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nha direito a buscar maneiras que facilitem a ela<br />
passar por este momento da maneira mais prazerosa<br />
e tranquila possível.<br />
PlaNejameNto<br />
Jorge Kunh afirma que é importante que toda<br />
mulher, independente se escolheu uma equipe<br />
humanizada ou não, escreva um plano de parto,<br />
que deve ser discutido juntamente com o<br />
seu obstetra.<br />
Este plano de parto indicará para o médico<br />
quais condutas a mãe gostaria que fossem seguidas<br />
durante o nascimento de seu filho. Cabe<br />
ao profissional dizer se os itens podem ou não<br />
ser seguidos “Toda gestante deve fazer um plano<br />
de parto pensando que o processo pode ter várias<br />
nuances e problemas. Caso o plano não possa<br />
ser seguido, a gestante tem o direito de saber<br />
por quê”, afirma Khun. O procedimento auxiliará<br />
também a mulher a perceber se aquele profissional<br />
é adequado o ela, por isso a importância de<br />
escrever o plano logo no começo da gravidez.<br />
O plano de parto deve conter temas como se a<br />
mulher deseja realizar um parto vaginal ou cesariana,<br />
onde gostaria de dar à luz, se quer segurar o<br />
bebê logo após o nascimento, se deseja que o bebê<br />
se alimente somente de leite materno no período<br />
que passar na maternidade, se o acompanhante<br />
dela deseja dar o primeiro banho, quem ela quer<br />
que esteja na sala durante o parto, se quer ouvir<br />
música, se ela não quer que seja feita a episiotomia<br />
(corte cirúrgico feito no períneo- região muscular<br />
que fica entre a vagina e o ânus).<br />
Além do médico já poder dizer antecipadamente<br />
se será possível ou não obedecer a todos os pontos,<br />
o plano de parto possibilita que a mulher seja<br />
consultada caso tenha de ser realizado algum procedimento<br />
que foge ao que ela gostaria. “O plano de<br />
parto é uma carta de intenções que o médico vai ler<br />
e ver se é possível realizar” resume Ana Cristina.<br />
ambieNte hosPitalar<br />
Hoje, existem muitas possibilidades de locais<br />
onde a mulher pode dar à luz. Se a equipe estiver<br />
ciente dos desejos da gestante, é possível ter o parto<br />
da maneira que mais agrada à mulher, no hospital,<br />
em casas de parto ou mesmo em domicílio.<br />
São poucos, mas existem hoje hospitais que<br />
realizam o parto humanizado. Outros possibilitam<br />
que a equipe traga equipamentos para realizá-lo,<br />
como bolas de pilates, piscinas infláveis ou<br />
banquetas para realizar partos de cócoras.<br />
Em hospitais, no entanto, alguns procedimentos<br />
são utilizados rotineiramente, e é necessário<br />
que a mulher decida e discuta com a equipe se ela<br />
deseja que estes sejam utilizados. Um destes procedimentos<br />
é o uso da ocitocina, um hormônio<br />
que a mulher produz naturalmente, e que causa<br />
as contrações uterinas. Essa substância é colocada<br />
junto ao soro, fazendo com que o número de<br />
contrações aumente repentinamente.<br />
Muitos profissionais da área da saúde criticam<br />
o uso indiscriminado desta substância. “Aproximadamente<br />
95% a 98% dos partos normais a utilizam<br />
para que o processo seja mais rápido, porque<br />
ela provoca mais contrações, então o bebê<br />
nasce mais rápido. Para a mulher, isso é péssimo,<br />
porque provoca mais dor. Para o bebê é perigoso<br />
porque pode provocar mais contrações do<br />
que ele pode aguentar. Inclusive a bula da ocitocina<br />
cita que um dos efeitos colaterais é morte<br />
fetal” afirma Ana Cristina.<br />
Outro procedimento utilizado em quase todos<br />
os partos naturais hospitalares é a episiotomia,<br />
como vimos, um corte feito no final da vagina<br />
com o objetivo de facilitar a passagem do bebê e<br />
proteger a musculatura da pélvis da mulher, evitando<br />
uma laceração maior. A utilização como<br />
rotina, no entanto, é questionada pela OMS, por<br />
trazer muitas consequências à mulher.<br />
Após o procedimento, explica Gabriela Prado,<br />
muitas mulheres costumam sentir muita dor na<br />
região dos pontos, tendo dificuldade de sentar e<br />
achar posição para amamentar. Além disso, podem<br />
acontecer inflamações, e às vezes há perda<br />
da sensibilidade no local da cicatriz ou dor durante<br />
relações sexuais. “Ela deve ser utilizada em<br />
casos extremos, mesmo porque quando o bebê<br />
nasce em um parto tranquilo o nível de lacerações<br />
é quase zero” afirma.<br />
Roberta Marcinkowski, integrante da rede virtual<br />
Parto do Princípio, também critica essa intervenção:<br />
“Ela é geralmente feita sem o consentimento<br />
da parturiente, o que por si só é antiético.<br />
A necessidade de sua utilização deve ser avaliada<br />
durante o período expulsivo (nunca durante<br />
o pré-natal nem durante o trabalho de parto), de<br />
acordo com a evolução do parto, da posição do<br />
bebê e da musculatura vaginal. Quando aplicada<br />
com critério, as taxas de episiotomia não ultrapassam<br />
15% do total de partos de um médico<br />
e/ou instituição. Qualquer número maior que<br />
isso indica que o procedimento está sendo usado<br />
como rotina, sem que cada caso seja avaliado<br />
em suas peculiaridades”.<br />
Casas de Parto<br />
Outra opção para as gestantes é procurar uma<br />
casa de parto, onde o procedimento será realizado<br />
com enfermeiras obstetras. Porém, tais locais estão<br />
cada vez mais escassos, pois sofrem boicotes<br />
constantes. Os médicos não costumam informar<br />
às pacientes que existe a opção de realizar o parto<br />
fora de um hospital, ou fazem campanha contra<br />
estas instituições. “Eles acham que um parto não<br />
pode acontecer sem eles”, afirma Ana Cristina.<br />
Nas casas de parto, a mulher vai encontrar<br />
um ambiente muito diferente dos hospitais, mais<br />
descontraído, aconchegante e com profissionais<br />
treinados para realizarem massagens para diminuir<br />
a dor do parto natural. Outra característica<br />
destes locais é integrar o acompanhante ao<br />
processo do parto. É garantido e desejável que<br />
a mulher esteja junto do pai da criança ou outro<br />
conhecido durante o momento de dar à luz e<br />
também nos pré-natais.<br />
Uma terceira possibilidade cada vez mais utilizada<br />
pelas mulheres é a realização do parto em<br />
casa, que deve ser feito apenas em casos de gravidez<br />
de baixo risco, quando as saúdes da mãe e<br />
do bebê estão perfeitas. Para tanto, é necessário<br />
que a mãe entre em contato no começo da gesta-<br />
Novo sítio: www.carosamigos.com.br<br />
ção com uma equipe que realize esse tipo de parto,<br />
para fazer um pré-natal detalhado.<br />
Os defensores do parto domiciliar apontam<br />
que sua principal vantagem é, além de ter a possibilidade<br />
de mobilidade e poder utilizar os recursos<br />
de que o parto humanizado dispõe, a mulher<br />
ainda está em um ambiente familiar e aconchegante,<br />
que lhe trará segurança durante o parir.<br />
Gabriela Prado acredita que em casa as mulheres<br />
aguentam mais facilmente as dores do<br />
parto por conta da segurança de estar em seu<br />
domicílio: “Existe um coquetel de hormônios que<br />
circulam no trabalho de parto que são os mesmos<br />
que ocorrem durante uma relação sexual ou<br />
a amamentação. Podemos dizer em um linguajar<br />
comum que esses hormônios são ‘tímidos’, facilmente<br />
inibíveis. Então é necessário que a mulher<br />
esteja em uma situação de segurança e conforto<br />
para que eles sejam liberados. Em domicilio você<br />
está no seu ambiente, propiciando uma sensação<br />
de privacidade e segurança maior”.<br />
Thais Medeiros, professora de ginástica que<br />
trabalha com gestantes há 32 anos, já assistiu<br />
partos humanizados em hospitais, casas de parto<br />
e em domicílios, mas prefere o último: “Em casa<br />
a mulher não sofre intervenções, tem o seu momento<br />
de protagonismo respeitado, e desta forma<br />
pode focar sua atenção no parto. O parto em casa<br />
é como deve ser: um evento íntimo e familiar”.<br />
Possibilidades da Cesárea<br />
Mesmo quando uma cesariana é necessária ou<br />
inevitável, há atitudes que a mulher pode cobrar<br />
do médico. Primeiramente, ela tem o direito de<br />
ser informada sobre os riscos que essa intervenção<br />
pode gerar. “A cesariana é uma cirurgia de<br />
porte considerável, o risco de infecção é dez vezes<br />
maior. Muitas mulheres sentem dor na cicatriz<br />
por muitos anos, a mortalidade materna é maior e<br />
a recuperação é mais lenta. Muitas mães ainda se<br />
sentem frustradas por não poderem participar do<br />
nascimento”, explica a carioca Lia Haikal, médica<br />
que está atualmente passando por cursos preparatórios<br />
para ser parteira tradicional na Paraíba.<br />
Gabriela concorda: “A cesariana salva vidas.<br />
Antes dela, as mulheres morriam de parto, os bebês<br />
morriam na barriga da mãe, mas só deveria<br />
ser feita apenas em situações extremas”. A mulher<br />
pode também exigir o direito de segurar o bebê<br />
assim que ele nascer, escolher o seu acompanhante<br />
e que o pano possa ser abaixado quando o bebê<br />
sair, para que possa vê-lo nascendo.<br />
A paranaense Patricia Merlin, professora do<br />
fundamental, teve um filho por meio de uma cesariana<br />
desnecessária e uma filha em parto domiciliar.<br />
A segunda experiência foi muito importante:<br />
“Poder me movimentar, comer, gritar, tomar<br />
banho, rir, chorar, escolher a posição para parir,<br />
fazer força quando tivesse vontade fez a experiência<br />
do parto ter a minha cara. Foi do jeito que<br />
eu quis e em nenhum momento eu ou a minha filha<br />
estivemos em perigo. Meu parto me deu a certeza<br />
de que o corpo é perfeito e que mulheres precisam<br />
de paz e segurança para parir”.<br />
Bárbara Mengardo é estudante de Jornalismo.<br />
julho 2010 caros amigos<br />
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