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Frédéric Bastiat - Ensaios - Ordem Livre

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1 o ) Ele crê que seu voto é dado para ser útil ao candidato.<br />

2 o ) Ele pensa que, em questão de favores, ele é livre para prestá-los a quem lhe aprouver.<br />

Em uma palavra, ele faz abstração dos bens e dos males públicos que podem resultar de sua escolha.<br />

Assim, se ele tivesse presente no espírito que o objetivo de todo mecanismo eleitoral é fazer chegar à<br />

Câmara deputados consciendosos e devotados, ele pensaria diferentemente e diria:<br />

"Votarei no Sr. A, pelo fato de que, entre outras razões, ele não me pediu seu voto."<br />

Com efeito, aos olhos de quem não perde de vista o verdadeiro objetivo de ser deputado, creio não<br />

poder existir mais (122) forte suspeita contra um candidato do que a sua pressa em sair à cata de votos.<br />

Afinal, o que levaria esse homem a vir me atormentar em minha casa, a se esforçar por me provar<br />

que devo depositar nele minha confiança?<br />

Quando se sabe que tantos deputados, com dois votos na mão, fizeram a lei para os ministros e<br />

se atribuíram boas colocações, não se tem de recear que esse candidato não tenha nada mais em<br />

vista e que venha, às vezes da outra extremidade do Reino, implorar a confiança das pessoas<br />

que ele não conhece?<br />

Podemos, talvez, ser traídos pelo deputado que escolhemos espontaneamente. Mas se nós,<br />

eleitores, vamos buscar um homem no seu refúgio (e não podemos ir buscá-lo aí senão porque sua<br />

reputação de homem integro já está perfeitamente estabelecida), se o arrancamos de sua solidão para<br />

investi-lo de um mandato que ele não pediu, não teremos todas as probabilidades de colocar esse<br />

mandato em mãos puras e fiéis?<br />

Se esse homem quisesse fazer da deputação um negócio, ele a teria procurado. Se não o fez,<br />

acreditamos que não tenha segundas intenções.<br />

Aliás, aquele a quem a escolha para ser deputado é espontaneamente concedida, como prova da<br />

confiança geral e da estima de todos, essa pessoa deve-se sentir tão honrada, tão reconhecida à sua<br />

reputação que tomará cuidado para não manchá-la.<br />

E, afinal de contas, não seria muito natural se as coisas se passassem assim? De que se trata<br />

então? Trata-se de prestar serviço ao Sr. Fulano de Tal, de favorecê-lo, de colocá-lo no caminho da<br />

fortuna?<br />

Não, trata-se de encontrar para nós um mandatário que tenha nossa confiança. Não seria bem<br />

simples se nos déssemos o trabalho de procurá-lo?<br />

Imaginemos o caso de uma importante tutela. Um numeroso conselho de família está reunido no<br />

tribunal. Chega um homem ofegante, coberto de suor, depois de ter sacrificado vários (123) cavalos.<br />

Ninguém o conhece pessoalmente. Tudo o que se sabe é que ele gerencia de longe as propriedades<br />

dos mineiros e logo deverá prestar contas dessa atividade. Esse homem implora que o nomeiem<br />

tutor. Dirige-se aos parentes por parte de pai e, em seguida, aos parentes maternos. Auto-elogia-se<br />

longamente, fala de sua probidade, de sua fortuna, de suas alianças. Pede, promete, ameaça. Pode-se<br />

ler em seu rosto uma ansiedade profunda, um desejo imenso de obter o que busca. Em vão lhe<br />

apresentam objeções, tais como a de que a tutela sobrecarrega demais, que ela lhe tomará tempo<br />

e dinheiro e que atrapalhará seus negócios. Ele descarta todas as dificuldades. Só pensa em<br />

consagrar seu tempo aos pobres orfãozinhos. Quanto â sua fortuna, está pronto a sacrificá-la, de tal<br />

modo sente no coração um desinteresse heróico pelo dinheiro. E seus negócios, ele os verá em<br />

perigo, mas com um olhar estóico, desde que os interesses dos menores prosperem em suas mãos.<br />

— Mas o senhor vai gerir a fortuna deles, lhe dizem. — Mais uma razão, responde ele. Prestarei contas<br />

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