Depressão AnsieDADe e stresse - Universidade de Coimbra
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capítUlO ii - DepressãO, a n sieDa De e s t resse<br />
como consequência da activação do eixo HHa para preparar o organismo para <strong>de</strong>safios fisiológicos ou<br />
ambientais tem um importante papel na resposta ao <strong>stresse</strong> e na manutenção da homeostase durante esta<br />
resposta (mcEwen, 2000).<br />
o eixo HHa é central na resposta ao <strong>stresse</strong> (lovallo & thomas, 2000) e responsável pela fase <strong>de</strong> ajustamento<br />
da resposta alostática. É activado quando o hipotálamo segrega a corticotrofina estimulando a hipófise<br />
a produzir a adrenocorticotrofina (aCtH) que por sua vez vai estimular as glândulas adrenais a produzir<br />
a segunda das hormonas principais do <strong>stresse</strong>, o cortisol. Esta activação rápida do eixo HHa tem o efeito <strong>de</strong><br />
elevar os níveis <strong>de</strong> glicose do sangue e um efeito <strong>de</strong> manutenção dos sistemas vitais (mcEwen, 2002; ströhle<br />
& Holsboer, 2003; gutman, musselman, nemeroff, 2003). 23<br />
mas a persistência e a intensida<strong>de</strong> exagerada do <strong>stresse</strong>, po<strong>de</strong>m tornar o eixo HHa hiper-reactivo, com<br />
prejuízos potenciais para o organismo. Em pacientes <strong>de</strong>primidos, o controle inibitório da activida<strong>de</strong> do eixo<br />
HHa parece estar comprometido. a falha ou inca pacida<strong>de</strong> no controlo dos mecanismos alostáticos po<strong>de</strong> ser o<br />
resultado da estimulação frequente dos sistemas alostáticos e é consi<strong>de</strong>rado como o preço da adaptação (barlow,<br />
2002; mcEwen, 2002; praag, Kloet & os, 2004; gilbert, 2004). voltaremos a esta questão mais adiante.<br />
O mODelO De lazarUs e fOlkman<br />
lazarus & folkman (1984) <strong>de</strong>senvolveram um mo<strong>de</strong>lo que caracterizam como sendo relacional, motivacional<br />
e cognitivo concebendo o <strong>stresse</strong> como parte <strong>de</strong> um tópico mais amplo: o estudo das emoções<br />
humanas. lazarus (1999) enfatiza que quando há <strong>stresse</strong> há também emoções, e neste âmbito, estas <strong>de</strong>vem<br />
constituir o âmago dos estudos. assim, este mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>fine-se como relacional, uma vez que se aceita que<br />
para um maior gasto <strong>de</strong> energia, necessária para uma acção imediata e intensa, através do aumento da tensão arterial, da respiração,<br />
do ritmo cardíaco e da libertação <strong>de</strong> glicose.<br />
o eixo neuro-endócrino, que é activado quando o eixo neuronal fica impossibilitado <strong>de</strong> continuar a dar resposta em condições<br />
<strong>de</strong> <strong>stresse</strong> mais prolongadas, é mais lento e inicia-se com a activação da medula das glândulas supra-renais com a consequente libertação<br />
<strong>de</strong> adrenalina e noroadrenalina. os efeitos da activação <strong>de</strong>ste eixo são semelhantes aos do primeiro, mas po<strong>de</strong>m prolongar-se<br />
durante mais tempo. a sua activação é importante para o tipo <strong>de</strong> resposta <strong>de</strong> luta ou fuga <strong>de</strong>scrita por Cannon. perante uma situação<br />
<strong>de</strong> <strong>stresse</strong> o organismo prepara-se do ponto <strong>de</strong> vista motor para <strong>de</strong>frontar a ameaça ou para escapar.<br />
o prolongamento da situação <strong>de</strong> <strong>stresse</strong> activa o eixo endócrino, que po<strong>de</strong> subdividir-se em 4 sub-eixos: o primeiro, eixo HHa com<br />
a libertação <strong>de</strong> glicocorticoi<strong>de</strong>s que reforçam as acções do sistema nervoso simpático sobre o sistema circulatório mantendo os níveis<br />
<strong>de</strong> glicose no sangue. são ainda libertados mineralocorticoi<strong>de</strong>s que facilitam a retenção <strong>de</strong> sal e líquidos e o aumento <strong>de</strong> <strong>de</strong>pósitos <strong>de</strong><br />
glicogénio no fígado e andrógeneos. os outros três sub-eixos implicam a secreção da hormona do crescimento, o aumento da secreção<br />
das hormonas tiroi<strong>de</strong>ias, que aumentam o metabolismo, e a secreção <strong>de</strong> vasopressina, que aumenta a retenção <strong>de</strong> líquidos.<br />
23 o eixo HHa correspon<strong>de</strong> a um sistema regulador que integra funções endócrinas e neurológicas. barlow (2002) refere-se<br />
a um conjunto <strong>de</strong> estudos que suportam que o sistema Crf (corticotrophin releasing factor - factor libertador <strong>de</strong> corticotrofina) tem<br />
um papel central na neurofisiologia do <strong>stresse</strong>, da ansieda<strong>de</strong> e da <strong>de</strong>pressão. vários estímulos ameaçadores po<strong>de</strong>m activar inputs a<br />
partir <strong>de</strong> várias regiões do cérebro, locus cerúleos, sistema límbico, particularmente o hipocampo e a amígdala, e o córtex pré-frontal.<br />
Estes inputs activam as células neuro-secretoras do núcleo paraventricular do hipotálamo (estes neurónios são também encontrados<br />
no núcleo central da amígdala) segregando o Crf. o sistema Crf actua em sinergia com a arginina vasopressina (avp). o Crf e a<br />
avp estimulam na hipófise anterior, a liberação da hormona adrenocorticotrófica (aCtH). Esta promove, no córtex supra-renal, a<br />
liberação <strong>de</strong> cortisol. o cortisol é o produto final da activação do eixo HHa. o cortisol combinado com as catecolaminas libertadas<br />
na medula adrenal e com os nervos terminais nervosos simpáticos aumentam os níveis <strong>de</strong> glicose circulante, a frequência cardíaca e<br />
a tensão arterial. Este sistema é controlado e regulado por um sistema <strong>de</strong> feedback negativo mediado pelos glicocorticoi<strong>de</strong>s e localizado<br />
primeiramente no hipocampo e septo, mas também por receptores encontrados noutras partes do cérebro.<br />
Obra protegida por direitos <strong>de</strong> autor<br />
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