A Tempestade
A Tempestade
A Tempestade
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Soube que o meu zénite depende de uma<br />
Estrela auspiciosa cuja influência,<br />
Se eu deixar de a acarinhar, destruirá<br />
O meu destino. Aqui cessam as questões:<br />
Vejo-te a cair de sono; esse torpor é bom,<br />
Deixa-te ir. Sei bem que não podes escolher.<br />
Vem, meu servo, vem. Posso agora atender-te.<br />
Aproxima-te, meu Áriel, vem.<br />
Entra Áriel<br />
ÁRIEL<br />
Saúde, grande mestre! Saúde, senhor! Venho<br />
Atender aos teus desejos, seja para voar,<br />
Para nadar, para mergulhar no fogo, cavalgar<br />
Nas ondas das nuvens, à tua ordem soberana<br />
Responde Áriel e a sua habilidade.<br />
PRÓSPERO<br />
Áriel,<br />
Levantaste a tempestade, como te ordenei?<br />
ÁRIEL<br />
Em todos os aspectos.<br />
Entrei no navio, primeiro no esporão,<br />
Depois no castelo, no convés, nas cabines,<br />
Tudo inflamei de pavor. Por vezes dividi-me,<br />
Ardendo em vários locais: no mastaréu,<br />
Nas vergas, no gurupés, fui semeando chamas<br />
Até se unirem. Os raios de Júpiter, Deus<br />
Do medonho ribombar dos trovões, nunca foram<br />
Tão rápidos e esquivos. O fogo e o estrondo<br />
Dos sulfúreos rugidos Neptuno pareciam<br />
Cercar, e fazer tremer suas fortes ondas,<br />
e abalar o seu tridente.<br />
PRÓSPERO<br />
Meu bravo espírito!<br />
Quem se mostrou firme e constante, não deixando<br />
O tumulto perturbar sua razão?<br />
ÁRIEL<br />
Ninguém<br />
Deixou de sentir a febre da loucura. Todos<br />
Desesperaram. Todos, menos os marinheiros,<br />
Mergulharam no espumoso mar, deixando<br />
O navio que inflamei. O filho do rei,<br />
Com os cabelos em pé - que pareciam caniços -<br />
- foi o primeiro a saltar, gritando: O inferno<br />
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