br />
suplementar dos riscos do seguro rural. Para sua implantação em<br />
2014, previa-se algo em torno de R$ 4 bilhões.<br />
“A CNA traz a regulamentação do Fundo Catástrofe como um<br />
tema prioritário para o setor. Com sua implementação seria possível<br />
equalizar e estabilizar o mercado, quando acontecerem eventos<br />
climáticos severos acima da série histórica. Sendo acionado para<br />
recuperar as seguradoras das perdas. Infelizmente, nada andou na<br />
regulamentação, as questões das fontes de recursos são o que emperram<br />
seu avanço. Hoje, outras propostas de fundos são analisadas<br />
para que com recursos privados seja possível trazer a estabilidade<br />
que o mercado necessita.”<br />
O Mapa afirmou à Apólice que o governo está “empenhado<br />
em avançar” nessa questão e “pretende regulamentar” o fundo,<br />
como parte dos esforços para “fortalecer” o seguro rural e “garantir”<br />
uma proteção eficaz aos produtores agrícolas contra os riscos climáticos<br />
e outras adversidades. O cronograma, entretanto, não foi<br />
informado pelo Ministério. E assim caminha o seguro rural, com dúvidas,<br />
incertezas, porém mostrando um vastíssimo campo para que<br />
a indústria securitária explore mais sua capacidade. Para isso, será<br />
preciso aproximar-se ainda mais do produtor, principalmente aquele<br />
que se concentra na agricultura familiar. Ele quer entender melhor<br />
como funciona, afinal, essa tal proteção que muita gente diz existir.<br />
E realmente existe. Basta apresentá-la e semeá-la.<br />
24
ESPECIAL SEGURO RURAL<br />
GALLAGHER<br />
Mercado de seguros apoia<br />
produtores na transição energética<br />
POR QUESTÕES ECONÔMICAS E DE SUSTENTABILIDADE O AGRONEGÓCIO ESTÁ APOSTANDO<br />
EM NOVAS TECNOLOGIAS PARA GARANTIR MAIS EFICIÊNCIA E COMPETITIVIDADE NO CAMPO<br />
A<br />
transição energética é uma realidade para o mundo<br />
pós-moderno, considerando os princípios da sustentabilidade.<br />
O papel do agronegócio é contribuir através da circularidade<br />
dos seus insumos na geração de energia limpa e gestão<br />
de resíduos oriundos da indústria: etanol de cana de açúcar (biocombustível),<br />
bagaço de cana (geração de energia elétrica e vapor<br />
em caldeiras), bioinsumos e biocombustíveis (palha da cana de açúcar)<br />
e biogás (através dos dejetos de animais).<br />
Por sua vez, o mercado de seguros<br />
possui o fundamental papel de apoiar o<br />
produtor rural para garantir que ele seja<br />
capaz de investir com segurança no desenvolvimento<br />
de novas tecnologias de<br />
produção de energia limpa.<br />
Letícia Toral, head de Agronegócios<br />
da Gallagher, explica que os produtores<br />
Letícia Toral<br />
Bruna Timbó<br />
rurais estão investindo na instalação de<br />
sistemas de energia solar (painéis fotovoltaicos)<br />
e biodigestores que transformam a<br />
biomassa em energia. “Esses investimentos<br />
impactam na redução dos custos operacionais,<br />
permitindo assim maior eficiência<br />
e competitividade no campo”.<br />
“O mercado segurador e ressegurador<br />
tem papel de desenvolver estruturas<br />
e programas de seguros aderentes à<br />
evolução das tecnologias e operações<br />
sustentáveis no campo, trazendo soluções<br />
aderentes à nova realidade: contratações de seguros com<br />
cláusulas diferenciadas para aqueles produtores que investirem em<br />
sistemas produtivos sustentáveis”, avalia Letícia.<br />
Para ela, a difusão e ampliação da contratação de apólices tailor<br />
made, como por exemplo, o seguro paramétrico, contribuem para<br />
a mitigação dos prejuízos sofridos pela indústria, principalmente em<br />
razão das mudanças climáticas. “Este seguro, por exemplo, pode ser<br />
contratado com parâmetros adequados que proteja os danos e consequências<br />
na variação da geração de energia assim como na produtividade<br />
das lavouras”, explica a executiva de agronegócios.<br />
Existem benefícios em linhas de créditos bancárias no setor<br />
privado ou público (Plano Safra 2023 / 2024, RenovAgro, antigo Plano<br />
ABC “Agricultura de Baixo Carbono”) com incentivo para obtenção<br />
de investimentos em sistemas de geração de energia renovável<br />
(compra de parques solares, por exemplo),<br />
mas ainda existe muita discussão<br />
quanto às possibilidades de desenvolvimento<br />
e ampliação dos mesmos. A transição<br />
energética no agronegócio, através<br />
da energia solar, é um pilar fundamental<br />
para a agricultura de baixo carbono e será<br />
uma tendência para o futuro.<br />
Bruna Timbó, head de Energia da<br />
Gallagher, ressalta que a relevância para a<br />
migração é mais do ponto de vista do risco<br />
do que do seguro, que embora estejam<br />
intimamente conectados, diferem um do<br />
outro. “A migração para o mercado aberto<br />
de energia permitirá que grande parte<br />
do mercado consumidor cativo, inclusive<br />
empresas do agronegócio, possa adquirir<br />
energia de outras fontes que não apenas<br />
as distribuidoras e seus contratos firmados<br />
no ambiente regulado e aos quais são<br />
impostos um sem-número de encargos. A<br />
migração para o ambiente livre viabiliza<br />
não somente uma economia financeira<br />
importante que, naturalmente, aumentará<br />
a rentabilidade das operações das empresas<br />
que consumirem energia neste novo<br />
cenário, mas também traz maior segurança<br />
quanto ao fornecimento e qualidade da<br />
energia comercializada na medida em que<br />
é um mercado de livre concorrência”.<br />
Como tendência, Letícia cita o<br />
uso do hidrogênio verde para a sustentabilidade<br />
do agronegócio através do<br />
sequestro de carbono por meio da transformação<br />
de resíduos em biofertilizantes<br />
(gerando autossuficiência energética). “A<br />
energia está conectada nos diferentes<br />
ângulos da indústria, seja na mobilidade<br />
agrícola sustentável, incentivo à produção<br />
de fertilizantes verdes, transporte<br />
e logística por meio da energia limpa”,<br />
completa.<br />
25
EVENTO<br />
COMUNICAÇÃO<br />
Para conquistar o cliente, mercado de<br />
seguros deve se comunicar de maneira<br />
mais assertiva<br />
ESPECIALISTAS SE REUNIRAM NO EVENTO “A FORÇA DA COMUNICAÇÃO NO MERCADO DE SEGUROS”,<br />
ORGANIZADO PELA FREELA, PARA COMPARTILHAR INSIGHTS E DISCUTIR OS DESAFIOS DO SETOR<br />
Nicole Fraga<br />
Tatiana Cerezer, Carla Simões, Nathalia Coutinho, Danielle Titton e Kelly Lubiato<br />
Comunicação é um dos pilares do<br />
seguro. Essa foi a mensagem que<br />
especialistas deixaram durante<br />
o evento “A força da comunicação no<br />
mercado de seguros”, realizado na sede<br />
da ENS (Escola de Negócios e Seguros) e<br />
organizado pela Freela, empresa fruto da<br />
união das revistas Apólice e Cobertura,<br />
focada na criação de eventos para o setor.<br />
Com o objetivo de abordar estratégias<br />
para tornar a comunicação no segmento<br />
mais eficiente e acessível, o workshop<br />
reuniu executivos, profissionais de marketing<br />
e comunicação, corretores de seguros<br />
e representantes de entidades.<br />
A COMUNICAÇÃO NO SETOR DE SEGUROS<br />
Na primeira roda de conversa do evento, mediada por Carol<br />
Rodrigues, editora da Revista Cobertura, os convidados falaram<br />
sobre como as seguradoras desenham suas estratégias de comunicação,<br />
de que forma o corretor de seguros está inserido nessas comunicações,<br />
o papel da mídia especializada como apoio da disseminação<br />
da cultura do seguro e outros temas.<br />
Flávio Otsuka, diretor de Estratégia de Crescimento e<br />
Marketing da Tokio Marine, comentou sobre a maneira que a seguradora<br />
vem mudando a forma de falar com seu público, investindo<br />
em uma linguagem mais acessível para reforçar a marca no<br />
mercado. “Nossa estratégia é baseada não apenas no desenvolvimento<br />
de uma imagem corporativa forte, mas também focamos<br />
em disponibilizar aos corretores as ferramentas necessárias para<br />
uma comunicação efetiva com o cliente. Acredito que a aquisição<br />
26
Gabriela Rosati, Oliver Haider, Flavio Otsuka e Carol Rodrigues<br />
dos naming rights do Tom Brasil foi fundamental para nos aproximarmos<br />
das pessoas”.<br />
Segundo Otsuka, ao oferecer todo o suporte tecnológico<br />
aos parceiros para que eles possam focar em vendas e na construção<br />
de um relacionamento mais próximo aos segurados, as seguradoras<br />
fortalecem a imagem e a reputação do setor como o<br />
responsável pela proteção da vida e do patrimônio de famílias e<br />
empresas junto à sociedade brasileira. “Com isso, o nosso produto<br />
deixa de ser complexo e passa a ser mais acessível para a população.<br />
Comunicação não é simples e barata, é preciso de pessoas<br />
especializadas, mas ela abre uma oportunidade gigantesca para<br />
falarmos do nosso propósito e expandirmos o mercado”.<br />
Nossa estratégia é baseada não apenas no<br />
desenvolvimento de uma imagem corporativa<br />
forte, mas também focamos em disponibilizar aos<br />
corretores as ferramentas necessárias para uma<br />
comunicação efetiva com o cliente. Acredito que<br />
a aquisição dos naming rights do Tom Brasil foi<br />
fundamental para nos aproximarmos das pessoas”<br />
FLÁVIO OTSUKA, da Tokio Marine<br />
O superintendente de Marketing<br />
da Porto, Oliver Haider, falou sobre o processo<br />
de renovação da marca e a criação<br />
de novas verticais. De acordo com o executivo,<br />
o objetivo da empresa era inovar<br />
e cuidar da sua identidade, comunicando<br />
para além do cliente e do corretor que a<br />
seguradora distribuía mais do que seguros.<br />
“O consumidor precisava entender<br />
que a Porto estava rejuvenescendo. Essa<br />
reconstrução de arquitetura de marca fez<br />
com que a companhia tivesse mais coragem<br />
e investisse mais em comunicação,<br />
trazendo uma nova percepção para o<br />
consumidor e fazendo com que os nossos<br />
parceiros entendessem melhor o negócio”.<br />
Para isso, a seguradora realizou diversas<br />
ações de marketing e publicidade,<br />
como, por exemplo, o patrocínio da montanha<br />
russa do The Town, criando pontos<br />
de interação com o cliente que vão além<br />
do momento da aquisição do seguro e do<br />
sinistro. Haider também afirmou que a<br />
empresa estreitou o relacionamento com<br />
a mídia, principalmente a especializada.<br />
“Essa construção de longo prazo de reforço<br />
de marca cria relevância. Desenvolvemos<br />
também um planejamento com uma<br />
visão 360º, com um time para avaliar o<br />
impacto da nossa comunicação nos corretores,<br />
colaboradores e na imprensa”.<br />
27
EVENTO<br />
COMUNICAÇÃO<br />
Equipe freela, responsável pela organização do evento<br />
Gabriela Rosati, diretora executiva<br />
de Marketing, Comunicação e Digital da<br />
Alper Seguros, reforçou a importância<br />
do brainstorming para o mercado de seguros<br />
mudar a forma que se comunica.<br />
“Comunicação é frequência. Quando falamos<br />
de transformações no setor de seguros,<br />
temos muitos produtos sendo lançados<br />
e inovações acontecendo. Se não<br />
comunicamos essas mudanças de maneira<br />
efetiva, de nada adianta criar novas<br />
apólices e investir em tecnologia. Temos<br />
que explorar todos os canais disponíveis<br />
para desmistificar o que é seguro”.<br />
A executiva disse que é preciso<br />
que o setor mude o mindset para que as<br />
companhias passem a enxergar a comunicação como uma prioridade<br />
e parte importante do negócio. “Medir o retorno financeiro sobre<br />
investimento em diferentes mídias é complexo. Falando um pouco<br />
de ROI, hoje a gente consegue fazer a mensuração dessa forma. Entretanto,<br />
com uma boa estratégia digital e a utilização de mídia espontânea,<br />
é possível ampliar o alcance e a efetividade do mercado”.<br />
O CONSUMIDOR NO MUNDO DE SEGUROS<br />
Mediado por Kelly Lubiato, editora da Revista Apólice, o segundo<br />
painel falou sobre estratégias de comunicação para diminuir a distância<br />
do mercado até o consumidor, qual é o papel da mídia como<br />
intermediária desta comunicação e como quebrar a resistência do<br />
consumidor e tornar as mensagens sobre o setor mais positivas.<br />
Carla Simões, superintendente executiva de Comunicação da<br />
CNseg (Confederação Nacional das Seguradoras), abordou as ações<br />
que a entidade vem realizando para ampliar o número de brasileiros<br />
Comunicação é frequência. Quando falamos de transformações no setor de seguros, temos<br />
muitos produtos sendo lançados e inovações acontecendo. Se não comunicamos essas<br />
mudanças de maneira efetiva, de nada adianta criar novas apólices e investir em tecnologia.<br />
Temos que explorar todos os canais disponíveis para desmistificar o que é seguro”<br />
GABRIELA ROSATI, da Alper<br />
28
Ano passado lançamos uma campanha publicitária<br />
multiplataforma focada nos produtos Vida e<br />
Agro. Colocamos os corretores parceiros como<br />
protagonistas, reforçando a mensagem de que estes<br />
profissionais atuam como consultores que podem<br />
auxiliar no planejamento financeiro dos segurados.<br />
Se eu quero estar conectado com uma pessoa, eu<br />
preciso estar presente na vida dela”<br />
TATIANA CEREZER, da Mapfre<br />
protegidos por uma apólice e alcançar todas as metas estabelecidas<br />
pelo PDMS (Plano de Desenvolvimento do Mercado de Seguros),<br />
que visa atingir a marca de 10% de participação do segmento no<br />
PIB até 2030.<br />
“Somente no ano passado, lançamos a campanha ‘Seguros<br />
para tudo e para todos’; realizamos um workshop para jornalistas<br />
de fora do trade para que eles pudessem saber mais sobre o setor;<br />
e reformulamos os sites da CNseg, disponibilizando conteúdos mais<br />
interativos e de linguagem simplificada. Para isso, contamos com<br />
um time interno de 20 pessoas que cuidam de toda a comunicação<br />
da Confederação. Tudo isso ajuda na democratização do seguro, fazendo<br />
com que o segmento não se comunique apenas entre si”.<br />
Tatiana Cerezer, diretora de Comunicação e Marketing da<br />
Mapfre, ressaltou a importância da criatividade no storytelling e no<br />
branding para que as seguradoras se conectem com seu público.<br />
“Ano passado, lançamos uma campanha publicitária multiplataforma<br />
focada nos produtos Vida e Agro. Colocamos os corretores parceiros<br />
como protagonistas, reforçando a mensagem de que estes<br />
profissionais atuam como consultores que podem auxiliar no planejamento<br />
financeiro dos segurados. Se eu quero estar conectado com<br />
uma pessoa, eu preciso estar presente na vida dela”.<br />
De acordo com uma pesquisa realizada pela empresa, 65%<br />
das pessoas que possuem seguro acreditam que vão ter algum problema<br />
durante a sua experiência com a seguradora. “Isso mostra<br />
que estamos nos comunicando de uma forma muito errada. Somos<br />
o mercado que mais cuida do mundo, sendo um dos mais relevantes<br />
para a população e a economia mundial. Não basta investir em<br />
ferramentas digitais, precisamos comunicar de maneira efetiva a<br />
proteção e tranquilidade que oferecemos”, disse Tatiana.<br />
Danielle Titton, superintendente de Gestão de Marketing da<br />
AXA no Brasil, comentou sobre as estratégias que a seguradora tem<br />
adotado para impulsionar seu negócio e seus valores para o cliente<br />
final. “Em 2023, lançamos a nossa primeira campanha de marca<br />
pensando no consumidor e nos desafios<br />
da marca AXA. Em 2025 vamos completar<br />
10 anos de operação no Brasil, e investimos<br />
em marketing de experiência para<br />
nos aproximarmos do consumidor. Não<br />
basta oferecer um bom produto, é preciso<br />
que a pessoa vivencie a importância<br />
do seguro”.<br />
Segundo a executiva, a campanha<br />
de marca da Roda Rico, na qual a companhia<br />
é patrocinadora e seguradora oficial,<br />
impactou 35 milhões de pessoas, fazendo<br />
com que 509 mil usuários visitassem<br />
a landing page do projeto. “A marca AXA<br />
apareceu em 413 mil buscas no Google,<br />
gerando cerca de 20 mil cliques diretos<br />
para o site da empresa. A ação colocou<br />
a AXA, uma marca francesa e que muita<br />
gente não conhecia a forma de fazer<br />
negócio, em evidência. Isso foi uma demanda<br />
dos corretores, que tiveram seus<br />
negócios ampliados devido a esta ação<br />
de comunicação e experiência do cliente”.<br />
Nathalia Coutinho, sócia da agência<br />
Core Consultoria, ressaltou a importância<br />
da comunicação para a diminuição<br />
da complexidade da jornada de consumo<br />
em seguros. “Todas as áreas das companhias<br />
devem pensar em como estruturar<br />
a jornada de comunicação da empresa,<br />
gerando uma inteligência coletiva sobre<br />
o tema. Isto faz com que a seguradoras,<br />
corretoras e prestadoras de serviços estejam<br />
atentas à experiência do cliente em<br />
sua totalidade, entregando um produto<br />
de qualidade e construindo relações de<br />
confiança com os consumidores”.<br />
Focando na importância da inovação<br />
para a comunicação no mercado,<br />
Nathalia também reforçou a necessidade<br />
de personalizar a maneira como o setor se<br />
direciona ao segurado para engajá-lo de<br />
maneira significativa. “Uma experiência<br />
compartilhada por um executivo revelou<br />
que a proposta deles, que considerava a<br />
personalização da comunicação com o<br />
consumidor, se destacava positivamente.<br />
É preciso que as empresas desenvolvam<br />
estratégias que reforcem a eficácia comunicativa,<br />
com ênfase na autenticidade,<br />
coerência e na evolução dos métodos de<br />
interação com o cliente e até mesmo com<br />
quem ainda não tem um seguro”.<br />
29
LEGISLAÇÃO<br />
LEI ESPECIAL DE CONTRATOS DE SEGUROS<br />
PLC 29/2017 quer<br />
democratizar<br />
acesso ao seguro<br />
EM UM PAÍS POLARIZADO,<br />
A APROVAÇÃO DE UMA<br />
LEI PARA REGER OS<br />
CONTRATOS DE SEGUROS<br />
E RESSEGUROS TAMBÉM<br />
ENCONTRA SEUS PRÓS E<br />
CONTRAS<br />
Kelly Lubiato<br />
30
A<br />
instabilidade regulatória sempre<br />
foi o calcanhar de Aquiles<br />
do mercado de seguros, que<br />
desmotiva o investimento internacional<br />
no País, mesmo sendo o Brasil um dos<br />
lugares com mais oportunidades de crescimento,<br />
considerando principalmente a<br />
lacuna de proteção em vários ramos, desde<br />
vida até a infraestrutura.<br />
Em maio de 2004, o Congresso<br />
Nacional iniciou a discussão sobre o<br />
projeto da Lei Especial de Contratos de<br />
Seguro brasileira. O anteprojeto foi elaborado<br />
no Instituto Brasileiro de Direito<br />
do Seguro (IBDS) por Ernesto Tzilrunik e<br />
Flávio Queiroz de Bezerra Cavalcanti, e o<br />
projeto foi apresentado pelo então deputado<br />
José Eduardo Martins Cardozo.<br />
Desde então, está sendo discutida pelos<br />
legisladores brasileiros a Lei Especial de<br />
Contratos de Seguro. Depois de muitos<br />
acordos e consenso, o texto de 2017, elaborado<br />
em parceria com representantes<br />
do mercado, da Confederação Nacional<br />
das Seguradoras (CNseg) à Federação<br />
Nacional dos Corretores de Seguros (Fenacor),<br />
foi engavetado. Em 2023, com<br />
uma nova composição no Congresso<br />
Nacional, o projeto foi “desengavetado”<br />
pelo senador Jader Barbalho, do MDB/<br />
PA e agora está prestes a ser votado.<br />
O advogado é um dos maiores<br />
defensores do projeto que, segundo ele,<br />
vai organizar os contratos de seguro e defender<br />
os interesses do consumidor, com<br />
mais clareza e transparência. “Haverá apenas<br />
uma lei, com pequenos ajustes, mas é<br />
uma lei que não irá causar danos ao mercado,<br />
mas sim sanar alguns problemas do<br />
funcionamento do seguro, tornando-o<br />
mais compreensível para a sociedade e<br />
aumentando as vendas”, prevê.<br />
Para Tzilrunik, todos os contratos<br />
devem garantir o risco como um todo.<br />
Ele utiliza como exemplo o seguro de automóveis.<br />
“Ao invés de descrever todos<br />
os riscos que estão cobertos, na apólice<br />
deverá constar todos os riscos excluídos.<br />
Assim, partimos do princípio de que o<br />
risco é coberto como um todo”, informa<br />
o advogado.<br />
31
LEGISLAÇÃO<br />
LEI ESPECIAL DE CONTRATOS DE SEGUROS<br />
Os prazos são confortáveis para qualquer<br />
seguradora regular sinistros grandes ou pequenos<br />
mas, ao mesmo tempo, não são eternizantes”<br />
ERNESTO TZILRUNIK, do IBDS<br />
O segurador deverá retirar da cobertura<br />
ampla tudo aquilo que não deseja<br />
cobrir e caberá ao corretor explicar<br />
ao segurado o que está excluído. “Isso<br />
dará mais clareza aos contratos”, garante<br />
Tzilrunik.<br />
Outro ponto importante é que<br />
a boa fé do segurado continua sendo<br />
fator imprescindível para a garantia<br />
de cobertura. As seguradoras deverão<br />
elaborar questionários de aceitação de<br />
riscos bem detalhados, que prevejam<br />
todas as situações que possam agravar<br />
os riscos. Se o segurado não for<br />
perguntado, ele não será prejudicado.<br />
Na hora da regulação do sinistro, será<br />
levado em consideração o que está<br />
neste questionário. A seguradora só<br />
poderá alegar que houve omissão caso<br />
o segurado tenha deixado de dar alguma<br />
informação desde que tenha sido<br />
questionado. A norma representa uma<br />
mudança em relação às regras atuais,<br />
pelas quais a seguradora pode se desvincular<br />
alegando omissão mesmo sem<br />
intenção do consumidor.<br />
No seguro de vida, não haverá<br />
mais alterações caso o titular mude de<br />
emprego, para alguma atividade insalubre.<br />
Tzilrunik cita o exemplo de um<br />
diplomata, que não fica sem cobertura<br />
caso vá atuar em uma missão em zona<br />
de guerra. A Lei diz que o exercício de<br />
atividades laborais tem o mesmo privilégio que o meio de transporte<br />
arriscado ou os esportes radicais. “Hoje, existe na lei uma<br />
proibição de excluir estes riscos, mas há casos de negativa de indenização<br />
em casos de atividades profissionais, o que consideramos<br />
absurdo, porque há discrimição de acordo com a atividade de trabalho.<br />
Não há agravamento do risco no seguro de vida”, pontua o<br />
advogado.<br />
No seguro de responsabilidade civil, não será mais possível<br />
gastar 100% do valor contratado para indenização com honorários<br />
advocatícios. Tzilrunik explica que há seguros de RC em que<br />
o segurador vai pagando a defesa do segurado e a vítima, que<br />
teve o direito reconhecido e cuja função social do seguro é garantir<br />
seu interesse, acaba ficando sem cobertura. “Será preciso<br />
contratar dois valores distintos: um para a defesa e o outro para<br />
a vítima.”<br />
Para a regulação de sinistros há todo um regime com regras<br />
de transparência, de responsabilidade, e os prazos ficam mais claros<br />
e as suspensões de prazo não são ad aeternum (para sempre). O<br />
prazo para pagamento dos sinistros será de 30 dias, como já acontece<br />
atualmente. Porém a companhia que precisar de alguma documentação<br />
adicional para liberar uma indenização terá prazo de<br />
cinco dias para solicitar a apresentação ao segurado, com extração<br />
desses dias do prazo. Assim, o prazo passa a ser de 25 dias, contados<br />
a partir da entrega dos documentos. Se o prazo expirar, a seguradora<br />
terá de arcar com juros, e o valor a ser pago será corrigido. “Os prazos<br />
são confortáveis para qualquer seguradora regular sinistros grandes<br />
ou pequenos mas, ao mesmo tempo, não são eternizantes”, opina<br />
Tzilrunik.<br />
A previsão é de que as seguradoras tenham o prazo de um<br />
ano para entrarem em conformidade com a PLC 29/2017.<br />
NOVOS PRAZOS E REGRAS DE ARBITRAGEM<br />
Alguns pontos da nova Lei Especial dos Contratos de Seguros<br />
afetam diretamente a atuação do resseguro. O projeto diz que<br />
uma proposta de seguro será considerada aceita pela seguradora ou<br />
resseguradora após 25 dias do recebimento da proposta. Isso significa<br />
que as companhias terão este prazo para aceitar ou recusar uma<br />
solicitação. Ao final do prazo, sem a manifestação da seguradora, a<br />
proposta será considerada aceita.<br />
Para Tzilrunik, a seguradora é empoderada porque, em<br />
caso de sinistro, ela será a responsável pela regulação. “Ela deixa<br />
de ser um agente servil dos resseguradores, passando a ter protagonismo<br />
estimulado pela lei. Se for uma seguradora independente,<br />
com uma vida mais exposta a riscos comerciais, ela fica mais<br />
32
“O investimento será alto e os próximos anos<br />
serão agitados, mas, por fim, lidaremos com a<br />
nova lei como temos feito com as dificuldades<br />
e idas e vindas que enfrentamos sempre no<br />
Brasil. Ficaremos piores e descontinuaremos<br />
a trajetória de evolução vista nos últimos anos<br />
(cujos resultados têm sido visto em números), mas<br />
sobreviveremos<br />
JOÃO MARCELO DOS SANTOS, advogado<br />
protegida, porque ela é titular da regulação e o ressegurador terá<br />
que segui-la, nos limites do contrato de resseguro”.<br />
O projeto diz que a lei brasileira será aplicada sempre nos<br />
contratos celebrados no Brasil, inclusive nas arbitragens. Os árbitros<br />
internacionais deverão estudar a lei brasileira para aplicá-las.<br />
“Os interesses brasileiros serão garantidos”, comemora o advogado,<br />
acrescentando que os processos de arbitragem realizados no<br />
Brasil serão menos onerosos, em protuguês, e irão produzir cultura<br />
e experiência, pois há uma previsão de que, sem revelar dados particulares,<br />
deverá ser feita a divulgação dos conflitos e das soluções<br />
adotadas, para a jurisprudência arbitral.<br />
Outro advogado, João Marcelo dos Santos, integra um grupo<br />
de insatisfeitos com as novas regras. Para ele, O PLC 29/2017<br />
estabelece um microssistema legal de seguros que em vários pontos<br />
destoa de normas e princípios consagrados do direito público<br />
e privado. “Além disso, traz um grande número de regras exóticas<br />
e altamente intervencionistas, que dificulta a interlocução, necessária,<br />
com o mercado global de seguros e resseguros. Isso reduzirá<br />
a possibilidade de inovação e o acesso às novas técnicas e tecnologias<br />
e encarecerá o seguro brasileiro”, aponta.<br />
Santos destaca que o mercado ficará mais fechado e menos<br />
criativo, sujeito a intervenções muito mais frequentes e severas<br />
por parte da Susep e do Poder Judiciário nas decisões das seguradoras<br />
de que riscos aceitar, que coberturas comercializar e como<br />
gerenciar o cumprimento da obrigação de pagar sinistros.<br />
Há ainda a questão da adaptação das seguradoras, que<br />
demandará um grande volume de recursos. “O investimento será<br />
alto e os próximos anos serão agitados, mas, por fim, lidaremos<br />
com a nova lei como temos feito com as dificuldades e idas e vindas<br />
que enfrentamos sempre no Brasil. Ficaremos piores e descontinuaremos<br />
a trajetória de evolução vista nos últimos anos<br />
(cujos resultados têm sido visto em números), mas sobreviveremos”,<br />
analisa.<br />
O resseguro que está na lei possui regra de qualquer ressegurador,<br />
quando receber uma oferta, se ele não responder em 20<br />
dias, significa que ele aceitou o risco, independente de onde ele<br />
esteja. “Imagina um executivo no exterior<br />
recebendo uma carta e sendo obrigado<br />
a cobrir um risco que ele não faz<br />
ideia do que seja, apenas porque recebeu<br />
uma correspondência. A tendência<br />
será as empresas colocarem um disclamer:<br />
“eu não sei quem você é, de onde<br />
você veio ou o que está falando, mas, se<br />
for brasileiro, se for uma oferta, eu estou<br />
negando”, brinca Santos.<br />
Outra regra dizia que todas as condições<br />
contratuais de seguros precisam<br />
ser aprovadas pela Susep. Isso significa<br />
dizer que acabou a condição particular.<br />
Em qualquer seguro, seja de celular ou de<br />
uma plataforma de petróleo, é preciso esperar<br />
a Susep aprovar o clausulado.<br />
João Marcelo cita como exemplo a<br />
contratação de um seguro de risco de engenharia,<br />
que não encontra colocação no<br />
Brasil. Vai para o exterior, para conseguir<br />
é preciso ter as negativas das empresas<br />
brasileiras, com as negativas necessárias<br />
etc. Se pedir a colocação de risco em outro<br />
país, em caso de sinistro, será aplicada<br />
a legislação brasileira, ou arbitragem.<br />
Se a empresa está fazendo negócios no<br />
Brasil, ela pode ter seus bens apreendidos<br />
no país. “A lei que quer proteger o<br />
segurado, na verdade, está sequestrando<br />
o segurado. Esta nova lei de contratos de<br />
seguros beneficia o Governo, que poderá<br />
intervir nos contratos e os advogados”,<br />
33
LEGISLAÇÃO<br />
LEI ESPECIAL DE CONTRATOS DE SEGUROS<br />
Ainda existem pontos de melhoria, mas percebemos<br />
que, por exemplo, os resseguradores locais não<br />
estão temerários”, opina Vergilio, acrescentando<br />
que nunca viu uma lei que tenha nascido perfeita”<br />
ARMANDO VERGILIO, da Fenacor<br />
antevê Santos, completando: “Vai reduzir<br />
a oferta de produtos e vai encarecêlos”,<br />
reduzindo o interesse no mercado<br />
de seguros.<br />
Em nota oficial, o IRB (Re) informa<br />
que “tem tomado conhecimento de<br />
manifestações desfavoráveis à aprovação<br />
do PLC 29/2017, o projeto de lei de<br />
contrato de seguro que se encontra em<br />
debate no Senado Federal. Após analisar<br />
detidamente o conteúdo do projeto,<br />
de forma especial as regras que interessam<br />
à atividade resseguradora, bem<br />
como as diversas divergências públicas<br />
sobre o tema, não foi identificado qualquer<br />
dispositivo que possa, ainda que<br />
indiretamente, prejudicar o desenvolvimento<br />
saudável da operação resseguradora<br />
no país”.<br />
A LEI É FRUTO DO POSSÍVEL<br />
Até o pedido de vista pelo senador<br />
Sergio Moro (União Brasil/PR), o seu<br />
texto já estava pronto e apoiado pelas<br />
lideranças do mercado de seguros. o<br />
presidente da Federação Nacional dos<br />
Corretores de Seguros, Armando Vergilio,<br />
foi um de seus relatores, entre os anos de<br />
2011 e 2015, quando ocupava a cadeira<br />
de deputado federal por Goiás.<br />
“Matérias desta natureza só avançam<br />
no Congresso Nacional quando há<br />
consenso”, avalia. No mandato do deputado<br />
Lucas Vergilio , foram realizadas várias audiências públicas e<br />
grupos de trabalho, quando se construiu o consenso e foi levado<br />
para aprovação em plenária. Em seguida, foi levado ao Senado.<br />
O discurso de que a nova lei vai acabar com o mercado é<br />
um discurso equivocado. “Ainda existem pontos de melhoria, mas<br />
percebemos que, por exemplo, os resseguradores locais não estão<br />
temerários”, opina Vergilio, acrescentando que nunca viu uma lei<br />
que tenha nascido perfeita.<br />
A Fenacor defende que haja uma Lei de Contratos de Seguros.<br />
O Governo estabeleceu um diálogo com o mercado e o setor<br />
fez vários apontamentos, com justificativas. Alguns pontos foram<br />
entendidos e acatados. Outros ainda carecem de diálogo, como o<br />
Art. 41. Os representantes e prepostos da seguradora, ainda que<br />
temporários ou a título precário, vinculam-na para todos os fins,<br />
quanto a seus atos e omissões.<br />
Vergilio explica que o projeto que está hoje na CCJ - Comissão<br />
de Constituição e Justiça (paralizado pelo pedido de vistas do<br />
senador Sergio Moro - União Brasil/PR) para ser apreciado, deverá<br />
ser votado e aprovado. Os senadores podem tentar fazer alterações.<br />
“Depois de votado, ou ele vai para a CAE (Comissão de Assuntos<br />
Econômicos) ou pode seguir direto para o plenário do Senado,<br />
dependendo de algum pedido de tramitação em urgência. O plenário<br />
pode se manifestar. Após a aprovação do Senado, como tem<br />
modificação, o projeto deve voltar para a Câmara dos Deputados,<br />
que informa se concorda ou não concorda com as alterações promovidas<br />
pelo Senado, dando a palavra final. O texto volta para o<br />
Senado e depois segue para sanção do presidente da República,<br />
para virar lei”, esmiúça Vergilio, frisando que “determinados discursos<br />
como os que tem sido propalados por alguns entes do mercado<br />
não é correto”.<br />
AS MUDANÇAS NO CÓDIGO CIVili<br />
O Código Civil está passando por uma atualização. Foi<br />
montada uma equipe de juristas para propor alterações em relação<br />
ao mercado de seguros, dentre as várias matérias abordadas.<br />
O seguro não possui uma lei própria. A única é o decreto<br />
73/66, que rege o setor. No processo de revisão do Código Civil,<br />
a comissão revisora de juristas propôs mudanças no capítulo de<br />
seguro.<br />
Ainda não existe um projeto de lei. Por enquanto, é um estudo<br />
cuja proposta poderá tramitar na casa legislativa. Segundo advogados,<br />
os projetos caminham em paralelo.<br />
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