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Editorial - Esaf - Ministério da Fazenda

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<strong>Editorial</strong><br />

Por Eugênio Ferraz(*)<br />

C hegamos<br />

ao sétimo número, superando to<strong>da</strong>s as dificul<strong>da</strong>des que costumam enfrentar<br />

as publicações culturais no Brasil, que raramente ultrapassam a marca <strong>da</strong> ‘meia dúzia’, graças à<br />

lúci<strong>da</strong> colaboração de algumas instituições e empresas.<br />

Quanto à garantia <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> revista, nosso esforço é menos dramático e mais prazeroso,<br />

graças à excelência do grupo de intelectuais, pesquisadores e artistas que têm colaborado conosco,<br />

enviando seus textos, suas pesquisas, suas reflexões, suas obras para publicação. Registre-se aqui<br />

a todos o nosso agradecimento.<br />

Depois de comemorar na última edição os 200 anos do <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong>, esta edição <strong>da</strong><br />

Revista do CECO / Casa dos Contos de Ouro Preto agrupa novamente uma sequência de artigos<br />

alusivos a <strong>da</strong>tas expressivas: o centenário de morte do presidente Affonso Penna, em texto do<br />

presidente do Instituto dos Advogados de Minas Gerais, José Anchieta <strong>da</strong> Silva; o centenário de<br />

nascimento do filólogo Aires <strong>da</strong> Mata Machado Filho, celebrado por seu ex-secretário e amigo, o<br />

jornalista José Mendonça; e a morte do Padre Feliciano <strong>da</strong> Costa Simões, um campeão na luta<br />

pela preservação do patrimônio cultural de Ouro Preto, aqui reverenciado em um artigo de<br />

minha autoria e outro do Padre João Francisco Ribeiro.<br />

A história <strong>da</strong> formação de especialistas em restauração no Brasil é disseca<strong>da</strong> pela professora<br />

Beatriz Coelho, uma pioneira no assunto, já que foi a idealizadora, fun<strong>da</strong>dora e diretora do Centro<br />

de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis (Cecor) <strong>da</strong> Escola de Belas-<br />

Artes <strong>da</strong> UFMG.<br />

A história <strong>da</strong> maçonaria em Minas Gerais, no período pré-republicano, também<br />

é conta<strong>da</strong> aqui, incluindo considerações sobre a participação dos maçons em<br />

movimentos como a Inconfidência Mineira e a própria Proclamação <strong>da</strong> República,<br />

pelo promotor Marcos Paulo de Souza Miran<strong>da</strong>, colega do Instituto Histórico e<br />

Geográfico de MG e coodenador <strong>da</strong> Promotoria de Defesa do Patrimônio Histórico<br />

e Turístico de MG.<br />

Na vertente memorialista, tão cara aos mineiros, o escritor José Bento Teixeira<br />

de Salles, <strong>da</strong> Academia Mineira de Letras, nos proporciona uma deliciosa viagem<br />

pela sua Santa Luzia, berço de disputas coloniais históricas e de histórias humanas<br />

enriquecedoras. Sua crônica vem rechea<strong>da</strong> com algumas fotos também históricas,<br />

cedi<strong>da</strong>s pelo médico luziense Márcio de Castro e Silva, presidente <strong>da</strong> Associação<br />

Cultural Comunitária <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de.<br />

Um estudo feito pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia <strong>da</strong> PUC Minas sobre os<br />

equipamentos turísticos existentes ao longo <strong>da</strong> Estra<strong>da</strong> Real ganha aqui um bom resumo, por seus<br />

próprios autores Éder Romagna Rodrigues e Alexandre Magno Alves Diniz, que, inclusive,<br />

mostram o ranking <strong>da</strong>s 20 ci<strong>da</strong>des mais bem situa<strong>da</strong>s.<br />

A revista traz, ain<strong>da</strong>, dois documentos relevantes sobre a preservação do patrimônio brasileiro:<br />

um abaixo-assinado em defesa <strong>da</strong> edificação de um Parque Histórico na Fazen<strong>da</strong> do Pombal,<br />

município de São João del-Rei, local de nascimento de Joaquim José <strong>da</strong> Silva Xavier, o Tiradentes,<br />

redigido por José Antonio Sacramento; e a Carta de Ouro Preto, aprova<strong>da</strong> durante o IV Encontro<br />

Nacional do <strong>Ministério</strong> Público de Defesa do Patrimônio Cultural, realizado em Ouro Preto, com<br />

diretrizes a serem observa<strong>da</strong>s pelos promotores de todo o País.<br />

Finalmente, retomamos a série de entrevistas com personali<strong>da</strong>des de vi<strong>da</strong> brasileira, registrando a<br />

sabedoria de Dom Serafim Fernandes de Araújo, que acaba de completar 50 anos de ordenação<br />

episcopal e tem mais de 60 anos de dedicação à causa <strong>da</strong> educação e <strong>da</strong> cultura brasileiras; na<br />

conversa com o editor, o ‘Cardeal do Vale’ dá ver<strong>da</strong>deira lição de vi<strong>da</strong>, do alto dos 85 anos que<br />

irá completar em agosto.<br />

A edição vem emoldura<strong>da</strong>, a partir <strong>da</strong> capa, por ver<strong>da</strong>deira obra de arte de Glauco Moraes,<br />

que registra, a seu modo e em cores vivas, a nossa Casa dos Contos de Ouro Preto e recebe de nós<br />

um rápido perfil enriquecido com trechos de ensaio de Ivanise Junqueira sobre o autor.<br />

Completam este número o registro do lançamento <strong>da</strong>s comemorações do Ano <strong>da</strong> França no Brasil,<br />

ocorrido na Casa dos Contos, em abril, e as opiniões de leitores <strong>da</strong> última edição e de visitantes do<br />

nosso Centro Cultural, na antiga Vila Rica.<br />

Entregar mais um número <strong>da</strong> Revista do Ceco / Casa dos Contos ao público é sempre um grande<br />

prazer para nós. Esperamos que o mesmo ocorra com você, na leitura.<br />

(*) Gerente<br />

Regional do<br />

<strong>Ministério</strong> <strong>da</strong><br />

Fazen<strong>da</strong> em<br />

Minas Gerais,<br />

também<br />

responsável<br />

pela direção e<br />

administração<br />

<strong>da</strong> Casa<br />

dos Contos;<br />

membro<br />

do Instituto<br />

Histórico e<br />

Geográfico de<br />

Minas Gerais


Índice<br />

A preservação de bens culturais no Brasil: uma trajetória,<br />

por Beatriz Coelho 5<br />

A Maçonaria em Minas Gerais no<br />

período pré-republicano,<br />

por Marcos Paulo de Souza Miran<strong>da</strong> 11<br />

Aires <strong>da</strong> Mata Machado Filho, grande<br />

mestre e maior amigo,<br />

por José Mendonça 18<br />

Elegia Luziense,<br />

por José Bento Teixeira de Salles 21<br />

Serafim, o Cardeal do Vale,<br />

por Manoel Marcos Guimarães 29<br />

A rede de núcleos <strong>da</strong> Estra<strong>da</strong> Real e sua aptidão<br />

para o turismo: um legado a ser desven<strong>da</strong>do,<br />

por Éder Romagna Rodrigues e<br />

Alexandre Magno Alves Diniz 35<br />

Affonso Penna de volta a Santa Bárbara,<br />

por José Anchieta <strong>da</strong> Silva 41<br />

Revista do CECO/Casa dos Contos<br />

Publicação relativa ao Centro de Estudos do Ciclo do Ouro/Casa dos Contos de Ouro Preto. Endereços: GRA-MF/MG - Aveni<strong>da</strong> Afonso Pena,<br />

1316, 7º an<strong>da</strong>r, CEP 30130-003, Belo Horizonte, MG; Casa dos Contos - Rua São José, 12, CEP 35400-000, Ouro Preto, MG, Telefone<br />

(31) 3218-6720; Endereços eletrônicos: gra.mg.gra@fazen<strong>da</strong>.gov.br e casa.dos.contos@fazen<strong>da</strong>.gov.br. Projeto gráfico e editoração<br />

eletrônica: Edições Geraes; Projeto editorial e edição: GM3 Comunicação; Jornalista responsável Manoel Marcos Guimarães MG 01587-JP.;<br />

Direção editorial: Eugênio Ferraz.<br />

4 - CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009<br />

Em sua mais recente exposição, Glauco Moraes explora a figura humana, em cores fortes<br />

Padre Simões: pilar <strong>da</strong> arte e <strong>da</strong> fé,<br />

por Padre João Francisco Ribeiro 44<br />

Haverá museu no Céu,<br />

por Eugênio Ferraz 45<br />

Por um parque histórico para Tiradentes,<br />

por José Antônio de Ávila Sacramento 46<br />

Procuradores aprovam em Ouro Preto diretrizes para<br />

proteção do patrimônio cultural, 49<br />

Glauco Moraes:<br />

As cores fortes e a vi<strong>da</strong> em círculos, 51<br />

Ouro Preto comemora a Revolução Francesa e a<br />

Inconfidência Mineira,<br />

por Eugênio Ferraz 52<br />

Centenário <strong>da</strong> Academia Mineira de Letras 54<br />

Em dia com o Ceco / Manifestações 56<br />

Falam os leitores 58<br />

ARTE GLAUCO MORAES


Arquivo CeCor<br />

A PRESERVAÇÃO DE BENS<br />

CULTURAIS NO BRASIL:<br />

UMA TRAJETÓRIA<br />

Pintura do teto <strong>da</strong> Igreja de São Francisco de Assis, de Ouro Preto, de<br />

Manoel <strong>da</strong> Costa Ataíde, restaura<strong>da</strong> por equipe do Cecor / UFMG.<br />

<br />

CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009 - 5


Restauração<br />

Por Beatriz Coelho (*)<br />

Desde 1742 que,<br />

em gestos isolados,<br />

personagens <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

pública brasileira<br />

defendiam os nossos<br />

monumentos e já se<br />

manifestavam sobre<br />

a necessi<strong>da</strong>de de<br />

medi<strong>da</strong>s de proteção<br />

ao patrimônio<br />

histórico e artístico<br />

do país. Em outras<br />

palavras, lutavam<br />

pela preservação <strong>da</strong><br />

memória nacional.<br />

Quase cem anos mais<br />

tarde, na Bahia, em<br />

1824, e pouco depois<br />

em Pernambuco,<br />

eram toma<strong>da</strong>s<br />

iniciativas efetivas<br />

para proteção aos<br />

acervos históricos, com<br />

leis que criaram as<br />

Inspetorias Estaduais<br />

de Monumentos<br />

Nacionais.<br />

6 - CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009<br />

S omente a partir de 1920,<br />

no entanto, começaram a surgir<br />

anteprojetos de leis nacionais<br />

visando à defesa de nosso acervo<br />

cultural. Vários motivos, como<br />

choques entre os seus conteúdos,<br />

a Constituição e o Código Civil<br />

<strong>da</strong> época, além de mu<strong>da</strong>nças de<br />

governo, influíram para que essas<br />

medi<strong>da</strong>s não se concretizassem.<br />

A primeira lei federal sobre<br />

o assunto foi o decreto de 1933<br />

que tornou Ouro Preto monumento<br />

nacional. A Constituição de 1937<br />

estabeleceu que “os monumentos<br />

históricos, artísticos e naturais,<br />

Conceito ampliado<br />

O Artigo 1º do Decreto-lei nº 25 diz:<br />

assim como paisagens particularmente<br />

dota<strong>da</strong>s pela natureza, gozam<br />

de proteção e dos cui<strong>da</strong>dos<br />

especiais <strong>da</strong> Nação, dos Estados<br />

e dos Municípios.”<br />

Em janeiro desse mesmo ano<br />

era criado o Serviço do Patrimônio<br />

Histórico e Artístico Nacional<br />

(Sphan) e, em 30 de novembro,<br />

foi finalmente promulgado o Decreto-lei<br />

no 25, que organizou a<br />

proteção do patrimônio histórico<br />

e artístico nacional. O Brasil foi,<br />

assim, o primeiro país <strong>da</strong> América<br />

Latina a organizar as medi<strong>da</strong>s de<br />

defesa do seu patrimônio.<br />

“Constitui o patrimônio histórico e artístico nacional o conjunto<br />

de bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja<br />

de interesse público, quer por seu excepcional valor arqueológico<br />

ou etnográfico, bibliográfico ou artístico.”<br />

Cinquenta e um anos depois, a Constituição de 1988, em seu<br />

artigo 216, ampliou o conceito de patrimônio ao definir que “Constituem<br />

patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e<br />

imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de<br />

referência à identi<strong>da</strong>de, à ação, à memória dos diferentes grupos<br />

formadores <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de brasileira, nos quais se incluem: I - as<br />

formas de expressão; II - os modos de criar, fazer e viver; III - as<br />

criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV - as obras, objetos,<br />

documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações<br />

artístico-culturais; V - os conjuntos urbanos e sítios de valor<br />

histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico,<br />

ecológico e científico.”


Restauração<br />

Intelectuais<br />

e heróis<br />

Idealizado e criado pelo então ministro<br />

<strong>da</strong> Educação e Saúde Pública Gustavo<br />

Capanema (na época com apenas 37<br />

anos), o Serviço do Patrimônio Histórico<br />

e Artístico Nacional contou desde sua<br />

criação com a colaboração de importantes<br />

intelectuais brasileiros, como Mário<br />

de Andrade – autor do projeto- , os arquitetos<br />

Lúcio Costa e Oscar Niemeyer,<br />

os poetas Manuel Bandeira, Oswald de<br />

Andrade e Carlos Drummond de Andrade,<br />

e os intelectuais Afonso Arinos e<br />

Rodrigo Mello Franco de Andrade, este<br />

último responsável, durante 30 anos, por<br />

sua direção.<br />

Dedicaram também grande parte de<br />

sua vi<strong>da</strong> à causa <strong>da</strong> preservação <strong>da</strong><br />

memória nacional Airton Carvalho e José<br />

Ferrão Castelo Branco, em Pernambuco;<br />

João José Rescala, na Bahia; Edson<br />

Motta, Renato Soeiro, Augusto Carlos<br />

<strong>da</strong> Silva Telles, Lygia e Judith Martins,<br />

no Rio de Janeiro; Sylvio Vasconcellos,<br />

em Minas Gerais; e Luís Saia, em São<br />

Paulo, para citar apenas os de maior<br />

destaque.<br />

A falta crônica de verbas e a luta<br />

contra interesses de particulares e, às<br />

vezes, de setores do próprio governo,<br />

fizeram com que os esforços do hoje<br />

Instituto do Patrimônio Histórico Artístico<br />

Nacional (Iphan) se concentrassem<br />

quase exclusivamente no inventário e<br />

tombamento (registro no livro de tombos)<br />

de monumentos arquitetônicos e na<br />

restauração de obras em fase já muito<br />

grave de deterioração. Convém lembrar<br />

que nas déca<strong>da</strong>s de 1940 e 1950 o<br />

Brasil não dispunha de boas estra<strong>da</strong>s e<br />

que era difícil e, muitas vezes penosa, a<br />

locomoção para pontos distantes para se<br />

fazer o estudo, a documentação e, algumas<br />

vezes, a restauração dos monumentos.<br />

Por isso mesmo, essa foi considera<strong>da</strong><br />

a fase heróica do Patrimônio no Brasil.<br />

FOTOS BEATRIZ COELHO<br />

Antes<br />

Detalhe<br />

do teto <strong>da</strong><br />

Igreja de São<br />

Francisco<br />

de Assis de<br />

Ouro Preto<br />

Depois<br />

<br />

CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009 - 7


Restauração<br />

I<strong>da</strong>s e vin<strong>da</strong>s institucionais<br />

Imagem de<br />

Nossa Senhora<br />

<strong>da</strong> Pie<strong>da</strong>de,<br />

de Felixlândia,<br />

atribuí<strong>da</strong> ao<br />

Aleijadinho;<br />

restauração<br />

feita pelo Cecor<br />

em 2001, sob a<br />

coordenação de<br />

Beatriz Coelho<br />

<br />

8 - CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009<br />

Em 1970 e em 1971, por convocação<br />

do então ministro <strong>da</strong> Educação,<br />

Jarbas Passarinho, houve duas reuniões<br />

de governadores - a primeira em Brasília<br />

e a segun<strong>da</strong> em Salvador - nas quais<br />

foram toma<strong>da</strong>s importantes decisões<br />

para a preservação do patrimônio, a<br />

formação de restauradores e a destinação<br />

de verbas para pesquisa na área,<br />

envolvendo o então Conselho Nacional<br />

de Pesquisas (CNPq) e a Coordenação<br />

de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível<br />

Superior (Capes). Em 1973, a Secretaria<br />

de Planejamento <strong>da</strong> Presidência <strong>da</strong> República<br />

– hoje <strong>Ministério</strong> do Planejamento<br />

–, por iniciativa do ministro João Paulo<br />

dos Reis Veloso, criou o Programa de<br />

Ci<strong>da</strong>des Históricas (PCH), que trouxe<br />

reforço financeiro e iniciou nova etapa<br />

na preservação do patrimônio cultural,<br />

inicialmente no Nordeste e, a partir de<br />

1977, ampliando suas ativi<strong>da</strong>des e recursos<br />

para os estados de Minas Gerais,<br />

Rio de Janeiro e Espírito Santo. Logo<br />

após, o programa abrangia todo o país,<br />

passando a atuar em ligação com a Empresa<br />

Brasileira de Turismo (Embratur),<br />

a Superintendência de Desenvolvimento<br />

do Nordeste (Sudene) e a Comissão<br />

Nacional <strong>da</strong>s Regiões Metropolitanas<br />

(CNPU).<br />

Em 1979, por iniciativa de Aloísio<br />

Magalhães, foi cria<strong>da</strong> a Fun<strong>da</strong>ção<br />

Nacional Pró-Memória, que reuniu<br />

as experiências e o pessoal<br />

do Iphan, do PCH e<br />

do Centro Nacional de<br />

Referência Cultural, que<br />

havia sido criado também<br />

por Aloísio Magalhães e<br />

que tinha como objetivo<br />

principal a preservação<br />

<strong>da</strong>s tradições, do saber<br />

e do fazer populares, ou<br />

seja, do que hoje chamamos<br />

de bens imateriais.<br />

A Fun<strong>da</strong>ção Nacional<br />

Pró-Memória trouxe um aumento dos<br />

recursos humanos e financeiros para a<br />

defesa dos bens culturais e modificações<br />

importantes na política e na metodologia<br />

de trabalho adota<strong>da</strong>s anteriormente.<br />

Em 1985, no governo de José Sarney,<br />

foi criado o <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> Cultura.<br />

Lamentavelmente, em 1990, no início do<br />

governo de Fernando Collor de Mello, o<br />

<strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> Cultura, a Fun<strong>da</strong>ção Pró-<br />

Memória e a então Secretaria do Patrimônio<br />

Histórico e Artístico Nacional (Sphan)<br />

foram extintos, sendo substituídos pelo<br />

Instituto Brasileiro de Patrimônio Cultural<br />

(IBPC) que teve vi<strong>da</strong> curta. Essa situação<br />

foi reverti<strong>da</strong> no governo do presidente<br />

Itamar Franco, em 19 de novembro de<br />

1992, quando voltou também a funcionar<br />

o Instituto do Patrimônio Histórico e<br />

Artístico Nacional (Iphan), mas não a<br />

Fun<strong>da</strong>ção Nacional Pró-Memória.<br />

Antes


Restauração<br />

Profissional reconhecido<br />

Na déca<strong>da</strong> de 1970, um grande<br />

passo foi <strong>da</strong>do em relação à preparação<br />

formal de recursos humanos para a intervenção<br />

direta em nossos bens culturais.<br />

Como resultado de convênios entre o<br />

Iphan e algumas universi<strong>da</strong>des e apoio<br />

<strong>da</strong> UNESCO, foram promovidos cursos<br />

para a formação de pessoal para a restauração<br />

de monumentos: o primeiro em<br />

São Paulo, em 1975, seguido por outros<br />

em Recife, em 1976, em Belo Horizonte,<br />

em 1978 e na Bahia, em 1981. Este último<br />

permanece em ativi<strong>da</strong>de, como Curso<br />

A formação de restauradores<br />

de obras de arte e documentos<br />

sobre papel tomou impulso<br />

com a criação, na Escola de<br />

Belas-Artes <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de<br />

Federal de Minas Gerais<br />

(UFMG), em 1978, do<br />

curso de especialização<br />

(que<br />

exigia, portanto,graduação<br />

prévia em<br />

curso universi-<br />

Depois<br />

de Especialização em Conservação e<br />

Restauração de Monumentos e Conjuntos<br />

Históricos (Cecre).<br />

Já para a formação de pessoal de<br />

bens culturais móveis, haviam sido cria<strong>da</strong>s<br />

na déca<strong>da</strong> de 1950, pelos professores<br />

Edson Motta, na Universi<strong>da</strong>de<br />

Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e João<br />

José Rescala, na Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong><br />

Bahia (UFBA), disciplinas de restauração<br />

de pinturas e de obras sobre papel, que<br />

passaram a complementar a formação<br />

dos alunos do curso de Belas-Artes.<br />

Em 1970 foi criado, na Fun<strong>da</strong>ção de Arte de Ouro Preto (Faop),<br />

por iniciativa e sob a orientação do conhecido restaurador Jair<br />

Afonso Inácio, do Iphan, um curso livre para a formação de<br />

restauradores de pinturas, esculturas e bens integrados.<br />

tário) em Conservação e Restauração<br />

de Bens Culturais Móveis.<br />

Dois anos depois foi criado,<br />

na mesma Escola, o Centro<br />

de Conservação e Restauração<br />

de Bens Culturais<br />

Móveis, o Cecor, que uniu<br />

conservadores e restauradores,<br />

historiadores de<br />

arte e cientistas.<br />

<strong>da</strong> UFMG e<br />

de outras<br />

instituições,<br />

para o est<br />

u d o d a s<br />

obras de arte<br />

e as ativi<strong>da</strong>des<br />

de restauração.<br />

O curso<br />

do Cecor, como<br />

é conhecido,<br />

preparou e prepara<br />

até hoje<br />

profissionais<br />

<strong>da</strong> conservação<br />

e <strong>da</strong><br />

restauração<br />

para quase<br />

todos os estados brasileiros e veio<br />

mu<strong>da</strong>r o conceito que se tinha<br />

no Brasil do restaurador de bens<br />

móveis: antes considerado mero<br />

artesão, com muita habili<strong>da</strong>de<br />

e paciência, passou a ser visto<br />

como um profissional de nível<br />

universitário, capaz de dialogar<br />

com qualquer outro sobre a preservação<br />

de patrimônio, incluindo<br />

critérios, materiais e técnicas de<br />

intervenção.<br />

Outro passo importante foi<br />

a criação, em 1980, no Rio de<br />

Janeiro, <strong>da</strong> Associação Brasileira<br />

de Conservadores e Restauradores<br />

de Bens Culturais, a Abracor, que<br />

passou a reunir, como associados<br />

e em congressos, restauradores de<br />

todo o país, publicando, bianualmente,<br />

seus estudos e trabalhos.<br />

Hoje, os congressos <strong>da</strong> Abracor<br />

têm caráter internacional, com<br />

participação de conservadores e<br />

restauradores e cientistas <strong>da</strong> conservação<br />

<strong>da</strong> América Latina e de<br />

outros países.<br />

<br />

CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009 - 9


Restauração<br />

No Brasil de hoje, já no início do<br />

século XXI, há maior consciência sobre o<br />

valor e a necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> preservação de<br />

nosso patrimônio, que abrange, de fato<br />

e de direito, desde a Constituição de<br />

1988, aspectos arqueológicos, paisagísticos,<br />

históricos, artísticos e artesanais,<br />

bem como saberes e manifestações do<br />

povo brasileiro.<br />

Desde 1986 teve início também a<br />

preocupação com a conservação preventiva.<br />

Em muitos cursos de arquitetura, museologia,<br />

biblioteconomia e artes visuais<br />

vêm sendo ministra<strong>da</strong>s disciplinas que<br />

iniciam os alunos no conhecimento do<br />

patrimônio brasileiro e na sua conservação<br />

e restauração. Na UFBA e na UFMG<br />

existem atualmente dois mestrados e<br />

dois doutorados que têm a Conservação<br />

como uma de suas áreas de concentração.<br />

Em 2008 começou a funcionar na<br />

UFMG o primeiro curso de graduação<br />

do país, em nível de bacharelado, em<br />

Conservação e Restauração de Bens<br />

Culturais Móveis.<br />

Atualmente, os recursos financeiros e<br />

de pessoal destinados à conservação e<br />

(*) Beatriz Coelho<br />

é conservadora e restauradora,<br />

Professora Emérita <strong>da</strong> Escola de Belas-Artes <strong>da</strong> UFMG;<br />

foi fun<strong>da</strong>dora e primeira diretora do<br />

Centro de Conservação e Restauração de Bens Culturais<br />

Móveis <strong>da</strong> UFMG (Cecor).<br />

Santa Ceia, de Manoel <strong>da</strong> Costa Ataíde, no<br />

Colégio do Caraça, restaura<strong>da</strong> pelo Cecor<br />

Mais consciência, poucos recursos<br />

preservação do patrimônio continuam<br />

escassos, embora ampliados com as ativi<strong>da</strong>des<br />

cobertas pelas leis de incentivo<br />

à Cultura, tanto no nível federal quanto<br />

no estadual e municipal. A maior parte<br />

dos trabalhos de conservação e restauração,<br />

mesmo quando urgentes, depende<br />

ain<strong>da</strong> do apoio de grandes empresas,<br />

que, por sua vez, aprovam e liberam<br />

recursos apenas quando se beneficiam<br />

com as leis de incentivo, terminando,<br />

desse modo, por estabelecer diretrizes e<br />

políticas para a preservação.<br />

O Iphan dispõe de número insignificante<br />

de conservadores e restauradores<br />

pata atender às necessi<strong>da</strong>des de acompanhamento<br />

e fiscalização dos trabalhos<br />

que se realizam.<br />

Entretanto, é preciso reconhecer que<br />

os conceitos e as ativi<strong>da</strong>des de preservação<br />

do patrimônio evoluíram muito<br />

no Brasil, com formação adequa<strong>da</strong> de<br />

profissionais, culminando com a aprovação<br />

pelo Senado, em 2008, <strong>da</strong> lei de<br />

reconhecimento e de regulamentação <strong>da</strong><br />

profissão de conservador / restaurador<br />

de bens culturais móveis.<br />

CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009 - 10


História<br />

Por Marcos Paulo de Souza Miran<strong>da</strong> (*)<br />

A MAÇONARIA<br />

em Minas Gerais no<br />

“Chafariz maçônico”<br />

erigido em canga<br />

de ferro, onde estão<br />

representados três<br />

triângulos equiláteros<br />

concêntricos<br />

período pré-republicano<br />

Quando a<br />

Maçonaria teria se<br />

instalado, enquanto<br />

instituição, no solo<br />

<strong>da</strong>s Minas Gerais?<br />

A resposta exata<br />

para tal in<strong>da</strong>gação<br />

talvez seja um<br />

dos maiores<br />

desafios que se<br />

colocam ante<br />

os historiadores<br />

que investigam<br />

as origens<br />

dessa instigante<br />

Ordem iniciática,<br />

filantrópica e<br />

progressista nas<br />

terras <strong>da</strong>s alterosas.<br />

CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009 - 11


História<br />

Detalhe do belo painel maçônico existente no interior <strong>da</strong> Igreja de<br />

Santa Luzia – MG, construí<strong>da</strong> no século XVIII<br />

Símbolos maçônicos gravados no cabo de uma antiga colher<br />

<br />

12 - CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009<br />

N ão temos dúvi<strong>da</strong>s de que já no<br />

século XVIII existiam muitos maçons na<br />

Capitania <strong>da</strong>s Minas Gerais.<br />

A propósito, vários e inusitados registros<br />

materiais a tal respeito sobreviveram<br />

ao passar dos séculos, merecendo destaque<br />

o painel maçônico esculpido em madeira<br />

e folheado a ouro existente oculto<br />

por detrás do altar dedicado a São José,<br />

na Igreja Matriz de Santa Luzia, onde<br />

estão representados símbolos maçônicos<br />

indiscutíveis, tais como o compasso, o<br />

esquadro, flores de acácia, romãs e a<br />

cor<strong>da</strong> de nós.<br />

Em Ouro Preto, no quintal de uma<br />

casa particular, existe um “chafariz maçônico”<br />

erigido em canga de ferro, onde<br />

estão representados três triângulos equiláteros<br />

concêntricos. Também na velha<br />

capital de Minas foi encontra<strong>da</strong>, durante<br />

a realização de escavação, uma antiga<br />

colher metálica com diversos símbolos<br />

maçônicos (esquadro, compasso, estrela<br />

de seis pontas, sol, lua e um enigmático<br />

brasão) gravados em seu cabo.<br />

Entretanto, são raros, quase inexistentes<br />

mesmo, os indícios de que os maçons<br />

<strong>da</strong>quela época estivessem formalmente<br />

organizados entre si e vinculados a um<br />

órgão central regularmente constituído,<br />

como preconizado pela Constituição de<br />

Anderson, normativa maçônica do início<br />

<strong>da</strong>quele século.<br />

“Pedreiros livres”, porém reprimidos<br />

Para entender o porquê <strong>da</strong> escassez<br />

de provas a tal respeito é preciso ressaltar<br />

que as ativi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> Maçonaria no<br />

período de 1738-1823 eram terminantemente<br />

ve<strong>da</strong><strong>da</strong>s pela poderosa Igreja<br />

Católica e também pelo Governo Portu-<br />

guês, sendo os maçons perseguidos com<br />

grande virulência.<br />

Em 28 de abril de 1738 o Papa<br />

Clemente XII, por meio <strong>da</strong> Bula In<br />

Eminenti Apostolatus Specula condenou<br />

a Maçonaria por seus segredos,


História<br />

proibindo os católicos de frequentarem<br />

ou participarem de suas ativi<strong>da</strong>des. Em<br />

28 de setembro do mesmo ano, uma<br />

Provisão do Inquisidor Geral de Portugal,<br />

Nuno <strong>da</strong> Cunha, noticiava o ato do Papa<br />

reprovando “umas certas socie<strong>da</strong>des e<br />

agregações intitula<strong>da</strong>s De Liberi Muratori,<br />

vulgo pedreiros livres”, determinando que<br />

se fizesse cumprir a dita ordem em todo o<br />

Reino de Portugal, incluindo obviamente o<br />

Brasil. Como se não bastasse, em 18 de<br />

maio de 1751 o Papa Benedito XIV lançou<br />

contra a Maçonaria a Bula Provi<strong>da</strong>s<br />

Romanorum Pontificium, confirmando o<br />

Disfarce nas academias<br />

Fato ain<strong>da</strong> pouco conhecido e estu<strong>da</strong>do<br />

é o de que o inconfidente mineiro<br />

Cláudio Manoel <strong>da</strong> Costa - utilizando-se<br />

do pseudônimo Glauceste Satúrnio - fundou,<br />

no ano de 1768, em Vila Rica, a<br />

Arcádia Ultramarina, instituição subordina<strong>da</strong><br />

à Árcádia Romana. Sabe-se que<br />

os integrantes (dentre os quais estavam<br />

Tomás Antônio Gonzaga, Manuel Inácio<br />

Silva Alvarenga, Inácio José de Alvarenga<br />

Peixoto e Domingos Vi<strong>da</strong>l de Barbosa<br />

Lage, todos envolvidos com a Inconfidência)<br />

possuíam nomes simbólicos e que<br />

suas composições literárias reclamavam<br />

melhor sorte para Minas e para o Brasil,<br />

não se restringindo ao mero lirismo.<br />

Registre-se que Cláudio era também membro<br />

<strong>da</strong> Academia Brasílica dos Renascidos,<br />

sedia<strong>da</strong> na Bahia, socie<strong>da</strong>de que<br />

acabou sendo fecha<strong>da</strong> por determinação<br />

do governo português principalmente em<br />

razão do envolvimento com militares maçons<br />

franceses.<br />

A Arcádia Ultramarina teria sido, para<br />

alguns autores, a primeira instituição<br />

paramaçônica a congregar “pedreiroslivres”<br />

em Minas Gerais. A propósito,<br />

percebem os leitores mais atentos que<br />

na poesia de Cláudio Manuel <strong>da</strong> Costa<br />

teor <strong>da</strong> bula expedi<strong>da</strong> em 1738, o que<br />

implicou em recrudescimento <strong>da</strong> perseguição<br />

aos maçons.<br />

Em razão <strong>da</strong> forte repressão <strong>da</strong> Igreja<br />

aos chamados “pedreiros livres”, não<br />

se concebia a publici<strong>da</strong>de de Lojas ou<br />

de agrupamentos maçônicos explícitos,<br />

o que levou os obreiros <strong>da</strong> Arte Real a<br />

procurarem formas diferentes e disfarça<strong>da</strong>s<br />

para se reunirem, o que se deu,<br />

sobretudo, através <strong>da</strong> criação de “Academias”<br />

supostamente dedica<strong>da</strong>s às<br />

pesquisas científicas e a manifestações<br />

literárias.<br />

existem mensagens e inserções altamente<br />

significativas sob a ótica maçônica,<br />

o que evidencia – ao menos – o seu<br />

conhecimento sobre parte <strong>da</strong> doutrina e<br />

<strong>da</strong> simbologia <strong>da</strong> Ordem.<br />

Enquanto Cláudio versejava em Vila<br />

Rica, na Europa as perseguições aos<br />

maçons se acirravam.<br />

Veja-se a título de exemplo esse trecho do Epicédio I:<br />

Estes frutos são dessa doutrina,<br />

Que bebeste na cândi<strong>da</strong> oficina<br />

De uma ética inata: ali se alcança<br />

Aquela inalterável confiança,<br />

Que em ti saber firmar, mostrando ao mundo,<br />

Com desprezo <strong>da</strong> inveja, o mais profundo,<br />

Positivo esplendor, que te reserva,<br />

Superior à emulação proterva.<br />

Buscas o Autor <strong>da</strong> nobre arquitetura?<br />

Queres saber quem ergue essa estrutura,<br />

O dórico, o coríntio frontispício?<br />

Esse mármore o diga: mas o indício<br />

Na pedra se não grava: eh! que a pie<strong>da</strong>de<br />

Lhe encurtou esse alento na vai<strong>da</strong>de.<br />

<br />

CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009 - 13


História<br />

14 - CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009<br />

Perseguidos na Europa<br />

Em 1777, Francisco de Melo Franco,<br />

brasileiro nascido em Paracatu, Minas<br />

Gerais, em 17/09/1757, e estu<strong>da</strong>nte<br />

de Filosofia e Medicina em Coimbra, foi<br />

preso pelo Tribunal do Santo Ofício e<br />

acusado de herege, naturalista, deísta,<br />

blasfemo, apóstata, tolerante e dogmático<br />

pelo fato de, juntamente com outros<br />

colegas, alunos do Professor Domingos<br />

Vandelli (líder maçom, amigo e mestre de<br />

diversos estu<strong>da</strong>ntes brasileiros que passaram<br />

por Coimbra), não seguir o preceito<br />

de abstinência <strong>da</strong> quaresma, reunindo-se<br />

alta noite em casas uns dos outros e, às<br />

vezes, no Laboratório de Química<br />

<strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de,<br />

para comerem presuntos e lerem Rosseau<br />

e outros autores considerados hereges.<br />

Somente depois de cumprir quatro anos<br />

de detenção em Rilhafoles, Francisco de<br />

Melo Franco obteve licença para retomar<br />

seus estudos, formando-se em medicina<br />

em 1796.<br />

Em 1791 outro mineiro foi alcançado<br />

pelas malhas <strong>da</strong> Inquisição pelo cometimento<br />

do “crime de maçonaria”. Foi o<br />

Padre Francisco <strong>da</strong> Silva Queiroz e Vasconcellos,<br />

natural de Mariana, com 44<br />

anos, Clérigo Subdiácono e Cônego <strong>da</strong>s<br />

Sés de Guar<strong>da</strong> e Lisboa, mestre maçom<br />

iniciado em Lisboa no ano anterior, que<br />

passou a responder a processo perante<br />

o Tribunal do Santo Ofício.<br />

Em março de 1787 sabe-se que o<br />

carioca José Joaquim <strong>da</strong> Maia, estu<strong>da</strong>nte<br />

em Montpellier e emissário de negociantes<br />

brasileiros na França, valendo-se do<br />

pseudônimo (ou, mais provavelmente,<br />

nome maçônico simbólico) Vendek,<br />

conseguiu se corresponder e falar pessoalmente<br />

com Thomas Jefferson, maçom<br />

e então Ministro dos EUA na França, a<br />

quem pediu apoio para a “revolução que<br />

se pretendia fazer no Brasil”, movimento<br />

que aqui ficaria conhecido como “Inconfidência<br />

Mineira”.<br />

Documento <strong>da</strong> Intendência de polícia de Portugal<br />

comprova que quatro dos inconfidentes mineiros,<br />

degre<strong>da</strong>dos para Angola e Moçambique, eram maçons


História<br />

Conexão inconfidente,<br />

de olho no lucro<br />

É sabido que José Joaquim <strong>da</strong> Maia<br />

foi à França representando fortes comerciantes<br />

sediados no Rio de Janeiro, que<br />

tinham extremo interesse na independência<br />

do Brasil a fim de que pudessem<br />

auferir maiores lucros com a abertura<br />

dos portos deste país ao comércio externo.<br />

Aqueles comerciantes mantinham<br />

contatos próximos com os mineiros de<br />

Vila Rica envolvidos no movimento inconfidente,<br />

demonstrando que havia uma<br />

articulação bastante estrutura<strong>da</strong> nas duas<br />

Capitanias em prol <strong>da</strong> independência<br />

do país, a qual era busca<strong>da</strong> por uns em<br />

razão de interesses econômicos e, por<br />

outros, em razão de convicções políticas<br />

e filosóficas.<br />

Na resposta dirigi<strong>da</strong> por Thomas<br />

Jefferson a Vendek, <strong>da</strong>ta<strong>da</strong> de Paris, 28<br />

de dezembro de 1786, o Ministro americano<br />

fez questão de apor a tripontuação<br />

maçônica (sinal maçônico identificador)<br />

à sua assinatura – o que não se verifica<br />

em outros documentos por ele subscritos,<br />

o que evidencia claramente a presença<br />

<strong>da</strong> Ordem Maçônica já nas primeiras<br />

tratativas sobre o movimento rebelde que<br />

se pretendia deflagrar no Brasil.<br />

A carta dirigi<strong>da</strong> por Jefferson a Vendek<br />

vem robustecer uma interessante informação<br />

conti<strong>da</strong> em um relatório de 15 de agosto de<br />

1802 integrante <strong>da</strong> devassa aberta para<br />

se apurar a atuação de uma Loja Maçônica<br />

estabeleci<strong>da</strong> em Lisboa, denomina<strong>da</strong><br />

Cavaleiros <strong>da</strong> Espa<strong>da</strong> no Oriente:<br />

“Hé certo que to<strong>da</strong>s as sublevações que<br />

nestes últimos tempos tem havido na<br />

Europa, na América Septentrional e em<br />

Marrocos forão traça<strong>da</strong>s na grande loja<br />

[maçônica] <strong>da</strong> mesma América e nas<br />

de Pariz e Londres, fazendo-se mais remarcáveis<br />

a <strong>da</strong> América, a do Imperador<br />

do Marrocos, a <strong>da</strong> França e ultimamente<br />

a que maquinarão a El Rey de Inglaterra<br />

os chamados Irlandeses illuminados...”<br />

Vendek parece ter conseguido conquistar<br />

a simpatia de Jefferson, pois este,<br />

em 04 de maio de 1787, de Marselha,<br />

enviou um extenso relatório ao Secretário<br />

de Estado dos Estados Unidos, John Jay,<br />

demonstrando-se bastante favorável à<br />

possibili<strong>da</strong>de de apoiar o Brasil no caso<br />

de uma revolução, dizendo inclusive que<br />

“uma revolução bem sucedi<strong>da</strong> no Brasil<br />

não poderia deixar de interessar-nos”.<br />

Mesmo depois <strong>da</strong> prematura morte de<br />

José Joaquim Maia (ocorri<strong>da</strong> em Portugal<br />

em 1788) e de descoberto o movimento<br />

inconfidente em Minas Gerais, o maçom<br />

Thomas Jefferson permaneceria interessado<br />

em auxiliar a independência do Brasil,<br />

pois em 11 de abril de 1791 (com os<br />

inconfidentes mineiros presos no Rio de<br />

Janeiro e agora já ocupando o cargo de<br />

Ministro de Estado) escrevia secretamente<br />

<strong>da</strong> Filadélfia ao Coronel David Humphreys<br />

(1752-1818), secretário de Estado<br />

em missão no Rio de Janeiro, que havia<br />

sido acusado pela Intendência Geral de<br />

Polícia de Lisboa como maçom, dizendolhe:<br />

“Man<strong>da</strong>i-nos to<strong>da</strong>s as informações<br />

possíveis acerca <strong>da</strong> força, riqueza, recursos,<br />

ilustração e disposições do Brasil. O<br />

ciúme <strong>da</strong> Corte de Lisboa a este respeito<br />

há de, necessariamente, inspirar as caute-<br />

Documento<br />

oficial de 1824<br />

comprova o<br />

funcionamento<br />

<strong>da</strong> Loja<br />

Maçônica<br />

“Mineiros<br />

Reunidos” em<br />

Ouro Preto<br />

<br />

CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009 - 15


História<br />

las necessárias ao fazer e comunicar<br />

essas averiguações”.<br />

Trata-se de documento praticamente<br />

desconhecido dos historiadores<br />

brasileiros e sugere que<br />

as influências norte-americanas<br />

- de caráter maçônico, inclusive<br />

- sobre os destinos do Brasil<br />

podem ter sido bem maiores do<br />

que se pode imaginar.<br />

Naquela ocasião já se encontravam<br />

presos no Rio de Janeiro<br />

os principais personagens<br />

do movimento <strong>da</strong> Inconfidência<br />

Mineira que pretendia a emancipação<br />

do Brasil de Portugal<br />

e teria sido fortemente influen-<br />

A primeira loja e o reconhecimento oficial<br />

No dia 24 de novembro de<br />

1821 foi instala<strong>da</strong> em Vila Rica,<br />

atual ci<strong>da</strong>de de Ouro Preto, a<br />

Loja Mineiros Reunidos, sendo<br />

esta a primeira Loja Maçônica<br />

oficial conheci<strong>da</strong> em Minas<br />

Gerais.<br />

O primeiro Venerável Mestre<br />

<strong>da</strong> Loja foi o francês Guido<br />

Thomás Marliére, que em 16<br />

de junho de 1822 requereu a<br />

filiação <strong>da</strong> oficina ao Grande<br />

Oriente do Brasil, o que foi deferido,<br />

como consta <strong>da</strong> Ata <strong>da</strong><br />

Sessão Nº 8, de 31 de julho de<br />

1822, do GOB. Desta forma,<br />

a Mineiros Reunidos foi a primeira<br />

Loja do interior a se filiar<br />

ao GOB e Marlière, à época<br />

Cavaleiro Rosa Cruz, nomeado<br />

o primeiro Delegado do Grande<br />

Oriente do Brasil na Província<br />

de Minas Gerais.<br />

Em 20 de julho de 1824 o<br />

16 - CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009<br />

ciado por ideais maçônicos de<br />

alguns de seus participantes.<br />

A propósito, um documento <strong>da</strong><br />

Superintendência de Polícia de<br />

Lisboa, <strong>da</strong>tado de 1803, confirma<br />

que do movimento rebelde<br />

<strong>da</strong> Inconfidência Mineira participaram,<br />

comprova<strong>da</strong>mente,<br />

pelo menos quatro maçons que<br />

foram degre<strong>da</strong>dos para Moçambique<br />

e Angola, os quais<br />

seriam, provavelmente, Tomás<br />

Antônio Gonzaga, Inácio José<br />

de Alvarenga Peixoto, Domingos<br />

Vi<strong>da</strong>l de Barbosa Lage e<br />

José Álvares Maciel.<br />

Com a eclosão em 1817 <strong>da</strong><br />

Revolução Pernambucana, movimento<br />

em que a Maçonaria se<br />

Presidente <strong>da</strong> Província de Minas<br />

Gerais, José Teixeira <strong>da</strong> Fonseca<br />

Vasconcellos, encaminhou<br />

ao Imperador representação <strong>da</strong><br />

diretoria Loja Maçônica Minei-<br />

destacou e que foi severamente<br />

reprimido, D. João VI expediu<br />

alvará em 3 de maio de 1818<br />

declarando criminosas e proibi<strong>da</strong>s<br />

to<strong>da</strong>s e quaisquer socie<strong>da</strong>des<br />

secretas e determinando<br />

pena de morte a seus integrantes<br />

e aos que participassem de<br />

suas ativi<strong>da</strong>des.<br />

Mas mesmo premidos pelas<br />

proibições religiosas e civis os<br />

maçons brasileiros e em especial<br />

os de Minas Gerais não deixaram<br />

de exercer seus trabalhos<br />

em busca do aperfeiçoamento<br />

dos seres humanos e de melhorias<br />

para a socie<strong>da</strong>de, norteados<br />

por princípios de igual<strong>da</strong>de,<br />

liber<strong>da</strong>de e fraterni<strong>da</strong>de.<br />

ros Reunidos solicitando autorização<br />

para que a instituição<br />

pudesse continuar a funcionar,<br />

aduzindo que os trabalhos <strong>da</strong><br />

Oficina “não ofendem a boa<br />

ordem e a inteligência” dos habitantes<br />

de Ouro Preto”. Teriam<br />

integrado o quadro pioneiro<br />

dessa Loja, além de Marliére,<br />

o francês João Pascoal, Manoel<br />

de Portugal e Castro, Francisco<br />

Garcia, Antônio Caetano Pinto<br />

Coelho, Carlos Wallestein e<br />

Antônio Buzelem.<br />

Ao que consta, o Imperador,<br />

além de ter consentido com a<br />

continui<strong>da</strong>de dos trabalhos, presenteou<br />

a Loja requerente com<br />

uma bela espa<strong>da</strong> de juramento<br />

repleta de símbolos maçônicos,<br />

ver<strong>da</strong>deiro tesouro histórico<br />

para a Maçonaria Mineira e<br />

que ain<strong>da</strong> sobrevive ao passar<br />

dos anos.


História<br />

Na déca<strong>da</strong> seguinte, várias<br />

outras Lojas começaram a surgir<br />

pela Província de Minas Gerais.<br />

Em 1833, por exemplo, funcionava<br />

em Sabará, na Rua do Fogo,<br />

sob a direção de Francisco Melo<br />

Franco, uma socie<strong>da</strong>de secreta<br />

constituí<strong>da</strong> por “iluminados e<br />

philantropos” que teve grande<br />

participação na trama <strong>da</strong> Sedição<br />

Militar deflagra<strong>da</strong> naquele ano,<br />

pretendendo a restauração de<br />

Pedro I ao Trono Brasileiro. Nos<br />

arquivos <strong>da</strong> Casa de Borba Gato<br />

há uma interessante correspondência<br />

<strong>da</strong>ta<strong>da</strong> de 4 de abril de 1833<br />

em que Francisco de Melo Franco<br />

dirige-se a Dom José <strong>da</strong> Câmara,<br />

chamando-o de “amigo e Ir...”<br />

concitando-o a enviar tropas para<br />

a ci<strong>da</strong>de. Em 4 de maio de 1834<br />

foi instala<strong>da</strong> em Sabará, na casa<br />

do Coronel Pedro Gomes Nogueira,<br />

uma outra socie<strong>da</strong>de secreta<br />

composta por nove irmãos, que<br />

se reuniam no dia primeiro de<br />

ca<strong>da</strong> mês. A sede <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de<br />

foi transferi<strong>da</strong> pouco depois para<br />

a Rua do Caquende, passando<br />

a funcionar na casa de Joaquim<br />

José de Meireles Freire (futuro<br />

Barão de Curvelo). Tais associações<br />

foram ojeriza<strong>da</strong>s pelos<br />

jornais conservadores <strong>da</strong> época,<br />

que afirmavam que a “aversão a<br />

pedreiros livres ain<strong>da</strong> predomina<br />

sobre muitos, que os detestão”.<br />

Mais de duas déca<strong>da</strong>s se passaram<br />

após a fun<strong>da</strong>ção dessas<br />

socie<strong>da</strong>des secretas em Sabará<br />

– cujos nomes e regulari<strong>da</strong>de desconhecemos<br />

- até que uma nova<br />

Loja Maçônica fosse fun<strong>da</strong><strong>da</strong> em<br />

Minas Gerais, o que se deu em<br />

1 de junho de 1859 na ci<strong>da</strong>de<br />

de Uberaba com a instalação <strong>da</strong><br />

“Amparo <strong>da</strong> Virtude”. A partir<br />

<strong>da</strong>í, dezenas de Lojas foram instala<strong>da</strong>s<br />

em to<strong>da</strong>s as regiões do<br />

Estado, contabilizando-se 44 oficinas<br />

maçônicas aqui fun<strong>da</strong><strong>da</strong>s no<br />

período pré-republicano (vide<br />

quadro demonstrativo).<br />

Vários dos obreiros dessas<br />

Lojas tomaram parte em importantes<br />

movimentos nacionais,<br />

tais como a independência<br />

brasileira, a abolição <strong>da</strong> es-<br />

cravatura e a proclamação <strong>da</strong><br />

República, o que reforça a importância<br />

<strong>da</strong> presença <strong>da</strong> Maçonaria<br />

Mineira na construção <strong>da</strong><br />

história de nosso país.<br />

LOJAS FUNDADAS EM MINAS GERAIS<br />

NO PERÍODO PRÉ-REPUBLICANO<br />

NOME CIDADE FUNDAÇÃO<br />

1. Mineiros Reunidos Ouro Preto 24-11-1821<br />

2. Amparo <strong>da</strong> Virtude Uberaba 01-06-1859<br />

3. Loja Jequitinhonha Diamantina 12-06-1867<br />

4. União Democrática Ouro Preto 01-09-1869<br />

5. Fideli<strong>da</strong>de Mineira Juiz de Fora 12-03-1870<br />

6. Perseverança Ouro Preto 1871<br />

7. Beneficência Passos 1871<br />

8. Amparo <strong>da</strong> Virtude II Uberaba 16-05-1872<br />

9. Estrela de Minas Sacramento 1872<br />

10. União Humanitária Central Estrela do Sul 30-10-1872<br />

11. Estrela do Sul de Minas S. Sebastião do Paraíso 1872<br />

12. União Humanitária Central Estrela do Sul 1872<br />

13. A Nova Aurora São Miguel 1872<br />

14. Fraterni<strong>da</strong>de nº 04 Itabira 11-12-1872<br />

15. União Fraternal Barbacena 04-12-1872<br />

16. Asilo <strong>da</strong> Cari<strong>da</strong>de Araxá 16-05-1872<br />

17. Cari<strong>da</strong>de Mineira Mar de Espanha 1873<br />

18. Democracia Perseverante Ouro Preto 1873<br />

19. Tiradentes S. Gonçalo do Sapucaí 1873<br />

20. União e Crença Rio Novo 1873<br />

21. Atalaia do Norte Diamantina 03-12-1873<br />

22. Fraterni<strong>da</strong>de Mineira Rio Pomba 15-12-1873<br />

23. União e Virtude Sabará 12-05-1874<br />

24. Beneficência Passos 07-07-1874<br />

25. Deus e Humani<strong>da</strong>de Itajubá 04-10-1874<br />

26. Aurora e Progresso Grão-Mogol 12-12-1874<br />

27. Trabalho e Honra Campanha 19-11-1874<br />

28. Guilherme Dias Machado 15-06-1875<br />

29. Deus e Cari<strong>da</strong>de Cabo Verde 16-07-1875<br />

30. União e Cari<strong>da</strong>de Prata 24-07-1875<br />

31. Estrela do Oriente Serro 08-12-1875<br />

32. Cari<strong>da</strong>de nº 04 Leopoldina 13-12-1875<br />

33. Brasil Independente Muriaé 04-03-1876<br />

34. Atalaia do Sul Três Pontas 14-12-1876<br />

35. Amor ao Trabalho Andra<strong>da</strong>s 1877<br />

36. Futuro Pouso Alegre 22-01-1877<br />

37. A Flor <strong>da</strong> Viúva Cataguases 18-12-1878<br />

38. União e Fraterni<strong>da</strong>de Rio Pomba 1879<br />

39. Fraterni<strong>da</strong>de Maçônica Rio Pomba 24-05-1879<br />

40. União e Segredo Januarense Januária 15-12-1879<br />

41. Operários <strong>da</strong> Luz Barbacena 13-02-1880<br />

42. Nova Luz Paracatuense Paracatu 13-03-1880<br />

43. Operários <strong>da</strong> Luz Barbacena 1880<br />

44. Cataguazense Cataguases 19-10-1888<br />

(*) Marcos Paulo de Souza Miran<strong>da</strong><br />

é promotor público e sócio efetivo do Instituto Histórico<br />

e Geográfico de Minas Gerais (Cadeira nº 93).<br />

CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009 - 17


Memória<br />

Por José Mendonça (*)<br />

18 - CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009<br />

Aires <strong>da</strong> Mata<br />

Machado Filho,<br />

grande mestre e maior amigo<br />

Muito feliz a iniciativa desta revista de celebrar a memória de Aires<br />

<strong>da</strong> Mata Machado Filho, por motivo de centenário de seu nascimento,<br />

ocorrido no dia 24 de fevereiro de 1909, em São João <strong>da</strong> Chapa<strong>da</strong>,<br />

então distrito de Diamantina. Dessa maneira, o periódico ata os<br />

objetivos do Centro de Estudos do Ciclo do Ouro à pessoa de<br />

um dos mais competentes pesquisadores do Ciclo do Diamante.


Memória<br />

A<br />

falar sobre o filólogo, o escritor, o acadêmico, o professor, o jornalista, o<br />

tradutor, o folclorista e o mais, prefiro agradecer, antes de tudo, as indeléveis lições<br />

de “escrever certo” que dele recebi nos cinco anos<br />

(1940 - 1945) em que fui seu secretário. A respeito<br />

desse período de diária convivência ouso transcrever<br />

parte <strong>da</strong> declaração com que ele justamente me<br />

envaideceu ao atestar, para um concurso de títulos<br />

a que me submeti, em 1974, no Curso de Comunicação<br />

Social <strong>da</strong> UFMG: “No cabal desempenho de<br />

suas funções, [José Mendonça] me auxiliou nas diferentes<br />

ativi<strong>da</strong>des intelectuais de escritor, professor e<br />

jornalista, particularmente em pesquisas arquivísticas<br />

e bibliográficas”.<br />

Certamente foi o pouco que com ele aprendi,<br />

como dedicado coadjutor, que me credenciou a<br />

ser indicado seu Professor Assistente de Filologia<br />

Românica na Facul<strong>da</strong>de de Filosofia, Ciências e<br />

Letras Santa Maria, semente <strong>da</strong> futura Pontifícia<br />

Universi<strong>da</strong>de Católica de Minas Gerais.<br />

Não quero deter-me no ponto em que recordo o<br />

grande mestre que a vi<strong>da</strong> cultural me deparou. Prefiro demorar-me em mencionar as outras<br />

provas de maior amigo que recebi do inolvidável Aires <strong>da</strong> Mata Machado Filho.<br />

“O amanuense amando está”<br />

Desde os remotos tempos em<br />

que vivíamos em Diamantina,<br />

laços íntimos de afeição ligavam<br />

minha família aos Mata Machado,<br />

a começar pelo patriarca Augusto<br />

Aires <strong>da</strong> Mata Machado e esposa,<br />

D. Mariana Flora de Godói<br />

<strong>da</strong> Mata Machado (D. Lola). Já<br />

em Belo Horizonte a amizade se<br />

estreitou com minha admissão em<br />

O Diário, de cuja Re<strong>da</strong>ção era<br />

chefe Edgar de Godói <strong>da</strong> Mata<br />

Machado, que talvez me tenha<br />

indicado para colaborar com o<br />

‘Airesinho’, como era conhecido<br />

na família o grande intelectual. A<br />

intimi<strong>da</strong>de consolidou-se ao longo<br />

dos anos em que trabalhei com o<br />

insigne Mestre.<br />

Jamais poderei esquecer as<br />

manhãs ou tardes amenas (Belo<br />

Horizonte era, àquele tempo, ci-<br />

<strong>da</strong>de de clima mais para frio que<br />

para temperado) em que subia de<br />

bonde até a Aveni<strong>da</strong> Afonso Pena<br />

esquina com Rua Piauí (onde hoje<br />

funciona a Agência ABC do Banco<br />

do Brasil) para trabalhar com<br />

o Aires. O vasto escritório dele<br />

ocupava, com livros em estantes<br />

que subiam até o teto de alto pé<br />

direito, to<strong>da</strong> a facha<strong>da</strong> lateral <strong>da</strong><br />

acolhedora casa paterna. Ali ocorreram<br />

tantos e tão belos episódios<br />

que consoli<strong>da</strong>ram a recíproca<br />

confiança e amizade fraterna<br />

(salvo a petulância) que a ele me<br />

uniram vi<strong>da</strong> afora. Lembro-me até<br />

do convite de D. Lola, lá pelas<br />

14 horas: “Mendonça e Aires, a<br />

meren<strong>da</strong> está pronta”. Sau<strong>da</strong>de...<br />

Não cabe neste espaço recor<strong>da</strong>r<br />

todos os passos memoráveis de<br />

nossa cotidiana convivência. De-<br />

sejo rememorar apenas dois.<br />

Numa <strong>da</strong>quelas frescas manhãs<br />

em que ele vestia sobre o pijama<br />

um sobretudo preto, de cujo<br />

bolso superior pendia a corrente<br />

do relógio, e calçava chinelos, o<br />

Aires <strong>da</strong>va passa<strong>da</strong>s ao comprido<br />

do escritório, enquanto eu lia<br />

não me lembra mais que autor<br />

predileto. De repente ele se detém<br />

diante de minha mesa e diz várias<br />

vezes: “O amanuense amando<br />

está.” Era o título do § 11 do<br />

pioneiro romance de Cyro dos<br />

Anjos, talvez então já na segun<strong>da</strong><br />

edição pela José Olympio. Diante<br />

de minha surpresa pelo inopinado<br />

<strong>da</strong> alusão literária, ele afinal<br />

confidenciou: “Eu estou amando<br />

a Maria Solange Mourão de Miran<strong>da</strong>”.<br />

Exultei de alegria: a eleita<br />

<br />

CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009 - 19


Memória<br />

era nossa amiga diamantinense e<br />

filha <strong>da</strong> minha primeira professora<br />

primária, D. Mercedes Mourão de<br />

Miran<strong>da</strong>. Ao fazer-me tal revelação,<br />

Aires me tornava literalmente<br />

seu secretário, aquele que guar<strong>da</strong><br />

um segredo. Previ uma felicíssima<br />

união que, infelizmente, depois de<br />

sacramenta<strong>da</strong> em dias de 1945,<br />

pôs fim ao meu ofício de secretário<br />

e que, desafortuna<strong>da</strong>mente,<br />

terminou em agosto de 1985<br />

num acidente rodoviário que,<br />

paradoxalmente, foi as “bo<strong>da</strong>s de<br />

sangue” do casal exemplar.<br />

Outro acontecimento que considero<br />

digno de ser registrado. Ao<br />

ficar noivo, Aires tratou de construir<br />

seu lar na Rua Siderose (atual<br />

Professor Magalhães Drummond),<br />

no Bairro de Santo Antônio. Tinha<br />

de ir assinar uns papéis, relativos<br />

ao financiamento para a casa, na<br />

única agência <strong>da</strong> Caixa Econômica<br />

Federal à época aqui existente,<br />

na Rua dos Tupinambás. Pediu-me<br />

então: “Vá comigo lá uma vez e,<br />

depois, irei sozinho”. Assim aconteceu:<br />

nós dois fomos de bonde<br />

até a Praça Sete, atravessamos<br />

a Aveni<strong>da</strong> Amazonas à altura do<br />

Cine Brasil e a Rua Rio de Janeiro<br />

para, afinal, chegarmos à CEF.<br />

Ele fez o caminho de volta com<br />

vigilância minha e nunca mais tive<br />

de acompanhá-lo à Caixa.<br />

Por sinal, sempre me causou<br />

admiração o que considero memória<br />

locativa e retentiva do<br />

Aires. Pois não é que, quando<br />

queria citar passagem de livro<br />

de algum autor preferido, pedia<br />

que eu abrisse a página tanta e<br />

fosse lendo os inícios de diversos<br />

parágrafos até deter-me: “Logo na<br />

frente umas (tantas) linhas?” E lá<br />

estava o trecho procurado.<br />

20 - CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009<br />

Lamentáveis omissões<br />

Já é tempo de terminar este<br />

singelo depoimento. Não quero<br />

fazê-lo, entretanto, sem dois reparos:<br />

1º) É lamentável a omissão dos<br />

Governos do Estado de Minas<br />

Gerais e <strong>da</strong> República nas<br />

comemorações que a família<br />

promoveu por motivo do centenário<br />

do Aires. Bastaria o<br />

meritório pioneirismo dele na<br />

educação dos cegos no Estado<br />

e até no País para justificar<br />

homenagens oficiais.<br />

2º) Pelo menos dois livros clássicos<br />

Amor ao livro<br />

de Aires <strong>da</strong> Mata Machado<br />

Filho estão pedindo novas edições<br />

devi<strong>da</strong>mente prepara<strong>da</strong>s<br />

por especialistas: “O Negro<br />

e o Garimpo em Minas” e<br />

“Arraial do Tijuco, Ci<strong>da</strong>de de<br />

Diamantina”. Este último me é<br />

particularmente caro, porque,<br />

durante cerca de dois meses,<br />

ajudei nas pesquisas nos livros<br />

<strong>da</strong>s Irman<strong>da</strong>des (Ordens<br />

Terceiras) de Diamantina, morando,<br />

com Aires, na casa <strong>da</strong><br />

Chica <strong>da</strong> Silva, então proprie<strong>da</strong>de<br />

de tias do escritor.<br />

Tratando de obras escritas por Aires <strong>da</strong> Mata Machado<br />

Filho, ocorre-me transcrever excerto de um ensaio seu sobre<br />

o Livro, para o qual e do qual viveu. Pelo menos o fim deste<br />

artiguete valerá a pena. Eis o trecho:<br />

“O amor ao livro como ser vivente, síntese de reali<strong>da</strong>des,<br />

sonhos e mistérios, faz pensar nos perigos que ameaçam a<br />

fragili<strong>da</strong>de desse objeto de arte. Os bibliotecários empenhamse<br />

em defendê-lo, quanto possível, <strong>da</strong> sanha sorrateira dos<br />

insetos papirófagos. Os restauradores tratam de recuperar as<br />

preciosi<strong>da</strong>des, vítimas <strong>da</strong>s injúrias do tempo. O bom professor<br />

incute, com o hábito <strong>da</strong> leitura, o amor ao livro, exigente de<br />

afagos, como infenso à indelicadeza, ao desmazelo, à brutali<strong>da</strong>de.<br />

O bibliófilo repousa o olhar na beleza <strong>da</strong> capa e <strong>da</strong><br />

confecção, inebria-se com o aroma <strong>da</strong> tinta e do papel, acaricia<br />

de leve as páginas que vai abrindo vagarosamente, e cujo<br />

ritmado farfalhar, quando se passam, infunde musicali<strong>da</strong>de à<br />

meditação e à leitura.”<br />

(*) José Mendonça<br />

é jornalista e<br />

professor aposentado <strong>da</strong> UFMG


Crônica<br />

Por José Bento Teixeira de Salles (*)<br />

ELEGIA<br />

LUZIENSE<br />

Conta a tradição que coube a José Corrêa de Miran<strong>da</strong>,<br />

integrante de uma bandeira que saíra de Taubaté, a<br />

primazia de implantar o primitivo núcleo populacional de<br />

Santa Luzia, em 1692, na região hoje denomina<strong>da</strong> Bicas,<br />

junto ao Rio <strong>da</strong>s Velhas. Ali se instalaram os primeiros<br />

ranchos de tropeiros que deman<strong>da</strong>vam o Tejuco e a Bahia.<br />

A velha estação ferroviária, ao tempo em<br />

que a ci<strong>da</strong>de ain<strong>da</strong> se chamava Rio <strong>da</strong>s<br />

Velhas. Foto pertencente ao acervo <strong>da</strong><br />

Associação Cultural Comunitária<br />

de Santa Luzia, presidi<strong>da</strong> pelo<br />

médico Márcio de Castro<br />

e Silva, como to<strong>da</strong>s as<br />

demais que ilustram<br />

o presente artigo<br />

CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009 - 21


Crônica<br />

Antiga ponte sobre<br />

o Rio <strong>da</strong>s Velhas,<br />

com vista parcial do<br />

Bairro Ponte Grande<br />

D<br />

22 - CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009<br />

e acordo com o luziense Japhet<br />

Dolabela, em seu livro “A ci<strong>da</strong>de<br />

nasceu do Rio”, o núcleo foi destruído<br />

em 1695, por uma grande enchente,<br />

processando-se a sua reconstrução dois<br />

anos após, em uma colina situa<strong>da</strong> na<br />

locali<strong>da</strong>de de Bom Retiro.<br />

Mais tarde, outra violenta enchente<br />

assola a região. A chuva cai, ininterruptamente,<br />

durante várias semanas. O<br />

rio transbor<strong>da</strong>, au<strong>da</strong>cioso e invencível,<br />

destruindo pontes, arrasando lavouras,<br />

matando animais, desalojando homens.<br />

De repente, como por encanto, as chuvas<br />

cessam por completo. Ao mesmo<br />

tempo, aparece semi-enterra<strong>da</strong> na areia<br />

do rio a imagem de Santa Luzia. Vendo<br />

nesta presença um milagre – fora man<strong>da</strong><strong>da</strong><br />

por Deus para sustar a enchente<br />

– a crença popular leva a imagem, em<br />

procissão, até o ponto mais alto do<br />

lugar, onde foi coloca<strong>da</strong> ao lado de<br />

um cruzeiro. Depois de algum tempo,<br />

ergueu-se em sua homenagem uma ca-<br />

pela, em torno <strong>da</strong> qual se desenvolveu<br />

o novo núcleo populacional.<br />

Neste episódio se revelariam, ain<strong>da</strong><br />

uma vez, os sentimentos de religiosi<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong> gente mineira, que se afirmariam,<br />

como em tantas outras ocasiões,<br />

na crença católica <strong>da</strong> santa.<br />

Merece ser registrado que o aparecimento<br />

<strong>da</strong> imagem ocorreu a 13 de dezembro,<br />

precisamente no dia em que,<br />

na Itália, foi martiriza<strong>da</strong> Santa Luzia,<br />

no ano de 304 <strong>da</strong> era cristã.<br />

Os milagres <strong>da</strong> santa se repetem,<br />

a len<strong>da</strong> se confunde com a reali<strong>da</strong>de,<br />

sua fama corre mundo. Em Portugal, o<br />

sargento-mór Felix Pacheco recupera<br />

a visão e promete erguer um templo<br />

em homenagem a Santa Luzia. A construção<br />

foi inicia<strong>da</strong> em 1755, em um<br />

outeiro um pouco além do rio, no local<br />

onde hoje se encontra a Matriz.<br />

Esta é a história <strong>da</strong> origem de Santa<br />

Luzia do Rio <strong>da</strong>s Velhas, segundo os<br />

pesquisadores.


Crônica<br />

A ci<strong>da</strong>de do cronista<br />

A minha história, porém, começa<br />

no início <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 30. Já se vai<br />

bem mais de meio século de vi<strong>da</strong>. As<br />

visitas a Santa Luzia – já então morava<br />

na Capital – representavam, para mim,<br />

ver<strong>da</strong>deira aventura. Lembro-me <strong>da</strong>s<br />

viagens de jardineira, os passageiros<br />

de guar<strong>da</strong>-pó, defendendo-se <strong>da</strong> poeira<br />

fina e penetrante. No verão, as chuvas<br />

faziam atoleiros perigosos, que muitas<br />

vezes impediam o experiente motorista<br />

Zé Brasil de alcançar o ponto de chega<strong>da</strong>.<br />

De trem, a saí<strong>da</strong> de Belo Horizonte<br />

ocorria às 17h30. Os passageiros viajavam<br />

como sardinhas na lata. A locomotiva<br />

a carvão pintava de pó preto as<br />

golas e os punhos <strong>da</strong>s camisas. Ain<strong>da</strong><br />

assim, era bom refestelar-se nas cadeiras<br />

de palhinha amarela, trança<strong>da</strong>. Em<br />

General Carneiro havia uma para<strong>da</strong><br />

na velha estação, hoje destruí<strong>da</strong> pela<br />

insensibili<strong>da</strong>de dos homens.<br />

Depois, a chega<strong>da</strong> a Santa Luzia. O<br />

trem seguia para o sertão, com o apito<br />

lancinante cortando os céus e deixando<br />

atrás de si um rastro de tristeza e sau<strong>da</strong>de.<br />

A máquina corria pela estra<strong>da</strong><br />

afora, soprando fumaça e bufando<br />

faíscas. Era como se metade do mundo<br />

se desgarrasse de mim, perdido na estação<br />

sombria e triste.<br />

As recor<strong>da</strong>ções <strong>da</strong> infância se projetam<br />

no tempo. Não se perdem, nem se<br />

diluem. Bem me lembro <strong>da</strong>s primeiras<br />

impressões <strong>da</strong> terra natal. A Rua Direita,<br />

com alvos seixos roliços. As boia<strong>da</strong>s<br />

atravessando a ci<strong>da</strong>de pacata, com o<br />

touro bravo se desgarrando do rebanho<br />

para pôr em polvorosa a quietude do<br />

nirvana luziense.<br />

Entre o sobrado <strong>da</strong> Baronesa e o<br />

adro do Rosário situava-se o meu pequeno<br />

mundo tão grande. Lembro-me<br />

bem do antigo teatro, com a sua estru-<br />

tura interna de madeira, as cadeiras<br />

de palhinha dispostas na platéia, os<br />

camarotes em volta, as “torrinhas” em<br />

cima. Ao fundo, o palco iluminado por<br />

tími<strong>da</strong>s gambiarras, velhos cenários no<br />

chão, desbotados e empoeirados; nos<br />

bastidores, as bambolinas retratavam<br />

o amadorismo do pintor local. Nos<br />

corredores e saletas, brincávamos de<br />

esconder, entre enfeites improvisados<br />

com bambus trazidos <strong>da</strong> beira do rio.<br />

Ao alto, a rua Direita,<br />

com sua tradicional<br />

calça<strong>da</strong> de pedras,<br />

vendo-se ao fundo<br />

a matriz de Santa<br />

Luzia.<br />

Abaixo, vista parcial<br />

do Bairro Ponte<br />

Grande, com a Igreja<br />

de São João Batista<br />

em primeiro plano<br />

<br />

CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009 - 23


Crônica<br />

24 - CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009<br />

Logo abaixo, na Farmácia acolhedora<br />

e amiga, junto a Síria e seus filhos,<br />

Castrinho manipulava as drogas do<br />

mundo para mostrar aos homens a arte<br />

de ser feliz. Em frente, na barbea ria, com<br />

o seu humor, Zeca contava histórias.<br />

Na curva fecha<strong>da</strong> <strong>da</strong> Rua Direita,<br />

o sobrado de Rafinha erguia-se como<br />

remanescente <strong>da</strong> antiga aristocracia<br />

comercial. No an<strong>da</strong>r térreo, a ven<strong>da</strong>,<br />

com as prateleiras onde se encontrava<br />

de tudo, desde os urinóis e as foices até<br />

a mais pura ren<strong>da</strong> francesa. No fim,<br />

na<strong>da</strong> restou, nem mesmo a casa senho-<br />

rial, destruí<strong>da</strong> mais pelo abandono dos<br />

homens do que pela força do tempo.<br />

Depois, o adro do Rosário, com sua<br />

rampa íngreme to<strong>da</strong> grama<strong>da</strong>, onde,<br />

em noites de luar, namorados procuravam<br />

a estrela cadente que realizaria,<br />

em segredo, to<strong>da</strong>s as aspirações de<br />

amor. Situado num outeiro, lá bem no<br />

alto, o adro nos enlevava e nos distanciava<br />

<strong>da</strong> baixa dimensão dos adultos.<br />

Dali, eu olhava o Rio <strong>da</strong>s Velhas, que<br />

já não existe mais, como já não existe<br />

a amorável ci<strong>da</strong>de dos meus sonhos<br />

de criança.<br />

Becos de ver<strong>da</strong>des inconfessáveis<br />

Vista parcial <strong>da</strong><br />

ci<strong>da</strong>de, toma<strong>da</strong><br />

a partir do Adro<br />

do Rosário, com<br />

destaque para a<br />

Rua Direita<br />

A vi<strong>da</strong> não consegue apagar, no<br />

tempo, as visões <strong>da</strong> infância. Ca<strong>da</strong><br />

pedra do antigo calçamento é uma<br />

sau<strong>da</strong>de, dura e indestrutível como a<br />

própria pedra. O futebol no Largo –<br />

está aí o velho Tiá para não nos deixar<br />

mentir – Maurinho, Zezeu, Ubaldo,<br />

Felipe, Camilo, Marcelo, Antônio Tibúrcio,<br />

Cacique, Alonso, Aarão, Nozinho,<br />

Lula, Joca. Roberto Elísio e Marcinho<br />

mal saíram do cueiro. O brinquedo de<br />

“pegador” no adro do Rosário.<br />

O sino <strong>da</strong> Matriz, traduzindo, plangente,<br />

to<strong>da</strong> a alma sofri<strong>da</strong> de um povo<br />

à espera do na<strong>da</strong>. O “nego fugido” pelos<br />

becos <strong>da</strong>s ver<strong>da</strong>des inconfessáveis.<br />

A aventura arroja<strong>da</strong> de enfrentar o Rio<br />

<strong>da</strong>s Velhas, que engolia os homens e


Crônica<br />

desmoralizava os heróis. Em suas margens,<br />

árvores frondosas debruçavam-se<br />

no espelho <strong>da</strong>s águas, enquanto pássaros<br />

e micos saltitantes embeveciam de<br />

encanto os olhos sôfregos <strong>da</strong> criança<br />

urbana. O banho, às escondi<strong>da</strong>s, no<br />

córrego do Tenente ou <strong>da</strong>s Calça<strong>da</strong>s.<br />

A fonte pura dos Camelos, onde vivíamos,<br />

em noites de serenata, os mais<br />

belos sonhos de amor. O chafariz <strong>da</strong><br />

Intendência marcando a passagem do<br />

córrego, em cujas margens um colar de<br />

lírios silvestres perfumava de alegria as<br />

tardes ensolara<strong>da</strong>s. O beco de Ceçota<br />

coroado, ao fundo, pelo transformador<br />

inacessível. Adiante, o antigo quartel,<br />

onde se asilou, mais tarde, a bon<strong>da</strong>de<br />

santa de Mariinha com o seu Asilo. O<br />

Campo do Santa Cruz, despontando<br />

entre o carrascal em que medravam<br />

mangabeiras e gabirobas.<br />

A casa do avô materno, com a sala<br />

de visitas marcando a “belle époque”.<br />

Ao canto, o piano, fixando to<strong>da</strong> a<br />

história de uma geração requinta<strong>da</strong>.<br />

Entre a sucessão dos quartos, o corredor<br />

que se alongava, bifurcando-se em<br />

duas varan<strong>da</strong>s, como se fossem braços<br />

que buscavam o além, no grande e<br />

insondável espaço do desconhecido.<br />

Em cima do forro de esteiras brancas,<br />

em confuso barulho que me enchia de<br />

medo, gambás saltitantes <strong>da</strong>nçavam,<br />

à noite, o eterno balé <strong>da</strong> perpetuação<br />

<strong>da</strong> espécie. Embaixo, a antiga senzala.<br />

Depois, o pomar de sombra acolhedora<br />

e amiga e <strong>da</strong>s frutas de sabor inesquecível:<br />

jabuticabas, laranjas, bananas,<br />

mangas, pêras, cajus, pitangas. Pela<br />

manhã, a neblina subia do rio para<br />

cobrir a terra com seu manto fluido. E<br />

a pomba rola anunciava, no seu cantar<br />

sofrido, que apagou o fogo que hoje<br />

nos consome.<br />

Velas como colar de brilhantes<br />

Defronte a matriz, a casa de meu<br />

avô paterno, com a imponência de<br />

um palco histórico, como quartel dos<br />

luzias de 42. Nas janelas, as marcas<br />

<strong>da</strong>s balas. No interior <strong>da</strong> casa, o sentimento<br />

de um povo. Os amplos salões,<br />

os quartos coloniais e, mais ao fundo,<br />

a cozinha imensa, onde os parentes se<br />

reuniam junto ao fogão de lenha, sempre<br />

aceso à maledicência diária. Nas<br />

varan<strong>da</strong>s internas, dezenas de pássaros<br />

compunham a espontânea sinfonia <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong>. No contrabaixo, a tosse rouca de<br />

meu avô, tranquilo coletor municipal, na<br />

bon<strong>da</strong>de universal.<br />

<br />

A antiga Fonte<br />

dos Camelos;<br />

originalmente,<br />

homenagem à família<br />

Camelo, desvirtua<strong>da</strong><br />

mais tarde pela<br />

colocação de dois<br />

camelos (animais) à<br />

sua entra<strong>da</strong><br />

Flagrante do enterro<br />

do Padre Ornelas<br />

CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009 - 25


Crônica<br />

A mulher<br />

luziense<br />

26 - CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009<br />

Os bares acolhedores <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de,<br />

ante-salas fraternais <strong>da</strong> residência de<br />

ca<strong>da</strong> proprietário.<br />

A tradição se escoando pela vi<strong>da</strong><br />

vazia, mas tão cheia de sentimentos<br />

e amor.<br />

Soltas e perdi<strong>da</strong>s recor<strong>da</strong>ções: As<br />

inolvidáveis Semanas Santas, duas<br />

longas fileiras de fiéis pela Rua Direita<br />

abaixo, portando velas acesas como se<br />

fosse um colar de brilhantes enfeitando<br />

o colo inabordável <strong>da</strong> menina-moça.<br />

Nessa época do ano, reunia-se to<strong>da</strong><br />

a minha família – irmãos, primos, tios,<br />

sobrinhos – no bar Natal, de Chico de<br />

Davina, <strong>da</strong>s 9 <strong>da</strong> manhã às 2 ou 3 <strong>da</strong><br />

E como eram lin<strong>da</strong>s e puras as serenatas<br />

antigas: As luzes <strong>da</strong> Cemig não<br />

haviam ain<strong>da</strong> destruído o encantamento<br />

<strong>da</strong>s noites.<br />

Aos meus ouvidos ressoam ain<strong>da</strong> a<br />

voz do trovador e o som plangente do<br />

violão, clamando pela sua ama<strong>da</strong>:<br />

“Acor<strong>da</strong> minha bela namora<strong>da</strong> /<br />

A lua nos convi<strong>da</strong> a passear /<br />

Seus raios iluminam to<strong>da</strong> a estra<strong>da</strong> /<br />

Por onde nós havemos de passar.”<br />

Ou então a valsa antológica:<br />

“A deusa <strong>da</strong> minha rua /<br />

Tem os olhos onde a lua /<br />

Costuma se embriagar.”<br />

Ou ain<strong>da</strong> o apelo em noite cheia de<br />

estrelas:<br />

“Lua! Man<strong>da</strong> a tua luz pratea<strong>da</strong> /<br />

Despertar a minha ama<strong>da</strong>.”<br />

Sonhávamos na reali<strong>da</strong>de. E nas canções<br />

de amor, enaltecíamos a beleza<br />

<strong>da</strong> mulher luziense, tão bem retrata<strong>da</strong><br />

na quadra popular: “De Curral d’El<br />

Rei as frutas / De Congonhas os Danié<br />

/ De Sabará, os Paula Rocha / De<br />

Santa Luzia as muié”.<br />

madruga<strong>da</strong>, entre centenas de cervejas<br />

nem sempre gela<strong>da</strong>s e dezenas de<br />

cachaças nem sempre puras. Chico<br />

Teixeira, tio-avô de voz grave e cabeleira<br />

branca como a neve, coordenava<br />

e financiava to<strong>da</strong> a sede etílica dos<br />

jovens que o rodeavam. Acredito que<br />

ele se remoçava assim, identificandose<br />

um pouco em ca<strong>da</strong> um de nós, num<br />

processo de transferência de sua vi<strong>da</strong><br />

venturosa e aventurosa.<br />

No meio <strong>da</strong> algazarra reinante e de<br />

inconti<strong>da</strong> cantoria, lá pelas tantas <strong>da</strong> noite<br />

explodia do Chico de Davina, uma gargalha<strong>da</strong><br />

homérica, cuja altura ficava em<br />

razão direta <strong>da</strong>s bramas consumi<strong>da</strong>s.<br />

Solar dos Teixeira <strong>da</strong> Costa, em 1936; hoje restaurado e sede <strong>da</strong> Casa de Cultura<br />

O Papa luziense<br />

E o quê dizer dos pitorescos tipos populares? O rei<br />

Tiú, na suprema felici<strong>da</strong>de <strong>da</strong> cretinice. Neca, o mendigo<br />

filosófico; Canela de Ferro, que provocávamos, cantando:<br />

“Na rua <strong>da</strong> Lapa, eu não posso passar / Canela de Ferro<br />

quer me pegar”. A resposta era uma saraiva<strong>da</strong> de impropérios,<br />

para falso escân<strong>da</strong>lo <strong>da</strong>s donzelas e matronas.<br />

Talvez o mais pitoresco dos tipos fosse o Pio, crioulo<br />

sabido que fingia de doido, com uma beiçorra maior do<br />

que a língua do Einstein de conhecido anúncio. Pio criava<br />

histórias fantásticas, como a de que o Papa Pio XII escolhera<br />

esse nome em homenagem a ele, o Pio luziense. E<br />

narrava, com riqueza de pormenores, uma suposta audiência<br />

com o Sumo Pontífice, em Roma, durante a qual ele<br />

foi condecorado com a Cruz <strong>da</strong> Ordem de Cristo.


Crônica<br />

Quanto vale o na<strong>da</strong>?<br />

No silêncio <strong>da</strong> hora – quando<br />

agoniza a noite e ain<strong>da</strong><br />

não nasceu o dia – já não mais<br />

encontro, em frente à Matriz, os<br />

caminhões que transportavam<br />

frutas e legumes para a Capital.<br />

Nem ouço as vozes irreverentes<br />

dos motoristas, intercala<strong>da</strong>s com<br />

as rezas <strong>da</strong>s beatas.<br />

Já não mais Pai Juca “quentando”<br />

sol na pequena amura<strong>da</strong><br />

que dividia a Rua Direita,<br />

a barba sempre por fazer e o<br />

capote cinza defendendo os<br />

pulmões vulneráveis. O que é<br />

de Cecília Teixeira, cabeleira<br />

branca e elegância precursora<br />

<strong>da</strong> beleza <strong>da</strong>s filhas? E “Sô”<br />

Álvaro e Palmor. Fechando no<br />

largo anfiteatro no alto <strong>da</strong> Rua<br />

Direita, o feudo dos Teixeira?<br />

Onde a herege Julí, baixotinha<br />

petulante e desafora<strong>da</strong>, mas que<br />

não levava desaforo para casa.<br />

Não mais João Maria, o cinema,<br />

sua ven<strong>da</strong>, as mangueiras. E<br />

Mi ta, na agência dos Correios,<br />

intermediária oficial <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de<br />

com o mundo. Nem Bilé, o velho,<br />

trazendo no lombo <strong>da</strong> mula<br />

a correspondência do dia. E o<br />

O antigo Cine Trianon, que não existe mais<br />

seu mensageiro itinerante, Zé<br />

Yayá, embarafustando-se pelos<br />

corredores <strong>da</strong>s casas para levar<br />

a todos as notícias de além rio?<br />

Desapareci<strong>da</strong> a figura serena do<br />

santo médico Ari Teixeira, seus<br />

olhos azuis como o azul do céu,<br />

fazendo pachorrentamente seu<br />

cigarrinho de palha. Como também<br />

o Senador Modestino Gonçalves,<br />

an<strong>da</strong>ndo pela Rua Direita<br />

rumo ao Fórum, para executar a<br />

partilha do bolo eleitoral.<br />

Esvai-se, no tempo, a lembrança<br />

de Broeiro, Benone, João<br />

de Castro; de Areclides, de Juca<br />

Maia, de Stockler; de Jonas, de<br />

Tuba, de Artêmio, de Carumbé,<br />

de “Sô” Tel e “Sô” Tide; do vigário<br />

Zé Tomaz, que continuou padre<br />

mesmo depois de cônego.<br />

O sobrado de “Seu” Aurélio,<br />

guar<strong>da</strong>ndo o museu que contava<br />

a derrota dos heróis e a tortura<br />

dos escravos. Ao lado, o Sobradinho,<br />

a pensão de onde sairia<br />

o nosso Gentil, o mais esperto<br />

de todos nós – tanto que foi o<br />

único que ficou rico.<br />

O que é de Chico Tibúrcio,<br />

O Solar <strong>da</strong> Baronesa, antiga Prefeitura e atual Museu <strong>da</strong> Mulher Mineira<br />

mestre, poeta e pescador de<br />

sonhos? Na faina do não fazer,<br />

onde Chico Glicério, calculando<br />

o valor do na<strong>da</strong>, o mais valioso<br />

patrimônio do homem – porque<br />

nunca lhe é tirado? E Chico Lucindo,<br />

puro e ameno como sabem ser<br />

os seus filhos? O que é de Laura,<br />

com os seus quitutes gostosos?<br />

Não mais Tulú, Modestino Elói,<br />

Chico Teixeira, tanta gente que<br />

era gente. Juca de Brito, Mer cedes,<br />

Nhá Lin<strong>da</strong>, Nenzinho, Ceçota,<br />

Janjão Coelho, Afonsino, Nelson<br />

Barbosa, Domingos Ornelas.<br />

Na minha lembrança, passeia<br />

sem ruídos, nem fanfarras, a<br />

figura magra e bondosa de Chiquito.<br />

O Dr. Chiquito, discreto<br />

salvador dos pobres.<br />

E onde Vó Lisa, mãe de todos<br />

nós, com sua goiaba<strong>da</strong> melhor<br />

do mundo, a velha casa, o pomar,<br />

as filhas lin<strong>da</strong>s, as largas<br />

tábuas rangendo sob nossos<br />

pés, a recor<strong>da</strong>ção de uma dor<br />

fisgando o coração.<br />

Tudo perdido na sau<strong>da</strong>de<br />

dos homens! Tudo destruído pela<br />

vertigem do tempo!<br />

<br />

CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009 - 27


Crônica<br />

Fideli<strong>da</strong>de ao passado<br />

A ci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> minha infância<br />

desapareceu, pois o tempo não<br />

pode parar. O progresso invade<br />

ruas e casas, tritura corações<br />

nas fábricas e engole homens<br />

no asfalto. Santa Luzia, que no<br />

século XIX fora sitia<strong>da</strong> pelas forças<br />

de Caxias, é hoje cerca<strong>da</strong><br />

e ameaça<strong>da</strong> pelos conjuntos<br />

habitacionais.<br />

As langorosas valsas <strong>da</strong>s<br />

serenatas são substituí<strong>da</strong>s pelo<br />

barulho ensurdecedor dos metaleiros,<br />

de indisfarçável sotaque<br />

norte-americano.<br />

Curvo-me diante <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de<br />

que se implanta agora, imposta<br />

pelo progresso. Com ela, uma<br />

nova geração está surgindo.<br />

Certamente sonhadora e realista,<br />

como são sempre os jovens.<br />

Aceitemo-la como ela é, nas<br />

ânsias de sua inexperiência, nos<br />

28 - CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009<br />

excessos de seus julgamentos,<br />

até mesmo nos equívocos de<br />

seus arroubos. Saibamos compreendê-la<br />

assim, porque assim<br />

que ela é autêntica. Como já<br />

foi observado, porém, é preciso<br />

que os moços de hoje saibam<br />

que um dia, eles serão velhos.<br />

E é “caminhando para o<br />

futuro que somos fiéis ao passado”<br />

– afirmava Milton Campos<br />

– assim como, na imagem de<br />

Jaurés, “é correndo para o mar<br />

que as águas do rio são fiéis às<br />

suas origens”.<br />

Os antepassados subsistem<br />

na história, inscritos em nossos<br />

corações como símbolos e<br />

lembranças. A mim, basta que<br />

eu seja fiel ao passado. Assim,<br />

percebo ain<strong>da</strong> o marulhar <strong>da</strong>s<br />

águas do rio cau<strong>da</strong>loso. O marulhar<br />

é monótono e envolvente<br />

como uma ampulheta. E sugere<br />

coisas de amor, arrastando<br />

para o rio os sonhos de juventude,<br />

que se enterram na areia<br />

branca e movediça do tempo.<br />

Pelas ruas e becos, ecoam aos<br />

meus ouvidos as recor<strong>da</strong>ções<br />

do passado.<br />

Dói, no coração, a lembrança<br />

do retrato que ain<strong>da</strong> está dependurado<br />

na parede. Ouço, ao<br />

longe, o brado dos luzias. Meus<br />

olhos alcançam a várzea fértil<br />

e o rio bravo. Revivem alegres<br />

recor<strong>da</strong>ções – já tão distantes<br />

no tempo, mas tão próximas de<br />

nós. E perscrutam o futuro, na<br />

busca sonhadora <strong>da</strong> felici<strong>da</strong>de<br />

do passado.<br />

(*) José Bento Teixeira de Salles<br />

é jornalista e escritor, membro<br />

<strong>da</strong> Academia Mineira de Letras.<br />

A Rua Direita, a mais<br />

importante <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de


Entrevista<br />

Por Manoel Marcos Guimarães<br />

SERAFIM,<br />

o Cardeal do Vale<br />

Ele acaba de completar<br />

60 anos de vi<strong>da</strong> presbiteral e<br />

50 de ordenação episcopal<br />

e tem comemorado as <strong>da</strong>tas<br />

ostentando o dístico “plantando<br />

esperança” para caracterizar<br />

o quase meio século<br />

dedicado à<br />

Arquidiocese de<br />

Belo Horizonte,<br />

sendo 21 anos<br />

como reitor <strong>da</strong><br />

Universi<strong>da</strong>de<br />

Católica, na<br />

condição de<br />

bispo auxiliar,<br />

quatro como<br />

arcebispo<br />

coadjutor<br />

e 18 como<br />

arcebispo<br />

titular.<br />

CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009 - 29


Entrevista<br />

“ Ser mineiro<br />

é uma<br />

vocação,<br />

é uma<br />

graça.”<br />

C<br />

30 - CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009<br />

omo na maior parte de sua vi<strong>da</strong> eclesial, evita polêmicas (“Se eu disse alguma<br />

coisa que possa magoar alguém, por favor, não publique”, pede ao final <strong>da</strong> entrevista),<br />

mas não abre mão <strong>da</strong> defesa de princípios e dos valores, dentre os quais destaca a<br />

família: “Humanamente, meu encantamento maior é a família”. Instituição, aliás, que ele vê<br />

ameaça<strong>da</strong>, principalmente pela permissivi<strong>da</strong>de excessiva veicula<strong>da</strong> pelas novelas de TV.<br />

Diz que uma situação familiar na infância, quando conviveu ao mesmo tempo ‘com<br />

dois pais e duas mães’, o ensinou a não tomar partido, mas a buscar sempre o equilíbrio,<br />

e não encara essa circunstância como problemática: “Durante a ditadura, por<br />

exemplo, eu era tido como comunista pelos<br />

militares e direitista pelos estu<strong>da</strong>ntes e isso<br />

foi essencial para que eu pudesse aju<strong>da</strong>r<br />

os universitários presos.” Efetivamente, na<br />

Confederação Nacional dos Bispos do<br />

Brasil (CNBB), <strong>da</strong> qual foi vice-presidente,<br />

sua atuação ora era considera<strong>da</strong> progressista,<br />

ora era taxa<strong>da</strong> de conservadora e<br />

ele jamais teve alinhamento automático<br />

com qualquer dos grupos em que a enti<strong>da</strong>de<br />

muitas vezes se dividia. “A CNBB não tem<br />

lados, tem pessoas diferentes e grupos que<br />

se juntam mais, mas no essencial a gente está<br />

sempre junto”, diz.<br />

Outro bom exemplo de sua disposição<br />

para não tomar partido está no fato de,<br />

atleticano fervoroso, ter tido em Felício<br />

Brandi, talvez o mais importante presidente<br />

do Cruzeiro Esporte Clube, um grande amigo,<br />

de quem, inclusive, fez o casamento.<br />

Reconhece a construção <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de<br />

Católica de Minas Gerais, atual PUC<br />

Minas, como sua principal obra, cita Dom<br />

João de Rezende Costa, a quem substituiu,<br />

e o Papa João Paulo II como os seus principais<br />

exemplos de vi<strong>da</strong> e defende a ação do<br />

Papa Bento XVI à frente <strong>da</strong> Igreja como uma<br />

cruza<strong>da</strong> em defesa <strong>da</strong> família. Confessa, sem<br />

comentários, que não indicou seu sucessor,<br />

mas defende o atual processo de escolha dos<br />

bispos, embora não o considere ideal.<br />

Nasceu em Minas Novas quase por<br />

acaso, mas suas raízes estão mesmo em Itamarandiba,<br />

onde nasceram os pais e os outros 15 irmãos e onde passou a maior parte<br />

do tempo em que não estava no Seminário. Confessa-se “apaixonado” pelo Vale do<br />

Jequitinhonha e faz questão, inclusive, de não abandonar o linguajar de sua gente.<br />

Nesta entrevista à Revista do Ceco / Casa dos Contos, Dom Serafim Fernandes de<br />

Araújo, que irá completar 85 anos de i<strong>da</strong>de em 13 de agosto deste ano, fala um pouco<br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, <strong>da</strong> igreja e, inclusive, de política.


Entrevista<br />

Vocação<br />

Minha vocação nasceu de Itamarandiba,<br />

que era uma ci<strong>da</strong>de muito piedosa.<br />

Todo mundo rezava todos os dias. Até<br />

mesmo os homens, quando não tinham<br />

tempo de participar <strong>da</strong>s novenas, passavam<br />

mais tarde na igreja para adorar o<br />

Santíssimo. Não houve direcionamento<br />

familiar. Eu gostava mesmo <strong>da</strong> igreja e<br />

até brincava de padre, partindo bananas<br />

e distribuindo a meus irmãos, como se<br />

fossem hóstias.<br />

Eu não fui um aventureiro.<br />

Infância<br />

Quando nasceu meu primeiro irmão,<br />

minha mãe não <strong>da</strong>va conta de criar os<br />

dois e então uma irmã de meu pai, que<br />

não podia ter filhos, começou a me levar<br />

para a casa dela. Isso acabou gerando<br />

em mim um grande conflito, a ponto de<br />

um dia eu fugir de casa e me esconder<br />

debaixo <strong>da</strong> ponte, onde me encontraram<br />

bem mais tarde. Para mim, era um<br />

sofrimento, pois não sabia qual era a<br />

‘minha’ família, quem eram os ‘meus’<br />

pais. Isso me deu uma grande graça de<br />

vi<strong>da</strong>, pois foi me fazendo gostar <strong>da</strong>s<br />

pessoas pelo que elas são e não pelo<br />

lado em que estão. Eu tinha dois pais<br />

e duas mães, mas todos me amavam<br />

igualmente. Isso me ajudou muito a vi<strong>da</strong><br />

inteira.<br />

Equilíbrio<br />

Quando fui estu<strong>da</strong>r Teologia em<br />

Roma, em 1946, havia muita disputa<br />

entre os padres que estavam lá, divididos<br />

entre conservadores e avançados. Eu<br />

sempre fui o do equilíbrio.<br />

<br />

Universi<strong>da</strong>de<br />

Só conheci Dom João [de Resende<br />

Costa] depois de ser nomeado. Ele havia<br />

pedido que lhe enviassem um bispo<br />

auxiliar que pudesse também ser reitor<br />

<strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Católica. Peguei a<br />

universi<strong>da</strong>de com 635 alunos e cinco<br />

cursos – ciências médicas, direito, filosofia,<br />

serviço social e enfermagem. Deixei<br />

a universi<strong>da</strong>de com 50 mil alunos. No<br />

plano <strong>da</strong>s realizações foi, sem dúvi<strong>da</strong>,<br />

minha principal obra.<br />

Ao alto, ao rezar<br />

sua primeira<br />

missa, em Roma,<br />

em 1949; abaixo,<br />

com os pais<br />

e irmãos, em<br />

Diamantina, no<br />

dia <strong>da</strong> ordenação<br />

como bispo<br />

CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009 - 31


Entrevista<br />

Escolha dos bispos<br />

Com o Papa<br />

Bento XVI,<br />

em 2008; entre<br />

os dois, Dom<br />

Geraldo Lyrio,<br />

presidente<br />

<strong>da</strong> CNBB<br />

“ Só acredito<br />

no ser humano<br />

que seja capaz<br />

de perdoar;<br />

o único<br />

remédio que<br />

há no mundo<br />

é o perdão.<br />

Quem ganha<br />

com o perdão<br />

não é quem é<br />

perdoado, é<br />

quem perdoa.<br />

”<br />

32 - CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009<br />

Conheci Dom João depois de indicado.<br />

Não indiquei meu sucessor. Acho<br />

que o processo atual de escolha ain<strong>da</strong><br />

é o melhor, embora não ideal. Pode<br />

aumentar um pouco a participação,<br />

mas não há sentido, por exemplo,<br />

em se fazer eleições para escolha de<br />

bispos.<br />

Bento XVI<br />

Quando voltei <strong>da</strong> eleição dele, disse: ‘é o homem mais clarividente que conheci<br />

na vi<strong>da</strong>’. Mas ele nunca vai ter, é claro, o charme de João Paulo II. Mas acho que<br />

classificação de conservador não se aplica a ele. Repito, é o homem mais clarividente<br />

que já conheci. É impressionante. A Igreja,<br />

inclusive, deve a ele muito do que João Paulo<br />

II fez, pois ele estava ali como principal<br />

assessor e sempre foi muito leal.<br />

Para os tempos atuais, ele está fazendo<br />

tudo o que a Igreja precisa. Ele está segurando<br />

aquilo que está destruindo o mundo,<br />

pois no dia que terminar a família, terminou<br />

tudo, não vai ter mais na<strong>da</strong>. O que ele está<br />

querendo segurar é isso. Se a igreja não<br />

defender a família, quem vai defender? Se<br />

a família continuar do jeito que está sendo<br />

mostra<strong>da</strong> pelas novelas, ela vai acabar.<br />

[A liberação do uso <strong>da</strong> camisinha] se<br />

fosse para melhoria <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, a Igreja<br />

podia até pensar, mas não é. É por desmando.<br />

Então, o Papa não pode jamais apoiar. É muito fácil dizer: faça tudo o que você<br />

quiser. Mas não é esse o papel <strong>da</strong> Igreja.<br />

Nessa crise financeira atual, por exemplo, a palavra do Vaticano foi muito importante<br />

ao alertar que o fascismo e o nazismo cresceram na crise de 1929 e que há muita coisa<br />

surgindo agora para as quais precisamos ficar atentos.<br />

Atlético<br />

Quando digo publicamente que sou<br />

torcedor do Galo, mostro que sou gente,<br />

pois muitos acham que padre não é<br />

gente. Mas nunca fui radical. O Felício<br />

Brandi, a quem o Cruzeiro deve tudo<br />

o que é hoje, por exemplo, era meu<br />

amigo e até me ajudou muito em algumas<br />

campanhas. Fiz o casamento dele,<br />

Fernando Lugo<br />

A Igreja foi sábia ao conceder-lhe<br />

a licença, retirando dele to<strong>da</strong>s as obrigações<br />

eclesiais. Hoje ele é um leigo.<br />

Certamente, a Igreja ao fazer isto já<br />

sabia algumas coisas dele que só vieram<br />

a público depois. Foi a primeira vez que<br />

vi um Papa dispensar alguém de to<strong>da</strong>s as<br />

obrigações.<br />

quando aconteceu um fato interessante:<br />

eu e a esposa dele, Maria José,<br />

ficamos mais de uma hora esperando<br />

por ele na igreja. Quando chegou, ele<br />

me disse que tinha se atrasado porque<br />

estava acertando a contratação do<br />

Tostão; ele estava tirando o Tostão do<br />

América.


Entrevista<br />

O Diário<br />

O jornal O Diário foi uma <strong>da</strong>s coisas<br />

mais bonitas que a Igreja Católica<br />

tinha no Brasil, com um laicato muito<br />

dedicado; era um jornal excelente. Seu<br />

fecha mento ocorreu porque ele ficou<br />

com muitos problemas financeiros e<br />

não por vontade nossa.<br />

Eles resolveram fazer uma campanha<br />

de assinatura de 10 anos: o assinante<br />

pagava 10 anos de uma só vez e<br />

depois não pagava mais. No princípio,<br />

foi uma maravilha, pois entrou muito<br />

dinheiro, mas quando terminou esse<br />

prazo, a crise ficou insuperável. Dom<br />

João e eu decidimos, então, montar<br />

uma rádio e compramos a Rádio Jornal<br />

de Minas, que depois foi mu<strong>da</strong>ndo<br />

de nome. A linha d’ O Diário não era<br />

conservadora, era avança<strong>da</strong>, porque<br />

o laicato católico de BH era muito<br />

avançado.<br />

Com João Paulo II, em 1998, ao receber o barrete cardinalício<br />

“ Ninguém fica sem Deus. Quem fala contra<br />

Deus é porque o deus dele é o dinheiro, é sexo...<br />

mas ele não tem coragem de assumir.”<br />

Fim do Celibato<br />

No meu modo de pensar, não é por<br />

aí que vamos estimular as vocações<br />

sacerdotais. Estamos precisando de padres<br />

que dêem a vi<strong>da</strong>, casados ou não<br />

casados. Peguem sua vi<strong>da</strong> e entreguem<br />

a Deus. Tenho muito medo até dos que<br />

querem hoje acumular títulos acadêmicos<br />

pensando na vi<strong>da</strong> sacerdotal, como<br />

querem alguns.<br />

João Paulo II<br />

Ao lado de Dom João, João Paulo II foi a pessoa mais<br />

importante na minha vi<strong>da</strong>. Ele, aliás, nunca me chamou pelo<br />

nome, to<strong>da</strong> a vi<strong>da</strong> me chamou de ‘Belo Horizonte’, inclusive<br />

quando fui visitá-lo, já doente.<br />

<br />

CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009 - 33


Entrevista<br />

Política<br />

Não vou dizer que não<br />

tinha preferência por esse ou<br />

aquele candi<strong>da</strong>to, mas para mim<br />

o essencial sempre foi ver os valores<br />

em disputa. A igreja não<br />

pode ter um lado, mas também<br />

não pode se omitir quanto a valores,<br />

tem que tentar sarar to<strong>da</strong>s<br />

as feri<strong>da</strong>s. Acho, por exemplo,<br />

que padre prefeito não faz sentido.<br />

Nós temos uma missão e<br />

se tomarmos algum partido, não<br />

podemos cumpri-la.<br />

Corrupção<br />

Os colegiados políticos não<br />

evoluíram. Esse não é um problema<br />

do ser humano, é do<br />

sistema. A igreja tem pouco<br />

a fazer, pois essa é uma área<br />

intransponível.<br />

34 - CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009<br />

“ Deus sempre teve muito carinho por<br />

mim. Na minha vi<strong>da</strong>, to<strong>da</strong>s as vezes que<br />

eu falei ‘não posso’, Deus falou ‘pode’. E<br />

foi me levando, me levando.”<br />

Diante de Deus<br />

O lema de Dom Serafim, Seraphim<br />

iuxta Eum, foi extraído do livro do<br />

profeta Isaias (Is capitulo 6, versículos<br />

2 e 3): “Serafins estavam junto a ELE,<br />

o Senhor, e cantavam Santo, Santo,<br />

Santo é o Senhor dos exércitos; céus<br />

e terra estão cheios de sua glória”.<br />

Ele escolheu o lema porque “como os<br />

serafins <strong>da</strong> divisão de Isaías, quer estar<br />

diante de Deus, em adoração e súplica<br />

por to<strong>da</strong> a sua Diocese.”<br />

Sempre em Minas<br />

(*) Manoel Marcos Guimarães<br />

é jornalista, editor <strong>da</strong> Revista do<br />

Ceco / Casa dos Contos.<br />

Nascido em 13 de agosto de 1924, Serafim Fernandes de Araújo,<br />

ordenou-se padre em 12 de março de 1949, na Catedral de<br />

São João de Latrão, em Roma, Itália. Fez to<strong>da</strong> sua carreira eclesial<br />

em Minas Gerais. Foi pároco de Gouveia e Curvelo, capelão do 3º<br />

Batalhão <strong>da</strong> Polícia Militar, em Diamantina, e exerceu o magistério<br />

em instituições religiosas e colégios, em Diamantina e Curvelo. Foi<br />

o primeiro bispo brasileiro a ser nomeado por João XXIII, em 19 de<br />

janeiro de 1959, sendo ordenado em 5 de maio do mesmo<br />

ano. Desde sua nomeação, atuou sempre na Arquidiocese<br />

de Belo Horizonte, como bispo auxiliar, arcebispo<br />

coadjutor e arcebispo titular. Sua criação como cardeal<br />

ocorreu em 21 de fevereiro de 1998. Permaneceu<br />

à frente <strong>da</strong> Arquidiocese até 28 de janeiro de 2004,<br />

quando renunciou, sendo substituído por Dom Walmor<br />

de Oliveira.


Pesquisa<br />

Por Éder Romagna Rodrigues e<br />

Alexandre Magno Alves Diniz (*)<br />

A rede de núcleos <strong>da</strong> Estra<strong>da</strong> Real<br />

e sua aptidão para o turismo:<br />

UM LEGADO<br />

A SER<br />

DESVENDADO<br />

Dissertação<br />

de Mestrado<br />

<strong>da</strong> PUC Minas<br />

organiza ranking<br />

dos municípios<br />

integrantes<br />

do circuito<br />

Estra<strong>da</strong> Real, de<br />

acordo com a<br />

disponibili<strong>da</strong>de<br />

de infraestrutura<br />

turística.<br />

H<br />

á cerca de 300 anos a descoberta de metais nas Minas<br />

Gerais atraiu fluxos de migrantes que passaram a povoar<br />

núcleos próximos às áreas de lavras e transformar o inóspito<br />

interior <strong>da</strong> Colônia em um dos mais dinâmicos eixos urbanos<br />

do continente Americano.<br />

A migração e concentração de pessoas em aglomerados<br />

populacionais, associa<strong>da</strong>s à afluência de riquezas propicia<strong>da</strong><br />

pela exploração <strong>da</strong>s minas, foram determinantes para a<br />

ativação de um sistema urbano de vilas e arraiais comerciais<br />

(GEIGER, 1963).<br />

<br />

CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009 - 35


Pesquisa<br />

São João del-Rei<br />

aparece em<br />

sétimo lugar<br />

entre as ci<strong>da</strong>des<br />

com melhor<br />

infraestrutura<br />

36 - CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009<br />

A circulação de riquezas, pessoas e<br />

mercadorias concentrava-se em alguns<br />

pontos <strong>da</strong> Estra<strong>da</strong> Real, cujas localizações<br />

favoreciam os intercâmbios de quaisquer<br />

naturezas (GEIGER, 1963). As áreas que<br />

favoreciam os intercâmbios comerciais,<br />

como os cruzamentos de vias de circulação,<br />

passaram a testemunhar o surgimento<br />

de núcleos urbanos especializados na<br />

comercialização de bens e serviços (FUR-<br />

TADO, 2006).<br />

Caminho indutor<br />

A Estra<strong>da</strong> Real representava o principal<br />

canal de comunicação entre as<br />

embrionárias ci<strong>da</strong>des mineiras do Brasil<br />

Colônia, constituindo-se em um importante<br />

indutor de desenvolvimento. Com a exaustão<br />

<strong>da</strong>s minas de ouro e diamantes, essas<br />

estra<strong>da</strong>s foram paulatinamente abandona<strong>da</strong>s.<br />

Os mecanismos de fiscalização<br />

oficial, a rede de núcleos urbanos, bem<br />

como as construções civis do período deixaram<br />

de ter significado e utili<strong>da</strong>de para<br />

o contexto sócio-econômico <strong>da</strong> mineração,<br />

mas podem assumir na atuali<strong>da</strong>de<br />

a condição de patrimônios históricos a<br />

serem potencializados como recursos turísticos,<br />

como, aliás, vem sendo posto em<br />

O desenvolvimento econômico e o crescimento<br />

populacional obrigaram a Coroa<br />

a estabelecer algumas medi<strong>da</strong>s de controle<br />

sobre o território. A Coroa Portuguesa<br />

procurou definir, então, um conjunto de<br />

caminhos terrestres como vias oficiais de<br />

circulação de riquezas, pessoas e mercadorias.<br />

À rota que ligaria o litoral <strong>da</strong><br />

Colônia às vilas <strong>da</strong>s Minas Gerais entre<br />

os séculos XVIII e XIX foi atribuído o nome<br />

de “Estra<strong>da</strong> Real” (SANTOS, 2006).<br />

prática pelo Instituto Estra<strong>da</strong> Real.<br />

Para que os potenciais inerentes aos<br />

atrativos sejam efetivamente aproveitados,<br />

ativando a circulação de fluxos<br />

de viajantes nos domínios <strong>da</strong> Estra<strong>da</strong><br />

Real, é imperativo que os atrativos sejam<br />

estruturados para a ativi<strong>da</strong>de. O conjunto<br />

dos equipamentos, bens e serviços<br />

imprescindíveis ao desenvolvimento do<br />

turismo forma, junto com os atrativos,<br />

a oferta turística destina<strong>da</strong> ao usufruto<br />

do viajante. É ela que reúne todos os<br />

elementos necessários ao desfrute <strong>da</strong> experiência<br />

do turismo e o suporte às ações<br />

de deslocamento, alojamento, lazer e<br />

alimentação dos viajantes.<br />

FOTO EUGÊNIO FERRAZ


Pesquisa<br />

Padrões identificados<br />

Apesar de os elementos estruturais<br />

do turismo serem essenciais à ativi<strong>da</strong>de<br />

turística, eles são somente encontrados<br />

em pequenas quanti<strong>da</strong>des em superfície.<br />

A maior parte dos atrativos concentra-se<br />

em aglomerações urbanas <strong>da</strong> antiga<br />

rede de núcleos coloniais, pois foi edifica<strong>da</strong><br />

no passado para atender diversas<br />

finali<strong>da</strong>des econômicas e as populações<br />

mineradoras.<br />

Não existem levantamentos sobre<br />

como as estruturas e os equipamentos<br />

que poderiam servir ao turismo estariam<br />

distribuídos ao longo <strong>da</strong> rede de núcleos<br />

urbanos <strong>da</strong> Estra<strong>da</strong> Real. É provável que<br />

boa parte <strong>da</strong> estrutura urbana encontra<strong>da</strong><br />

na contemporanei<strong>da</strong>de guarde relações<br />

com a gênese dos equipamentos urbanos<br />

implementados pela socie<strong>da</strong>de mineradora<br />

no período colonial.<br />

Para que a Estra<strong>da</strong> Real seja efetivamente<br />

transforma<strong>da</strong> em um produto<br />

turístico, a sua turistificação deman<strong>da</strong>rá<br />

a integração de suas infraestruturas aos<br />

atrativos turísticos existentes.<br />

O objetivo do nosso trabalho foi o de<br />

desven<strong>da</strong>r de que forma a antiga rede<br />

de núcleos coloniais <strong>da</strong> Estra<strong>da</strong> Real,<br />

abrangedora de 176 municípios de Mi-<br />

nas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro,<br />

encontra-se estrutura<strong>da</strong> para desempenhar<br />

funções de prestação de serviços turísticos<br />

com base em informações referentes aos<br />

anos de 2000, 2003 e 2006. O intuito<br />

dessa proposta foi o de identificar os<br />

padrões de distribuição espacial <strong>da</strong> rede<br />

de núcleos que compõem a Estra<strong>da</strong> Real,<br />

tendo por base as estruturas urbanas<br />

específicas que participam <strong>da</strong> cadeia de<br />

relações do turismo.<br />

A identificação de como o sistema<br />

urbano <strong>da</strong> Estra<strong>da</strong> Real se estrutura para<br />

as ativi<strong>da</strong>des turísticas criará condições<br />

para se compreender melhor o funcionamento<br />

<strong>da</strong> estrutura urbana e de que<br />

maneira ela herdou características <strong>da</strong><br />

rede urbana colonial. As características<br />

<strong>da</strong> rede urbana <strong>da</strong> Estra<strong>da</strong> Real tanto no<br />

presente quanto no passado constituem<br />

valiosas informações que poderão ser<br />

agrega<strong>da</strong>s ao produto turístico Estra<strong>da</strong><br />

Real. O modo em que os núcleos<br />

urbanos se relacionavam no passado<br />

constitui na atuali<strong>da</strong>de um patrimônio<br />

material e imaterial carregado de significados<br />

que pode ser utilizado como<br />

referência para se valorizar o atrativo<br />

turístico Estra<strong>da</strong> Real.<br />

São Lourenço, no<br />

sul de Minas, é a<br />

décima ci<strong>da</strong>de com<br />

melhor infraestrutura<br />

para o turismo<br />

<br />

CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009 - 37<br />

FOTO EUGÊNIO FERRAZ


Pesquisa<br />

38 - CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009<br />

Infraestrutura medi<strong>da</strong> e avalia<strong>da</strong><br />

O estudo envolveu uma série de procedimentos<br />

e ações metodológicos. Em um<br />

primeiro momento houve a preocupação<br />

em obter <strong>da</strong>dos dos atrativos e infraestrutura<br />

turísticos com os órgãos competentes.<br />

Foram levantados <strong>da</strong>dos que contemplassem<br />

diversos aspectos <strong>da</strong> oferta de serviços<br />

turísticos sendo então classificados<br />

em grupos temáticos de Comunicações,<br />

Infraestrutura Básica e Turística, Transporte,<br />

Saúde, Hospe<strong>da</strong>gem e Alimentação.<br />

Para alcançar os objetivos, emprega-<br />

Os 20 melhores<br />

mos uma equação para se estabelecer<br />

um índice de estruturação turística para<br />

29 variáveis relaciona<strong>da</strong>s à prestação de<br />

serviços turísticos nos 176 núcleos urbanos<br />

do Circuito Turístico Estra<strong>da</strong> Real.<br />

Os resultados apontam que as ci<strong>da</strong>des<br />

<strong>da</strong> Estra<strong>da</strong> Real formam uma rede de<br />

centros com diversos níveis de desenvolvimento<br />

estruturais para o turismo. Entre os<br />

20 municípios mais estruturados figuram<br />

ci<strong>da</strong>des com amplo valor histórico e cultural<br />

(veja tabela).<br />

Tabela 1 Índices por Grupos Temáticos de Variáveis e Índice Global*<br />

Colocação<br />

Município Índ. Índ. Índ. Índ. Índ. I.Estrutura<br />

Comunicação Hospe<strong>da</strong>gem Alimentação Serviços Turística Global<br />

Índice<br />

1º Juiz de Fora 0,78 0,383929 0,270346 0,785714 0,633929 0,570784<br />

2º Barbacena 0,522423 0,060606 0,263853 0,443907 0,4375 0,345658<br />

3º Conselheiro Lafaiete 0,284862 0,227273 0,3329 0,46899 0,357143 0,334234<br />

4º Diamantina 0,493434 0,08171 0,299567 0,296378 0,183929 0,271003<br />

5º Petrópolis 0,196558 0,24026 0,124711 0,44453 0,3 0,261212<br />

6º Serro 0,230526 0,315476 0,421717 0,06812 0,232143 0,253596<br />

7º São João del-Rei 0,511896 0,07684 0,219697 0,270139 0,160714 0,247857<br />

8º Ouro Preto 0,180418 0,294372 0,274242 0,270719 0,185714 0,241093<br />

9º Ponte Nova 0,392531 0,015152 0,143939 0,353092 0,285714 0,238086<br />

10º São Lourenço 0,34264 0,136905 0,219697 0,234924 0,232143 0,233262<br />

11º Cruzeiro 0,157193 0,065476 0,423232 0,316331 0,169643 0,226375<br />

12º Lima Duarte 0,071579 0,292208 0,486508 0,065473 0,1875 0,220654<br />

13º João Monlevade 0,191211 0,028139 0,272727 0,338765 0,223214 0,210811<br />

14º Três Rios 0,290209 0,160714 0,150216 0,228473 0,223214 0,210565<br />

15º Santa Luzia 0,146767 0,154221 0,177273 0,21388 0,3125 0,200928<br />

16º Caxambu 0,308989 0,11039 0,313131 0,215729 0,05 0,199648<br />

17º Guaratinguetá 0,273851 0,130141 0,143939 0,275382 0,121429 0,188948<br />

18º Três Corações 0,359783 0,037067 0,060606 0,218494 0,196429 0,174476<br />

19º Parati 0,299064 0,037608 0,211111 0,212043 0,1125 0,174465<br />

20º Santos Dumont 0,179783 0,037608 0,211688 0,209009 0,232143 0,174046


Pesquisa<br />

Rede de Núcleos<br />

Os núcleos <strong>da</strong> Estra<strong>da</strong> Real podem ser agrupados em quatro níveis que representam<br />

suas capaci<strong>da</strong>des para desempenharem funções turísticas: Centro de Ordem Superior,<br />

Centros de Ordem Intermediária, Centros de Ordem Inferior e Centros Complementares<br />

(veja mapa).<br />

Figura 21 - Classificação Funcional Turística dos Municípios <strong>da</strong> Região turística <strong>da</strong> Estra<strong>da</strong> Real - 2003<br />

<br />

CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009 - 39


Pesquisa<br />

Embora não<br />

seja uma ci<strong>da</strong>de<br />

eminentemente<br />

turística, Juiz de<br />

Fora tem excelente<br />

infraestrutura<br />

receptiva<br />

40 - CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009<br />

O topo <strong>da</strong> hierarquia é ocupado pelo<br />

“Centro de Ordem Superior” Juiz de<br />

Fora, uma ci<strong>da</strong>de com vasta gama de<br />

equipamentos urbanos que foram desenvolvidos<br />

para atenderem suas populações,<br />

mas que também podem servir aos<br />

anseios do turismo. Em patamar inferior<br />

<strong>da</strong> hierarquia, mas não menos importantes,<br />

figuram os “Centros de Ordem<br />

Intermediária”, núcleos com considerável<br />

estruturação para o turismo e que levam<br />

vantagem em relação a Juiz de Fora por<br />

estarem distribuídos por to<strong>da</strong> a Estra<strong>da</strong><br />

Real e conseguirem abranger todos os<br />

Legado turístico valioso<br />

A estrutura urbana que se encontra na<br />

contemporanei<strong>da</strong>de apresenta potenciais<br />

efetivos para o desenvolvimento do turismo.<br />

Nesta teia de núcleos, é facultado<br />

aos centros intermediários e superiores a<br />

função de proverem estruturas e suporte<br />

às ativi<strong>da</strong>des turísticas que estiverem ocorrendo<br />

nos centros de ordem inferior e, em<br />

especial, nos centros complementares.<br />

A rede de municípios turísticos observa<strong>da</strong><br />

na contemporanei<strong>da</strong>de se assenta<br />

sobre os núcleos que participaram do<br />

domínios desta região turística.<br />

Os “Centros de Ordem Inferior” possuem<br />

pequena quanti<strong>da</strong>de de equipamentos<br />

turísticos que lhes permitem, ao<br />

máximo, sustentarem grupos de viajantes<br />

que desejam usufruir dos atrativos em<br />

suas proximi<strong>da</strong>des.<br />

Finalmente, a maior parte dos municípios<br />

<strong>da</strong> Estra<strong>da</strong> Real está classifica<strong>da</strong><br />

pela tipologia de “Centros Complementares”,<br />

núcleos que não possuem condições<br />

estruturais suficientes para hospe<strong>da</strong>rem<br />

grupos de viajantes com quali<strong>da</strong>de e<br />

segurança.<br />

sistema urbano desenvolvido durante o<br />

período colonial. O padrão de distribuição<br />

territorial <strong>da</strong> rede de núcleos turísticos<br />

principais se assemelha com os padrões<br />

de distribuição do sistema urbano existente<br />

no período colonial. O modo em<br />

que a rede de ci<strong>da</strong>des <strong>da</strong> Estra<strong>da</strong> Real<br />

se estruturava no passado e que pode<br />

ser observado no presente, é um valioso<br />

legado patrimonial e cultural que merece<br />

ser agregado ao produto turístico Estra<strong>da</strong><br />

Real.<br />

(*) Éder Romagna Rodrigues<br />

é Mestre do Programa de Pós-<br />

Graduação em Geografia<br />

- Tratamento <strong>da</strong> Informação<br />

Espacial <strong>da</strong><br />

Pontifícia Universi<strong>da</strong>de Católica<br />

de Minas Gerais<br />

(*) Alexandre Magno Alves Diniz<br />

é Professor no mesmo Programa<br />

e foi orientador <strong>da</strong> Dissertação,<br />

que está resumi<strong>da</strong> no presente<br />

artigo.


Centenário<br />

Por José Anchieta <strong>da</strong> Silva (*)<br />

AFFONSO PENNA<br />

de volta a<br />

Santa Bárbara<br />

Este ano de 2009 corresponde ao centenário de morte do Presidente Affonso<br />

Penna, cuja <strong>da</strong>ta principal será o dia 14 de junho próximo, <strong>da</strong>ta de seu falecimento,<br />

que se deu em pleno exercício <strong>da</strong> presidência <strong>da</strong> República.<br />

Tem sido grande a mobilização em torno <strong>da</strong> celebração,<br />

que ocorre em to<strong>da</strong> a Minas Gerais. Em Santa<br />

Bárbara, sua terra natal, a casa onde nasceu recebe os<br />

últimos retoques para abrigar o seu ‘Memorial’.<br />

O movimento Affonso Penna precisa voltar para Casa,<br />

liderado pelo Instituto dos Advogados de Minas Gerais,<br />

deu certo. Contando com a assinatura de expressivas<br />

instituições <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil (dentre elas o Instituto<br />

Histórico e Geográfico de Minas Gerais, as Academias<br />

Mineira, Municipalista e Marianense de Letras, a Congregação<br />

dos Padres do Caraça e a Associação de<br />

seus ex-alunos), além do apoio integral <strong>da</strong> família do<br />

presidente e <strong>da</strong>s autori<strong>da</strong>des, já se encontram em Santa<br />

Bárbara não só os restos mortais do Presidente, de sua<br />

esposa Maria Guilhermina e de seus filhos Álvaro e<br />

Olga, mas também todos os elementos integrantes de seu<br />

mausoléu presidencial. Grande celebração está sendo<br />

prepara<strong>da</strong>.<br />

Em Belo Horizonte, por proposta do Executivo, a<br />

Câmara de Vereadores já aprovou lei que autoriza a edificação de monumento<br />

alusivo ao Centenário, no passeio público do Parque Municipal Américo René<br />

Gianetti, defronte ao prédio-sede <strong>da</strong> Prefeitura, na Aveni<strong>da</strong> Affonso Penna.<br />

<br />

CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009 - 41


Centenário<br />

Precursor de JK<br />

Casa onde<br />

morou Affonso<br />

Penna, em<br />

Santa Bárbara<br />

42 - CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009<br />

Sétimo presidente <strong>da</strong> República – o<br />

primeiro que Minas deu ao Brasil –,<br />

Affonso Pena nasceu em 30 de novembro<br />

de 1847. Estudou no Caraça e<br />

diplomou-se em Direito, em 1870, pela<br />

Facul<strong>da</strong>de de Direito de São Paulo, tendo<br />

se doutorado em 1871. Foram seus<br />

colegas de turma Rui Barbosa, Rodrigues<br />

Alves, Joaquim Nabuco, Bias Fortes e<br />

Castro Alves, que não chegou a concluir<br />

o curso. Advogou em Santa Bárbara e<br />

em Barbacena, onde veio a se casar com<br />

Maria Guilhermina, filha do Visconde de<br />

Caran<strong>da</strong>í, com quem teria nove filhos.<br />

Iniciou sua carreira política como deputado<br />

provincial, em 1874. Em 1878<br />

elegeu-se deputado provincial, sendo<br />

reconduzido até a proclamação <strong>da</strong> República.<br />

Ain<strong>da</strong> no Império, em 1882,<br />

foi nomeado Ministro <strong>da</strong> Guerra no Gabinete<br />

Martinho Campos. Além dele, no<br />

Império, só outro civil ocupou aquela pasta:<br />

Pandiá Calógeras. Em 1883 foi designado<br />

para o <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> Agricultura,<br />

Comércio e Obras Públicas, no Gabinete<br />

Lafayette. Em 1885 foi convocado para<br />

ocupar o <strong>Ministério</strong> do Interior e Justiça,<br />

no Gabinete Saraiva, e neste mesmo ano<br />

foi signatário <strong>da</strong> Lei dos Sexagenários,<br />

que concedia liber<strong>da</strong>de aos escravos<br />

maiores de 60 anos. Affonso Penna foi<br />

Conselheiro do Império, colaborando, assim,<br />

no exercício do Poder Moderador.<br />

Homem de extraordinária coerência,<br />

não se opôs à chega<strong>da</strong> <strong>da</strong> República,<br />

que reputava inevitável, mas foi o grande<br />

defensor <strong>da</strong> pessoa do imperador<br />

Dom Pedro II, mesmo depois de deposto,<br />

reconhecendo-o como homem de grande<br />

saber e serviços.<br />

Em 1891 foi senador estadual à<br />

Constituinte do Estado de Minas Gerais<br />

e em 14 de julho de 1892 foi eleito e<br />

empossado como Presidente do Estado<br />

de Minas Gerais, tendo governado até<br />

17 de setembro de 1894.<br />

No seu governo criou a Facul<strong>da</strong>de<br />

Livre de Ciências Jurídicas e Sociais em<br />

Ouro Preto, <strong>da</strong> qual foi o primeiro diretor.<br />

Foi professor catedrático de Economia<br />

Política e Ciência <strong>da</strong>s Finanças e mesmo<br />

como Presidente do Estado não deixava<br />

de <strong>da</strong>r as suas aulas. Tendo deixado<br />

o governo do Estado, prestou serviços,<br />

como advogado, a interesses de Minas<br />

Gerais no governo de João Pinheiro.<br />

Recusando-se em receber os honorários<br />

e tendo o governador determinado o<br />

pagamento mesmo assim, utilizou-se<br />

desses recursos e construiu, em Belo Horizonte,<br />

a sede <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de Direito<br />

que criara em Ouro Preto. A sede <strong>da</strong><br />

Facul<strong>da</strong>de ganhou por isso a carinhosa<br />

identificação de a vetusta casa de<br />

Affonso Penna.<br />

Em 1893 levou o Congresso Mineiro<br />

a reunir-se na ci<strong>da</strong>de de Barbacena,<br />

onde foi aprova<strong>da</strong>, por proposta sua, a<br />

lei fun<strong>da</strong>ndo a ci<strong>da</strong>de de Belo Horizonte,<br />

no antigo Curral Del Rey, e decretando a<br />

mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong> capital do Estado. Affonso<br />

Penna foi, portanto, um Juscelino Kubistchek<br />

de seu tempo.


Centenário<br />

Man<strong>da</strong>to fértil<br />

Presidiu o Banco <strong>da</strong> República<br />

em 1895. Foi senador pelo Estado<br />

de Minas Gerais entre 1898 e<br />

1900. De 1900 a 1902 presidiu<br />

o Conselho Deliberativo de Belo<br />

Horizonte, exatamente a Câmara<br />

Municipal. Em 1893 foi eleito<br />

vice-presidente <strong>da</strong> República.<br />

Em março de 1906 foi eleito<br />

presidente <strong>da</strong> República, empossado<br />

em sessão do Congresso<br />

Nacional, presidi<strong>da</strong><br />

por Rui Barbosa, cargo que<br />

ocupou até a sua morte em<br />

14 de junho de 1909.<br />

O seu man<strong>da</strong>to foi fértil<br />

em realizações. Lançou<br />

a pedra fun<strong>da</strong>mental <strong>da</strong><br />

Alfândega de Manaus. Assinou<br />

decreto facilitando a<br />

criação de sindicatos profissionais e<br />

de cooperativas. Construiu linhas telegráficas interligando o Rio<br />

de Janeiro à região amazônica. Regularizou o serviço de abastecimento de água no<br />

Rio de Janeiro. Construiu mais de dois mil quilômetros de estra<strong>da</strong>s de ferro. Incentivou<br />

o ensino básico. Incentivou a imigração européia e japonesa com a finali<strong>da</strong>de<br />

de fomentar o desenvolvimento agrícola do país. Instituiu o serviço militar obrigatório<br />

e celebrou o centenário de abertura dos portos.<br />

É preciso celebrar os vultos <strong>da</strong> nossa história, tornando-os presentes, para lembrar<br />

aos homens públicos do nosso tempo que, com ética e firmeza de propósitos,<br />

independentemente de ideologias e de credos, é possível construir um novo Estado,<br />

um Estado altruísta, um Estado ético.<br />

(*) José Anchieta <strong>da</strong> Silva<br />

é advogado,<br />

presidente do Instituto dos Advogados de Minas Gerais,<br />

conselheiro seccional <strong>da</strong> Ordem dos Advogados em Minas Gerais e<br />

membro do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais.<br />

A placa de<br />

inauguração <strong>da</strong><br />

Alfândega de<br />

Manaus confirma a<br />

grafia do nome de<br />

Affonso Penna<br />

CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009 - 43


Homenagem<br />

Por Padre João Francisco Ribeiro (*)<br />

PADRE<br />

SIMõES:<br />

pilar <strong>da</strong> arte e <strong>da</strong> fé<br />

No dia 20 de janeiro de 2009, o clero de Mariana perdia um de seus mais ilustres confrades<br />

e o povo de nossa Arquidiocese, em especial Ouro Preto, um grande mestre e guardião <strong>da</strong><br />

religiosi<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> cultura. Padre José Feliciano <strong>da</strong> Costa Simões foi pároco, por mais de 40 anos,<br />

<strong>da</strong> Igreja de Nossa Senhora do Pilar, onde milhares de fiéis e centenas de padres foram prestar-lhe<br />

a última homenagem, na manhã do dia 21.<br />

Filho ilustre <strong>da</strong> histórica Ouro Preto, patrimônio<br />

<strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de, padre Simões nasceu no dia 18<br />

de dezembro de 1931, sendo seus pais Bianor<br />

Simões Coelho e Gabriela Baeta <strong>da</strong> Costa Simões.<br />

Em Ouro Preto iniciou seus estudos, <strong>da</strong>ndo sequência<br />

a eles em Belo Horizonte e em Mariana, onde<br />

terminou o 2º grau e cursou Filosofia e Teologia no<br />

Seminário São José. Foi ordenado presbítero no<br />

dia 1º de dezembro de 1957, pela imposição <strong>da</strong>s<br />

mãos de dom Daniel Tavares Baeta Neves, então<br />

arcebispo coadjutor, no governo de dom Helvécio<br />

Gomes Pimenta.<br />

Padre Simões exerceu seu ministério presbiteral<br />

em várias paróquias: Nossa Senhora <strong>da</strong> Conceição,<br />

em Ouro Preto; Acesita; Mercês; Ponte Nova; Entre<br />

Rios de Minas e Santa Cruz do Escalvado. Ministrou<br />

Arte Sacra no Seminário de Mariana; foi professor e<br />

coordenador disciplinar do Colégio Arquidiocesano<br />

de Ouro Preto. Foi sub-capelão militar e coadjutor<br />

de padre João Castilho, na Paróquia Nossa Senhora<br />

do Pilar. Após a morte do padre João Castilho,<br />

foi nomeado pároco <strong>da</strong>í, onde passou durante este<br />

tempo profícuo, dedicando-se à arte e à cultura, e à<br />

preservação <strong>da</strong> cultura religiosa.<br />

Quando Tancredo Neves foi governador de<br />

Minas Gerais, foi conselheiro do Instituto Estadual<br />

de Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha). Recentemente,<br />

era o representante <strong>da</strong> Arte e <strong>da</strong> Cultura <strong>da</strong><br />

América Latina na Unesco e conselheiro ad hoc do<br />

Patrimônio Histórico Nacional.<br />

Inegável reconhecer o legado deixado pelo<br />

padre Simões. Com seu jeito singular, reservado,<br />

quase tímido, defendia com vigor e sabedoria os<br />

44 - CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009<br />

valores éticos, religiosos e culturais <strong>da</strong> nossa gente.<br />

Perdemos a companhia de uma figura singular.<br />

Ganhamos a garantia que, junto de Deus, ele estará<br />

zelando por nós, pela preservação <strong>da</strong> fé e <strong>da</strong> arte.<br />

Nossas orações se voltam a Deus para pedir-lhe que<br />

saibamos reconhecer, através do exemplo do padre<br />

Simões, o esplendor <strong>da</strong> divin<strong>da</strong>de eterna, estampa<strong>da</strong><br />

no jeito mineiro de construir templos, na sua religiosi<strong>da</strong>de<br />

vista nas ruas enfeita<strong>da</strong>s na Semana Santa e<br />

nas celebrações repletas de fervor e beleza. Muitos<br />

podem dizer que preservar a história é ter os pés no<br />

passado. Mas como negar que, para construir um<br />

futuro melhor, devemos olhar para trás, tanto para<br />

os fatos como para os exemplos deixados, através<br />

dos tempos, por aqueles que se dedicam a mu<strong>da</strong>r a<br />

reali<strong>da</strong>de. Num mundo onde os valores éticos e morais<br />

estão perdendo o significado, uma dor triste nos<br />

rodeia ao lembrarmos que o padre Simões partiu.<br />

Ao mesmo tempo, uma certeza permanece em nosso<br />

peito. A semente planta<strong>da</strong> por ele há de produzir<br />

frutos. Já os vemos. Muitos são os admiradores do<br />

padre Simões e tantos são outros que também arregaçaram<br />

com ele as mangas em prol <strong>da</strong> sua causa.<br />

Alegremo-nos e voltemos nossas preces a Deus,<br />

agradecendo a companhia do padre Simões neste<br />

tempo aqui na terra. Que seu exemplo espalhe entre<br />

nós a vontade de lutarmos pela paz e pele cui<strong>da</strong>do do<br />

patrimônio de Deus, que é ca<strong>da</strong> ser humano. E lutarmos<br />

pela preservação de nossa identi<strong>da</strong>de, manifesta<strong>da</strong><br />

na nossa fé e na nossa cultura. Que do céu, padre<br />

Simões seja o nosso “pilar <strong>da</strong> arte e <strong>da</strong> fé”.<br />

(*) Padre João Francisco Ribeiro<br />

é Diretor <strong>da</strong> Editora Dom Bosco.


ATLAS DIGITAL PUC MINAS<br />

Homenagem<br />

Por Eugênio Ferraz (*)<br />

20<br />

de janeiro de 2009. Dia triste para nós ouro-pretanos, mineiros, brasileiros.<br />

Dia triste para Ouro Preto, para Minas Gerais, para o Brasil. Dia triste<br />

para o patrimônio histórico nacional, para as artes sacras, para os museus.<br />

Morreu Padre Simões, um dos maiores ícones <strong>da</strong> preservação do nosso acervo<br />

histórico, <strong>da</strong> recuperação <strong>da</strong>s artes no Brasil.<br />

Professor, historiador, respeitável clérigo ordenado há pouco mais de 50<br />

anos junto com seu conterrâneo Dom Barroso, sua extensa biografia é de todos<br />

conheci<strong>da</strong>, nela ressaltando a intransigente defesa <strong>da</strong> memória ouro-pretana.<br />

Haverá<br />

MUSEU<br />

no Céu<br />

Relembro agora artigo que escrevi, em<br />

outubro de 2007, sobre o cinquentenário<br />

de ordenação de ambos, observando que,<br />

ca<strong>da</strong> qual a seu tempo e a seu modo,<br />

eles sempre despertaram minha atenção<br />

e admiração por terem sido “criadores de<br />

museus”.<br />

E agora, tempos depois, quase em<br />

continui<strong>da</strong>de àquele artigo, ouso imaginar<br />

que, nos céus, Padre Simões já esteja<br />

criando museus, recuperando a cultura<br />

celestial com seu jeito intransigente de<br />

preservar e defender as boas causas,<br />

as causas nobres, as causas culturais, a<br />

alimentar as almas de seus companheiros<br />

de agora.<br />

A Ouro Preto que, desde Vila Rica, já<br />

tinha em sua ilustre galeria as figuras de Tiradentes, o herói maior; os Aroucas<br />

e Calheiros, arquitetos geniais; os Macedos, afortunados dos tributos; o Aleijadinho,<br />

patrono <strong>da</strong>s artes no Brasil; Mestre Ataíde, o artista <strong>da</strong>s cores inimitáveis;<br />

Henry Gorceix, o pioneiro <strong>da</strong> formação acadêmica; tem também agora no<br />

Cônego José Feliciano <strong>da</strong> Costa Simões, o Pe. Simões, mais um membro desta<br />

plêiade de homens que marcaram de forma indelével seu tempo e a própria<br />

história, por atos que engrandecem e dignificam a natureza humana.<br />

Padre Simões, seu esforço não foi em vão! Há seguidores seus e, com certeza,<br />

os haverá per omnia secula seculorum. Amém!<br />

(*)Eugênio Ferraz<br />

é gerente regional do <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong> em Minas Gerais e<br />

membro (cadeira 47) do Instituto Histórico e Geográfico de<br />

Minas Gerais.<br />

CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009 - 45


FOTO JOSÉ ANTôNIO SACRAMENTO<br />

Manifesto<br />

Por José Antônio de Ávila Sacramento<br />

Por um PArque<br />

hiStórico para<br />

TIRADENTES<br />

Ruínas <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong> do<br />

Pombal, onde deverá ser<br />

instalado o parque em<br />

homenagem a Tiradentes<br />

46 - CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009


Manifesto<br />

A<br />

transformação<br />

<strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong> do Pombal,<br />

no município de São<br />

João del-Rei, local de<br />

nascimento de Joaquim<br />

José <strong>da</strong> Silva Xavier, o<br />

Tiradentes, em 1746,<br />

em “Parque Histórico<br />

Nacional Tiradentes”<br />

está sendo reivindica<strong>da</strong><br />

por um grupo de<br />

estudiosos mineiros,<br />

que pretende ampliar<br />

o reconhecimento <strong>da</strong><br />

nação brasileira ao<br />

mártir <strong>da</strong> Conjuração<br />

Mineira. A idéia nasceu<br />

em 12 de novembro de<br />

2008, por ocasião <strong>da</strong>s<br />

soleni<strong>da</strong>des alusivas aos<br />

262 anos do batismo de<br />

Tiradentes. O objetivo<br />

dos idealizadores é<br />

transformar o local num<br />

espaço cívico-cultural,<br />

com a pauta volta<strong>da</strong><br />

para debates de temas<br />

atuais e futuros.<br />

Os autores e primeiros<br />

signatários do<br />

Manifesto são A<strong>da</strong>lberto<br />

Guimarães Menezes,<br />

Eugênio Ferraz, Wainer<br />

de Carvalho Ávila,<br />

Oyama de Alencar<br />

Ramalho e José Antônio<br />

de Ávila Sacramento.<br />

A Revista do Centro<br />

de Estudos do Ciclo<br />

do Ouro <strong>da</strong> Casa<br />

dos Contos publica o<br />

Manifesto nesta edição<br />

com um convite aos<br />

leitores para refletirem<br />

sobre a história<br />

brasileira.<br />

CARTA DO POMBAL<br />

As civilizações, desde as mais<br />

primitivas, consciente ou inconscientemente,<br />

procuram imortalizar<br />

os seus deuses ou heróis. Celebram<br />

e valorizam os elementos<br />

marcantes <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de coletiva,<br />

a sua cultura e as suas conquistas.<br />

Tudo isto com o propósito de levar<br />

às futuras gerações um passado<br />

que deva ser preservado e como<br />

modelo a ser seguido.<br />

O Brasil era colônia portuguesa.<br />

Assim o foi até 1822. A partir<br />

de meados do século XVII, a então<br />

colônia já cultivava certa inquietude<br />

nativista, pois, mesmo contra a<br />

vontade <strong>da</strong> metrópole, fundiu os<br />

esforços de três raças para formar<br />

uma vontade única, que não esmoreceu<br />

até a completa derrota e<br />

expulsão dos holandeses de nosso<br />

território. Outras demonstrações<br />

de impacientes anseios para adquirir<br />

a autonomia administrativa e<br />

política foram mol<strong>da</strong><strong>da</strong>s com suor<br />

e sangue. Assim, contra o colonialismo,<br />

surgiram várias revoltas no<br />

Brasil. Em to<strong>da</strong>s elas o nosso solo<br />

foi irrigado com o sangue dos que<br />

sonhavam com a Liber<strong>da</strong>de.<br />

O jugo colonialista foi repudiado<br />

por um grupo de idealistas<br />

que estavam envolvidos com o<br />

movimento libertário que passou á<br />

História como Conjuração Mineira.<br />

Os integrantes do movimento foram<br />

traídos, presos e condenados após<br />

serem submetidos a um processo<br />

tendencioso, conduzido por portugueses,<br />

conhecido como Devassa.<br />

A Nação Brasileira não foi<br />

ingrata com os integrantes do<br />

movimento libertador de 1789.<br />

Ain<strong>da</strong> que mais modestamente do<br />

que deveríamos, soubemos reconhecê-los<br />

como heróis e mostrar ao<br />

povo brasileiro que a Conjuração<br />

Mineira foi um movimento cívico<br />

organizado, visando à conquista<br />

<strong>da</strong> soberania e a criação <strong>da</strong> Pátria<br />

Brasileira. Ao principal conjurado,<br />

o Alferes Joaquim José <strong>da</strong> Silva<br />

Xavier, cognominado de “Tiradentes”,<br />

coube a pena fatal pelo sonho<br />

<strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de política. Assim, anos<br />

depois, repudia<strong>da</strong> aquela pena<br />

capital, Tiradentes foi declarado<br />

“Patrono Cívico <strong>da</strong> Nação”.<br />

O “Tiradentes” não é apenas<br />

um herói mineiro, mas de todo o<br />

Brasil. É certo que o Estado de Minas<br />

Gerais e o município de São<br />

João del-Rei ostentam um galardão<br />

que qualquer Estado ou Município<br />

<strong>da</strong> Federação teriam orgulho de<br />

possuir: o de poder proclamar que<br />

o “Protomártir <strong>da</strong> Independência”<br />

soltou os primeiros vagidos e viu<br />

a luz pela vez primeira em seus<br />

territórios.<br />

Minas Gerais tem suas terras<br />

permea<strong>da</strong>s de estátuas, monumentos,<br />

quadros e inscrições que<br />

demonstram seu profundo reconhecimento<br />

ao sacrifício dos Inconfidentes;<br />

a ci<strong>da</strong>de de Ouro Preto<br />

sedia o Museu <strong>da</strong> Inconfidência,<br />

repositório de objetos evocativos<br />

<strong>da</strong>quele movimento e abrigo <strong>da</strong>s<br />

sacro-cívicas cinzas de vários<br />

mártires <strong>da</strong> Independência e essas<br />

evocações encontram retumbâncias<br />

positivas em outros estados. Minas<br />

Gerais tem, no entanto, a Fazen<strong>da</strong><br />

do Pombal, solo sagrado onde o<br />

Alferes nasceu. Ali é o “Berço <strong>da</strong><br />

Liber<strong>da</strong>de”, é o “Berço <strong>da</strong> Pátria”.<br />

Como parte importante desse<br />

processo de ensinamento e conscientização<br />

<strong>da</strong> população é imprescindível<br />

que trabalhemos em<br />

favor <strong>da</strong> idéia inicial de A<strong>da</strong>lberto<br />

Guimarães Menezes de se construir<br />

um grande Parque Memorial,<br />

em pedra e aço, com os símbolos<br />

nacionais e as estátuas de todos os<br />

<br />

CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009 - 47


Manifesto<br />

conjurados em amplo espaço,<br />

para transmitir sensação de<br />

força, demonstrar grandiosi<strong>da</strong>de<br />

e causar impacto. Aquela<br />

área é proprie<strong>da</strong>de <strong>da</strong> União<br />

e, se tais obras forem realiza<strong>da</strong>s,<br />

poderiam ser toma<strong>da</strong>s<br />

como ver<strong>da</strong>deiro “Berço <strong>da</strong><br />

Pátria”. Contaria ain<strong>da</strong> com<br />

infraestrutura capaz de receber<br />

peregrinações cívicas e culturais<br />

para fomento de debates dos<br />

problemas nacionais e globais,<br />

além de constituir-se em atração<br />

turística. O local escolhido<br />

fica em uma região<br />

palmilha<strong>da</strong> por<br />

Tiradentes e contorna<strong>da</strong><br />

pelas ci<strong>da</strong>des<br />

vizinhas, que seriam<br />

liga<strong>da</strong>s a ela, por<br />

estra<strong>da</strong>s asfalta<strong>da</strong>s.<br />

Essas ci<strong>da</strong>des não<br />

perderiam suas relíquias<br />

para o futuro<br />

“Berço <strong>da</strong> Pátria”;<br />

pelo contrário, seriamcomplementa<strong>da</strong>s<br />

e beneficia<strong>da</strong>s,<br />

sobretudo pelo<br />

aumento do fluxo<br />

turístico que certamente<br />

ocorreria.<br />

Os brasileiros,<br />

aliados ao povo de Minas<br />

Gerais, manifestam-se no sentido<br />

de que sejam empreendi<strong>da</strong>s<br />

ações que visem a reabilitar a<br />

memória do movimento conjuratório<br />

mineiro, possibilitando<br />

que as gerações atuais e futuras<br />

possam compreender que o<br />

sonho dos conjurados não era<br />

mero devaneio de poetas, mas<br />

alicerçava-se em bases bem<br />

estrutura<strong>da</strong>s. Neste sentido,<br />

procura demonstrar-nos esses<br />

fatos a pesquisadora Isolde Helena<br />

Brans, gaúcha, atualmente<br />

radica<strong>da</strong> em Campinas - SP, em<br />

seu trabalho “Tiradentes Face a<br />

Face”, no qual apresenta importantes<br />

provas sobre a existência<br />

48 - CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009<br />

de contatos dos conjurados <strong>da</strong><br />

Missão “Vendek” com Thomas<br />

Jefferson, líder <strong>da</strong> independência<br />

americana e com os representantes<br />

<strong>da</strong> burguesia revolucionária<br />

francesa. Segundo Isolde Brans,<br />

entre 1786 e 1788, Tiradentes<br />

participou clandestinamente de<br />

uma missão brasileira à Europa<br />

para um encontro com Jefferson,<br />

então embaixador americano<br />

em Paris.<br />

Os documentos trazidos à<br />

tona por Isolde podem compro-<br />

var o lado político e estratégico<br />

de Joaquim José <strong>da</strong> Silva Xavier,<br />

o “Tiradentes”. Os minuciosos<br />

estudos e pesquisas de Helena<br />

Brans, durante os vários anos em<br />

que passou debruça<strong>da</strong> sobre documentos<br />

no Brasil, em Portugal,<br />

na França e em outros países,<br />

trouxeram ao nosso conhecimento<br />

interessantes novi<strong>da</strong>des a<br />

respeito do movimento libertário<br />

que ocorreu em Minas Gerais,<br />

no século XVIII. O “Tiradentes”,<br />

que sempre é retratado como<br />

mártir, como busca provar Isolde,<br />

foi muito mais que isso. Foi<br />

um ativista de primeira linha,<br />

um estadista que, já naquela<br />

época, estabelecera contatos<br />

pessoais com Thomas Jefferson,<br />

então embaixador dos EUA<br />

na França, visando delinear o<br />

futuro comercial e político <strong>da</strong><br />

tão sonha<strong>da</strong> Pátria livre. Esta revisão<br />

<strong>da</strong> História haverá de ser<br />

amplamente discuti<strong>da</strong> e calca<strong>da</strong><br />

em documentação confiável. Se<br />

exitosa, ela nos oferecerá a real<br />

dimensão <strong>da</strong> figura de Tiradentes<br />

e do seu grupo.<br />

A área <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong> do Pombal<br />

é de dimensão suficiente<br />

para conter bosques e lagos,<br />

além de monumentos,<br />

biblioteca, centro de<br />

convenções e de to<strong>da</strong>s<br />

as demais construções<br />

funcionais e<br />

de apoio. A intenção<br />

é a de possibilitar<br />

que o local<br />

seja transformado<br />

num espaço cívico-cultural,<br />

com<br />

a pauta volta<strong>da</strong><br />

para debates<br />

de temas atuais<br />

e futuros,<br />

pertinentes à<br />

soberania nacional,<br />

aos<br />

destinos do<br />

Brasil e <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de,<br />

com a realização de<br />

fóruns que atraiam a presença de<br />

personali<strong>da</strong>des em cujas mãos<br />

estão os destinos do Estado e <strong>da</strong><br />

Nação, além de especialistas nos<br />

estudos dos mais variados problemas<br />

nacionais e internacionais.<br />

Assim, diante do exposto,<br />

nós, brasileiros, somos a favor<br />

<strong>da</strong> discussão e do fomento <strong>da</strong>s<br />

ações aqui apresenta<strong>da</strong>s e, por<br />

acreditar que Minas Gerais e o<br />

Brasil devem preitos ao “Patrono<br />

Cívico <strong>da</strong> Nação”, assinamos<br />

este documento intitulado “Carta<br />

<strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong> do Pombal” e convi<strong>da</strong>mos<br />

os brasileiros de todos os<br />

rincões a ele aderirem, pelo site<br />

www.ihgsaojoaodelrei.org.br.


Documento<br />

Procuradores aprovam em Ouro Preto<br />

diretrizes para proteção do<br />

PATRIMôNIO CULTURAL<br />

R<br />

FOTO EUGÊNIO FERRAZ<br />

epresentantes do <strong>Ministério</strong> Público Federal e estaduais, de órgãos públicos vinculados à<br />

proteção do patrimônio cultural e <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil reunidos em Ouro Preto, nos dias 11, 12 e<br />

13 de março de2009, no IV Encontro Nacional do <strong>Ministério</strong> Público de Defesa do Patrimônio<br />

Cultural, aprovaram documento de 77 itens programáticos relacionados à proteção do patrimônio<br />

cultural brasileiro, bem como uma Carta de intenções em defesa desse patrimônio.<br />

O documento final traça ver<strong>da</strong>deiro roteiro <strong>da</strong>s ações a serem empreendi<strong>da</strong>s para a proteção<br />

do patrimônio cultural, além de definir uma série de conceitos a serem observados, entre os quais<br />

o de que qualquer discussão sobre o patrimônio cultural “deve envolver a participação popular,<br />

porque o patrimônio cultural não é mais restrito aos bens alusivos ao Estado, às elites, à história<br />

dos vencedores, mas também envolve a história dos menos favorecidos, dos homens comuns” e<br />

o de que “somente podem ser considera<strong>da</strong>s e protegi<strong>da</strong>s como patrimônio cultural imaterial as<br />

práticas compatíveis com os direitos humanos, de acordo com as normativas internacionais”.<br />

A Carta de Ouro Preto, aprova<strong>da</strong> ao final do encontro, estabelece princípios e objetivos para<br />

o <strong>Ministério</strong> Público Brasileiro. Eis a íntegra:<br />

<br />

CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009 - 49


Documento FOTO EUGÊNIO FERRAZ<br />

CARTA DE OURO PRETO EM DEFESA<br />

DO PATRIMÔNIO CULTURAL<br />

O Conselho Nacional de<br />

Procuradores-Gerais dos <strong>Ministério</strong>s<br />

Públicos dos Estados e <strong>da</strong><br />

União (CNPG) e a Associação<br />

Brasileira do <strong>Ministério</strong> Público<br />

de Meio Ambiente (Abrampa),<br />

em reunião durante o IV Encontro<br />

Nacional do <strong>Ministério</strong><br />

Público em Defesa do Patrimônio<br />

Cultural, realizado em<br />

Ouro Preto, MG, de 11 a 13<br />

de março de 2009, conscientes<br />

de que a preservação do<br />

Patrimônio Cultural Brasileiro,<br />

enquanto direito difuso e indisponível<br />

pertencente às presentes<br />

e futuras gerações, não é uma<br />

alternativa ou opção, mas sim<br />

uma imposição indeclinável ao<br />

Poder Público e à coletivi<strong>da</strong>de,<br />

nos termos dos arts. 215 e 216<br />

<strong>da</strong> CF/88, devendo o <strong>Ministério</strong><br />

Público, enquanto guardião<br />

do ordenamento jurídico e dos<br />

direitos <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, adotar<br />

to<strong>da</strong>s as medi<strong>da</strong>s cabíveis para<br />

defender, promover e preservar<br />

os bens portadores de referência<br />

à identi<strong>da</strong>de, à ação e à<br />

memória dos diferentes grupos<br />

formadores <strong>da</strong> nação brasileira<br />

e considerando ain<strong>da</strong> que:<br />

O Brasil é signatário <strong>da</strong><br />

Convenção relativa à Proteção<br />

do Patrimônio Mundial Cultural<br />

e Natural de 1972 e tem o<br />

compromisso ético de preservar<br />

seus bens inscritos na lista do<br />

Patrimônio Mundial;<br />

É indiscutível a necessi<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong> criação, em âmbito nacional,<br />

de uma política pública que<br />

contemple a integração dos órgãos<br />

ambientais e culturais nos<br />

níveis federal, estadual, distrital<br />

e municipal com os <strong>Ministério</strong>s<br />

50 - CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009<br />

Públicos (<strong>da</strong> União e Estaduais), a<br />

fim de propiciar maior agili<strong>da</strong>de e<br />

eficácia na adoção <strong>da</strong>s ações de<br />

promoção e defesa do Patrimônio<br />

Cultural brasileiro;<br />

As ameaças e <strong>da</strong>nos em detrimento<br />

do patrimônio cultural nacional<br />

têm aumentado sensivelmente<br />

nos últimos anos, havendo necessi<strong>da</strong>de<br />

de uma atuação ministerial<br />

especializa<strong>da</strong> e claramente volta<strong>da</strong><br />

para a prevenção e repressão<br />

dos ilícitos de maneira célere e<br />

eficiente;<br />

Determinados a promover medi<strong>da</strong>s<br />

de aprimoramento e maximização<br />

<strong>da</strong> atuação ministerial<br />

na defesa do patrimônio cultural<br />

brasileiro, estabelecem os seguintes<br />

princípios e objetivos para o <strong>Ministério</strong><br />

Público Brasileiro:<br />

1. Promover a defesa intransigente<br />

do valioso patrimônio cultural<br />

brasileiro mediante a adoção de<br />

to<strong>da</strong>s as medi<strong>da</strong>s extrajudiciais<br />

e judiciais cíveis e criminais necessárias<br />

para coibir qualquer<br />

tipo de ameaça ou <strong>da</strong>no em<br />

detrimento dos bens culturais.<br />

2.Criação e aparelhamento de<br />

Promotorias Especializa<strong>da</strong>s e<br />

Grupos Especiais Permanentes de<br />

atuação na defesa do Patrimônio<br />

Cultural, com a participação de<br />

equipes interdisciplinares.<br />

3. Unificação <strong>da</strong>s atribuições cível,<br />

criminal e de improbi<strong>da</strong>de administrativa<br />

envolvendo lesões ao<br />

patrimônio cultural brasileiro,<br />

com o fim de propiciar maior<br />

efetivi<strong>da</strong>de e instrumentali<strong>da</strong>de<br />

na defesa desse bem jurídico.<br />

2. Exigir que os estudos de impacto<br />

ambiental contemplem a análise<br />

<strong>da</strong>s interações e impactos face<br />

ao Patrimônio Cultural material<br />

e imaterial, estabelecendo<br />

medi<strong>da</strong>s mitigadoras e<br />

compensatórias em benefício<br />

<strong>da</strong> proteção, preservação e<br />

recuperação de bens culturais.<br />

3. Combater com vigor o tráfico<br />

e o comércio ilícito de bens<br />

culturais, mediante efetiva<br />

parceria com os órgãos de<br />

proteção e defesa do Patrimônio<br />

Cultural, Receita Federal e<br />

Estadual, Polícias e Interpol.<br />

4. Dar priori<strong>da</strong>de à ocupação,<br />

aquisição e recuperação<br />

de imóveis de valor cultural<br />

quando <strong>da</strong> instalação de<br />

suas sedes pelo país.<br />

5. Repúdio a todo e qualquer<br />

projeto legislativo ou ato<br />

normativo que vise a diminuir<br />

a proteção assegura<strong>da</strong> ao<br />

Patrimônio Cultural Brasileiro,<br />

por representar retrocesso<br />

ambiental e legislativo constitucionalmente<br />

ve<strong>da</strong>do, a<br />

exemplo do ocorrido com a<br />

edição do Decreto Federal nº<br />

6.640, de 7 de novembro de<br />

2008, que retirou a proteção<br />

de grande parte do patrimônio<br />

espeleológico brasileiro.<br />

6. Apoio às iniciativas que vem<br />

sendo toma<strong>da</strong>s em âmbito<br />

administrativo e legal objetivando<br />

a maximização<br />

do indispensável exercício<br />

do poder de polícia pelos<br />

órgãos de proteção ao patrimônio<br />

cultural, a exemplo do<br />

que já ocorre com os órgãos<br />

integrantes do SISNAMA.<br />

Ouro Preto, Minas Gerais, 12<br />

de março de 2009


Capa<br />

Glauco Moraes<br />

As CORES FORTES<br />

e a vi<strong>da</strong> em círculos<br />

A<br />

figura humana, o mistério, o caos urbano, as mulheres,<br />

a África.<br />

Bastante ampla, esta tem sido a temática de Glauco Moraes,<br />

jovem artista plástico mineiro, que, graduado pela Escola Guignard,<br />

ganhou em 2002 <strong>da</strong> crítica o sugestivo título de “artista<br />

revelação do novo milênio”.<br />

“O acaso <strong>da</strong> criação é mera desculpa para quem esbanja<br />

talento, solta as asas <strong>da</strong> imaginação e permite criar”, diz dele<br />

a ensaísta Ivanise Junqueira, em inspira<strong>da</strong> crítica às obras do<br />

artista. No mesmo texto, ela também afirma que, “como uma<br />

criança que sonha arteiro e corajoso, Glauco se dispõe a brincar”<br />

com as cores e as imagens e que “a condução <strong>da</strong> sua obra<br />

se faz através de quem revela sentimento artístico, de quem<br />

usa a forma e, como num passe de mágica,<br />

dobra, desdobra, triplica, multiplica”.<br />

Em recente exposição na capital mineira,<br />

intitula<strong>da</strong> “Passos de Pincel”, Glauco exibiu<br />

uma coletânea de sua produção nos últimos<br />

dez anos, reunindo trabalhos <strong>da</strong>s séries Corpos<br />

em Linha, pela qual ganhou o prêmio Artista<br />

do Novo Milênio, em 2002; Mulheres de<br />

Ouro, lança<strong>da</strong> em 2003; Diário Secreto Sétimo<br />

Véu, também de 2003; Metrópoles em Caos,<br />

de 2005; e Série Seres, de 2009, exposta no<br />

Museu Casa dos Contos, em Ouro Preto.<br />

Nesta última, Glauco apresenta 30 pinturas<br />

acrílicas sobre tela, em grandes dimensões, e<br />

retrata a busca do ser humano pela perfeição, no que diz respeito<br />

à estética, à mo<strong>da</strong> e à idealização de um corpo perfeito.<br />

A chamativa e ousa<strong>da</strong> produção <strong>da</strong>s telas segue a essência <strong>da</strong><br />

figura humana – estilo do artista – com traços e cores fortes.<br />

Na crítica a essa série, Ivanise Junqueira anota: “Na concepção<br />

de Glauco, a vi<strong>da</strong> é um círculo. Por mais que os ciclos se<br />

repitam, por mais que os problemas retornem nas nossas vi<strong>da</strong>s,<br />

a resolução deles tem forma de espiral. Talvez espirais ultrapassem<br />

limites do nosso conhecimento, ecoem pelo firmamento, se<br />

percam pelos céus, tornem-se retas que apesar de não se encontrarem,<br />

serão sempre uni<strong>da</strong>s no infinito, simétricas, refleti<strong>da</strong>s, em<br />

harmonia, como espelhos que nos mostram e se ostentam.”<br />

Pós-graduado em arte contemporânea, Glauco Moraes é<br />

curador do Museu <strong>da</strong>s Reduções e <strong>da</strong> Galeria <strong>da</strong> Galeria <strong>da</strong><br />

Casa dos Contos e diretor <strong>da</strong> Maison Escola de Artes.<br />

CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009 - 51


Em dia com o Ceco<br />

Por Eugênio Ferraz<br />

ouro Preto<br />

COMEMORA<br />

a revolução FrAnceSA e<br />

a inconFidênciA MineirA<br />

Ambas com exatos 220 anos, a Revolução Francesa e a<br />

Inconfidência Mineira foram exalta<strong>da</strong>s em abril último no<br />

lançamento, durante a Semana <strong>da</strong> Inconfidência, em Ouro<br />

Preto, do Ano <strong>da</strong> França no Brasil, que prevê a realização<br />

de vários eventos em todo país, ao longo de 2009.<br />

O vice-governador de<br />

Minas, Antonio Augusto<br />

Anastasia, lançou na Casa<br />

dos Contos o folder em<br />

francês do sistema de<br />

Museus de Ouro Preto,<br />

ao lado de Gilson Nunes,<br />

coordenador-executivo do<br />

Sistema de Museus de OP;<br />

Eugênio Ferraz, gerente<br />

regional do MF em MG;<br />

Dom Barroso, fun<strong>da</strong>dor do<br />

Museu Aleijadinho; Ângela<br />

Gutierrez, fun<strong>da</strong>dora do<br />

Museu do Oratório; Paulo<br />

Brant, secretário de Cultura<br />

de MG; Renata Vilhena,<br />

secretária de Planejamento<br />

de MG e Ângelo Oswaldo<br />

de Araújo Santos, prefeito<br />

de Ouro Preto e presidente<br />

<strong>da</strong> Associação de Ci<strong>da</strong>des<br />

Históricas do Brasil<br />

52 - CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009<br />

<br />

FOTO ROBERTO RIBEIRO


Em dia com o Ceco<br />

A s cerimônias ocorreram em<br />

vários dias na antiga Vila Rica, primeira<br />

ci<strong>da</strong>de brasileira Monumento Nacional e<br />

também a primeira do Brasil eleva<strong>da</strong> à categoria<br />

de Monumento Mundial, pela Unesco,<br />

o que acentuou ain<strong>da</strong> mais o caráter cívicocultural<br />

de Ouro Preto. Milhares de visitantes<br />

e autori<strong>da</strong>des compartilharam os sentimentos<br />

cívicos dos brasileiros, neste ano aliados aos<br />

ideais <strong>da</strong> Revolução Francesa de Liber<strong>da</strong>de,<br />

Igual<strong>da</strong>de e Fraterni<strong>da</strong>de, a confundir-se<br />

com a nossa Liber<strong>da</strong>de, Ain<strong>da</strong> Que Tardia.<br />

Em momento de grande emoção, na Praça<br />

Tiradentes, a voz <strong>da</strong> atriz Bibi Ferreira<br />

calou a multidão ao cantar a Marselhesa,<br />

sem qualquer acompanhamento. O toque<br />

político se deu com o refinado pronunciamento<br />

do governador Aécio Neves ao anunciar<br />

que aquela seria a última soleni<strong>da</strong>de<br />

cívica de 21 de abril por ele presidi<strong>da</strong>.<br />

Nos dias anteriores, diversos eventos culturais<br />

fizeram brilhar, ain<strong>da</strong> mais, a ci<strong>da</strong>de<br />

de Ouro Preto, quer pela religiosi<strong>da</strong>de de<br />

um povo estampa<strong>da</strong> no Museu do Oratório,<br />

quer por exposições como “A Inconfidência<br />

Mineira no Contexto <strong>da</strong> Revolução Francesa”<br />

e “Coleção Maria Helena e Jacques<br />

Boulieu”, respectivmente, no Museu <strong>da</strong><br />

Inconfidência e na Casa Fiemg, com direito<br />

a lançamento do livro “A Presença Francesa<br />

no Brasil”; esses três eventos foram anfitrionados<br />

pelo presidente <strong>da</strong> Federação <strong>da</strong>s<br />

Indústrias de MG, Robson Andrade.<br />

Na tarde do dia 20 de abril, o vice-governador<br />

Antonio Augusto Junho Anastasia,<br />

o prefeito Ângelo Oswaldo de Araújo Santos<br />

e a comitiva francesa estiveram na Casa<br />

dos Contos, sendo recebidos pelo Gerente<br />

Regional do <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong> em Minas<br />

Gerais, Eugênio Ferraz, e percorrendo<br />

algumas exposições do importante monumento<br />

bissecular, que simboliza as origens<br />

do <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong> e é testemunha<br />

física <strong>da</strong> evolução histórica <strong>da</strong>s raízes de<br />

nossa nacionali<strong>da</strong>de.<br />

Durante a visita, a comitiva ouviu narrativa<br />

do brilhante contador de histórias Maurício<br />

Trin<strong>da</strong>de sobre Tiradentes e testemunhou o<br />

lançamento <strong>da</strong> Carta <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong> do Pombal,<br />

por iniciativa do Instituto Histórico e Geográfico<br />

de São João del-Rei, que defende a criação<br />

de um Parque em homenagem ao mártir<br />

<strong>da</strong> Inconfidência (leia matéria à página 47).<br />

O Sistema de Museus de Ouro Preto, enti<strong>da</strong>de pioneira no País,<br />

congrega doze museus <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de: de Ciência e Técnica, <strong>da</strong><br />

Inconfidência, do Oratório, Aberto Ci<strong>da</strong>de Viva, Casa Guignard,<br />

Casa dos Contos, de Arte Sacra, Pharmacia, Aleijadinho, Ecomuseu<br />

<strong>da</strong> Serra, do Chá do Parque do Itacolomy e <strong>da</strong>s Reduções<br />

(*) Eugênio Ferraz,<br />

Gerente Regional do <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong> em Minas Gerais, e<br />

responsável pela direção e administração <strong>da</strong> Casa dos Contos<br />

CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009 - 53


Comemoração<br />

A Academia Mineira de Letras, que<br />

comemora este ano o seu centenário de<br />

criação, será homenagea<strong>da</strong> pela Casa<br />

<strong>da</strong> Moe<strong>da</strong> do Brasil, em 18 de junho<br />

próximo, com o lançamento de uma<br />

Me<strong>da</strong>lha alusiva à <strong>da</strong>ta. A proposta de<br />

cunhagem <strong>da</strong> Me<strong>da</strong>lha foi feita pelo<br />

engenheiro Eugênio Ferraz, titular<br />

<strong>da</strong> Cadeira 47 do Instituto Histórico e<br />

Geográfico de Minas Gerais, que redigiu<br />

o respectivo Edital, a seguir transcrito.<br />

centenÁrio dA<br />

Academia Mineira de letras<br />

54 - CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009<br />

Scribendi nullus finis!<br />

O escrever não tem fim!<br />

É este o adágio <strong>da</strong> existência <strong>da</strong> Academia Mineira de Letras.<br />

Verum, pulcrum et bonum!<br />

Ver<strong>da</strong>deiro, belo e bom!<br />

Desde o 25 de dezembro de 1909, <strong>da</strong>ta de sua fun<strong>da</strong>ção, até agora, cem anos depois,<br />

Minas Gerais e o Brasil reverenciam a instituição-síntese <strong>da</strong> intelectuali<strong>da</strong>de mineira, na qual pontificam<br />

escritores, jornalistas, profissionais liberais, homens públicos, catedráticos e conceituados<br />

militantes dos tribunais, em continui<strong>da</strong>de aos elevados atributos de seus 12 fun<strong>da</strong>dores, em Juiz de<br />

Fora, que elegeram, naquela oportuni<strong>da</strong>de, outras 18 imortais personali<strong>da</strong>des mineiras.<br />

Em 1915, sua transferência para a capital conferiu-lhe maior dimensão e presença no meio sóciocultural<br />

do Estado e do País.<br />

Seu chamado presidente eterno, Vivaldi Moreira, que tanto a ela se assemelhou, em lúcidos<br />

momentos de eleva<strong>da</strong> competência, viabilizou a sede própria, sua restauração e a construção do<br />

auditório lateral a partir do risco genial de Gustavo Penna.<br />

Divergindo, contrastando, agregando e complementando um ao outro, ambos os edifícios bem<br />

simbolizam o mineirismo e a mineiri<strong>da</strong>de, em meio às singulares belezas construtivas e a seus interiores<br />

de livros e exposições de ideias e ideais <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de destas Minas Gerais, que são muitas<br />

e única em si mesmo.<br />

Seus 40 membros, como na Academia Brasileira de Letras e na Academia Francesa, sob a presidência<br />

do ex-senador e intelectual Murilo Ba<strong>da</strong>ró a coman<strong>da</strong>r o centenário, formam o so<strong>da</strong>lício<br />

eclético no saber e singular nas competências que tão bem representam Minas Gerais.


CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009 - 55


Em dia com o CECO<br />

“Preservar a memória econômico-fiscal<br />

do Ciclo do Ouro, a arquitetura barroca e<br />

promover as artes e a cultura nacional”<br />

visitantes elogiam<br />

Grande parte<br />

dos visitantes<br />

<strong>da</strong> Casa dos<br />

Contos, em<br />

Ouro Preto, faz<br />

questão de,<br />

ao sair, deixar<br />

registra<strong>da</strong> sua<br />

opinião sobre<br />

a visita, com<br />

observações,<br />

críticas e<br />

comentários.<br />

Selecionamos<br />

algumas<br />

dessas<br />

manifestações,<br />

que resumem<br />

o sentido geral<br />

<strong>da</strong> maioria.<br />

• Porto Alegre, RS<br />

Impressionante. Os funcionários fornecem<br />

informações, a conservação é<br />

impecável. Parabéns!<br />

A. P. C.<br />

• Brasília, DF<br />

A restauração <strong>da</strong> Casa é excelente e<br />

mantê-la aberta, contando a história, riqueza<br />

e dor <strong>da</strong> i<strong>da</strong>de do ouro, mantém<br />

viva a chama <strong>da</strong> luta pela igual<strong>da</strong>de<br />

entre homens e mulheres deste País.<br />

Parabéns!<br />

D. C. S.<br />

• Salvador, BA<br />

Fiquei admira<strong>da</strong> com o Museu. A<br />

história está sendo conta<strong>da</strong> de forma<br />

magnífica. Os funcionários são bem<br />

receptivos e nos aju<strong>da</strong>m a entender<br />

melhor a nossa história. Como tudo em<br />

Ouro Preto, a Casa dos Contos tem a<br />

minha mais profun<strong>da</strong> admiração. L. F. M.<br />

• Diadema, SP<br />

Não há comentários a fazer, apenas<br />

elogios. É muito gratificante saber que<br />

existem pessoas e enti<strong>da</strong>des realmente<br />

interessa<strong>da</strong>s em conservar nossa arte e<br />

nossa história.<br />

C. P. S.<br />

• Belém, PA<br />

Esta é a segun<strong>da</strong> vez que visito este<br />

museu e a ca<strong>da</strong> vez o encantamento se<br />

renova. Temos que preservar o nosso<br />

passado para mostrá-lo para nossos<br />

filhos, netos e bisnetos (o futuro).<br />

A. M. N. T.<br />

• Belo Horizonte, MG<br />

Visitar a Casa dos Contos sempre me<br />

deixa imensamente feliz. Mudei-me de<br />

Ouro Preto em junho de 1975 e lembro-me<br />

de uma época triste de abandono<br />

deste patrimônio. Hoje, forma<strong>da</strong><br />

em história pela UFG (Goiás), sinto-me<br />

muito satisfeita de perceber o cui<strong>da</strong>do<br />

na preservação deste monumento e de<br />

muitos outros em Ouro Preto. Existe<br />

hoje na ci<strong>da</strong>de uma consciência em<br />

relação à vi<strong>da</strong> cultural e isto é muito vibrante<br />

e importante para a população<br />

que vive aqui.<br />

C. R. N.<br />

• Paris, França<br />

Adoro visitar a Casa dos Contos sempre<br />

que venho aqui. As exposições<br />

estão ca<strong>da</strong> vez melhores. Parabéns!<br />

R. F. B.<br />

• Ci<strong>da</strong>de do México, México<br />

Muy buena informacion, muy buena<br />

restauracion.<br />

J. A. C.<br />

• Porto, Portugal<br />

A exposição está bem organiza<strong>da</strong> e<br />

permite uma fácil compreensão <strong>da</strong><br />

temática do Museu. Estão de parabéns<br />

desde o atendimento (são muito amáveis<br />

e bem informados) até a exposição<br />

(muito bem apresenta<strong>da</strong> e facilmente<br />

compreensível).<br />

D. R. A.<br />

• Holan<strong>da</strong><br />

Very, very beautiful and interesting.<br />

Z. V. H. L.<br />

• Contagem, MG<br />

Essa Casa é a cultura viva do passado<br />

<strong>da</strong>s Minas Gerais, que tanto retrata a<br />

CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009 - 56


a casa dos contos<br />

história do Brasil. O nosso passado alegre<br />

e negro, por isso deve ser preservado<br />

para to<strong>da</strong>s as gerações futuras.<br />

E. E. P. C.<br />

• Seropédica, RJ<br />

Estou em lua-de-mel e <strong>da</strong>qui guar<strong>da</strong>rei<br />

excelentes lembranças. A Casa dos<br />

Contos tem um ambiente fantástico,<br />

uma restauração primorosa e uma<br />

equipe de atendimento na<strong>da</strong> menos<br />

que perfeita, além de extremamente<br />

gentil, Cinco mil ‘parabéns’ não seriam<br />

o suficiente.<br />

F. L. G. O.<br />

• Santiago, Chile<br />

Felicitaciones! El trabajo de conservacion<br />

de la casa es estupendo; y es<br />

reconocido por la historia misma de<br />

Brasil y sobre todo de Ouro Preto es<br />

maravilloso.<br />

E. A. V.<br />

• São José, SC<br />

Só tenho elogios para o espaço, principalmente<br />

pelo atendimento dos funcionários;<br />

os museus do Brasil deveriam se<br />

inspirar neste.<br />

D. V.<br />

• Buenos Aires, Argentina<br />

Adorei visitar a Casa dos Contos.<br />

Aprendi muito <strong>da</strong> história brasileira.<br />

O pessoal aqui foi muito amável. Mas<br />

muito mesmo!<br />

A.Y.<br />

• Velburg, Alemanha<br />

Adoramos a visita, o pessoal é cortês,<br />

educado e informado.<br />

J. e L.<br />

• Roma, Itália<br />

Muy interessante e precioso.<br />

R. M. F. P.<br />

• São Paulo, SP<br />

O espaço tem um enorme potencial<br />

educativo e de comunicação com o<br />

público e comuni<strong>da</strong>de, que merece ser<br />

descoberto e valorizado.<br />

M. F. V. S.<br />

• Belém, PA<br />

Moro no Pará, e fiquei impressiona<strong>da</strong><br />

com a história desse lugar; o acervo é<br />

muito rico. M. N. C.<br />

• São Mateus, ES<br />

Eu gostei muito <strong>da</strong>s moe<strong>da</strong>s e notas antigas,<br />

de saber melhor como era a vi<strong>da</strong><br />

nos séculos XVIII e XIX. Gostei também<br />

do atendimento e gentileza dos funcionários.<br />

Contarei aos meus conhecidos<br />

sobre a Casa dos Contos.<br />

P. A. M. M.<br />

• Fortaleza, CE<br />

Interessante e aconselhável. Minas é um<br />

estado de espírito.<br />

R. V. D. L.<br />

• Arizona, EUA<br />

Parabenizo aos diretores e secretaria<br />

<strong>da</strong> Casa dos Contos e a todos os funcionários<br />

pela conservação do mesmo.<br />

R. F. T.<br />

• São Paulo, SP<br />

A exposição é maravilhosa, também<br />

não posso deixar de elogiar o atendimento<br />

e a cordiali<strong>da</strong>de de todos os funcionários.<br />

É sem palavras o que vocês<br />

fazem pelo povo brasileiro: manter viva<br />

a nossa história. Parabéns! E. C. M.<br />

CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009 - 57


A quali<strong>da</strong>de<br />

gráfica e<br />

editorial <strong>da</strong><br />

última edição <strong>da</strong><br />

revista voltaram<br />

a merecer<br />

elogios efusivos<br />

dos leitores,<br />

que enviaram<br />

cartas, também<br />

oferecendo<br />

críticas e<br />

sugestões.<br />

Selecionamos<br />

algumas cartas,<br />

que resumem<br />

o sentido <strong>da</strong>s<br />

muitas envia<strong>da</strong>s.<br />

58 - CECO/Casa dos Contos - Maio de 2009<br />

Falam os leitores<br />

• Em nome do Sistema de Museus de<br />

Ouro Preto, gostaria de cumprimentar a<br />

Revista Casa dos Contos, pela bela matéria<br />

sobre o Museu <strong>da</strong>s Reduções, de<br />

Ouro Preto, publica<strong>da</strong> na edição de nº<br />

06, de dezembro de 2008. Realmente,<br />

o Museu <strong>da</strong>s Reduções tem se constituído<br />

em uma de nossas principais<br />

atrações, graças ao seu acervo único e<br />

ao contexto em que se encontra, que o<br />

tornam marca registra<strong>da</strong> <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de<br />

museal de Ouro Preto.<br />

Prof. Gilson Nunes<br />

Coordenador Executivo Sistema de Museus de Ouro Preto<br />

• Li, com a devi<strong>da</strong> atenção, todos os artigos<br />

nela contidos e deles pude retirar<br />

vasta matéria para reflexão em torno<br />

de assuntos que envolvem as Políticas<br />

Públicas do meu Estado e do Brasil.<br />

Parabenizo-os pelo brilhante trabalho.<br />

José Fernando Aparecido de Oliveira<br />

Deputado federal, PV-MG<br />

• É uma <strong>da</strong>s raras publicações que reúne<br />

a técnica com o histórico, retratando<br />

patrimônios <strong>da</strong> União, e que divulga<br />

com digni<strong>da</strong>de nossa cultura. A publicação<br />

é ótima [...] e poderia se estender<br />

a outros Estados.<br />

Engenheiro Neidivan Alves <strong>da</strong> Cunha<br />

Santos, SP<br />

• A importância <strong>da</strong> Imprensa é pouco<br />

reconheci<strong>da</strong> ain<strong>da</strong> pela sua força na<br />

educação – ciência – desenvolvimento<br />

social. Sua semelhança poderia ser<br />

menciona<strong>da</strong> com a dos bandeirantes<br />

que pisaram em terras desconheci<strong>da</strong>s<br />

e as conquistaram.<br />

Lívia Paulini<br />

Escritora, Belo Horizonte, MG<br />

• Acabo de receber o último número <strong>da</strong><br />

Revista e percebo, desde logo, que se<br />

trata de mais uma edição primorosa,<br />

digna de todos os elogios. Parabéns a<br />

você e ao <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong> por<br />

mais essa valiosa contribuição para<br />

a melhor compreensão <strong>da</strong> história de<br />

Minas Gerais e do Brasil.<br />

Marcos Paulo de Souza Miran<strong>da</strong><br />

Promotor, Belo Horizonte, MG<br />

• A Revista Casa dos Contos acrescentanos<br />

a ca<strong>da</strong> edição novos conhecimentos<br />

sobre a história de Minas. O artigo<br />

“O cotidiano <strong>da</strong> alimentação na Lavra<br />

<strong>da</strong> Porteira” nos dá uma visão sobre<br />

costumes e alimentação do Sec. XVIII<br />

em Minas, assim nos abrindo as portas<br />

a uma compreensão diferencia<strong>da</strong> <strong>da</strong>quele<br />

período. O artigo “Criminali<strong>da</strong>de<br />

escrava” complementa o estudo que a<br />

revista vem fazendo sobre o ciclo do<br />

ouro, em suas edições, assim permitindo<br />

ao público um contato mais efetivo<br />

com aquele período tão importante <strong>da</strong><br />

história mineira.<br />

Yara Tupinambá<br />

Artista plástica, Belo Horizonte, MG<br />

• Projeto gráfico, ótimo. Conteúdo dos<br />

artigos, bom. Texto <strong>da</strong> revista, bom.<br />

Gostei mais <strong>da</strong> matéria “Instituto João<br />

Pinheiro, uma República Escolar”.<br />

Sugiro criar uma seção dedica<strong>da</strong> a<br />

breves resenhas críticas de divulgação<br />

sobre as publicações do Ceco / Casa<br />

dos Contos disponíveis no Museu Casa<br />

dos Contos.<br />

Guilherme Queiroz de Macedo<br />

Técnico em Assuntos Educacionais,<br />

UFMG, Belo Horizonte, MG<br />

• A Revista cumpre excelente papel de<br />

recuperação de instigantes aspectos<br />

de nossa historiografia. Sua quali<strong>da</strong>de<br />

gráfica e informativa aumenta nossa<br />

auto-estima de sermos mineiros.<br />

Marco Aurélio Baggio<br />

Médico, Belo Horizonte, MG

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