ANO 1Nº 3AGOSTO/SET.2021AGNES IZUMINAGASHIMALondrina - PRHAICAIS DE INVERNOOutono findoue as folhas secas despertammais um frio de inverno.No amanhecer álgido,gotas de orvalho congelam,café pra aquecer.Em um dia frio,caminhada sob o sol,flor de cerejeira.Silêncio na rua.Sol aquece pela frestao gato encolhido.Vento congelante,permanecem abraçadosà luz do luar.Escreve contos epoemas, publicouem revistase coletâneas. Éacadêmica correspondenteda AcademiaInternacional da União Cultural,faz parte da UBT Londrinae da Comissão de Autoresda WebTv.26
ANO 1Nº 3AGOSTO/SET.2021ALBERTO ARECCHIPavia – ItáliaArquiteto italiano,mora em Pavia.Presidente da AssociaçãoCulturalLiutprand, que edita estudossobre a história local e astradições (liutprand.it). Escrevecontos e poemas.O DIABO DA NUMÍDIAEstou disposto a apostar que nenhum devocês já conheceu o diabo na Numídia.Acredito que eu o vi, há muitos anos,durante uma viagem de carro para atravessaras montanhas da Medjerda, entre a Tunísiae a Argélia. Era uma noite muito chuvosa e ocaminho, estreito e cheio de curvas fechadas, nãoestava equipado com proteções adequadas paragarantir que o viajante não voe para a direita napróxima ravina. Eu havia embarcado em Gênova,debaixo da chuva. Após o desembarque naGoulette, estava chovendo. Vinte e quatro horasde água por cima do ombro, a água dos lagos emTunis de um lado e do outro, a água do céu. Realmentedemasiado: tentem vocês dizer isto àquelesque estão convencidos de que na África nuncachove. Abandonei a intenção original de passarum dia inteiro em Tunis e decidi não parar. Aolongo da estrada costeira eu podia chegar em voltada noite em Annaba, mas a cidade era famosapor seus ladrões, capazes de cortar vossos pneusnos cruzamentos para forçá-los a ir para baixo eroubar tudo... Então, aventurei-me na outra estrada,que no papel não parecia muito desconfortável,a convicção de chegar antes de escurecer emSouk Ahras, a antiga Tagaste, lugar natal de SantoAgostinho, uma tranqüila vila de montanha, dooutro lado da fronteira argelina. A chuva e as terríveiscurvas daquela estrada de montanha me dariamuma noite de horda.Em aquelas montanhas, anos antes, tinham lutadoos fellagha (rebeldes argelinos em revolta contraa França). As tropas coloniais tentaram construiruma linha “impenetrável” de fortes e arame farpado,para impedir o fornecimento dos rebeldes. Ossinais eram escassos, ao longo do caminho, mas eunão estava com medo de me perder: a estrada deasfalto estreita, toda de voltas e reviravoltas, continuavasubindo para o céu, sem desvios, emborainvisível na noite negra.Nas curvas fechadas mais expostas, a chuva pareciaabrir o caminho sob as rodas. Eu tentava nãopensar sobre o que eu poderia esperar após a próximacurva, cantarolando entre os dentes algumacanção esquecida. Após cerca de dez minutos, noentanto, a tensão renovava-se. Além da chuva,das curvas, da escuridão, dos relâmpagos repentinosque iluminavam a noite, eu tinha medo queuns animais selvagens, atravessassem de repenteo meu caminho: um javali, um macaco, um cãovadio, uma raposa ou qualquer outro ser vivo. Nanoite escura o carro poderia ter sido parado e nãoencaminhar-se mais.Isto pode explicar por que não parei, mesmo hesitandoum momento, quando, no meio de umacurva, na escuridão diante de mim, uma silhuetabranca apareceu de repente. Uma grande sombrapálida, com as asas abertas: tinha de ser uma avede rapina noturna na caça, talvez uma coruja deceleiro. Parou por um momento no ar, na luz amarelados faróis, e desapareceu, em quanto meusolhos tentavam reconhecer a estrada.Um instante - ou um século - mais tarde, retorneia mim de um breve desmaio, a testa coberta desuor frio. Apito de morteiros. Eu estava semprena estrada, na noite de tempestade, mas estavaconduzindo um veículo blindado. De dois miradouros,colocados em penhascos com vista para ocaminho, os raios de luz passavam na montanhaem busca dos rebeldes. Rajadas longas de metralhadoracortavam a noite. Como sombras que desapareciamna escuridão, os fellagha não se viam.Meu carro passou no fogo cruzado de balas traçadorase vi diante de mim, claramente, uma máscarasorridente: uma espécie de harpia, empoleiradasobre o capô do meu caminhão. Como se fosse de27