Dos Bastidores ao Espetáculo do Cirque Du Soleil ... - Anpad
Dos Bastidores ao Espetáculo do Cirque Du Soleil ... - Anpad
Dos Bastidores ao Espetáculo do Cirque Du Soleil ... - Anpad
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
1 Introdução<br />
De uma ínfima faísca acendeu-se uma grande fogueira, cujo calor aqueceu o mun<strong>do</strong> inteiro.<br />
Guy Laliberté<br />
A análise organizacional caminhou, desde o desenvolvimento industrial, por<br />
diferentes perscpeticas, sofren<strong>do</strong> influências conforme o contexto sócio-histórico. Os aspectos<br />
estruturais e tecnológicos das organizações tiveram primazia durante muito tempo, porém, nas<br />
últimas décadas, a análise organizacional voltou-se para seus aspectos simbólicos. Símbolos e<br />
ações simbólicas fazem parte <strong>do</strong> cotidiano da vida organizacional em variadas formas, e a<br />
interpretação desses iluminam questões fundamentais sobre seus significa<strong>do</strong>s e suas crenças.<br />
Na perspectiva interpretativo-simbólica, eventos e processos organizacionais ganham<br />
importância não apenas pelo que produzem, mas, também, pelo significa<strong>do</strong> que carregam<br />
(BOLMAN; DEAL, 2008; HATCH, 1997). As organizações são observadas e compreendidas<br />
por meio de significa<strong>do</strong>s que produzem nas ações, interações e conversações que ocorrem<br />
entre as pessoas. Dessa forma, a linguagem e a comunicação ganham importância na análise<br />
organizacional e o uso de metáforas, como um recurso da linguagem, passa a ser visto como<br />
parte integral <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> de organizações (PABLO; HARDY, 2009).<br />
Neste artigo, analisamos o <strong>Cirque</strong> <strong>Du</strong> <strong>Soleil</strong> com o objetivo de explorar as metáforas<br />
desenvolvidas e selecionadas por pesquisa<strong>do</strong>res para examinar a relação entre comunicação e<br />
organização. Toman<strong>do</strong> como ponto de partida o trabalho de Putnam, Phillips e Chapman<br />
(2004), o estu<strong>do</strong> considera as perspectivas que enfatizam a interação e o significa<strong>do</strong>: as<br />
metáforas da perfomance, <strong>do</strong> símbolo, da voz e <strong>do</strong> discurso.<br />
Trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa cujo méto<strong>do</strong> de procedimento é o<br />
estu<strong>do</strong> de caso sen<strong>do</strong> o diagnótico das evidências encontradas pauta<strong>do</strong> na técnica da análise<br />
de discurso <strong>do</strong> material coleta<strong>do</strong> na mídia impressa e de entrevistas de integrantes <strong>do</strong> <strong>Cirque</strong><br />
transcritas <strong>do</strong> DVD da apresentação <strong>do</strong> espetáculo Alegria. Procuramos mostrar que o <strong>Cirque</strong><br />
<strong>Du</strong> <strong>Soleil</strong> desenvolve relações sociais sobre uma dinâmica organizacional que traz à tona<br />
características de relações intra-organização despercebidas em outras organizações.<br />
O artigo está estrutura<strong>do</strong> em cinco partes, incluin<strong>do</strong> essa introdução. Inicialmente,<br />
discutimos o uso de metáforas na análise organizacional e as metáforas desenvolvidas para<br />
analisar a relação entre comunicação e organização. Em seguida, descrevemos os<br />
procedimentos meto<strong>do</strong>lógicos, apresentamos os resulta<strong>do</strong>s, e, por fim, fazemos as<br />
considerações finais.<br />
2 Metáforas Organizacionais: múltiplos insights sobre a vida organizacional<br />
Análise das organizações por meio de metáforas vem se constituin<strong>do</strong> em uma prática<br />
de pesquisa organizacional que contribui para a construção de teorias que oferecem<br />
explicações em diferentes níveis de análise (HATCH, 1997; PABLO; HARDY, 2009).<br />
Putnam, Phillips e Chapman (2004) apontam, a partir <strong>do</strong> trabalho de diversos autores, que a<br />
contribuição da análise metafórica ocorre de três formas: (1) articulan<strong>do</strong> as hipóteses<br />
ontológicas de diferentes visões das organizações; (2) revelan<strong>do</strong> o fun<strong>do</strong> assumi<strong>do</strong> <strong>do</strong>s<br />
constructos organizacionais chaves; (3) geran<strong>do</strong> novos constructos. Além disso, os autores<br />
apontam que os membros das organizações também usam a análise metafórica para descrever<br />
as organizações.<br />
As metáforas são utilizadas para descrever uma experiência ou um objeto, valen<strong>do</strong>-se<br />
de um argumento de que A é como B. Esse processo de comparação, segun<strong>do</strong> Cornelissen<br />
(2006) cria um novo significa<strong>do</strong> ou transfere o significa<strong>do</strong> que A carrega, para B. A metáfora<br />
organizacional é, então, um mo<strong>do</strong> com que os membros examinam os processos e eventos na<br />
organização, usan<strong>do</strong> lentes para perceber, interpretar e compreender o que ocorre na mesma.<br />
Se a metáfora representa A por B, dar a A um significa<strong>do</strong> ou atribu<strong>do</strong> que originariamente não<br />
2