mestre salvador religião e cultura - Charles Guimarães Filho

CACIQUE
Está tudo certo, mas vamos logo antes que ele venha cobrar.
Os dois saem em disparada e vão bater numa igreja, entram pela
porta do lado e dão de cara com um padre bêbado dormindo na
sacristia. Andam mais um pouco e vêem o sacristão imóvel na
frente do altar sem saber o que fazer diante de uma nave
apinhada de cristãos ajoelhados, rostos abaixados e terços
manipulados. Eles notam duas coisas: primeiro, apenas uma
mulher com cara de pau de arara não está naquelas condições,
mas sim em pé com braços cruzados e um porrete na mão;
segundo, na roupa, de quem guarda objetos sagrados e tem
responsabilidade de manter os edifícios da Igreja e os jardins
circundantes, uma etiqueta com o nome SILVA. Os dois da
sacristia não se apertam e para isso sentem que tem de tirar do
aperto o conterrâneo.
CACIQUE
(falando baixinho)
Psiu, ô Silva vem cá que o Salvador vai te salvar.
O sacristão ao ouvir aquilo se mostra esperançoso e vai se
aproximando devagarzinho para que os devotos não desconfiem
de nada.
SALVADOR
(falando alto)
O que acontece com o destemido Silva que eu não vá salvá-lo?
Todos os presentes estão levantados para ver a divindade que
está falando naquela língua estranha, exceto a pau-de-arara que
agora com o c. na mão está ajoelhada de tanto medo. O
sacristão se ajoelha e todos voltam a se ajoelhar.
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