Editorial - Esaf - Ministério da Fazenda
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<strong>Editorial</strong><br />
Por Eugênio Ferraz(*)<br />
C hegamos<br />
ao sétimo número, superando to<strong>da</strong>s as dificul<strong>da</strong>des que costumam enfrentar<br />
as publicações culturais no Brasil, que raramente ultrapassam a marca <strong>da</strong> ‘meia dúzia’, graças à<br />
lúci<strong>da</strong> colaboração de algumas instituições e empresas.<br />
Quanto à garantia <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> revista, nosso esforço é menos dramático e mais prazeroso,<br />
graças à excelência do grupo de intelectuais, pesquisadores e artistas que têm colaborado conosco,<br />
enviando seus textos, suas pesquisas, suas reflexões, suas obras para publicação. Registre-se aqui<br />
a todos o nosso agradecimento.<br />
Depois de comemorar na última edição os 200 anos do <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong>, esta edição <strong>da</strong><br />
Revista do CECO / Casa dos Contos de Ouro Preto agrupa novamente uma sequência de artigos<br />
alusivos a <strong>da</strong>tas expressivas: o centenário de morte do presidente Affonso Penna, em texto do<br />
presidente do Instituto dos Advogados de Minas Gerais, José Anchieta <strong>da</strong> Silva; o centenário de<br />
nascimento do filólogo Aires <strong>da</strong> Mata Machado Filho, celebrado por seu ex-secretário e amigo, o<br />
jornalista José Mendonça; e a morte do Padre Feliciano <strong>da</strong> Costa Simões, um campeão na luta<br />
pela preservação do patrimônio cultural de Ouro Preto, aqui reverenciado em um artigo de<br />
minha autoria e outro do Padre João Francisco Ribeiro.<br />
A história <strong>da</strong> formação de especialistas em restauração no Brasil é disseca<strong>da</strong> pela professora<br />
Beatriz Coelho, uma pioneira no assunto, já que foi a idealizadora, fun<strong>da</strong>dora e diretora do Centro<br />
de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis (Cecor) <strong>da</strong> Escola de Belas-<br />
Artes <strong>da</strong> UFMG.<br />
A história <strong>da</strong> maçonaria em Minas Gerais, no período pré-republicano, também<br />
é conta<strong>da</strong> aqui, incluindo considerações sobre a participação dos maçons em<br />
movimentos como a Inconfidência Mineira e a própria Proclamação <strong>da</strong> República,<br />
pelo promotor Marcos Paulo de Souza Miran<strong>da</strong>, colega do Instituto Histórico e<br />
Geográfico de MG e coodenador <strong>da</strong> Promotoria de Defesa do Patrimônio Histórico<br />
e Turístico de MG.<br />
Na vertente memorialista, tão cara aos mineiros, o escritor José Bento Teixeira<br />
de Salles, <strong>da</strong> Academia Mineira de Letras, nos proporciona uma deliciosa viagem<br />
pela sua Santa Luzia, berço de disputas coloniais históricas e de histórias humanas<br />
enriquecedoras. Sua crônica vem rechea<strong>da</strong> com algumas fotos também históricas,<br />
cedi<strong>da</strong>s pelo médico luziense Márcio de Castro e Silva, presidente <strong>da</strong> Associação<br />
Cultural Comunitária <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de.<br />
Um estudo feito pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia <strong>da</strong> PUC Minas sobre os<br />
equipamentos turísticos existentes ao longo <strong>da</strong> Estra<strong>da</strong> Real ganha aqui um bom resumo, por seus<br />
próprios autores Éder Romagna Rodrigues e Alexandre Magno Alves Diniz, que, inclusive,<br />
mostram o ranking <strong>da</strong>s 20 ci<strong>da</strong>des mais bem situa<strong>da</strong>s.<br />
A revista traz, ain<strong>da</strong>, dois documentos relevantes sobre a preservação do patrimônio brasileiro:<br />
um abaixo-assinado em defesa <strong>da</strong> edificação de um Parque Histórico na Fazen<strong>da</strong> do Pombal,<br />
município de São João del-Rei, local de nascimento de Joaquim José <strong>da</strong> Silva Xavier, o Tiradentes,<br />
redigido por José Antonio Sacramento; e a Carta de Ouro Preto, aprova<strong>da</strong> durante o IV Encontro<br />
Nacional do <strong>Ministério</strong> Público de Defesa do Patrimônio Cultural, realizado em Ouro Preto, com<br />
diretrizes a serem observa<strong>da</strong>s pelos promotores de todo o País.<br />
Finalmente, retomamos a série de entrevistas com personali<strong>da</strong>des de vi<strong>da</strong> brasileira, registrando a<br />
sabedoria de Dom Serafim Fernandes de Araújo, que acaba de completar 50 anos de ordenação<br />
episcopal e tem mais de 60 anos de dedicação à causa <strong>da</strong> educação e <strong>da</strong> cultura brasileiras; na<br />
conversa com o editor, o ‘Cardeal do Vale’ dá ver<strong>da</strong>deira lição de vi<strong>da</strong>, do alto dos 85 anos que<br />
irá completar em agosto.<br />
A edição vem emoldura<strong>da</strong>, a partir <strong>da</strong> capa, por ver<strong>da</strong>deira obra de arte de Glauco Moraes,<br />
que registra, a seu modo e em cores vivas, a nossa Casa dos Contos de Ouro Preto e recebe de nós<br />
um rápido perfil enriquecido com trechos de ensaio de Ivanise Junqueira sobre o autor.<br />
Completam este número o registro do lançamento <strong>da</strong>s comemorações do Ano <strong>da</strong> França no Brasil,<br />
ocorrido na Casa dos Contos, em abril, e as opiniões de leitores <strong>da</strong> última edição e de visitantes do<br />
nosso Centro Cultural, na antiga Vila Rica.<br />
Entregar mais um número <strong>da</strong> Revista do Ceco / Casa dos Contos ao público é sempre um grande<br />
prazer para nós. Esperamos que o mesmo ocorra com você, na leitura.<br />
(*) Gerente<br />
Regional do<br />
<strong>Ministério</strong> <strong>da</strong><br />
Fazen<strong>da</strong> em<br />
Minas Gerais,<br />
também<br />
responsável<br />
pela direção e<br />
administração<br />
<strong>da</strong> Casa<br />
dos Contos;<br />
membro<br />
do Instituto<br />
Histórico e<br />
Geográfico de<br />
Minas Gerais
Índice<br />
A preservação de bens culturais no Brasil: uma trajetória,<br />
por Beatriz Coelho 5<br />
A Maçonaria em Minas Gerais no<br />
período pré-republicano,<br />
por Marcos Paulo de Souza Miran<strong>da</strong> 11<br />
Aires <strong>da</strong> Mata Machado Filho, grande<br />
mestre e maior amigo,<br />
por José Mendonça 18<br />
Elegia Luziense,<br />
por José Bento Teixeira de Salles 21<br />
Serafim, o Cardeal do Vale,<br />
por Manoel Marcos Guimarães 29<br />
A rede de núcleos <strong>da</strong> Estra<strong>da</strong> Real e sua aptidão<br />
para o turismo: um legado a ser desven<strong>da</strong>do,<br />
por Éder Romagna Rodrigues e<br />
Alexandre Magno Alves Diniz 35<br />
Affonso Penna de volta a Santa Bárbara,<br />
por José Anchieta <strong>da</strong> Silva 41<br />
Revista do CECO/Casa dos Contos<br />
Publicação relativa ao Centro de Estudos do Ciclo do Ouro/Casa dos Contos de Ouro Preto. Endereços: GRA-MF/MG - Aveni<strong>da</strong> Afonso Pena,<br />
1316, 7º an<strong>da</strong>r, CEP 30130-003, Belo Horizonte, MG; Casa dos Contos - Rua São José, 12, CEP 35400-000, Ouro Preto, MG, Telefone<br />
(31) 3218-6720; Endereços eletrônicos: gra.mg.gra@fazen<strong>da</strong>.gov.br e casa.dos.contos@fazen<strong>da</strong>.gov.br. Projeto gráfico e editoração<br />
eletrônica: Edições Geraes; Projeto editorial e edição: GM3 Comunicação; Jornalista responsável Manoel Marcos Guimarães MG 01587-JP.;<br />
Direção editorial: Eugênio Ferraz.<br />
4 - CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009<br />
Em sua mais recente exposição, Glauco Moraes explora a figura humana, em cores fortes<br />
Padre Simões: pilar <strong>da</strong> arte e <strong>da</strong> fé,<br />
por Padre João Francisco Ribeiro 44<br />
Haverá museu no Céu,<br />
por Eugênio Ferraz 45<br />
Por um parque histórico para Tiradentes,<br />
por José Antônio de Ávila Sacramento 46<br />
Procuradores aprovam em Ouro Preto diretrizes para<br />
proteção do patrimônio cultural, 49<br />
Glauco Moraes:<br />
As cores fortes e a vi<strong>da</strong> em círculos, 51<br />
Ouro Preto comemora a Revolução Francesa e a<br />
Inconfidência Mineira,<br />
por Eugênio Ferraz 52<br />
Centenário <strong>da</strong> Academia Mineira de Letras 54<br />
Em dia com o Ceco / Manifestações 56<br />
Falam os leitores 58<br />
ARTE GLAUCO MORAES
Arquivo CeCor<br />
A PRESERVAÇÃO DE BENS<br />
CULTURAIS NO BRASIL:<br />
UMA TRAJETÓRIA<br />
Pintura do teto <strong>da</strong> Igreja de São Francisco de Assis, de Ouro Preto, de<br />
Manoel <strong>da</strong> Costa Ataíde, restaura<strong>da</strong> por equipe do Cecor / UFMG.<br />
<br />
CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009 - 5
Restauração<br />
Por Beatriz Coelho (*)<br />
Desde 1742 que,<br />
em gestos isolados,<br />
personagens <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />
pública brasileira<br />
defendiam os nossos<br />
monumentos e já se<br />
manifestavam sobre<br />
a necessi<strong>da</strong>de de<br />
medi<strong>da</strong>s de proteção<br />
ao patrimônio<br />
histórico e artístico<br />
do país. Em outras<br />
palavras, lutavam<br />
pela preservação <strong>da</strong><br />
memória nacional.<br />
Quase cem anos mais<br />
tarde, na Bahia, em<br />
1824, e pouco depois<br />
em Pernambuco,<br />
eram toma<strong>da</strong>s<br />
iniciativas efetivas<br />
para proteção aos<br />
acervos históricos, com<br />
leis que criaram as<br />
Inspetorias Estaduais<br />
de Monumentos<br />
Nacionais.<br />
6 - CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009<br />
S omente a partir de 1920,<br />
no entanto, começaram a surgir<br />
anteprojetos de leis nacionais<br />
visando à defesa de nosso acervo<br />
cultural. Vários motivos, como<br />
choques entre os seus conteúdos,<br />
a Constituição e o Código Civil<br />
<strong>da</strong> época, além de mu<strong>da</strong>nças de<br />
governo, influíram para que essas<br />
medi<strong>da</strong>s não se concretizassem.<br />
A primeira lei federal sobre<br />
o assunto foi o decreto de 1933<br />
que tornou Ouro Preto monumento<br />
nacional. A Constituição de 1937<br />
estabeleceu que “os monumentos<br />
históricos, artísticos e naturais,<br />
Conceito ampliado<br />
O Artigo 1º do Decreto-lei nº 25 diz:<br />
assim como paisagens particularmente<br />
dota<strong>da</strong>s pela natureza, gozam<br />
de proteção e dos cui<strong>da</strong>dos<br />
especiais <strong>da</strong> Nação, dos Estados<br />
e dos Municípios.”<br />
Em janeiro desse mesmo ano<br />
era criado o Serviço do Patrimônio<br />
Histórico e Artístico Nacional<br />
(Sphan) e, em 30 de novembro,<br />
foi finalmente promulgado o Decreto-lei<br />
no 25, que organizou a<br />
proteção do patrimônio histórico<br />
e artístico nacional. O Brasil foi,<br />
assim, o primeiro país <strong>da</strong> América<br />
Latina a organizar as medi<strong>da</strong>s de<br />
defesa do seu patrimônio.<br />
“Constitui o patrimônio histórico e artístico nacional o conjunto<br />
de bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja<br />
de interesse público, quer por seu excepcional valor arqueológico<br />
ou etnográfico, bibliográfico ou artístico.”<br />
Cinquenta e um anos depois, a Constituição de 1988, em seu<br />
artigo 216, ampliou o conceito de patrimônio ao definir que “Constituem<br />
patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e<br />
imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de<br />
referência à identi<strong>da</strong>de, à ação, à memória dos diferentes grupos<br />
formadores <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de brasileira, nos quais se incluem: I - as<br />
formas de expressão; II - os modos de criar, fazer e viver; III - as<br />
criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV - as obras, objetos,<br />
documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações<br />
artístico-culturais; V - os conjuntos urbanos e sítios de valor<br />
histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico,<br />
ecológico e científico.”
Restauração<br />
Intelectuais<br />
e heróis<br />
Idealizado e criado pelo então ministro<br />
<strong>da</strong> Educação e Saúde Pública Gustavo<br />
Capanema (na época com apenas 37<br />
anos), o Serviço do Patrimônio Histórico<br />
e Artístico Nacional contou desde sua<br />
criação com a colaboração de importantes<br />
intelectuais brasileiros, como Mário<br />
de Andrade – autor do projeto- , os arquitetos<br />
Lúcio Costa e Oscar Niemeyer,<br />
os poetas Manuel Bandeira, Oswald de<br />
Andrade e Carlos Drummond de Andrade,<br />
e os intelectuais Afonso Arinos e<br />
Rodrigo Mello Franco de Andrade, este<br />
último responsável, durante 30 anos, por<br />
sua direção.<br />
Dedicaram também grande parte de<br />
sua vi<strong>da</strong> à causa <strong>da</strong> preservação <strong>da</strong><br />
memória nacional Airton Carvalho e José<br />
Ferrão Castelo Branco, em Pernambuco;<br />
João José Rescala, na Bahia; Edson<br />
Motta, Renato Soeiro, Augusto Carlos<br />
<strong>da</strong> Silva Telles, Lygia e Judith Martins,<br />
no Rio de Janeiro; Sylvio Vasconcellos,<br />
em Minas Gerais; e Luís Saia, em São<br />
Paulo, para citar apenas os de maior<br />
destaque.<br />
A falta crônica de verbas e a luta<br />
contra interesses de particulares e, às<br />
vezes, de setores do próprio governo,<br />
fizeram com que os esforços do hoje<br />
Instituto do Patrimônio Histórico Artístico<br />
Nacional (Iphan) se concentrassem<br />
quase exclusivamente no inventário e<br />
tombamento (registro no livro de tombos)<br />
de monumentos arquitetônicos e na<br />
restauração de obras em fase já muito<br />
grave de deterioração. Convém lembrar<br />
que nas déca<strong>da</strong>s de 1940 e 1950 o<br />
Brasil não dispunha de boas estra<strong>da</strong>s e<br />
que era difícil e, muitas vezes penosa, a<br />
locomoção para pontos distantes para se<br />
fazer o estudo, a documentação e, algumas<br />
vezes, a restauração dos monumentos.<br />
Por isso mesmo, essa foi considera<strong>da</strong><br />
a fase heróica do Patrimônio no Brasil.<br />
FOTOS BEATRIZ COELHO<br />
Antes<br />
Detalhe<br />
do teto <strong>da</strong><br />
Igreja de São<br />
Francisco<br />
de Assis de<br />
Ouro Preto<br />
Depois<br />
<br />
CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009 - 7
Restauração<br />
I<strong>da</strong>s e vin<strong>da</strong>s institucionais<br />
Imagem de<br />
Nossa Senhora<br />
<strong>da</strong> Pie<strong>da</strong>de,<br />
de Felixlândia,<br />
atribuí<strong>da</strong> ao<br />
Aleijadinho;<br />
restauração<br />
feita pelo Cecor<br />
em 2001, sob a<br />
coordenação de<br />
Beatriz Coelho<br />
<br />
8 - CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009<br />
Em 1970 e em 1971, por convocação<br />
do então ministro <strong>da</strong> Educação,<br />
Jarbas Passarinho, houve duas reuniões<br />
de governadores - a primeira em Brasília<br />
e a segun<strong>da</strong> em Salvador - nas quais<br />
foram toma<strong>da</strong>s importantes decisões<br />
para a preservação do patrimônio, a<br />
formação de restauradores e a destinação<br />
de verbas para pesquisa na área,<br />
envolvendo o então Conselho Nacional<br />
de Pesquisas (CNPq) e a Coordenação<br />
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível<br />
Superior (Capes). Em 1973, a Secretaria<br />
de Planejamento <strong>da</strong> Presidência <strong>da</strong> República<br />
– hoje <strong>Ministério</strong> do Planejamento<br />
–, por iniciativa do ministro João Paulo<br />
dos Reis Veloso, criou o Programa de<br />
Ci<strong>da</strong>des Históricas (PCH), que trouxe<br />
reforço financeiro e iniciou nova etapa<br />
na preservação do patrimônio cultural,<br />
inicialmente no Nordeste e, a partir de<br />
1977, ampliando suas ativi<strong>da</strong>des e recursos<br />
para os estados de Minas Gerais,<br />
Rio de Janeiro e Espírito Santo. Logo<br />
após, o programa abrangia todo o país,<br />
passando a atuar em ligação com a Empresa<br />
Brasileira de Turismo (Embratur),<br />
a Superintendência de Desenvolvimento<br />
do Nordeste (Sudene) e a Comissão<br />
Nacional <strong>da</strong>s Regiões Metropolitanas<br />
(CNPU).<br />
Em 1979, por iniciativa de Aloísio<br />
Magalhães, foi cria<strong>da</strong> a Fun<strong>da</strong>ção<br />
Nacional Pró-Memória, que reuniu<br />
as experiências e o pessoal<br />
do Iphan, do PCH e<br />
do Centro Nacional de<br />
Referência Cultural, que<br />
havia sido criado também<br />
por Aloísio Magalhães e<br />
que tinha como objetivo<br />
principal a preservação<br />
<strong>da</strong>s tradições, do saber<br />
e do fazer populares, ou<br />
seja, do que hoje chamamos<br />
de bens imateriais.<br />
A Fun<strong>da</strong>ção Nacional<br />
Pró-Memória trouxe um aumento dos<br />
recursos humanos e financeiros para a<br />
defesa dos bens culturais e modificações<br />
importantes na política e na metodologia<br />
de trabalho adota<strong>da</strong>s anteriormente.<br />
Em 1985, no governo de José Sarney,<br />
foi criado o <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> Cultura.<br />
Lamentavelmente, em 1990, no início do<br />
governo de Fernando Collor de Mello, o<br />
<strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> Cultura, a Fun<strong>da</strong>ção Pró-<br />
Memória e a então Secretaria do Patrimônio<br />
Histórico e Artístico Nacional (Sphan)<br />
foram extintos, sendo substituídos pelo<br />
Instituto Brasileiro de Patrimônio Cultural<br />
(IBPC) que teve vi<strong>da</strong> curta. Essa situação<br />
foi reverti<strong>da</strong> no governo do presidente<br />
Itamar Franco, em 19 de novembro de<br />
1992, quando voltou também a funcionar<br />
o Instituto do Patrimônio Histórico e<br />
Artístico Nacional (Iphan), mas não a<br />
Fun<strong>da</strong>ção Nacional Pró-Memória.<br />
Antes
Restauração<br />
Profissional reconhecido<br />
Na déca<strong>da</strong> de 1970, um grande<br />
passo foi <strong>da</strong>do em relação à preparação<br />
formal de recursos humanos para a intervenção<br />
direta em nossos bens culturais.<br />
Como resultado de convênios entre o<br />
Iphan e algumas universi<strong>da</strong>des e apoio<br />
<strong>da</strong> UNESCO, foram promovidos cursos<br />
para a formação de pessoal para a restauração<br />
de monumentos: o primeiro em<br />
São Paulo, em 1975, seguido por outros<br />
em Recife, em 1976, em Belo Horizonte,<br />
em 1978 e na Bahia, em 1981. Este último<br />
permanece em ativi<strong>da</strong>de, como Curso<br />
A formação de restauradores<br />
de obras de arte e documentos<br />
sobre papel tomou impulso<br />
com a criação, na Escola de<br />
Belas-Artes <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de<br />
Federal de Minas Gerais<br />
(UFMG), em 1978, do<br />
curso de especialização<br />
(que<br />
exigia, portanto,graduação<br />
prévia em<br />
curso universi-<br />
Depois<br />
de Especialização em Conservação e<br />
Restauração de Monumentos e Conjuntos<br />
Históricos (Cecre).<br />
Já para a formação de pessoal de<br />
bens culturais móveis, haviam sido cria<strong>da</strong>s<br />
na déca<strong>da</strong> de 1950, pelos professores<br />
Edson Motta, na Universi<strong>da</strong>de<br />
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e João<br />
José Rescala, na Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong><br />
Bahia (UFBA), disciplinas de restauração<br />
de pinturas e de obras sobre papel, que<br />
passaram a complementar a formação<br />
dos alunos do curso de Belas-Artes.<br />
Em 1970 foi criado, na Fun<strong>da</strong>ção de Arte de Ouro Preto (Faop),<br />
por iniciativa e sob a orientação do conhecido restaurador Jair<br />
Afonso Inácio, do Iphan, um curso livre para a formação de<br />
restauradores de pinturas, esculturas e bens integrados.<br />
tário) em Conservação e Restauração<br />
de Bens Culturais Móveis.<br />
Dois anos depois foi criado,<br />
na mesma Escola, o Centro<br />
de Conservação e Restauração<br />
de Bens Culturais<br />
Móveis, o Cecor, que uniu<br />
conservadores e restauradores,<br />
historiadores de<br />
arte e cientistas.<br />
<strong>da</strong> UFMG e<br />
de outras<br />
instituições,<br />
para o est<br />
u d o d a s<br />
obras de arte<br />
e as ativi<strong>da</strong>des<br />
de restauração.<br />
O curso<br />
do Cecor, como<br />
é conhecido,<br />
preparou e prepara<br />
até hoje<br />
profissionais<br />
<strong>da</strong> conservação<br />
e <strong>da</strong><br />
restauração<br />
para quase<br />
todos os estados brasileiros e veio<br />
mu<strong>da</strong>r o conceito que se tinha<br />
no Brasil do restaurador de bens<br />
móveis: antes considerado mero<br />
artesão, com muita habili<strong>da</strong>de<br />
e paciência, passou a ser visto<br />
como um profissional de nível<br />
universitário, capaz de dialogar<br />
com qualquer outro sobre a preservação<br />
de patrimônio, incluindo<br />
critérios, materiais e técnicas de<br />
intervenção.<br />
Outro passo importante foi<br />
a criação, em 1980, no Rio de<br />
Janeiro, <strong>da</strong> Associação Brasileira<br />
de Conservadores e Restauradores<br />
de Bens Culturais, a Abracor, que<br />
passou a reunir, como associados<br />
e em congressos, restauradores de<br />
todo o país, publicando, bianualmente,<br />
seus estudos e trabalhos.<br />
Hoje, os congressos <strong>da</strong> Abracor<br />
têm caráter internacional, com<br />
participação de conservadores e<br />
restauradores e cientistas <strong>da</strong> conservação<br />
<strong>da</strong> América Latina e de<br />
outros países.<br />
<br />
CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009 - 9
Restauração<br />
No Brasil de hoje, já no início do<br />
século XXI, há maior consciência sobre o<br />
valor e a necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> preservação de<br />
nosso patrimônio, que abrange, de fato<br />
e de direito, desde a Constituição de<br />
1988, aspectos arqueológicos, paisagísticos,<br />
históricos, artísticos e artesanais,<br />
bem como saberes e manifestações do<br />
povo brasileiro.<br />
Desde 1986 teve início também a<br />
preocupação com a conservação preventiva.<br />
Em muitos cursos de arquitetura, museologia,<br />
biblioteconomia e artes visuais<br />
vêm sendo ministra<strong>da</strong>s disciplinas que<br />
iniciam os alunos no conhecimento do<br />
patrimônio brasileiro e na sua conservação<br />
e restauração. Na UFBA e na UFMG<br />
existem atualmente dois mestrados e<br />
dois doutorados que têm a Conservação<br />
como uma de suas áreas de concentração.<br />
Em 2008 começou a funcionar na<br />
UFMG o primeiro curso de graduação<br />
do país, em nível de bacharelado, em<br />
Conservação e Restauração de Bens<br />
Culturais Móveis.<br />
Atualmente, os recursos financeiros e<br />
de pessoal destinados à conservação e<br />
(*) Beatriz Coelho<br />
é conservadora e restauradora,<br />
Professora Emérita <strong>da</strong> Escola de Belas-Artes <strong>da</strong> UFMG;<br />
foi fun<strong>da</strong>dora e primeira diretora do<br />
Centro de Conservação e Restauração de Bens Culturais<br />
Móveis <strong>da</strong> UFMG (Cecor).<br />
Santa Ceia, de Manoel <strong>da</strong> Costa Ataíde, no<br />
Colégio do Caraça, restaura<strong>da</strong> pelo Cecor<br />
Mais consciência, poucos recursos<br />
preservação do patrimônio continuam<br />
escassos, embora ampliados com as ativi<strong>da</strong>des<br />
cobertas pelas leis de incentivo<br />
à Cultura, tanto no nível federal quanto<br />
no estadual e municipal. A maior parte<br />
dos trabalhos de conservação e restauração,<br />
mesmo quando urgentes, depende<br />
ain<strong>da</strong> do apoio de grandes empresas,<br />
que, por sua vez, aprovam e liberam<br />
recursos apenas quando se beneficiam<br />
com as leis de incentivo, terminando,<br />
desse modo, por estabelecer diretrizes e<br />
políticas para a preservação.<br />
O Iphan dispõe de número insignificante<br />
de conservadores e restauradores<br />
pata atender às necessi<strong>da</strong>des de acompanhamento<br />
e fiscalização dos trabalhos<br />
que se realizam.<br />
Entretanto, é preciso reconhecer que<br />
os conceitos e as ativi<strong>da</strong>des de preservação<br />
do patrimônio evoluíram muito<br />
no Brasil, com formação adequa<strong>da</strong> de<br />
profissionais, culminando com a aprovação<br />
pelo Senado, em 2008, <strong>da</strong> lei de<br />
reconhecimento e de regulamentação <strong>da</strong><br />
profissão de conservador / restaurador<br />
de bens culturais móveis.<br />
CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009 - 10
História<br />
Por Marcos Paulo de Souza Miran<strong>da</strong> (*)<br />
A MAÇONARIA<br />
em Minas Gerais no<br />
“Chafariz maçônico”<br />
erigido em canga<br />
de ferro, onde estão<br />
representados três<br />
triângulos equiláteros<br />
concêntricos<br />
período pré-republicano<br />
Quando a<br />
Maçonaria teria se<br />
instalado, enquanto<br />
instituição, no solo<br />
<strong>da</strong>s Minas Gerais?<br />
A resposta exata<br />
para tal in<strong>da</strong>gação<br />
talvez seja um<br />
dos maiores<br />
desafios que se<br />
colocam ante<br />
os historiadores<br />
que investigam<br />
as origens<br />
dessa instigante<br />
Ordem iniciática,<br />
filantrópica e<br />
progressista nas<br />
terras <strong>da</strong>s alterosas.<br />
CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009 - 11
História<br />
Detalhe do belo painel maçônico existente no interior <strong>da</strong> Igreja de<br />
Santa Luzia – MG, construí<strong>da</strong> no século XVIII<br />
Símbolos maçônicos gravados no cabo de uma antiga colher<br />
<br />
12 - CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009<br />
N ão temos dúvi<strong>da</strong>s de que já no<br />
século XVIII existiam muitos maçons na<br />
Capitania <strong>da</strong>s Minas Gerais.<br />
A propósito, vários e inusitados registros<br />
materiais a tal respeito sobreviveram<br />
ao passar dos séculos, merecendo destaque<br />
o painel maçônico esculpido em madeira<br />
e folheado a ouro existente oculto<br />
por detrás do altar dedicado a São José,<br />
na Igreja Matriz de Santa Luzia, onde<br />
estão representados símbolos maçônicos<br />
indiscutíveis, tais como o compasso, o<br />
esquadro, flores de acácia, romãs e a<br />
cor<strong>da</strong> de nós.<br />
Em Ouro Preto, no quintal de uma<br />
casa particular, existe um “chafariz maçônico”<br />
erigido em canga de ferro, onde<br />
estão representados três triângulos equiláteros<br />
concêntricos. Também na velha<br />
capital de Minas foi encontra<strong>da</strong>, durante<br />
a realização de escavação, uma antiga<br />
colher metálica com diversos símbolos<br />
maçônicos (esquadro, compasso, estrela<br />
de seis pontas, sol, lua e um enigmático<br />
brasão) gravados em seu cabo.<br />
Entretanto, são raros, quase inexistentes<br />
mesmo, os indícios de que os maçons<br />
<strong>da</strong>quela época estivessem formalmente<br />
organizados entre si e vinculados a um<br />
órgão central regularmente constituído,<br />
como preconizado pela Constituição de<br />
Anderson, normativa maçônica do início<br />
<strong>da</strong>quele século.<br />
“Pedreiros livres”, porém reprimidos<br />
Para entender o porquê <strong>da</strong> escassez<br />
de provas a tal respeito é preciso ressaltar<br />
que as ativi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> Maçonaria no<br />
período de 1738-1823 eram terminantemente<br />
ve<strong>da</strong><strong>da</strong>s pela poderosa Igreja<br />
Católica e também pelo Governo Portu-<br />
guês, sendo os maçons perseguidos com<br />
grande virulência.<br />
Em 28 de abril de 1738 o Papa<br />
Clemente XII, por meio <strong>da</strong> Bula In<br />
Eminenti Apostolatus Specula condenou<br />
a Maçonaria por seus segredos,
História<br />
proibindo os católicos de frequentarem<br />
ou participarem de suas ativi<strong>da</strong>des. Em<br />
28 de setembro do mesmo ano, uma<br />
Provisão do Inquisidor Geral de Portugal,<br />
Nuno <strong>da</strong> Cunha, noticiava o ato do Papa<br />
reprovando “umas certas socie<strong>da</strong>des e<br />
agregações intitula<strong>da</strong>s De Liberi Muratori,<br />
vulgo pedreiros livres”, determinando que<br />
se fizesse cumprir a dita ordem em todo o<br />
Reino de Portugal, incluindo obviamente o<br />
Brasil. Como se não bastasse, em 18 de<br />
maio de 1751 o Papa Benedito XIV lançou<br />
contra a Maçonaria a Bula Provi<strong>da</strong>s<br />
Romanorum Pontificium, confirmando o<br />
Disfarce nas academias<br />
Fato ain<strong>da</strong> pouco conhecido e estu<strong>da</strong>do<br />
é o de que o inconfidente mineiro<br />
Cláudio Manoel <strong>da</strong> Costa - utilizando-se<br />
do pseudônimo Glauceste Satúrnio - fundou,<br />
no ano de 1768, em Vila Rica, a<br />
Arcádia Ultramarina, instituição subordina<strong>da</strong><br />
à Árcádia Romana. Sabe-se que<br />
os integrantes (dentre os quais estavam<br />
Tomás Antônio Gonzaga, Manuel Inácio<br />
Silva Alvarenga, Inácio José de Alvarenga<br />
Peixoto e Domingos Vi<strong>da</strong>l de Barbosa<br />
Lage, todos envolvidos com a Inconfidência)<br />
possuíam nomes simbólicos e que<br />
suas composições literárias reclamavam<br />
melhor sorte para Minas e para o Brasil,<br />
não se restringindo ao mero lirismo.<br />
Registre-se que Cláudio era também membro<br />
<strong>da</strong> Academia Brasílica dos Renascidos,<br />
sedia<strong>da</strong> na Bahia, socie<strong>da</strong>de que<br />
acabou sendo fecha<strong>da</strong> por determinação<br />
do governo português principalmente em<br />
razão do envolvimento com militares maçons<br />
franceses.<br />
A Arcádia Ultramarina teria sido, para<br />
alguns autores, a primeira instituição<br />
paramaçônica a congregar “pedreiroslivres”<br />
em Minas Gerais. A propósito,<br />
percebem os leitores mais atentos que<br />
na poesia de Cláudio Manuel <strong>da</strong> Costa<br />
teor <strong>da</strong> bula expedi<strong>da</strong> em 1738, o que<br />
implicou em recrudescimento <strong>da</strong> perseguição<br />
aos maçons.<br />
Em razão <strong>da</strong> forte repressão <strong>da</strong> Igreja<br />
aos chamados “pedreiros livres”, não<br />
se concebia a publici<strong>da</strong>de de Lojas ou<br />
de agrupamentos maçônicos explícitos,<br />
o que levou os obreiros <strong>da</strong> Arte Real a<br />
procurarem formas diferentes e disfarça<strong>da</strong>s<br />
para se reunirem, o que se deu,<br />
sobretudo, através <strong>da</strong> criação de “Academias”<br />
supostamente dedica<strong>da</strong>s às<br />
pesquisas científicas e a manifestações<br />
literárias.<br />
existem mensagens e inserções altamente<br />
significativas sob a ótica maçônica,<br />
o que evidencia – ao menos – o seu<br />
conhecimento sobre parte <strong>da</strong> doutrina e<br />
<strong>da</strong> simbologia <strong>da</strong> Ordem.<br />
Enquanto Cláudio versejava em Vila<br />
Rica, na Europa as perseguições aos<br />
maçons se acirravam.<br />
Veja-se a título de exemplo esse trecho do Epicédio I:<br />
Estes frutos são dessa doutrina,<br />
Que bebeste na cândi<strong>da</strong> oficina<br />
De uma ética inata: ali se alcança<br />
Aquela inalterável confiança,<br />
Que em ti saber firmar, mostrando ao mundo,<br />
Com desprezo <strong>da</strong> inveja, o mais profundo,<br />
Positivo esplendor, que te reserva,<br />
Superior à emulação proterva.<br />
Buscas o Autor <strong>da</strong> nobre arquitetura?<br />
Queres saber quem ergue essa estrutura,<br />
O dórico, o coríntio frontispício?<br />
Esse mármore o diga: mas o indício<br />
Na pedra se não grava: eh! que a pie<strong>da</strong>de<br />
Lhe encurtou esse alento na vai<strong>da</strong>de.<br />
<br />
CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009 - 13
História<br />
14 - CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009<br />
Perseguidos na Europa<br />
Em 1777, Francisco de Melo Franco,<br />
brasileiro nascido em Paracatu, Minas<br />
Gerais, em 17/09/1757, e estu<strong>da</strong>nte<br />
de Filosofia e Medicina em Coimbra, foi<br />
preso pelo Tribunal do Santo Ofício e<br />
acusado de herege, naturalista, deísta,<br />
blasfemo, apóstata, tolerante e dogmático<br />
pelo fato de, juntamente com outros<br />
colegas, alunos do Professor Domingos<br />
Vandelli (líder maçom, amigo e mestre de<br />
diversos estu<strong>da</strong>ntes brasileiros que passaram<br />
por Coimbra), não seguir o preceito<br />
de abstinência <strong>da</strong> quaresma, reunindo-se<br />
alta noite em casas uns dos outros e, às<br />
vezes, no Laboratório de Química<br />
<strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de,<br />
para comerem presuntos e lerem Rosseau<br />
e outros autores considerados hereges.<br />
Somente depois de cumprir quatro anos<br />
de detenção em Rilhafoles, Francisco de<br />
Melo Franco obteve licença para retomar<br />
seus estudos, formando-se em medicina<br />
em 1796.<br />
Em 1791 outro mineiro foi alcançado<br />
pelas malhas <strong>da</strong> Inquisição pelo cometimento<br />
do “crime de maçonaria”. Foi o<br />
Padre Francisco <strong>da</strong> Silva Queiroz e Vasconcellos,<br />
natural de Mariana, com 44<br />
anos, Clérigo Subdiácono e Cônego <strong>da</strong>s<br />
Sés de Guar<strong>da</strong> e Lisboa, mestre maçom<br />
iniciado em Lisboa no ano anterior, que<br />
passou a responder a processo perante<br />
o Tribunal do Santo Ofício.<br />
Em março de 1787 sabe-se que o<br />
carioca José Joaquim <strong>da</strong> Maia, estu<strong>da</strong>nte<br />
em Montpellier e emissário de negociantes<br />
brasileiros na França, valendo-se do<br />
pseudônimo (ou, mais provavelmente,<br />
nome maçônico simbólico) Vendek,<br />
conseguiu se corresponder e falar pessoalmente<br />
com Thomas Jefferson, maçom<br />
e então Ministro dos EUA na França, a<br />
quem pediu apoio para a “revolução que<br />
se pretendia fazer no Brasil”, movimento<br />
que aqui ficaria conhecido como “Inconfidência<br />
Mineira”.<br />
Documento <strong>da</strong> Intendência de polícia de Portugal<br />
comprova que quatro dos inconfidentes mineiros,<br />
degre<strong>da</strong>dos para Angola e Moçambique, eram maçons
História<br />
Conexão inconfidente,<br />
de olho no lucro<br />
É sabido que José Joaquim <strong>da</strong> Maia<br />
foi à França representando fortes comerciantes<br />
sediados no Rio de Janeiro, que<br />
tinham extremo interesse na independência<br />
do Brasil a fim de que pudessem<br />
auferir maiores lucros com a abertura<br />
dos portos deste país ao comércio externo.<br />
Aqueles comerciantes mantinham<br />
contatos próximos com os mineiros de<br />
Vila Rica envolvidos no movimento inconfidente,<br />
demonstrando que havia uma<br />
articulação bastante estrutura<strong>da</strong> nas duas<br />
Capitanias em prol <strong>da</strong> independência<br />
do país, a qual era busca<strong>da</strong> por uns em<br />
razão de interesses econômicos e, por<br />
outros, em razão de convicções políticas<br />
e filosóficas.<br />
Na resposta dirigi<strong>da</strong> por Thomas<br />
Jefferson a Vendek, <strong>da</strong>ta<strong>da</strong> de Paris, 28<br />
de dezembro de 1786, o Ministro americano<br />
fez questão de apor a tripontuação<br />
maçônica (sinal maçônico identificador)<br />
à sua assinatura – o que não se verifica<br />
em outros documentos por ele subscritos,<br />
o que evidencia claramente a presença<br />
<strong>da</strong> Ordem Maçônica já nas primeiras<br />
tratativas sobre o movimento rebelde que<br />
se pretendia deflagrar no Brasil.<br />
A carta dirigi<strong>da</strong> por Jefferson a Vendek<br />
vem robustecer uma interessante informação<br />
conti<strong>da</strong> em um relatório de 15 de agosto de<br />
1802 integrante <strong>da</strong> devassa aberta para<br />
se apurar a atuação de uma Loja Maçônica<br />
estabeleci<strong>da</strong> em Lisboa, denomina<strong>da</strong><br />
Cavaleiros <strong>da</strong> Espa<strong>da</strong> no Oriente:<br />
“Hé certo que to<strong>da</strong>s as sublevações que<br />
nestes últimos tempos tem havido na<br />
Europa, na América Septentrional e em<br />
Marrocos forão traça<strong>da</strong>s na grande loja<br />
[maçônica] <strong>da</strong> mesma América e nas<br />
de Pariz e Londres, fazendo-se mais remarcáveis<br />
a <strong>da</strong> América, a do Imperador<br />
do Marrocos, a <strong>da</strong> França e ultimamente<br />
a que maquinarão a El Rey de Inglaterra<br />
os chamados Irlandeses illuminados...”<br />
Vendek parece ter conseguido conquistar<br />
a simpatia de Jefferson, pois este,<br />
em 04 de maio de 1787, de Marselha,<br />
enviou um extenso relatório ao Secretário<br />
de Estado dos Estados Unidos, John Jay,<br />
demonstrando-se bastante favorável à<br />
possibili<strong>da</strong>de de apoiar o Brasil no caso<br />
de uma revolução, dizendo inclusive que<br />
“uma revolução bem sucedi<strong>da</strong> no Brasil<br />
não poderia deixar de interessar-nos”.<br />
Mesmo depois <strong>da</strong> prematura morte de<br />
José Joaquim Maia (ocorri<strong>da</strong> em Portugal<br />
em 1788) e de descoberto o movimento<br />
inconfidente em Minas Gerais, o maçom<br />
Thomas Jefferson permaneceria interessado<br />
em auxiliar a independência do Brasil,<br />
pois em 11 de abril de 1791 (com os<br />
inconfidentes mineiros presos no Rio de<br />
Janeiro e agora já ocupando o cargo de<br />
Ministro de Estado) escrevia secretamente<br />
<strong>da</strong> Filadélfia ao Coronel David Humphreys<br />
(1752-1818), secretário de Estado<br />
em missão no Rio de Janeiro, que havia<br />
sido acusado pela Intendência Geral de<br />
Polícia de Lisboa como maçom, dizendolhe:<br />
“Man<strong>da</strong>i-nos to<strong>da</strong>s as informações<br />
possíveis acerca <strong>da</strong> força, riqueza, recursos,<br />
ilustração e disposições do Brasil. O<br />
ciúme <strong>da</strong> Corte de Lisboa a este respeito<br />
há de, necessariamente, inspirar as caute-<br />
Documento<br />
oficial de 1824<br />
comprova o<br />
funcionamento<br />
<strong>da</strong> Loja<br />
Maçônica<br />
“Mineiros<br />
Reunidos” em<br />
Ouro Preto<br />
<br />
CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009 - 15
História<br />
las necessárias ao fazer e comunicar<br />
essas averiguações”.<br />
Trata-se de documento praticamente<br />
desconhecido dos historiadores<br />
brasileiros e sugere que<br />
as influências norte-americanas<br />
- de caráter maçônico, inclusive<br />
- sobre os destinos do Brasil<br />
podem ter sido bem maiores do<br />
que se pode imaginar.<br />
Naquela ocasião já se encontravam<br />
presos no Rio de Janeiro<br />
os principais personagens<br />
do movimento <strong>da</strong> Inconfidência<br />
Mineira que pretendia a emancipação<br />
do Brasil de Portugal<br />
e teria sido fortemente influen-<br />
A primeira loja e o reconhecimento oficial<br />
No dia 24 de novembro de<br />
1821 foi instala<strong>da</strong> em Vila Rica,<br />
atual ci<strong>da</strong>de de Ouro Preto, a<br />
Loja Mineiros Reunidos, sendo<br />
esta a primeira Loja Maçônica<br />
oficial conheci<strong>da</strong> em Minas<br />
Gerais.<br />
O primeiro Venerável Mestre<br />
<strong>da</strong> Loja foi o francês Guido<br />
Thomás Marliére, que em 16<br />
de junho de 1822 requereu a<br />
filiação <strong>da</strong> oficina ao Grande<br />
Oriente do Brasil, o que foi deferido,<br />
como consta <strong>da</strong> Ata <strong>da</strong><br />
Sessão Nº 8, de 31 de julho de<br />
1822, do GOB. Desta forma,<br />
a Mineiros Reunidos foi a primeira<br />
Loja do interior a se filiar<br />
ao GOB e Marlière, à época<br />
Cavaleiro Rosa Cruz, nomeado<br />
o primeiro Delegado do Grande<br />
Oriente do Brasil na Província<br />
de Minas Gerais.<br />
Em 20 de julho de 1824 o<br />
16 - CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009<br />
ciado por ideais maçônicos de<br />
alguns de seus participantes.<br />
A propósito, um documento <strong>da</strong><br />
Superintendência de Polícia de<br />
Lisboa, <strong>da</strong>tado de 1803, confirma<br />
que do movimento rebelde<br />
<strong>da</strong> Inconfidência Mineira participaram,<br />
comprova<strong>da</strong>mente,<br />
pelo menos quatro maçons que<br />
foram degre<strong>da</strong>dos para Moçambique<br />
e Angola, os quais<br />
seriam, provavelmente, Tomás<br />
Antônio Gonzaga, Inácio José<br />
de Alvarenga Peixoto, Domingos<br />
Vi<strong>da</strong>l de Barbosa Lage e<br />
José Álvares Maciel.<br />
Com a eclosão em 1817 <strong>da</strong><br />
Revolução Pernambucana, movimento<br />
em que a Maçonaria se<br />
Presidente <strong>da</strong> Província de Minas<br />
Gerais, José Teixeira <strong>da</strong> Fonseca<br />
Vasconcellos, encaminhou<br />
ao Imperador representação <strong>da</strong><br />
diretoria Loja Maçônica Minei-<br />
destacou e que foi severamente<br />
reprimido, D. João VI expediu<br />
alvará em 3 de maio de 1818<br />
declarando criminosas e proibi<strong>da</strong>s<br />
to<strong>da</strong>s e quaisquer socie<strong>da</strong>des<br />
secretas e determinando<br />
pena de morte a seus integrantes<br />
e aos que participassem de<br />
suas ativi<strong>da</strong>des.<br />
Mas mesmo premidos pelas<br />
proibições religiosas e civis os<br />
maçons brasileiros e em especial<br />
os de Minas Gerais não deixaram<br />
de exercer seus trabalhos<br />
em busca do aperfeiçoamento<br />
dos seres humanos e de melhorias<br />
para a socie<strong>da</strong>de, norteados<br />
por princípios de igual<strong>da</strong>de,<br />
liber<strong>da</strong>de e fraterni<strong>da</strong>de.<br />
ros Reunidos solicitando autorização<br />
para que a instituição<br />
pudesse continuar a funcionar,<br />
aduzindo que os trabalhos <strong>da</strong><br />
Oficina “não ofendem a boa<br />
ordem e a inteligência” dos habitantes<br />
de Ouro Preto”. Teriam<br />
integrado o quadro pioneiro<br />
dessa Loja, além de Marliére,<br />
o francês João Pascoal, Manoel<br />
de Portugal e Castro, Francisco<br />
Garcia, Antônio Caetano Pinto<br />
Coelho, Carlos Wallestein e<br />
Antônio Buzelem.<br />
Ao que consta, o Imperador,<br />
além de ter consentido com a<br />
continui<strong>da</strong>de dos trabalhos, presenteou<br />
a Loja requerente com<br />
uma bela espa<strong>da</strong> de juramento<br />
repleta de símbolos maçônicos,<br />
ver<strong>da</strong>deiro tesouro histórico<br />
para a Maçonaria Mineira e<br />
que ain<strong>da</strong> sobrevive ao passar<br />
dos anos.
História<br />
Na déca<strong>da</strong> seguinte, várias<br />
outras Lojas começaram a surgir<br />
pela Província de Minas Gerais.<br />
Em 1833, por exemplo, funcionava<br />
em Sabará, na Rua do Fogo,<br />
sob a direção de Francisco Melo<br />
Franco, uma socie<strong>da</strong>de secreta<br />
constituí<strong>da</strong> por “iluminados e<br />
philantropos” que teve grande<br />
participação na trama <strong>da</strong> Sedição<br />
Militar deflagra<strong>da</strong> naquele ano,<br />
pretendendo a restauração de<br />
Pedro I ao Trono Brasileiro. Nos<br />
arquivos <strong>da</strong> Casa de Borba Gato<br />
há uma interessante correspondência<br />
<strong>da</strong>ta<strong>da</strong> de 4 de abril de 1833<br />
em que Francisco de Melo Franco<br />
dirige-se a Dom José <strong>da</strong> Câmara,<br />
chamando-o de “amigo e Ir...”<br />
concitando-o a enviar tropas para<br />
a ci<strong>da</strong>de. Em 4 de maio de 1834<br />
foi instala<strong>da</strong> em Sabará, na casa<br />
do Coronel Pedro Gomes Nogueira,<br />
uma outra socie<strong>da</strong>de secreta<br />
composta por nove irmãos, que<br />
se reuniam no dia primeiro de<br />
ca<strong>da</strong> mês. A sede <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de<br />
foi transferi<strong>da</strong> pouco depois para<br />
a Rua do Caquende, passando<br />
a funcionar na casa de Joaquim<br />
José de Meireles Freire (futuro<br />
Barão de Curvelo). Tais associações<br />
foram ojeriza<strong>da</strong>s pelos<br />
jornais conservadores <strong>da</strong> época,<br />
que afirmavam que a “aversão a<br />
pedreiros livres ain<strong>da</strong> predomina<br />
sobre muitos, que os detestão”.<br />
Mais de duas déca<strong>da</strong>s se passaram<br />
após a fun<strong>da</strong>ção dessas<br />
socie<strong>da</strong>des secretas em Sabará<br />
– cujos nomes e regulari<strong>da</strong>de desconhecemos<br />
- até que uma nova<br />
Loja Maçônica fosse fun<strong>da</strong><strong>da</strong> em<br />
Minas Gerais, o que se deu em<br />
1 de junho de 1859 na ci<strong>da</strong>de<br />
de Uberaba com a instalação <strong>da</strong><br />
“Amparo <strong>da</strong> Virtude”. A partir<br />
<strong>da</strong>í, dezenas de Lojas foram instala<strong>da</strong>s<br />
em to<strong>da</strong>s as regiões do<br />
Estado, contabilizando-se 44 oficinas<br />
maçônicas aqui fun<strong>da</strong><strong>da</strong>s no<br />
período pré-republicano (vide<br />
quadro demonstrativo).<br />
Vários dos obreiros dessas<br />
Lojas tomaram parte em importantes<br />
movimentos nacionais,<br />
tais como a independência<br />
brasileira, a abolição <strong>da</strong> es-<br />
cravatura e a proclamação <strong>da</strong><br />
República, o que reforça a importância<br />
<strong>da</strong> presença <strong>da</strong> Maçonaria<br />
Mineira na construção <strong>da</strong><br />
história de nosso país.<br />
LOJAS FUNDADAS EM MINAS GERAIS<br />
NO PERÍODO PRÉ-REPUBLICANO<br />
NOME CIDADE FUNDAÇÃO<br />
1. Mineiros Reunidos Ouro Preto 24-11-1821<br />
2. Amparo <strong>da</strong> Virtude Uberaba 01-06-1859<br />
3. Loja Jequitinhonha Diamantina 12-06-1867<br />
4. União Democrática Ouro Preto 01-09-1869<br />
5. Fideli<strong>da</strong>de Mineira Juiz de Fora 12-03-1870<br />
6. Perseverança Ouro Preto 1871<br />
7. Beneficência Passos 1871<br />
8. Amparo <strong>da</strong> Virtude II Uberaba 16-05-1872<br />
9. Estrela de Minas Sacramento 1872<br />
10. União Humanitária Central Estrela do Sul 30-10-1872<br />
11. Estrela do Sul de Minas S. Sebastião do Paraíso 1872<br />
12. União Humanitária Central Estrela do Sul 1872<br />
13. A Nova Aurora São Miguel 1872<br />
14. Fraterni<strong>da</strong>de nº 04 Itabira 11-12-1872<br />
15. União Fraternal Barbacena 04-12-1872<br />
16. Asilo <strong>da</strong> Cari<strong>da</strong>de Araxá 16-05-1872<br />
17. Cari<strong>da</strong>de Mineira Mar de Espanha 1873<br />
18. Democracia Perseverante Ouro Preto 1873<br />
19. Tiradentes S. Gonçalo do Sapucaí 1873<br />
20. União e Crença Rio Novo 1873<br />
21. Atalaia do Norte Diamantina 03-12-1873<br />
22. Fraterni<strong>da</strong>de Mineira Rio Pomba 15-12-1873<br />
23. União e Virtude Sabará 12-05-1874<br />
24. Beneficência Passos 07-07-1874<br />
25. Deus e Humani<strong>da</strong>de Itajubá 04-10-1874<br />
26. Aurora e Progresso Grão-Mogol 12-12-1874<br />
27. Trabalho e Honra Campanha 19-11-1874<br />
28. Guilherme Dias Machado 15-06-1875<br />
29. Deus e Cari<strong>da</strong>de Cabo Verde 16-07-1875<br />
30. União e Cari<strong>da</strong>de Prata 24-07-1875<br />
31. Estrela do Oriente Serro 08-12-1875<br />
32. Cari<strong>da</strong>de nº 04 Leopoldina 13-12-1875<br />
33. Brasil Independente Muriaé 04-03-1876<br />
34. Atalaia do Sul Três Pontas 14-12-1876<br />
35. Amor ao Trabalho Andra<strong>da</strong>s 1877<br />
36. Futuro Pouso Alegre 22-01-1877<br />
37. A Flor <strong>da</strong> Viúva Cataguases 18-12-1878<br />
38. União e Fraterni<strong>da</strong>de Rio Pomba 1879<br />
39. Fraterni<strong>da</strong>de Maçônica Rio Pomba 24-05-1879<br />
40. União e Segredo Januarense Januária 15-12-1879<br />
41. Operários <strong>da</strong> Luz Barbacena 13-02-1880<br />
42. Nova Luz Paracatuense Paracatu 13-03-1880<br />
43. Operários <strong>da</strong> Luz Barbacena 1880<br />
44. Cataguazense Cataguases 19-10-1888<br />
(*) Marcos Paulo de Souza Miran<strong>da</strong><br />
é promotor público e sócio efetivo do Instituto Histórico<br />
e Geográfico de Minas Gerais (Cadeira nº 93).<br />
CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009 - 17
Memória<br />
Por José Mendonça (*)<br />
18 - CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009<br />
Aires <strong>da</strong> Mata<br />
Machado Filho,<br />
grande mestre e maior amigo<br />
Muito feliz a iniciativa desta revista de celebrar a memória de Aires<br />
<strong>da</strong> Mata Machado Filho, por motivo de centenário de seu nascimento,<br />
ocorrido no dia 24 de fevereiro de 1909, em São João <strong>da</strong> Chapa<strong>da</strong>,<br />
então distrito de Diamantina. Dessa maneira, o periódico ata os<br />
objetivos do Centro de Estudos do Ciclo do Ouro à pessoa de<br />
um dos mais competentes pesquisadores do Ciclo do Diamante.
Memória<br />
A<br />
falar sobre o filólogo, o escritor, o acadêmico, o professor, o jornalista, o<br />
tradutor, o folclorista e o mais, prefiro agradecer, antes de tudo, as indeléveis lições<br />
de “escrever certo” que dele recebi nos cinco anos<br />
(1940 - 1945) em que fui seu secretário. A respeito<br />
desse período de diária convivência ouso transcrever<br />
parte <strong>da</strong> declaração com que ele justamente me<br />
envaideceu ao atestar, para um concurso de títulos<br />
a que me submeti, em 1974, no Curso de Comunicação<br />
Social <strong>da</strong> UFMG: “No cabal desempenho de<br />
suas funções, [José Mendonça] me auxiliou nas diferentes<br />
ativi<strong>da</strong>des intelectuais de escritor, professor e<br />
jornalista, particularmente em pesquisas arquivísticas<br />
e bibliográficas”.<br />
Certamente foi o pouco que com ele aprendi,<br />
como dedicado coadjutor, que me credenciou a<br />
ser indicado seu Professor Assistente de Filologia<br />
Românica na Facul<strong>da</strong>de de Filosofia, Ciências e<br />
Letras Santa Maria, semente <strong>da</strong> futura Pontifícia<br />
Universi<strong>da</strong>de Católica de Minas Gerais.<br />
Não quero deter-me no ponto em que recordo o<br />
grande mestre que a vi<strong>da</strong> cultural me deparou. Prefiro demorar-me em mencionar as outras<br />
provas de maior amigo que recebi do inolvidável Aires <strong>da</strong> Mata Machado Filho.<br />
“O amanuense amando está”<br />
Desde os remotos tempos em<br />
que vivíamos em Diamantina,<br />
laços íntimos de afeição ligavam<br />
minha família aos Mata Machado,<br />
a começar pelo patriarca Augusto<br />
Aires <strong>da</strong> Mata Machado e esposa,<br />
D. Mariana Flora de Godói<br />
<strong>da</strong> Mata Machado (D. Lola). Já<br />
em Belo Horizonte a amizade se<br />
estreitou com minha admissão em<br />
O Diário, de cuja Re<strong>da</strong>ção era<br />
chefe Edgar de Godói <strong>da</strong> Mata<br />
Machado, que talvez me tenha<br />
indicado para colaborar com o<br />
‘Airesinho’, como era conhecido<br />
na família o grande intelectual. A<br />
intimi<strong>da</strong>de consolidou-se ao longo<br />
dos anos em que trabalhei com o<br />
insigne Mestre.<br />
Jamais poderei esquecer as<br />
manhãs ou tardes amenas (Belo<br />
Horizonte era, àquele tempo, ci-<br />
<strong>da</strong>de de clima mais para frio que<br />
para temperado) em que subia de<br />
bonde até a Aveni<strong>da</strong> Afonso Pena<br />
esquina com Rua Piauí (onde hoje<br />
funciona a Agência ABC do Banco<br />
do Brasil) para trabalhar com<br />
o Aires. O vasto escritório dele<br />
ocupava, com livros em estantes<br />
que subiam até o teto de alto pé<br />
direito, to<strong>da</strong> a facha<strong>da</strong> lateral <strong>da</strong><br />
acolhedora casa paterna. Ali ocorreram<br />
tantos e tão belos episódios<br />
que consoli<strong>da</strong>ram a recíproca<br />
confiança e amizade fraterna<br />
(salvo a petulância) que a ele me<br />
uniram vi<strong>da</strong> afora. Lembro-me até<br />
do convite de D. Lola, lá pelas<br />
14 horas: “Mendonça e Aires, a<br />
meren<strong>da</strong> está pronta”. Sau<strong>da</strong>de...<br />
Não cabe neste espaço recor<strong>da</strong>r<br />
todos os passos memoráveis de<br />
nossa cotidiana convivência. De-<br />
sejo rememorar apenas dois.<br />
Numa <strong>da</strong>quelas frescas manhãs<br />
em que ele vestia sobre o pijama<br />
um sobretudo preto, de cujo<br />
bolso superior pendia a corrente<br />
do relógio, e calçava chinelos, o<br />
Aires <strong>da</strong>va passa<strong>da</strong>s ao comprido<br />
do escritório, enquanto eu lia<br />
não me lembra mais que autor<br />
predileto. De repente ele se detém<br />
diante de minha mesa e diz várias<br />
vezes: “O amanuense amando<br />
está.” Era o título do § 11 do<br />
pioneiro romance de Cyro dos<br />
Anjos, talvez então já na segun<strong>da</strong><br />
edição pela José Olympio. Diante<br />
de minha surpresa pelo inopinado<br />
<strong>da</strong> alusão literária, ele afinal<br />
confidenciou: “Eu estou amando<br />
a Maria Solange Mourão de Miran<strong>da</strong>”.<br />
Exultei de alegria: a eleita<br />
<br />
CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009 - 19
Memória<br />
era nossa amiga diamantinense e<br />
filha <strong>da</strong> minha primeira professora<br />
primária, D. Mercedes Mourão de<br />
Miran<strong>da</strong>. Ao fazer-me tal revelação,<br />
Aires me tornava literalmente<br />
seu secretário, aquele que guar<strong>da</strong><br />
um segredo. Previ uma felicíssima<br />
união que, infelizmente, depois de<br />
sacramenta<strong>da</strong> em dias de 1945,<br />
pôs fim ao meu ofício de secretário<br />
e que, desafortuna<strong>da</strong>mente,<br />
terminou em agosto de 1985<br />
num acidente rodoviário que,<br />
paradoxalmente, foi as “bo<strong>da</strong>s de<br />
sangue” do casal exemplar.<br />
Outro acontecimento que considero<br />
digno de ser registrado. Ao<br />
ficar noivo, Aires tratou de construir<br />
seu lar na Rua Siderose (atual<br />
Professor Magalhães Drummond),<br />
no Bairro de Santo Antônio. Tinha<br />
de ir assinar uns papéis, relativos<br />
ao financiamento para a casa, na<br />
única agência <strong>da</strong> Caixa Econômica<br />
Federal à época aqui existente,<br />
na Rua dos Tupinambás. Pediu-me<br />
então: “Vá comigo lá uma vez e,<br />
depois, irei sozinho”. Assim aconteceu:<br />
nós dois fomos de bonde<br />
até a Praça Sete, atravessamos<br />
a Aveni<strong>da</strong> Amazonas à altura do<br />
Cine Brasil e a Rua Rio de Janeiro<br />
para, afinal, chegarmos à CEF.<br />
Ele fez o caminho de volta com<br />
vigilância minha e nunca mais tive<br />
de acompanhá-lo à Caixa.<br />
Por sinal, sempre me causou<br />
admiração o que considero memória<br />
locativa e retentiva do<br />
Aires. Pois não é que, quando<br />
queria citar passagem de livro<br />
de algum autor preferido, pedia<br />
que eu abrisse a página tanta e<br />
fosse lendo os inícios de diversos<br />
parágrafos até deter-me: “Logo na<br />
frente umas (tantas) linhas?” E lá<br />
estava o trecho procurado.<br />
20 - CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009<br />
Lamentáveis omissões<br />
Já é tempo de terminar este<br />
singelo depoimento. Não quero<br />
fazê-lo, entretanto, sem dois reparos:<br />
1º) É lamentável a omissão dos<br />
Governos do Estado de Minas<br />
Gerais e <strong>da</strong> República nas<br />
comemorações que a família<br />
promoveu por motivo do centenário<br />
do Aires. Bastaria o<br />
meritório pioneirismo dele na<br />
educação dos cegos no Estado<br />
e até no País para justificar<br />
homenagens oficiais.<br />
2º) Pelo menos dois livros clássicos<br />
Amor ao livro<br />
de Aires <strong>da</strong> Mata Machado<br />
Filho estão pedindo novas edições<br />
devi<strong>da</strong>mente prepara<strong>da</strong>s<br />
por especialistas: “O Negro<br />
e o Garimpo em Minas” e<br />
“Arraial do Tijuco, Ci<strong>da</strong>de de<br />
Diamantina”. Este último me é<br />
particularmente caro, porque,<br />
durante cerca de dois meses,<br />
ajudei nas pesquisas nos livros<br />
<strong>da</strong>s Irman<strong>da</strong>des (Ordens<br />
Terceiras) de Diamantina, morando,<br />
com Aires, na casa <strong>da</strong><br />
Chica <strong>da</strong> Silva, então proprie<strong>da</strong>de<br />
de tias do escritor.<br />
Tratando de obras escritas por Aires <strong>da</strong> Mata Machado<br />
Filho, ocorre-me transcrever excerto de um ensaio seu sobre<br />
o Livro, para o qual e do qual viveu. Pelo menos o fim deste<br />
artiguete valerá a pena. Eis o trecho:<br />
“O amor ao livro como ser vivente, síntese de reali<strong>da</strong>des,<br />
sonhos e mistérios, faz pensar nos perigos que ameaçam a<br />
fragili<strong>da</strong>de desse objeto de arte. Os bibliotecários empenhamse<br />
em defendê-lo, quanto possível, <strong>da</strong> sanha sorrateira dos<br />
insetos papirófagos. Os restauradores tratam de recuperar as<br />
preciosi<strong>da</strong>des, vítimas <strong>da</strong>s injúrias do tempo. O bom professor<br />
incute, com o hábito <strong>da</strong> leitura, o amor ao livro, exigente de<br />
afagos, como infenso à indelicadeza, ao desmazelo, à brutali<strong>da</strong>de.<br />
O bibliófilo repousa o olhar na beleza <strong>da</strong> capa e <strong>da</strong><br />
confecção, inebria-se com o aroma <strong>da</strong> tinta e do papel, acaricia<br />
de leve as páginas que vai abrindo vagarosamente, e cujo<br />
ritmado farfalhar, quando se passam, infunde musicali<strong>da</strong>de à<br />
meditação e à leitura.”<br />
(*) José Mendonça<br />
é jornalista e<br />
professor aposentado <strong>da</strong> UFMG
Crônica<br />
Por José Bento Teixeira de Salles (*)<br />
ELEGIA<br />
LUZIENSE<br />
Conta a tradição que coube a José Corrêa de Miran<strong>da</strong>,<br />
integrante de uma bandeira que saíra de Taubaté, a<br />
primazia de implantar o primitivo núcleo populacional de<br />
Santa Luzia, em 1692, na região hoje denomina<strong>da</strong> Bicas,<br />
junto ao Rio <strong>da</strong>s Velhas. Ali se instalaram os primeiros<br />
ranchos de tropeiros que deman<strong>da</strong>vam o Tejuco e a Bahia.<br />
A velha estação ferroviária, ao tempo em<br />
que a ci<strong>da</strong>de ain<strong>da</strong> se chamava Rio <strong>da</strong>s<br />
Velhas. Foto pertencente ao acervo <strong>da</strong><br />
Associação Cultural Comunitária<br />
de Santa Luzia, presidi<strong>da</strong> pelo<br />
médico Márcio de Castro<br />
e Silva, como to<strong>da</strong>s as<br />
demais que ilustram<br />
o presente artigo<br />
CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009 - 21
Crônica<br />
Antiga ponte sobre<br />
o Rio <strong>da</strong>s Velhas,<br />
com vista parcial do<br />
Bairro Ponte Grande<br />
D<br />
22 - CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009<br />
e acordo com o luziense Japhet<br />
Dolabela, em seu livro “A ci<strong>da</strong>de<br />
nasceu do Rio”, o núcleo foi destruído<br />
em 1695, por uma grande enchente,<br />
processando-se a sua reconstrução dois<br />
anos após, em uma colina situa<strong>da</strong> na<br />
locali<strong>da</strong>de de Bom Retiro.<br />
Mais tarde, outra violenta enchente<br />
assola a região. A chuva cai, ininterruptamente,<br />
durante várias semanas. O<br />
rio transbor<strong>da</strong>, au<strong>da</strong>cioso e invencível,<br />
destruindo pontes, arrasando lavouras,<br />
matando animais, desalojando homens.<br />
De repente, como por encanto, as chuvas<br />
cessam por completo. Ao mesmo<br />
tempo, aparece semi-enterra<strong>da</strong> na areia<br />
do rio a imagem de Santa Luzia. Vendo<br />
nesta presença um milagre – fora man<strong>da</strong><strong>da</strong><br />
por Deus para sustar a enchente<br />
– a crença popular leva a imagem, em<br />
procissão, até o ponto mais alto do<br />
lugar, onde foi coloca<strong>da</strong> ao lado de<br />
um cruzeiro. Depois de algum tempo,<br />
ergueu-se em sua homenagem uma ca-<br />
pela, em torno <strong>da</strong> qual se desenvolveu<br />
o novo núcleo populacional.<br />
Neste episódio se revelariam, ain<strong>da</strong><br />
uma vez, os sentimentos de religiosi<strong>da</strong>de<br />
<strong>da</strong> gente mineira, que se afirmariam,<br />
como em tantas outras ocasiões,<br />
na crença católica <strong>da</strong> santa.<br />
Merece ser registrado que o aparecimento<br />
<strong>da</strong> imagem ocorreu a 13 de dezembro,<br />
precisamente no dia em que,<br />
na Itália, foi martiriza<strong>da</strong> Santa Luzia,<br />
no ano de 304 <strong>da</strong> era cristã.<br />
Os milagres <strong>da</strong> santa se repetem,<br />
a len<strong>da</strong> se confunde com a reali<strong>da</strong>de,<br />
sua fama corre mundo. Em Portugal, o<br />
sargento-mór Felix Pacheco recupera<br />
a visão e promete erguer um templo<br />
em homenagem a Santa Luzia. A construção<br />
foi inicia<strong>da</strong> em 1755, em um<br />
outeiro um pouco além do rio, no local<br />
onde hoje se encontra a Matriz.<br />
Esta é a história <strong>da</strong> origem de Santa<br />
Luzia do Rio <strong>da</strong>s Velhas, segundo os<br />
pesquisadores.
Crônica<br />
A ci<strong>da</strong>de do cronista<br />
A minha história, porém, começa<br />
no início <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 30. Já se vai<br />
bem mais de meio século de vi<strong>da</strong>. As<br />
visitas a Santa Luzia – já então morava<br />
na Capital – representavam, para mim,<br />
ver<strong>da</strong>deira aventura. Lembro-me <strong>da</strong>s<br />
viagens de jardineira, os passageiros<br />
de guar<strong>da</strong>-pó, defendendo-se <strong>da</strong> poeira<br />
fina e penetrante. No verão, as chuvas<br />
faziam atoleiros perigosos, que muitas<br />
vezes impediam o experiente motorista<br />
Zé Brasil de alcançar o ponto de chega<strong>da</strong>.<br />
De trem, a saí<strong>da</strong> de Belo Horizonte<br />
ocorria às 17h30. Os passageiros viajavam<br />
como sardinhas na lata. A locomotiva<br />
a carvão pintava de pó preto as<br />
golas e os punhos <strong>da</strong>s camisas. Ain<strong>da</strong><br />
assim, era bom refestelar-se nas cadeiras<br />
de palhinha amarela, trança<strong>da</strong>. Em<br />
General Carneiro havia uma para<strong>da</strong><br />
na velha estação, hoje destruí<strong>da</strong> pela<br />
insensibili<strong>da</strong>de dos homens.<br />
Depois, a chega<strong>da</strong> a Santa Luzia. O<br />
trem seguia para o sertão, com o apito<br />
lancinante cortando os céus e deixando<br />
atrás de si um rastro de tristeza e sau<strong>da</strong>de.<br />
A máquina corria pela estra<strong>da</strong><br />
afora, soprando fumaça e bufando<br />
faíscas. Era como se metade do mundo<br />
se desgarrasse de mim, perdido na estação<br />
sombria e triste.<br />
As recor<strong>da</strong>ções <strong>da</strong> infância se projetam<br />
no tempo. Não se perdem, nem se<br />
diluem. Bem me lembro <strong>da</strong>s primeiras<br />
impressões <strong>da</strong> terra natal. A Rua Direita,<br />
com alvos seixos roliços. As boia<strong>da</strong>s<br />
atravessando a ci<strong>da</strong>de pacata, com o<br />
touro bravo se desgarrando do rebanho<br />
para pôr em polvorosa a quietude do<br />
nirvana luziense.<br />
Entre o sobrado <strong>da</strong> Baronesa e o<br />
adro do Rosário situava-se o meu pequeno<br />
mundo tão grande. Lembro-me<br />
bem do antigo teatro, com a sua estru-<br />
tura interna de madeira, as cadeiras<br />
de palhinha dispostas na platéia, os<br />
camarotes em volta, as “torrinhas” em<br />
cima. Ao fundo, o palco iluminado por<br />
tími<strong>da</strong>s gambiarras, velhos cenários no<br />
chão, desbotados e empoeirados; nos<br />
bastidores, as bambolinas retratavam<br />
o amadorismo do pintor local. Nos<br />
corredores e saletas, brincávamos de<br />
esconder, entre enfeites improvisados<br />
com bambus trazidos <strong>da</strong> beira do rio.<br />
Ao alto, a rua Direita,<br />
com sua tradicional<br />
calça<strong>da</strong> de pedras,<br />
vendo-se ao fundo<br />
a matriz de Santa<br />
Luzia.<br />
Abaixo, vista parcial<br />
do Bairro Ponte<br />
Grande, com a Igreja<br />
de São João Batista<br />
em primeiro plano<br />
<br />
CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009 - 23
Crônica<br />
24 - CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009<br />
Logo abaixo, na Farmácia acolhedora<br />
e amiga, junto a Síria e seus filhos,<br />
Castrinho manipulava as drogas do<br />
mundo para mostrar aos homens a arte<br />
de ser feliz. Em frente, na barbea ria, com<br />
o seu humor, Zeca contava histórias.<br />
Na curva fecha<strong>da</strong> <strong>da</strong> Rua Direita,<br />
o sobrado de Rafinha erguia-se como<br />
remanescente <strong>da</strong> antiga aristocracia<br />
comercial. No an<strong>da</strong>r térreo, a ven<strong>da</strong>,<br />
com as prateleiras onde se encontrava<br />
de tudo, desde os urinóis e as foices até<br />
a mais pura ren<strong>da</strong> francesa. No fim,<br />
na<strong>da</strong> restou, nem mesmo a casa senho-<br />
rial, destruí<strong>da</strong> mais pelo abandono dos<br />
homens do que pela força do tempo.<br />
Depois, o adro do Rosário, com sua<br />
rampa íngreme to<strong>da</strong> grama<strong>da</strong>, onde,<br />
em noites de luar, namorados procuravam<br />
a estrela cadente que realizaria,<br />
em segredo, to<strong>da</strong>s as aspirações de<br />
amor. Situado num outeiro, lá bem no<br />
alto, o adro nos enlevava e nos distanciava<br />
<strong>da</strong> baixa dimensão dos adultos.<br />
Dali, eu olhava o Rio <strong>da</strong>s Velhas, que<br />
já não existe mais, como já não existe<br />
a amorável ci<strong>da</strong>de dos meus sonhos<br />
de criança.<br />
Becos de ver<strong>da</strong>des inconfessáveis<br />
Vista parcial <strong>da</strong><br />
ci<strong>da</strong>de, toma<strong>da</strong><br />
a partir do Adro<br />
do Rosário, com<br />
destaque para a<br />
Rua Direita<br />
A vi<strong>da</strong> não consegue apagar, no<br />
tempo, as visões <strong>da</strong> infância. Ca<strong>da</strong><br />
pedra do antigo calçamento é uma<br />
sau<strong>da</strong>de, dura e indestrutível como a<br />
própria pedra. O futebol no Largo –<br />
está aí o velho Tiá para não nos deixar<br />
mentir – Maurinho, Zezeu, Ubaldo,<br />
Felipe, Camilo, Marcelo, Antônio Tibúrcio,<br />
Cacique, Alonso, Aarão, Nozinho,<br />
Lula, Joca. Roberto Elísio e Marcinho<br />
mal saíram do cueiro. O brinquedo de<br />
“pegador” no adro do Rosário.<br />
O sino <strong>da</strong> Matriz, traduzindo, plangente,<br />
to<strong>da</strong> a alma sofri<strong>da</strong> de um povo<br />
à espera do na<strong>da</strong>. O “nego fugido” pelos<br />
becos <strong>da</strong>s ver<strong>da</strong>des inconfessáveis.<br />
A aventura arroja<strong>da</strong> de enfrentar o Rio<br />
<strong>da</strong>s Velhas, que engolia os homens e
Crônica<br />
desmoralizava os heróis. Em suas margens,<br />
árvores frondosas debruçavam-se<br />
no espelho <strong>da</strong>s águas, enquanto pássaros<br />
e micos saltitantes embeveciam de<br />
encanto os olhos sôfregos <strong>da</strong> criança<br />
urbana. O banho, às escondi<strong>da</strong>s, no<br />
córrego do Tenente ou <strong>da</strong>s Calça<strong>da</strong>s.<br />
A fonte pura dos Camelos, onde vivíamos,<br />
em noites de serenata, os mais<br />
belos sonhos de amor. O chafariz <strong>da</strong><br />
Intendência marcando a passagem do<br />
córrego, em cujas margens um colar de<br />
lírios silvestres perfumava de alegria as<br />
tardes ensolara<strong>da</strong>s. O beco de Ceçota<br />
coroado, ao fundo, pelo transformador<br />
inacessível. Adiante, o antigo quartel,<br />
onde se asilou, mais tarde, a bon<strong>da</strong>de<br />
santa de Mariinha com o seu Asilo. O<br />
Campo do Santa Cruz, despontando<br />
entre o carrascal em que medravam<br />
mangabeiras e gabirobas.<br />
A casa do avô materno, com a sala<br />
de visitas marcando a “belle époque”.<br />
Ao canto, o piano, fixando to<strong>da</strong> a<br />
história de uma geração requinta<strong>da</strong>.<br />
Entre a sucessão dos quartos, o corredor<br />
que se alongava, bifurcando-se em<br />
duas varan<strong>da</strong>s, como se fossem braços<br />
que buscavam o além, no grande e<br />
insondável espaço do desconhecido.<br />
Em cima do forro de esteiras brancas,<br />
em confuso barulho que me enchia de<br />
medo, gambás saltitantes <strong>da</strong>nçavam,<br />
à noite, o eterno balé <strong>da</strong> perpetuação<br />
<strong>da</strong> espécie. Embaixo, a antiga senzala.<br />
Depois, o pomar de sombra acolhedora<br />
e amiga e <strong>da</strong>s frutas de sabor inesquecível:<br />
jabuticabas, laranjas, bananas,<br />
mangas, pêras, cajus, pitangas. Pela<br />
manhã, a neblina subia do rio para<br />
cobrir a terra com seu manto fluido. E<br />
a pomba rola anunciava, no seu cantar<br />
sofrido, que apagou o fogo que hoje<br />
nos consome.<br />
Velas como colar de brilhantes<br />
Defronte a matriz, a casa de meu<br />
avô paterno, com a imponência de<br />
um palco histórico, como quartel dos<br />
luzias de 42. Nas janelas, as marcas<br />
<strong>da</strong>s balas. No interior <strong>da</strong> casa, o sentimento<br />
de um povo. Os amplos salões,<br />
os quartos coloniais e, mais ao fundo,<br />
a cozinha imensa, onde os parentes se<br />
reuniam junto ao fogão de lenha, sempre<br />
aceso à maledicência diária. Nas<br />
varan<strong>da</strong>s internas, dezenas de pássaros<br />
compunham a espontânea sinfonia <strong>da</strong><br />
vi<strong>da</strong>. No contrabaixo, a tosse rouca de<br />
meu avô, tranquilo coletor municipal, na<br />
bon<strong>da</strong>de universal.<br />
<br />
A antiga Fonte<br />
dos Camelos;<br />
originalmente,<br />
homenagem à família<br />
Camelo, desvirtua<strong>da</strong><br />
mais tarde pela<br />
colocação de dois<br />
camelos (animais) à<br />
sua entra<strong>da</strong><br />
Flagrante do enterro<br />
do Padre Ornelas<br />
CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009 - 25
Crônica<br />
A mulher<br />
luziense<br />
26 - CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009<br />
Os bares acolhedores <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de,<br />
ante-salas fraternais <strong>da</strong> residência de<br />
ca<strong>da</strong> proprietário.<br />
A tradição se escoando pela vi<strong>da</strong><br />
vazia, mas tão cheia de sentimentos<br />
e amor.<br />
Soltas e perdi<strong>da</strong>s recor<strong>da</strong>ções: As<br />
inolvidáveis Semanas Santas, duas<br />
longas fileiras de fiéis pela Rua Direita<br />
abaixo, portando velas acesas como se<br />
fosse um colar de brilhantes enfeitando<br />
o colo inabordável <strong>da</strong> menina-moça.<br />
Nessa época do ano, reunia-se to<strong>da</strong><br />
a minha família – irmãos, primos, tios,<br />
sobrinhos – no bar Natal, de Chico de<br />
Davina, <strong>da</strong>s 9 <strong>da</strong> manhã às 2 ou 3 <strong>da</strong><br />
E como eram lin<strong>da</strong>s e puras as serenatas<br />
antigas: As luzes <strong>da</strong> Cemig não<br />
haviam ain<strong>da</strong> destruído o encantamento<br />
<strong>da</strong>s noites.<br />
Aos meus ouvidos ressoam ain<strong>da</strong> a<br />
voz do trovador e o som plangente do<br />
violão, clamando pela sua ama<strong>da</strong>:<br />
“Acor<strong>da</strong> minha bela namora<strong>da</strong> /<br />
A lua nos convi<strong>da</strong> a passear /<br />
Seus raios iluminam to<strong>da</strong> a estra<strong>da</strong> /<br />
Por onde nós havemos de passar.”<br />
Ou então a valsa antológica:<br />
“A deusa <strong>da</strong> minha rua /<br />
Tem os olhos onde a lua /<br />
Costuma se embriagar.”<br />
Ou ain<strong>da</strong> o apelo em noite cheia de<br />
estrelas:<br />
“Lua! Man<strong>da</strong> a tua luz pratea<strong>da</strong> /<br />
Despertar a minha ama<strong>da</strong>.”<br />
Sonhávamos na reali<strong>da</strong>de. E nas canções<br />
de amor, enaltecíamos a beleza<br />
<strong>da</strong> mulher luziense, tão bem retrata<strong>da</strong><br />
na quadra popular: “De Curral d’El<br />
Rei as frutas / De Congonhas os Danié<br />
/ De Sabará, os Paula Rocha / De<br />
Santa Luzia as muié”.<br />
madruga<strong>da</strong>, entre centenas de cervejas<br />
nem sempre gela<strong>da</strong>s e dezenas de<br />
cachaças nem sempre puras. Chico<br />
Teixeira, tio-avô de voz grave e cabeleira<br />
branca como a neve, coordenava<br />
e financiava to<strong>da</strong> a sede etílica dos<br />
jovens que o rodeavam. Acredito que<br />
ele se remoçava assim, identificandose<br />
um pouco em ca<strong>da</strong> um de nós, num<br />
processo de transferência de sua vi<strong>da</strong><br />
venturosa e aventurosa.<br />
No meio <strong>da</strong> algazarra reinante e de<br />
inconti<strong>da</strong> cantoria, lá pelas tantas <strong>da</strong> noite<br />
explodia do Chico de Davina, uma gargalha<strong>da</strong><br />
homérica, cuja altura ficava em<br />
razão direta <strong>da</strong>s bramas consumi<strong>da</strong>s.<br />
Solar dos Teixeira <strong>da</strong> Costa, em 1936; hoje restaurado e sede <strong>da</strong> Casa de Cultura<br />
O Papa luziense<br />
E o quê dizer dos pitorescos tipos populares? O rei<br />
Tiú, na suprema felici<strong>da</strong>de <strong>da</strong> cretinice. Neca, o mendigo<br />
filosófico; Canela de Ferro, que provocávamos, cantando:<br />
“Na rua <strong>da</strong> Lapa, eu não posso passar / Canela de Ferro<br />
quer me pegar”. A resposta era uma saraiva<strong>da</strong> de impropérios,<br />
para falso escân<strong>da</strong>lo <strong>da</strong>s donzelas e matronas.<br />
Talvez o mais pitoresco dos tipos fosse o Pio, crioulo<br />
sabido que fingia de doido, com uma beiçorra maior do<br />
que a língua do Einstein de conhecido anúncio. Pio criava<br />
histórias fantásticas, como a de que o Papa Pio XII escolhera<br />
esse nome em homenagem a ele, o Pio luziense. E<br />
narrava, com riqueza de pormenores, uma suposta audiência<br />
com o Sumo Pontífice, em Roma, durante a qual ele<br />
foi condecorado com a Cruz <strong>da</strong> Ordem de Cristo.
Crônica<br />
Quanto vale o na<strong>da</strong>?<br />
No silêncio <strong>da</strong> hora – quando<br />
agoniza a noite e ain<strong>da</strong><br />
não nasceu o dia – já não mais<br />
encontro, em frente à Matriz, os<br />
caminhões que transportavam<br />
frutas e legumes para a Capital.<br />
Nem ouço as vozes irreverentes<br />
dos motoristas, intercala<strong>da</strong>s com<br />
as rezas <strong>da</strong>s beatas.<br />
Já não mais Pai Juca “quentando”<br />
sol na pequena amura<strong>da</strong><br />
que dividia a Rua Direita,<br />
a barba sempre por fazer e o<br />
capote cinza defendendo os<br />
pulmões vulneráveis. O que é<br />
de Cecília Teixeira, cabeleira<br />
branca e elegância precursora<br />
<strong>da</strong> beleza <strong>da</strong>s filhas? E “Sô”<br />
Álvaro e Palmor. Fechando no<br />
largo anfiteatro no alto <strong>da</strong> Rua<br />
Direita, o feudo dos Teixeira?<br />
Onde a herege Julí, baixotinha<br />
petulante e desafora<strong>da</strong>, mas que<br />
não levava desaforo para casa.<br />
Não mais João Maria, o cinema,<br />
sua ven<strong>da</strong>, as mangueiras. E<br />
Mi ta, na agência dos Correios,<br />
intermediária oficial <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de<br />
com o mundo. Nem Bilé, o velho,<br />
trazendo no lombo <strong>da</strong> mula<br />
a correspondência do dia. E o<br />
O antigo Cine Trianon, que não existe mais<br />
seu mensageiro itinerante, Zé<br />
Yayá, embarafustando-se pelos<br />
corredores <strong>da</strong>s casas para levar<br />
a todos as notícias de além rio?<br />
Desapareci<strong>da</strong> a figura serena do<br />
santo médico Ari Teixeira, seus<br />
olhos azuis como o azul do céu,<br />
fazendo pachorrentamente seu<br />
cigarrinho de palha. Como também<br />
o Senador Modestino Gonçalves,<br />
an<strong>da</strong>ndo pela Rua Direita<br />
rumo ao Fórum, para executar a<br />
partilha do bolo eleitoral.<br />
Esvai-se, no tempo, a lembrança<br />
de Broeiro, Benone, João<br />
de Castro; de Areclides, de Juca<br />
Maia, de Stockler; de Jonas, de<br />
Tuba, de Artêmio, de Carumbé,<br />
de “Sô” Tel e “Sô” Tide; do vigário<br />
Zé Tomaz, que continuou padre<br />
mesmo depois de cônego.<br />
O sobrado de “Seu” Aurélio,<br />
guar<strong>da</strong>ndo o museu que contava<br />
a derrota dos heróis e a tortura<br />
dos escravos. Ao lado, o Sobradinho,<br />
a pensão de onde sairia<br />
o nosso Gentil, o mais esperto<br />
de todos nós – tanto que foi o<br />
único que ficou rico.<br />
O que é de Chico Tibúrcio,<br />
O Solar <strong>da</strong> Baronesa, antiga Prefeitura e atual Museu <strong>da</strong> Mulher Mineira<br />
mestre, poeta e pescador de<br />
sonhos? Na faina do não fazer,<br />
onde Chico Glicério, calculando<br />
o valor do na<strong>da</strong>, o mais valioso<br />
patrimônio do homem – porque<br />
nunca lhe é tirado? E Chico Lucindo,<br />
puro e ameno como sabem ser<br />
os seus filhos? O que é de Laura,<br />
com os seus quitutes gostosos?<br />
Não mais Tulú, Modestino Elói,<br />
Chico Teixeira, tanta gente que<br />
era gente. Juca de Brito, Mer cedes,<br />
Nhá Lin<strong>da</strong>, Nenzinho, Ceçota,<br />
Janjão Coelho, Afonsino, Nelson<br />
Barbosa, Domingos Ornelas.<br />
Na minha lembrança, passeia<br />
sem ruídos, nem fanfarras, a<br />
figura magra e bondosa de Chiquito.<br />
O Dr. Chiquito, discreto<br />
salvador dos pobres.<br />
E onde Vó Lisa, mãe de todos<br />
nós, com sua goiaba<strong>da</strong> melhor<br />
do mundo, a velha casa, o pomar,<br />
as filhas lin<strong>da</strong>s, as largas<br />
tábuas rangendo sob nossos<br />
pés, a recor<strong>da</strong>ção de uma dor<br />
fisgando o coração.<br />
Tudo perdido na sau<strong>da</strong>de<br />
dos homens! Tudo destruído pela<br />
vertigem do tempo!<br />
<br />
CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009 - 27
Crônica<br />
Fideli<strong>da</strong>de ao passado<br />
A ci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> minha infância<br />
desapareceu, pois o tempo não<br />
pode parar. O progresso invade<br />
ruas e casas, tritura corações<br />
nas fábricas e engole homens<br />
no asfalto. Santa Luzia, que no<br />
século XIX fora sitia<strong>da</strong> pelas forças<br />
de Caxias, é hoje cerca<strong>da</strong><br />
e ameaça<strong>da</strong> pelos conjuntos<br />
habitacionais.<br />
As langorosas valsas <strong>da</strong>s<br />
serenatas são substituí<strong>da</strong>s pelo<br />
barulho ensurdecedor dos metaleiros,<br />
de indisfarçável sotaque<br />
norte-americano.<br />
Curvo-me diante <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de<br />
que se implanta agora, imposta<br />
pelo progresso. Com ela, uma<br />
nova geração está surgindo.<br />
Certamente sonhadora e realista,<br />
como são sempre os jovens.<br />
Aceitemo-la como ela é, nas<br />
ânsias de sua inexperiência, nos<br />
28 - CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009<br />
excessos de seus julgamentos,<br />
até mesmo nos equívocos de<br />
seus arroubos. Saibamos compreendê-la<br />
assim, porque assim<br />
que ela é autêntica. Como já<br />
foi observado, porém, é preciso<br />
que os moços de hoje saibam<br />
que um dia, eles serão velhos.<br />
E é “caminhando para o<br />
futuro que somos fiéis ao passado”<br />
– afirmava Milton Campos<br />
– assim como, na imagem de<br />
Jaurés, “é correndo para o mar<br />
que as águas do rio são fiéis às<br />
suas origens”.<br />
Os antepassados subsistem<br />
na história, inscritos em nossos<br />
corações como símbolos e<br />
lembranças. A mim, basta que<br />
eu seja fiel ao passado. Assim,<br />
percebo ain<strong>da</strong> o marulhar <strong>da</strong>s<br />
águas do rio cau<strong>da</strong>loso. O marulhar<br />
é monótono e envolvente<br />
como uma ampulheta. E sugere<br />
coisas de amor, arrastando<br />
para o rio os sonhos de juventude,<br />
que se enterram na areia<br />
branca e movediça do tempo.<br />
Pelas ruas e becos, ecoam aos<br />
meus ouvidos as recor<strong>da</strong>ções<br />
do passado.<br />
Dói, no coração, a lembrança<br />
do retrato que ain<strong>da</strong> está dependurado<br />
na parede. Ouço, ao<br />
longe, o brado dos luzias. Meus<br />
olhos alcançam a várzea fértil<br />
e o rio bravo. Revivem alegres<br />
recor<strong>da</strong>ções – já tão distantes<br />
no tempo, mas tão próximas de<br />
nós. E perscrutam o futuro, na<br />
busca sonhadora <strong>da</strong> felici<strong>da</strong>de<br />
do passado.<br />
(*) José Bento Teixeira de Salles<br />
é jornalista e escritor, membro<br />
<strong>da</strong> Academia Mineira de Letras.<br />
A Rua Direita, a mais<br />
importante <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de
Entrevista<br />
Por Manoel Marcos Guimarães<br />
SERAFIM,<br />
o Cardeal do Vale<br />
Ele acaba de completar<br />
60 anos de vi<strong>da</strong> presbiteral e<br />
50 de ordenação episcopal<br />
e tem comemorado as <strong>da</strong>tas<br />
ostentando o dístico “plantando<br />
esperança” para caracterizar<br />
o quase meio século<br />
dedicado à<br />
Arquidiocese de<br />
Belo Horizonte,<br />
sendo 21 anos<br />
como reitor <strong>da</strong><br />
Universi<strong>da</strong>de<br />
Católica, na<br />
condição de<br />
bispo auxiliar,<br />
quatro como<br />
arcebispo<br />
coadjutor<br />
e 18 como<br />
arcebispo<br />
titular.<br />
CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009 - 29
Entrevista<br />
“ Ser mineiro<br />
é uma<br />
vocação,<br />
é uma<br />
graça.”<br />
C<br />
30 - CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009<br />
omo na maior parte de sua vi<strong>da</strong> eclesial, evita polêmicas (“Se eu disse alguma<br />
coisa que possa magoar alguém, por favor, não publique”, pede ao final <strong>da</strong> entrevista),<br />
mas não abre mão <strong>da</strong> defesa de princípios e dos valores, dentre os quais destaca a<br />
família: “Humanamente, meu encantamento maior é a família”. Instituição, aliás, que ele vê<br />
ameaça<strong>da</strong>, principalmente pela permissivi<strong>da</strong>de excessiva veicula<strong>da</strong> pelas novelas de TV.<br />
Diz que uma situação familiar na infância, quando conviveu ao mesmo tempo ‘com<br />
dois pais e duas mães’, o ensinou a não tomar partido, mas a buscar sempre o equilíbrio,<br />
e não encara essa circunstância como problemática: “Durante a ditadura, por<br />
exemplo, eu era tido como comunista pelos<br />
militares e direitista pelos estu<strong>da</strong>ntes e isso<br />
foi essencial para que eu pudesse aju<strong>da</strong>r<br />
os universitários presos.” Efetivamente, na<br />
Confederação Nacional dos Bispos do<br />
Brasil (CNBB), <strong>da</strong> qual foi vice-presidente,<br />
sua atuação ora era considera<strong>da</strong> progressista,<br />
ora era taxa<strong>da</strong> de conservadora e<br />
ele jamais teve alinhamento automático<br />
com qualquer dos grupos em que a enti<strong>da</strong>de<br />
muitas vezes se dividia. “A CNBB não tem<br />
lados, tem pessoas diferentes e grupos que<br />
se juntam mais, mas no essencial a gente está<br />
sempre junto”, diz.<br />
Outro bom exemplo de sua disposição<br />
para não tomar partido está no fato de,<br />
atleticano fervoroso, ter tido em Felício<br />
Brandi, talvez o mais importante presidente<br />
do Cruzeiro Esporte Clube, um grande amigo,<br />
de quem, inclusive, fez o casamento.<br />
Reconhece a construção <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de<br />
Católica de Minas Gerais, atual PUC<br />
Minas, como sua principal obra, cita Dom<br />
João de Rezende Costa, a quem substituiu,<br />
e o Papa João Paulo II como os seus principais<br />
exemplos de vi<strong>da</strong> e defende a ação do<br />
Papa Bento XVI à frente <strong>da</strong> Igreja como uma<br />
cruza<strong>da</strong> em defesa <strong>da</strong> família. Confessa, sem<br />
comentários, que não indicou seu sucessor,<br />
mas defende o atual processo de escolha dos<br />
bispos, embora não o considere ideal.<br />
Nasceu em Minas Novas quase por<br />
acaso, mas suas raízes estão mesmo em Itamarandiba,<br />
onde nasceram os pais e os outros 15 irmãos e onde passou a maior parte<br />
do tempo em que não estava no Seminário. Confessa-se “apaixonado” pelo Vale do<br />
Jequitinhonha e faz questão, inclusive, de não abandonar o linguajar de sua gente.<br />
Nesta entrevista à Revista do Ceco / Casa dos Contos, Dom Serafim Fernandes de<br />
Araújo, que irá completar 85 anos de i<strong>da</strong>de em 13 de agosto deste ano, fala um pouco<br />
<strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, <strong>da</strong> igreja e, inclusive, de política.
Entrevista<br />
Vocação<br />
Minha vocação nasceu de Itamarandiba,<br />
que era uma ci<strong>da</strong>de muito piedosa.<br />
Todo mundo rezava todos os dias. Até<br />
mesmo os homens, quando não tinham<br />
tempo de participar <strong>da</strong>s novenas, passavam<br />
mais tarde na igreja para adorar o<br />
Santíssimo. Não houve direcionamento<br />
familiar. Eu gostava mesmo <strong>da</strong> igreja e<br />
até brincava de padre, partindo bananas<br />
e distribuindo a meus irmãos, como se<br />
fossem hóstias.<br />
Eu não fui um aventureiro.<br />
Infância<br />
Quando nasceu meu primeiro irmão,<br />
minha mãe não <strong>da</strong>va conta de criar os<br />
dois e então uma irmã de meu pai, que<br />
não podia ter filhos, começou a me levar<br />
para a casa dela. Isso acabou gerando<br />
em mim um grande conflito, a ponto de<br />
um dia eu fugir de casa e me esconder<br />
debaixo <strong>da</strong> ponte, onde me encontraram<br />
bem mais tarde. Para mim, era um<br />
sofrimento, pois não sabia qual era a<br />
‘minha’ família, quem eram os ‘meus’<br />
pais. Isso me deu uma grande graça de<br />
vi<strong>da</strong>, pois foi me fazendo gostar <strong>da</strong>s<br />
pessoas pelo que elas são e não pelo<br />
lado em que estão. Eu tinha dois pais<br />
e duas mães, mas todos me amavam<br />
igualmente. Isso me ajudou muito a vi<strong>da</strong><br />
inteira.<br />
Equilíbrio<br />
Quando fui estu<strong>da</strong>r Teologia em<br />
Roma, em 1946, havia muita disputa<br />
entre os padres que estavam lá, divididos<br />
entre conservadores e avançados. Eu<br />
sempre fui o do equilíbrio.<br />
<br />
Universi<strong>da</strong>de<br />
Só conheci Dom João [de Resende<br />
Costa] depois de ser nomeado. Ele havia<br />
pedido que lhe enviassem um bispo<br />
auxiliar que pudesse também ser reitor<br />
<strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Católica. Peguei a<br />
universi<strong>da</strong>de com 635 alunos e cinco<br />
cursos – ciências médicas, direito, filosofia,<br />
serviço social e enfermagem. Deixei<br />
a universi<strong>da</strong>de com 50 mil alunos. No<br />
plano <strong>da</strong>s realizações foi, sem dúvi<strong>da</strong>,<br />
minha principal obra.<br />
Ao alto, ao rezar<br />
sua primeira<br />
missa, em Roma,<br />
em 1949; abaixo,<br />
com os pais<br />
e irmãos, em<br />
Diamantina, no<br />
dia <strong>da</strong> ordenação<br />
como bispo<br />
CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009 - 31
Entrevista<br />
Escolha dos bispos<br />
Com o Papa<br />
Bento XVI,<br />
em 2008; entre<br />
os dois, Dom<br />
Geraldo Lyrio,<br />
presidente<br />
<strong>da</strong> CNBB<br />
“ Só acredito<br />
no ser humano<br />
que seja capaz<br />
de perdoar;<br />
o único<br />
remédio que<br />
há no mundo<br />
é o perdão.<br />
Quem ganha<br />
com o perdão<br />
não é quem é<br />
perdoado, é<br />
quem perdoa.<br />
”<br />
32 - CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009<br />
Conheci Dom João depois de indicado.<br />
Não indiquei meu sucessor. Acho<br />
que o processo atual de escolha ain<strong>da</strong><br />
é o melhor, embora não ideal. Pode<br />
aumentar um pouco a participação,<br />
mas não há sentido, por exemplo,<br />
em se fazer eleições para escolha de<br />
bispos.<br />
Bento XVI<br />
Quando voltei <strong>da</strong> eleição dele, disse: ‘é o homem mais clarividente que conheci<br />
na vi<strong>da</strong>’. Mas ele nunca vai ter, é claro, o charme de João Paulo II. Mas acho que<br />
classificação de conservador não se aplica a ele. Repito, é o homem mais clarividente<br />
que já conheci. É impressionante. A Igreja,<br />
inclusive, deve a ele muito do que João Paulo<br />
II fez, pois ele estava ali como principal<br />
assessor e sempre foi muito leal.<br />
Para os tempos atuais, ele está fazendo<br />
tudo o que a Igreja precisa. Ele está segurando<br />
aquilo que está destruindo o mundo,<br />
pois no dia que terminar a família, terminou<br />
tudo, não vai ter mais na<strong>da</strong>. O que ele está<br />
querendo segurar é isso. Se a igreja não<br />
defender a família, quem vai defender? Se<br />
a família continuar do jeito que está sendo<br />
mostra<strong>da</strong> pelas novelas, ela vai acabar.<br />
[A liberação do uso <strong>da</strong> camisinha] se<br />
fosse para melhoria <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, a Igreja<br />
podia até pensar, mas não é. É por desmando.<br />
Então, o Papa não pode jamais apoiar. É muito fácil dizer: faça tudo o que você<br />
quiser. Mas não é esse o papel <strong>da</strong> Igreja.<br />
Nessa crise financeira atual, por exemplo, a palavra do Vaticano foi muito importante<br />
ao alertar que o fascismo e o nazismo cresceram na crise de 1929 e que há muita coisa<br />
surgindo agora para as quais precisamos ficar atentos.<br />
Atlético<br />
Quando digo publicamente que sou<br />
torcedor do Galo, mostro que sou gente,<br />
pois muitos acham que padre não é<br />
gente. Mas nunca fui radical. O Felício<br />
Brandi, a quem o Cruzeiro deve tudo<br />
o que é hoje, por exemplo, era meu<br />
amigo e até me ajudou muito em algumas<br />
campanhas. Fiz o casamento dele,<br />
Fernando Lugo<br />
A Igreja foi sábia ao conceder-lhe<br />
a licença, retirando dele to<strong>da</strong>s as obrigações<br />
eclesiais. Hoje ele é um leigo.<br />
Certamente, a Igreja ao fazer isto já<br />
sabia algumas coisas dele que só vieram<br />
a público depois. Foi a primeira vez que<br />
vi um Papa dispensar alguém de to<strong>da</strong>s as<br />
obrigações.<br />
quando aconteceu um fato interessante:<br />
eu e a esposa dele, Maria José,<br />
ficamos mais de uma hora esperando<br />
por ele na igreja. Quando chegou, ele<br />
me disse que tinha se atrasado porque<br />
estava acertando a contratação do<br />
Tostão; ele estava tirando o Tostão do<br />
América.
Entrevista<br />
O Diário<br />
O jornal O Diário foi uma <strong>da</strong>s coisas<br />
mais bonitas que a Igreja Católica<br />
tinha no Brasil, com um laicato muito<br />
dedicado; era um jornal excelente. Seu<br />
fecha mento ocorreu porque ele ficou<br />
com muitos problemas financeiros e<br />
não por vontade nossa.<br />
Eles resolveram fazer uma campanha<br />
de assinatura de 10 anos: o assinante<br />
pagava 10 anos de uma só vez e<br />
depois não pagava mais. No princípio,<br />
foi uma maravilha, pois entrou muito<br />
dinheiro, mas quando terminou esse<br />
prazo, a crise ficou insuperável. Dom<br />
João e eu decidimos, então, montar<br />
uma rádio e compramos a Rádio Jornal<br />
de Minas, que depois foi mu<strong>da</strong>ndo<br />
de nome. A linha d’ O Diário não era<br />
conservadora, era avança<strong>da</strong>, porque<br />
o laicato católico de BH era muito<br />
avançado.<br />
Com João Paulo II, em 1998, ao receber o barrete cardinalício<br />
“ Ninguém fica sem Deus. Quem fala contra<br />
Deus é porque o deus dele é o dinheiro, é sexo...<br />
mas ele não tem coragem de assumir.”<br />
Fim do Celibato<br />
No meu modo de pensar, não é por<br />
aí que vamos estimular as vocações<br />
sacerdotais. Estamos precisando de padres<br />
que dêem a vi<strong>da</strong>, casados ou não<br />
casados. Peguem sua vi<strong>da</strong> e entreguem<br />
a Deus. Tenho muito medo até dos que<br />
querem hoje acumular títulos acadêmicos<br />
pensando na vi<strong>da</strong> sacerdotal, como<br />
querem alguns.<br />
João Paulo II<br />
Ao lado de Dom João, João Paulo II foi a pessoa mais<br />
importante na minha vi<strong>da</strong>. Ele, aliás, nunca me chamou pelo<br />
nome, to<strong>da</strong> a vi<strong>da</strong> me chamou de ‘Belo Horizonte’, inclusive<br />
quando fui visitá-lo, já doente.<br />
<br />
CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009 - 33
Entrevista<br />
Política<br />
Não vou dizer que não<br />
tinha preferência por esse ou<br />
aquele candi<strong>da</strong>to, mas para mim<br />
o essencial sempre foi ver os valores<br />
em disputa. A igreja não<br />
pode ter um lado, mas também<br />
não pode se omitir quanto a valores,<br />
tem que tentar sarar to<strong>da</strong>s<br />
as feri<strong>da</strong>s. Acho, por exemplo,<br />
que padre prefeito não faz sentido.<br />
Nós temos uma missão e<br />
se tomarmos algum partido, não<br />
podemos cumpri-la.<br />
Corrupção<br />
Os colegiados políticos não<br />
evoluíram. Esse não é um problema<br />
do ser humano, é do<br />
sistema. A igreja tem pouco<br />
a fazer, pois essa é uma área<br />
intransponível.<br />
34 - CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009<br />
“ Deus sempre teve muito carinho por<br />
mim. Na minha vi<strong>da</strong>, to<strong>da</strong>s as vezes que<br />
eu falei ‘não posso’, Deus falou ‘pode’. E<br />
foi me levando, me levando.”<br />
Diante de Deus<br />
O lema de Dom Serafim, Seraphim<br />
iuxta Eum, foi extraído do livro do<br />
profeta Isaias (Is capitulo 6, versículos<br />
2 e 3): “Serafins estavam junto a ELE,<br />
o Senhor, e cantavam Santo, Santo,<br />
Santo é o Senhor dos exércitos; céus<br />
e terra estão cheios de sua glória”.<br />
Ele escolheu o lema porque “como os<br />
serafins <strong>da</strong> divisão de Isaías, quer estar<br />
diante de Deus, em adoração e súplica<br />
por to<strong>da</strong> a sua Diocese.”<br />
Sempre em Minas<br />
(*) Manoel Marcos Guimarães<br />
é jornalista, editor <strong>da</strong> Revista do<br />
Ceco / Casa dos Contos.<br />
Nascido em 13 de agosto de 1924, Serafim Fernandes de Araújo,<br />
ordenou-se padre em 12 de março de 1949, na Catedral de<br />
São João de Latrão, em Roma, Itália. Fez to<strong>da</strong> sua carreira eclesial<br />
em Minas Gerais. Foi pároco de Gouveia e Curvelo, capelão do 3º<br />
Batalhão <strong>da</strong> Polícia Militar, em Diamantina, e exerceu o magistério<br />
em instituições religiosas e colégios, em Diamantina e Curvelo. Foi<br />
o primeiro bispo brasileiro a ser nomeado por João XXIII, em 19 de<br />
janeiro de 1959, sendo ordenado em 5 de maio do mesmo<br />
ano. Desde sua nomeação, atuou sempre na Arquidiocese<br />
de Belo Horizonte, como bispo auxiliar, arcebispo<br />
coadjutor e arcebispo titular. Sua criação como cardeal<br />
ocorreu em 21 de fevereiro de 1998. Permaneceu<br />
à frente <strong>da</strong> Arquidiocese até 28 de janeiro de 2004,<br />
quando renunciou, sendo substituído por Dom Walmor<br />
de Oliveira.
Pesquisa<br />
Por Éder Romagna Rodrigues e<br />
Alexandre Magno Alves Diniz (*)<br />
A rede de núcleos <strong>da</strong> Estra<strong>da</strong> Real<br />
e sua aptidão para o turismo:<br />
UM LEGADO<br />
A SER<br />
DESVENDADO<br />
Dissertação<br />
de Mestrado<br />
<strong>da</strong> PUC Minas<br />
organiza ranking<br />
dos municípios<br />
integrantes<br />
do circuito<br />
Estra<strong>da</strong> Real, de<br />
acordo com a<br />
disponibili<strong>da</strong>de<br />
de infraestrutura<br />
turística.<br />
H<br />
á cerca de 300 anos a descoberta de metais nas Minas<br />
Gerais atraiu fluxos de migrantes que passaram a povoar<br />
núcleos próximos às áreas de lavras e transformar o inóspito<br />
interior <strong>da</strong> Colônia em um dos mais dinâmicos eixos urbanos<br />
do continente Americano.<br />
A migração e concentração de pessoas em aglomerados<br />
populacionais, associa<strong>da</strong>s à afluência de riquezas propicia<strong>da</strong><br />
pela exploração <strong>da</strong>s minas, foram determinantes para a<br />
ativação de um sistema urbano de vilas e arraiais comerciais<br />
(GEIGER, 1963).<br />
<br />
CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009 - 35
Pesquisa<br />
São João del-Rei<br />
aparece em<br />
sétimo lugar<br />
entre as ci<strong>da</strong>des<br />
com melhor<br />
infraestrutura<br />
36 - CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009<br />
A circulação de riquezas, pessoas e<br />
mercadorias concentrava-se em alguns<br />
pontos <strong>da</strong> Estra<strong>da</strong> Real, cujas localizações<br />
favoreciam os intercâmbios de quaisquer<br />
naturezas (GEIGER, 1963). As áreas que<br />
favoreciam os intercâmbios comerciais,<br />
como os cruzamentos de vias de circulação,<br />
passaram a testemunhar o surgimento<br />
de núcleos urbanos especializados na<br />
comercialização de bens e serviços (FUR-<br />
TADO, 2006).<br />
Caminho indutor<br />
A Estra<strong>da</strong> Real representava o principal<br />
canal de comunicação entre as<br />
embrionárias ci<strong>da</strong>des mineiras do Brasil<br />
Colônia, constituindo-se em um importante<br />
indutor de desenvolvimento. Com a exaustão<br />
<strong>da</strong>s minas de ouro e diamantes, essas<br />
estra<strong>da</strong>s foram paulatinamente abandona<strong>da</strong>s.<br />
Os mecanismos de fiscalização<br />
oficial, a rede de núcleos urbanos, bem<br />
como as construções civis do período deixaram<br />
de ter significado e utili<strong>da</strong>de para<br />
o contexto sócio-econômico <strong>da</strong> mineração,<br />
mas podem assumir na atuali<strong>da</strong>de<br />
a condição de patrimônios históricos a<br />
serem potencializados como recursos turísticos,<br />
como, aliás, vem sendo posto em<br />
O desenvolvimento econômico e o crescimento<br />
populacional obrigaram a Coroa<br />
a estabelecer algumas medi<strong>da</strong>s de controle<br />
sobre o território. A Coroa Portuguesa<br />
procurou definir, então, um conjunto de<br />
caminhos terrestres como vias oficiais de<br />
circulação de riquezas, pessoas e mercadorias.<br />
À rota que ligaria o litoral <strong>da</strong><br />
Colônia às vilas <strong>da</strong>s Minas Gerais entre<br />
os séculos XVIII e XIX foi atribuído o nome<br />
de “Estra<strong>da</strong> Real” (SANTOS, 2006).<br />
prática pelo Instituto Estra<strong>da</strong> Real.<br />
Para que os potenciais inerentes aos<br />
atrativos sejam efetivamente aproveitados,<br />
ativando a circulação de fluxos<br />
de viajantes nos domínios <strong>da</strong> Estra<strong>da</strong><br />
Real, é imperativo que os atrativos sejam<br />
estruturados para a ativi<strong>da</strong>de. O conjunto<br />
dos equipamentos, bens e serviços<br />
imprescindíveis ao desenvolvimento do<br />
turismo forma, junto com os atrativos,<br />
a oferta turística destina<strong>da</strong> ao usufruto<br />
do viajante. É ela que reúne todos os<br />
elementos necessários ao desfrute <strong>da</strong> experiência<br />
do turismo e o suporte às ações<br />
de deslocamento, alojamento, lazer e<br />
alimentação dos viajantes.<br />
FOTO EUGÊNIO FERRAZ
Pesquisa<br />
Padrões identificados<br />
Apesar de os elementos estruturais<br />
do turismo serem essenciais à ativi<strong>da</strong>de<br />
turística, eles são somente encontrados<br />
em pequenas quanti<strong>da</strong>des em superfície.<br />
A maior parte dos atrativos concentra-se<br />
em aglomerações urbanas <strong>da</strong> antiga<br />
rede de núcleos coloniais, pois foi edifica<strong>da</strong><br />
no passado para atender diversas<br />
finali<strong>da</strong>des econômicas e as populações<br />
mineradoras.<br />
Não existem levantamentos sobre<br />
como as estruturas e os equipamentos<br />
que poderiam servir ao turismo estariam<br />
distribuídos ao longo <strong>da</strong> rede de núcleos<br />
urbanos <strong>da</strong> Estra<strong>da</strong> Real. É provável que<br />
boa parte <strong>da</strong> estrutura urbana encontra<strong>da</strong><br />
na contemporanei<strong>da</strong>de guarde relações<br />
com a gênese dos equipamentos urbanos<br />
implementados pela socie<strong>da</strong>de mineradora<br />
no período colonial.<br />
Para que a Estra<strong>da</strong> Real seja efetivamente<br />
transforma<strong>da</strong> em um produto<br />
turístico, a sua turistificação deman<strong>da</strong>rá<br />
a integração de suas infraestruturas aos<br />
atrativos turísticos existentes.<br />
O objetivo do nosso trabalho foi o de<br />
desven<strong>da</strong>r de que forma a antiga rede<br />
de núcleos coloniais <strong>da</strong> Estra<strong>da</strong> Real,<br />
abrangedora de 176 municípios de Mi-<br />
nas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro,<br />
encontra-se estrutura<strong>da</strong> para desempenhar<br />
funções de prestação de serviços turísticos<br />
com base em informações referentes aos<br />
anos de 2000, 2003 e 2006. O intuito<br />
dessa proposta foi o de identificar os<br />
padrões de distribuição espacial <strong>da</strong> rede<br />
de núcleos que compõem a Estra<strong>da</strong> Real,<br />
tendo por base as estruturas urbanas<br />
específicas que participam <strong>da</strong> cadeia de<br />
relações do turismo.<br />
A identificação de como o sistema<br />
urbano <strong>da</strong> Estra<strong>da</strong> Real se estrutura para<br />
as ativi<strong>da</strong>des turísticas criará condições<br />
para se compreender melhor o funcionamento<br />
<strong>da</strong> estrutura urbana e de que<br />
maneira ela herdou características <strong>da</strong><br />
rede urbana colonial. As características<br />
<strong>da</strong> rede urbana <strong>da</strong> Estra<strong>da</strong> Real tanto no<br />
presente quanto no passado constituem<br />
valiosas informações que poderão ser<br />
agrega<strong>da</strong>s ao produto turístico Estra<strong>da</strong><br />
Real. O modo em que os núcleos<br />
urbanos se relacionavam no passado<br />
constitui na atuali<strong>da</strong>de um patrimônio<br />
material e imaterial carregado de significados<br />
que pode ser utilizado como<br />
referência para se valorizar o atrativo<br />
turístico Estra<strong>da</strong> Real.<br />
São Lourenço, no<br />
sul de Minas, é a<br />
décima ci<strong>da</strong>de com<br />
melhor infraestrutura<br />
para o turismo<br />
<br />
CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009 - 37<br />
FOTO EUGÊNIO FERRAZ
Pesquisa<br />
38 - CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009<br />
Infraestrutura medi<strong>da</strong> e avalia<strong>da</strong><br />
O estudo envolveu uma série de procedimentos<br />
e ações metodológicos. Em um<br />
primeiro momento houve a preocupação<br />
em obter <strong>da</strong>dos dos atrativos e infraestrutura<br />
turísticos com os órgãos competentes.<br />
Foram levantados <strong>da</strong>dos que contemplassem<br />
diversos aspectos <strong>da</strong> oferta de serviços<br />
turísticos sendo então classificados<br />
em grupos temáticos de Comunicações,<br />
Infraestrutura Básica e Turística, Transporte,<br />
Saúde, Hospe<strong>da</strong>gem e Alimentação.<br />
Para alcançar os objetivos, emprega-<br />
Os 20 melhores<br />
mos uma equação para se estabelecer<br />
um índice de estruturação turística para<br />
29 variáveis relaciona<strong>da</strong>s à prestação de<br />
serviços turísticos nos 176 núcleos urbanos<br />
do Circuito Turístico Estra<strong>da</strong> Real.<br />
Os resultados apontam que as ci<strong>da</strong>des<br />
<strong>da</strong> Estra<strong>da</strong> Real formam uma rede de<br />
centros com diversos níveis de desenvolvimento<br />
estruturais para o turismo. Entre os<br />
20 municípios mais estruturados figuram<br />
ci<strong>da</strong>des com amplo valor histórico e cultural<br />
(veja tabela).<br />
Tabela 1 Índices por Grupos Temáticos de Variáveis e Índice Global*<br />
Colocação<br />
Município Índ. Índ. Índ. Índ. Índ. I.Estrutura<br />
Comunicação Hospe<strong>da</strong>gem Alimentação Serviços Turística Global<br />
Índice<br />
1º Juiz de Fora 0,78 0,383929 0,270346 0,785714 0,633929 0,570784<br />
2º Barbacena 0,522423 0,060606 0,263853 0,443907 0,4375 0,345658<br />
3º Conselheiro Lafaiete 0,284862 0,227273 0,3329 0,46899 0,357143 0,334234<br />
4º Diamantina 0,493434 0,08171 0,299567 0,296378 0,183929 0,271003<br />
5º Petrópolis 0,196558 0,24026 0,124711 0,44453 0,3 0,261212<br />
6º Serro 0,230526 0,315476 0,421717 0,06812 0,232143 0,253596<br />
7º São João del-Rei 0,511896 0,07684 0,219697 0,270139 0,160714 0,247857<br />
8º Ouro Preto 0,180418 0,294372 0,274242 0,270719 0,185714 0,241093<br />
9º Ponte Nova 0,392531 0,015152 0,143939 0,353092 0,285714 0,238086<br />
10º São Lourenço 0,34264 0,136905 0,219697 0,234924 0,232143 0,233262<br />
11º Cruzeiro 0,157193 0,065476 0,423232 0,316331 0,169643 0,226375<br />
12º Lima Duarte 0,071579 0,292208 0,486508 0,065473 0,1875 0,220654<br />
13º João Monlevade 0,191211 0,028139 0,272727 0,338765 0,223214 0,210811<br />
14º Três Rios 0,290209 0,160714 0,150216 0,228473 0,223214 0,210565<br />
15º Santa Luzia 0,146767 0,154221 0,177273 0,21388 0,3125 0,200928<br />
16º Caxambu 0,308989 0,11039 0,313131 0,215729 0,05 0,199648<br />
17º Guaratinguetá 0,273851 0,130141 0,143939 0,275382 0,121429 0,188948<br />
18º Três Corações 0,359783 0,037067 0,060606 0,218494 0,196429 0,174476<br />
19º Parati 0,299064 0,037608 0,211111 0,212043 0,1125 0,174465<br />
20º Santos Dumont 0,179783 0,037608 0,211688 0,209009 0,232143 0,174046
Pesquisa<br />
Rede de Núcleos<br />
Os núcleos <strong>da</strong> Estra<strong>da</strong> Real podem ser agrupados em quatro níveis que representam<br />
suas capaci<strong>da</strong>des para desempenharem funções turísticas: Centro de Ordem Superior,<br />
Centros de Ordem Intermediária, Centros de Ordem Inferior e Centros Complementares<br />
(veja mapa).<br />
Figura 21 - Classificação Funcional Turística dos Municípios <strong>da</strong> Região turística <strong>da</strong> Estra<strong>da</strong> Real - 2003<br />
<br />
CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009 - 39
Pesquisa<br />
Embora não<br />
seja uma ci<strong>da</strong>de<br />
eminentemente<br />
turística, Juiz de<br />
Fora tem excelente<br />
infraestrutura<br />
receptiva<br />
40 - CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009<br />
O topo <strong>da</strong> hierarquia é ocupado pelo<br />
“Centro de Ordem Superior” Juiz de<br />
Fora, uma ci<strong>da</strong>de com vasta gama de<br />
equipamentos urbanos que foram desenvolvidos<br />
para atenderem suas populações,<br />
mas que também podem servir aos<br />
anseios do turismo. Em patamar inferior<br />
<strong>da</strong> hierarquia, mas não menos importantes,<br />
figuram os “Centros de Ordem<br />
Intermediária”, núcleos com considerável<br />
estruturação para o turismo e que levam<br />
vantagem em relação a Juiz de Fora por<br />
estarem distribuídos por to<strong>da</strong> a Estra<strong>da</strong><br />
Real e conseguirem abranger todos os<br />
Legado turístico valioso<br />
A estrutura urbana que se encontra na<br />
contemporanei<strong>da</strong>de apresenta potenciais<br />
efetivos para o desenvolvimento do turismo.<br />
Nesta teia de núcleos, é facultado<br />
aos centros intermediários e superiores a<br />
função de proverem estruturas e suporte<br />
às ativi<strong>da</strong>des turísticas que estiverem ocorrendo<br />
nos centros de ordem inferior e, em<br />
especial, nos centros complementares.<br />
A rede de municípios turísticos observa<strong>da</strong><br />
na contemporanei<strong>da</strong>de se assenta<br />
sobre os núcleos que participaram do<br />
domínios desta região turística.<br />
Os “Centros de Ordem Inferior” possuem<br />
pequena quanti<strong>da</strong>de de equipamentos<br />
turísticos que lhes permitem, ao<br />
máximo, sustentarem grupos de viajantes<br />
que desejam usufruir dos atrativos em<br />
suas proximi<strong>da</strong>des.<br />
Finalmente, a maior parte dos municípios<br />
<strong>da</strong> Estra<strong>da</strong> Real está classifica<strong>da</strong><br />
pela tipologia de “Centros Complementares”,<br />
núcleos que não possuem condições<br />
estruturais suficientes para hospe<strong>da</strong>rem<br />
grupos de viajantes com quali<strong>da</strong>de e<br />
segurança.<br />
sistema urbano desenvolvido durante o<br />
período colonial. O padrão de distribuição<br />
territorial <strong>da</strong> rede de núcleos turísticos<br />
principais se assemelha com os padrões<br />
de distribuição do sistema urbano existente<br />
no período colonial. O modo em<br />
que a rede de ci<strong>da</strong>des <strong>da</strong> Estra<strong>da</strong> Real<br />
se estruturava no passado e que pode<br />
ser observado no presente, é um valioso<br />
legado patrimonial e cultural que merece<br />
ser agregado ao produto turístico Estra<strong>da</strong><br />
Real.<br />
(*) Éder Romagna Rodrigues<br />
é Mestre do Programa de Pós-<br />
Graduação em Geografia<br />
- Tratamento <strong>da</strong> Informação<br />
Espacial <strong>da</strong><br />
Pontifícia Universi<strong>da</strong>de Católica<br />
de Minas Gerais<br />
(*) Alexandre Magno Alves Diniz<br />
é Professor no mesmo Programa<br />
e foi orientador <strong>da</strong> Dissertação,<br />
que está resumi<strong>da</strong> no presente<br />
artigo.
Centenário<br />
Por José Anchieta <strong>da</strong> Silva (*)<br />
AFFONSO PENNA<br />
de volta a<br />
Santa Bárbara<br />
Este ano de 2009 corresponde ao centenário de morte do Presidente Affonso<br />
Penna, cuja <strong>da</strong>ta principal será o dia 14 de junho próximo, <strong>da</strong>ta de seu falecimento,<br />
que se deu em pleno exercício <strong>da</strong> presidência <strong>da</strong> República.<br />
Tem sido grande a mobilização em torno <strong>da</strong> celebração,<br />
que ocorre em to<strong>da</strong> a Minas Gerais. Em Santa<br />
Bárbara, sua terra natal, a casa onde nasceu recebe os<br />
últimos retoques para abrigar o seu ‘Memorial’.<br />
O movimento Affonso Penna precisa voltar para Casa,<br />
liderado pelo Instituto dos Advogados de Minas Gerais,<br />
deu certo. Contando com a assinatura de expressivas<br />
instituições <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil (dentre elas o Instituto<br />
Histórico e Geográfico de Minas Gerais, as Academias<br />
Mineira, Municipalista e Marianense de Letras, a Congregação<br />
dos Padres do Caraça e a Associação de<br />
seus ex-alunos), além do apoio integral <strong>da</strong> família do<br />
presidente e <strong>da</strong>s autori<strong>da</strong>des, já se encontram em Santa<br />
Bárbara não só os restos mortais do Presidente, de sua<br />
esposa Maria Guilhermina e de seus filhos Álvaro e<br />
Olga, mas também todos os elementos integrantes de seu<br />
mausoléu presidencial. Grande celebração está sendo<br />
prepara<strong>da</strong>.<br />
Em Belo Horizonte, por proposta do Executivo, a<br />
Câmara de Vereadores já aprovou lei que autoriza a edificação de monumento<br />
alusivo ao Centenário, no passeio público do Parque Municipal Américo René<br />
Gianetti, defronte ao prédio-sede <strong>da</strong> Prefeitura, na Aveni<strong>da</strong> Affonso Penna.<br />
<br />
CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009 - 41
Centenário<br />
Precursor de JK<br />
Casa onde<br />
morou Affonso<br />
Penna, em<br />
Santa Bárbara<br />
42 - CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009<br />
Sétimo presidente <strong>da</strong> República – o<br />
primeiro que Minas deu ao Brasil –,<br />
Affonso Pena nasceu em 30 de novembro<br />
de 1847. Estudou no Caraça e<br />
diplomou-se em Direito, em 1870, pela<br />
Facul<strong>da</strong>de de Direito de São Paulo, tendo<br />
se doutorado em 1871. Foram seus<br />
colegas de turma Rui Barbosa, Rodrigues<br />
Alves, Joaquim Nabuco, Bias Fortes e<br />
Castro Alves, que não chegou a concluir<br />
o curso. Advogou em Santa Bárbara e<br />
em Barbacena, onde veio a se casar com<br />
Maria Guilhermina, filha do Visconde de<br />
Caran<strong>da</strong>í, com quem teria nove filhos.<br />
Iniciou sua carreira política como deputado<br />
provincial, em 1874. Em 1878<br />
elegeu-se deputado provincial, sendo<br />
reconduzido até a proclamação <strong>da</strong> República.<br />
Ain<strong>da</strong> no Império, em 1882,<br />
foi nomeado Ministro <strong>da</strong> Guerra no Gabinete<br />
Martinho Campos. Além dele, no<br />
Império, só outro civil ocupou aquela pasta:<br />
Pandiá Calógeras. Em 1883 foi designado<br />
para o <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> Agricultura,<br />
Comércio e Obras Públicas, no Gabinete<br />
Lafayette. Em 1885 foi convocado para<br />
ocupar o <strong>Ministério</strong> do Interior e Justiça,<br />
no Gabinete Saraiva, e neste mesmo ano<br />
foi signatário <strong>da</strong> Lei dos Sexagenários,<br />
que concedia liber<strong>da</strong>de aos escravos<br />
maiores de 60 anos. Affonso Penna foi<br />
Conselheiro do Império, colaborando, assim,<br />
no exercício do Poder Moderador.<br />
Homem de extraordinária coerência,<br />
não se opôs à chega<strong>da</strong> <strong>da</strong> República,<br />
que reputava inevitável, mas foi o grande<br />
defensor <strong>da</strong> pessoa do imperador<br />
Dom Pedro II, mesmo depois de deposto,<br />
reconhecendo-o como homem de grande<br />
saber e serviços.<br />
Em 1891 foi senador estadual à<br />
Constituinte do Estado de Minas Gerais<br />
e em 14 de julho de 1892 foi eleito e<br />
empossado como Presidente do Estado<br />
de Minas Gerais, tendo governado até<br />
17 de setembro de 1894.<br />
No seu governo criou a Facul<strong>da</strong>de<br />
Livre de Ciências Jurídicas e Sociais em<br />
Ouro Preto, <strong>da</strong> qual foi o primeiro diretor.<br />
Foi professor catedrático de Economia<br />
Política e Ciência <strong>da</strong>s Finanças e mesmo<br />
como Presidente do Estado não deixava<br />
de <strong>da</strong>r as suas aulas. Tendo deixado<br />
o governo do Estado, prestou serviços,<br />
como advogado, a interesses de Minas<br />
Gerais no governo de João Pinheiro.<br />
Recusando-se em receber os honorários<br />
e tendo o governador determinado o<br />
pagamento mesmo assim, utilizou-se<br />
desses recursos e construiu, em Belo Horizonte,<br />
a sede <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de Direito<br />
que criara em Ouro Preto. A sede <strong>da</strong><br />
Facul<strong>da</strong>de ganhou por isso a carinhosa<br />
identificação de a vetusta casa de<br />
Affonso Penna.<br />
Em 1893 levou o Congresso Mineiro<br />
a reunir-se na ci<strong>da</strong>de de Barbacena,<br />
onde foi aprova<strong>da</strong>, por proposta sua, a<br />
lei fun<strong>da</strong>ndo a ci<strong>da</strong>de de Belo Horizonte,<br />
no antigo Curral Del Rey, e decretando a<br />
mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong> capital do Estado. Affonso<br />
Penna foi, portanto, um Juscelino Kubistchek<br />
de seu tempo.
Centenário<br />
Man<strong>da</strong>to fértil<br />
Presidiu o Banco <strong>da</strong> República<br />
em 1895. Foi senador pelo Estado<br />
de Minas Gerais entre 1898 e<br />
1900. De 1900 a 1902 presidiu<br />
o Conselho Deliberativo de Belo<br />
Horizonte, exatamente a Câmara<br />
Municipal. Em 1893 foi eleito<br />
vice-presidente <strong>da</strong> República.<br />
Em março de 1906 foi eleito<br />
presidente <strong>da</strong> República, empossado<br />
em sessão do Congresso<br />
Nacional, presidi<strong>da</strong><br />
por Rui Barbosa, cargo que<br />
ocupou até a sua morte em<br />
14 de junho de 1909.<br />
O seu man<strong>da</strong>to foi fértil<br />
em realizações. Lançou<br />
a pedra fun<strong>da</strong>mental <strong>da</strong><br />
Alfândega de Manaus. Assinou<br />
decreto facilitando a<br />
criação de sindicatos profissionais e<br />
de cooperativas. Construiu linhas telegráficas interligando o Rio<br />
de Janeiro à região amazônica. Regularizou o serviço de abastecimento de água no<br />
Rio de Janeiro. Construiu mais de dois mil quilômetros de estra<strong>da</strong>s de ferro. Incentivou<br />
o ensino básico. Incentivou a imigração européia e japonesa com a finali<strong>da</strong>de<br />
de fomentar o desenvolvimento agrícola do país. Instituiu o serviço militar obrigatório<br />
e celebrou o centenário de abertura dos portos.<br />
É preciso celebrar os vultos <strong>da</strong> nossa história, tornando-os presentes, para lembrar<br />
aos homens públicos do nosso tempo que, com ética e firmeza de propósitos,<br />
independentemente de ideologias e de credos, é possível construir um novo Estado,<br />
um Estado altruísta, um Estado ético.<br />
(*) José Anchieta <strong>da</strong> Silva<br />
é advogado,<br />
presidente do Instituto dos Advogados de Minas Gerais,<br />
conselheiro seccional <strong>da</strong> Ordem dos Advogados em Minas Gerais e<br />
membro do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais.<br />
A placa de<br />
inauguração <strong>da</strong><br />
Alfândega de<br />
Manaus confirma a<br />
grafia do nome de<br />
Affonso Penna<br />
CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009 - 43
Homenagem<br />
Por Padre João Francisco Ribeiro (*)<br />
PADRE<br />
SIMõES:<br />
pilar <strong>da</strong> arte e <strong>da</strong> fé<br />
No dia 20 de janeiro de 2009, o clero de Mariana perdia um de seus mais ilustres confrades<br />
e o povo de nossa Arquidiocese, em especial Ouro Preto, um grande mestre e guardião <strong>da</strong><br />
religiosi<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> cultura. Padre José Feliciano <strong>da</strong> Costa Simões foi pároco, por mais de 40 anos,<br />
<strong>da</strong> Igreja de Nossa Senhora do Pilar, onde milhares de fiéis e centenas de padres foram prestar-lhe<br />
a última homenagem, na manhã do dia 21.<br />
Filho ilustre <strong>da</strong> histórica Ouro Preto, patrimônio<br />
<strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de, padre Simões nasceu no dia 18<br />
de dezembro de 1931, sendo seus pais Bianor<br />
Simões Coelho e Gabriela Baeta <strong>da</strong> Costa Simões.<br />
Em Ouro Preto iniciou seus estudos, <strong>da</strong>ndo sequência<br />
a eles em Belo Horizonte e em Mariana, onde<br />
terminou o 2º grau e cursou Filosofia e Teologia no<br />
Seminário São José. Foi ordenado presbítero no<br />
dia 1º de dezembro de 1957, pela imposição <strong>da</strong>s<br />
mãos de dom Daniel Tavares Baeta Neves, então<br />
arcebispo coadjutor, no governo de dom Helvécio<br />
Gomes Pimenta.<br />
Padre Simões exerceu seu ministério presbiteral<br />
em várias paróquias: Nossa Senhora <strong>da</strong> Conceição,<br />
em Ouro Preto; Acesita; Mercês; Ponte Nova; Entre<br />
Rios de Minas e Santa Cruz do Escalvado. Ministrou<br />
Arte Sacra no Seminário de Mariana; foi professor e<br />
coordenador disciplinar do Colégio Arquidiocesano<br />
de Ouro Preto. Foi sub-capelão militar e coadjutor<br />
de padre João Castilho, na Paróquia Nossa Senhora<br />
do Pilar. Após a morte do padre João Castilho,<br />
foi nomeado pároco <strong>da</strong>í, onde passou durante este<br />
tempo profícuo, dedicando-se à arte e à cultura, e à<br />
preservação <strong>da</strong> cultura religiosa.<br />
Quando Tancredo Neves foi governador de<br />
Minas Gerais, foi conselheiro do Instituto Estadual<br />
de Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha). Recentemente,<br />
era o representante <strong>da</strong> Arte e <strong>da</strong> Cultura <strong>da</strong><br />
América Latina na Unesco e conselheiro ad hoc do<br />
Patrimônio Histórico Nacional.<br />
Inegável reconhecer o legado deixado pelo<br />
padre Simões. Com seu jeito singular, reservado,<br />
quase tímido, defendia com vigor e sabedoria os<br />
44 - CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009<br />
valores éticos, religiosos e culturais <strong>da</strong> nossa gente.<br />
Perdemos a companhia de uma figura singular.<br />
Ganhamos a garantia que, junto de Deus, ele estará<br />
zelando por nós, pela preservação <strong>da</strong> fé e <strong>da</strong> arte.<br />
Nossas orações se voltam a Deus para pedir-lhe que<br />
saibamos reconhecer, através do exemplo do padre<br />
Simões, o esplendor <strong>da</strong> divin<strong>da</strong>de eterna, estampa<strong>da</strong><br />
no jeito mineiro de construir templos, na sua religiosi<strong>da</strong>de<br />
vista nas ruas enfeita<strong>da</strong>s na Semana Santa e<br />
nas celebrações repletas de fervor e beleza. Muitos<br />
podem dizer que preservar a história é ter os pés no<br />
passado. Mas como negar que, para construir um<br />
futuro melhor, devemos olhar para trás, tanto para<br />
os fatos como para os exemplos deixados, através<br />
dos tempos, por aqueles que se dedicam a mu<strong>da</strong>r a<br />
reali<strong>da</strong>de. Num mundo onde os valores éticos e morais<br />
estão perdendo o significado, uma dor triste nos<br />
rodeia ao lembrarmos que o padre Simões partiu.<br />
Ao mesmo tempo, uma certeza permanece em nosso<br />
peito. A semente planta<strong>da</strong> por ele há de produzir<br />
frutos. Já os vemos. Muitos são os admiradores do<br />
padre Simões e tantos são outros que também arregaçaram<br />
com ele as mangas em prol <strong>da</strong> sua causa.<br />
Alegremo-nos e voltemos nossas preces a Deus,<br />
agradecendo a companhia do padre Simões neste<br />
tempo aqui na terra. Que seu exemplo espalhe entre<br />
nós a vontade de lutarmos pela paz e pele cui<strong>da</strong>do do<br />
patrimônio de Deus, que é ca<strong>da</strong> ser humano. E lutarmos<br />
pela preservação de nossa identi<strong>da</strong>de, manifesta<strong>da</strong><br />
na nossa fé e na nossa cultura. Que do céu, padre<br />
Simões seja o nosso “pilar <strong>da</strong> arte e <strong>da</strong> fé”.<br />
(*) Padre João Francisco Ribeiro<br />
é Diretor <strong>da</strong> Editora Dom Bosco.
ATLAS DIGITAL PUC MINAS<br />
Homenagem<br />
Por Eugênio Ferraz (*)<br />
20<br />
de janeiro de 2009. Dia triste para nós ouro-pretanos, mineiros, brasileiros.<br />
Dia triste para Ouro Preto, para Minas Gerais, para o Brasil. Dia triste<br />
para o patrimônio histórico nacional, para as artes sacras, para os museus.<br />
Morreu Padre Simões, um dos maiores ícones <strong>da</strong> preservação do nosso acervo<br />
histórico, <strong>da</strong> recuperação <strong>da</strong>s artes no Brasil.<br />
Professor, historiador, respeitável clérigo ordenado há pouco mais de 50<br />
anos junto com seu conterrâneo Dom Barroso, sua extensa biografia é de todos<br />
conheci<strong>da</strong>, nela ressaltando a intransigente defesa <strong>da</strong> memória ouro-pretana.<br />
Haverá<br />
MUSEU<br />
no Céu<br />
Relembro agora artigo que escrevi, em<br />
outubro de 2007, sobre o cinquentenário<br />
de ordenação de ambos, observando que,<br />
ca<strong>da</strong> qual a seu tempo e a seu modo,<br />
eles sempre despertaram minha atenção<br />
e admiração por terem sido “criadores de<br />
museus”.<br />
E agora, tempos depois, quase em<br />
continui<strong>da</strong>de àquele artigo, ouso imaginar<br />
que, nos céus, Padre Simões já esteja<br />
criando museus, recuperando a cultura<br />
celestial com seu jeito intransigente de<br />
preservar e defender as boas causas,<br />
as causas nobres, as causas culturais, a<br />
alimentar as almas de seus companheiros<br />
de agora.<br />
A Ouro Preto que, desde Vila Rica, já<br />
tinha em sua ilustre galeria as figuras de Tiradentes, o herói maior; os Aroucas<br />
e Calheiros, arquitetos geniais; os Macedos, afortunados dos tributos; o Aleijadinho,<br />
patrono <strong>da</strong>s artes no Brasil; Mestre Ataíde, o artista <strong>da</strong>s cores inimitáveis;<br />
Henry Gorceix, o pioneiro <strong>da</strong> formação acadêmica; tem também agora no<br />
Cônego José Feliciano <strong>da</strong> Costa Simões, o Pe. Simões, mais um membro desta<br />
plêiade de homens que marcaram de forma indelével seu tempo e a própria<br />
história, por atos que engrandecem e dignificam a natureza humana.<br />
Padre Simões, seu esforço não foi em vão! Há seguidores seus e, com certeza,<br />
os haverá per omnia secula seculorum. Amém!<br />
(*)Eugênio Ferraz<br />
é gerente regional do <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong> em Minas Gerais e<br />
membro (cadeira 47) do Instituto Histórico e Geográfico de<br />
Minas Gerais.<br />
CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009 - 45
FOTO JOSÉ ANTôNIO SACRAMENTO<br />
Manifesto<br />
Por José Antônio de Ávila Sacramento<br />
Por um PArque<br />
hiStórico para<br />
TIRADENTES<br />
Ruínas <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong> do<br />
Pombal, onde deverá ser<br />
instalado o parque em<br />
homenagem a Tiradentes<br />
46 - CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009
Manifesto<br />
A<br />
transformação<br />
<strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong> do Pombal,<br />
no município de São<br />
João del-Rei, local de<br />
nascimento de Joaquim<br />
José <strong>da</strong> Silva Xavier, o<br />
Tiradentes, em 1746,<br />
em “Parque Histórico<br />
Nacional Tiradentes”<br />
está sendo reivindica<strong>da</strong><br />
por um grupo de<br />
estudiosos mineiros,<br />
que pretende ampliar<br />
o reconhecimento <strong>da</strong><br />
nação brasileira ao<br />
mártir <strong>da</strong> Conjuração<br />
Mineira. A idéia nasceu<br />
em 12 de novembro de<br />
2008, por ocasião <strong>da</strong>s<br />
soleni<strong>da</strong>des alusivas aos<br />
262 anos do batismo de<br />
Tiradentes. O objetivo<br />
dos idealizadores é<br />
transformar o local num<br />
espaço cívico-cultural,<br />
com a pauta volta<strong>da</strong><br />
para debates de temas<br />
atuais e futuros.<br />
Os autores e primeiros<br />
signatários do<br />
Manifesto são A<strong>da</strong>lberto<br />
Guimarães Menezes,<br />
Eugênio Ferraz, Wainer<br />
de Carvalho Ávila,<br />
Oyama de Alencar<br />
Ramalho e José Antônio<br />
de Ávila Sacramento.<br />
A Revista do Centro<br />
de Estudos do Ciclo<br />
do Ouro <strong>da</strong> Casa<br />
dos Contos publica o<br />
Manifesto nesta edição<br />
com um convite aos<br />
leitores para refletirem<br />
sobre a história<br />
brasileira.<br />
CARTA DO POMBAL<br />
As civilizações, desde as mais<br />
primitivas, consciente ou inconscientemente,<br />
procuram imortalizar<br />
os seus deuses ou heróis. Celebram<br />
e valorizam os elementos<br />
marcantes <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de coletiva,<br />
a sua cultura e as suas conquistas.<br />
Tudo isto com o propósito de levar<br />
às futuras gerações um passado<br />
que deva ser preservado e como<br />
modelo a ser seguido.<br />
O Brasil era colônia portuguesa.<br />
Assim o foi até 1822. A partir<br />
de meados do século XVII, a então<br />
colônia já cultivava certa inquietude<br />
nativista, pois, mesmo contra a<br />
vontade <strong>da</strong> metrópole, fundiu os<br />
esforços de três raças para formar<br />
uma vontade única, que não esmoreceu<br />
até a completa derrota e<br />
expulsão dos holandeses de nosso<br />
território. Outras demonstrações<br />
de impacientes anseios para adquirir<br />
a autonomia administrativa e<br />
política foram mol<strong>da</strong><strong>da</strong>s com suor<br />
e sangue. Assim, contra o colonialismo,<br />
surgiram várias revoltas no<br />
Brasil. Em to<strong>da</strong>s elas o nosso solo<br />
foi irrigado com o sangue dos que<br />
sonhavam com a Liber<strong>da</strong>de.<br />
O jugo colonialista foi repudiado<br />
por um grupo de idealistas<br />
que estavam envolvidos com o<br />
movimento libertário que passou á<br />
História como Conjuração Mineira.<br />
Os integrantes do movimento foram<br />
traídos, presos e condenados após<br />
serem submetidos a um processo<br />
tendencioso, conduzido por portugueses,<br />
conhecido como Devassa.<br />
A Nação Brasileira não foi<br />
ingrata com os integrantes do<br />
movimento libertador de 1789.<br />
Ain<strong>da</strong> que mais modestamente do<br />
que deveríamos, soubemos reconhecê-los<br />
como heróis e mostrar ao<br />
povo brasileiro que a Conjuração<br />
Mineira foi um movimento cívico<br />
organizado, visando à conquista<br />
<strong>da</strong> soberania e a criação <strong>da</strong> Pátria<br />
Brasileira. Ao principal conjurado,<br />
o Alferes Joaquim José <strong>da</strong> Silva<br />
Xavier, cognominado de “Tiradentes”,<br />
coube a pena fatal pelo sonho<br />
<strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de política. Assim, anos<br />
depois, repudia<strong>da</strong> aquela pena<br />
capital, Tiradentes foi declarado<br />
“Patrono Cívico <strong>da</strong> Nação”.<br />
O “Tiradentes” não é apenas<br />
um herói mineiro, mas de todo o<br />
Brasil. É certo que o Estado de Minas<br />
Gerais e o município de São<br />
João del-Rei ostentam um galardão<br />
que qualquer Estado ou Município<br />
<strong>da</strong> Federação teriam orgulho de<br />
possuir: o de poder proclamar que<br />
o “Protomártir <strong>da</strong> Independência”<br />
soltou os primeiros vagidos e viu<br />
a luz pela vez primeira em seus<br />
territórios.<br />
Minas Gerais tem suas terras<br />
permea<strong>da</strong>s de estátuas, monumentos,<br />
quadros e inscrições que<br />
demonstram seu profundo reconhecimento<br />
ao sacrifício dos Inconfidentes;<br />
a ci<strong>da</strong>de de Ouro Preto<br />
sedia o Museu <strong>da</strong> Inconfidência,<br />
repositório de objetos evocativos<br />
<strong>da</strong>quele movimento e abrigo <strong>da</strong>s<br />
sacro-cívicas cinzas de vários<br />
mártires <strong>da</strong> Independência e essas<br />
evocações encontram retumbâncias<br />
positivas em outros estados. Minas<br />
Gerais tem, no entanto, a Fazen<strong>da</strong><br />
do Pombal, solo sagrado onde o<br />
Alferes nasceu. Ali é o “Berço <strong>da</strong><br />
Liber<strong>da</strong>de”, é o “Berço <strong>da</strong> Pátria”.<br />
Como parte importante desse<br />
processo de ensinamento e conscientização<br />
<strong>da</strong> população é imprescindível<br />
que trabalhemos em<br />
favor <strong>da</strong> idéia inicial de A<strong>da</strong>lberto<br />
Guimarães Menezes de se construir<br />
um grande Parque Memorial,<br />
em pedra e aço, com os símbolos<br />
nacionais e as estátuas de todos os<br />
<br />
CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009 - 47
Manifesto<br />
conjurados em amplo espaço,<br />
para transmitir sensação de<br />
força, demonstrar grandiosi<strong>da</strong>de<br />
e causar impacto. Aquela<br />
área é proprie<strong>da</strong>de <strong>da</strong> União<br />
e, se tais obras forem realiza<strong>da</strong>s,<br />
poderiam ser toma<strong>da</strong>s<br />
como ver<strong>da</strong>deiro “Berço <strong>da</strong><br />
Pátria”. Contaria ain<strong>da</strong> com<br />
infraestrutura capaz de receber<br />
peregrinações cívicas e culturais<br />
para fomento de debates dos<br />
problemas nacionais e globais,<br />
além de constituir-se em atração<br />
turística. O local escolhido<br />
fica em uma região<br />
palmilha<strong>da</strong> por<br />
Tiradentes e contorna<strong>da</strong><br />
pelas ci<strong>da</strong>des<br />
vizinhas, que seriam<br />
liga<strong>da</strong>s a ela, por<br />
estra<strong>da</strong>s asfalta<strong>da</strong>s.<br />
Essas ci<strong>da</strong>des não<br />
perderiam suas relíquias<br />
para o futuro<br />
“Berço <strong>da</strong> Pátria”;<br />
pelo contrário, seriamcomplementa<strong>da</strong>s<br />
e beneficia<strong>da</strong>s,<br />
sobretudo pelo<br />
aumento do fluxo<br />
turístico que certamente<br />
ocorreria.<br />
Os brasileiros,<br />
aliados ao povo de Minas<br />
Gerais, manifestam-se no sentido<br />
de que sejam empreendi<strong>da</strong>s<br />
ações que visem a reabilitar a<br />
memória do movimento conjuratório<br />
mineiro, possibilitando<br />
que as gerações atuais e futuras<br />
possam compreender que o<br />
sonho dos conjurados não era<br />
mero devaneio de poetas, mas<br />
alicerçava-se em bases bem<br />
estrutura<strong>da</strong>s. Neste sentido,<br />
procura demonstrar-nos esses<br />
fatos a pesquisadora Isolde Helena<br />
Brans, gaúcha, atualmente<br />
radica<strong>da</strong> em Campinas - SP, em<br />
seu trabalho “Tiradentes Face a<br />
Face”, no qual apresenta importantes<br />
provas sobre a existência<br />
48 - CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009<br />
de contatos dos conjurados <strong>da</strong><br />
Missão “Vendek” com Thomas<br />
Jefferson, líder <strong>da</strong> independência<br />
americana e com os representantes<br />
<strong>da</strong> burguesia revolucionária<br />
francesa. Segundo Isolde Brans,<br />
entre 1786 e 1788, Tiradentes<br />
participou clandestinamente de<br />
uma missão brasileira à Europa<br />
para um encontro com Jefferson,<br />
então embaixador americano<br />
em Paris.<br />
Os documentos trazidos à<br />
tona por Isolde podem compro-<br />
var o lado político e estratégico<br />
de Joaquim José <strong>da</strong> Silva Xavier,<br />
o “Tiradentes”. Os minuciosos<br />
estudos e pesquisas de Helena<br />
Brans, durante os vários anos em<br />
que passou debruça<strong>da</strong> sobre documentos<br />
no Brasil, em Portugal,<br />
na França e em outros países,<br />
trouxeram ao nosso conhecimento<br />
interessantes novi<strong>da</strong>des a<br />
respeito do movimento libertário<br />
que ocorreu em Minas Gerais,<br />
no século XVIII. O “Tiradentes”,<br />
que sempre é retratado como<br />
mártir, como busca provar Isolde,<br />
foi muito mais que isso. Foi<br />
um ativista de primeira linha,<br />
um estadista que, já naquela<br />
época, estabelecera contatos<br />
pessoais com Thomas Jefferson,<br />
então embaixador dos EUA<br />
na França, visando delinear o<br />
futuro comercial e político <strong>da</strong><br />
tão sonha<strong>da</strong> Pátria livre. Esta revisão<br />
<strong>da</strong> História haverá de ser<br />
amplamente discuti<strong>da</strong> e calca<strong>da</strong><br />
em documentação confiável. Se<br />
exitosa, ela nos oferecerá a real<br />
dimensão <strong>da</strong> figura de Tiradentes<br />
e do seu grupo.<br />
A área <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong> do Pombal<br />
é de dimensão suficiente<br />
para conter bosques e lagos,<br />
além de monumentos,<br />
biblioteca, centro de<br />
convenções e de to<strong>da</strong>s<br />
as demais construções<br />
funcionais e<br />
de apoio. A intenção<br />
é a de possibilitar<br />
que o local<br />
seja transformado<br />
num espaço cívico-cultural,<br />
com<br />
a pauta volta<strong>da</strong><br />
para debates<br />
de temas atuais<br />
e futuros,<br />
pertinentes à<br />
soberania nacional,<br />
aos<br />
destinos do<br />
Brasil e <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de,<br />
com a realização de<br />
fóruns que atraiam a presença de<br />
personali<strong>da</strong>des em cujas mãos<br />
estão os destinos do Estado e <strong>da</strong><br />
Nação, além de especialistas nos<br />
estudos dos mais variados problemas<br />
nacionais e internacionais.<br />
Assim, diante do exposto,<br />
nós, brasileiros, somos a favor<br />
<strong>da</strong> discussão e do fomento <strong>da</strong>s<br />
ações aqui apresenta<strong>da</strong>s e, por<br />
acreditar que Minas Gerais e o<br />
Brasil devem preitos ao “Patrono<br />
Cívico <strong>da</strong> Nação”, assinamos<br />
este documento intitulado “Carta<br />
<strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong> do Pombal” e convi<strong>da</strong>mos<br />
os brasileiros de todos os<br />
rincões a ele aderirem, pelo site<br />
www.ihgsaojoaodelrei.org.br.
Documento<br />
Procuradores aprovam em Ouro Preto<br />
diretrizes para proteção do<br />
PATRIMôNIO CULTURAL<br />
R<br />
FOTO EUGÊNIO FERRAZ<br />
epresentantes do <strong>Ministério</strong> Público Federal e estaduais, de órgãos públicos vinculados à<br />
proteção do patrimônio cultural e <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil reunidos em Ouro Preto, nos dias 11, 12 e<br />
13 de março de2009, no IV Encontro Nacional do <strong>Ministério</strong> Público de Defesa do Patrimônio<br />
Cultural, aprovaram documento de 77 itens programáticos relacionados à proteção do patrimônio<br />
cultural brasileiro, bem como uma Carta de intenções em defesa desse patrimônio.<br />
O documento final traça ver<strong>da</strong>deiro roteiro <strong>da</strong>s ações a serem empreendi<strong>da</strong>s para a proteção<br />
do patrimônio cultural, além de definir uma série de conceitos a serem observados, entre os quais<br />
o de que qualquer discussão sobre o patrimônio cultural “deve envolver a participação popular,<br />
porque o patrimônio cultural não é mais restrito aos bens alusivos ao Estado, às elites, à história<br />
dos vencedores, mas também envolve a história dos menos favorecidos, dos homens comuns” e<br />
o de que “somente podem ser considera<strong>da</strong>s e protegi<strong>da</strong>s como patrimônio cultural imaterial as<br />
práticas compatíveis com os direitos humanos, de acordo com as normativas internacionais”.<br />
A Carta de Ouro Preto, aprova<strong>da</strong> ao final do encontro, estabelece princípios e objetivos para<br />
o <strong>Ministério</strong> Público Brasileiro. Eis a íntegra:<br />
<br />
CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009 - 49
Documento FOTO EUGÊNIO FERRAZ<br />
CARTA DE OURO PRETO EM DEFESA<br />
DO PATRIMÔNIO CULTURAL<br />
O Conselho Nacional de<br />
Procuradores-Gerais dos <strong>Ministério</strong>s<br />
Públicos dos Estados e <strong>da</strong><br />
União (CNPG) e a Associação<br />
Brasileira do <strong>Ministério</strong> Público<br />
de Meio Ambiente (Abrampa),<br />
em reunião durante o IV Encontro<br />
Nacional do <strong>Ministério</strong><br />
Público em Defesa do Patrimônio<br />
Cultural, realizado em<br />
Ouro Preto, MG, de 11 a 13<br />
de março de 2009, conscientes<br />
de que a preservação do<br />
Patrimônio Cultural Brasileiro,<br />
enquanto direito difuso e indisponível<br />
pertencente às presentes<br />
e futuras gerações, não é uma<br />
alternativa ou opção, mas sim<br />
uma imposição indeclinável ao<br />
Poder Público e à coletivi<strong>da</strong>de,<br />
nos termos dos arts. 215 e 216<br />
<strong>da</strong> CF/88, devendo o <strong>Ministério</strong><br />
Público, enquanto guardião<br />
do ordenamento jurídico e dos<br />
direitos <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, adotar<br />
to<strong>da</strong>s as medi<strong>da</strong>s cabíveis para<br />
defender, promover e preservar<br />
os bens portadores de referência<br />
à identi<strong>da</strong>de, à ação e à<br />
memória dos diferentes grupos<br />
formadores <strong>da</strong> nação brasileira<br />
e considerando ain<strong>da</strong> que:<br />
O Brasil é signatário <strong>da</strong><br />
Convenção relativa à Proteção<br />
do Patrimônio Mundial Cultural<br />
e Natural de 1972 e tem o<br />
compromisso ético de preservar<br />
seus bens inscritos na lista do<br />
Patrimônio Mundial;<br />
É indiscutível a necessi<strong>da</strong>de<br />
<strong>da</strong> criação, em âmbito nacional,<br />
de uma política pública que<br />
contemple a integração dos órgãos<br />
ambientais e culturais nos<br />
níveis federal, estadual, distrital<br />
e municipal com os <strong>Ministério</strong>s<br />
50 - CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009<br />
Públicos (<strong>da</strong> União e Estaduais), a<br />
fim de propiciar maior agili<strong>da</strong>de e<br />
eficácia na adoção <strong>da</strong>s ações de<br />
promoção e defesa do Patrimônio<br />
Cultural brasileiro;<br />
As ameaças e <strong>da</strong>nos em detrimento<br />
do patrimônio cultural nacional<br />
têm aumentado sensivelmente<br />
nos últimos anos, havendo necessi<strong>da</strong>de<br />
de uma atuação ministerial<br />
especializa<strong>da</strong> e claramente volta<strong>da</strong><br />
para a prevenção e repressão<br />
dos ilícitos de maneira célere e<br />
eficiente;<br />
Determinados a promover medi<strong>da</strong>s<br />
de aprimoramento e maximização<br />
<strong>da</strong> atuação ministerial<br />
na defesa do patrimônio cultural<br />
brasileiro, estabelecem os seguintes<br />
princípios e objetivos para o <strong>Ministério</strong><br />
Público Brasileiro:<br />
1. Promover a defesa intransigente<br />
do valioso patrimônio cultural<br />
brasileiro mediante a adoção de<br />
to<strong>da</strong>s as medi<strong>da</strong>s extrajudiciais<br />
e judiciais cíveis e criminais necessárias<br />
para coibir qualquer<br />
tipo de ameaça ou <strong>da</strong>no em<br />
detrimento dos bens culturais.<br />
2.Criação e aparelhamento de<br />
Promotorias Especializa<strong>da</strong>s e<br />
Grupos Especiais Permanentes de<br />
atuação na defesa do Patrimônio<br />
Cultural, com a participação de<br />
equipes interdisciplinares.<br />
3. Unificação <strong>da</strong>s atribuições cível,<br />
criminal e de improbi<strong>da</strong>de administrativa<br />
envolvendo lesões ao<br />
patrimônio cultural brasileiro,<br />
com o fim de propiciar maior<br />
efetivi<strong>da</strong>de e instrumentali<strong>da</strong>de<br />
na defesa desse bem jurídico.<br />
2. Exigir que os estudos de impacto<br />
ambiental contemplem a análise<br />
<strong>da</strong>s interações e impactos face<br />
ao Patrimônio Cultural material<br />
e imaterial, estabelecendo<br />
medi<strong>da</strong>s mitigadoras e<br />
compensatórias em benefício<br />
<strong>da</strong> proteção, preservação e<br />
recuperação de bens culturais.<br />
3. Combater com vigor o tráfico<br />
e o comércio ilícito de bens<br />
culturais, mediante efetiva<br />
parceria com os órgãos de<br />
proteção e defesa do Patrimônio<br />
Cultural, Receita Federal e<br />
Estadual, Polícias e Interpol.<br />
4. Dar priori<strong>da</strong>de à ocupação,<br />
aquisição e recuperação<br />
de imóveis de valor cultural<br />
quando <strong>da</strong> instalação de<br />
suas sedes pelo país.<br />
5. Repúdio a todo e qualquer<br />
projeto legislativo ou ato<br />
normativo que vise a diminuir<br />
a proteção assegura<strong>da</strong> ao<br />
Patrimônio Cultural Brasileiro,<br />
por representar retrocesso<br />
ambiental e legislativo constitucionalmente<br />
ve<strong>da</strong>do, a<br />
exemplo do ocorrido com a<br />
edição do Decreto Federal nº<br />
6.640, de 7 de novembro de<br />
2008, que retirou a proteção<br />
de grande parte do patrimônio<br />
espeleológico brasileiro.<br />
6. Apoio às iniciativas que vem<br />
sendo toma<strong>da</strong>s em âmbito<br />
administrativo e legal objetivando<br />
a maximização<br />
do indispensável exercício<br />
do poder de polícia pelos<br />
órgãos de proteção ao patrimônio<br />
cultural, a exemplo do<br />
que já ocorre com os órgãos<br />
integrantes do SISNAMA.<br />
Ouro Preto, Minas Gerais, 12<br />
de março de 2009
Capa<br />
Glauco Moraes<br />
As CORES FORTES<br />
e a vi<strong>da</strong> em círculos<br />
A<br />
figura humana, o mistério, o caos urbano, as mulheres,<br />
a África.<br />
Bastante ampla, esta tem sido a temática de Glauco Moraes,<br />
jovem artista plástico mineiro, que, graduado pela Escola Guignard,<br />
ganhou em 2002 <strong>da</strong> crítica o sugestivo título de “artista<br />
revelação do novo milênio”.<br />
“O acaso <strong>da</strong> criação é mera desculpa para quem esbanja<br />
talento, solta as asas <strong>da</strong> imaginação e permite criar”, diz dele<br />
a ensaísta Ivanise Junqueira, em inspira<strong>da</strong> crítica às obras do<br />
artista. No mesmo texto, ela também afirma que, “como uma<br />
criança que sonha arteiro e corajoso, Glauco se dispõe a brincar”<br />
com as cores e as imagens e que “a condução <strong>da</strong> sua obra<br />
se faz através de quem revela sentimento artístico, de quem<br />
usa a forma e, como num passe de mágica,<br />
dobra, desdobra, triplica, multiplica”.<br />
Em recente exposição na capital mineira,<br />
intitula<strong>da</strong> “Passos de Pincel”, Glauco exibiu<br />
uma coletânea de sua produção nos últimos<br />
dez anos, reunindo trabalhos <strong>da</strong>s séries Corpos<br />
em Linha, pela qual ganhou o prêmio Artista<br />
do Novo Milênio, em 2002; Mulheres de<br />
Ouro, lança<strong>da</strong> em 2003; Diário Secreto Sétimo<br />
Véu, também de 2003; Metrópoles em Caos,<br />
de 2005; e Série Seres, de 2009, exposta no<br />
Museu Casa dos Contos, em Ouro Preto.<br />
Nesta última, Glauco apresenta 30 pinturas<br />
acrílicas sobre tela, em grandes dimensões, e<br />
retrata a busca do ser humano pela perfeição, no que diz respeito<br />
à estética, à mo<strong>da</strong> e à idealização de um corpo perfeito.<br />
A chamativa e ousa<strong>da</strong> produção <strong>da</strong>s telas segue a essência <strong>da</strong><br />
figura humana – estilo do artista – com traços e cores fortes.<br />
Na crítica a essa série, Ivanise Junqueira anota: “Na concepção<br />
de Glauco, a vi<strong>da</strong> é um círculo. Por mais que os ciclos se<br />
repitam, por mais que os problemas retornem nas nossas vi<strong>da</strong>s,<br />
a resolução deles tem forma de espiral. Talvez espirais ultrapassem<br />
limites do nosso conhecimento, ecoem pelo firmamento, se<br />
percam pelos céus, tornem-se retas que apesar de não se encontrarem,<br />
serão sempre uni<strong>da</strong>s no infinito, simétricas, refleti<strong>da</strong>s, em<br />
harmonia, como espelhos que nos mostram e se ostentam.”<br />
Pós-graduado em arte contemporânea, Glauco Moraes é<br />
curador do Museu <strong>da</strong>s Reduções e <strong>da</strong> Galeria <strong>da</strong> Galeria <strong>da</strong><br />
Casa dos Contos e diretor <strong>da</strong> Maison Escola de Artes.<br />
CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009 - 51
Em dia com o Ceco<br />
Por Eugênio Ferraz<br />
ouro Preto<br />
COMEMORA<br />
a revolução FrAnceSA e<br />
a inconFidênciA MineirA<br />
Ambas com exatos 220 anos, a Revolução Francesa e a<br />
Inconfidência Mineira foram exalta<strong>da</strong>s em abril último no<br />
lançamento, durante a Semana <strong>da</strong> Inconfidência, em Ouro<br />
Preto, do Ano <strong>da</strong> França no Brasil, que prevê a realização<br />
de vários eventos em todo país, ao longo de 2009.<br />
O vice-governador de<br />
Minas, Antonio Augusto<br />
Anastasia, lançou na Casa<br />
dos Contos o folder em<br />
francês do sistema de<br />
Museus de Ouro Preto,<br />
ao lado de Gilson Nunes,<br />
coordenador-executivo do<br />
Sistema de Museus de OP;<br />
Eugênio Ferraz, gerente<br />
regional do MF em MG;<br />
Dom Barroso, fun<strong>da</strong>dor do<br />
Museu Aleijadinho; Ângela<br />
Gutierrez, fun<strong>da</strong>dora do<br />
Museu do Oratório; Paulo<br />
Brant, secretário de Cultura<br />
de MG; Renata Vilhena,<br />
secretária de Planejamento<br />
de MG e Ângelo Oswaldo<br />
de Araújo Santos, prefeito<br />
de Ouro Preto e presidente<br />
<strong>da</strong> Associação de Ci<strong>da</strong>des<br />
Históricas do Brasil<br />
52 - CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009<br />
<br />
FOTO ROBERTO RIBEIRO
Em dia com o Ceco<br />
A s cerimônias ocorreram em<br />
vários dias na antiga Vila Rica, primeira<br />
ci<strong>da</strong>de brasileira Monumento Nacional e<br />
também a primeira do Brasil eleva<strong>da</strong> à categoria<br />
de Monumento Mundial, pela Unesco,<br />
o que acentuou ain<strong>da</strong> mais o caráter cívicocultural<br />
de Ouro Preto. Milhares de visitantes<br />
e autori<strong>da</strong>des compartilharam os sentimentos<br />
cívicos dos brasileiros, neste ano aliados aos<br />
ideais <strong>da</strong> Revolução Francesa de Liber<strong>da</strong>de,<br />
Igual<strong>da</strong>de e Fraterni<strong>da</strong>de, a confundir-se<br />
com a nossa Liber<strong>da</strong>de, Ain<strong>da</strong> Que Tardia.<br />
Em momento de grande emoção, na Praça<br />
Tiradentes, a voz <strong>da</strong> atriz Bibi Ferreira<br />
calou a multidão ao cantar a Marselhesa,<br />
sem qualquer acompanhamento. O toque<br />
político se deu com o refinado pronunciamento<br />
do governador Aécio Neves ao anunciar<br />
que aquela seria a última soleni<strong>da</strong>de<br />
cívica de 21 de abril por ele presidi<strong>da</strong>.<br />
Nos dias anteriores, diversos eventos culturais<br />
fizeram brilhar, ain<strong>da</strong> mais, a ci<strong>da</strong>de<br />
de Ouro Preto, quer pela religiosi<strong>da</strong>de de<br />
um povo estampa<strong>da</strong> no Museu do Oratório,<br />
quer por exposições como “A Inconfidência<br />
Mineira no Contexto <strong>da</strong> Revolução Francesa”<br />
e “Coleção Maria Helena e Jacques<br />
Boulieu”, respectivmente, no Museu <strong>da</strong><br />
Inconfidência e na Casa Fiemg, com direito<br />
a lançamento do livro “A Presença Francesa<br />
no Brasil”; esses três eventos foram anfitrionados<br />
pelo presidente <strong>da</strong> Federação <strong>da</strong>s<br />
Indústrias de MG, Robson Andrade.<br />
Na tarde do dia 20 de abril, o vice-governador<br />
Antonio Augusto Junho Anastasia,<br />
o prefeito Ângelo Oswaldo de Araújo Santos<br />
e a comitiva francesa estiveram na Casa<br />
dos Contos, sendo recebidos pelo Gerente<br />
Regional do <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong> em Minas<br />
Gerais, Eugênio Ferraz, e percorrendo<br />
algumas exposições do importante monumento<br />
bissecular, que simboliza as origens<br />
do <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong> e é testemunha<br />
física <strong>da</strong> evolução histórica <strong>da</strong>s raízes de<br />
nossa nacionali<strong>da</strong>de.<br />
Durante a visita, a comitiva ouviu narrativa<br />
do brilhante contador de histórias Maurício<br />
Trin<strong>da</strong>de sobre Tiradentes e testemunhou o<br />
lançamento <strong>da</strong> Carta <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong> do Pombal,<br />
por iniciativa do Instituto Histórico e Geográfico<br />
de São João del-Rei, que defende a criação<br />
de um Parque em homenagem ao mártir<br />
<strong>da</strong> Inconfidência (leia matéria à página 47).<br />
O Sistema de Museus de Ouro Preto, enti<strong>da</strong>de pioneira no País,<br />
congrega doze museus <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de: de Ciência e Técnica, <strong>da</strong><br />
Inconfidência, do Oratório, Aberto Ci<strong>da</strong>de Viva, Casa Guignard,<br />
Casa dos Contos, de Arte Sacra, Pharmacia, Aleijadinho, Ecomuseu<br />
<strong>da</strong> Serra, do Chá do Parque do Itacolomy e <strong>da</strong>s Reduções<br />
(*) Eugênio Ferraz,<br />
Gerente Regional do <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong> em Minas Gerais, e<br />
responsável pela direção e administração <strong>da</strong> Casa dos Contos<br />
CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009 - 53
Comemoração<br />
A Academia Mineira de Letras, que<br />
comemora este ano o seu centenário de<br />
criação, será homenagea<strong>da</strong> pela Casa<br />
<strong>da</strong> Moe<strong>da</strong> do Brasil, em 18 de junho<br />
próximo, com o lançamento de uma<br />
Me<strong>da</strong>lha alusiva à <strong>da</strong>ta. A proposta de<br />
cunhagem <strong>da</strong> Me<strong>da</strong>lha foi feita pelo<br />
engenheiro Eugênio Ferraz, titular<br />
<strong>da</strong> Cadeira 47 do Instituto Histórico e<br />
Geográfico de Minas Gerais, que redigiu<br />
o respectivo Edital, a seguir transcrito.<br />
centenÁrio dA<br />
Academia Mineira de letras<br />
54 - CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009<br />
Scribendi nullus finis!<br />
O escrever não tem fim!<br />
É este o adágio <strong>da</strong> existência <strong>da</strong> Academia Mineira de Letras.<br />
Verum, pulcrum et bonum!<br />
Ver<strong>da</strong>deiro, belo e bom!<br />
Desde o 25 de dezembro de 1909, <strong>da</strong>ta de sua fun<strong>da</strong>ção, até agora, cem anos depois,<br />
Minas Gerais e o Brasil reverenciam a instituição-síntese <strong>da</strong> intelectuali<strong>da</strong>de mineira, na qual pontificam<br />
escritores, jornalistas, profissionais liberais, homens públicos, catedráticos e conceituados<br />
militantes dos tribunais, em continui<strong>da</strong>de aos elevados atributos de seus 12 fun<strong>da</strong>dores, em Juiz de<br />
Fora, que elegeram, naquela oportuni<strong>da</strong>de, outras 18 imortais personali<strong>da</strong>des mineiras.<br />
Em 1915, sua transferência para a capital conferiu-lhe maior dimensão e presença no meio sóciocultural<br />
do Estado e do País.<br />
Seu chamado presidente eterno, Vivaldi Moreira, que tanto a ela se assemelhou, em lúcidos<br />
momentos de eleva<strong>da</strong> competência, viabilizou a sede própria, sua restauração e a construção do<br />
auditório lateral a partir do risco genial de Gustavo Penna.<br />
Divergindo, contrastando, agregando e complementando um ao outro, ambos os edifícios bem<br />
simbolizam o mineirismo e a mineiri<strong>da</strong>de, em meio às singulares belezas construtivas e a seus interiores<br />
de livros e exposições de ideias e ideais <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de destas Minas Gerais, que são muitas<br />
e única em si mesmo.<br />
Seus 40 membros, como na Academia Brasileira de Letras e na Academia Francesa, sob a presidência<br />
do ex-senador e intelectual Murilo Ba<strong>da</strong>ró a coman<strong>da</strong>r o centenário, formam o so<strong>da</strong>lício<br />
eclético no saber e singular nas competências que tão bem representam Minas Gerais.
CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009 - 55
Em dia com o CECO<br />
“Preservar a memória econômico-fiscal<br />
do Ciclo do Ouro, a arquitetura barroca e<br />
promover as artes e a cultura nacional”<br />
visitantes elogiam<br />
Grande parte<br />
dos visitantes<br />
<strong>da</strong> Casa dos<br />
Contos, em<br />
Ouro Preto, faz<br />
questão de,<br />
ao sair, deixar<br />
registra<strong>da</strong> sua<br />
opinião sobre<br />
a visita, com<br />
observações,<br />
críticas e<br />
comentários.<br />
Selecionamos<br />
algumas<br />
dessas<br />
manifestações,<br />
que resumem<br />
o sentido geral<br />
<strong>da</strong> maioria.<br />
• Porto Alegre, RS<br />
Impressionante. Os funcionários fornecem<br />
informações, a conservação é<br />
impecável. Parabéns!<br />
A. P. C.<br />
• Brasília, DF<br />
A restauração <strong>da</strong> Casa é excelente e<br />
mantê-la aberta, contando a história, riqueza<br />
e dor <strong>da</strong> i<strong>da</strong>de do ouro, mantém<br />
viva a chama <strong>da</strong> luta pela igual<strong>da</strong>de<br />
entre homens e mulheres deste País.<br />
Parabéns!<br />
D. C. S.<br />
• Salvador, BA<br />
Fiquei admira<strong>da</strong> com o Museu. A<br />
história está sendo conta<strong>da</strong> de forma<br />
magnífica. Os funcionários são bem<br />
receptivos e nos aju<strong>da</strong>m a entender<br />
melhor a nossa história. Como tudo em<br />
Ouro Preto, a Casa dos Contos tem a<br />
minha mais profun<strong>da</strong> admiração. L. F. M.<br />
• Diadema, SP<br />
Não há comentários a fazer, apenas<br />
elogios. É muito gratificante saber que<br />
existem pessoas e enti<strong>da</strong>des realmente<br />
interessa<strong>da</strong>s em conservar nossa arte e<br />
nossa história.<br />
C. P. S.<br />
• Belém, PA<br />
Esta é a segun<strong>da</strong> vez que visito este<br />
museu e a ca<strong>da</strong> vez o encantamento se<br />
renova. Temos que preservar o nosso<br />
passado para mostrá-lo para nossos<br />
filhos, netos e bisnetos (o futuro).<br />
A. M. N. T.<br />
• Belo Horizonte, MG<br />
Visitar a Casa dos Contos sempre me<br />
deixa imensamente feliz. Mudei-me de<br />
Ouro Preto em junho de 1975 e lembro-me<br />
de uma época triste de abandono<br />
deste patrimônio. Hoje, forma<strong>da</strong><br />
em história pela UFG (Goiás), sinto-me<br />
muito satisfeita de perceber o cui<strong>da</strong>do<br />
na preservação deste monumento e de<br />
muitos outros em Ouro Preto. Existe<br />
hoje na ci<strong>da</strong>de uma consciência em<br />
relação à vi<strong>da</strong> cultural e isto é muito vibrante<br />
e importante para a população<br />
que vive aqui.<br />
C. R. N.<br />
• Paris, França<br />
Adoro visitar a Casa dos Contos sempre<br />
que venho aqui. As exposições<br />
estão ca<strong>da</strong> vez melhores. Parabéns!<br />
R. F. B.<br />
• Ci<strong>da</strong>de do México, México<br />
Muy buena informacion, muy buena<br />
restauracion.<br />
J. A. C.<br />
• Porto, Portugal<br />
A exposição está bem organiza<strong>da</strong> e<br />
permite uma fácil compreensão <strong>da</strong><br />
temática do Museu. Estão de parabéns<br />
desde o atendimento (são muito amáveis<br />
e bem informados) até a exposição<br />
(muito bem apresenta<strong>da</strong> e facilmente<br />
compreensível).<br />
D. R. A.<br />
• Holan<strong>da</strong><br />
Very, very beautiful and interesting.<br />
Z. V. H. L.<br />
• Contagem, MG<br />
Essa Casa é a cultura viva do passado<br />
<strong>da</strong>s Minas Gerais, que tanto retrata a<br />
CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009 - 56
a casa dos contos<br />
história do Brasil. O nosso passado alegre<br />
e negro, por isso deve ser preservado<br />
para to<strong>da</strong>s as gerações futuras.<br />
E. E. P. C.<br />
• Seropédica, RJ<br />
Estou em lua-de-mel e <strong>da</strong>qui guar<strong>da</strong>rei<br />
excelentes lembranças. A Casa dos<br />
Contos tem um ambiente fantástico,<br />
uma restauração primorosa e uma<br />
equipe de atendimento na<strong>da</strong> menos<br />
que perfeita, além de extremamente<br />
gentil, Cinco mil ‘parabéns’ não seriam<br />
o suficiente.<br />
F. L. G. O.<br />
• Santiago, Chile<br />
Felicitaciones! El trabajo de conservacion<br />
de la casa es estupendo; y es<br />
reconocido por la historia misma de<br />
Brasil y sobre todo de Ouro Preto es<br />
maravilloso.<br />
E. A. V.<br />
• São José, SC<br />
Só tenho elogios para o espaço, principalmente<br />
pelo atendimento dos funcionários;<br />
os museus do Brasil deveriam se<br />
inspirar neste.<br />
D. V.<br />
• Buenos Aires, Argentina<br />
Adorei visitar a Casa dos Contos.<br />
Aprendi muito <strong>da</strong> história brasileira.<br />
O pessoal aqui foi muito amável. Mas<br />
muito mesmo!<br />
A.Y.<br />
• Velburg, Alemanha<br />
Adoramos a visita, o pessoal é cortês,<br />
educado e informado.<br />
J. e L.<br />
• Roma, Itália<br />
Muy interessante e precioso.<br />
R. M. F. P.<br />
• São Paulo, SP<br />
O espaço tem um enorme potencial<br />
educativo e de comunicação com o<br />
público e comuni<strong>da</strong>de, que merece ser<br />
descoberto e valorizado.<br />
M. F. V. S.<br />
• Belém, PA<br />
Moro no Pará, e fiquei impressiona<strong>da</strong><br />
com a história desse lugar; o acervo é<br />
muito rico. M. N. C.<br />
• São Mateus, ES<br />
Eu gostei muito <strong>da</strong>s moe<strong>da</strong>s e notas antigas,<br />
de saber melhor como era a vi<strong>da</strong><br />
nos séculos XVIII e XIX. Gostei também<br />
do atendimento e gentileza dos funcionários.<br />
Contarei aos meus conhecidos<br />
sobre a Casa dos Contos.<br />
P. A. M. M.<br />
• Fortaleza, CE<br />
Interessante e aconselhável. Minas é um<br />
estado de espírito.<br />
R. V. D. L.<br />
• Arizona, EUA<br />
Parabenizo aos diretores e secretaria<br />
<strong>da</strong> Casa dos Contos e a todos os funcionários<br />
pela conservação do mesmo.<br />
R. F. T.<br />
• São Paulo, SP<br />
A exposição é maravilhosa, também<br />
não posso deixar de elogiar o atendimento<br />
e a cordiali<strong>da</strong>de de todos os funcionários.<br />
É sem palavras o que vocês<br />
fazem pelo povo brasileiro: manter viva<br />
a nossa história. Parabéns! E. C. M.<br />
CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009 - 57
A quali<strong>da</strong>de<br />
gráfica e<br />
editorial <strong>da</strong><br />
última edição <strong>da</strong><br />
revista voltaram<br />
a merecer<br />
elogios efusivos<br />
dos leitores,<br />
que enviaram<br />
cartas, também<br />
oferecendo<br />
críticas e<br />
sugestões.<br />
Selecionamos<br />
algumas cartas,<br />
que resumem<br />
o sentido <strong>da</strong>s<br />
muitas envia<strong>da</strong>s.<br />
58 - CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009<br />
Falam os leitores<br />
• Em nome do Sistema de Museus de<br />
Ouro Preto, gostaria de cumprimentar a<br />
Revista Casa dos Contos, pela bela matéria<br />
sobre o Museu <strong>da</strong>s Reduções, de<br />
Ouro Preto, publica<strong>da</strong> na edição de nº<br />
06, de dezembro de 2008. Realmente,<br />
o Museu <strong>da</strong>s Reduções tem se constituído<br />
em uma de nossas principais<br />
atrações, graças ao seu acervo único e<br />
ao contexto em que se encontra, que o<br />
tornam marca registra<strong>da</strong> <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de<br />
museal de Ouro Preto.<br />
Prof. Gilson Nunes<br />
Coordenador Executivo Sistema de Museus de Ouro Preto<br />
• Li, com a devi<strong>da</strong> atenção, todos os artigos<br />
nela contidos e deles pude retirar<br />
vasta matéria para reflexão em torno<br />
de assuntos que envolvem as Políticas<br />
Públicas do meu Estado e do Brasil.<br />
Parabenizo-os pelo brilhante trabalho.<br />
José Fernando Aparecido de Oliveira<br />
Deputado federal, PV-MG<br />
• É uma <strong>da</strong>s raras publicações que reúne<br />
a técnica com o histórico, retratando<br />
patrimônios <strong>da</strong> União, e que divulga<br />
com digni<strong>da</strong>de nossa cultura. A publicação<br />
é ótima [...] e poderia se estender<br />
a outros Estados.<br />
Engenheiro Neidivan Alves <strong>da</strong> Cunha<br />
Santos, SP<br />
• A importância <strong>da</strong> Imprensa é pouco<br />
reconheci<strong>da</strong> ain<strong>da</strong> pela sua força na<br />
educação – ciência – desenvolvimento<br />
social. Sua semelhança poderia ser<br />
menciona<strong>da</strong> com a dos bandeirantes<br />
que pisaram em terras desconheci<strong>da</strong>s<br />
e as conquistaram.<br />
Lívia Paulini<br />
Escritora, Belo Horizonte, MG<br />
• Acabo de receber o último número <strong>da</strong><br />
Revista e percebo, desde logo, que se<br />
trata de mais uma edição primorosa,<br />
digna de todos os elogios. Parabéns a<br />
você e ao <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong> por<br />
mais essa valiosa contribuição para<br />
a melhor compreensão <strong>da</strong> história de<br />
Minas Gerais e do Brasil.<br />
Marcos Paulo de Souza Miran<strong>da</strong><br />
Promotor, Belo Horizonte, MG<br />
• A Revista Casa dos Contos acrescentanos<br />
a ca<strong>da</strong> edição novos conhecimentos<br />
sobre a história de Minas. O artigo<br />
“O cotidiano <strong>da</strong> alimentação na Lavra<br />
<strong>da</strong> Porteira” nos dá uma visão sobre<br />
costumes e alimentação do Sec. XVIII<br />
em Minas, assim nos abrindo as portas<br />
a uma compreensão diferencia<strong>da</strong> <strong>da</strong>quele<br />
período. O artigo “Criminali<strong>da</strong>de<br />
escrava” complementa o estudo que a<br />
revista vem fazendo sobre o ciclo do<br />
ouro, em suas edições, assim permitindo<br />
ao público um contato mais efetivo<br />
com aquele período tão importante <strong>da</strong><br />
história mineira.<br />
Yara Tupinambá<br />
Artista plástica, Belo Horizonte, MG<br />
• Projeto gráfico, ótimo. Conteúdo dos<br />
artigos, bom. Texto <strong>da</strong> revista, bom.<br />
Gostei mais <strong>da</strong> matéria “Instituto João<br />
Pinheiro, uma República Escolar”.<br />
Sugiro criar uma seção dedica<strong>da</strong> a<br />
breves resenhas críticas de divulgação<br />
sobre as publicações do Ceco / Casa<br />
dos Contos disponíveis no Museu Casa<br />
dos Contos.<br />
Guilherme Queiroz de Macedo<br />
Técnico em Assuntos Educacionais,<br />
UFMG, Belo Horizonte, MG<br />
• A Revista cumpre excelente papel de<br />
recuperação de instigantes aspectos<br />
de nossa historiografia. Sua quali<strong>da</strong>de<br />
gráfica e informativa aumenta nossa<br />
auto-estima de sermos mineiros.<br />
Marco Aurélio Baggio<br />
Médico, Belo Horizonte, MG