Frédéric Bastiat - Ensaios - Ordem Livre
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Neste momento, a única questão é a seguinte: Você é pró ou contra a liberdade das trocas?<br />
Quando essa questão estiver esvaziada, faremos sem dúvida uma outra: Você é pró ou contra o<br />
sistema voluntário em matéria de religião?<br />
Enquanto durar a agitação relativa a uma dessas questões, todo mundo toma parte, todo mundo<br />
procura esclarecimentos, todo mundo se engaja em um partido ou noutro. Sem dúvida, as outras grandes<br />
reformas políticas, embora na sombra, não são inteiramente negligenciadas. Mas esse é um debate que<br />
se desenvolve no seio de cada partido, e não de um partído para o outro.<br />
Assim, hoje, quando os free-traders têm de opor um candidato aos monopolistas, eles fazem assembléias<br />
preparatórias e então proclama-se um candidato que — independentemente da conformidade de seus<br />
princípios com os dos free-traders em assuntos de comércio — convém melhor à maioria das pessoas, em<br />
razão de suas opiniões sobre a Irlanda ou sobre o Bill de Maynooth, etc etc. Mas no dia da grande disputa,<br />
só se pergunta aos candidatos o seguinte:<br />
Você é free-trader? Você é monopolista?<br />
E, por conseguinte, é sobre isso—somente sobre isso— que os eleitores têm que se pronunciar.<br />
Ora, é fácil compreender que uma questão feita em termos tão simples não deixa insinuar no seio dos<br />
partidos nenhum dos sofismas que este livro tem por objeto combater, e, principalmente; o sofisma do<br />
reconhecimento. (126)<br />
Eu terei prestado, na vida privada, grandes serviços a um eleitor. Mas sei que ele é a favor da liberdade<br />
comercial, enquanto eu me apresento como o candidato dos partidários do regime protecionista. Não me virá a<br />
idéia de exigir dele, por reco-nhecimento, o sacrifício de uma causa à qual eu sei que ele dedicou todos os<br />
seus esforços, para a qual ele subscreveu; em favor da qual ele se filiou a associações poderosas. Se eu o fizesse,<br />
a resposta seria clara e lógica, e ela teria o beneplácito do público, não somente no seu partido; rnas<br />
também no meu. Ele me diria: "Eu lhe devo obrigações pessoais; estou prestes a saldar minha dívida<br />
pessoalmente; não vou esperar que você me peça isso e aproveitarei todas as ocasiões para lhe provar que<br />
não sou um ingrato. Há, contudo, um sacrifício que não posso fazer: é o da minha consciência. Você sabe<br />
que estou engajado na causa da liberdade comercial, a qual creio mais de acordo com o interesse público. Você,<br />
ao contrário, sustenta o ponto de vista oposto. Estamos aqui reunidos para saber qual desses dois princípios<br />
tem a aprovação da maioria. Do meu voto pode depender o triunfo ou a derrota do princípio que eu sustento.<br />
Em sã consciência, não posso levantar a mão para você."<br />
É evidente que, a menos que se seja um homem desonesto, o candidato não poderia insistir para provar<br />
que o eleitor está ligado por uma benfeitoria recebida.<br />
A mesma doutrina deve prevalecer entre nós. Mas pelo feto de tais questões serem muito complicadas,<br />
elas dão oportunidade para uma contestação penosa entre o benfeitor e o beneficiado. O benfeitor dirá:<br />
"Mas por que você me nega o seu voto? Será porque estamos separados por algumas divergências de<br />
opinião? Mas você pensa exatamente como meu concorrente? Você não sabe que minhas intenções são<br />
puras? Por acaso não desejo eu, tanto quanto você, a ordem, a liberdade, o bem público? Você receia que eu<br />
aprove tal ou qual medida que você desaprova; e quem sabe se ela será apresentada às Câmaras nessa<br />
sessão? Veja bem que você não tem motivos (127) suficientes para esquecer o que fiz por você. Você só<br />
está pro-curando um pretexto para se descompromissar de qualquer forma de reconhecimento."<br />
Parece-me que o método inglês de só perseguir uma re-forma de cada vez, independentemente<br />
de suas vantagens próprias, tem ainda a grande vantagem de classificar invariavelmente os eleitores, de<br />
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