Editorial
pdf - New Golf
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muito além do jogo<br />
Murphy e o golfe<br />
por Henrique Fruet *<br />
Poucas coisas são tão<br />
humilhantes quanto o<br />
slice. Para quem não<br />
sabe (o golfista que disser<br />
que nunca deu um<br />
slice está mentindo), é quando<br />
a bola que deveria ir para frente<br />
resolve - por pura maldade - sair<br />
para a direita, geralmente em<br />
direção ao mato, a um lago, aos<br />
limites de fora de campo ou à cabeça<br />
ou canela de alguém.<br />
Claro, além da maldade daquela<br />
aparentemente inofensiva<br />
e simpática esfera cheia de covinhas<br />
que tem o poder de virar o<br />
demônio em pessoa (ou em bola,<br />
como preferir), há também a falta<br />
de habilidade de quem está na<br />
outra ponta do taco. A habilidade<br />
pode definir a frequência de<br />
slices, mas todo golfista, até os<br />
melhores do mundo, estão sujeitos<br />
a ele. Ninguém está imune a<br />
esse mal que não respeita sexo,<br />
idade, religião, tamanho, cor ou<br />
handicap.<br />
Quanto melhor for sua tacada<br />
inicial no buraco, maiores as<br />
chances de que o próximo tiro<br />
seja um slice daqueles. Tudo<br />
bem, você deve estar pensando<br />
que este cronista não é nada original,<br />
pois está apenas parafraseando<br />
a famosa Lei de Murphy.<br />
Para quem não sabe (acho que<br />
todos ao menos já sentiram na<br />
pele seus efeitos), é aquela que<br />
diz que “se algo pode dar errado,<br />
dará”. Ou ainda, “se algo pode<br />
dar errado, dará errado da pior<br />
maneira, no pior momento e de<br />
modo a causar o maior estrago<br />
possível”.<br />
A lei aplicada<br />
Se o golfista argentino Sebástian<br />
Fernandez não conhecia<br />
essa variável mais dura da Lei<br />
de Murphy na teoria, certamente<br />
a experimentou na prática<br />
no recente 58º Aberto do Brasil.<br />
Líder desde a primeira rodada,<br />
Fernandez chegou ao tee do buraco<br />
18 do São Fernando Golf<br />
Club na terceira rodada com -10,<br />
uma vantagem de cinco tacadas<br />
em relação ao brasileiro Philippe<br />
Gasnier, que estava com -5. Fernandez<br />
bateu o driver para a direita.<br />
A bola ficara numa posição<br />
bastante difícil: estava na subida<br />
ou, como o golfista costuma falar,<br />
acima de seus pés. Entre a<br />
bola e o green havia uma árvore.<br />
Fernandez pegou seu lob wedge,<br />
se alinhou e... mandou a bola<br />
completamente para a direita,<br />
por cima da sede do clube, para<br />
fora de campo.<br />
O então líder do torneio teve<br />
de dropar, pagar a penalidade e<br />
sair do buraco com -8. Continuava<br />
líder, mas viu sua diferença<br />
em relação a Gasnier diminuir de<br />
cinco tacadas para apenas duas,<br />
já que o brasileiro havia embocado<br />
um belo birdie. Pior do que<br />
o estrago no cartão certamente<br />
foi o estrago em seu ego - e olha<br />
que ego de argentino não costuma<br />
ser dos mais fracos - pois a<br />
lambança toda foi feita diante<br />
do público que acompanhava o<br />
final da rodada. No dia seguinte<br />
Fernandez terminou o torneio<br />
empatado em segundo lugar, a<br />
apenas uma tacada do campeão,<br />
o colombiano Oscar Alvarez. Ou<br />
seja, se não fosse o slice, o argentino<br />
poderia ter voltado para<br />
casa com o troféu, com o cheque<br />
de R$ 45 mil e com o ego intacto.<br />
Para muita gente, o desastre<br />
de Fernandez foi um dos maiores<br />
momentos do torneio. Quando<br />
a maldosa bola voou por cima<br />
da sede, os olhos de boa parte<br />
dos golfistas de final de semana<br />
brilharam, e não foi apenas por<br />
torcer pelo brasileiro Gasnier. Os<br />
pangarés e mestres do slice se<br />
sentiram vingados. Finalmente<br />
viram que certas coisas também<br />
acontecem com os outros. Como<br />
no Poema em Linha Reta, de Álvaro<br />
de Campos, os jogadores de<br />
handicap alto estavam fartos de<br />
semideuses e viram que há gente<br />
no mundo - gente como eles, que<br />
quando a coisa aperta, também<br />
faz bobagens extremas e perde a<br />
cabeça, o troféu e a pose.<br />
Golfe proibido<br />
O Ministério dos Transportes<br />
do Vietnã proibiu seus funcionários<br />
de jogar golfe. O pior: não só<br />
nos dias úteis, mas nos inúteis<br />
também, ou seja, os pobres coitados<br />
não podem pisar no cam-<br />
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