Dos Bastidores ao Espetáculo do Cirque Du Soleil ... - Anpad
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palavra que sugere exaltação e júbilo. Acho que é exatamente o que os artistas sentem...<br />
sempre que estão no palco. É preciso muito trabalho duro e dedicação... para chegar a esse<br />
nível de apresentação. Assim, por trás das rotinas perfeitas há horas e horas... de treinamento<br />
<strong>do</strong> corpo e ensaios”. O próprio nome <strong>do</strong> espetáculo é um aspecto simbólico na narrativa.<br />
O depoimento de Anna Shelper, trapezista, insere-se na narrativa <strong>do</strong> apresenta<strong>do</strong>r<br />
confirman<strong>do</strong> que a empresa é responsável pela realização <strong>do</strong> seu sonho de ser bem sucedida:<br />
“Parece que... realizei meu sonho de ser uma ótima trapezista. Para mim, este sempre foi o<br />
objetivo e o sonho. Trabalhar no <strong>Cirque</strong> du <strong>Soleil</strong> é como um bônus. É confirmação de que<br />
sou boa o bastante para estar nessa companhia”. Esse trecho evidencia como a construção de<br />
identidade (GABRIEL, 1995) é um processo de produção narrativa entre um ator e uma<br />
audiência.<br />
O apresenta<strong>do</strong>r entrevista Kristina Inanova, contorcionista, para abordar a relação de<br />
trabalho com membros da família. O depoimento da contorcionista ilustra que a realidade<br />
objetiva (o <strong>Cirque</strong> admite famílias) se traduz na realidade simbólica (o <strong>Cirque</strong> é uma família):<br />
“A<strong>do</strong>ro viajar com minha família. To<strong>do</strong>s estão comigo. Se preciso de algo, eles sempre<br />
ajudam. Meu pai também está no espetáculo. A<strong>do</strong>ro isso. Meu irmão nasceu há apenas um<br />
ano. Ele é bem pequeno”.<br />
A improvisação ocorre durante o espetáculo, que é o produto da empresa. Ebon<br />
Grayman, ator <strong>do</strong> personagem principal “bobo <strong>do</strong> rei”, afirma que há muita improvisação no<br />
decorrer da noite: “Este tipo de personagem é... por isso gosto tanto <strong>do</strong> personagem, porque<br />
posso improvisar. Se algo não sai <strong>do</strong> jeito certo posso inventar para consertar. É um<br />
personagem versátil”<br />
As narrativas <strong>do</strong>s artistas são <strong>do</strong>tadas de simbolismo e metáforas. “Se os artistas são o<br />
coração <strong>do</strong> circo, a música é a alma”, afirma Francesca Ganon, cantora <strong>do</strong> espetáculo. Na sua<br />
narrativa, os símbolos, o imaginário, a magia, marcam a sua atuação: “Sempre que canto no<br />
espetáculo, é como a primeira vez. Tu<strong>do</strong> é tão lin<strong>do</strong> <strong>ao</strong> meu re<strong>do</strong>r, as luzes... e to<strong>do</strong>s dão o seu<br />
melhor para o espetáculo. Sempre que canto essa música... eu me sinto muito feliz, pois a<strong>do</strong>ro<br />
a música”. A música é Bambolê. “Ela é uma garota linda... e usamos um idioma imaginário<br />
nesta canção. Temos letras para todas as canções, exceto esta.”<br />
O apresenta<strong>do</strong>r <strong>do</strong> DVD continua sua narrativa introduzin<strong>do</strong>-se nos aspectos da<br />
gestão, levantan<strong>do</strong> os desafios específicos <strong>do</strong> setor e como a empresa lida com os mesmos.<br />
A logística por trás <strong>do</strong> circo é impressionante. Mais de oitocentas toneladas de<br />
equipamentos... que enchem setenta contêiners. Com mais de 140 pessoas na equipe, 56<br />
artistas... 3 cozinheiros, 4 professores, 2 fisioterapeutas... e uma grande lona com<br />
capacidade para 2500 pessoas. A maioria <strong>do</strong>s artistas passa muitos meses longe de casa e de<br />
entes queri<strong>do</strong>s. Fazer com que a vida na estrada seja mais normal possível é vital. Educação<br />
é a grande prioridade para os filhos <strong>do</strong>s artistas e os artistas em idade escolar. Eles parecem<br />
enfrentar a dureza das obrigações <strong>do</strong> espetáculo e da escola embora nem to<strong>do</strong>s os<br />
estudantes queiram uma carreira no circo.<br />
Outros aspectos da gestão e seus desafios são reforça<strong>do</strong>s pelo narra<strong>do</strong>r: “Após ensinar<br />
jazz por vinte anos como é tomar conta de 56 artistas e contorcionistas? Deve ser difícil...”. A<br />
resposta é dada por Ria Martens, coordena<strong>do</strong>ra artística <strong>do</strong> Alegria, cuja voz se diferencia das<br />
demais pelo seu víes matriarcal.<br />
É diferente. É mais dirigir e administrar 56 artistas. Vejo como a continuação da minha<br />
carreira. É muito mais elabora<strong>do</strong> trabalhar com essas pessoas talentosas... Pois eles são<br />
mais acrobatas <strong>do</strong> que artistas. É onde está o desafio para mim, fazê-los serem mais artistas.<br />
Ensiná-los a fazer com qualidade quan<strong>do</strong> estiverem no palco. Uma grande parte <strong>do</strong> meu<br />
trabalho é vigiar os conceitos. Pois “Alegria” foi concebi<strong>do</strong> em Montreal por uma equipe de<br />
criação. Preciso manter a linha.<br />
A coordena<strong>do</strong>ra artística declara como ela se vê no espetáculo: “Eu me considero<br />
quase tu<strong>do</strong>. Eu tento estar com eles pois acredito que... se a pessoa está feliz consigo mesma<br />
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