Gênero no texto visual: a (re)produção de significados nas imagens ...
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(particularmente quando está na casa <strong>de</strong>la, e ao brinca<strong>re</strong>m com os travesseiros, sobe em cima da<br />
menina, gerando uma espécie <strong>de</strong> transe/“clima” ent<strong>re</strong> eles). Toda a cena pa<strong>re</strong>ce se congelar, por um<br />
momento, e a menina pe<strong>de</strong> um beijo. Quase que simultaneamente, ouvimos a voz da mãe <strong>de</strong> Debbie<br />
os chamando para <strong>de</strong>sce<strong>re</strong>m, interrompendo o que po<strong>de</strong>ria ter acontecido.<br />
A heterossexualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Billy é f<strong>re</strong>qüentemente marcada <strong>no</strong> filme (<strong>re</strong>forçando assim a<br />
<strong>no</strong>rma da sexualida<strong>de</strong>) talvez na tentativa <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconstruir as coladas idéias <strong>de</strong> bailari<strong>no</strong> e<br />
homossexualida<strong>de</strong>. Nesta tentativa, mostra o seu amigo da infância, ao final do filme, travestido <strong>de</strong><br />
mulher na ida<strong>de</strong> adulta, mas que, nem por isso dançava.<br />
Diante do exposto até então, como Billy torna-se um bailari<strong>no</strong>?<br />
Woodward (2000), comentando acerca da <strong>re</strong>lação ent<strong>re</strong> <strong>re</strong>p<strong>re</strong>sentação e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, diz que<br />
a primeira “inclui as práticas <strong>de</strong> significação e os sistemas simbólicos por meio das quais os<br />
<strong>significados</strong> são produzidos, posicionando-<strong>no</strong>s como sujeitos.” (p.17). O sentido <strong>de</strong> <strong>no</strong>ssa<br />
experiência se dá por meio dos <strong>significados</strong> produzidos pelas <strong>re</strong>p<strong>re</strong>sentações.<br />
Para Billy se tornar um homem adulto e bailari<strong>no</strong> terá <strong>de</strong> fazer escolhas – mas é importante<br />
salientar que, na perspectiva teórica assumida nesse trabalho, o sujeito não é “liv<strong>re</strong>” para <strong>de</strong>cidir o<br />
que bem quiser, já que está semp<strong>re</strong> imiscuído numa <strong>re</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> po<strong>de</strong><strong>re</strong>s e sabe<strong>re</strong>s. Assim, as<br />
expectativas do pai (bem como as das outras pessoas ao <strong>re</strong>dor <strong>de</strong> Billy) são <strong>de</strong>positadas <strong>no</strong> meni<strong>no</strong><br />
– na di<strong>re</strong>ção da heterossexualida<strong>de</strong> e do cumprimento dos <strong>de</strong>vidos papéis sociais “<strong>de</strong>stinados” a um<br />
filho <strong>de</strong> minerador. Nesse sentido, Louro (2001) comenta que a socieda<strong>de</strong> busca, intencionalmente,<br />
através <strong>de</strong> um amplo investimento cultural, “fixar” uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> masculina ou feminina “<strong>no</strong>rmal”<br />
e duradoura: a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> heterossexual.<br />
Mas Billy não só <strong>re</strong>siste (i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> como <strong>re</strong>sistência) como também escolhe (i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />
como escolha) uma outra i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> para si (WEEKS, 2001), interpelado por uma série <strong>de</strong> outros<br />
fato<strong>re</strong>s, situações e <strong>de</strong>sejos que não os do pai. A <strong>re</strong>speito disso, Louro (2001) diz que<br />
(...) múltiplas e distintas i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s constituem os sujeitos, na medida em que<br />
esses são interpelados a partir <strong>de</strong> dife<strong>re</strong>ntes situações, instituições ou agrupamentos<br />
sociais. Reconhecer-se numa i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> supõe, pois, <strong>re</strong>spon<strong>de</strong>r afirmativamente a<br />
uma interpelação e estabelecer um sentido <strong>de</strong> pertencimento a um grupo social <strong>de</strong><br />
<strong>re</strong>ferência. Nada há <strong>de</strong> simples ou <strong>de</strong> estável nisso tudo, pois essas múltiplas<br />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>m cobrar, ao mesmo tempo, lealda<strong>de</strong>s distintas, divergentes ou até<br />
contraditórias. (p.11-12).<br />
Billy escolhe ser um bailari<strong>no</strong> (e essa escolha não tem nada <strong>de</strong> “tranqüila”, “liv<strong>re</strong>”,<br />
“autô<strong>no</strong>ma”, “racional”, “consciente”, etc.) e terá <strong>de</strong> conviver com o rótulo da homossexualida<strong>de</strong> ou<br />
ainda superá-lo. A sua suposta e “natural” condição heterossexual terá <strong>de</strong> ser marcada, extensiva e<br />
ostensivamente, para que assuma esta <strong>no</strong>va i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> (<strong>de</strong> bailari<strong>no</strong>) sem, <strong>no</strong> entanto, ser<br />
consi<strong>de</strong>rado um homossexual. Neste mesmo sentido, Weeks (2001) mostra que os sentimentos e<br />
<strong>de</strong>sejos po<strong>de</strong>m estar profundamente entranhados na escolha <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e que, muitas vezes,