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Traços 3

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ANO 1

Nº 3

AGOSTO/SET.

2021

ADRIANA MANDUCO

Brasília - DF

Adriana Manduco,

nascida em Brasília

- DF (Brasil),

casada e mãe de

três filhos, gestora de Administração

e Consultora Financeira,

escritora romancista.

adrianamanduco.wixsite.

com/escritora

EU, MULHERES... MARIANA CRIOULA

Novembro, 1838 - Rio de Janeiro - Brasil

A economia cafeeira desponta na região

fluminense, Vale do Rio Paraíba.

A mão de obra escrava corresponde a maioria da

população da região.

Grandes fazendas crescem e se multiplicam às

custas do trabalho forçado de negros e negras,

comprados no mercado de escravos, trazidos em

navios negreiros sob condições totalmente desumanas.

O crescimento financeiro deslumbra os grandes

produtores de café que exigem cada vez mais de

seus serviçais.

Constantes e impiedosos castigos eram imputados

aos serviçais, muitas vezes sem motivo algum.

Grandes troncos, estrategicamente colocados no

pátio das fazendas, serviam como mastro onde

escravos eram amarrados e açoitados com um

instrumento feito com tiras de couro, até quase a

morte. O número de chicotadas eram definidas de

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acordo com o “delito” do homem ou mulher castigado.

Quando uma das mucamas cozinheiras errava o

tempero da comida de seus senhores era castigada

com bolo, uma espécie de palmatória de madeira,

simplesmente com o objetivo de aleijar as mãos

das escravas.

Caso um escravo se rebelasse ou negligenciasse

uma de suas tarefas no plantio do café, era colocado

em seu pescoço um colar de metal com pontas

salientes, que dificultavam o seu descanso durante

a noite.

Para o escravo fujão, ou que tentava roubar comida,

era imposto o castigo da máscara de ferro

que o impedia de se alimentar. Com isso, muitos

morriam subnutridos.

Em alguns casos, mesmo após os castigos, escravos

eram colocados no vira-mundo: espécie de algemas

de ferro que prendiam suas mãos e pés.

Dia 05 de Novembro - Vila de Vassouras – Brasil

Preocupados com as revoltas de Palmares, Haiti

e Malês, os escravagistas tratavam seus escravos

com muito mais rigor.

Nas fazendas do capitão-mor, Manuel Francisco

Xavier, não era diferente.

No salão da casa grande, Francisca Xavier, sua

esposa, conversa tranquila com Mariana Crioula,

sua mucama.

Mariana era considerada uma escrava dócil e gentil,

por isso, era admirada e protegida por sua senhora.

No cafezal e sob um sol escaldante, negros fortes

carregam sacas de café recém-colhidos dos inúmeros

pés espalhados pela verde montanha.

Da cozinha, um delicioso cheiro de broa de milho

se espalha por todo o casarão.

No galpão, Manuel Gongo, o escravo ferreiro,

trabalha com outros seis escravos.

No cair da tarde a frágil calmaria é interrompida

após um alto barulho de tiros vindos da senzala.

Assustada, a senhora Francisca pergunta ao jardineiro:

- O que houve? Esses barulhos foram tiros?

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