CONFISSÕES Os segredos da empatia ainda estão mal explicados, mas Susana Carvalho, CEO da agência <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> JWT e presi<strong>de</strong>nte da Associação Portuguesa das Empresas <strong>de</strong> Publicida<strong>de</strong> (APAP), era a cobaia i<strong>de</strong>al para o neurocientista <strong>que</strong> quisesse <strong>de</strong>scobrir como é <strong>que</strong> alg<strong>uma</strong>s pessoas se ligam às outras, ultrapassando barreiras e timi<strong>de</strong>zes, e criando instantaneamente a sensação <strong>de</strong> <strong>que</strong>, afinal, o mundo não é um lugar perigoso, como tantas <strong>vez</strong>es por aí se diz. Sentada à secretária do seu gabinete, está voltada para as portas <strong>de</strong> vidro, abertas para um pátio do Centro Cultural <strong>de</strong> Belém por on<strong>de</strong> entram agora as vozes <strong>de</strong> crianças <strong>de</strong> cinco e seis anos <strong>que</strong> ali improvisaram um recreio. “Quando tinha a<strong>que</strong>la ida<strong>de</strong>”, recorda com o entusiasmo <strong>que</strong> a caracteriza, “estava em Timor, on<strong>de</strong> o pai fazia a tropa, e <strong>que</strong>ria ser enfermeira”. Influenciada por tudo o <strong>que</strong> a ro<strong>de</strong>ava e por um livro <strong>de</strong> capa encarnada <strong>que</strong> falava na profissão, ficou feliz no dia em <strong>que</strong> a mãe lhe ofereceu um estojo <strong>de</strong> primeiros socorros. “Parti à procura <strong>de</strong> algum animal ferido <strong>que</strong> precisasse dos meus préstimos e, como não encontrei nenhum, acabei por plantar-me ao lado <strong>de</strong> um formigueiro, quase à porta <strong>de</strong> casa, a ver se ninguém as pisava.” Decididamente, <strong>uma</strong> fase passageira, por<strong>que</strong> ainda hoje se sente mal quando vai tirar sangue e vê <strong>uma</strong> seringa, conta, a rir. Mais tar<strong>de</strong>, foi o ténis <strong>que</strong> quis levar a sério, SUSANA CARVALHO “Consi<strong>de</strong>ro-me <strong>uma</strong> maratonista.” Quis ser enfermeira, tenista e jornalista, mas foi a publicida<strong>de</strong> <strong>que</strong> acabou por conquistar Susana Carvalho. Directa e <strong>de</strong>scomplicada, a CEO da agência JWT é tão certeira como as <strong>campanha</strong>s <strong>que</strong> cria. TEXTO DE ISABEL STILWELL. FOTOGRAFIAS DE PEDRO BETTENCOURT. sobretudo quando, aos 16 anos, passou um ano nos EUA, num programa <strong>de</strong> intercâmbio <strong>de</strong> estudantes. Ganhou troféus e o direito a <strong>uma</strong> bolsa para a universida<strong>de</strong> com tudo pago e a garantia <strong>de</strong> <strong>que</strong> podia continuar a estudar e a jogar, mas, para <strong>de</strong>sgosto imenso, não lhe era legalmente permitido ficar mais tempo por<strong>que</strong> “havia muitos estudantes <strong>que</strong> acabavam por transformar a<strong>que</strong>les intercâmbios n<strong>uma</strong> forma <strong>de</strong> asilo”. Voltou para Portugal frustrada. No liceu, ficara fascinada por jornalismo e, por cá, não só ainda não havia curso superior nesta área, como se vivia o ano do propedêutico, <strong>uma</strong> experiência estranha <strong>que</strong> se havia <strong>de</strong> transformar no 12.º ano. Ainda por cima, sem apoios <strong>de</strong> espécie nenh<strong>uma</strong> para o ténis, jurou <strong>que</strong>, daí a dois anos, voltaria para Boston. Contudo, enquanto esperava, e por<strong>que</strong> não está na sua natureza cruzar os braços, matriculou-se não num, mas em dois cursos: Turismo e Comunicação Social, na Universida<strong>de</strong> Nova <strong>de</strong> Lisboa. Confessa <strong>que</strong> o curso <strong>de</strong> Comunicação Social a <strong>de</strong>siludiu por ser <strong>de</strong>masiado teórico, “sobretudo para alguém como eu, <strong>que</strong>, no liceu, nos EUA, tinha tido <strong>uma</strong> ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> jornalismo em <strong>que</strong> nos pediam para fazer um jornal da escola a sério”. Não admira <strong>que</strong>, mal os dois anos <strong>de</strong> “exílio” passaram, estivesse <strong>de</strong> malas feitas <strong>de</strong> regresso à América, mas, entretanto, tudo
Aventureira mas pon<strong>de</strong>rada, a CEO da JWT tem <strong>uma</strong> carreira repleta <strong>de</strong> êxitos. Apesar <strong>de</strong> estar há muitos anos na mesma empresa, a rotina não tem <strong>uma</strong> conotação negativa, por<strong>que</strong> todo os dias tem novos <strong>de</strong>safios.
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