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ROTEIRO DE FILMES - Charles Guimarães Filho

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NOVA CULTURA<br />

V<br />

PO<strong>DE</strong>RES E BENS<br />

<strong>Charles</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Filho</strong>


INÍCIO<br />

3


001. RUA <strong>DE</strong> CIDA<strong>DE</strong> - DIA<br />

Legenda: “JAPÃO, 1952”. Agiota palestino YAMAZI anda estressado pelas<br />

ruas do centro financeiro de Tóquio, seguido por sua ASSESSORA.<br />

YAMAZI<br />

Não interessa se a família está passando dificuldades, isso não é<br />

problema meu. Pediram dinheiro emprestado, tem que pagar. Tirem de<br />

dentro de sua casa o que tiverem de valor. Nada de sentimentalismos.<br />

ASSESSORA<br />

Mas, os únicos objetos valiosos que essa família possui é uma cama<br />

de madeira maciça e um candelabro religioso.<br />

YAMAZI<br />

Serve.<br />

ASSESSORA<br />

Mas patrão, a cama é onde o pobre do doente fica.<br />

YAMAZI<br />

E o candelabro é onde a família reza. Ora! Deixe de pieguice. Serve.<br />

002. PORTA <strong>DE</strong> EDIFÍCIO - DIA<br />

Entram num edifício escrito no alto: BOLSA <strong>DE</strong> VALORES <strong>DE</strong> TÒQUIO.<br />

003. CORREDOR<br />

Yamazi é cumprimentado respeitosamente por onde passa.<br />

004. PAINEL DO MERCADO <strong>DE</strong> AÇÕES<br />

Numa intensa balbúrdia de compra e venda de ações, Yamazi sussurra<br />

no ouvido da assessora que se comunica com um operador e assim<br />

imediatamente grandes negócios são realizados.<br />

005. RESTAURANTE<br />

Ao chegarem ao restaurante do próprio mercado de ações notam que<br />

todas as mesas estão ocupadas. A assessora de pronto faz um gesto<br />

5


com uma das mãos para o gerente. Este vai a uma das mesas, inclina<br />

seu corpo falando para os que ali estavam. Sem nenhum reclamo a<br />

mesa fica vazia, Yamazi é chamado para ocupá-la. Ao sentar na<br />

cadeira reconhece, na mesa ao lado, REIKO, a próspera colega de<br />

mesmo ramo de negócios, que é convidada para almoçarem juntos.<br />

YAMAZI<br />

Reiko, como vão os negócios? Cada vez melhores não?<br />

REIKO<br />

Não vão mais. Saí do ramo de agiotagem e especulação. Conheci uma<br />

figura extraordinária que mudou a minha vida.<br />

Yamazi espantado não consegue emitir uma palavra. Por instante, os<br />

dois só ficam se olhando, até que curiosidade não agüenta.<br />

YAMAZI<br />

Mas, quem é esse excepcional? O que lhe disse de tão encantador?<br />

REIKO<br />

Um dia, fazendo ―média‖ com meu esposo acompanhei-o a um culto<br />

celebrado por tal de Meishu-Sama, e lá ouvi uma pregação tão ...<br />

006. IGREJA<br />

Reiko está recordando, MEISHU-SAMA pregando para os fiéis.<br />

FA<strong>DE</strong> OUT<br />

FA<strong>DE</strong> IN<br />

MEISHU-SAMA<br />

―Está muito certo comprar ações visando os juros, isto é, os<br />

dividendos; não representa ―comprar‖ nenhuma espécie de rancor.<br />

Pelo contrário, é um investimento muito útil ao desenvolvimento da<br />

indústria e deve ser bastante incentivado. Mas, atualmente, objetiva-se<br />

a especulação, por isso, ela não é verdadeira. E, sendo assim, o<br />

dinheiro ganho nas ações contém muito ódio das pessoas que vivem<br />

de especulações. Nestas, só poucas pessoas lucram e as demais têm<br />

prejuízo. Por isso, o dinheiro ganho na Bolsa de Valores está bastante<br />

impregnado da ira das pessoas que o perderam. Nenhuma corretora<br />

de valores sobrevive por três gerações.‖<br />

Reiko levanta a mão pedindo permissão para falar, lhe é concedida.<br />

6


REIKO<br />

Sem querer ser indelicado, o senhor tem experiência a respeito?<br />

MEISHU-SAMA<br />

Antigamente, eu lidei muito com especulações. Cheguei até a<br />

estabelecer uma sociedade de comanditas, realmente, gostava muito<br />

de especular. Entretanto, no final das contas, fui a falência.<br />

007. RESTAURANTE<br />

FA<strong>DE</strong> OUT<br />

FA<strong>DE</strong> IN<br />

YAMAZI<br />

Ficar com medo dos rancores dos que perderam na Bolsa? Se sentir<br />

culpado por quem perdeu? Ali não joga criança não, é só adulto. Ficou<br />

pobre porque quis, tem mais que deixar de ser cobiçoso otário e<br />

passar a ser ambicioso inteligente que nem nós.<br />

REIKO<br />

Sabe que hoje à noite ele vai dar uma palestra sobre economia?<br />

Yamazi se levanta e muito do determinado afirma.<br />

YAMAZI<br />

É, então eu vou lá dizer umas verdades para esse pobre de tudo, de<br />

ganância, de conhecimento, deve ser até de dinheiro e de espírito.<br />

Acaba de falar e algo o arrebata ao chão. Reiko logo o acude.<br />

REIKO<br />

O que foi Yamazi? Escorregou?<br />

YAMAZI<br />

Estranho! Juro ter sido lançado ao solo e ter escutado: ―Vá nessa<br />

direção para que se desenvolvam os Poderes e os Bens‖.<br />

<strong>DE</strong>SENROLA OS CRÉDITOS. Caminham para fora daquele Mercado. FIM<br />

DOS CRÉDITOS.<br />

008. PORTA <strong>DE</strong> EDIFÍCIO - DIA<br />

Yamazi olha para Reiko e o escrito “BOLSA <strong>DE</strong> VALORES <strong>DE</strong> TÒQUIO”.<br />

7


YAMAZI<br />

(pensando)<br />

Só espero não ficar que nem essa pobre coitada aí, depois de<br />

conhecer esse tal de Meishu-Sama.<br />

Eles se cumprimentam e cada um vai para seu lado. Porém, à noite ...<br />

009. INT. IGREJA<br />

CORTA PARA<br />

A Igreja está repleta de fiéis. Sentados estão Reiko e o seu colega<br />

Yamazi. Meishu-Sama entra com O SERVIDOR, este inicia dizendo.<br />

O SERVIDOR<br />

O que se pensa de imediato quando se fala em economia? Talvez em<br />

agricultura, indústria, comércio, serviço. No entanto, hoje, pensaremos<br />

na economia da prosperidade, para isso Meishu-Sama abordará o seu<br />

contrário, ou seja, a pobreza.<br />

MEISHU-SAMA<br />

Pois é, a pobreza quer dizer carência material e/ou espiritual,<br />

pertinente ao Plano Inferior, estado impossibilitador de um plano divino,<br />

mas também um processo de purificação dado por Deus. Sua causa<br />

está dentro do plano divino, rompimento do elo espiritual com Deus,<br />

está no homem e não na organização social, predomínio do espírito<br />

secundário, baixo nível espiritual, doença e conflito, dívida, ...<br />

PARTICIPANTE incomodado logo interrompe com um questionamento.<br />

PARTICIPANTE<br />

Qual a importância desse tema pobreza? O mundo em que vivemos<br />

está avançando com muita riqueza, aproximando-se da civilização.<br />

MEISHU-SAMA<br />

Como assim! Pobreza é o segundo maior temor da humanidade.<br />

Civilização? Maioria dos homens é forçada a trabalhar desde a manhã<br />

até a noite para ganhar o pão de cada dia, fazendo-o sem nenhuma<br />

parcela de ânimo, alegria e esperança, mas apenas para se manterem<br />

vivos. No entanto, há pobres que são ricos, e há ricos que são pobres.<br />

YAMAZI<br />

Que brincadeira é essa? Saiba que vivo nesse país há muitos anos e<br />

nunca vi um rico, que nem eu, poder ser pobre. Aponte um.<br />

8


MEISHU-SAMA<br />

Nota-se aí a pobreza de conhecimentos. Há pessoas, como os<br />

avarentos, que são ricas materialmente e pobres espiritualmente que<br />

não desembolsam o dinheiro que deveriam desembolsar ou não<br />

pagam o que deveriam pagar, e isso constitui uma espécie de roubo;<br />

espiritualmente, estão acumulando dinheiro furtado, a que se<br />

acrescentam juros; o resultado é que os bens vão se esgotando, e,<br />

pela Lei do Espírito Precede a Matéria, um dia essas pessoas acabam<br />

perdendo tudo o que têm.<br />

Há outras pessoas que são pobres materialmente e ricas<br />

espiritualmente, têm um nível material de vida inferior ao da classe<br />

média, mas se contentam com o que têm, vivendo a vida cotidiana<br />

cheios de gratidão e empregando suas economias em obras que visam<br />

à salvação da humanidade; ao entrarem no Mundo Espiritual, tornamse<br />

ricos e vivem muito felizes.<br />

PARTICIPANTE<br />

Pobreza, por um lado, é negativo, um estado impossibilitador, por outro<br />

lado, é positivo, um processo de purificação. Isso não é contraditório?<br />

MEISHU-SAMA<br />

Os processos de pobreza e conflito, por analogia com o da doença,<br />

são as maiores dádivas concedidas por Deus, por serem processos de<br />

purificação indispensáveis à manutenção da prosperidade e harmonia.<br />

Ou seja, findo o processo, estarão mais ricos e pacíficos no caminho<br />

da felicidade ou menos pobres e conflituosos na via do sofrimento. De<br />

certa maneira semelhante ao que ocorre no encerramento de uma<br />

doença como gripe sem uso de medicamentos: curado ou com<br />

sintomas abrandados de febre, coriza, dores no corpo, etc.<br />

Não há incoerência de pobreza e conflito ser desgraças e felicidades.<br />

Pois elas são desgraças por serem estados de prisão à escassez e<br />

afeição à briga, e são felicidades por serem processos de libertação à<br />

penúria e ódio à contenda.<br />

Também não há incoerência na meta da eliminação dos processos<br />

purificadores da pobreza e conflito, bem como da doença, pois a meta<br />

da eliminação destas três realidades é enquanto estados e quaisquer<br />

processos. Pois, estes processos não são necessidades eternas, ou<br />

seja, há um limite para eles, já que basta o homem se livrar das<br />

máculas e toxinas, ou seja, elevar-se espiritualmente.<br />

Todavia, deixo registrado que ... enquanto o povo for pobre, não se<br />

poderá sequer sonhar em concretizar aqui neste planeta um mundo<br />

paradisíaco porque ...<br />

YAMAZI<br />

... o aumento dos males sociais é causado pela carência material.<br />

9


MEISHU-SAMA<br />

Se essa fosse a verdadeira causa dos males sociais, as pessoas<br />

abençoadas materialmente deveriam ser corretas; todavia, a realidade<br />

nos mostra muitas pessoas ricas que praticam atos ilícitos e<br />

prejudicam a sociedade muito mais do que os pobres.<br />

O tempo passa e o Servidor comunica.<br />

SERVIDOR<br />

Tendo em vista o adiantado da hora, deixaremos a causa e a solução<br />

da pobreza para que seja tratada amanhã. Bom regresso ao lar.<br />

010. EXT. IGREJA<br />

Lá fora a conversa continua. E Meishu-Sama está orientando.<br />

MEISHU-SAMA<br />

Sim, mas prosperidade por meio do mal, não dura muito.<br />

REIKO<br />

Ainda bem que abandonei a agiotagem e o investimento avarento.<br />

YAMAZI<br />

Deus censura, inventa o pecado e a sua remissão para a igreja faturar,<br />

que grande negócio. Por isso é que eu vim aqui, vim salvar a pobre<br />

coitada da Reiko, vim para dizer umas verdades ao senhor. Saiba que<br />

o sucesso dos agiotas e dos investidores em busca de lucro se deve à<br />

nossa capacidade, inteligência e esforço.<br />

MEISHU-SAMA<br />

Atribuindo essa a causa do sucesso se cai na presunção e na vaidade,<br />

torna-se egoísta e arrogante, vive uma vida de luxo, passando a ser<br />

alvo de sentimentos geradores de máculas. Socialmente, ocupam<br />

posição superior e recebem da sociedade e do país os favores<br />

correspondentes a essa posição, razão pela qual deveriam retribuí-los<br />

adequadamente, isto é, fazendo o bem em abundância.<br />

YAMAZI<br />

Do jeito que vão os argumentos, o bom negócio é ser apenas um rico<br />

espiritualmente, pode ser até miserável e quem sabe falecido.<br />

MEISHU-SAMA<br />

Não só após a morte, mas desde que o corpo está no Mundo Material,<br />

o espírito se reflete nele no estado em que se encontra. É por isso que<br />

10


vemos até casos de suicídio de uma família inteira, após um sofrimento<br />

extremo. Obviamente trata-se de uma conseqüência da lei de causa e<br />

efeito, já que no Mundo Espiritual sua posição é no Inferno.<br />

YAMAZI<br />

(irritado)<br />

Onde já se viu riqueza depender de espírito. Rico se suicidar! Só rindo.<br />

MEISHU-SAMA<br />

Quer maior riqueza que a felicidade? A verdadeira felicidade não<br />

repousa nas coisas materiais, mas, na abundância espiritual e<br />

serenidade mental. Isto não quer dizer que os bens materiais sejam<br />

desnecessários. Constituem uma parte do conforto na terra, mas não<br />

poderá haver plena e verdadeira felicidade sem paz de espírito.<br />

Agora, quanto a rico se suicidar, cuidado Senhor Yamazi.<br />

Yamazi entendendo como ameaça fortuita vira de costas visivelmente<br />

enfezado e vai embora.<br />

011. INT. RESIDÊNCIA <strong>DE</strong> YAMAZI - NOITE<br />

Yamazi conversa com seu filho adolescente de nome YAMA.<br />

CORTA PARA<br />

YAMAZI<br />

Vai ver filho que esse japa vivaldino. nunca escreveu sobre pobreza.<br />

YAMA<br />

Isso não pai. Eu dei uma espiada e vi vários ensinamentos a respeito,<br />

como: ―a causa da pobreza‖ e ―a fonte da corrupção‖.<br />

YAMAZI<br />

O que corrupção tem a ver com pobreza?<br />

YAMA<br />

Diz que tanto a pobreza material, quanto a pobreza espiritual, como a<br />

corrupção moral, também tem a mesma origem: falta de sinceridade.<br />

YAMAZI<br />

Que interessa se a pessoa é corrupta e ganha fortuna? Ou por acaso,<br />

acha melhor, ser sincero e pobre? Rico pode até ir preso, mas não<br />

perde sua fortuna não. E quem diz que ele é honesto?<br />

CORTA PARA<br />

11


012. INT. IGREJA<br />

MEISHU-SAMA<br />

Naquela época, eu era comerciante, de modo que as ‗técnicas‘ de<br />

negociar deveriam ser muito mais vantajosas para mim. Mas eu não<br />

conseguia me sair bem e acabei decidindo voltar à honestidade, traço<br />

próprio do meu caráter. O engraçado é que, depois disso, os<br />

resultados começaram a ser melhores do que eu esperava. Em<br />

primeiro lugar, adquiri maior crédito no mundo dos negócios, as coisas<br />

passaram a se processar num ritmo excelente e em pouco tempo<br />

consegui um grande capital.<br />

YAMAZI<br />

O que o senhor teria a dizer sobre a reencarnação prematura e inveja<br />

e ódio dos encarnados e desencarnados serem causas da pobreza?<br />

MEISHU-SAMA<br />

Sobre isso eu gostaria de conversar em particular com o senhor.<br />

YAMAZI<br />

A qualquer hora em minha casa.<br />

MEISHU-SAMA<br />

Estaremos lá com muita satisfação.<br />

(pausa)<br />

Hoje, como foi combinado, vamos falar sobre a solução da pobreza.<br />

A vida moderna está cercada de muitos perigos, como enfermidades<br />

ou desastres, os quais não sabemos quando eles irão nos atacar.<br />

Pensando nisso, não podemos sentir-nos tranqüilos um instante<br />

sequer. Em face dessa situação, os órgãos governamentais e civis têm<br />

tomado medidas de defesa, tal como seguros de saúde, seguros<br />

contra acidentes e desemprego, sistema de poupança e instalações<br />

assistenciais. Entretanto, medidas de ordem material como essas não<br />

garantem a tranqüilidade além de certo limite. Apenas um seguro<br />

abstrato, isto é, o seguro proporcionado por Deus, é que nos pode<br />

assegurar a tranqüilidade absoluta. E esse seguro envolve doação.<br />

Por isso que Andrew Carnegie (1835-1919), fez prevalecer, quando<br />

morreu, a tese que sempre defendera, destinando às obras de<br />

assistência social quase toda a sua fortuna, avaliada em bilhões de<br />

dólares. Para o seu herdeiro deixou apenas um milhão de dólares e<br />

educação universitária garantida.<br />

YAMAZI<br />

Milionário doando? Só falta dar exemplo de ladrão arrependido.<br />

12


MEISHU-SAMA<br />

Na Era Meiji (1868-1912), o famoso ladrão Sadakiti Shimizu, quando<br />

foi preso, assim expressou seu arrependimento: ‗Não há coisa pior do<br />

que roubar. Se eu dividisse o dinheiro que roubei até hoje pelo número<br />

de dias que se passaram, o resultado seria de apenas 45 centavos por<br />

dia.‘ Concordo que não deve ter sido compensador, por mais baixos<br />

que estivessem os preços na Era Meiji.<br />

GARGALHADAS no recinto. Uma hora depois ...<br />

REIKO<br />

A crise econômica, que atinge não só os governos e as empresas<br />

particulares e consequentemente os povos, deixou de ser uma<br />

novidade. Mas, qual é a sua causa? Pelo menos uma delas.<br />

MEISHU-SAMA<br />

Os governos, por exemplo, são prejudicados pelo mau procedimento dos<br />

funcionários. Que aconteceria se estes agissem conscienciosamente? Evitar-se-ia<br />

o esbanjamento de recursos provenientes dos impostos, que custaram<br />

o suor do povo. Além disso, a extinção dos subornos impediria a<br />

prevaricação dos mesmos funcionários, tornando-os dignos da<br />

confiança do povo. Se tudo isso acontecesse, não haveria mais<br />

necessidade de fiscalização, nem de processos jurídicos onerosos<br />

resultando em incalculável benefício para a economia do país.<br />

Notaríamos, ainda, o lucro inesperado que adviria da baixa de todos os<br />

preços, pelo desaparecimento das negociatas, muito comuns nos<br />

empreendimentos. Realizado o que foi exposto, o governo não<br />

necessitaria sequer da metade do presente orçamento, o povo<br />

exultaria de alegria pela redução dos impostos.<br />

PARTICIPANTE<br />

Eu soube que afirma que a solução para dívida é começar de forma<br />

pequena e fazer dedicação monetária, acrescentaria mais alguma?<br />

YAMAZI<br />

Pagar a quem deve, pois quando empresto dinheiro tenho direto de<br />

receber o que emprestei mais os juros.<br />

REIKO<br />

Eu larguei esse ramo porque eu me sentia um produtor de pecadores.<br />

YAMAZI<br />

Ainda bem que reconhece que os pecadores são os outros que me<br />

pedem dinheiro emprestado, eles é que procurem se redimirem me<br />

pagando o que devem.<br />

13


RISOS. Meishu-Sama se levanta rindo e se põe a sair. As pessoas<br />

também vão saindo agradecidas por mais um dia maravilhoso.<br />

013. EXT. IGREJA<br />

Do lado de fora, Servidor aborda Yamazi.<br />

SERVIDOR<br />

Senhor Yamazi, se não houver incomodo, o Mestre passará amanhã<br />

em sua residência para conversar o que ficou pendente.<br />

014. RUA <strong>DE</strong> CIDA<strong>DE</strong> - DIA<br />

CORTA PARA<br />

Yamazi e a sua assessora andando por aquelas mesmas ruas do centro<br />

financeiro de Tóquio e com o mesmo estado nervoso.<br />

ASSESSORA<br />

Patrão retirei a cama de madeira maciça e o candelabro religioso.<br />

YAMAZI<br />

É isso aí. Pediram tem que pagar. Não há nada mais dentro daquela<br />

casa com valor? Um fogão, um colar?<br />

ASSESSORA<br />

Não, além de miséria, eles só ficaram com as doenças.<br />

YAMAZI<br />

De que ouvi ontem, só está faltando eles terem conflito. Mas, não<br />

quero saber disso. O que interessa é saber qual é a taxa legal do dia<br />

para emprestarmos dinheiros a juros superiores a ela. Vamos andando<br />

porque tenho que ir para Bolsa de Valores fazer especulação com<br />

câmbio, preço das mercadorias, para auferir grandes lucros.<br />

015. INT. IGREJA<br />

CORTA PARA<br />

Ao mesmo tempo, Servidor está atendendo aquele participante, ambos<br />

sentados à moda japonesa, conversam. Yama chega meio tímido, mas<br />

é recebido com sorriso e com gesto indicando para se sentar.<br />

14


SERVIDOR<br />

Pois não, meu filho.<br />

YAMA<br />

Meu nome é Yama e sou filho de Yamazi, aquele que o senhor e o seu<br />

mestre irão lá em casa à noite. O problema é que sinto que meu pai<br />

precisa de ajuda, porém ele desconhece isso. Ele ...<br />

SERVIDOR<br />

Meishu-Sama disse que todos nós encontramos quatro tipos de<br />

pessoas neste mundo: um é aquele que nos ajuda, nos orienta; outro é<br />

aquele que precisa da nossa ajuda; outro é aquele que trabalha<br />

conosco na Obra Divina, e o último é aquele que nos purifica. Graças a<br />

Deus eu também tenho muitas pessoas que me purificam. Os<br />

senhores também devem ter, não é? Talvez eu seja a purificação dos<br />

senhores, mas isso é bom.<br />

RISOS.<br />

SERVIDOR<br />

É esse tipo de pessoa que purifica a gente é que precisa ser tratada<br />

com carinho. É o amor de Deus que nos faz encontrar pessoas assim.<br />

Quem é inteligente deve saber cuidar, porque existe alguém que nos<br />

purifica. Se não forem os vizinhos, serão os amigos ou será o marido,<br />

a esposa, o próprio pai.<br />

YAMA<br />

Tem um caso concreto de alguém que lhe purificou?<br />

016. PORTA DA BOLSA <strong>DE</strong> VALORES - DIA<br />

CORTA PARA<br />

Yamazi encontra Reiko que está apenas passando por ali, eles se<br />

cumprimentam com satisfação. Yamazi aponta orgulhosamente para<br />

aquele mercado de ações e diz com toda eloqüência.<br />

YAMAZI<br />

Cara colega Reiko de onde acha que veio essa maravilha, isso tudo?<br />

O que temos hoje é mesmo um mundo em estado de ...<br />

REIKO<br />

... colapso acumulativo, em plena patologia social.<br />

15


ASSESSORA<br />

Esse mercado de ações? Uma patologia social! Como assim?<br />

REIKO<br />

O dinheiro compra mão de obra agora. Não existe mais preocupação<br />

se há excedente suficiente para os outros. Não existe mais<br />

preocupação se estraga ou não, porque ele diz que dinheiro é como<br />

prata e ouro, e ouro não estraga e então o dinheiro não pode ser<br />

responsável pelo desperdício. O que é ridículo, pois não estamos<br />

falando de dinheiro e prata, mas de seus efeitos. É uma falsa<br />

conclusão atrás da outra. Apenas a mais surpreendente trapaça lógica<br />

com a qual sai impune, mas que serve aos interesses dos detentores<br />

do capital. Não há limites para quanta mão de obra alheia podem<br />

comprar, quanto podem acumular, quanta desigualdade - tudo se<br />

tornou dado como certo. Então quando as pessoas põem bens á<br />

venda, a oferta e outras pessoas os compram. Como fazemos a oferta<br />

equivaler á procura ou a procura equivaler á oferta? Como elas entram<br />

em equilíbrio? Uma das idéias centrais da economia é como elas<br />

entram em equilíbrio, ou seja, pela 'mão invisível do mercado'. Então<br />

agora temos um "Deus" iminente. Ele não apenas deu direitos á<br />

propriedade e todos seus recursos e "direitos naturais". Agora o<br />

sistema em si é "Deus".<br />

YAMAZI<br />

Deixe de dizer besteira. O mercado gira em torno da troca de bens<br />

reais, tangíveis e que sustentem a vida. Adam Smith ...<br />

REIKO<br />

... ele nunca imaginou que os setores econômicos mais rentáveis do<br />

planeta acabariam na arena do mercado financeiro, os chamados<br />

"investimentos", onde o dinheiro em si é simplesmente adquirido pela<br />

movimentação de dinheiro, em um jogo arbitrário que não tem nenhum<br />

mérito produtivo para a sociedade. No entanto, apesar da intenção de<br />

Smith, a porta para tais adventos anômalos foi deixada aberta por um<br />

dos princípios fundamentais desta teoria: o dinheiro é tratado como<br />

uma mercadoria, por si só. Hoje, em cada economia do mundo, seja<br />

qual for o sistema social alegado, busca-se o dinheiro pelo dinheiro e<br />

nada mais. A "mão invisível", é que a busca mesquinha e egoísta desta<br />

mercadoria fictícia irá de alguma forma resultar magicamente em bemestar<br />

humano e social e em progresso. Por isso que se diz que quando<br />

mais bens são vendidos, quando o PIB cresce etc., há um aumento no<br />

bem-estar e poderíamos tomar o PIB como nosso indicador básico de<br />

saúde social ... Aqui podemos ver a confusão. A seqüência monetária<br />

se desconecta da produção de qualquer coisa. Portanto, é um distúrbio<br />

no sistema que parece ser fatal.<br />

16


YAMAZI<br />

Ih! Já estou vendo que o dia de hoje vai ser aquela ―maravilha‖. Vamos<br />

almoçar vamos, hoje é por minha conta, até assessora está convidada.<br />

Quero aprimorar a minha paciência.<br />

017. INT. IGREJA<br />

CORTA PARA<br />

SERVIDOR<br />

Desde pequeno tive uma pessoa que me purificava. Era meu irmão<br />

mais velho. Ele era um Santo para todos, menos para mim. Todos<br />

elogiavam meu irmão, diziam que ele era religioso, tranqüilo, muito<br />

paciente. Mas comigo ele nunca teve paciência, sempre me batia. Eu<br />

era muito frouxinho, magrinho, baixinho, então ele, que era grande e<br />

forte, vivia sempre descansando o cotovelo em cima da minha cabeça.<br />

Por qualquer coisa ele me batia. Por exemplo: Nós dois ganhávamos<br />

chocolates, um para cada um. Antes que comesse o meu, ele me<br />

chamava: ―Vamos apostar os dois chocolates no jogo de xadrez.‖ Se<br />

eu dissesse não, aí já viram. Apanhava. Se ele ganhasse o jogo, ficava<br />

com os dois chocolates; se eu ganhasse, ele dizia que eu tinha feito<br />

marmelada. Aí eu apanhava. Como diz o ditado: ―Apanha por ter o<br />

cachorro, apanha por não ter o cachorro.‖ Sempre foi assim, eu não<br />

podia impor minha vontade. E isso como serviu para mim! Se não<br />

tivesse um irmão como ele, talvez me tornasse um jovem intolerável.<br />

Além disso, graças a ele adquiri este físico forte. Eu comecei a fazer<br />

exercícios para adquirir força e poder brigar com ele. Eu fazia ginástica<br />

com vontade, levantava pesos, treinava espadachim, judô, Kendô.<br />

Consegui ser faixa preta em tudo. Antes de dormir, eu ainda jogava o<br />

colchão nas costas e procurava me levantar do chão com o peso do<br />

colchão em cima.<br />

Um dia, quando tinha 17 anos chamei meu irmão para fazermos queda<br />

de braço. E ganhei facilmente. Desde esse dia ele nunca mais me<br />

bateu, tornou-se mais do que um pai para mim. Agora que ele já<br />

faleceu, eu sinto muita saudade dele. Agradeço de coração o que ele<br />

fez por mim. Por isso, quando nós encontrarmos alguém que nos<br />

purifique, o único caminho para sair da purificação é fortalecer a nossa<br />

espiritualidade. Assim o problema se resolverá naturalmente.<br />

YAMA<br />

(rindo)<br />

E fortalecer também a materialidade, ficando com esse ―bração‖.<br />

CORTA PARA<br />

17


018. RESTAURANTE<br />

REIKO<br />

Na sociedade atual, raramente ouve-se alguém falar do progresso de<br />

seu país ou sociedade em termos de bem-estar físico, estado de<br />

felicidade, confiança ou estabilidade social. Ao contrário, os<br />

indicadores nos são apresentados através de abstrações econômicas.<br />

Temos o PIB, o índice de preços ao consumidor, o valor do mercado<br />

de ações, índices de inflação e por aí vai. Mas isto nos diz algo de<br />

valor autêntico quanto á qualidade de vida das pessoas? Por exemplo,<br />

o produto interno bruto de um país mede o valor de bens e serviços<br />

vendidos. Alega-se que esta medida está correlacionada ao "padrão de<br />

vida" da população de um país. Os gastos com saúde nos EUA<br />

representaram mais de 17% do PIB em 2009, totalizando mais de 2,5<br />

trilhões e criando assim um efeito positivo neste indicador econômico.<br />

Com base nesta lógica, seria ainda melhor para a economia americana<br />

que os serviços de saúde crescessem mais - talvez para 3 trilhões ou 5<br />

trilhões - já que isto iria gerar mais crescimento e mais empregos e<br />

seria ostentado pelos economistas como um aumento no padrão de<br />

vida de seu país. Mas, espere um minuto. O que de fato representam<br />

os serviços de saúde? Bem, pessoas doentes e morrendo. É isso<br />

mesmo: Quanto mais americanos com problemas de saúde, melhor<br />

ficará a economia. Isto não é um exagero ou uma perspectiva cínica.<br />

De fato, se pararmos para pensar, perceberemos que o PIB não<br />

apenas não reflete a verdadeira saúde pública ou social em qualquer<br />

nível tangível, ele é, na realidade, um indicador de ineficácia industrial<br />

e de degradação social. Quanto mais ele cresce, pior fica a situação<br />

em relação á integridade pessoal, social e ambiental. É preciso criar<br />

problemas para gerar lucro. No paradigma atual, não há lucro em<br />

salvar vidas, manter o equilíbrio do planeta, promover a justiça, a paz<br />

etc. Não há lucro nisso. Existe um ditado antigo: "Aprove uma lei e<br />

abrirá um negócio". Seja criando um negócio para um advogado ou o<br />

que for. Portanto, crimes realmente abrem negócios, da mesma forma<br />

que a destruição abre negócios no Haiti.<br />

ASSESSORA<br />

Nossa! Como sou ignorante. Continue por favor, está ótimo.<br />

Yamazi olha com cara de desdém para àquele encantamento.<br />

REIKO<br />

Há hoje 2 milhões de encarcerados nos EUA, muitos dos quais estão<br />

em prisões dirigidas por empresas privadas que negociam ações em<br />

Wall Street com base no número de presos. Isso sim é doentio. Mas é<br />

18


um reflexo do que este paradigma econômico exige. E o que<br />

exatamente esse paradigma econômico exige? O que faz nosso<br />

sistema econômico girar? Consumo. Em outras palavras, o mercado<br />

global se baseia que quanto maior a taxa de consumo, maior o suposto<br />

crescimento econômico. E é assim que a máquina funciona. Mas,<br />

espere aí! Achei que uma economia fosse feita para, sei lá ...<br />

"economizar"? Não seria esse termo sinônimo de preservação,<br />

eficiência e redução do desperdício? Como então nosso sistema que<br />

demanda consumo - e quanto mais melhor ... pode eficientemente<br />

preservar ou "economizar" qualquer coisa? Bem, não pode. O objetivo<br />

do sistema de mercado é justamente o oposto do que uma economia<br />

de verdade deveria fazer, que é orientar, com eficiência e conservação,<br />

os materiais para a produção e distribuição de bens que sustentam a<br />

vida.<br />

ASSESSORA<br />

Vivemos num planeta finito, de recursos finitos onde, por exemplo, o<br />

petróleo que utilizamos leva milhões de anos para se formar e os<br />

minerais que usamos bilhões de anos. Ter um sistema que<br />

intencionalmente promove a aceleração do consumo, em prol do<br />

suposto "crescimento econômico", é puramente um ecocídio insano.<br />

REIKO<br />

Ausência de desperdício, isso sim é eficiência. Este sistema<br />

desperdiça mais do que qualquer outro da história do planeta. Cada<br />

nível de bio-organização e biossistema está em estado de crise,<br />

desafio, declínio ou de colapso. Nenhuma publicação científica dos<br />

últimos 30 anos lhe dirá algo diferente: Assim como os programas<br />

sociais e nosso acesso á água. Não é possível citar algum meio de<br />

vida que não esteja ameaçado. É impossível. Não há mesmo nenhum,<br />

o que é absolutamente desesperador. E ainda nem percebemos qual é<br />

o mecanismo causal. Não queremos enfrentar o mecanismo causal. Só<br />

queremos seguir vivendo. Aí está a insanidade: Continua-se a fazer<br />

sempre a mesma coisa apesar de claramente não estar funcionando.<br />

Portanto, não lidamos com um sistema econômico, mas, eu me<br />

atreveria a dizer, com um sistema antieconômico.<br />

019. INT. IGREJA<br />

CORTA PARA<br />

PARTICIPANTE<br />

Segundo recente notícia do exterior, uma seita cristã, não se<br />

importando absolutamente com a questão de ganhos ou perdas,<br />

19


declarou ser totalmente contra o armamento; firmando-se nessa<br />

posição, não há quem a convença. Certamente isso também não está<br />

errado. Sem dúvida, do ponto de vista religioso, está correto, mas, se<br />

porventura o país for arrasado, o que acontecerá? Naturalmente, não<br />

mais será possível fazer a difusão da Fé. Portanto, o princípio<br />

extremado contra a guerra não é senão o princípio de derrota na<br />

guerra. E o princípio do suicídio. Às vezes precisamos do ―bração‖.<br />

SERVIDOR<br />

Para orientar alguém é muito difícil. Orientar crianças já é muito difícil!<br />

Nossos próprios filhos são difíceis. É dificílimo! Eu sempre digo: se<br />

quer bater em seu filho, bata até 4 aninhos. As pessoas pensam ao<br />

contrário. Quando é bebezinho não bate, depois de quatro anos<br />

começa a bater. Por quê? Quando nenenzinho a pessoa só dá carinho<br />

pensando: - Tadinho ele não sabe de nada, não adianta falar que não<br />

entende. Lógico que não entende, ninguém ensinou. Primeiro o pai e a<br />

mãe têm que ensinar o que ele não sabe. Educar enquanto tiver 2 ou 3<br />

aninhos. Eu lembro até hoje, quando tinha 3 anos, uma vez, de repente<br />

eu levantei o braço para minha mãe, nossa! Minha mãe me bateu até<br />

meu bumbum ficar muito roxo. Não adiantava pedir perdão que<br />

continuava a bater. Bateu a bessa. Nunca mais levantei o braço para<br />

eles. Por isso graças a minha mãe que me ensinou quando eu tinha 3<br />

aninhos, até hoje nunca levantei minha mão para bater em ninguém.<br />

YAMA<br />

E para se orientar?<br />

SERVIDOR<br />

Ih, acho pior!<br />

Quando meu filho caiu doente eu fiquei várias noites sem dormir. Até<br />

que disse: ―Meishu-Sama, já chega. Se realmente meu filho nasceu<br />

para ter apenas 5 anos, para morrer e cumprir sua missão, por favor,<br />

leve o mais rápido possível, não precisa mais testar a mim.‖ Fiquei<br />

brabo com Meishu-Sama. E disse também: ―de hoje em diante deixo<br />

bem claro. Minha vida é sua inteiramente. Se quiser que eu faça<br />

alguma coisa, mexa o meu miolo.‖ Nesse dia, duas horas depois que<br />

eu briguei com Meishu-Sama, meu filho pegou febre, aumentou,<br />

aumentou e faleceu. Na hora não dá para compreender e só<br />

perguntava: ―Por que ele tem que ir à minha frente?‖ Só depois é que<br />

fiquei pensando: ―isso aconteceu para bem de mim, para me aprimorar.<br />

Isso aconteceu para me fortalecer, me tornar um homem inabalável.<br />

Se meu filho se recuperasse da doença, se tivesse vida até hoje eu me<br />

tornaria o homem mais fraco do mundo. Talvez por isso Meishu-Sama<br />

me deu esta purificação – para me fortalecer para desenvolver a Obra<br />

Divina que não é fácil.‖ Hoje tenho outro espírito. Eu era cara de pau,<br />

20


hoje sou cara de aço. Se morrer alguém amanhã não mudarei. Esta<br />

convicção meu filho me deu. Se eu não ganhasse essa força talvez<br />

não conseguisse dar o recado que o Alto quer.<br />

Quando meu filho morreu, telefonei para meu pai e ele disse: quando<br />

você perdeu o 1º filho eu disse – você limpou chaminé. Agora com a<br />

perda do 2º você ganhou a qualificação para ministro. Você agora não<br />

poderá julgar os membros quando estiverem purificando. Até agora eu<br />

dizia: a senhora está sofrendo porque tem que fazer isto, aquilo,<br />

porque está lá embaixo. Hoje eu dou meus sentimentos ou choro junto.<br />

020. RESTAURANTE<br />

CORTA PARA<br />

REIKO<br />

Há um velho ditado de que o modelo de mercado competitivo busca<br />

"criar os melhores produtos pelo menor preço possível". Essa<br />

afirmação é essencialmente o conceito de incentivo que justifica a<br />

concorrência mercantil com base na suposição de que o resultado é a<br />

produção de bens de melhor qualidade. Se eu fosse construir uma<br />

mesa, obviamente a produziria com os melhores e mais duráveis<br />

materiais existentes, correto? Visando que ela dure o máximo possível.<br />

Por que eu faria algo ruim sabendo que teria de refazê-la<br />

eventualmente, gastando mais materiais e energia? Bem, por mais<br />

racional que isso possa parecer, no caso do mercado isso não é<br />

apenas claramente irracional como não chega a ser uma opção. É<br />

tecnicamente impossível produzir algo da melhor maneira possível, se<br />

uma empresa pretende ser competitiva e mantiver seus produtos<br />

acessíveis ao consumidor. Literalmente tudo o que é criado e posto á<br />

venda na economia global é inferior logo no momento em que é<br />

produzido, pois é matematicamente impossível fazer produtos os mais<br />

cientificamente avançados, eficientes e sustentáveis possíveis. Isso<br />

ocorre, pois o sistema de mercado exige esta "eficiência de custos" ou<br />

porque é preciso reduzir os gastos em cada etapa da produção. Do<br />

custo da mão da obra ao custo dos materiais, da embalagem etc. Essa<br />

estratégia competitiva serve para assegurar que o público compre os<br />

seus produtos e não os do concorrente, que está fazendo a<br />

mesmíssima coisa para deixar seus produtos competitivos e<br />

acessíveis. Esta conseqüência invariavelmente esbanjadora do<br />

sistema poderia ser denominada "obsolescência intrínseca". No<br />

entanto, essa é apenas uma parte do problema.<br />

ASSESSORA<br />

Uma parte! E consegue ter mais?<br />

21


REIKO<br />

Um princípio fundamental que rege a economia de mercado e que<br />

você não encontrará em nenhum manual, é o seguinte: "Nada<br />

produzido pode ter uma vida útil maior que o necessário para manter o<br />

consumo cíclico". Em outras palavras, é fundamental que as coisas<br />

quebrem, falhem e deteriorem-se dentro de dado tempo. Isso se<br />

chama "obsolescência programada". Em outras palavras, a<br />

sustentabilidade do produto é, na verdade, contrária ao crescimento<br />

econômico e por isso há um incentivo direto e reforçado para garantir<br />

que a durabilidade de qualquer produto seja curta. Na realidade, o<br />

sistema não pode funcionar de outra maneira. Um olhar para o mar de<br />

aterros ao redor do mundo mostra a realidade da obsolescência.<br />

YAMAZI<br />

Espera aí Reiko. Daqui a pouco vai dizer que o fato é que não há<br />

benefício monetário em resolver quaisquer problemas que estejam<br />

atualmente sendo tratados.<br />

REIKO<br />

E digo mesmo. No final das contas, a última coisa que as instituições<br />

médicas realmente querem é curar doenças como o câncer, o que<br />

eliminaria inúmeros empregos e trilhões em receitas. E já que estamos<br />

no assunto. O crime e o terrorismo são coisas boas neste sistema!<br />

Bem, ao menos economicamente, já que empregam a polícia e elevam<br />

os gastos com segurança, sem mencionar o valor das prisões, que são<br />

privadas e visam o lucro. E que tal as guerras? A indústria bélica nos<br />

EUA é uma grande impulsionadora do PIB - uma das indústrias mais<br />

lucrativas, produzindo armas letais e destrutivas. O jogo favorito dessa<br />

indústria é explodir as coisas e depois reconstruí-las visando o lucro.<br />

Vimos isso com os inesperados contratos bilionários feitos desde a<br />

Guerra do Iraque.<br />

021. INT. IGREJA<br />

CORTA PARA<br />

SERVIDOR<br />

Quando nós nascemos neste mundo estamos embaixo de uma<br />

montanha. O objetivo é subir a montanha até em cima. Cada subida é<br />

um momento de sofrimento. Cansa. Parece que temos algum tempo<br />

para descansar, tomar fôlego. É o tempo de felicidade que nós<br />

saboreamos. Todo mundo pensa: Por que esse sofrimento não acaba?<br />

O objetivo da vida não é acabar o sofrimento, é subir ao topo da<br />

montanha. Um ministro disse: ―tive muita fase de felicidade. Nestes<br />

22


dois meses estou apanhando. Não sinto mais vontade de orientar<br />

ninguém. Eu me sinto tão pequeno. Estou me acabando.‖ Eu digo:<br />

―Graças a Deus, hoje é que você está subindo bem a montanha; até<br />

dois meses atrás você esteve descansando.‖ Muita gente tem inveja<br />

dos que tem alegria e felicidade. Não pegue essa inveja de quem está<br />

acomodado. Digam: ―vocês estão descansando, tchau, eu estou<br />

subindo.‖ O tempo para descansar é determinado. Quanto menor,<br />

jovem, mais se esforça para subir; chega a velhice é tempo de<br />

descansar. Essa montanha não acaba nessa encarnação. Se morrer<br />

haverá outra montanha; isso não acaba.<br />

YAMA<br />

Desculpe-me, mas, há um caso concreto?<br />

PARTICIPANTE<br />

Aquele caso que o senhor narrou sobre o "bêbado-tigre".<br />

YAMA<br />

"Bêbado-tigre"! O que é isso?<br />

PARTICIPANTE<br />

Japonês que à medida que bebe, fica com seus olhos ainda mais<br />

repuxados; o tom de voz altera-se com todos e termina querendo briga.<br />

A maioria acaba com ferimentos a contusões. Se por acaso encontrarse<br />

com alguém da classe "bêbado-tigre", jamais há de esquecê-lo.<br />

022. RESTAURANTE<br />

CORTA PARA<br />

YAMAZI<br />

Assim, para você, o sonho americano para o qual vim encantado é<br />

baseado no distúrbio no sistema de valores. É isso?<br />

REIKO<br />

Infelizmente tenho que lhe dizer que sim. O sonho americano é<br />

baseado no consumismo desenfreado. Se há uma prova de quão as<br />

pessoas podem ser condicionadas e direcionadas é o mundo da<br />

publicidade. É de ficar pasmo o nível de lavagem cerebral com que<br />

esses robôs programados conhecidos como "consumidores" vagam<br />

pela paisagem, apenas para entrar numa loja e gastar, digamos 5 mil<br />

numa bolsa que provavelmente custou 10 para ser feita numa fábrica<br />

escravizante no exterior. Apenas pelo status que a marca<br />

supostamente representa na cultura. Ou talvez as tradições populares<br />

23


antigas, que aumentam a confiança e a coesão da sociedade, e foram<br />

seqüestradas pelos valores materialistas, que nos fazer trocar nossas<br />

porcarias inúteis algumas vezes por ano.<br />

023. INT. IGREJA<br />

CORTA PARA<br />

SERVIDOR<br />

Após o jantar, reuni alguns jovens a iniciamos um bate-papo animado e<br />

proveitoso. Sentei-me no lugar principal, tendo às minhas costas, no<br />

alto da parede, uma foto de Meishu-Sama trajando roupa ocidental.<br />

À minha frente foram colocadas algumas pêras, gentilmente trazidas<br />

pelos membros. A maioria dos jovens participantes ainda não era<br />

membro e a conversa acabou se tornando, a seguir, uma verdadeira<br />

aula sobre a missão e o objetivo da Igreja Messiânica Mundial.<br />

Pouco tempo era decorrido, quando um bêbado abriu bruscamente a<br />

porta a entrou na sala. Tratava-se de um jovem de 25 anos<br />

aproximadamente, com um estupendo porte físico, dando a impressão<br />

de ser um trabalhador braçal. Seu rosto era branco a empalidecido a<br />

seu olhar, fixo. Seu estado não deixava dúvidas: estava totalmente<br />

bêbado. Fitou-me por cima dos óculos a me dizer ironicamente:<br />

- Explique para mim. Tem alguma queixa?<br />

Respondi-lhe então:<br />

- Estamos numa conversa séria. Apareça, por favor, noutra hora,<br />

quando estiver mais sóbrio.<br />

Com dificuldade na fala, como acontece com a maioria dos bêbados,<br />

ele retrucou:<br />

- Qual é ó cara? Eu quero explicações!<br />

Pedi-lhe, então, com voz suave e delicada, que se retirasse do recinto<br />

a fosse para casa. Quanto mais eu pedia, mais ele se mostrava<br />

arrogante, não dando atenção às minhas palavras. Subitamente se<br />

levantou meio desequilibrado a muito enraivecido, ameaçando-me. Em<br />

voz firme, disse-lhe:<br />

- Nada de violências aqui!<br />

Aos berros, ele me retrucou, com o rosto vermelho de raiva:<br />

- Qual é a tua, ó cara?<br />

À medida que ele abria a boca, dava-me a impressão que seus lábios<br />

alcançavam as orelhas. E, numa tentativa de apanhar-me atrás da<br />

mesa, ele abriu os braços em ameaça. Naquele instante, senti como se<br />

fosse ser atacado por um tigre. Quando ele se aproximou de mim,<br />

ficando a menos de um metro, instantaneamente, sem pensar, eu<br />

levantei a mão direita numa atitude de defesa, invocando Meishu-<br />

Sama baixinho, exatamente corno se estivesse ministrando Johrei.<br />

24


Nesse instante, misteriosamente, ele foi jogado para trás, caindo<br />

estatelado. Estou certo de que não o toquei com um dedo sequer.<br />

Mais uma vez, colocando-se em posição de ataque, com o ódio<br />

subindo-lhe à cabeça, ameaçou-me:<br />

- Você quer brigar mesmo, não é?<br />

Levantei novamente a mão direita e outra vez ele foi jogado para trás,<br />

caindo exatamente como se tivesse sido bruscamente empurrado por<br />

um campeão de judô batendo com a cabeça na parede, onde ficou<br />

prostrado. Seus óculos voaram em outra direção e, ao levantar-se,<br />

percebi o sangue escorrendo-lhe pela testa. O rapaz, no entanto, era<br />

"duro na queda" e não desistiu. Com horrível expressão facial,<br />

banhado de sangue, tentou agarrar-me mais três ou quatro vezes. Em<br />

todas elas, eu levantei a mão e, da mesma forma, o jovem caiu. Ao<br />

levantar a mão, eu invocava Meishu-Sama. Todos os que estavam no<br />

quarto ficaram tão impressionados com o ocorrido que, estáticos, nada<br />

fizeram para impedir a violência do rapaz. Recobrando parcialmente os<br />

sentidos, balançou o rosto, fitando-me com incontrolável ódio a<br />

respiração ofegante. Indiquei-lhe com o dedo a fotografia de Meishu-<br />

Sama, pedindo-lhe que a olhasse. Com olhar de desprezo a ar irônico,<br />

ele me xingou e me ameaçou agarrar espumando pela boca. Os<br />

jovens, então, criaram coragem, mas quando afinal resolveram impedir<br />

que o jovem consumasse a agressão, foram por mim advertidos:<br />

- Soltem-no! Não se preocupem!<br />

YAMA<br />

E como isso acabou?<br />

YAMAZI<br />

E os economistas?<br />

024. RESTAURANTE<br />

CORTA PARA<br />

REIKO<br />

Na verdade, os economistas nada têm de economistas. São<br />

propagandistas do valor do dinheiro. Você verá que todos os seus<br />

modelos são basicamente voltados a trocas de símbolos que<br />

correspondem ao lucro, mas eles estão totalmente desconectados do<br />

mundo real da reprodução.<br />

Um idoso não pagou sua conta de luz e a companhia elétrica cortou o<br />

serviço e ele morreu de frio. O motivo deles cortarem é que não seria<br />

lucrativo manter o serviço porque ele não pagou sua conta. Você acha<br />

isso certo? A responsabilidade não recai sobre a companhia elétrica<br />

25


por cancelar o serviço, mas em cima dos vizinhos, amigos e<br />

conhecidos deste homem, que não foram caridosos o bastante para<br />

ajudá-lo.<br />

ASSESSORA<br />

Hummm ... Eu ouvi isso direito? A morte de um homem, causada por<br />

ele não ter dinheiro, foi por culpa de outras pessoas ou por falta de<br />

caridade? Pois bem, acho que vamos precisar de um monte de<br />

infomerciais, caixinhas de donativos miseráveis e uma porção de<br />

cofrinhos para os bilhões de pessoas que morrem de fome hoje neste<br />

planeta, devido ao sistema capitalista.<br />

REIKO<br />

As necessidades humanas, os recursos naturais e qualquer forma de<br />

eficiência que sustente a vida são automaticamente descartados e<br />

substituídos pela noção única de que os humanos, buscando tirar<br />

vantagem uns dos outros só pelo dinheiro, motivados pelo egoísmo<br />

mesquinho, criarão magicamente uma sociedade sustentável, saudável<br />

e equilibrada. Não há referência á vida em toda essa teoria, em toda<br />

essa doutrina. A única coisa em que estão interessados em<br />

automaximizar é dinheiro ou mercadorias. Mas onde entram as<br />

relações sociais? Não entram, exceto nas trocas para automaximizar.<br />

E onde entram nossos recursos naturais? Não entram, exceto na<br />

exploração deles. Onde entra a questão da sobrevivência da família?<br />

Não entra. Ela precisa de dinheiro para comprar qualquer bem. Mas,<br />

uma economia não deveria lidar com necessidades humanas também?<br />

Não é essa a questão fundamental? "Necessidade" sequer está em<br />

seu dicionário. Ela é dissolvida em "desejos".<br />

025. INT. IGREJA<br />

CORTA PARA<br />

SERVIDOR<br />

Foi então que, de repente, apareceu uma senhora de<br />

aproximadamente 50 anos, trajando roupas brancas. Pela sua idade,<br />

suas vestes a sua atitude, percebi ser a mãe do rapaz. Aos gritos, num<br />

idioma estranho, ela o repreendeu, puxando-o, ao mesmo tempo, para<br />

o quarto contíguo. A seguir, o que se ouviu foi apenas a voz<br />

ensurdecedora da mãe advertindo o filho, voz que aos poucos se<br />

misturou com o barulho dos passos do rapaz, descendo as escadas,<br />

escorregando e caindo. A discussão entre mãe e filho prosseguiu pelos<br />

corredores da hospedaria afora.<br />

26


Suspiramos, aliviados. Endireitei minha roupa e propus voltarmos ao<br />

assunto relativo à Igreja Messiânica Mundial. A essa altura, a<br />

discussão entre mãe e filho já se fazia distante e quase inaudível.<br />

YAMA<br />

Felizmente acabou assim.<br />

SERVIDOR<br />

- Depois que foi levado para casa, ele apanhou um toco de lenha e<br />

passou a quebrar vidros e janelas. Quando se viu impedido, segurado<br />

pelo pai, conseguiu desvencilhar-se e, louco de raiva, atingiu-lhe a<br />

cabeça, matando-o. A seguir, ele foi preso pela polícia.<br />

No dia da aula, o número previsto de participantes, que era de 10<br />

pessoas, na verdade elevou-se para mais de 50, tendo todas elas, sem<br />

exceção, ingressado como membros.<br />

PARTICIPANTE<br />

Um Ministro me contou um caso, que eu achei bastante interessante:<br />

existiam duas famílias, uma família era constituída de intelectuais,<br />

conceituadas, estudiosos, pessoas de certo posicionamento social,<br />

mas que viviam em conflito. E a outra família era constituída de<br />

pessoas mais humildes, porém, viviam em completa paz.<br />

Certo dia, o chefe da família das pessoas conceituadas foi perguntar a<br />

esse Ministro: ―Ministro, porque na minha casa nós temos tudo para<br />

viver em paz e não conseguimos, e que na outra família que não tem<br />

nada pra viver em paz, mas eles vivem em perfeita harmonia‖?<br />

Aí, o Ministro falou para ele: ―Sabe por quê? É que na outra família<br />

todo mundo é errado. E, na sua casa todo mundo é certo. Então, como<br />

lá todo mundo é certo, toda hora entram em choque e acontece o<br />

seguinte, se chega um e diz:<br />

- O lugar desse copo é aqui! Aí, chega o outro e diz:<br />

- Não! O lugar dele é aqui!<br />

Então, cria aquela confusão, já lá na outra família dos humildes é<br />

diferente, se alguém tropeça em sapato fora do lugar diz:<br />

- Ah, me desculpe que eu deixei o sapato fora do lugar.<br />

- Não, me desculpe, fui eu que não vi sapato aí, eu é que sou o errado.<br />

Mas já na sua casa, se alguém tropeça no sapato fora do lugar:<br />

- Por que você deixou o sapato fora do lugar? Você é um relaxado!<br />

- Eu não! Você é que é um cego! Você não olhou para o chão!<br />

Só há briga onde todo mundo acha que é certo, e não há briga onde<br />

todo mundo acha que é errado. Então, na verdade, para evitar<br />

conflitos, a gente deve procurar ser um pouco ―errado‖, no bom<br />

sentido, para criar mais harmonia.<br />

CORTA PARA<br />

27


026. RESTAURANTE<br />

REIKO<br />

Até agora nos focamos só no sistema de mercado. Mas esse sistema é<br />

apenas metade do paradigma econômico global. A outra metade é o<br />

sistema monetário. Enquanto o sistema de mercado lida com a<br />

interação das pessoas, produção e distribuição, o sistema monetário é<br />

um conjunto de regras fundamentais determinadas pelas instituições<br />

financeiras, que criam condições para o sistema de mercado, entre<br />

outras coisas. Isso inclui termos que ouvimos bastante como "taxa de<br />

juros", "empréstimos", "dívida", "oferta monetária", "inflação" etc.<br />

A economia global possui três preceitos básicos que a governam. O<br />

primeiro é o sistema de reserva fracionária, com os bancos imprimindo<br />

dinheiro do nada. É baseada também em juros acumulados. Quando<br />

você pega dinheiro emprestado, precisa devolver mais do que pegou, o<br />

que significa que você, na prática, cria dinheiro do nada de novo, cujos<br />

juros têm de ser pagos pela criação de ainda mais dinheiro. Nós<br />

vivemos num paradigma de crescimento infinito. Nada cresce para<br />

sempre. É impossível. A única coisa que cresce no corpo humano<br />

depois de certa idade é o câncer. Não é só a quantidade de dinheiro<br />

que precisa continuar crescendo, mas também a de consumidores.<br />

Consumidores que contraiam empréstimos a juros, para gerar mais<br />

dinheiro, o que obviamente é impossível num planeta finito. As<br />

pessoas são basicamente veículos para criar dinheiro que devem criar<br />

mais dinheiro para impedir que tudo desmorone, que é o que está<br />

acontecendo neste momento.<br />

(pausa)<br />

Há apenas duas coisas que alguém precisa saber sobre o sistema<br />

monetário. 1. Todo o dinheiro é criado a partir de dívida. Dinheiro é<br />

dívida monetizada, seja se materializando a partir dos títulos do<br />

tesouro, contratos de hipoteca ou cartões de crédito. Em outras<br />

palavras, se toda a dívida ativa fosse quitada agora não haveria<br />

nenhum dólar em circulação. 2. Cobra-se juros sobre praticamente<br />

todos os empréstimos feitos e o dinheiro necessário para pagá-los não<br />

existe no suprimento monetário de imediato. Somente o principal é<br />

criado pelos empréstimos e o principal é o suprimento monetário. Se<br />

todas as dívidas fossem quitadas agora não apenas não haveria mais<br />

um dólar em circulação, como haveria uma quantia gigantesca de<br />

dinheiro devido que é literalmente impossível de ser pago, pois não<br />

existe. A conseqüência disso tudo é que duas coisas são inevitáveis:<br />

Inflação e falência.<br />

A inflação pode ser vista como uma tendência histórica em quase<br />

todos os países e facilmente ligada á sua causa, que é o aumento<br />

28


perpétuo do suprimento monetário, necessário para cobrir os juros e<br />

manter o sistema funcionando. Quanto á falência, ela vem na forma de<br />

colapso pela dívida. Esse colapso ocorrerá inevitavelmente com uma<br />

pessoa, um negócio ou um país, e geralmente acontece quando o<br />

pagamento dos juros torna-se impossível. Mas há um lado bom nisso<br />

tudo, pelo menos em termos de sistema de mercado. Porque a dívida<br />

cria pressão. A dívida cria escravos assalariados. Uma pessoa<br />

endividada tem mais chances de aceitar um salário baixo do que uma<br />

pessoa sem dívidas, tornando-se assim mercadoria barata. Assim, é<br />

ótimo para as corporações ter um grupo de pessoas sem mobilidade<br />

financeira. Mas essa mesma idéia vale para países inteiros. O Banco<br />

Mundial e o FMI, que servem como pontes para os interesses<br />

corporativos transnacionais, fornecem empréstimos enormes para<br />

países com dificuldades a juros altíssimos, e quando estes países<br />

estão profundamente endividados e não podem mais pagar, aplicamse<br />

medidas de austeridade, as corporações entram em cena, abrem<br />

fábricas escravizantes e tomam seus recursos naturais. Isso sim é<br />

eficiência de mercado. Mas espere, tem mais.<br />

ASSESSORA<br />

E consegue ter mais?<br />

REIKO<br />

Existe essa mistura única de sistema monetário com o sistema de<br />

mercado, chamado de mercado de ações, que ao invés de produzir<br />

algo real, apenas compra e vende o dinheiro em si. E quando se trata<br />

de dívida, sabe o que é feito? Isso mesmo, eles negociam a dívida.<br />

Eles efetivamente compram e vendem dívidas pelo lucro. Desde dívida<br />

do consumidor, até complexos esquemas de derivativos usados para<br />

mascarar a dívida de países inteiros, como no caso do conluio do<br />

banco de investimentos que quase provocou o colapso da economia<br />

européia. Então, em se tratando do mercado de ações e Wall Street<br />

temos um nível totalmente novo de insanidade nascido da seqüência<br />

monetária do valor. Tudo o que você precisa saber sobre mercados foi<br />

escrito a alguns anos num editorial do Wall Street Journal intitulado<br />

"Lições de um investidor com danos cerebrais". Neste editorial, eles<br />

explicaram por que pessoas com um leve dano cerebral se saem<br />

melhor como investidores do que pessoas com funcionamento normal<br />

do cérebro. Por quê? Porque pessoas com um leve dano cerebral não<br />

têm empatia. Essa é a chave. Se você não tem nenhuma empatia será<br />

um ótimo investidor, e dessa maneira Wall Street cria pessoas sem<br />

empatia para chegar lá, tomar decisões e realizar negociações sem<br />

escrúpulos, sem considerar se a maneira como estão sendo feitas<br />

pode afetar outros seres humanos. Assim eles criam esses robôs,<br />

29


essas pessoas desalmadas. E já que nem essas pessoas eles querem<br />

pagar mais estão agora criando robôs de verdade: Algoritmos para<br />

negociações. Goldman Sachs, no escândalo das transações de alta<br />

freqüência, colocou um computador junto á bolsa de valores de Nova<br />

lorque.<br />

(pausa)<br />

Quando eu trabalhava em Wall Street, tudo mundo promovia em troca<br />

de suborno. O operador suborna o gerente de escritório. O gerente de<br />

escritório suborna o gerente regional de vendas. O gerente regional de<br />

vendas suborna o gerente nacional de vendas. É uma prática comum.<br />

No Natal, quem ganha o maior bônus na posição de operador de<br />

bolsa? O auditor interno. O auditor interno fica lá sentado o dia todo.<br />

Ele deveria garantir que você não viole nenhuma das regras de<br />

margem e de que está "cumprindo" as leis. Claro, até o ponto em que<br />

você pode subornar o auditor interno. É isso mesmo, você está<br />

cumprindo a lei! Como então a fraude se tornou o sistema? Ela não é<br />

mais um subproduto. Ela é o sistema.<br />

É como aquela velha piada do Woody Allen: "Doutor, meu irmão pensa<br />

que ele é uma galinha". E o médico diz: "tome uma pílula, e isto deve<br />

resolver o problema". "Não doutor, você não entende. Nós precisamos<br />

dos ovos". OK?<br />

A troca incessante de ações fraudulentas entre bancos para gerar<br />

taxas, para gerar bônus, tornou-se o motor de crescimento do PIB da<br />

economia dos EUA embora estejam essencialmente trocando ações<br />

fraudulentas que não têm nenhuma chance de serem pagos algum dia.<br />

Eles estão processando, gerando e ressegurando nada. Se eu<br />

escrever 20 bilhões em um guardanapo e vender ele para J.P. Morgan,<br />

e J.P. Morgan escreve 20 bilhões em outro guardanapo e nós<br />

trocamos estes dois guardanapos num bar e nos pagamos um quarto<br />

de 1% de taxa, fazemos muito dinheiro para o nosso bônus de Natal.<br />

Nós temos em nossos registros um guardanapo de 20 bilhões que não<br />

tem nenhum valor real até o momento em que o sistema não é mais<br />

capaz de absorver guardanapos falsos, que é quando vamos ao<br />

governo receber pacotes de ajuda. E por causa de Wall Street e do<br />

mercado global de ações, há hoje, pelo menos, cerca de 700 trilhões<br />

em ações fraudulentas não pagas, conhecidas como "derivativos",<br />

ainda á espera do colapso. Um valor que equivale a 10 vezes mais que<br />

o produto interno bruto de todo o planeta. Apesar de já termos visto o<br />

resgate de corporações e bancos pelos governos - os quais<br />

comicamente pegam o dinheiro emprestado dos próprios bancos. O<br />

que vemos hoje são tentativas de resgate de países inteiros por<br />

conglomerados formados por outros países, através de bancos<br />

internacionais. Mas como se resgata um planeta? Não há nenhum país<br />

30


que não esteja saturado de dívida. A sucessão de calotes<br />

governamentais que vimos pode ser só o começo, se fizermos os<br />

devidos cálculos. Estima-se que, apenas nos EUA, o imposto de renda<br />

terá de ser aumentado para 65% por pessoa, apenas para cobrir os<br />

juros, num futuro próximo. Economistas acreditam que dentro de<br />

algumas décadas, 60% dos países irão falir. Mas espere aí ... Deixeme<br />

ver se entendi. O mundo está indo á falência, seja lá o que isso<br />

signifique, por causa dessa idéia chamada "dívida" que nem sequer<br />

existe no mundo real. É apenas parte de um jogo que inventamos, e<br />

ainda assim, o bem-estar de bilhões de pessoas está sendo<br />

comprometido. Demissões em massa, favelas, pobreza crescente,<br />

medidas de austeridade, escolas fechando, crianças passando fome e<br />

outros níveis de privação familiar, tudo por causa dessa elaborada<br />

ficção.<br />

027. EXT. RESIDÊNCIA <strong>DE</strong> YAMAZI - NOITE<br />

CORTA PARA<br />

Meishu-Sama está chegando ao portão de fora no lar dos Yamazi,<br />

sendo recebido em primeiro lugar com muitas lambidas por um cão.<br />

Em seguida por MARYAM - esposa de Yamazi – que chama a atenção.<br />

MARYAM<br />

O cão danado porque não vai lamber seu dono que está ali?<br />

MEISHU-SAMA<br />

Ele não está incomodando, pelo contrário, estou muito satisfeito por<br />

essa calorosa e molhada recepção.<br />

Todos ficam rindo, inclusive pelo cachorro estar rolando na grama com<br />

seu dono Yamazi.<br />

MARYAM<br />

Esse cachorro grande com aspecto expressivo e festivo que só vive<br />

com o rabo pra cima e com olhar alegre. Olha como eles se amam.<br />

Após aquele acolhimento, o convidado Meishu-Sama acompanha seus<br />

anfitriões.<br />

028. INT. RESIDÊNCIA <strong>DE</strong> YAMAZI - NOITE<br />

Entre risos e chá tem início a conversa programada.<br />

31


MEISHU-SAMA<br />

Vou direto ao assunto. Esses dois temas ―reencarnação prematura‖ e<br />

―inveja e ódio dos encarnados e desencarnados‖ são vitais para o<br />

senhor e sua família.<br />

Os familiares se entreolham com certa apreensão.<br />

(continuando)<br />

Comecemos pela reencarnação prematura.<br />

(pausa)<br />

O tempo que o homem leva para reencarnar é bastante variável,<br />

podendo a reencarnação ocorrer cedo ou tarde. A rapidez ou atraso<br />

são determinados pela própria vontade da pessoa. Quando alguém<br />

morre e tem muito apego a este mundo, reencarna mais cedo. Mas<br />

isso não traz bons resultados, porque no Mundo Espiritual a purificação<br />

é mais rigorosa e, quanto mais tempo o espírito lá permanecer, mais<br />

será purificado. Quanto mais purificado estiver, mais feliz será ao<br />

reencarnar. No caso de reencarnação prematura, a purificação não foi<br />

completa, restando impurezas que deverão ser purificadas neste<br />

mundo. Ora, a purificação no Mundo Material traduz-se em sofrimentos<br />

como doenças, pobreza, acidentes e até hibridismo; obviamente, a<br />

pessoa terá um destino infeliz.<br />

(pausa)<br />

Sobre a inveja e ódio dos encarnados e desencarnados.<br />

O que mais existe no mundo são pessoas que, por ambição<br />

desmedida, aborrecem, fazem sofrer e levam os outros à desgraça.<br />

Isso é produto das idéias materialistas, que negam o invisível, mas,<br />

analisando do ponto de vista espiritual, é algo realmente terrível. Como<br />

tais pessoas fazem os outros sofrerem, os que são atingidos ficam<br />

cheios de rancor, de ódio por elas e procuram retribuir-lhes o mal que<br />

receberam. Esses pensamentos são transmitidos à pessoa visada<br />

através do elo espiritual. A imagem espiritual do ódio e do rancor é tão<br />

pavorosa, que, se pudesse enxergá-la, qualquer perverso morreria<br />

instantaneamente. Entretanto, se as pessoas atingidas não são apenas<br />

uma ou duas, mas milhares ou milhões, forma-se um monstro ainda<br />

mais horripilante, que circunda esse perverso de diversas maneiras e<br />

tenta destruí-lo. A situação dele, portanto, é insuportável. Mesmo<br />

sendo um bravo ou um grande herói, terá um fim miserável.<br />

Frequentemente, os novos-ricos e deslumbrados caem, subitamente,<br />

numa situação calamitosa, devido à inveja e ao pensamento de outros,<br />

os quais se transformam no espírito maligno, num véu negro que os<br />

derruba. Por isto, aqueles que se tornaram ricos recentemente, sendo<br />

32


invejados ou odiados pelos outros, não permanecem assim muito<br />

tempo. Concluindo, caem as pessoas que não tem virtudes ou não as<br />

acumulam. Ao contribuir para a sociedade e ao acumular virtudes, o<br />

sentimento de gratidão dos beneficiados se transforma em luz e a<br />

auxilia na forma de divindades e espíritos. Por isto, podem se manter<br />

em segurança. Mas, geralmente, estas pessoas vão pecando cada vez<br />

mais e, consequentemente, não podem ter um bom destino. Pessoas<br />

privilegiadas muitas vezes sofrem queda na situação social ou posição<br />

quando fazem algo de errado ou não praticam virtudes. Então,<br />

necessariamente acabam caindo, devido às máculas que passam a<br />

rodeá-los.<br />

YAMAZI<br />

Mas, por que esses dois temas são vitais para mim e minha família?<br />

MEISHU-SAMA<br />

Da maneira com o que o senhor vem se comportando o seu destino<br />

está sendo traçado de forma muito desafortunada. Procure não ser<br />

odiado, busque ganhar o sentimento dos que lhe pedem dinheiro<br />

emprestado. Saia desse mundo de especulação na Bolsa de Valores.<br />

YAMAZI<br />

(rindo com malícia)<br />

Para isso não devo cobrar quem me deve? Ou quem sabe, oferecer<br />

algum dinheiro para sua Igreja a fim de me redimir de algum pecado?<br />

MEISHU-SAMA<br />

(levantando-se)<br />

Bom, a orientação já foi dada. Nada mais me resta a fazer a não ser<br />

agradecer pela hospitalidade e orar por si e sua família.<br />

Embora aturdidos, todos acompanham Meishu-Sama até lá fora.<br />

029. EXT. RESIDÊNCIA <strong>DE</strong> YAMAZI - NOITE<br />

O cão pressente alguma coisa não muito boa, o ambiente já não está<br />

tão festivo.<br />

MEISHU-SAMA<br />

(para o cão)<br />

Cão, daqui alguns anos ficará surpreso virando gente. E mais surpreso<br />

ainda quando souber que o que era gente virou um homem animal.<br />

Yamazi não gosta do que escuta e retruca.<br />

33


YAMAZI<br />

Só falta dizer que esse cachorro vai se tornar humano e quem sabe eu,<br />

um animal. Seria até engraçado, eu seu dono passar a tê-lo como meu<br />

dono. Seria essa a loucura que o senhor destina a mim e a minha<br />

família?<br />

MEISHU-SAMA<br />

Tudo irá depender do senhor.<br />

YAMA<br />

Além da oração por nós, da sua orientação, o que mais depende ...<br />

MEISHU-SAMA<br />

Uma vez eu disse para uma senhora que eu não me importava de cair<br />

no Inferno desde que antes conseguisse levar todas as pessoas do<br />

mundo para o Paraíso. E disse ainda que até mesmo Deus, há<br />

ocasiões em que Ele é forte, e outras, em que Ele é fraco. Isso<br />

expressa a sua atuação para salvar o mundo das bestas.<br />

Os familiares se entreolharam sem nada entender, Meishu-Sama pisca<br />

o olho para o cão.<br />

030. CASCATA <strong>DE</strong> KEGON - DIA<br />

CORTA PARA<br />

Legenda: Cascata de Kegon, três anos mais tarde, 1955.<br />

Yamazi, transtornado e apavorado, se encontra do lugar mais alto<br />

desta queda de água. Seus olhos vêem um monstro horripilante que o<br />

circunda, tentando destruí-lo. Ele procura afastar com suas mãos<br />

aquele algo invisível. A situação dele é insuportável, só lhe resta um<br />

instante que permite dizer ...<br />

YAMAZI<br />

Por que não ouvi o que me foi orientado. Parto sem ao menos pagar<br />

um pouco pelo mal que fiz.<br />

Um véu negro o derruba. Sua angústia transpassa sua face donde se<br />

vê um espírito não mais no Mundo Material.<br />

FA<strong>DE</strong> OUT<br />

34


MEIO - 1<br />

35


031. AEROPORTO NA SIBÉRIA - NOITE<br />

FA<strong>DE</strong> IN<br />

Legenda: Sibéria, 1991, trinta e seis anos se passou. Yamazi, com<br />

seus mais de 80 anos entre vida, morte e vida, está muito abatido. Ao<br />

seu lado, seu filho com 55 anos de idade, o está consolando.<br />

YAMA<br />

Pai, que tragédia. Seu maior amigo – Silêncio de Deus – morrer nesse<br />

desastre aéreo aqui na Sibéria. Mas, estamos aqui para orar por ele.<br />

Yamazi também está com a cabeça na vida que continua, na missão<br />

que tem que ser cumprida.<br />

YAMAZI<br />

Não só orar, mas também continuar seu trabalho, só que em sociologia<br />

é o que posso fazer. Yama acho que você poderia oferecer seus<br />

conhecimentos em Direito e Administração.<br />

YAMA<br />

Infelizmente tenho que retornar a América do Norte, meu filho ainda<br />

precisa de mim. Afinal ele ainda não chegou à idade de Cristo.<br />

YAMAZI<br />

Então vamos combinar assim: depois que eu falecer você oferece esse<br />

seus conhecimentos, está bem assim?<br />

Enfim um momento de descontração, os dois esboçam um leve sorriso.<br />

YAMAZI<br />

Não entendi por que você saiu do Japão e foi para os Estados Unidos,<br />

morar sozinho com apenas 32 anos, levando meu neto de sete anos.<br />

YAMA<br />

Sofri muito com o seu suicídio, enfrentei raivas e discriminações. Um<br />

ano antes de ir para a América do Norte, sofri mais ainda com o seu<br />

retorno e ainda por cima como meu cachorro. Como foi difícil esconder<br />

e entender tudo isso. Até que escutei uma voz dizer que meu filho, que<br />

tinha sido um grande servidor na última encarnação, veio nessa<br />

reencarnação com uma grande missão. Foi aí que, mesmo sem<br />

entender direito, eu fiz um pacto comigo mesmo, iria para bem longe e<br />

o protegeria até quando ele tivesse a minha idade.<br />

CORTA PARA<br />

37


032. INT. ANFITEATRO<br />

A cena que ocorreu com Silêncio de Deus, se repete. Aquele secretário<br />

IGOR e Yamazi entra no anfiteatro da Juventude Comunista. Todos se<br />

levantam.<br />

IGOR<br />

O orador do extremo oriente irá fazer um breve resumo a respeito da<br />

sociologia de Okada.<br />

YAMAZI<br />

Boa noite. Vamos abordar a importância da Cidade da Nova Era, seu<br />

significado, local, habitante, estrutura, visualização, responsável,<br />

colaborador e recurso. Abordar também que o protótipo desta Cidade –<br />

o Solo Sagrado - é uma obra de arte preparada por Deus. Ela é a terra<br />

natal das almas, o modelo do Paraíso Terrestre a fim de ampliar-se ao<br />

mundo inteiro, emitindo poderosa vibração visual e sonora,<br />

transformando sentimento para amor altruísta, atraindo intelectuais e<br />

classe alta, construído sobre a proteção de Deus e dedicação dos fiéis<br />

levando em conta a sinceridade, prudência e atmosfera espiritual.<br />

IGOR<br />

(interrompendo)<br />

Pelo visto não se vai ter tempo. Estamos no centro cultural da<br />

juventude comunista poderia tratar do tema juventude? Mostrar como<br />

esses jovens aqui podem aprender com a juventude de Mokiti Okada.<br />

YAMAZI<br />

Perfeitamente. Aprender com a juventude de Mokiti Okada é ser<br />

independente na família, fé e trabalho, mas sem perder a prudência no<br />

cotidiano; ter sentimento de justiça na sociedade, sem abandonar o<br />

aspecto construtivo, basta lembrar sua contribuição para o Exército da<br />

Salvação e do seu desejo de abrir uma empresa jornalística; ter poder<br />

de decisão e coragem, sem deixar de aceitar tudo com alegria e<br />

interpretando as dificuldades e sofrimentos como provações divinas.<br />

IGOR<br />

Sejamos mais claros. Os jovens de hoje são os adultos de amanhã,<br />

que se encarregarão do progresso ou retrocesso da juventude que<br />

está por vir, das descendências, religiões e países. Por isso, espera-se<br />

que a juventude atual traga este progresso para as gerações<br />

vindouras, escolas, empresas, nações, enfim, para a humanidade e o<br />

mundo. Posto isso, pergunto-lhe diretamente: para isso, é necessário<br />

que os jovens da atualidade observem que diretrizes?<br />

38


YAMAZI<br />

Antes de se falar em jovens estudando e trabalhando, e se fosse ao<br />

Ocidente, se divertindo, prefiro iniciar pelos jovens na célula da<br />

sociedade, ou seja, na família, no lar. Numa linhagem, além do<br />

casamento, da relação matrimonial, têm-se as relações de filiação, os<br />

elos entre pais e filhos.<br />

Começo dizendo que pai e mãe não educam o filho pela boca e sim,<br />

pelas costas. Isso quer dizer que geralmente pai e mãe para educar o<br />

filho, fazem assim: ‖<strong>Filho</strong>, vem cá. Senta. Você sabe que ontem fez<br />

aquilo, hoje fez isto... Papai não gostou. Você tem que fazer assim e<br />

assim, entendeu?‖ E manda a ―bronca‖, para dar orientação e<br />

conselhos. Isto é a educação pela boca. Na maioria dos casos, os<br />

filhos não dão importância a tais palavras. Geralmente valorizam mais<br />

aquilo que os pais praticam.<br />

Na maior parte do mundo, os pais carregam as crianças no colo, não<br />

é? No Japão, carregam as crianças nas costas. Como as crianças<br />

atrapalham e sempre reclamam então mamãe coloca os filhos nas<br />

costas, naquela cinta de pano e cumpre suas obrigações. O filho,<br />

desde pequeno, acompanha tudo o que a mãe faz. Se a mãe<br />

cumprimenta o altar, o filho é obrigado a cumprimentar. Se fizer<br />

compras, cozinha, lava, recebe e faz visitas, o filho está presente,<br />

vendo tudo. Mesmo quando suja a fralda, vê a mamãe lavando. Pode<br />

até puxar os cabelos da mamãe, mas está vendo.<br />

Assim, filhos sempre ficam observando pai e mãe, aprendendo pelas<br />

costas. Quero dizer, pelos exemplos dos pais.<br />

IGOR<br />

Em outras palavras, se poderia dizer que se educa pela participação,<br />

pelo diálogo, contato. É isto? Sim ou não?<br />

YAMAZI<br />

(rindo)<br />

Sim, os indivíduos não se desenvolvem somente com calorias, mas<br />

também, com o amor dos pais.<br />

Nestes dias, quanto mais um país desenvolve sua civilização, cada vez<br />

mais aumenta a distância entre pais e filhos. Antigamente quando as<br />

pessoas eram criadas, havia mais diálogo de pai e mãe com os filhos.<br />

Papai e mamãe ensinavam muito mais. Mamãe lavava as roupas que<br />

os filhos sujavam, costurava as roupas que rasgavam, levava as<br />

crianças à escola, contava histórias, contava lendas e cantarolava<br />

canções de ninar. E agora, é assim? Vamos raciocinar comigo.<br />

Por exemplo, estudos. As crianças só estudam na escola. Se<br />

precisarem de aulas extras, os pais arranjam professor particular. A<br />

maioria das crianças vai à escola sozinha, ou com a empregada ou o<br />

39


ônibus vem buscar na porta. Quando muito, os pais vão à escola fazer<br />

a matrícula no início do ano.<br />

Roupa suja vai para a máquina de lavar ou para lavanderia. Roupa<br />

nova, ou é comprada pronta, ou é feita por costureira. Alguém conta<br />

histórias ou lendas para as crianças? Não, não é? E as canções de<br />

ninar, as mamães ainda cantam? Não tem mais, não é?<br />

E as doenças? Tudo que sentia, tinha mãe cuidando da gente dia e<br />

noite. Hoje, se a criança pega sarampo ou catapora, coqueluche, gripe,<br />

seja qual for a doença, que fazem pai e mãe? Fazem ligações<br />

telefônicas: ―olha doutor, faz favor, meu filho esta passando mal. O<br />

senhor é responsável por ele, cuide dele‖. Ou então dá um pulo na<br />

farmácia, compram uns comprimidos ou antibióticos e dão para as<br />

crianças: ―toma aí meu filho, se tomar melhora‖. E quando a melhora<br />

não vem: ―Puxa, não melhorou, então vamos procurar um médico‖.<br />

É como se empurrassem a responsabilidade para o médico ou o<br />

farmacêutico. Papai e mamãe não têm aquele direito de poder dar<br />

conselhos aos filhos. Acabam criando de tal maneira que não<br />

conseguem ter o respeito dos filhos. Não é culpa do filho. A culpa é do<br />

pai e da mãe. Talvez a culpa seja da civilização moderna.<br />

Então, o que aconteceu? Tem pais e mães que não sabem que os<br />

filhos estão fumando maconha. Nem sabem o que eles estão<br />

passando. A cada dia vai ficando mais raro o diálogo entre pais e<br />

filhos. Qual o meio, nestes casos, de pai e mãe se sacrificarem pelos<br />

filhos? Como renunciar por eles?<br />

IGOR<br />

Por acaso, o senhor está contra televisão ou máquina de lavar roupa?<br />

Está pedindo para que as mães voltem a carregar o filho nas costas?<br />

Um INTEGRANTE DA PALESTRA interrompe.<br />

INTEGRANTE DA PALESTRA<br />

Desculpe-me secretário Igor, não parece ser esse o objetivo do<br />

palestrante. Ele quer dizer que precisamos aproveitar todas as<br />

vantagens dessa civilização, porém precisamos, também, colocar um<br />

freio nos excessos da civilização moderna. Só assim não haverá esse<br />

isolamento entre pais e o filhos, e se voltará ao diálogo. Correto?<br />

IGOR<br />

Então, de que maneira poderemos fazer esta civilização moderna?<br />

YAMAZI<br />

Não levando as crianças ao materialismo. Evitar que a televisão fique<br />

ensinando coisas de adultos através das novelas, como crianças de<br />

oito anos já estejam com vontade de beijar, as de 10 já tenham<br />

40


vontade de ter um filho. Deve-se ensinar que o valor da vida não é o<br />

dinheiro, não é um carro. E que importância não está somente no<br />

estudo intelectual.<br />

IGOR<br />

Está aonde?<br />

YAMAZI<br />

O valor do homem está naquela força com que procura desenvolver a<br />

sua espiritualidade a cada dia, procurando Servir à Obra de Deus. Ou<br />

seja: procurando Servir ao próximo, renunciando a si próprio.<br />

INTEGRANTE DA PALESTRA<br />

Tem exemplos de renúncias na família?<br />

YAMAZI<br />

Eu quando estava com uns 12 anos fiquei acamado. Nem lembro a<br />

doença, mas sei que fiquei de cama três dias. Mamãe cuidou de mim o<br />

tempo todo, dando comida, dia e noite.<br />

Olha filho, tenta comer isto, dizia mamãe. Eu comia uma colher e dizia<br />

que estava salgado. Aí ela ia fazer outra coisa. Eu dizia não, e pedia<br />

mingau. Ela fazia o mingau e eu não queria. Passava a pedir leite.<br />

Depois não queria mais o leite. Preferia frutas.<br />

Mamãe atendia todas as exigências. E ainda falava: ―Coitadinho. Se<br />

Deus permitisse eu gostaria de trocar de lugar, sofrer por você‖.<br />

Como eu dormia durante o dia, quando chegava a noite eu estava sem<br />

sono. Mamãe, lidando com a casa e comigo o dia inteiro chegava a<br />

morrer de sono à noite. Aí eu pedia: ―Mamãe, tá doendo aqui‖. Ela<br />

colocava sua mão. ―Olha, está doendo na cabeça‖. Ela colocava sua<br />

mão na minha cabeça. Só que depois de botar a mão na minha<br />

cabeça, encostava, adormecia e quase roncava de cansada. Aí eu<br />

cutucava a mamãe: ―Agora está doendo aqui na barriga‖. Ela fazia<br />

massagem e quando parava, sua mão ficava na minha barriga e ela<br />

dormia. Eu tornava a acordar e me virando dizia: ―Mamãe, agora está<br />

doendo nas costas‖. E mamãe atendia.<br />

Um dia, de repente, eu senti que alguma coisa despertou em mim.<br />

- Puxa vida, como minha mãe é boa para mim! Será que existe algum<br />

outro ser que possa dedicar-se tanto a mim como ela? Acho que não.<br />

Quando eu senti isso, senti tanto amor por ela, mas senti tanto amor<br />

por ela que pensei: ―tá bom, quando eu crescer, um dia eu vou<br />

recompensar esse amor, eu vou retribuir esse amor que ela me dá‖.<br />

Depois, não me queixei mais. Agüentei a dor, não pedia mais sua mão<br />

e disse para ela:<br />

- Olha, mamãe, já não está doendo, estou bem melhor. Faz o favor de<br />

ir dormir. Boa noite.<br />

41


INTEGRANTE DA PALESTRA<br />

O senhor também guardou exemplos com seu pai?<br />

YAMAZI<br />

Eu tinha 19 anos mais ou menos. Eu era muito ruim, mau filho. Sempre<br />

fazia farras com meus amigos. Voltava para casa meia-noite, uma hora<br />

da madrugada. Sempre tarde e sempre procurando me esconder de<br />

papai. Tirava os sapatos, entrava como ladrão na casa e mergulhava<br />

na cama.<br />

Mas um dia, quando eu ia passando pelo corredor, vi meu pai sentado<br />

na varanda. Não estava fazendo nada. Olhava o jardim. Eram duas<br />

horas da madrugada. Eu olhei-o sentado lá e pensei: ―Puxa, é agora.<br />

Se o pai consegue me pegar no ato mesmo, sem sapato, há esta hora,<br />

ele pode me dar uma repreensão.<br />

- <strong>Filho</strong>, voltou agora?<br />

Papai nem tinha virado o rosto. Estava de costas. Sentiu que eu ia<br />

passando. Ele esperava minha chegada elevando preces para que eu<br />

melhorasse. Respondi:<br />

- Voltei sim senhor.<br />

- Olha filho, você deve estar bem cansado, não é? Toma banho,<br />

porque eu esquentei a água. Vai lá, que tomando banho você poderá<br />

descansar bem. Aí, então, durma.<br />

Pareceu que papai chorava. Ele mesmo esquentou fogo com lenha e<br />

me esperou. Um filho que vinha da farra.<br />

Cai de joelhos, chorando. Reconheci que era errado, mau filho e senti<br />

que dava trabalho. Depois levantei, entrei no banho e chorei mais.<br />

Desse dia em diante, nunca mais voltei de madrugada.<br />

Comoção está no ar. O Igor resolve modificar aquela atmosfera.<br />

IGOR<br />

O senhor citou, entre outras coisas, a inocência e a rapidez na ação,<br />

como fatores de desenvolvimento do jovem, seriam estes fatores<br />

também para as crianças?<br />

YAMAZI<br />

Quando eu fui cachorro ... desculpe-me.<br />

RISOS, exceto do Igor que está sério.<br />

YAMAZI<br />

Um cachorro bem treinado pode montar cavalos ou, então, ir ao<br />

açougue e trazer bolsa com carne. Lembra-se tão bem do dono,<br />

porque tem memória. Mas o que os animais não conseguem<br />

desenvolver é espontaneidade, vontade própria, iniciativa e<br />

42


criatividade. O Homem, como animal superior, ganhou estes<br />

importantíssimos atributos mentais. Sabendo disso, quando educarmos<br />

uma criança deve desenvolver nela estas partes: espontaneidade,<br />

vontade própria, iniciativa e criatividade. Só assim a criança poderá<br />

tornar-se uma pessoa útil ou grande homem. Se os pais impedirem a<br />

livre manifestação dessas partes da consciência da criança, mesmo<br />

crescendo fisicamente, mesmo depois dos cinqüenta anos de idade,<br />

será sempre meio infantil e não saberá o que quer e o que deve fazer.<br />

Às vezes as pessoas dizem:<br />

- Ah! Meu filho é muito inteligente porque já aprendeu mil palavras com<br />

dois anos de idade!<br />

Isso é apenas memória.<br />

- Ah! Meu filho de três anos já anda de bicicleta, não é fabuloso?<br />

Quando crescer, será o novo Fittipaldi. Mas isso é apenas ter alguma<br />

experiência, treinar constantemente e possuir reflexos muito bons.<br />

Lógico que é melhor do que não ter.<br />

Mas se uma pessoa disser:<br />

- Meu filho, se fica sozinho, brinca muito e sempre cria alguma coisa.<br />

Isso é que é importante. Por exemplo: Outro dia, quando eu voltei para<br />

casa, meu filho me trouxe um par de chinelos. Iniciativa dele,<br />

espontaneidade, mas não eram os meus chinelos, eram os de minha<br />

esposa. Como eu já conhecia esta maneira mais correta de formação,<br />

quando ele veio dizendo: ―Tome papai‖, respondi: ―Oh filho! Gostei<br />

muito, obrigado‖. E dei um beijinho nele. Fiz elogios para que ele<br />

procurasse criar outras coisas e sentisse reconhecimento.<br />

Depois então acrescentei:<br />

- Olhe, este chinelo é da mamãe; onde está o par certo.<br />

- ―Ah! Já sei‖. Foi lá dentro e trouxe o par certo.<br />

- Ótimo! Você compreendeu isso; papai ficou muito contente!<br />

Se eu não conhecesse essas coisas, falaria: ―Puxa, esse chinelo é da<br />

mamãe, leva para lá!‖ e cortaria a espontaneidade que estava brotando<br />

naquele gesto, pois todas as crianças possuem espontaneidade,<br />

iniciativa e espírito criativo. Como na maioria das vezes as crianças<br />

não criam coisas perfeitas, de acordo com o condicionamento dos<br />

adultos, estes exercem pressão sobre elas. É o caso da criança que<br />

começa a querer comer sozinha. Os pais começam: - ―Você suja tudo‖<br />

e tiram o prato das mãos da criança e começam a dar comida, tudo<br />

muito limpinho e asseado. Ela queria comer sozinha, com<br />

espontaneidade própria, e deve-se deixá-lo em paz. Se os pais não<br />

quiserem que suje a casa, então podem colocar um plástico bem<br />

grande embaixo da criança para deixá-la sujar a vontade, sem<br />

prejuízo.<br />

43


INTEGRANTE DA PALESTRA<br />

Então, quer dizer ...<br />

IGOR<br />

... quer dizer que o tempo está encerrado e o orador tem agenda a<br />

cumprir. Assim damos por encerrada a palestra de hoje.<br />

033. PALANQUE NA RUA - NOITE<br />

CORTA PARA<br />

No mesmo palanque frio intenso que Silêncio de Deus estivera pouco<br />

tempo atrás, população na rua escuta vários oradores. Nesse<br />

momento, Yamazi, o Igor e aquele jovem também estão presentes,<br />

ouvem um ORADOR SIBERIANO.<br />

ORADOR SIBERIANO<br />

A palavra sociologia apareceria em torno de 1830. Ela aborda<br />

atualmente vários temas, entre eles: loucura, suicídio, neurose,<br />

alcoolismo, esporte, homossexualismo, controle da natalidade,<br />

nutrição, vício, acidentes, fome, comunidades, moradia, trânsito,<br />

transporte urbano, pornografia, crime, violência, segurança, menor,<br />

punk, racismo, negritude, feminismo, tortura, participação, política<br />

social, serviço social, lazer, morte, cidade, juventude, fé, igreja, família,<br />

casamento, lar, filho e trabalho.<br />

Para alguns, sociologia representa um recurso à serviço da classe<br />

burguesa dominante, como sociologia empírica; para outros, expressão<br />

teórica dos movimentos revolucionários, como a sociologia marxista.<br />

O pensamento, paulatinamente, vai renunciando a uma visão<br />

sobrenatural, para explicar os fatos e substituindo-a por uma<br />

indagação racional: a teologia deixaria de ser a forma norteadora das<br />

idéias. A aplicação da observação e da experimentação conheceu uma<br />

fase de grandes progressos. Basta lembrar que num espaço de cento<br />

e cinqüenta anos, ou seja, de Copérnico a Newton, mudou-se até<br />

mesmo a localização do planeta Terra no cosmo, bem como se abriu<br />

até a possibilidade de controlar e dominar a natureza.<br />

IGOR<br />

O objetivo da revolução de 1789 não era apenas mudar a estrutura do<br />

Estado, mas abolir radicalmente a antiga forma de sociedade, com<br />

suas instituições tradicionais, seus costumes e hábitos arraigados, e ao<br />

mesmo tempo promover profundas inovações na vida cultural, na fé,<br />

família e trabalho. Por exemplo: na transferência da Igreja para o<br />

Estado, no que diz respeito às funções da educação; na promulgação<br />

44


de uma legislação, que limitava os poderes patriarcais na família; no<br />

privilegiado amparo e incentivo aos empresários.<br />

ORADOR SIBERIANO<br />

Na atualidade, a função do sociólogo esclarecido é liberar a sociologia<br />

do aprisionamento que o poder burguês lhe impôs e transformar a<br />

sociologia em um instrumento de transformação social. Para isso, deve<br />

se colocar ao lado – sem paternalismo e vanguardismo – dos<br />

interesses daqueles que se encontram expropriados material e<br />

espiritualmente, para juntos deles, construir uma sociedade mais justa<br />

do que a sociedade presente.<br />

IGOR<br />

Uma utopia, ou seja, uma sociedade imaginária como modelo<br />

idealizado, tem tido presença no pensamento social da humanidade.<br />

Desde a Grécia Antiga, com Platão (428-348 a.C.) na sua obra ―O<br />

Estado‖, passando pelo Renascimento, com um dos fundadores do<br />

socialismo utópico Thomas Moore (1478-1535) em ―Sobre a melhor<br />

condição do Estado e sobre a nova ilha Utopia‖, até chegar próximo ao<br />

advento do socialismo, com Robert Owen (1771-1858) criando as<br />

comunas de trabalho ―Nova Harmonia‖.<br />

Platão tem uma concepção espiritualista do mundo, cujo núcleo central<br />

da sua cosmologia é a doutrina de que a alma está aprisionada no<br />

corpo e da reencarnação. Na doutrina da sociedade, descreveu um<br />

Estado ideal, governado pelos filósofos, protegidos pelos guerreiros, e<br />

nas categorias dos cidadãos livres os artesãos e na base de tudo o<br />

trabalho escravo.<br />

Moore apresenta a família como a célula econômica principal e os<br />

homens trabalhando seis horas por dia, dedicando o tempo restante às<br />

ciências e às artes.<br />

Owen apregoa uma futura sociedade sem classes como uma<br />

federação livre de comunidades autogestionadas, cada uma delas<br />

agrupando de 300 a 2.000 pessoas.<br />

(pausa)<br />

O que o senhor Yamazi tem a dizer sobre a utopia de seu mestre.<br />

YAMAZI<br />

O Paraíso Terrestre é uma utopia porque é algo que ainda não existe.<br />

O mestre Mokiti Okada é o concretizador dessa utopia. Em termos de<br />

obras, ele deixou solos sagrados e museus de arte; atualmente, têm-se<br />

pólos agrícolas e vislumbres de cidades da Nova Era, passando pelo<br />

coroamento da evolução do conhecimento já constituído em várias<br />

áreas do saber, ou melhor, pelo estudo e prática da cultura<br />

espiritualista explicitada e orientada por este mestre. Mokiti Okada<br />

45


falou que, na Nova Era, o homem trabalhará duas ou três horas<br />

diárias, dedicando o restante de seu tempo ao próprio aperfeiçoamento<br />

pessoal e social. O homem terá tempo de ser e tempo de fazer.<br />

Voltando-se para a sua verdade, como ser religioso, viverá em alegria<br />

livre no tempo e no espaço. Este homem terá o Paraíso.<br />

034. INT. EDUCANDÁRIO<br />

CORTA PARA<br />

(continuando)<br />

Ainda é algo para o futuro, mas um dia a Igreja construirá uma cidade.<br />

035. INT. IGREJA ORTODOXA<br />

CORTA PARA<br />

(continuando)<br />

Construirei um local como este e o mostrarei a todas as pessoas do<br />

mundo. E, então, cidades do mundo inteiro se espelharão neste local.<br />

036. INT. FÁBRICA<br />

CORTA PARA<br />

(continuando)<br />

O tamanho será de 40 km por 40 km, talvez perto da China, ou do<br />

Japão quem sabe.<br />

CORTA PARA<br />

037. INT. SALA <strong>DE</strong> AULAUNIVERSIDA<strong>DE</strong> PATRÍCIA LUMUMBA.<br />

(continuando)<br />

Antes de pensar na sua estrutura física criar o conceito filosófico.<br />

Naturalmente, para transformarem uma cidade atual numa cidade<br />

paradisíaca, deveríamos reformar e quebrar muita coisa, o que seria<br />

um transtorno. Mokiti Okada fala no morador como a meta a ser<br />

alcançada, ou seja, em residentes de seguidores de sua filosofia.<br />

CORTA PARA<br />

46


038. CAMPO<br />

(continuando)<br />

Mokiti Okada, calcado na situação existente, preza alguns núcleos da<br />

sociedade, como as instituições culturais e os meios de transporte,<br />

mas abomina outros, como hospital, delegacia e tribunal. Ele diz que:<br />

039. PAISAGENS <strong>DE</strong> MOSCOU<br />

CORTA PARA<br />

(continuando)<br />

―Por isso, para que possamos construir um mundo isento de doentes,<br />

basta que o número de médicos messiânicos cresça e que ensinemos<br />

como não ficar doente. De que forma se fará isto? Fazendo com que<br />

as pessoas leiam os nossos livros. Neles apresentaremos os<br />

equívocos cometidos por todos os métodos de tratamento de saúde e<br />

ensinaremos o verdadeiro método.‖<br />

040. INT. KLEMIN<br />

PRIMEIRO MINISTRO é um dos que está assistindo.<br />

PRIMEIRO MINISTRO<br />

Afinal, vai ter hospital ou não? O que diz Mokiti Okada?<br />

CORTA PARA<br />

YAMAZI<br />

Diz que; ―Hospitais messiânicos serão construídos em todos os países<br />

do oriente e do ocidente. Quando construirmos os hospitais,<br />

empregaremos os doutores e pesquisadores, pois, assim poderemos<br />

tranqüilizar as pessoas que confiam nos médicos e também<br />

ensinaremos a eles o nosso método, mostraremos o quanto ele é<br />

eficaz, ou seja, nós os formaremos.<br />

Outro dia, eu estava conversando sobre a prevenção das doenças<br />

contagiosas, na unidade de Koji e fiquei sabendo que o Dr. Kasana, do<br />

Hospital Keio, declarou que não é possível curar as doenças através<br />

da medicina atual e, por isso, o mundo da medicina está pesquisando<br />

formas para preveni-las. Como podemos ver, os próprios médicos<br />

estão começando a tomar consciência de que a medicina atual não<br />

cura. Enfim, a tendência em direção ao movimento messiânico está se<br />

tornando cada vez maior‖.<br />

47


PRIMEIRO MINISTRO<br />

Quais seriam as qualidades do doutor e diretores desses hospitais?<br />

YAMAZI<br />

Nos nossos hospitais, um dos preceitos para se tornar um doutor, está<br />

a fé, ele deve ser uma pessoa de fé. Por isso o diretor de um hospital,<br />

deve, obviamente, ter uma técnica superior, boa personalidade,<br />

conduta exemplar e outras características neste sentido.<br />

PRIMEIRO MINISTRO<br />

As qualidades do diretor são ótimas, mas exigir fé para ser doutor é<br />

algo inconcebível. Aliás, quem é o responsável por essas idéias?<br />

YAMAZI<br />

Mokiti Okada. Aliás, ele afirma: ―Como sempre tenho dito, o meu<br />

principal objetivo é a construção de um mundo, onde não haja pessoas<br />

doentes. A construção deste mundo é um fato inédito que ninguém,<br />

desde o início dos tempos, jamais conseguiu realizar.‖<br />

Primeiro Ministro visivelmente insatisfeito com aquelas respostas se<br />

levanta e sai do recinto, causando um grande constrangimento.<br />

PRIMEIRO MINISTRO<br />

Não tem jeito mesmo, não adianta dar oportunidade para os crentes se<br />

redimirem de seus pecados espiritualistas, todo religioso é um<br />

traficante de ópio para o povo ou um viciado em ilusão.<br />

041. JORNAL SOVIÉTICO<br />

CORTA PARA<br />

Dizeres da capa de um jornal soviético: JAPONES É CONVIDADO A<br />

<strong>DE</strong>IXAR O PAÍS.<br />

042. ANFITEATRO<br />

CORTA PARA<br />

Legenda: CALIFÓRNIA.<br />

Neto de Yamazi chamado YESHUA, dando aula para um numeroso<br />

público atento.<br />

48


YESHUA<br />

A educação não tem uma forma única nem um único modelo, e muito<br />

menos um único lugar, a escola. Isso pode ser assimilado quando, há<br />

anos atrás nos Estados Unidos, o estado de Virgínia assinou um<br />

tratado de paz com os índios das Seis Nações. e, logo depois os<br />

governantes brancos mandaram cartas aos indígenas, para que eles<br />

enviassem alguns de seus jovens às escolas dos brancos. Os chefes<br />

responderam agradecendo e recusando, dizendo:<br />

(citando)<br />

―Nós estamos convencidos, portanto, que os senhores desejam o bem<br />

para nós e agradecemos de todo o coração. Mas aqueles que são<br />

sábios reconhecem que diferentes nações têm concepções diferentes<br />

das coisas e, sendo assim, os senhores não ficarão ofendidos ao saber<br />

que a vossa idéia de educação não é a mesma que a nossa. Muitos<br />

dos nossos bravos guerreiros foram formados nas escolas do Norte e<br />

aprenderam toda a vossa ciência. Mas, quando eles voltavam para<br />

nós, eles eram maus corredores, ignorantes da vida da floresta e<br />

incapazes de suportar o frio e a fome. Não sabiam como caçar o<br />

veado, matar o inimigo e construir uma cabana, e falavam a nossa<br />

língua muito mal. Eles eram, portanto, totalmente inúteis. Não serviam<br />

como guerreiros, como caçadores ou como conselheiros. Ficamos<br />

extremamente agradecidos pela vossa oferta e, embora não possamos<br />

aceitá-la, para mostrar a nossa gratidão oferecemos aos nobres<br />

senhores da Virgínia, que nos enviem alguns dos seus jovens, que<br />

lhes ensinaremos tudo o que sabemos e faremos deles, homens.‖<br />

A platéia está emocionada com o que acabara de ouvir.<br />

YESHUA<br />

Nas civilizações orientais e na Antiguidade, também não há propostas<br />

propriamente pedagógicas. As preocupações com a educação são<br />

tradicionalistas permeando os livros sagrados, que oferecem regras<br />

ideais de condutas e orientação para o enquadramento das pessoas.<br />

ESTUDANTE levanta o braço pedindo permissão para falar.<br />

ESTUDANTE<br />

Mokiti Okada sendo oriental encontra-se nesse caso?<br />

YESHUA<br />

Entendo aonde quer chegar. Mas isso não impede de que ele ao<br />

manifestar idéias sobre educação, não possa ser considerado um<br />

pedagogo. Este Filósofo da Nova Era sublinha algumas coisas do<br />

Oriente. Por exemplo, o valor da relação entre mestre e discípulo, a<br />

49


ponto de numa avaliação escolar não admitir que um aluno minta para<br />

seu professor, como ―chutar‖ uma questão. Destaca do confucionismo<br />

a investigação da verdade pelo caminho do meio. Realça da China que<br />

o Caminho é formado dos princípios opostos yin e yang que<br />

representam a união dos contrates, ou seja, um todo de duas metades,<br />

como no hemisfério norte da Terra tem-se inverno enquanto no sul<br />

tem-se verão.<br />

043. AEROPORTO MOSCOU - NOITE<br />

Enquanto isso, no saguão, Yamazi está com YURI.<br />

YURI<br />

Mas, afinal, o que foi você disse que desagradou tanto assim?<br />

CORTA PARA<br />

YAMAZI<br />

Yuri, do jeito que o Primeiro Ministro se expressou, eu acho que ele<br />

não gostou que eu pregasse uma terapia espiritualista. Talvez se ele<br />

tivesse continuado a escutar o que meu mestre diria em seguida ele<br />

tivesse gostado, ao mesmo tempo, ficasse confuso.<br />

YURI<br />

E o que o mestre diz?<br />

YAMAZI<br />

Ele diz que quando toda a humanidade tiver aprendido a se comportar<br />

assim, então as religiões já terão ensinado tudo o que deviam ensinar,<br />

já terá cumprido sua missão. E não serão mais necessárias.<br />

044. ANFITEATRO<br />

CORTA PARA<br />

Enquanto isso na Califórnia, Yeshua está continuando a dar sua aula.<br />

YESHUA<br />

Outros movimentos pedagógicos e educacionais ocorreram como<br />

escolas do trabalho, educação nazi-fascista e teorias construtivistas<br />

(Piaget, Vygotsky). Recentemente, a educação torna-se treinamento, e<br />

assim surge o ―tecnicismo pedagógico‖ no lugar das didáticas<br />

associadas à Pedagogia Tradicional e Pedagogia Nova.<br />

50


Diferentemente delas, ele não vê mais sentido em manter o centro do<br />

processo de ensino no professor e no aluno, mas nos meios didáticos.<br />

ESTUDANTE<br />

Na época atual, por outro lado, fala-se em algo recente que é a<br />

educação holística. Mas, antes de tudo, o que é holística?<br />

YESHUA<br />

A holística é um novo modo de relação do homem com o mundo, uma<br />

nova visão do cosmos, da natureza, da sociedade, do outro e de si<br />

mesmo. É, conseqüentemente, uma nova postura diante da ciência, da<br />

arte e da tradição de sabedoria dos povos. Essa nova postura<br />

determina um novo modo de produzir e elaborar o conhecimento.<br />

Na ótica holística ser nenhum é um sistema completo em si mesmo,<br />

desde o ser humano até a sociedade; os eventos espontâneos ou os<br />

provocados pelo homem não tem apenas efeitos localizados, mas<br />

repercussão ampla e universal. A holística abre espaço para novos<br />

paradigmas, como a psicologia revelando novas dimensões do<br />

psiquismo e novas possibilidades de ação de um ser sobre outro ser,<br />

vide o processo de cura por meio da imposição das mãos, relatado<br />

pela pesquisadora em física atmosférica da NASA.<br />

ESTUDANTE<br />

O que é educação holística?<br />

YESHUA<br />

Educação holística é a que se preocupa com a formação do homem<br />

novo, educando para globalidade como entender os conflitos entre<br />

países ricos e pobres; bem como ter cuidado com as questões<br />

ambientais. Educando para espiritualidade como desenvolver no<br />

professor e na escola o espírito solidário que marcará o trabalho em<br />

equipe. Para expansão da consciência como no plano social, ser<br />

consciente é reconhecer no outro a mesma essência que está em si,<br />

que os destinos são idênticos em termos de eternidade, enfim é sentirse<br />

responsável pelo outro, desde o contemporâneo até o que virá nas<br />

próximas gerações, a quem se deve, pelo menos, um mundo habitável.<br />

Para amor a outros seres como no caso entre seres humanos, desde a<br />

afeição entre mãe e filho, homem e mulher; a amizade entre mestre e<br />

discípulo.<br />

ESTUDANTE<br />

Quais são os elementos novos em relação às teorias e práticas<br />

escolares nos últimos séculos?<br />

51


YESHUA<br />

É a recuperação e o desenvolvimento da dimensão humana que<br />

conduz ao auto-conhecimento, à auto-realização, ao autodesenvolvimento.<br />

Esse elemento é o Espírito, a Transcendência. O<br />

homem capaz de ultrapassar os desafios atuais será o homem integral,<br />

aberto não só aos problemas físicos, cognitivos, afetivos, sociais,<br />

psicológicos, políticos, econômicos e sociais, mas também as questões<br />

cósmicas e transcendentes. Esse homem vem surgindo do próprio<br />

caos como da miséria em que vivem dois terços da população humana<br />

da Terra, bem como também das trocas entre Oriente e Ocidente, dos<br />

limites alcançados pelas ciências e das intuições dos grandes<br />

iluminados. No estudo de sua personalidade vêm se distinguindo três<br />

níveis designados por Ego, Perispírito e Alma, constituídos,<br />

respectivamente, pelos corpos físico, astral (que é o mental e o<br />

emocional interpenetrados assumindo a feição da aura) e espiritual.<br />

A proposta holística é de pretensões transdisciplinares, ultrapassando<br />

as pretensões interdisciplinares, por exigirem mais do que o diálogo<br />

entre as ciências, por reclamar o diálogo entre a fé e a razão. Einstein<br />

chegou a declarar: ―A ciência sem a religião é paralítica, e a religião<br />

sem a ciência é cega‖. O homem novo está sendo educado por<br />

escolas confessionais (destacando-se os católicos e protestantes, em<br />

menor escala, os israelitas e os espíritas, estes últimos chegando a<br />

praticar a aplicação de ―passes‖ para alunos cujos pais desejem),<br />

escolas e programas alternativos (uns abertos e conhecidos, como os<br />

montessorianos; outros, fechados e desconhecidos, como o programa<br />

Gurdjeeff; outros semi-abertos e semi-conhecidos, como a Rosa-cruz).<br />

ESTUDANTE<br />

Como são estas contribuições?<br />

YESHUA<br />

A pedagogia Waldorf da contribuição antroposófica tem como princípio<br />

de que a humanidade e o indivíduo têm um mesmo destino a cumprir,<br />

o encontro de professor e aluno existe para promover essa<br />

cosmovisão. Em termos curriculares nada mais é tão importante como<br />

o professor, com sua responsabilidade cármica com a classe.<br />

A contribuição Rosacruz vê os professores e os demais funcionários<br />

que trabalham na escola com engajamento na proposta rosacruz da<br />

educação, por meio de projetos, questionamentos, reflexões e<br />

redefinições. Procuram corrigir as distorções causadas pela vida<br />

moderna e pela ocupação do planeta, desde os danos à flora e à fauna<br />

até os decorrentes do uso da tecnologia, por isso usam atividades<br />

artesanais e de jardinagem.<br />

Uma das idéias que contribui para a formação do homem integral é o<br />

da atividade no sentido piagetiano, que é muito mais ampla que<br />

52


exercício muscular. Pois se trata, ao mesmo tempo, função motora,<br />

afetiva, intelectual e social, que evolui dos movimentos espontâneos e<br />

perceptivos para a intuição e, mais tarde, para as operações,<br />

inicialmente concretas e, finalmente, abstratas, construindo e<br />

reconstruindo assim as estruturas por meio das qual o homem se<br />

relaciona com o mundo. Desse modo, ―a função faz o órgão‖ traduz-se<br />

por ―a atividade desenvolve as estruturas.‖<br />

Olha no relógio e fica assustado.<br />

YESHUA<br />

Como passou rápido essa aula, nem nos damos conta.<br />

ESTUDANTE<br />

Só para finalizar, qual seria a sua grande recomendação.<br />

YESHUA<br />

Sem dúvida seria a de não cair em extremos. Por um lado, achar que<br />

tudo apregoado por Mokiti Okada em termos pedagógicos é<br />

inteiramente ―virgem‖. Por outro lado, considerar que sua educação é<br />

uma cópia da educação holística. A estes últimos cabe apenas uma<br />

pergunta: quem veio primeiro, Mokiti Okada ou a holística?<br />

047. PARQUE <strong>DE</strong> JARDIM - DIA<br />

CORTA PARA<br />

Legenda: CALIFÓRNIA, 2007.<br />

Dezesseis anos se passaram. O filho e o neto de Yamazi sentados<br />

num banco de jardim sensibilizados pelo que ocorrera.<br />

YESHUA<br />

Pai não achou estranho que o vovô Yamazi morresse do mesmo modo<br />

que o seu amigo Silêncio de Deus? Quando sobrevoava a Sibéria ...<br />

Yama, imitando como seu pai há muito tempo havia agido, está<br />

visivelmente preocupado com outra coisa.<br />

YAMA<br />

Yeshua, palestinos quando selam acordo é para valer mesmo. E eu fiz<br />

um acordo com meu pai Yamazi. Depois que ele falecesse eu iria<br />

oferecer meus conhecimentos em Direito e Administração. Só que por<br />

mais que eu penso, já com 71 anos de idade, não sei como colaborar.<br />

53


YESHUA<br />

Talvez o senhor possa me ajudar.<br />

YAMA<br />

Mas, você é o maior pedagogo existente no mundo.<br />

YESHUA<br />

Ajude-me a ser um dos maiores presidentes existentes no mundo.<br />

YAMA<br />

Isso é seu sonho, você é apenas um aspirante a candidato a<br />

presidente dos Estados Unidos da América do Norte. No entanto, da<br />

altitude de sua pretensão, seu sonho não é ser um presidente<br />

qualquer, mas sim o Presidente Mundial. Acertei?<br />

O pai abraça carinhosamente o filho, os dois rindo muito se levantam e<br />

se põem a caminhar pela abundância de beleza daquele parque.<br />

048. PLANO SUPERIOR<br />

Silêncio de Deus e Dono escutam atentamente a JESUS.<br />

FA<strong>DE</strong> OUT<br />

FA<strong>DE</strong> OUT<br />

JESUS<br />

Yamazi. Acabamos de passar os trechos de sua vida como homem<br />

nos inícios da década de 50 até a sua morte em 2007. A partir daí,<br />

você irá só ver o presente, destacadamente as atuações de seu filho e<br />

das reencarnações do Servidor e de Peter. Continue assistindo<br />

também, caro Silêncio de Deus.<br />

049. PARQUE <strong>DE</strong> JARDIM - DIA<br />

CORTA PARA<br />

Legenda: 2012.<br />

Um comício está acontecendo naquele parque, quem está discursando<br />

é Yeshua. Seu pai Yama é um do ali presente.<br />

54


YESHUA<br />

Há cinco anos atrás, eu estava com meu pai. Naquela ocasião, ele se<br />

interpelou em como oferecer seus conhecimentos diante de seus 71<br />

anos de idade.<br />

Hoje eu diria que: o mundo não é dos jovens que trabalham para<br />

beneficiar a poucos, o mundo é daqueles que querem servir a todos, a<br />

nossa sociedade tem que prezar a capacidade, a experiência<br />

acumulada, a sabedoria dos que querem dedicar para um mundo<br />

melhor.<br />

(pausa)<br />

Se hoje ele voltasse a se interpelar em como contribuir para este<br />

mundo eu humildemente lhe responderia: Oh! Com seus<br />

conhecimentos, aprimore-me nos assuntos relativos a fazer leis, decidir<br />

judicialmente e realizar opções, para que eu possa exercer bem os<br />

Poderes, e assim ser, por quatro anos, Presidente da maior nação do<br />

mundo, e quem sabe, brevemente, Presidente Mundial.<br />

RISOS E APLAUSOS INTENSOS, um dos que mais contribuiu para essa<br />

intensidade saiu das mãos daquele que dizia não saber como<br />

contribuir. E é esse mesmo que vai participar de um debate acalorado.<br />

050. ESTÚDIO <strong>DE</strong> TELEVISÃO<br />

CORTA PARA<br />

Yama é um dos debatedores, o outro é um JOVEM ADVOGADO<br />

FAMOSO, entre os dois está a MEDIADORA DO <strong>DE</strong>BATE.<br />

JOVEM ADVOGADO FAMOSO<br />

A diferença entre nós, não é tanto de fama, mas sim de juventude, daí<br />

minhas idéias serem demais avançadas para seu entendimento.<br />

YAMA<br />

Eu continuo afirmando que Direito é o estudo das leis, um conjunto de<br />

normas sociais obrigatórias a fim de assegurar o equilíbrio das funções<br />

do organismo social em termos de justiça e moral. Desse modo, as<br />

palavras mais associadas a Direito são lei, justiça e moral.<br />

JOVEM ADVOGADO FAMOSO<br />

Estupidez! Direito e lei são a mesma coisa, no inglês, law chega a<br />

designar as duas coisas.<br />

55


YAMA<br />

Direito e lei são as que mais se divorciam com freqüência porque a lei<br />

é alguma coisa que sempre emana do Estado e permanece ligada à<br />

classe dominante. Daí o Direito pode ser visto de duas maneiras: a<br />

primeira é o Direito propriamente dito, algo reto e correto; a segunda é<br />

o Antidireito, algo torto e errado norteado pelo poder estabelecido.<br />

JOVEM ADVOGADO FAMOSO<br />

Ih, que atraso! Há muito que essas contradições terminaram.<br />

YAMA<br />

Atraso é não perceber que a identificação entre Direito e lei pertence<br />

ao repertório ideológico do Estado, pois o que este faz é tentar<br />

convencer de que terminaram as contradições. Já que para o Estado<br />

tudo dele é imaculadamente jurídico e atende perfeitamente ao povo,<br />

não havendo necessidade de procurar Direito além ou acima das leis.<br />

MEDIADORA DO <strong>DE</strong>BATE<br />

Vai me dizer que no caso de Direito e justiça acontece à mesma coisa?<br />

YAMA<br />

São as que mais caminham enlaçadas, apesar de recobrirem muitas<br />

nuvens ideológicas. No grego, propõe-se até a questão do Direito<br />

justo.<br />

JOVEM ADVOGADO FAMOSO<br />

Daqui a pouco vai ter a petulância de afirmar que a justiça também<br />

pode ser vista de duas maneiras?<br />

YAMA<br />

Evidente! A primeira é a justiça como qualidade da conduta política que<br />

consiste em obedecer à ordem e às leis vigentes, mesmo que injustas;<br />

A segunda é a justiça como um modelo ideal ao qual se deve submeter<br />

o poder político. No decorrer do tempo se teve várias justiças. Justiça<br />

romana com seu princípio jurídico ―dar a cada um o que é seu‖, o que<br />

queria dizer ―ao escravo se dava a escravidão‖. A justiça cristã antiga<br />

com a regra da justiça ―a cada um segundo o seu trabalho‖, resultante<br />

da sentença de São Paulo na carta aos Tessalonicenses. A justiça<br />

cristã medieval com o ―faz o bem e evita o mal‖. A justiça recente com<br />

―aquilo que está em conformidade com o direito.‖ No comunismo<br />

prega-se ―a cada um segundo a sua necessidade‖.<br />

JOVEM ADVOGADO FAMOSO<br />

Nada disso! A filosofia grega legou dois postulados: primeiro, que as<br />

próprias ações do governo devem ser justas; segundo, que as<br />

56


instituições governamentais, como os tribunais, devem garantir a<br />

manutenção da justiça. As formas específicas da justiça são<br />

consideradas em relação com o Estado, reduzidas ao Poder Judiciário.<br />

MEDIADORA DO <strong>DE</strong>BATE<br />

Postulados ou realidades? Atualmente, existem várias menções de<br />

justiça, por exemplo: a constitucional; administrativa; judiciária;<br />

tributária; previdenciária; educacional; social; profissional; autoral;<br />

sindical; civil; privada; comercial; criminal; internacional. Mas, em<br />

síntese, pode-se dizer que ela possui dois grandes aspectos: o dos<br />

valores éticos e culturais; e o dos direitos envolvendo os sistemas<br />

sociais e as instituições, os direitos individuais, a ordem jurídica da<br />

sociedade e a ordem internacional. Quais os comentários que faria?<br />

JOVEM ADVOGADO FAMOSO<br />

No caso da justiça penal, desde a Antigüidade até hoje, sua base é<br />

que o mal deve ser retribuído com o mal. É a chamada lei de talião que<br />

se encontra no Velho Testamento: olho por olho, dente por dente.<br />

Hoje, à luz dos princípios morais, é dar a pena uma função reparadora.<br />

Ao invés de servir ela à marginalização definitiva do infrator, deve<br />

possibilitar sua integração à sociedade. O que é uma tremenda piada.<br />

No caso da justiça social, sua crença é de que ela diminuiria<br />

consideravelmente os níveis de delinqüência. O que é outra piada.<br />

Pois, é óbvio que determinados crimes com requintes de perversidades<br />

não seriam explicados por razões sociais, mas sim por motivações<br />

psíquico-individual de seus agentes.<br />

YAMA<br />

Há situações que são interrogações. Uma delas: o exercício por duas<br />

legislaturas gera aos seus ocupantes uma aposentadoria proporcional,<br />

um direito adquirido ou um injusto e discriminatório privilégio? Outra:<br />

Ghandi deixou sua mulher morrer sem que lhe fosse aplicada a dose<br />

de penicilina, agiu acreditando que fez um bem, segundo o que lhe<br />

parecia certo, mas, foi justo? Uma outra: o que se acha de 1970 em<br />

diante inúmeras instituições financeiras serem socorridas com dinheiro<br />

público sem quaisquer restrições para os seus responsáveis? Concluise<br />

que a idéia de justiça tanto pode ser referida a situações globais e<br />

legais, como particulares e não relativas às regulamentações.<br />

051. INT. RESIDÊNCIA DO YESHUA<br />

Yeshua está em seu lar, sentado num sofá, assistindo seu pai por uma<br />

televisão.<br />

57


052. TELA <strong>DE</strong> TELEVISÃO<br />

MEDIADORA DO <strong>DE</strong>BATE<br />

E a associação entre Direito e moral?<br />

YAMA<br />

Direito e moral não se confundem, pois enquanto: a primeira visa ao<br />

desdobramento da liberdade; a segunda visa o aperfeiçoamento de<br />

cada um, dentro da honestidade. Por exemplo, autodestruição é um<br />

processo reprovável moralmente, mas não o é juridicamente por<br />

inexistir dano ou perigo para as liberdades em coexistência, o que não<br />

haveria crime. Outro exemplo, já os salários dos parlamentares e<br />

juízes são legais, no entanto são entendidos como imorais. A ética ...<br />

JOVEM ADVOGADO FAMOSO<br />

Quer saber de uma coisa. A ética é algo para ser abolida, pois não<br />

passa de uma simples listagem das convenções sociais provisórias.<br />

MEDIADORA DO <strong>DE</strong>BATE<br />

Por que de tal assertiva?<br />

JOVEM ADVOGADO FAMOSO<br />

Os Irmãos Karamazov de Dostoievski, o personagem Ivan afirma que<br />

―se Deus não existe tudo é permitido‖, isso seria uma proposta de<br />

abolição da ética. Como Deus não existe logo um comportamento<br />

correto é aquele adequado aos costumes vigentes, então, a ética seria<br />

apenas uma simples listagem das convenções sociais provisórias.<br />

YAMA<br />

Sócrates, com seu lema ético ―conhece-te a ti mesmo‖, foi chamado ―o<br />

fundador da moral‖ porque a sua ética não se baseava simplesmente<br />

nos costumes do povo e dos ancestrais, assim como nas leis<br />

exteriores, mas sim na convicção pessoal, adquirida através de um<br />

processo de consulta na tentativa de compreender a justiça das leis.<br />

Cristo trouxe o mandamento do amor ao próximo em primeiro lugar,<br />

que inclui o perdão. Kant buscava uma ética de validade universal, que<br />

se apoiasse apenas na igualdade fundamental entre os homens. Os<br />

tomistas dizem que moral é uma ciência prática, cujo objeto é o estudo<br />

e a direção dos atos humanos em ordem a conseguir o último fim, ou<br />

seja, a perfeição integral do homem, no que consiste a felicidade.<br />

Descartes propunha uma moral provisória.<br />

JOVEM ADVOGADO FAMOSO<br />

Capitalismo mais avançado prega a vantagem particular, como bom é<br />

o que ajuda o meu progresso econômico, o meu sucesso pessoal.<br />

58


YAMA<br />

Capitalismo! Deixe-me rir. Fracasso em estabelecer efetivamente<br />

preços para produtos, com ar limpo e energia. Fracasso em produzir<br />

grande riqueza com imenso nível de desigualdades e compras de<br />

políticos, impunidades de juízes. Fracasso no fornecimento e<br />

distribuição do atendimento em saúde, educação e segurança.<br />

Fracasso em subestimar amplamente o bem-estar das gerações por<br />

nascer. Fracasso na redução dos riscos das crises financeiras.<br />

(pausa)<br />

Mas, esqueçam a provocação do meu oponente. Uma noção que<br />

permanece firme e consistente na ética é a da distinção entre o bem e<br />

o mal. Agir eticamente é agir de acordo com o bem comum. É difícil<br />

falar em ética num país onde a propriedade é um privilégio tão<br />

exclusivo de poucos, onde o emprego e o estudo são quase que<br />

proibições peculiares de muitos. Torna-se também complicado diante<br />

de uma comunicação cuja lógica e sintaxe que aparecem nos<br />

noticiários são ligadas a uma adição pura e simples do ―e‖, como ―Mais<br />

um escândalo financeiro e o real se desvaloriza e a gasolina aumenta<br />

e bandidos fogem da penitenciária e aumenta o desemprego e ...‖.<br />

053. ESTÚDIO <strong>DE</strong> TELEVISÃO<br />

YAMA<br />

A burguesia com o direito natural, da ordem justa, fundamento acima<br />

das leis. Instaurando-se no poder, trocou de doutrina, passando a<br />

defender o direito positivo, da ordem estabelecida, ou seja, o<br />

positivismo jurídico – não admitindo a existência de Direito senão em<br />

suas leis. O Rei Luiz XIV afirmava ―O Estado sou eu.‖<br />

O direito positivo põe no Estado sempre a paz e o interesse da<br />

comunidade; enquanto, o direito natural pergunta ―onde fica o direito da<br />

resistência à tirania, ao poder usurpado? E a guerra justa contra os<br />

Estados imperialistas que atacam nações mais fracas?‖ Este direito<br />

serviu de julgamento dos criminosos levados ao Tribunal de<br />

Nuremberg, onde foram julgados, após a Segunda Guerra Mundial, os<br />

dirigentes nazistas.<br />

JOVEM ADVOGADO FAMOSO<br />

Que ignorância! O direito natural não tem uma única expressão, ele se<br />

apresenta sobre três formas: a) cosmológico, o ligado ao cosmo, o<br />

universo físico; b) teológico, o voltado para Deus, pretendendo deduzir<br />

o direito natural da lei divina; c) antropológico, o girado em torno do<br />

homem. E cá entre nós, ele não consegue determinar satisfatoriamente<br />

o padrão da medida do que é ―Justiça‖.<br />

59


054. TELA <strong>DE</strong> TELEVISÃO<br />

YAMA<br />

Porém já na Grécia ―Deus é a medida de todas as coisas‖. A idéia de<br />

―jus‖ da palavra ―justiça‖, associada às divindades supremas de gregos<br />

e romanos, quais sejam Zeus e Júpiter, expressaria um relacionamento<br />

sob a proteção divina. Para os povos antigos a idéia de justiça está<br />

associada à de uma construção harmônica da Natureza e da<br />

Sociedade que é presidida por uma divindade suprema.<br />

O interessante é que existem centenas de leis que jamais serão<br />

cumpridas, outras cuja existência perde o sentido em função de<br />

modificações culturais e sociais, e mesmo outras que são<br />

―ressuscitadas‖. Um exemplo de lei que perdeu o sentido é a que<br />

estabelece que o marido seja o ―cabeça do casal‖. No entanto as leis<br />

não param de proliferar, por que disso?<br />

Chega um papel às mãos da moderadora paralisando o debate, ela o<br />

lê, abre um longo sorriso e olhando para a câmera de televisão diz.<br />

055. ESTÚDIO <strong>DE</strong> TELEVISÃO<br />

MEDIADORA DO <strong>DE</strong>BATE<br />

É com imensa alegria que transmito o convite do Poder Judiciário ao<br />

advogado ―estrangeiro‖ e ao menos jovem para continuarem este<br />

debate na Suprema Corte.<br />

056. INT. RESIDÊNCIA DO YESHUA<br />

Yeshua muito alegre, abraçado no pai.<br />

057. INT. SUPREMA CORTE<br />

CORTA PARA<br />

CORTA PARA<br />

Os magistrados devidamente parlamentados estão inquirindo Yama.<br />

Quem está com a palavra é o PRESI<strong>DE</strong>NTE DA CORTE.<br />

PRESI<strong>DE</strong>NTE DA CORTE<br />

Poder revogante ou poder constituinte?<br />

60


YAMA<br />

O meu mestre diz que estes termos referem-se ao Congresso<br />

Legislativo. Ele comenta que, a cada ano, aprovam-se novas leis,<br />

entretanto, isso não é motivo para orgulho, pois as leis são instituídas<br />

porque o mal social aumenta. Caso aumentasse o número de homens<br />

honestos, não haveria necessidade de leis; portanto, não seria<br />

necessário instituí-las. O verdadeiro progresso da cultura só terá sido<br />

alcançado quando a função do Congresso Legislativo consistir em<br />

revogar as leis. Diz mais: ―Numa sociedade com essas características,<br />

diminuiria a necessidade de leis. Fala-se que a China, durante a Era<br />

Gyoshun, com uma lei constituída apenas de três artigos, e o Japão,<br />

com os dezessete artigos da lei instituída pelo Príncipe Shotoku, foram<br />

muito bem governados, o que eu acho perfeitamente possível.‖<br />

Um MAGISTRADO faz uso da palavra.<br />

MAGISTRADO<br />

(em tom irônico)<br />

Pensem! Uma sociedade moderna como a nossa sendo governada por<br />

meia dúzia de artigos. O Direito, meu caro senhor, sempre contempla a<br />

liberdade, a igualdade e a fraternidade entre os homens.<br />

YAMA<br />

Eu gostaria de recordar que até pouco tempo, os operários não tinham<br />

direito de sociedade de classe, como hoje, e por isso viviam á custa<br />

dos senhores feudais ou da ajuda dos patrões mais ricos. Entre a<br />

maioria das pessoas, portanto, não havia independência nem<br />

igualdade. Elas dependiam da ajuda dos mais poderosos e,<br />

logicamente, não eram donas da sua própria vida.<br />

MAGISTRADO<br />

E continuam assim. O povo ―mama‖ nas ―tetas‖ dos seguros sociais do<br />

Governo, as mulheres se ―encostam‖ nos maridos e ...<br />

YAMA<br />

Uma vez que esta situação se prolongou por vários séculos, é<br />

perfeitamente justificável a dificuldade do povo em se libertar desse<br />

sentimento de dependência.<br />

No que se refere às mulheres, nenhuma trabalhava fora como agora,<br />

mesmo que atingisse certa idade, de modo que elas não tinham<br />

alternativas senão depender dos pais, e, uma vez casadas, deviam<br />

prestar fidelidade absoluta à família do marido até a morte. Elas<br />

estavam, pois, numa situação semelhante à de uma planta parasita,<br />

que não consegue sobreviver senão se agarrar a algo bem forte.<br />

61


MAGISTRADO<br />

Eu só discordo que isso seja coisa do passado e relativo a sexo. Esses<br />

parasitos estão espalhados pela nação hoje e são relativos também a<br />

raça, nacionalidade, naturalidade. Eles além de não pagarem<br />

impostos, taxas e nem tributos, querem boa parte desses direitos para<br />

suas regalias, intimidades, permissividades, irmandades de ócio e<br />

prazer ...<br />

YAMA<br />

Discordo. O respeito à igualdade de direitos dos outros conduz à<br />

verdadeira liberdade e à verdadeira fraternidade.<br />

MAGISTRADO<br />

Como respeitar aqueles que só querem direitos absolutos.<br />

YAMA<br />

Até hoje em dia, disfarçadamente, o governo é escolhido por pequeno<br />

número de pessoas, governando o país como bem entende. O povo<br />

não tem direito nem relativo, como ao uso da palavra, acomodando-se<br />

à condição de serviçais. Aliás, como se sabe, existem países que os<br />

juízes, como suas excelências, não são escolhidos pelo povo.<br />

MAGISTRADO<br />

Só falta achar que um condenado a morte pela Justiça vai ter direito a<br />

escolher a suprema corte.<br />

YAMA<br />

Condenado a morte pela Justiça! Isso compete a Deus, que possui o<br />

direito sobre a vida e a morte.<br />

PRESI<strong>DE</strong>NTE DA CORTE<br />

Espere um pouco. Se não houver, no homem, nenhuma parcela de<br />

Bem e ele praticar somente o Mal, também deixará de ser um homem<br />

verdadeiro; será um animal, não? Tal espécie de homem prejudicaria a<br />

coletividade em que vive e precisaríamos ao invés de simplesmente<br />

condená-lo a penalidades, evitar sua existência. Qual sua opinião?<br />

YAMA<br />

O homem não deve emitir opinião sobre o próximo, pois não tem<br />

capacidade para julgar o bem ou o mal, a sinceridade ou falsidade. Isto<br />

compete a Deus. Quem se arroga o poder de julgamento está<br />

infringindo os direitos Divinos, porque é apenas um ser humano. É<br />

excesso de presunção, é uma atitude altamente condenável.<br />

62


PRESI<strong>DE</strong>NTE DA CORTE<br />

O senhor está passando dos limites, eu tenho o poder de julgar.<br />

YAMA<br />

Vaidade que o leva arrogar-se o direito de julgar os seus semelhantes.<br />

PRESI<strong>DE</strong>NTE DA CORTE<br />

Lembre-se que é um japonês naturalizado americano.<br />

YAMA<br />

Eu vim para este país porque acredito que nos Estados Unidos, se as<br />

pessoas são tratadas de maneira inconveniente, elas protestam e<br />

jamais recuam até que seja feita justiça. Por conseguinte, se um<br />

japonês ou um naturalizado americano quiser construir uma sociedade<br />

feliz e democrática, é preciso que ele não se dobre de maneira alguma<br />

quando vir a justiça desrespeitada. Quando esse pensamento se<br />

estender a todas as sociedades deixará de existir civilização<br />

superficial; interiormente selvagem, onde o problema de corrupção não<br />

passa de um pico visível de um ‗iceberg‘.<br />

Presidente da Corte interfere com perguntas auxiliadoras a fim de<br />

evitar ordem de prisão para aquele nacionalizado.<br />

PRESI<strong>DE</strong>NTE DA CORTE<br />

Mas, senhor respeita que existam as leis, juízes e direitos inalienáveis?<br />

YAMA<br />

Excelência, desde que se viva em conformidade com o Plano Cósmico,<br />

é naturalmente abençoado com a saúde, a prosperidade e a paz, a que<br />

se tem direito inalienável. Aliás, não ter direito de comer é algo<br />

extremamente desagradável até para quem está no Mundo Espiritual,<br />

a infração da lei material da aplicação dos adubos ao solo é<br />

inconcebível; o homem ter mais privilégio do que a mulher é uma idéia<br />

exageradamente conservadora e orgulhosa.<br />

PRESI<strong>DE</strong>NTE DA CORTE<br />

Noto que o senhor respeita o direito dos outros a alimentação, a<br />

incriminação e a progressão. Sobre as leis, deve concordar que o que<br />

reinava era a violência dos malfeitores, elas ao existirem evitaram a<br />

violência. Isso é inegável, não?<br />

YAMA<br />

Precariamente sim. Porém os maus elementos substituíram a violência<br />

por processos ardilosos, como intimidações e ameaças. As leis são<br />

constantemente transgredidas pelos materialistas e egoístas, e mais, o<br />

63


problema de violação delas não envolve apenas as pessoas das<br />

classes inferiores.<br />

PRESI<strong>DE</strong>NTE DA CORTE<br />

Envolve quem então?<br />

YAMA<br />

Os violadores das leis vêm de cima, começando por políticos,<br />

presidentes, ministros, magistrados, militares, funcionários públicos e<br />

empresários. E principalmente, desta Suprema Corte.<br />

PRESI<strong>DE</strong>NTE DA CORTE<br />

Chega de tolerância! Dou-lhe voz de prisão.<br />

Os guardas imediatamente se aproximam do agora prisioneiro<br />

levando-o para fora do recinto.<br />

058. EXT. SUPREMA CORTE<br />

Microfones de várias nacionalidades se aglomeram em torno do<br />

prisioneiro. Uma repórter brasileira e faz uma pergunta que Yama<br />

responde.<br />

YAMA<br />

Povo brasileiro que me escuta. Saiba que o Poder Judiciário de vocês<br />

é muito moroso e pouco eficiente. Em parte, devido à quantidade<br />

deficiente de juízes o sistema não consegue dar vazão à grande<br />

quantidade de processos que recebe diariamente, o que gera um<br />

acúmulo de processos não julgados, alinhada a essa lógica, ou falta de<br />

lógica, o problema da morosidade esbarra-se na legislação que<br />

permite um grande número de recursos, acarretando um longo período<br />

de tempo para analisar e julgar os processos. Mas, em outra parte, é<br />

porque isso é conveniente.<br />

Os guardas empurram os repórteres, mas Yama continua falando.<br />

YAMA<br />

Saibam que no Poder Judiciário de vocês os crimes são cometidos,<br />

mas o conjunto de trabalhos mal realizados, desde a perícia policial,<br />

passando por um julgamento mal conduzido à generosidade da<br />

legislação penal, resulta em um índice em calamidade pública de<br />

impunidade. Ouviram bem: calamidade pública de impu ... ni ... dade.<br />

Ele é levado a força e vai gritando.<br />

64


YAMA<br />

A corrupção de magistrados é outro ponto questionável do Judiciário<br />

brasileiro, é realmente uma agravante na impunidade de membros da<br />

elite.<br />

059. VIATURA POLICIAL<br />

Yama está sendo posto para dentro daquela viatura pelos policiais sob<br />

inúmeros microfones querendo ouvir o que o prisioneiro ainda tem a<br />

dizer, mas só escutam ele balbuciar.<br />

YAMA<br />

Esta é uma causa dos males sociais da época atual.<br />

060. ROSTO DO YESHUA<br />

CORTA PARA<br />

YESHUA<br />

Que problema! Se eleito for governarei apenas o Poder Executivo, mas<br />

o Governo é composto de outros dois poderes: o Poder Legislativo e o<br />

Poder Judiciário. Como se fazer um bom governo onde há uma<br />

calamidade pública chamada: impu ... ni ... dade?<br />

65


MEIO - 2<br />

67


061. INT. PRESÍDIO<br />

A mediadora do debate daquela emissora de televisão entrevista o<br />

então prisioneiro.<br />

MEDIADORA DO <strong>DE</strong>BATE<br />

Por que acha que foi preso?<br />

YAMA<br />

Muitas vezes os indivíduos são levados pelos espíritos do mal e o seu<br />

espírito secundário.<br />

MEDIADORA DO <strong>DE</strong>BATE<br />

Como foi o caso desse juiz que lhe deu ordem de prisão?<br />

YAMA<br />

Você não acha que, mesmo que eu tivesse feito um mal, deter o mal<br />

através de jaulas chamadas leis não significa tratar os seres humanos<br />

como animais? Se chamarmos a isso de nação civilizada, com certeza<br />

a civilização chorará de tristeza.<br />

MEDIADORA DO <strong>DE</strong>BATE<br />

No mundo atual, quanto mais civilizado é um país mais complexo é o<br />

seu sistema legislativo. Como todos podem ver, os artigos das leis<br />

tendem a aumentar cada ano; pode-se até dizer que a época<br />

contemporânea é a época da onipotência da legislação. Ora, a<br />

existência de muitas leis significa ser difícil os oficiais de justiça e os<br />

advogados memorizarem todas elas, mesmo utilizando a vida inteira.<br />

YAMA<br />

Seria desnecessário dizer que o principal objetivo das leis é diminuir a<br />

criminalidade e construir um mundo sem crimes. Entretanto, ao invés<br />

de diminuírem, os crimes tendem a aumentar cada vez mais com o<br />

passar dos anos. Por que será? Não é realmente incompreensível?<br />

Não é uma total contradição ao progresso da cultura?<br />

No Congresso Nacional realizado anualmente, o assunto que mais se<br />

discute é o aumento dos artigos das leis. No entanto, se a cultura<br />

progredisse do modo previsto, o número de criminosos iria diminuindo<br />

cada vez mais e, com certeza, surgiriam artigos desnecessários nas<br />

leis. Sendo assim, não deveria ser discutida também, no Congresso<br />

Nacional, a eliminação de partes da lei? Mas o interessante é que,<br />

embora isso não aconteça, ninguém estranha o fato, pois as pessoas<br />

perderam as esperanças, achando que a situação não tem mais<br />

solução. Então, surge o problema: o que fazer para eliminar<br />

69


verdadeiramente o caráter animal do homem e construir uma<br />

sociedade que não tenha necessidade de jaulas?<br />

MEDIADORA DO <strong>DE</strong>BATE<br />

No fundo, um país não pode ser regido apenas por normas<br />

obrigatórias, as pessoas não devem apoiar-se apenas nas leis. É isso?<br />

YAMA<br />

Só há um meio de eliminar os crimes deste mundo: destruir o ateísmo.<br />

Se continuarmos apoiando-nos apenas nas leis, como fazemos<br />

atualmente, crescerá o número de indivíduos espertos e malvados, os<br />

quais pensam que lhes basta agir de modo a não caírem nas mãos da<br />

Justiça. Por exemplo, como resultado da exploração dos capitalistas,<br />

dos fazendeiros e de outras pessoas que fazem o que bem entendem<br />

em nome de seus próprios interesses, os trabalhadores, sem<br />

alternativa para se auto-defenderem, acabam enfrentando-os em<br />

movimentos de grupo. Imaginemos, porém uma sociedade onde se<br />

seria moderado na obtenção de lucros, distribuindo-os com os<br />

trabalhadores quando ultrapassarem certo limite.<br />

Guardas se aproximam indicando que a visita está encerrada, eles se<br />

despedem e vão caminhando em direções opostas. Portas são<br />

abertas, cada uma levando a um caminho.<br />

062. CORREDOR<br />

O encaminhado por um segurança do presídio volta a ficar ...<br />

063. INT. CELA<br />

... atrás das grades, juntamente com um preso de péssima aparência,<br />

conduta e postura, uma personalidade do mundo do crime de nome<br />

JOHN JOHN. O segurança ao dar as costas indo embora, John faz um<br />

gesto obsceno com o dedo maior da mão direita e vira sua face para o<br />

idoso que acabara de entrar, piscando o olho para ele.<br />

YAMA<br />

Saiba que sou advogado se não me respeitar, eu vou ...<br />

JOHN JOHN<br />

(voz de malandro com ironia)<br />

O papai aqui também foi advogado, saiba que também sei manipular a<br />

justiça e escapar da lei. Aqui não vale os Dez Mandamentos.<br />

70


YAMA<br />

(pensando)<br />

Já notei que ele se satisfaz com agressividade pelas palavras. Os que<br />

na sociedade são chamados de advogados e ilustres personalidades<br />

andam pavoneando, espiritualmente falando são de baixo nível, são<br />

inferiores. Por isso não entendem que para afirmações como ‗Deve-se<br />

fazer isso‘ ou ‗Não se deve fazer aquilo‘ dos mandamentos não<br />

existem penas carnais como na lei, mas existem penas espirituais, que<br />

consta na Bíblia.<br />

(falando)<br />

Na prevenção do crime, conta-se apenas com a força da Lei, mas esta<br />

não atinge o âmago da questão, pois a causa dos crimes está no<br />

interior do homem, ou seja, na sua alma, na luta constante entre o bem<br />

e o mal, no domínio do espírito primordial sobre o espírito secundário.<br />

JOHN JOHN<br />

(ironizando)<br />

É o mesmo que colocar água numa peneira e, notando que ela vaza<br />

demais, fazer uma peneira de furos menores. Por que você não inclui a<br />

preponderância da razão sobre o sentimento, ensinar o Caminho<br />

Perfeito e a lógica a ponto de se ter a palavra e a postura adequada<br />

numa conversa, enfim fazer ser humano evoluir para o homem Divino?<br />

YAMA<br />

(abismado)<br />

Como você sabe disso tudo?<br />

JOHN JOHN<br />

Já fui messiânico seu otário. Se quiser sei falar polidamente, sem dizer<br />

muitas coisas fáceis e nem fora do assunto, tocando o ponto vital.<br />

Fala-se ‗Estar de acordo com a lei‘ ou ‗Existe lei‘, mas em outras<br />

palavras, significa caminho.<br />

064. ANFITEATRO<br />

CORTA PARA<br />

Yeshua dando palestra naquele seu local de trabalho. Só que ali tem<br />

adversários políticos empunhando bandeira e vestindo camiseta.<br />

YESHUA<br />

Qual a importância da pedagogia da educação do século XXI senão<br />

formar integrantes na Nova Cultura e da Cidade da Nova Era? Qual o<br />

71


seu significado senão a Escola de Deus; edificação de um mundo<br />

paradisíaco; aquisição de conhecimento espiritualista da Natureza,<br />

Homem e Sociedade; vinculação entre religião e ciência;<br />

especialização das faculdades humanas; assimilação das<br />

transformações do mundo; criação de dedicantes em função de<br />

beneficiar a humanidade; evolução dos alunos, professores, dirigentes,<br />

funcionários, pais e comunidade?<br />

ALUNA ao levantar o braço é censurada por UM NÃO ALUNO com cara<br />

feia vestindo camiseta com o rosto do outro candidato estampado nela.<br />

ALUNA<br />

Essa pedagogia tem de conceder alimento espiritual, ensinamentos<br />

dos Grandes Mestres. Assim, para o bem-estar da sociedade é preciso<br />

formar a ―Escola do Espírito", por isso, será uma questão grave absterse<br />

dessa prática. Pois, quase sempre, confundem-se meios com fins.<br />

YESHUA<br />

Isso mesmo! Até agora, existiam muitas pessoas na sociedade que<br />

estudavam apenas para serem cultas ou obterem um bom emprego.<br />

Ao contrário, é preciso mudar o pensamento arraigado com o qual<br />

estão estudando atualmente, de alcançar uma vida digna, construir<br />

verdadeiramente o Paraíso na Terra. O trabalho e os estudos têm<br />

como essencial essa construção e a salvação da humanidade. Alguns<br />

serão políticos, outros artistas ou empresários. Porém, cada um, na<br />

sua posição, deve estender a Luz de Deus ao mundo e assim todos se<br />

tornarão elementos úteis na edificação do Paraíso Terrestre.<br />

UM NÃO ALUNO<br />

Pedagogia da educação do século XXI. Mas, o que é educação?<br />

YESHUA<br />

Processo e efeito de desenvolver as faculdades humanas, na formação<br />

do espírito isento de todo dogmatismo, que capacite a pessoa tornarse<br />

mestre da sua própria atividade desde que continue aprendendo.<br />

UM NÃO ALUNO<br />

Aprendendo que o melhor candidato a presidência da América é<br />

americano, e não um japa naturalizado. Viva ao candidato a<br />

presidência William Carter.<br />

Bandeiras são movimentadas sob ASSOVIOS E APLAUSOS. Yeshua<br />

não se intimida e fala grosso.<br />

72


YESHUA<br />

Discordo! Aprendendo a ponto de saber que educação elevada é<br />

aquela que permite subir de nível nas camadas do Mundo Espiritual.<br />

VAIAS. O REITOR fala para o público.<br />

REITOR<br />

Se não houver comportamento adequado, a palestra estará encerrada.<br />

Tudo fica quieto e a palestra continua.<br />

YESHUA<br />

O objetivo dessa pedagogia é constituir servidores de Deus;<br />

semeadores de altruísmo e espiritualidade; promotores da veracidade,<br />

virtude e beleza; estabelecedores de cidadãos e sociedades sadias,<br />

prósperas e pacíficas; focalizadores na unidade espírito-matéria;<br />

investigadores das missões das coisas e seres; desveladores de<br />

mistérios; continuadores de uma educação familiar espiritualista;<br />

portadores de instrução e ética; detentores de teoria e realidades<br />

semelhantes; defensores de argumentos bem fundamentados;<br />

cultivadores de independência, atenção e comunicação.<br />

ALUNA<br />

Não se deve estudar visando melhorar a posição social?<br />

YESHUA<br />

Há uma grande diferença entre o estudo realizado com o pensamento<br />

de que ele é o mais importante e o estudo efetuado com o desejo de<br />

torná-lo útil à Deus. Para isso não devemos esquecer que cada povo e<br />

cada indivíduo possuem características peculiares como de raças,<br />

nacionalidades, sexo, bem como que o fim da educação é o progresso<br />

da civilização conciliando a ciência material e a ciência espiritual.<br />

UM NÃO ALUNO<br />

Acho interessante alguém que tem pai na cadeia falar em portadores<br />

de instrução e ética.<br />

Silêncio. Yeshua não aceita aquela provocação e continua.<br />

YESHUA<br />

A Educação está muito distante do verdadeiro caminho. Seu real<br />

objetivo é formar homens íntegros, isto é, homens que façam da justiça<br />

o seu código de Fé e se esforcem para aumentar o bem-estar social,<br />

contribuindo para o progresso e a elevação da cultura.<br />

Seu conteúdo educacional estando próximo da verdade; expressando<br />

73


um estudo útil à sociedade; levando em conta um conhecimento<br />

amplo, como científico, artístico e religioso; sendo mais amplo do que o<br />

conhecimento acadêmico; cuidando de uma moral alicerçada no<br />

caminho divino; descobrindo potencialidades e ampliando cidadania;<br />

aperfeiçoando os cálculos em geral, destacadamente os econômicos;<br />

aprendendo sobre o lado espiritual da Bolsa de Valores.<br />

UM NÃO ALUNO<br />

O futuro presidente William Carter tem dito que logo após a Segunda<br />

Grande Guerra, o pensamento liberal passou dos limites.<br />

YESHUA<br />

Concordo. Observa-se freqüentemente, os jovens caírem na<br />

libertinagem pelo excesso de liberalismo com ausência da distinção<br />

entre professores e alunos. Evidentemente, a forma militar dos tempos<br />

antigos não é boa, mas o relaxamento atual também não é.<br />

UM NÃO ALUNO<br />

William Carter tem se preocupado com a formação da personalidade<br />

desde cedo.<br />

YESHUA<br />

Seu candidato parece bom. Deve-se fazer com que, desde cedo, a<br />

criança consiga distinguir o que pode e o que não pode fazer.<br />

UM NÃO ALUNO<br />

Se concordar com tudo, então, desse jeito, posso concluir que apenas<br />

imita a metodologia pedagógica de William Carter?<br />

YESHUA<br />

A metodologia que imito é a de Mokiti Okada. Ela é regulada pelas leis<br />

naturais do Universo; alicerçada no respeito aos compromissos;<br />

baseada na atração, e não no empurrar; apoiada em linguagem<br />

compreensível; sinalizada pela investigação da verdade pelo caminho<br />

do meio; ponderada em relação à influência de pais e professores;<br />

determinada em negar a opressão e a libertinagem no controle de<br />

turmas e filhos ...<br />

UM NÃO ALUNO<br />

... o meu candidato defende o ensino tradicional que foi sedimentando<br />

através dos anos no solo americano.<br />

YESHUA<br />

Um dia um presidente de uma empresa emitiu o seguinte comentário:<br />

―Embora seja muito inteligente, uma pessoa que saiu da universidade<br />

74


há mais de dez anos não consegue situar-se, em face dos problemas<br />

reais do presente. Isso acontece por não haver correspondência entre<br />

o que ela aprendeu naquela época e o tempo atual, especialmente no<br />

que se refere aos técnicos.‖<br />

UM NÃO ALUNO<br />

Discordo! O meu candidato saiu da universidade há mais de dez anos<br />

e é um político de grande envergadura.<br />

ALUNA<br />

Eu é que discordo. Todos sabem que os políticos contemporâneos<br />

tornaram-se muito ―pequenos‖, não são nada hábeis; o máximo que<br />

eles conseguem é resolver problemas do momento. Isso ocorre<br />

porque, são formados pelas universidades e deixam-se levar<br />

facilmente pelas velhas teorias aprendidas. Racionais em tudo, eles<br />

não sabem que existe algo além da lógica. É a mesma coisa que<br />

utilizar o cavalo como meio de transporte numa rodovia, ou aprender a<br />

dirigir charrete ao invés de carro.<br />

YESHUA<br />

O estudo destina-se ao desenvolvimento do cérebro humano. É para<br />

edificar uma base, como se fosse o alicerce de uma casa. Sobre essa<br />

base, precisa-se fazer uma nova construção, ou seja, utilizar o estudo,<br />

desenvolvê-lo e com ele criar coisas novas. Isso significa ajustar os<br />

passos ao contínuo progresso cultural. E não é só isso. O verdadeiro<br />

estudo vivo é aquele que avança ainda mais, desempenhando a<br />

função de orientar a cultura.<br />

UM NÃO ALUNO<br />

Quer se mostrar avançado, Hein? E sua avaliação é apenas notas?<br />

ALUNA<br />

Ele foi meu professor. Sua avaliação é parametrizada pela verdade,<br />

pelo bem do espírito de justiça e pelo belo valorizado nas coisas.<br />

REITOR<br />

Muito bom. Agradeço ao candidato Yeshua por essa brilhante palestra.<br />

065. EXT. ANFITEATRO<br />

Lá fora um ouvinte apelidado de ALTHUSSER se aproxima de Yeshua<br />

cobrando que ele conscientizasse mais aquela platéia. Parte dela está<br />

ali observando o que irá acontecer.<br />

75


ALTHUSSER<br />

Por que não falou que no passado, o número dos Aparelhos<br />

Ideológicos de Estado era maior, sendo a Igreja o dominante, reunindo<br />

funções religiosas, escolares, de informação e de cultura. Mas, que a<br />

Revolução Francesa resultou não apenas na transferência do poder do<br />

Estado para a burguesia capitalista comercial, resultando também no<br />

ataque ao Aparelho Ideológico de Estado número um - a Igreja -,<br />

substituída em seu papel dominante pelo Aparelho Ideológico de<br />

Estado escolar.<br />

YESHUA<br />

Eu sei que a escola se encarrega das crianças de todas as classes<br />

sociais desde a mais tenra idade, inculcando nelas os saberes contidos<br />

da ideologia dominante (a língua materna, a literatura, a ciência, a<br />

história) ou simplesmente a ideologia dominante em estágio puro<br />

(moral, educação cívica, filosofia). E nenhum outro Aparelho Ideológico<br />

de Estado dispõe de uma audiência obrigatória por tanto tempo<br />

(6horas por 5dias por semana) e durante tantos anos - precisamente<br />

no período em que o indivíduo é mais vulnerável, estando espremido<br />

entre o Aparelho Ideológico de Estado familiar e o Aparelho Ideológico<br />

de Estado escolar.<br />

ALTHUSSER<br />

É, mas raros são os professores que se posicionam contra a ideologia,<br />

contra o sistema. A maioria nem sequer suspeita do trabalho que o<br />

sistema os obriga a fazer ou, o que é ainda pior, põem todo o seu<br />

empenho e engenhosidade em fazê-lo de acordo com a última<br />

orientação (os métodos novos). Eles questionam tão pouco que pelo<br />

próprio devotamento contribuem para manter e alimentar essa<br />

representação ideológica da escola, que hoje faz da Escola algo tão<br />

natural e indispensável quanto era a Igreja no passado.<br />

YESHUA<br />

Eu sei que os crítico-reproduvistas, como o senhor, denunciam o<br />

caráter perverso da escola capitalista, onde a escola da maioria reduzse<br />

totalmente à inculcação da ideologia dominante, enquanto as elites<br />

se apropriam do saber universal nas escolas particulares de boa<br />

qualidade, reproduzindo, assim, as contradições inerentes e<br />

necessárias ao capitalismo.<br />

ALTHUSSER<br />

O enfoque crítico-reprodutivista enfatiza o aspecto político em<br />

detrimento da técnica, denunciando o caráter reprodutor da escola. A<br />

escola é vista como reprodutora porque fornece às diferentes classes e<br />

grupos sociais, formas de conhecimento, habilidades e cultura que não<br />

76


somente legitima a cultura dominante, mas também direcionam os<br />

alunos para postos diferenciados na força do trabalho.<br />

Se você conhece que o sistema escolar é um Aparelho Ideológico do<br />

Estado, ou seja, do sistema capitalista, então porque ...<br />

YESHUA<br />

... porque a teoria pedagógica crítico-reprodutivista erra porque<br />

pressupõe que, dada uma sociedade capitalista, a educação apenas e<br />

tão somente reproduz os interesses do capital. Por isso, ela "não<br />

apresenta proposta pedagógica, além de combater qualquer uma que<br />

se apresente", deixando os educadores de esquerda que atue em<br />

sociedades capitalistas sem perspectivas: sua única alternativa<br />

honesta seria abandonar a ação educacional, que seria sempre<br />

"necessariamente reprodutora das condições vigentes e das relações<br />

de dominação (características próprias da sociedade capitalista)". No<br />

entanto, aceito que o Período Critico-Reprodutivista foi um período de<br />

avanço da consciência ingênua dos educadores para uma concepção<br />

mais crítica da educação escolar.<br />

ALTHUSSER<br />

Gostei. Pode contar com o meu voto e a minha militância.<br />

Os que estavam ali assistindo acham aquilo muito interessante.<br />

066. INT. TRIBUNAL<br />

CORTA PARA<br />

Uma juíza, jurados, público onde o filho do réu se encontra. Só que há<br />

algo diferente, o advogado do réu é ele próprio, mas o PROMOTOR ...<br />

PROMOTOR<br />

Para encerrar, todos sabem que existem várias organizações<br />

destinadas a prevenir os crimes: desde os tribunais como este, os<br />

presídios como o de onde o réu veio, até a polícia e um número<br />

incontável de funcionários que se encarregam de administrá-los, além<br />

de milhares de leis extremamente severas e minuciosas. A sociedade<br />

está aparelhada a ponto de quase não haver brechas para a<br />

ocorrência de crimes. Assim, o mundo dos seres humanos é esse<br />

mundo com leis e organizações anticriminais.<br />

Jurados, neste contexto civilizatório, como aceitar afirmação que o juiz<br />

não tem o direito de julgar? E pior do que isso, como aceitar afirmação<br />

que os violadores das leis vêm de cima, começando pelos<br />

77


magistrados? Por tais danos ao progresso, sou pela condenação<br />

máxima do réu que se aplica em tais situações judiciais.<br />

JUÍZA<br />

Com a palavra, a defesa.<br />

O próprio réu se levanta.<br />

YAMA<br />

Para iniciar, o mundo dos seres humanos não deve ser um mundo com<br />

leis e organizações anticriminais, deve ser sem estas. O esforço que<br />

estamos empreendendo tem um único objetivo: construir esse mundo.<br />

Dizer que as leis humanas são extremamente severas e minuciosas,<br />

isso é apenas na aparência. Não existem somente as leis criadas pelo<br />

homem; existem também as Leis Divinas, que não são visíveis aos<br />

nossos olhos, mas que de forma alguma pode ser infringida. Devemos<br />

saber que todos os infortúnios do homem são punições decorrentes da<br />

infração das Leis Divinas. Na realidade, essas punições são muito<br />

mais rigorosas que as leis do homem e não podemos absolutamente<br />

livrar-nos delas. Naturalmente, existe também a pena de morte; tratase<br />

da morte por calamidades, por doença, etc., que vem a ser a<br />

punição por ter a pessoa violada as Leis Divinas. Incêndios, roubos,<br />

falsidade, perdas na Bolsa, falências comerciais, apostas inúteis,<br />

gastos com doenças, etc., são formas materiais de redenção de<br />

máculas também adquiridas materialmente. Portanto, embora possa<br />

fugir às sanções das leis humanas, ninguém escapa das leis eternas.<br />

PROMOTOR<br />

No seu caso, sofrerá às duas sanções: das leis humanas e eternas.<br />

JUÍZA<br />

Solicito que a promotoria não se pronuncie no decorrer da<br />

apresentação da defesa do réu.<br />

PROMOTOR<br />

Pois não, meritíssimo.<br />

YAMA<br />

Discordo da afirmação do Promotor que o contexto atual é civilizatório.<br />

O Mundo que iremos construir, mesmo existindo um país como o<br />

Japão, de pouca extensão territorial e excesso de população, a<br />

solução será simples. Haverá a Assembléia Mundial e qualquer<br />

problema será resolvido porque não haverá interesses egoísticos de<br />

um só país, como existe hoje; por isso, qualquer medida, desde que<br />

seja correta, será executada em harmonia. A Assembléia se reunirá<br />

78


uma vez a cada três meses, e cada reunião terá a duração de três<br />

dias, realizada só em meio período por dia. Nem é preciso dizer que a<br />

lei é irrelevante para o homem de bem, sendo necessária apenas para<br />

os homens maus. Surgindo um mundo sem pessoas más, é natural<br />

que fique assim. Imaginando esse tipo de Assembléia, e observando<br />

as assembléias atuais, o que acham? Podemos dizer, sem<br />

constrangimento, que as da atualidade são locais onde se reúnem<br />

pessoas selvagens, embora cultas.<br />

PROMOTOR<br />

E no passado, na era subdesenvolvida e selvagem, onde os fortes<br />

pressionavam os fracos tolhendo-lhes a liberdade, impondo-lhes a<br />

força, cometendo assassinatos e agindo como bem entendiam. Como<br />

resultado, os fracos inventaram vários meios de defesa: fabricaram<br />

armas, construíram muralhas, facilitaram os transportes, etc. Em<br />

grupos ou mesmo sozinhos, eles se esforçavam de todas as maneiras<br />

possíveis. Isso, naturalmente, serviu para desenvolver a mente<br />

humana. Com o correr do tempo, para garantir a segurança dos fracos,<br />

fizeram-se contratos entre grupos, os quais, possivelmente, deram<br />

origem aos acordos internacionais de hoje. Socialmente, foi criado algo<br />

semelhante às leis, com o objetivo de limitar o mal; transcrito em forma<br />

de códigos, isso deu origem às modernas legislações.<br />

YAMA<br />

Entretanto, com métodos tão superficiais, não foi possível eliminar o<br />

mal que há no ser humano.<br />

PROMOTOR<br />

Então só nos resta a religião? Não se esqueça que os religiosos para<br />

combater o mal pregaram a Lei da Causa e Efeito, na tentativa de<br />

obter o arrependimento e a conversão dos perversos.<br />

YAMA<br />

O que nos resta é excluir o delito nas suas origens.<br />

PROMOTOR<br />

Então, vamos ter que acabar com pecados dos antepassados e pais.<br />

YAMA<br />

O Mundo Espiritual possui Fórum onde as leis são aplicadas com rigor.<br />

PROMOTOR<br />

O quê! Mundo Espiritual possui um Fórum? Isso não passa de fantasia.<br />

79


JUÍZA<br />

Evitem debates, desavenças e se atenham ao que está em julgamento.<br />

Promotor, a palavra lhe foi concedida, tem pergunta pertinente?<br />

PROMOTOR<br />

Sim meritíssimo. Onde está a raiz dos delitos?<br />

YAMA<br />

A causa das injustiças que infestam o mundo reside na própria mente.<br />

O pensamento que admite a possibilidade de se manterem<br />

despercebidos os delitos, acha-se enraizado entre os que não crêem<br />

verdadeiramente em Deus. Segundo tal raciocínio, é muito mais fácil e<br />

vantajoso ganhar dinheiro de modo ilícito. Mas, fracassam porque,<br />

embora o mal não seja descoberto pelos outros, a própria pessoa sabe<br />

que o cometeu. Aí é que está o problema, pois o conteúdo do<br />

consciente e do subconsciente reflete-se num local do Mundo<br />

Espiritual que corresponde, na Terra, ao nosso Palácio da Justiça.<br />

Pode ser chamado de Fórum do Mundo Espiritual.<br />

JUÍZA<br />

E como seria feita a comunicação ao Fórum do Mundo Espiritual?<br />

067. ROSTO DO YESHUA<br />

O filho do réu ao ouvir aquela pergunta, sorriu.<br />

068. INT. TRIBUNAL<br />

YAMA<br />

Há um elo espiritual semelhante ao telégrafo sem fio que estabelece<br />

ligação entre cada homem e esse Fórum no quais as nossas ações<br />

são registradas com assombrosa exatidão.<br />

JUÍZA<br />

Então, basta o homem tomar consciência desse fato?<br />

YAMA<br />

Sim meritíssimo, mas, atualmente, a maioria dos homens cultos é cega<br />

a essas questões espirituais e menospreza o ato de revelá-las ao<br />

povo. Inclusive mostram-se prevenidos contra a pregação desse<br />

princípio fundamental, considerando-o superstição, quando, na<br />

realidade, são eles que se portam como supersticiosos. A maior prova,<br />

80


os delitos não têm diminuído. A justiça terrena tenta evitá-los punindoos<br />

com medidas provisórias e superficiais, depois que eles vêm à tona.<br />

JUÍZA<br />

Deste modo, injustos deveriam possuir quase sempre físicos doentes?<br />

YAMA<br />

―Espírito são, habita um corpo são‖ e isso é uma grande verdade.<br />

Foi verificado, após longos anos de pesquisa, que não só a injustiça,<br />

mas também a imoralidade, o alcoolismo, a preguiça e a corrupção<br />

existem quase sempre em físicos doentes.<br />

PROMOTOR<br />

Como o réu julgaria o caso do Primeiro Ministro de seu país de origem<br />

ser aleijado e diabético, seria ele um injusto, imoral, alcoólatra,<br />

vagabundo ou quem sabe um corrupto?<br />

069. ROSTO DO YESHUA<br />

Diante da armadilha, a face do filho do réu fica tensa.<br />

070. INT. TRIBUNAL<br />

YAMA<br />

Só Deus sabe fazer justiça. No entanto, quanto mais elevada a posição<br />

do homem, maior se torna o número de seus elos espirituais. Sendo<br />

assim, a personalidade de um líder tem que ser nobre, porque, se no<br />

seu espírito houver impurezas, isso se refletirá nocivamente ...<br />

071. ROSTO DO YESHUA<br />

A face do filho do réu fica mais tensa.<br />

072. INT. TRIBUNAL<br />

PROMOTOR<br />

Mas, insisto, no caso do Primeiro-Ministro do Japão?<br />

YAMA<br />

O primeiro-ministro de um país, por exemplo, deve ser um homem de<br />

grande personalidade; além de muita sabedoria, deve ter muita<br />

81


sinceridade. Caso contrário, o pensamento do povo se deteriora, a<br />

moral relaxa, e o número de criminosos torna-se cada vez maior.<br />

073. ROSTO DO YESHUA<br />

YESHUA<br />

Qualquer pessoa com grande número de elos espirituais tem que ser<br />

nobre. Nós educadores cujo caráter se reflete sobre os alunos através<br />

dos elos espirituais, devemos nos tornar pessoas dignas de exercer<br />

essa profissão, procurando aperfeiçoar o próprio espírito.<br />

074. ROSTO DO PROMOTOR<br />

PROMOTOR<br />

Se um juiz não tem o direito de julgar então qual o meio mais eficiente<br />

para se julgar uma pessoa?<br />

075. INT. TRIBUNAL<br />

YAMA<br />

O que mais falta no Japão é o espírito de justiça que é uma<br />

necessidade muito maior que a do arroz. A prosperidade dos Estados<br />

Unidos é decorrente da proteção de Deus, concedida pelo progresso<br />

baseado no espírito de justiça. Deus realmente é justiça; sem justiça, a<br />

afinidade com Deus será rompida. Por isso, a pessoa deve observar se<br />

o seu pensamento e suas ações estão de acordo com a justiça.<br />

Tratando-se de justiça, há vários tipos de pensamento. Por exemplo,<br />

na Guerra do Oceano Pacífico, o Japão pensava que era justo matar<br />

os inimigos e apossar-se das suas terras.<br />

076. ROSTO DA JUÍZA<br />

JUÍZA<br />

Entendo que está afirmando que o meio mais eficiente para se julgar<br />

uma pessoa é o conhecimento do grau do seu espírito de justiça.<br />

077. INT. TRIBUNAL<br />

YAMA<br />

O espírito de justiça é a essência do homem.<br />

82


Quem não o possui, assemelha-se à água-viva, a qual é destituída de<br />

ossos, de modo que não merece confiança alguma. Devemos distinguir<br />

o certo e o errado das coisas. Se a pessoa que de nós discorda estiver<br />

desorientada, é nosso dever ajudá-la com espírito de justiça, sem nos<br />

intimidarmos.<br />

078. ROSTO DO PROMOTOR<br />

PROMOTOR<br />

Imagino que devemos chegar ao cúmulo do drástico contraditório de se<br />

ter ódio ao mal.<br />

079. INT. TRIBUNAL<br />

YAMA<br />

Imagino que muitas pessoas refletirão assim: ‗Que adianta rebelar-se<br />

contra o mal que atinge os outros? Não fere meus interesses! É<br />

bobagem atormentar-me com tais fatos. Bastam-me as minhas<br />

preocupações! A vida já é tão cheia de problemas e sofrimentos, que o<br />

melhor é disfarçar e fingir que não vejo certas coisas.‘<br />

PROMOTOR<br />

Ora, quem pensa assim é hábil e dotado de experiência. É um sujeito<br />

vivido! Tido como padrão, sendo respeitado e imitado por muita gente.<br />

YAMA<br />

Para ver como são as coisas.<br />

PROMOTOR<br />

O que está insinuando?<br />

RISOS. Juíza bate o martelo.<br />

YAMA<br />

Na polícia, que sempre funciona muito mal, o descalabro é evidente. A<br />

maioria dos políticos é corrupta. Dirigentes de sociedades são<br />

denunciados por escândalos de suborno e prevaricação. Esfriam-se as<br />

relações entre familiares e aumenta a crise entre os educandos. A bela<br />

capa da democracia oculta a exploração dos impostos e o sofrimento<br />

do povo sob a opressão do poder burocrático. A onda de crimes<br />

avoluma-se dia a dia. O número de problemas desagradáveis é tal, que<br />

se torna difícil relacioná-los. O mal é odiado?<br />

83


PROMOTOR<br />

Sim, mas, o que os sujeitos vividos têm a ver com isso?<br />

YAMA<br />

Em todas as épocas, os jovens possuem vigoroso senso de justiça e<br />

ódio ao mal. Ao deixarem os bancos escolares, no entanto, enfrentam<br />

uma realidade tão inesperada, que golpeia todas as suas convicções,<br />

dissolve seus velhos ideais e exige a reformulação de seus valores,<br />

para que eles adquiram a chamada ‗experiência da vida‘. Qualquer<br />

manifestação do espírito de justiça cria mal-entendido, suscita antipatia<br />

de superiores hierárquicos e dificulta-lhes o sucesso na profissão.<br />

Qualquer intenção de justiça é considerada como pedantismo ou<br />

inexperiência. A essa altura, o sentimento de justiça é posto de lado,<br />

sendo substituído pelo ‗senso prático‘. Considera-se, então, que o<br />

jovem se aprimorou na arte de viver em sociedade.<br />

PROMOTOR<br />

Isso é mau? Prefere que os jovens sejam exaltados, fiquem<br />

importunando os outros, ameaçando a ordem social e causando ...<br />

YAMA<br />

... causando uma sensação de desconforto à sua volta? Não digo que<br />

o ‗senso prático‘ seja propriamente mau; contudo, o aumento de<br />

pessoas acomodadas afrouxa a estrutura da sociedade e facilita o<br />

aparecimento de corruptos e criminosos. A nossa realidade social torna<br />

patente o que acabo de afirmar.<br />

Para definir o valor de um homem, julgo importante verificar a sua<br />

dosagem de ódio ao mal. Quanto maior ojeriza tiver pelo mal, mais<br />

firme é a pessoa, mais sólido é o seu caráter. Mas não me refiro ao<br />

ódio simplista, que geralmente traz complicações. Quem abomina<br />

profundamente o mal, deve amadurecer seu pensamento, evitar atos<br />

impulsivos, dar bons exemplos à sociedade, praticando tudo que é<br />

bom e justo, virtuoso e útil.<br />

080. INT. TRIBUNAL<br />

FA<strong>DE</strong> OUT<br />

FA<strong>DE</strong> IN<br />

A Juíza está saindo, o não mais réu está abraçado em seu filho,<br />

pessoas à volta esperam para cumprimentá-lo. O promotor bate seus<br />

papéis na mesa, arrumando-os, o seu rosto expressa<br />

descontentamento com o veredicto. Todos vão saindo.<br />

84


081. CORREDOR DO TRIBUNAL<br />

Câmaras de televisão, emissoras de rádios, repórteres com papel e<br />

caneta, jornalistas com microfones, fazem o absolvido parar para dar<br />

entrevista. Um deles é alguém conhecido.<br />

MEDIADORA DO <strong>DE</strong>BATE<br />

Como está se sentindo após ser absolvido?<br />

YAMA<br />

Sinto-me criando uma Associação contra o mal.<br />

MEDIADORA DO <strong>DE</strong>BATE<br />

Futuro Presidente! O que o seu pai quer dizer com isso?<br />

YESHUA<br />

Meu pai sempre se manteve fiel ao princípio de que o honesto e<br />

virtuoso deve vencer o malvado. Para ele o indivíduo honesto, mas<br />

fraco, não é um honesto autêntico, e sim um pusilânime. É um honesto<br />

passivo, que não se insurge contra o mal. Embora não pratique más<br />

ações, não passa de um covarde, permitindo o alastramento do mal<br />

para poder manter-se em segurança.<br />

Desta forma, apregoa que ainda que os honestos, apesar da maior boa<br />

vontade, nada possam fazer individualmente, o recurso seria formar<br />

uma entidade denominada, por exemplo, ‗Associação contra o Mal‘.<br />

Sugere este plano por considerá-lo uma excelente medida para a<br />

reforma social que precisa ocorrer urgentemente.<br />

MEDIADORA DO <strong>DE</strong>BATE<br />

Convido-os para irem ao meu programa na TV. Mas, afinal, quem eu<br />

vou entrevistar para falar sobre Direito e Administração?<br />

YESHUA<br />

Eu estarei lá no seu programa, só que para ouvir o meu pai.<br />

082. ESTÚDIO <strong>DE</strong> TELEVISÃO<br />

CORTA PARA<br />

Público e os três, só que quem está falando surpreendentemente é ...<br />

YESHUA<br />

As pessoas são seres sociais, vivem em sociedade, geralmente, estão<br />

envolvidos basicamente por uma família, uma fé e um trabalho, ou<br />

85


seja, integram um lar, uma igreja e uma empresa.<br />

Porém quase tudo é administração, pois em quase todas as atividades<br />

existe uma ação humana impregnada pelo poder de encaminhar<br />

pessoas a fazerem uma determinada coisa. Numa família, administrase<br />

a educação dos filhos; na fé, a crença dos fiéis; no trabalho, a<br />

produção dos operários.<br />

Observando a grandeza do trabalho pode-se afirmar, pelo menos, que<br />

a empresa é algo primordial para o homem no sentido de proporcionarlhe<br />

ganho pecuniário que garante sua sobrevivência material e a dos<br />

seus familiares, bem como a de congregar seus irmãos de fé. Dessa<br />

forma, escolhe-se como tema: Administração de Empresa.<br />

Com os senhores, o meu pai.<br />

O pai que parecia não estar preparado, fica rindo. Ele anda para<br />

ocupar o lugar do filho, só que expressando algo como “vai ver o que<br />

vou lhe aprontar”.<br />

YAMA<br />

Qual o valor de se abordar a empresa considerando a filosofia do<br />

empresário Mokiti Okada?<br />

Na atualidade, está presente uma forte insegurança nos trabalhadores,<br />

pois a globalização e a modernização têm ocasionado renovação<br />

constante, exigência de qualidade e número expressivo de<br />

desemprego. Até os que têm emprego estão forçados há labutar<br />

muitas horas por dia, sem ânimo, alegria e esperança, mas apenas<br />

para se manterem vivos, afogados num lamaçal de preocupações,<br />

motivados pelas dificuldades financeiras e por doenças proporcionadas<br />

pelo próprio trabalho. Isso tudo acarreta a necessidade de uma<br />

reflexão sobre a empresa, uma conscientização daquela empresa que<br />

se tem e daquela que é desejada, na qual já se trabalha ou na que se<br />

quer trabalhar. Seria ela uma companhia progressista ou decadente?<br />

Uma firma futurosa ou passadista?<br />

A valia de discorrer sobre empresa considerando a filosofia do<br />

empresário Mokiti Okada é, simplesmente, por crer que a sua visão é a<br />

orientação para a humanidade no século XXI.<br />

(pausa)<br />

O objetivo visa três alvos: colaborar com o aperfeiçoamento das firmas;<br />

contribuir com o aprimoramento de seus integrantes; cooperar com o<br />

melhoramento dos que busca trabalho.<br />

(pausa)<br />

O conteúdo versa sobre três tópicos: Empresa do Passado, Empresa<br />

do Presente e Empresa do Futuro.<br />

86


MEDIADORA DO <strong>DE</strong>BATE<br />

Como! Não entendo! Poderia detalhar melhor?<br />

YAMA<br />

Com certeza. Ajude lendo o que está escrito aqui.<br />

Ela surpresa faz cara de “eu?”, mas apanha o papel e lê.<br />

MEDIADORA DO <strong>DE</strong>BATE<br />

―Nos dias de hoje, os mais esclarecidos, já sabem que toda criação<br />

tem matéria e espírito e, entre estes, situações intermediárias de semi<br />

matéria ou semi-espírito, que será chamado de espírito-matéria. Podese<br />

dizer que qualquer coisa criada tem três elementos: 1º) matéria, que<br />

é a realidade sensível, a forma; 2º) espírito-matéria, realidade<br />

perceptível, função; 3º) espírito, realidade etérea, missão. A forma,<br />

função e missão do homem na religião é corpo, pensamento e alma.<br />

A criação da empresa, fazendo uma metáfora com a criação do<br />

homem sob a ótica religiosa, além de ter matéria, espírito-matéria e<br />

espírito, ou seja, realidade sensível, realidade perceptível e realidade<br />

etérea, ou ainda, forma, função e missão, ela tem corpo, pensamento e<br />

alma. E as empresas de acordo com a predominância do corpo, do<br />

pensamento ou da alma, podem ser classificadas, respectivamente,<br />

em: Empresa-Corpo, Empresa-Pensamento e Empresa-Alma.‖<br />

YAMA<br />

Como pensamento não se reduz a elaborar raciocínios, mas também,<br />

ao mesmo tempo, desejos e emoções. Para se comprovar tal fato,<br />

basta cada um de vocês se observarem quando está pensando. Como<br />

desejos, raciocínios e emoções são ações, respectivas, da vontade,<br />

razão e sentimento, então, pensamento é a trilogia constituída por<br />

vontade, razão e sentimento. Dessa maneira, no caso de Empresa-<br />

Pensamento, ela pode ser dividida em Empresa-Cobiçante, Empresa-<br />

Intelectual e Empresa-Emocional de acordo com a predominância,<br />

respectiva, da vontade, razão ou sentimento.<br />

Empresa do Passado é a Empresa-Corpo. Empresa do Presente<br />

compreende Empresa-Cobiçante, Empresa-Intelectual e Empresa-<br />

Emocional. Empresa do Futuro é a Empresa-Alma.<br />

A evolução da humanidade oferece uma vaga idéia de que a Empresa-<br />

Corpo é a mais afastada do caminho perfeito, a mais materialista e<br />

egoísta; a Empresa-Cobiçante, Empresa-Intelectual e Empresa-<br />

Emocional, são aquelas onde se começa a despontar o espiritualismo<br />

e altruísmo; e a Empresa-Alma, como a que instaura o espiritualismo e<br />

o altruísmo, a mais aproximada do paraíso.<br />

Antes de iniciar as explanações de cada uma destas empresas,<br />

apresenta-se o significado de empresa. Com os senhores, o meu filho.<br />

87


Agora é a vez de o filho ficar surpreso e rindo. Ele anda para ocupar o<br />

lugar do pai.<br />

YESHUA<br />

Empresa, em linhas gerais, é a pessoa jurídica de exploração<br />

econômica com duas atividades:<br />

- atividade fim ou operação, que pode ser: comercial (venda com<br />

asseguramentos de antigos clientes e ganhos de novos clientes<br />

através de produtos de prateleira ou originais via pesquisa e<br />

desenvolvimento), industrial (produção com manutenção, técnica e<br />

laboratório, onde se controlam as máquinas e a qualidade do produto)<br />

e serviço (crédito, consultoria e projeto);<br />

- atividade meio ou recurso, que são: material (infra-estrutura),<br />

financeiro (contabilidade e tesouraria), administrativo (planejamento,<br />

organização, direção, controladoria, informação e logística) e humano<br />

(seleção, treinamento, remuneração e plano de carreira).<br />

Os bens podem ser explicitados de vários pontos de vista, como de<br />

consumo ou de capital, duráveis ou perecíveis, materiais ou de<br />

serviços. Observando este último enfoque afirma-se que as empresas<br />

podem ser classificadas em duas grandes classes: empresa de<br />

produção (indústria, comércio, construção) e empresa de serviço<br />

(banco, transporte, escola, etc.).<br />

As empresas, também chamadas de companhia, firma, indústria,<br />

negócio, associação, corporação ou empreendimento, sofrem duas<br />

interferências: a) internas, como a sua personalidade de atuar,<br />

relacionamentos entre os recursos e as políticas de compra, venda,<br />

pessoal e operacional; b) externas, como o mercado (onde se tem a<br />

mão de obra, concorrência, consumidor, fornecedores, tecnologia e<br />

sistema financeiro), o governo (onde se tem legislação e intervenções),<br />

o sindicato, o meio ambiente e a comunidade.<br />

Ele olha para o pai, ri e pede que a mediadora leia um outro papel.<br />

MEDIADORA DO <strong>DE</strong>BATE<br />

Outra maneira de contemplar ―empresa‖ é a criada pelo meu pai Yama,<br />

um olhar destinado a pessoas simples e um reparar reservado a<br />

criaturas complexas do ―administrês‖. Eis o modo popular de ver<br />

empresa, como a corporação dos seis p‘s: Precisamento, Produto,<br />

Política, Planta, Pessoal e Procedimento.<br />

Desses seis p‘s, talvez apenas precisamento e planta sejam<br />

suscetíveis de dúvida. Precisamento - se refere a definição, por<br />

exemplo, a firma Rolex ao interpretar que estava no mercado de jóias e<br />

não de relógios, passou a não ser mais concorrente da Casio. Planta –<br />

diz respeito aos recursos os materiais, financeiros e administrativos,<br />

88


exceto o humano. A fim de melhorar entendimento destes seis p‘s,<br />

imaginem uma padaria.<br />

- Precisamento é dar o significado do que é uma padaria, ou seja, é<br />

dizer que padaria é o lugar onde se fabrica e vende pães.<br />

- Produto de uma padaria são os pães.<br />

- Política é dizer quantos pães pretende produzir diariamente.<br />

- Planta são desde matérias-primas (farinha de trigo e fermento),<br />

instrumentos de produção (forno), organização, lugar, até finanças.<br />

- Pessoal são patrão, gerente, padeiro e vendedor.<br />

- Procedimento é o mecanismo de produção, como misturar certa<br />

quantidade de fermento na farinha.<br />

YAMA<br />

As empresas são diferenciadas, como é fácil constatar imediatamente<br />

por terem formas e funções variadas, mas também, não tão<br />

evidentemente, por terem missões distintas.<br />

Como a forma e a função são mais simples de serem apreendidas do<br />

que a missão explana-se sobre esta última a fim de melhorar<br />

compreensão a respeito.<br />

Missão é que dá o significado de ser da empresa, aquilo que justifica a<br />

existência do negócio, faz a firma funcionar, é baseada nos valores.<br />

Por exemplo, na missão do McDonald‘s ―servir alimentos de qualidade,<br />

com rapidez e simpatia, num ambiente limpo e agradável‖, está se<br />

dizendo o negócio e os valores. Isto é, o negócio é alimento, e valores<br />

são: qualidade alimentar, rapidez, simpatia, higiene e local agradável.<br />

No entanto, em última instância, existe apenas uma diferença<br />

essencial entre as empresas. Aquelas cuja missão é destinada pela<br />

alma do proprietário, do dono da empresa, que é a de operar<br />

exclusivamente visando lucro ou juro. E as associações que se<br />

orientam predestinada pela Alma do Criador do Universo, do Dono da<br />

Empresa Construtora do Novo Mundo, que é a de operar a fim de<br />

construir Paraíso na Terra.<br />

MEDIADORA DO <strong>DE</strong>BATE<br />

(interrompendo anunciando)<br />

Findada a introdução se inicia, a partir de agora, pela descoberta da<br />

empresa do nosso patrocinador. E ele é o que aparece na ...<br />

Dois telões são acesos em estilo hollywoodiano, um fica de frente para<br />

os que falam e outro para os que assistem.<br />

083. TELÃO<br />

Surge irradiando simpatia um rosto jovem que nada fala.<br />

89


084. ESTÚDIO <strong>DE</strong> TELEVISÃO<br />

MEDIADORA DO <strong>DE</strong>BATE<br />

(falando para os presentes no estúdio)<br />

O jovem que vocês estão vendo só irá se pronunciar para afirmar ou<br />

negar se as explanações de cada uma destas cinco empresas, sem<br />

explicitá-las, corresponde a sua. E quem as explanará?<br />

(rindo)<br />

Com os senhores, o pai e o filho.<br />

Os dois se entreolham, como se dissessem “onde nos metemos”.<br />

YAMA<br />

A empresa que irei explanar começou a partir do século XVIII devido<br />

às novas tecnologias terem gerado necessidade de concentração da<br />

produção em um único espaço físico, pois a energia da água ou do<br />

vapor não podia estar descentralizada. Conseqüentemente, surgiram<br />

as primeiras fábricas, e assim a empresa que estou abordando é uma<br />

associação de exploração comercial e industrial que funciona centrada<br />

na atividade fim de vendas e produções de mercadorias e na atividade<br />

meio de recursos materiais e financeiros, ou seja, mais na planta. Num<br />

jogo, assemelha-se ao boliche, atiram-se as bolas (recursos materiais<br />

e financeiros) para acertar os pinos (vendas e produções de<br />

mercadorias). Em termo mental se aproxima mais da inteligência<br />

ardilosa, empregando a habilidade exclusivamente no que possa<br />

proporcionar benefícios à própria empresa.<br />

YESHUA<br />

Os seus produtos são os bens materiais, como as mercadorias.<br />

As suas políticas são dadas pelas diretrizes ―dinheiro em caixa, para o<br />

dono‖ e ―bater a meta, para os funcionários‖, desconhecendo se esta<br />

gera lucro ou prejuízo. O determinante é o interesse do dono da<br />

empresa, é o pedido de compra e fabricação de mercadorias, em<br />

perda da satisfação dos clientes, funcionários e comunidade.<br />

A sua planta tem papel relevante o recurso financeiro. Por não se<br />

constituir reservas, a venda de ontem é o desconto da duplicata de<br />

hoje, que se tornarão as despesas financeiras de amanhã e<br />

absorverão todo o lucro do negócio. E, assim, vive-se por depender de<br />

empréstimos bancários. Isso faz lembrar de Sísifo, aquele personagem<br />

da mitologia grega que foi condenado por seus crimes a empurrar<br />

eternamente encosta acima uma enorme pedra que caía sempre antes<br />

de atingir o cume da montanha. A pedra é como se fosse a empresa;<br />

Sisífo, seu dirigente; e o seus crimes, as dívidas. Continue pai.<br />

90


RISOS.<br />

YAMA<br />

O seu pessoal com o início da industrialização, iniciou-se o êxodo rural,<br />

formou-se o operariado, com a mão-de-obra vinda do campo. A<br />

―pessoa-terra‖ (camponês, escravo) passou a ―pessoa-máquina‖<br />

(proletário). Isto é, passa a ser integrante de uma parte da máquina<br />

que a própria máquina não é capaz de fazer, é claro que com algumas<br />

regalias adicionais, como salário e jornada de trabalho de doze horas<br />

diárias. Os funcionários estão envolvidos pela programação das<br />

tarefas, são valorizados pela disciplina, cumprimento de horário, rotina,<br />

enfim são mais estimados pelo bom trabalho do que pela boa idéia.<br />

Aliás, uma boa idéia é não ter idéia. Não existe tempo disponível para<br />

eles por parte da direção, nem para as entrevistas de seleção, nem<br />

para participação da integração dos novos funcionários contratados.<br />

Os dirigentes, como estimam mais o corpo da empresa do que a sua<br />

parte pensante, vivem resolvendo problemas, algo que não foi bemfeito.<br />

Resolver problemas operacionais na fábrica é através da<br />

automação, no caso do escritório é via informatização. Administrar é<br />

planejar as tarefas e controlar a execução pelos funcionários mais no<br />

sentido policialesco do que de desempenho. O que vale é horários<br />

rígidos, punições, revistas nas saídas, proibições de conversas durante<br />

expediente, uso do poder autoritário.<br />

YESHUA<br />

O excesso de controle e sanções parte do pressuposto de que as<br />

pessoas não são confiáveis. É preciso inspecioná-las todos os dias no<br />

expediente porque são preguiçosos, e revistá-los na saída porque são<br />

ladrões, levam torneira, chuveiro e sabonete.<br />

Isso nos lembra daquela visita de consultoria onde após a pergunta do<br />

consultor se existia muita rotatividade na empresa, o dono responde<br />

que não porque ele trancava a fábrica. Um ficou sem entender a<br />

pergunta e o outro sem compreender a resposta. Mas o caso é que<br />

enquanto um pensava no entra e sai de empregados, no grau de<br />

satisfação e insatisfação, o outro, passava uma corrente com um<br />

grande cadeado na porta de entrada para que os funcionários não<br />

escapassem durante o horário de expediente.<br />

O seu procedimento não é muito considerado, inclusive é comum o<br />

acúmulo de trabalho sobre uma só pessoa e a sobreposição de<br />

funções, bem como os limites da autoridade e das responsabilidades<br />

são confusos. Enfim o fazer é o que conta, e não o pensar. Fazer da<br />

mesma maneira, sem mudar, pois mudar significa aprender, e<br />

aprender significa pensar, e pensar não é assunto dessa empresa.<br />

91


MEDIADORA DO <strong>DE</strong>BATE<br />

(falando para o jovem no telão)<br />

O jovem diria que essa é a sua empresa?<br />

085. TELÃO<br />

O jovem no telão apenas balança a cabeça indicando que não.<br />

086. ESTÚDIO <strong>DE</strong> TELEVISÃO<br />

MEDIADORA DO <strong>DE</strong>BATE<br />

Presidente, como se encontra este tipo de empresa?<br />

YESHUA<br />

A empresa do passado, a empresa-corpo, que surgiu no século XVIII e<br />

atingiu seu apogeu no século XIX, hoje em dia os negócios<br />

pertencentes a essa corporação são conservadores em via de<br />

extinção. Esse desenvolvimento chegou ao fim porque a matéria não<br />

precede o espírito. Progredir somente na parte material, isto é, nos<br />

negócios, na profissão e na posição social, não passa de algo sem<br />

base, algo demasiado superficial, como uma planta sem raiz. A<br />

empresa do presente é formada no século XX. E ela ...<br />

MEDIADORA DO <strong>DE</strong>BATE<br />

Calma, Presidente! Deixe seu pai escolher uma das empresas do<br />

presente para falar sobre ela.<br />

YAMA<br />

Essa escola, de quem vou falar, criou suas premissas, no panorama<br />

agitado do fim do século passado, a partir de Fayol e Taylor, que<br />

conseguiram equacionar os problemas da administração de empresa.<br />

Suas soluções serviram como referência de 1900 a 1940, foi uma<br />

tentativa de uma melhor engenharia humana, de racionalizar o modo<br />

de como o trabalho era feito, visando sempre o aumento de produção.<br />

Trata-se de empresa de produção com atividade meio de recurso<br />

administrativo no que tange a procedimento. Num jogo, assemelha-se<br />

ao tênis, toca-se a bola (recurso administrativo) de modo que esta vá<br />

ao chão da quadra do adversário (vendas e produções de<br />

mercadorias). Em termos mentais, a inteligência calculista. No tocante<br />

a regularidade, liberdade em nível de desejo.<br />

Seus produtos são os bens materiais.<br />

Sua política é a ditada pela vontade de ―rentabilidade, para os donos‖ e<br />

―aumento da produtividade na fábrica, através dos chefes‖. Continua a<br />

92


mesma situação da empresa-corpo, isto é, o patrão ou os acionistas<br />

em detrimento da satisfação dos clientes, funcionários e comunidade.<br />

O justo seria dividir a parte excedente entre os trabalhadores, mas a<br />

maioria dos capitalistas não mostra nenhuma predisposição nesse<br />

sentido, pensando apenas em satisfazer a sua própria ambição e obter<br />

o máximo de lucro. É por isso que eles temem os movimentos<br />

trabalhistas e sofrem com problemas como o das greves. A<br />

preocupação dessa empresa é mais com o ―como‖ e o ―quando‖.<br />

Provérbio apropriado é o que diz ―mais vale um passarinho na mão do<br />

que dois voando‖.<br />

Exemplos de empresa que estou tratando são as companhias de<br />

cigarro e as associações de cobrança que prestam serviço para firmas<br />

que enganam clientes. Em geral, firmas que seguem tal diretriz não<br />

continuam prósperas. As próximas gerações não dão continuidade ao<br />

esforço empreendedor do seu fundador ou ―queimam‖ os bens<br />

herdados. Um possível exemplo foi o da empresa pioneira da<br />

produtividade, a Ford, que não esteve tão bem nas mãos das duas<br />

primeiras gerações.<br />

Planta não se evidência tanto como na empresa-corpo. Continue filho.<br />

RISOS.<br />

YESHUA<br />

Sobre pessoal. A ―pessoa-máquina‖ vai incorporando a ―pessoanorma‖.<br />

Ou seja, a regra é maior do que a pessoa, o controle mais do<br />

que a tarefa, e o registro mais do que o resultado. Daí nasce os<br />

manuais, as circulares, os memorandos, os organogramas. Ali se deve<br />

estar apenas com o predominante desejo de trabalhar, e não para<br />

raciocinar, muito menos para sentir.<br />

Os procedimentos são baseados na produtividade, como o princípio da<br />

divisão e especialização do trabalho. Isto é, qualquer processo<br />

complexo pode ser decomposto em uma série de pequenas tarefas<br />

mais simples e repetitivas, resultando em aumento de produtividade<br />

com menor esforço por uma mão de obra facilmente substituída e sem<br />

necessidade de grandes investimentos em treinamentos.<br />

Essa escola tradicionalista caminha para sua extinção, hoje em dia, a<br />

tida como em via de atingir o auge do desenvolvimento é a empresa ...<br />

MEDIADORA DO <strong>DE</strong>BATE<br />

(interrompendo rápido)<br />

Por favor! Ufa! Quase que não deu tempo.<br />

(falando para o jovem no telão)<br />

Jovem é essa a sua empresa?<br />

93


087. TELÃO<br />

Novamente ele apenas balança negativamente.<br />

088. ESTÚDIO <strong>DE</strong> TELEVISÃO<br />

MEDIADORA DO <strong>DE</strong>BATE<br />

Presidente. Disserte sobre uma outra empresa.<br />

YESHUA<br />

As suas origens remontam, em linhas gerais, a década de 20 e final da<br />

década de 30, com a experiência em Chicago, onde ao se procurar<br />

verificar como os indivíduos reagiriam dentro de condições de<br />

eficiência máxima, concluiu-se que o homem não se comportava bem<br />

diante de trabalho mecânico nas linhas de produção.<br />

MEDIADORA DO <strong>DE</strong>BATE<br />

O ser humano visto e tratado como recurso e extensão da máquina, foi<br />

muito bem representado em Tempos Modernos, um filme de <strong>Charles</strong><br />

Chaplin. As relações de amizade entre os funcionários passariam a ser<br />

meros cálculos de vantagens e desvantagens, a firma seria fria como<br />

um cárcere de pedra.<br />

YAMA<br />

Uma ironização feita atualmente é a comparação com a história dos<br />

macacos enjaulados. Um dia colocaram um cacho de banana no teto<br />

da jaula, quando o primeiro macaco tentou subir para pegar uma<br />

banana, jogaram um forte jato de água molhando todos os demais<br />

macacos. Com o passar do tempo e a mesma rotina, quando um<br />

macaco ameaçava subir, os demais o interceptavam através de<br />

espancamento. À medida que o tempo ia passando, foram trocando os<br />

macacos e parando de molhá-los, restando apenas a situação de<br />

espancamento diante de uma tentativa de alcançar as bananas.<br />

YESHUA<br />

Situação irônica semelhante é a de uma pessoa diante de um papel<br />

contendo um complexo quebra cabeça com uma entrada e uma saída,<br />

ser desafiada a percorrer com um lápis riscando da entrada à saída em<br />

5 segundos. A maioria tenta, procurando atalhos entre a diversidade de<br />

caminhos, mesmo sabendo que não irá conseguir diante do exíguo<br />

tempo disponível. O que poucas pessoas não se dão conta é que<br />

basta ligar com um risco a entrada à saída, pois não foi expressa<br />

nenhuma obrigatoriedade de passar por caminhos, a exigência partiu<br />

do próprio desafiado, do eu mecanizado, distante do eu do momento.<br />

94


MEDIADORA DO <strong>DE</strong>BATE<br />

É como se não bastasse ter o hardware é preciso ter o software, é<br />

como se não bastasse querer mudar, é preciso saber e sentir como<br />

mudar.<br />

YAMA<br />

Ao final da Segunda Guerra Mundial, com acentuado desenvolvimento<br />

em todos os setores, um grande progresso das ciências sociais e a<br />

melhoria das condições de vida do homem, os trabalhadores<br />

começaram a fazer reivindicações tendo como escopo o progresso<br />

material e social. Este progresso favoreceu desenvolvimento dos<br />

novos modelos organizacionais, que iniciaram estudo neste campo<br />

procurando melhorias. E com isso nasceu na liderança, exercida pela<br />

autoridade ―de cima para baixo‖ para a influência do grupo de<br />

―aceitação e não imposição‖.<br />

Uma teoria foi a do X e Y de Douglas McGregor. Teoria X: estilo<br />

gerencial da escola tradicionalista tendo por princípio básico ―dirigir e<br />

controlar através da autoridade‖, pois trabalho só será produtivo se for<br />

encontrado algo que compense, as pessoas são naturalmente<br />

indolentes, só pensam em dinheiro e só fazem algo por medo de<br />

serem demitidas. Teoria Y: desenvolvimento com as ciências sociais e<br />

contribuições da escola behaviorista, pois trabalho só ganhará mais<br />

esforços quando houver suficiência de satisfação, as pessoas são<br />

dinâmicas, procuram satisfações no labor e desejam realizar seus<br />

objetivos social e pessoal.<br />

Três teorias apreciadas foram: qualidade total, O&M e reengenharia.<br />

MEDIADORA DO <strong>DE</strong>BATE<br />

O que o Presidente diria que essa empresa é?<br />

YESHUA<br />

Trata-se mais da associação de exploração de serviços (nem tanto<br />

comercial e industrial) que funciona centrada na atividade fim crédito,<br />

consultoria e projeto (nem tanto em venda e produção de mercadoria)<br />

e na atividade meio recurso humano, pessoal (nem tanto recursos<br />

materiais, financeiros e administrativos). Em termos de jogo,<br />

assemelha-se mais ao xadrez do que ao tênis. Em termos mentais, a<br />

inteligência também é calculista, só que mais racionalista do que<br />

volitiva. O que levam criminosos e autoridades a viverem em<br />

competição de razão sagaz. Um exemplo de tal situação é o hacker,<br />

ora funcionam para o mal, ora são contratados para prestar serviços<br />

para o bem particular de empresas. Não seria mais fácil, econômico,<br />

inclusive mais inteligente, formar inteligências apenas para o bem?<br />

95


MEDIADORA DO <strong>DE</strong>BATE<br />

Seus produtos são os serviços?<br />

YESHUA<br />

Sua política é traçada, não pela vontade, mas sim pela razão, qual<br />

seja: ―faturamento funciona como indicador principal que mede a<br />

participação no mercado e o posicionamento no ranking‖, ―competência<br />

pela personalidade, intelecto racional, conhecimento lógico‖. Ainda é<br />

determinante o interesse do patrão, só que agora acrescentado dos<br />

cuidados com os clientes, porém continuam em desinteresse os<br />

benefícios dos funcionários e a comunidade. A preocupação é mais<br />

com o quê e o porquê. Um dito popular alterado retrata esta situação<br />

‗mais vale dois passarinhos voando a ter um nas mãos‘. Chega-se, a<br />

fim de corroborar esta afirmativa, ao argumento de que a idéia gera<br />

mais que o dinheiro, qual seja: ao se trocar uma mesma quantia em<br />

dinheiro cada um fica com o mesmo valor; porém quando se troca<br />

idéias cada um fica com o dobro, já que um, além de continuar com a<br />

sua, acrescenta em sua memória a idéia do outro.<br />

Sua planta se deve ao aumento de velocidade e economia nos meios<br />

de transporte e de comunicação.<br />

Antigamente, onde estavam os recursos materiais deveriam estar os<br />

recursos humanos. Hoje se administra uma cooperativa de leite longe<br />

das vaquinhas distribuídas pelos interiores, fazendas automatizadas e<br />

comandadas por satélites, não se precisa mais fixar o homem no<br />

campo e nem trazer fábricas para a cidade. Os Médicos poderão<br />

acompanhar cirurgias e operarem pacientes a quilômetros de distância.<br />

Na área educacional informação com diversão e interatividade.<br />

No que se refere ao pessoal. Continue mediadora com esse papel.<br />

RISOS.<br />

MEDIADORA DO <strong>DE</strong>BATE<br />

Nota-se com a globalização de que os produtos se assemelham em<br />

qualidade e preço, e assim o que passa a contar é a persuasão do<br />

vendedor, o bom atendimento ao cliente, a qualidade do serviço, enfim<br />

o recurso humano.<br />

Países como o Brasil, com minérios e plantações, enfim, com as coisas<br />

e o seu cultivar, fabricar, tem tido pouca margem de lucro em relação<br />

aos países que tem pessoas pensando.<br />

O espírito está tão mais valorizado do que a matéria, a ponto de como<br />

já foi dito, um casamento que perdura causar mais inveja do que um<br />

automóvel caríssimo. A matéria ―boi‖ tem valia menor do que espíritomatéria,<br />

o vir a ser o boi, o empreendimento ―semens bovinos‖, e estes<br />

menos ainda do que o espírito: o intelecto ―logística da distribuição de<br />

refrigeração da carne bovina‖.<br />

96


O espírito das coisas, como o do dinheiro. Já se enxerga que a missão<br />

do dinheiro não é materializar o valor das coisas, não é ser aceito<br />

como padrão de unidade de valor, mas sim ser usado para valorizar a<br />

vida. O homem é que deve dirigir o destino do dinheiro, não se deve<br />

sacrificar saúde e paz por ele, sua oscilação nas Bolsas de Valores<br />

não pode continuar afetando drasticamente a humanidade. Até forma<br />

do dinheiro está se desmaterializando, antigamente era trigo<br />

armazenado em silo, ouro em cofres, depois notas em carteiras, hoje é<br />

um cartão de crédito em bolso ou um simples código numa cabeça<br />

acessando Internet.<br />

YAMA<br />

O espírito dos funcionários com sua imaginação, criatividade e<br />

inovação são o maior fator de competitividade e não a qualidade. Uma<br />

excelente camiseta perde em relação a uma camisa suja, rasgada, que<br />

choca as pessoas, como aquela desgastada banhada de sangue ou a<br />

estampada com padre e freira se beijando.<br />

O espírito das empresas superando a parte material destas, seu<br />

objetivo principal é ser útil e não ter lucro, vender desejos e não<br />

simplesmente coisas. Por exemplo: o negócio do Xérox é automação<br />

de escritórios e não copiadoras; o da IBM é informação e não<br />

computadores; o da Telesp é transmissão de voz e não telefonia.<br />

O espírito de uma empresa está tão mais valorizado do que a sua<br />

materialidade, de modo que a marca da Coca-Cola, aquele papel, valer<br />

25 vezes mais do que o patrimônio físico existente no mundo desta<br />

empresa.<br />

A hierarquia tipo chefia está com os dias contados, pois se trata de<br />

comando e não de participação. Aliás, comando e participação podem<br />

ser ilustrados jocosamente por aquela história da competição de<br />

barcos a remos, onde os brasileiros além de sempre perderem para os<br />

japoneses, a cada ano pioravam a sua performance. Analisando, viram<br />

que os japoneses iniciaram com um comandante e cinco remadores,<br />

enquanto os brasileiros começaram com três comandantes e três<br />

remadores, e, a cada ano, tiravam um remador e colocavam mais um<br />

comandante, a ponto de ficar com apenas um remador, e concluindo<br />

que o culpado era esse remador e que deveriam trocá-lo por outro.<br />

MEDIADORA DO <strong>DE</strong>BATE<br />

(rindo)<br />

É isso aí. Mas, qual o perigo desse tipo de empresa?<br />

YAMA<br />

O perigo é o da formação de ―pessoas gelo‖. Por exemplo, dirigentes<br />

chegando todos os dias na companhia acompanhados de uma garrafa<br />

d‘água, a fim de preservarem-se, já que a água da firma não é<br />

97


ecomendável. E os seus subordinados, como ficam? Não seria mais<br />

condizente que a corporação viesse a ter uma boa água para todos? E<br />

a qualidade! Total ou parcial?<br />

O procedimento hoje em dia, descobrir o ponto vital é a condição<br />

essencial do ser humano. Por isso, não só a Administração, mas<br />

também a atual Economia e Relações Exteriores, por estarem fora do<br />

ponto vital, têm cometido muitas tolices. E a Política, meu filho?<br />

RISOS.<br />

YESHUA<br />

Muitos políticos ficam debatendo sobre diversos assuntos diariamente,<br />

mas estão fora do ponto vital. Por isso, não surgem boas idéias. Isso<br />

acontece não porque são ruins da cabeça; pelo contrário, elas são<br />

boas: só a parte exterior. O centro é ruim, e então discutem muito só o<br />

aspecto exterior das coisas, e não existe quem discuta o ponto central.<br />

MEDIADORA DO <strong>DE</strong>BATE<br />

(falando para o jovem no telão)<br />

Nessa sua empresa existe ponto central?<br />

Não há ninguém.<br />

089. TELÃO<br />

090. ESTÚDIO <strong>DE</strong> TELEVISÃO<br />

Alguém entra apressadamente no estúdio e cochicha no ouvido de<br />

quem havia feito à pergunta. Ela visivelmente conturbada.<br />

MEDIADORA DO <strong>DE</strong>BATE<br />

Não sei nem como transmitir o que acabou de acontecer. Mas, o fato é<br />

que o dono da empresa que nos patrocina - aquele jovem simpático -<br />

inexplicavelmente desapareceu.<br />

CORTA PARA<br />

98


FINAL<br />

99


100


091. NOTÍCIA NUM JORNAL<br />

Legenda: NOVO EMPRESÁRIO <strong>DE</strong>SAPARECE SEM <strong>DE</strong>IXAR VESTIGIOS.<br />

092. INT. SALA <strong>DE</strong> <strong>DE</strong>LEGACIA<br />

CORTA PARA<br />

Um XERIFE e uma policial cujo crachá estava escrito ARASHI que, em<br />

japonês significa “flores após a tempestade”.<br />

XERIFE<br />

Ele sumiu quando ia ter que explicitar de que tipo era a sua empresa,<br />

após as duas que seriam expostas pelos senhores. Como elas são?<br />

YAMA<br />

Uma delas é a Empresa-Emocional. Uma associação de exploração,<br />

semelhante as Empresa Cobiçante e Empresa-Intelectual. Mais<br />

próxima desta última, por também ser empresa de serviços centrada<br />

no recurso humano. Só que não prima tanto pela rentabilidade e<br />

competitividade, mas mais por certa criatividade.<br />

Num jogo, assemelha-se mais à ―pêra, uva e maça‖. Em inteligência<br />

também é calculista, só que mais emocional do que racionalista e<br />

volitiva. Em regularidade, permanece a liberdade, só que mais<br />

emocional, do que mental e desejo.<br />

Os produtos desta empresa são os créditos, consultorias e projetos.<br />

XERIFE<br />

Não creio que esta empresa seja a razão do seu desaparecimento.<br />

Ajude-me nobre candidato expondo a outra empresa.<br />

YESHUA<br />

Empresa-Alma é uma associação que ultrapassa a exploração,<br />

coopera no servir a todos, isto é, aos clientes, funcionários, acionistas<br />

e a comunidade em geral.<br />

Em termos de jogo, assemelha-se mais ao frescobol do que ao tênis,<br />

pois no primeiro, ganha quando ninguém perde, bola que vem com<br />

defeito tem de ser devolvida com perfeição, os dois são aliados; já no<br />

segundo o que conta é enviar bola de forma que o outro não alcance,<br />

os dois são adversários.<br />

Em termos mentais, supera a inteligência calculista com a inteligência<br />

superior. Aquela que pergunta: de que adianta o homem ser<br />

considerado inteligente pela cultura materialista, se ele não adquire<br />

entendimento capaz de harmonizar a sua vida e a vida dos seres e<br />

101


coisas sob a sua proteção e guarda? Como evitar mal casamento e<br />

péssimo conhecimento? Em termos de regularidade, ultrapassa a<br />

liberdade pelo servir, ou seja, opta-se não mais para ficar escolhendo<br />

entre o bem e o mal, decide-se apenas em seguir o bem, em servir e<br />

não ser servido.<br />

Os produtos desta empresa são as dedicações, ou seja, o oferecer<br />

trabalho concentrado (dinheiro) e trabalho não concentrado (tempo e<br />

talento). Pode-se dizer que é o servir, mas não os serviços. Porque se<br />

serviço é, por um lado, o ato ou efeito de servir, isso estaria de acordo,<br />

se por outro lado, ele é exercício de funções obrigatórias, contradiz a<br />

idéia de oferecer. No fundo, o produto são as dedicações mais a<br />

gratidão que advém das ofertas.<br />

XERIFE<br />

E a política delas.<br />

YAMA<br />

A política da Empresa-Emocional é focalizada no sentimento<br />

‗competência pela personalidade, intelecto emocional, conhecimento<br />

sensorial‘. Continua determinante os interesses do patrão ou<br />

acionistas, ainda um pouco dos clientes, mais acrescentado a<br />

satisfação dos funcionários, e quase nada da comunidade. No conflito<br />

entre cliente e funcionário, geralmente, toma-se o partido deste último.<br />

YESHUA<br />

Uma situação interessante é que quase todos têm errado muito quanto<br />

ao futuro, desde os ficcionistas até os filósofos e economistas, as<br />

expectativas não tem se concretizado, vide fim do mundo, término das<br />

calamidades da doença, fome e guerra. Mas tem existido uma exceção<br />

que são os profetas, estes avisaram que no novo milênio o espírito<br />

valeria mais que a matéria.<br />

A espiritualização da empresa, como já foi falada anteriormente, é mais<br />

importante do que a sua materialidade. Pois, enquanto uma pode<br />

vender brinquedos para crianças, outra pode vender alegria na forma<br />

de brinquedos; enquanto uma pode vender computadores, outra pode<br />

vender soluções de problemas nas funções dos computadores. Ou<br />

seja, o importante é a missão da empresa, por exemplo, o negócio da<br />

Natura é beleza, e não cosméticos.<br />

No entanto, o ideal é que todas as empresas criadas pelos homens<br />

estejam comprometidas com o objetivo da Empresa Construtora do<br />

Paraíso Terrestre. Nesse caso não há distinção entre as missões das<br />

empresas, dos funcionários e a de um homem, já que a firma, os<br />

profissionais e os indivíduos estão unidos em prol da construção do<br />

Paraíso na Terra. Aqui, conquistar algo para a empresa é realizar-se<br />

profissionalmente e evoluir pessoalmente. Essa é a verdadeira<br />

102


qualidade total e reengenharia que se aperfeiçoa para o Dono do<br />

Universo e que não se otimiza para um dono explorador, dominador,<br />

hegemonizador, rico em avareza.<br />

ARASHI<br />

Mas, isso é uma política magnífica! Desculpe-me delegada.<br />

YESHUA<br />

Por isso, atualmente, considera-se mais a permissão do que a<br />

performance, porque: a primeira é do mundo espiritual, é permissão de<br />

Deus; enquanto a segunda é do mundo material, é performance do<br />

homem. Ou seja, pede-se permissão para se ter performance, porque<br />

se conhece a lei do espírito precede a matéria.<br />

XERIFE<br />

O que acontecerá com os ramos de negócios que não seguirem essa<br />

política da Empresa-Alma?<br />

YAMA<br />

Com o avanço da espiritualidade alguns ramos de negócios irão decair<br />

progressivamente, entre eles alguns já são conhecidos, como o ramo<br />

do fumo, dos remédios e dos alimentos com agrotóxicos. Porém,<br />

existem alguns que irão deixando de prosperar, por exemplo, o<br />

negócio de seguros. Explicando. Seguro é um paliativo, não é solução.<br />

Isso porque não existe acaso. Quando se acumulam impurezas na<br />

matéria, o espírito também está impuro; conseqüentemente, desastres,<br />

incêndios, entre outras coisas, ocorrem com facilidade. Portanto, para<br />

acabar com os desastres e incêndios, é preciso, antes de tudo, evitar<br />

que o espírito da matéria se macule; não há outro processo para<br />

exterminá-los radicalmente. Enquanto isso é habitual ouvirmos:<br />

―Fulano ficou rico após o incêndio‖ e ―Uma cidade à prova de fogo<br />

terminou se incendiando inesperadamente por bombardeios‖. Isso<br />

nada mais é do que uma conseqüência da purificação pela verdade.<br />

Mas o futuro é purificar pela virtude e beleza, empregar o que já se<br />

conhece hoje a respeito de evitar que o espírito da matéria se macule.<br />

XERIFE<br />

Como é esperançoso ver aquelas propagandas da na televisão, em<br />

busca de tecnologia que preserva a natureza. E como continua feio ver<br />

anúncio de cigarro envolvendo atleta, juventude e lindo panorama.<br />

Essa política, ela deve ter sido a razão do tal desaparecimento.<br />

BALBÚRDIA lá fora chega aos ouvidos.<br />

CORTA PARA<br />

103


093. EXT. <strong>DE</strong>LEGACIA<br />

Multidão de jornalistas insatisfeitos por não estarem participando das<br />

informações fornecidas pelos Yamazi provoca certa agitação.<br />

094. INT. SALA <strong>DE</strong> <strong>DE</strong>LEGACIA<br />

XERIFE<br />

Arashi deixe aqueles jornalistas entrarem.<br />

CORTA PARA<br />

A policial prontamente obedece se retirando da sala. E a delegada ...<br />

XERIFE<br />

Essa política também acarretará mudanças profissionais, posso<br />

deduzir que uma carreira do futuro é a que envolve o turismo, e uma<br />

carreira que poderá ser extinta é a de motorista e garçom. E ...<br />

Os jornalistas entram provocando BARULHO. A delegada espertamente<br />

para por fim naquela balbúrdia faz uma pergunta a um REPÓRTER.<br />

XERIFE<br />

O que você quer saber?<br />

REPÓRTER<br />

O que se sabe sobre o paradeiro do empresário desaparecido? Sua<br />

empresa é emocional ou futurista a ponto dele ...<br />

YESHUA<br />

Embora tenham agigantado a razão e reduzido o sentimento, o mundo<br />

atual é de relacionamentos, é saber ampliar sua rede de amigos, é<br />

saber se comunicar. Pensem só: o Windows foi feito por 500<br />

engenheiros. As invenções não são mais individuais, efetuadas pelo<br />

super gênio. Por essas e outras é que já se viu formado em Harvard<br />

com QI de 160, ser empregado de um formado em universidade de<br />

pequeno porte, de QI normal, porém de alto QE. No fundo, o brilhante<br />

aluno de Harvard não passava de um ignorante emocional.<br />

OUTRO REPÓRTER levanta a mão e já sai perguntando.<br />

OUTRO REPÓRTER<br />

Então QE elevado é sinônimo de sucesso garantido?<br />

104


YESHUA<br />

Não, é preciso contar com outros fatores, inclusive esforço. Existem<br />

exceções, como a daquela piada de um empregado que foi chamado<br />

para ir conversar com o dono da empresa. Este após enaltecer seu<br />

crescimento vertiginoso na firma em tão pouco tempo, convida-lhe para<br />

ser o vice-presidente da mesma, o empregado emocionado, com<br />

lágrimas nos olhos, balbuciando diz: ―Obrigado papai!‖.<br />

RISOS.<br />

YAMA<br />

Mas também, certamente, apenas QI de ―Quem Indicou‖ não assegura<br />

êxito. Este depende do QE, passa por casar bem, estar casado há<br />

bastante tempo, saber gerenciar relação e não simplesmente<br />

administrar informação. Em termos ilustrativos, é saber namorar, dar<br />

beijinho antes de ir para o trabalho, dizer que ama, e não<br />

simplesmente deixar o cheque assinado antes de sair de casa para<br />

que nada ―falte‖ no lar.<br />

RISOS.<br />

OUTRO REPÓRTER<br />

Então o que é importante assinalar?<br />

YAMA<br />

O importante a assinalar é que a idéia de sucesso tem sofrido<br />

alterações. Sobre a celebridade, alguém deu um testemunho a<br />

respeito: ―Quanto ao fracasso ou à fama, são muito irrelevantes e<br />

nunca me preocupei com eles. O que estou procurando agora é a paz,<br />

a alegria e a amizade, uma sensação de amar e ser amado.‖<br />

ARASHI<br />

Sobre triunfo, outro disse: ―Há no caminho humano uma lei implacável<br />

que determina: teremos de perder, um dia, tudo aquilo a que<br />

desejamos nos agarrar, e somos perseguidos por tudo aquilo de que<br />

queremos fugir. Assim, o caminho da paz passa por libertar-se de todo<br />

apego ou rejeição, e fazer o melhor que podemos dentro das<br />

circunstâncias de cada momento.‖<br />

REPÓRTER<br />

Até ela, hein. Pelo visto a liderança também tem traços femininos?<br />

ARASHI<br />

Certamente! Um dos traços da liderança é a visão global detalhista.<br />

Pois: quando criança, o feminino brinca de casinha, via a casa toda,<br />

105


enquanto o masculino só via a garagem; quando jovem, ela ao visitar o<br />

lar de sua amiga vem sabendo tudo que tem dentro, enquanto ele não<br />

sabe nem o que tem dentro da sua própria residência; quando adulta,<br />

olha o homem por inteiro, não só a beleza física, já este só vê partes<br />

do corpo dela.<br />

RISOS.<br />

YAMA<br />

Um outro traço é a inteligência emocional. Estamos saindo da era da<br />

lógica, da análise, do cálculo, do homem não chora, não sente, para<br />

entrar na era da imprevisibilidade, intuição, sentimento, levar o bicho<br />

de estimação para a firma a fim de se trabalhar feliz.<br />

Nesse traço, inteligência emocional, o líder masculino quando vê seu<br />

funcionário chorando porque sua mulher fugiu com outro, diz que ali<br />

não é lugar para isso; já o líder feminino não só acolhe como quer<br />

saber os detalhes, com quem foi, aonde foi, como foi, etc. etc. etc..<br />

RISOS.<br />

YESHUA<br />

Aliás, um bom líder gasta tempo em coisas banais, como falar sobre<br />

futebol, coisas preciosas, como ouvir os tímidos, coisas expressivas,<br />

como cumprimentar ―Bom-dia!‖. Este cumprimento faz não por fazer,<br />

mas de coração, esperar pela resposta, observando se as palavras<br />

―vou bem‖ correspondem à expressão do rosto, do corpo e tom da voz.<br />

Se achar que não é verdade, aproxima-se, talvez brincando ―Como<br />

tudo bem? Com essa cara de enterro!‖.<br />

RISOS.<br />

OUTRO REPÓRTER<br />

Nas duas últimas décadas tem aumentado o número de companhias<br />

que investem no bem-estar e na satisfação dos seus funcionários,<br />

beneficiando amplamente o campo dos relacionamentos e, por<br />

conseqüência, a produtividade. Seja através de vivências alternativas,<br />

atividades de auto conhecimento ou que promovam maior integração,<br />

como aulas de ioga, arranjos florais, campeonato de futebol, etc.<br />

XERIFE<br />

A recompensa pelos bons serviços prestados pode vir não como<br />

aumento de salário, mas sob a forma de uma prazerosa e inesquecível<br />

viagem que inclua toda a família do funcionário exemplar. Ou segundo<br />

o modo de se estar num ambiente de trabalho confortável, seguro,<br />

alegre e motivador.<br />

106


REPÓRTER<br />

Presidente, como seria no caso motivador?<br />

YESHUA<br />

A motivação, tecnicamente, é aquilo que leva a despender energia<br />

numa direção específica com um propósito específico. Há cinco fontes<br />

de onde se pode retirar a motivação: 1ª) da pessoa mesmo; 2ª) da<br />

família; 3ª) de parentes e amigos, como seu pai ou um colega da sala<br />

ao lado; 4ª) de um mentor, como Jesus Cristo; 5ª) do ambiente, como<br />

as fotos dispostas em sua sala de moradia ou trabalho.<br />

OUTRO REPÓRTER<br />

A aptidão emocional é a capacidade de lidar bem com os nossos<br />

sentimentos e o dos outros, lidar com as divergências antes que elas<br />

cresçam. É indispensável, pois a pessoa desprovida de aptidão<br />

emocional está sujeita aos conflitos internos, que tiram a sua<br />

concentração na firma e comprometem a sua clareza racional e a sua<br />

produtividade, pode ter a sua memória afetada e dificuldade para tomar<br />

decisões com objetividade.<br />

REPÓRTER<br />

Esta falta de capacidade emotiva surge desde nos narcisistas, que<br />

acham feio o que não é espelho; até nos intolerantes, invejosos,<br />

medrosos e por outras tantas emoções negativas, são capazes de criar<br />

em nossa vida um inferno particular.<br />

XERIFE<br />

Convém, para sair desse inferno, estar com mente e corpo sãos, ser<br />

um interlocutor confiável, flexível e generoso, emitir opinião quando<br />

sentir que algo está errado, arriscar-se a parecer imperfeito, iniciar e<br />

terminar um comentário negativo com um aspecto positivo.<br />

YAMA<br />

O emocional não segue a matemática que diz ―numa adição, a ordem<br />

das parcelas não altera a soma‖, ou seja, na lógica das emoções, a<br />

ordem ―negativa e positiva‖ é diferente da ordem ―positiva e negativa‖,<br />

é mais grandiosa. Sinta como é diferente: ―fulano cometeu tal erro, mas<br />

é muito bom‖ e ―fulano é muito bom, mas cometeu tal erro‖.<br />

YESHUA<br />

É essencial encarar as adversidades com naturalidade mesmo<br />

parecendo cínico ou ingênuo. Nas desavenças com o chefe, procure<br />

ser positivo, afirme para os colegas que é fácil trabalhar com ele,<br />

enalteça suas qualidades. Se considerar insuficiente seu salário,<br />

abençoe sua atual remuneração. Não esqueça de quem agradece o<br />

107


que tem, ganha o que não tem, e quem lamuria pelo que não tem,<br />

perde o que já tem. Se desejar mudar de emprego, tenha gratidão pelo<br />

que já tem, veja-o como mais um degrau no seu caminho, ao sair dele<br />

entregue, seu cargo amorosamente ao seu substituto.<br />

REPÓRTER<br />

Intimidade representa risco de substituir os interesses da organização<br />

pelos pessoais? Amizade pode realmente interferir na produtividade?<br />

YESHUA<br />

Mas o que parece mesmo perigo é a formação de ―pessoas imaturas‖.<br />

Aquelas que não conquistam as recompensas por competência, mas<br />

sim por assistencialismo exagerado que envolve assistência médica,<br />

cesta básica, vale-refeição, vale-transporte, vale-teatro, enfim vale tudo<br />

para que a pessoa seja feliz fora do local do trabalho.<br />

Logicamente, a pessoa deve ser feliz também no trabalho, conviver<br />

num ambiente folgazão, mas não de ―folgados‘ que só pensam no<br />

prazer das máquinas de café, mesas de pingue-pongue, tabuleiros de<br />

damas e baralhos.‖ Os sentimentos não podem dominar a razão e a<br />

vontade, e haver cuidados extremos com os melindres, como todos<br />

querem ser consultados em demasia, possibilitando o status quo.<br />

O condutor não pode ser: paternalista formador de ―pessoa-imatura‖,<br />

isto é, pessoa incapaz de influenciar seu destino e livrar-se de sua<br />

desdita; e muito menos, o guia da reivindicação sem esforço, do<br />

defensor dos ―queremos os peixes, mas, não nos ensinem a pescar‖.<br />

OUTRO REPÓRTER<br />

Presentemente, nota-se a característica de dependência, em maior<br />

escala, na estância do governo, comércio e outros setores, eles estão<br />

na dependência dos demais países.<br />

YESHUA<br />

Também há subsídio do governo para diversos artigos de consumo e<br />

ajuda financeira dos Bancos. Médios e pequenos empresários afirmam<br />

que irão à falência se não obtiverem empréstimos bancários. Existem<br />

os desempregados, viúvas, etc., que vivem na dependência da ajuda<br />

do governo, dos serviços sociais e da assistência de instituições.<br />

Existe até entrada gratuita nos meios de transporte para os fardados,<br />

como os estudantes, e os ―carteiradas‖, como os idosos. Onde quer<br />

que se observe, parece que nada é possível sem a ajuda de terceiros.<br />

XERIFE<br />

O comportamento oscila entre os extremos, do omisso apático ―em<br />

boca fechada não entra mosquito‖ ao franco agressivo ―gota d‘água‖.<br />

Mas, vamos almoçar.<br />

108


095. CORREDOR DA <strong>DE</strong>LEGACIA<br />

Saem espremidos por aquele lugar apertado, porém expansivos.<br />

096. EXT. <strong>DE</strong>LEGACIA<br />

YESHUA<br />

Lao-Tsé há muitos anos atrás já havia explicitado que: ―Um líder é o<br />

melhor quando apenas se sabe que ele existe. Não tão bom quando é<br />

honrado e louvado. Menos quando é temido e pior quando odiado. Mas<br />

de um bom líder, quando seu trabalho estiver terminado e sua obra<br />

completada, todos dirão: ‗Fomos nós que fizemos‘.‖<br />

097. CALÇADA<br />

YESHUA<br />

O verdadeiro líder é aquele que atrai as pessoas a cumprirem sua<br />

missão, pessoas atraídas sentem-se importantes, querem aprender,<br />

gostam do trabalho de equipe, da sociabilidade, da amizade e do<br />

divertimento.<br />

098. RUA<br />

XERIFE<br />

É isso aí, Yeshua. Superior que trata seu subordinado como burro terá<br />

inaptidão no trabalho; aborrecido, terá desânimo; preguiçoso, terá<br />

acomodação. Aquele que trata sem empregar visões compartilhadas<br />

necessita manipular para que atinjam objetivos.<br />

099. OUTRA CALÇADA<br />

YAMA<br />

A curto prazo, é possibilitar que haja recebimento de Johrei, promoção<br />

de alimentação da agricultura natural nas cantinas e ornamentação<br />

com flores no interior. Alguns podem dizer ―Johrei em empresa!‖, mas<br />

qual o problema se na empresa já tem até Tai Shi Shuan.<br />

YESHUA<br />

Empreendedor cooperativo, além de saber que para ser feliz tem que<br />

fazer seu semelhante feliz, entende que tem de transformar o mundo<br />

em saudável, próspero e pacífico, verdadeiro, bondoso e belo.<br />

109


100. EXT. RESTAURANTE<br />

YESHUA<br />

(continuando)<br />

Reunir globalização com humanidade, mundo com aldeia, um<br />

cosmopolita de nação conhecida, um pintor que se esforce para tornar<br />

mais viva e mais bela a cor de cada país.<br />

O sincero é dócil. Hoje em dia, as pessoas agem de forma contrária:<br />

gostam muito de discussão, chegam ao ponto de após intensa<br />

discussão, onde os prós e os contras foram intensamente debatidos,<br />

vencido uma posição, a parte derrotada já está pronta para, no mínimo,<br />

torcer para que dê errado.<br />

101. INT. RESTAURANTE<br />

Eles entram e vão logo se acomodando e pedindo a refeição para que<br />

a conversa prossiga.<br />

REPÓRTER<br />

Isso nos lembra a reunião indígena, onde ocorre exatamente o<br />

contrário, aquele agrupamento que quando depois de um bom tempo<br />

em silêncio, um resolve falar. Ele fala, e após sua fala, mais um<br />

tempão de silêncio. Se fosse aqui, já se ia interrompendo, dizendo que<br />

não concorda. Lá eles escutam e não falam em seguida, para não dar<br />

impressão de que estão contra.<br />

OUTRO REPÓRTER<br />

Aliás, isso lembra também a história de um indígena admirado pela sua<br />

idade avançada, quando lhe perguntavam o segredo de sua<br />

longevidade, ele dizia que era evitar discussão. Um repórter presente<br />

resolveu discordar, e recebeu a seguinte resposta do ancião: ―não é<br />

que você tem razão‖.<br />

XERIFE<br />

Corrijam-me se estiver errado. O parâmetro de avaliação de<br />

desempenho ou de contratação deve considerar mais o lado espiritual<br />

e não tanto a aparência física, o diploma. Não é isto?<br />

YAMA<br />

Se os parâmetros já passaram pelas habilidades e conhecimentos,<br />

hoje o que vale é as atitudes.<br />

XERIFE<br />

É isso aí. Tem um decálogo de atitudes para serem avaliadas?<br />

110


YAMA<br />

1 o ) Ponderar se o próprio indivíduo gosta de arte, fazer arranjos florais,<br />

compor música, pintar; 2 o ) Analisar se ele é bondoso e cortês; 3 o )<br />

Verificar se ele é respeitado e amado; 4 o ) Averiguar se nutre alegria;<br />

5 o ) Observar também se resolve qualquer problema em poucos<br />

minutos, por mais difícil que ele seja; 6 o ) Investigar seu tronco familiar,<br />

se é florescente ou decadente, otimista ou suicida, alegre ou triste,<br />

protetor que ampara por aviso e sonho ou opressor que persegue; 7 o )<br />

Avaliar se tem espírito de justiça, como pelas desigualdades que há no<br />

mundo.<br />

REPÓRTER<br />

Inclusive contra associações com dinheiro e posição, que queiram criar<br />

monopólios e oligopólios, e contra governos que cobram impostos em<br />

demasia?<br />

Yeshua sorri. delegada balança a mão como que dizendo para Yama:<br />

“continue”.<br />

YAMA<br />

8 o ) Notar se ele pratica o ditado ―perder para ganhar‖; 9 o ) Reparar se<br />

tem espírito de equipe e não de grupo. Pois no primeiro, se ele é back<br />

então cobre o avanço do lateral, joga até com aqueles que detestam,<br />

passa a bola para o desafeto fazer o gol, assim se é campeão e os<br />

passes dos dois valorizam. Já no segundo, une apenas os afins e<br />

especialistas do gênero ―isso não é do meu departamento‖, ―o que<br />

você está fazendo no meu lugar‖, ―não é o meu ramal, não atendo; 10 o )<br />

Examinar se ele é formado segundo uma visão espiritualista.<br />

REPÓRTER<br />

(para a policial)<br />

O que a policial acha disso tudo? Como motivaria um time? Como<br />

formaria uma equipe?<br />

ARASHI<br />

Não sei se devo expressar ponto de vista. Agora, se delegada permitir,<br />

eu diria que a motivação de um time é saber o todo, cada vitória ser<br />

dividida por todos, que haja valorização pela equipe, buscar o equilíbrio<br />

com o desvio e a correção dos outros que são os nossos espelhos.<br />

Todos sorriem principalmente a delegada dizendo: “continue Arashi”.<br />

ARASHI<br />

E a formação de uma equipe depende das metas, como objetivos<br />

claros e definidos, compromissos e responsabilidades mútuos e<br />

111


indicadores de desempenho, e depende também dos relacionamentos,<br />

como relação de confiança, conflito e consenso, afirmação e empatia.<br />

APLAUSOS. Todos estão abismados. Quando se escuta.<br />

XERIFE<br />

Antes de chegarem a delegacia, eu estava mencionando carreiras em<br />

vias de desaparecer e as promissoras. Entre as primeiras, citava as de<br />

motorista e garçom, mas gostaria de incluir a carreira militar. Entre as<br />

segundas, citava a de turismo, porém gostaria de incluir a de professor,<br />

vide que médico ensina, advogado ensina, engenheiro também, até<br />

técnico de futebol é chamado de professor.<br />

YAMA<br />

No entanto, o ensino atualmente é materialista.<br />

Os jovens, hoje em dia, são muito prazerosos, só querem boa comida,<br />

sexo, som, filme, mas falta-lhes o prazer moral, aquele que interpreta<br />

os prazeres, dimensiona-os segundo valores. Aquele júbilo que talvez<br />

registrasse na sua lápide os seguintes dizeres: ―Em tudo tive prazer<br />

porque realizei as pequenas coisas com grande amor.‖<br />

Sócrates fazia a pergunta: Qual o seu desejo? Na cultura da época<br />

atual é riqueza, poder e fama. Mas, o interessante é o caso daquele<br />

empresário seqüestrado, que era rico, poderoso e famoso, que a<br />

família implorava que lhe dessem os remédios. A quantidade de<br />

medicamentos era um absurdo, era contra pressão alta, colesterol,<br />

úlcera, ansiedade, prisão de ventre. Cadê a saúde, a felicidade?<br />

Felicidade é ser saudável, próspero e pacífico, verdadeiro, bondoso e<br />

belo. Madre Teresa de Calcutá, com marca passo, sem dinheiro e<br />

rosto bonito conseguia ser relativamente feliz.<br />

ARASHI<br />

É possível então dizer que na história das empresas deve passar dos<br />

comandos gerenciais dos engenheiros, advogados, economistas,<br />

administradores, informáticos e psicólogos, para os comandos dos<br />

espiritualistas na trindade cientista-educador-artista?<br />

Todos se divertem com essa pergunta e mais ainda quando a<br />

delegada paga a conta. Arrumam-se as cadeiras e começam a sair.<br />

102. CALÇADA<br />

Eles saem do restaurante e se põem a andar.<br />

112


103. PRAÇA<br />

Eles chegam aonde se tem árvores, flores, grama bem tratada, lago<br />

com fonte jorrando água e bancos de jardim. Alguns se acomodam nos<br />

bancos, outros sentam na grama.<br />

YAMA<br />

O procedimento da Empresa-Alma tem como base a sinceridade, o<br />

desapego, a teoria dos efeitos contrários, o encarar as adversidades<br />

como crescimento, o planejar.<br />

REPÓRTER<br />

Não existe uma conduta que seu mestre tenha chamado à atenção e<br />

que não seja muito percebida atualmente?<br />

YAMA<br />

Sim, eu me lembro dele dizer: ―Desejo, agora, chamar a atenção para<br />

a necessidade de uma mudança na mentalidade do homem. Existem<br />

pessoas que se concentram num único trabalho, sem descanso,<br />

muitas vezes, entretanto, não conseguem ser eficientes. Isso acontece<br />

porque elas acabam entediadas, saturadas, mas ficam agüentando e<br />

insistindo no trabalho. Esse procedimento não é certo. Nessas<br />

ocasiões, o melhor é parar um pouco e até mesmo procurar uma<br />

recreação, a fim de espairecer a mente. Muitos pintores dizem que,<br />

quando não se sentem inspirados ou quando estão sem vontade, não<br />

pegam de modo algum no pincel. Em minha opinião, é uma atitude<br />

bastante sensata.‖<br />

104. INT. FE<strong>DE</strong>RAÇÃO DA AGRICULTURA<br />

Estados Unidos da América do Norte. Yeshua está discursando.<br />

CORTA PARA<br />

YESHUA<br />

Se hoje aspiro a ser o primeiro mandatário dos Estados Unidos da<br />

América do Norte agradeço ao meu pai que me trouxe a este país que<br />

tanto me orgulho de ser cidadão, bem como as suas lições que me<br />

permite de ter o que falar para esta federação empresarial.<br />

(pausa)<br />

Uma de suas lições básicas é que as empresa do passado e do<br />

presente não passam de circunferências de círculo com seu interior<br />

vazio; já as empresas do futuro têm um ponto no centro, ou seja, uma<br />

113


alma. Ele sempre afirma que as empresa do passado, mesmo a<br />

empresa-intelectual, confiável do capitalismo, nem sempre tem<br />

condições propícias, ficando às vezes impedida de se adiantar. Basta<br />

recordar casos de funcionários que ao tentarem programar novos<br />

procedimentos, sofreram restrições da diretoria por medo da inovação<br />

ou apego aos procedimentos antigos. Imaginem as dificuldades da<br />

Empresa Alma, que é uma empresa para o pós-capitalismo? Que<br />

obstáculos de fazer surgir-lha, de lançar suas premissas?<br />

105. INT. FE<strong>DE</strong>RAÇÃO DO COMÉRCIO<br />

FA<strong>DE</strong> OUT<br />

FA<strong>DE</strong> IN<br />

YESHUA<br />

Após os três registros afirma-se que na era da predominância do<br />

espírito sobre a matéria: a personalidade com seu intelecto e emoção,<br />

cérebro e pituitária, conhecimento racional e conhecimento sensorial,<br />

dá lugar a individualidade com sua intuição, plexo solar, conhecimento<br />

verdadeiro, o buscar a alma pelo caminho do pensamento positivo, isto<br />

é, da razão sábia, sentimento amoroso e vontade forte.<br />

Todavia as premissas de criação da empresa-alma, como é de se<br />

esperar, já se encontram no processo evolucionário da empresa em<br />

geral. Pois, sempre houve alma nas empresas, quer seja do passado e<br />

presente, o que ela não era é o fator preponderante, mas manifestavase,<br />

e no processo algumas coisas permanecem por serem as coisas<br />

da alma. Uma primeira coisa, da empresa do futuro é o ...<br />

106. INT. FE<strong>DE</strong>RAÇÃO DA INDÚSTRIA<br />

FA<strong>DE</strong> OUT<br />

FA<strong>DE</strong> IN<br />

YESHUA<br />

... é o planejamento, em última instância, considera o plano de fazer da<br />

Terra um mundo ideal. As pessoas, com seus lares, firmas e governos<br />

tem diferentes missões e características para fazer evoluir na<br />

construção do Paraíso Terrestre. Ela se orienta predestinada pela<br />

Alma do Criador do Universo, do Dono da Empresa Construtora do<br />

Novo Mundo, que é a de operar no sentido de construir o Paraíso na<br />

Terra. Ou seja, edificar um mundo de saúde-prosperidade-paz e<br />

114


verdade-bem-belo, onde haja equilíbrio entre a família, a fé e o<br />

trabalho e reine o espiritualismo e o altruísmo.<br />

Uma segunda coisa, a empresa do futuro deve seguir a filosofia do<br />

empresário Mokiti Okada, por ser a orientação para a humanidade no<br />

século XXI. Ela, além de pregar o que se acaba de mencionar, possui<br />

práticas básicas para chegar ao paraíso que são Johrei, Agricultura<br />

Natural e Belo. Edifica solos sagrados, pólos agrícolas e cidades da<br />

nova era. E, principalmente, cumpre quatro leis: espírito precede a<br />

matéria, ordem, identidade espírito-matéria e causa e efeito.<br />

107. INT. FE<strong>DE</strong>RAÇÃO DO SERVIÇO<br />

FA<strong>DE</strong> OUT<br />

FA<strong>DE</strong> IN<br />

YESHUA<br />

Encerrando, vê-se que a empresa do futuro, tem:<br />

As características de ser um empreendimento cooperativo cujos<br />

produtos são as dedicações e gratidões, envolvido pela inteligência da<br />

percepção verdadeira, do resolver rápido, da abrangência, bom-senso<br />

e equilíbrio, do pedir permissão, da sinceridade, confiança,<br />

honestidade, docilidade, desapego, bondade, cortesia, respeito.<br />

Também, globalização com humanidade, fraternidade, saber ceder<br />

para conquistar, humildade, tolerância, efeito contrário, espírito de<br />

justiça, espírito de equipe, prazer moral, interdependência, não se<br />

precipitar, trabalhar com satisfação.<br />

Finalmente, para este candidato, este discurso terá sido um bom<br />

discurso, se no final houve mudança nos eleitores e todos em<br />

harmonia consigam entoar a oração muito conhecida, só que de forma<br />

adaptada: ―Concedei-me, Senhor: sentimento amoroso necessário<br />

para aceitar as coisas que não posso modificar; vontade forte,<br />

corajosa, para modificar aquelas que posso; e razão sábia para<br />

distinguir umas das outras.‖<br />

Obrigado, pela oportunidade que vocês me proporcionaram em poder<br />

servi-los!<br />

APLAUSOS INTENSOS E FORTES.<br />

108. INT. AUDITÓRIO<br />

Integrantes de diversas religiões escutam o candidato.<br />

CORTA PARA<br />

115


YESHUA<br />

Entre os mestres que mais se preocuparam com a educação e a<br />

política foi Confúcio. Foi ele que disse: ―Em vida tive a convicção de<br />

que realistas e moístas estavam igualmente equivocados, mas nos<br />

campos opostos. Os realistas achavam que os governos podiam<br />

estabelecer a paz e a harmonia por meio da lei e da força, que eram<br />

seu domínio. Os moístas passaram para o extremo oposto;<br />

presumiram que o comprometimento pessoal era tudo. Eu via o<br />

homem como naturalmente bom e pensava que todo mal brota da falta<br />

de conhecimento. ―Para mim, a educação é a solução transmitindo os<br />

conhecimentos corretos.‖ Quando perguntado: ―O que dirias da pessoa<br />

que é estimada por todos os seus concidadãos?‖, Confúcio respondeu:<br />

―Que isso não é suficiente. Melhor seria que os melhores dentre seus<br />

concidadãos a estimassem, e que os piores a odiassem.‖<br />

RISOS.<br />

ALTHUSSER<br />

Confúcio rejeitou a alegação dos realistas de que o único governo<br />

eficaz era pela força física. A correção do julgamento de Confúcio foi<br />

demonstrada pela História, por meio de uma dinastia a Ch‘in, que<br />

moldou sua política nas linhas realistas. Surpreendentemente bemsucedida<br />

de início, essa dinastia foi a primeira a unificar a China e lhe<br />

legou seu nome (―Ch‘in‖ tornou-se ―China‖). Mas entrou em colapso em<br />

menos de uma geração testemunha significativa do dito: ―Você pode<br />

fazer o que quiser com as baionetas, exceto sentar-se nelas.‖<br />

YESHUA<br />

Uma das mais conhecidas histórias confucionistas é aquela em que ele<br />

ouve, na encosta solitária de Monte T‘ai, os gemidos de uma mulher.<br />

Confúcio pergunta-lhe por que se lamenta e ela responde: ―O pai do<br />

meu marido foi morto aqui, por um tigre. Meu marido também. E agora<br />

o meu filho teve o mesmo destino.‖<br />

— Por que então moras neste lugar terrível? —perguntou-lhe Confúcio.<br />

— Porque aqui não há governante opressor — respondeu a mulher.<br />

―Não deveis esquecer, ó estudiosos‖, disse Confúcio aos seus<br />

discípulos, ―que um governante opressor é mais cruel que um tigre.‖<br />

ALTHUSSER<br />

Em outra ocasião, quando um governante lhe perguntou se os homens<br />

que não obedeciam à lei deviam ser executados, Confúcio respondeu:<br />

―Que necessidade tem o governo da pena de morte? Se mostrares um<br />

desejo sincero de ser bom, teu povo também desejará ser bom. A<br />

virtude do príncipe é ser como o vento; a virtude do povo é ser como a<br />

grama. Está na natureza da grama inclinar-se quando o vento sopra<br />

116


sobre ela.‖<br />

YESHUA<br />

Dentre os teóricos ocidentais, Confúcio teria encontrado seu porta-voz<br />

em Platão: ―Dize-me então, Crítias, como um homem escolherá o<br />

governante que irá governá-lo? Não irá ele escolher um homem que<br />

tenha primeiro posto ordem em si mesmo, sabendo que os efeitos de<br />

toda decisão nascida da raiva, do orgulho ou da vaidade se<br />

multiplicarão mil vezes sobre os cidadãos?‖. Confúcio, se tivesse vivido<br />

na época de Thomas Jefferson também teria dado pleno apoio a esta<br />

sua idéia: ―Toda a arte da governança consiste na arte de ser honesto.‖<br />

Na relação governante/súdito, por exemplo, o governante só conserva<br />

o Mandato do Céu — o direito a ter a lealdade de seus súditos — na<br />

medida em que o bem-estar dos súditos for realmente sua principal<br />

preocupação, e se possuir os talentos necessários para promover esse<br />

bem-estar. Mais de dois mil anos antes da Magna Carta e da<br />

Declaração dos Direitos Humanos, dois milênios antes que o Ocidente<br />

separasse o direito divino da função real, os chineses (por meio de<br />

Confúcio e seus discípulos) incorporaram solidamente o Direito de<br />

Revolução em sua filosofia política: ―O Céu vê como o povo vê; o Céu<br />

quer como o povo quer.‖ Longe de ser uma ordem legal, a<br />

cumplicidade com a autoridade ilegítima é, no projeto confucionista.<br />

ALTHUSSER<br />

Por isso, eu manifesto a minha opinião até certo ponto, mas quando a<br />

coisa não corre bem, paro. Podem falar o que quiserem, mas se a<br />

coisa se tornar complicada, e não correr bem devemos parar. E se a<br />

idéia for realmente boa, ninguém poderá contrariar.<br />

YESHUA<br />

Todos concordarão. Quando as coisas não correm bem, significa que<br />

houve alguma falha na elaboração.<br />

RISOS E APLAUSOS.<br />

109. INT. ESCOLA<br />

CORTA PARA<br />

Muitos diretores, professores, estudantes e funcionários ouvem o<br />

candidato. Logo, na frente, em pé sem farda, está Arashi, aquela que<br />

tanto o impressionou lá no Japão.<br />

117


YESHUA<br />

Há um adágio que diz: ―Para saber a prosperidade ou a decadência de<br />

um país, basta observar os jovens desse país.‖<br />

DIRETOR resolve fazer uma intervenção.<br />

DIRETOR<br />

Atualmente, os intelectuais, as autoridades e os pedagogos estão se<br />

esforçando muito para os jovens, então é natural que consigam.<br />

YESHUA<br />

Eles estão é confundindo pensamento teísta com superstição e<br />

tentando obter bons resultados com apoio nos regulamentos da lei, no<br />

ensino, nos sermões, etc. Dessa forma, por mais que eles se<br />

esforcem, é natural que nada consigam. As notícias publicadas<br />

diariamente nos jornais mostram claramente.<br />

DIRETOR<br />

Não sou tão pesimista. A vida é uma escola para o polimento do<br />

espírito e do corpo do homem. A educação faz crescer o espírito, que é<br />

primordial, e eleva o homem espiritual e materialmente.<br />

YESHUA<br />

No entanto, a educação atual limita-se apenas à formação externa da<br />

pessoa, e por isso a parte interior, que é a mais importante, fica<br />

desprovida de conteúdo.<br />

DIRETOR<br />

Existe expressão que aconselha a conhecermos bem a nós mesmos.<br />

YESHUA<br />

Mas é necessário estender esse pensamento aos limites do<br />

conhecimento de nossa pátria. Na realidade, no Japão também está<br />

diminuindo o número de ―grandes‖ políticos. Portanto, os que estão<br />

ligados à Educação devem pensar bastante sobre esse problema.<br />

DIRETOR<br />

Por estarmos pensando e agindo é que no ensino atual uma criança de<br />

doze ou treze anos faz o que um adulto faz.<br />

YESHUA<br />

Realmente, durante algum tempo, a capacidade intelectiva se<br />

desenvolve com rapidez, e por isso a instrução pode parecer boa, mas<br />

não há um desenvolvimento em profundidade, formando-se adultos<br />

com capacidade intelectiva inadequada e sem uma lógica profunda.<br />

118


DIRETOR<br />

Por isso é que fazemos isso tudo harmoniosamente dentro da<br />

amizade, sem castigo, com muita liberdade e muito carinho.<br />

YESHUA<br />

É lógico, senhor diretor, que devemos ter amizade, mas precisa haver<br />

certa hierarquia também. Isto é que é a verdadeira harmonia.<br />

Harmonia não é só aquele amor e carinho, dengoso. É preciso haver<br />

amor, confraternização dentro da ordem. Senão nasce o sofrimento.<br />

Mesmo quando os pais querendo parecer modernos cuidam mal dos<br />

filhos e perdem a moral, perdem o respeito. Pai e mãe que castigam,<br />

mas com bom sentimento, não com raiva conseguem ensinar mesmo.<br />

Antigamente nas escolas o professor castigava o aluno. Hoje não.<br />

Atualmente se o professor fizer alguma coisa ao aluno, vai preso.<br />

Então o que acontece agora é que os professores não fazem nada.<br />

Tanto faz que os alunos aprendam ou não. Eles que se virem. Os<br />

professores cumprem seus horários e vão embora. Estão se perdendo<br />

os verdadeiros educadores. Em minha opinião se o professor castigar<br />

o aluno para o bem do próprio aluno, eu acho que esse professor é<br />

formidável.<br />

PROFESSOR também resolve participar.<br />

PROFESSOR<br />

Eu também concordo consigo, esses alunos são malcriados. Meu filho<br />

mesmo é muito desobediente.<br />

YESHUA<br />

Senhores olham seus alunos achando eles malcriados. Pais acham<br />

que filho é ruim não obedece; filho acha que seus pais são muito<br />

exigentes, nunca se resolve o problema. Olhando sempre assim, Deus<br />

mandará esses aborrecimentos para os senhores. Quando mudar<br />

julgamento, aí terão conseguido evoluir e o problema não existirá mais.<br />

PROFESSOR<br />

Mas, se isso acontece na família e na escola, vai me dizer que na sua<br />

religião isso não acontece?<br />

YESHUA<br />

Claro que sim! Outro dia encontrei pessoa que sofreu acidente, batida<br />

de carro. Acidentes também são desarmonias para tomar coisas<br />

harmoniosas. Então deve existir nessa pessoa uma antinatureza.<br />

Senão descobrir tendência, no futuro lhe irá acontecer outra coisa<br />

séria. Essa pessoa confessou: achava que, como ministrava muito<br />

119


Johrei na casa dos outros, ficou carregada demais com as nuvens<br />

deles e aí teve que purificar. Ele me perguntou:<br />

- Não é certo?<br />

- Será que é isso mesmo? Senhor não estará querendo jogar a culpa<br />

nos outros? Acho que senhor bateu porque tinha alguma coisa dentro<br />

do senhor que causou aquilo.<br />

- Mas, eu encontrei cada sofrimento pesado!<br />

- Olhe, se fosse assim nosso Reverendo já estaria mortinho da silva.<br />

Realmente recebemos influências dos outros, mas não é parte<br />

principal do problema. Não temos direito de transferir para os outros a<br />

culpa das nossas infelicidades. Eu acho que esse pensamento<br />

negativo do senhor provocou o acidente.<br />

Uma GAROTA uniformizada com a mão levantada.<br />

DIRETOR<br />

(impaciente)<br />

Fala logo ―minha filha‖.<br />

GAROTA<br />

Hoje em dia se fala muito da poluição do ar, do solo, do mar. Mas tudo<br />

isso é provocado pelo modo antinatural da vida dos homens?<br />

YESHUA<br />

Como você sabe disso?<br />

GAROTA<br />

Minha mãe que faz comida costuma jogar resto no lixo. Se lixeiro<br />

demora a passar, aí aparecem logo bichinhos, reação da Natureza<br />

contra a antinatureza causada pela sujeira.<br />

YESHUA<br />

Sabe que dentro do nosso organismo acontece a mesma coisa.<br />

Havendo sujeira, deve aparecer vírus, micróbios, bactérias ou glóbulos<br />

sangüíneos modificados para combater a doença, que é uma forma de<br />

purificação?<br />

PROFESSOR<br />

Tudo isso nós ensinamos. Não é senhor diretor?<br />

DIRETOR<br />

Todinho!<br />

YESHUA<br />

Por acaso a sua instituição ensina para os seus alunos o que é missão<br />

120


do homem? Por que ele nasceu, de onde veio e para onde precisamos<br />

caminhar? Alguma escola de arte ensina a importância da evolução da<br />

espiritualidade do artista, seja ele pintor, escultor, músico, etc., e a<br />

influência que essa espiritualidade exerce naqueles que têm contato<br />

com sua obra? Pode até ensinar que Buda é assim, a Bíblia é assim,<br />

Maomé é assim, israelita é assim, mas não ensina a verdade, não é?<br />

O senhor está ensinando apenas conhecimentos. Assim, não adiante<br />

nascerem milhares de universidades e de escolas formando centenas<br />

de milhares de doutores e profissionais nas mais diversas<br />

especialidades. É necessário que existam currículos que ensinem a<br />

missão do homem, as leis da Natureza. Se não ensinarmos a<br />

existência da parte invisível, não conseguiremos formar pessoas que<br />

vivam de acordo com a lei do Universo. A humanidade afastou-se<br />

dessa Verdade devido ao materialismo e ao egoísmo. É nossa missão<br />

reeducá-la, pregando o espiritualismo e o altruísmo.<br />

Uma funcionária também se pronuncia perguntando se Yeshua estava<br />

querendo dizer que a personalidade cresce com o progresso da<br />

individualidade, da sua espiritualidade, da sua sensibilidade espiritual,<br />

e não simplesmente nos negócios, profissão e posição social de uma<br />

existência. O professor se sente incomodado.<br />

PROFESSOR<br />

Só faltava essa. Agora, vamos ficar escutando subordinados. É isso<br />

que o candidato propõe para seu governo?<br />

YESHUA<br />

Eu proponho que se deixe seguir os impulsos mesmo quando insista<br />

num projeto absurdo, o que está longe de ser o caso afirmado pela<br />

funcionária. Só acho que não se deve ouvir quando atitudes errôneas<br />

prejudicam a situação.<br />

PROFESSOR<br />

Só falta ter que ouvir mentiras?<br />

YESHUA<br />

Mentira, embora não seja uma coisa boa, não é tão grave, por ser algo<br />

vago, sem conteúdo, um vazio de boca, algo que tanto se pode<br />

acreditar como desacreditar, e assim não causa tanta mácula. Já<br />

falsidade é resultado concreto da mentira, pleno de conteúdo.<br />

PROFESSOR<br />

Existe um exemplo concreto de alguém que mentiu sem ser falso?<br />

121


YESHUA<br />

Sim, a história de um bonzo chamado Hakuin. Devido a um descuido,<br />

uma moça teve um bebê e foi se esconder no templo do bonzo Hakuin.<br />

Este não só a protegeu como também disse que a criança era seu<br />

filho. Ao ouvir isso, o pai da moça ficou furioso, dizendo como pode um<br />

bonzo, que é considerado o próprio Buda, fazer uma coisa insolente<br />

como essa, e, juntamente com os moradores da vila, expulsou-o.<br />

Nessa hora, o religioso nada disse. Mas, após alguns anos, soube-se<br />

da verdade e hoje, ele é considerado um bonzo extraordinário.<br />

110. ROSTO DA ARASHI<br />

A policial Arashi está frente a frente com o palestrante, ela está<br />

visivelmente emocionada.<br />

ARASHI<br />

Eu não mereço estar a sua altura.<br />

111. INT. ESCOLA<br />

Ela se prostra aos pés de Yeshua. Ele a ergue, pega um vaso com<br />

flores e água e o entorna pela cabeça da policial Arashi molhando toda<br />

a sua roupa. O que deixa as pessoas surpresa.<br />

YESHUA<br />

O valor de um vaso está justamente no seu vazio, pois, uma vez cheio,<br />

esse objeto já não serve como vaso. Procure se esvaziar.<br />

112. ROSTO DA ARASHI<br />

As lágrimas escorrem imitando a água que estava no vaso e que<br />

correu pelo seu corpo.<br />

113. ROSTO DA ARASHI<br />

Legenda: 2016. As lágrimas continuam escorrendo.<br />

FA<strong>DE</strong> OUT<br />

FA<strong>DE</strong> IN<br />

122


114. VELÓRIO<br />

Arashi está chorando. O corpo do Yama está sendo velado. Um de<br />

seus filhos, o pai de Bel, está sentado numa cadeira, enquanto, o outro<br />

filho, Yeshua, está sentado no chão, com as pernas abertas, cantando<br />

e acompanhando a melodia com batidas no fundo de uma tigela de<br />

madeira.<br />

ARASHI<br />

Não lhe entendo Yeshua. Afinal seu pai viveu devotadamente contigo<br />

todos esses anos, cuidou de si até torná-lo Presidente de uma nação<br />

tão grandiosa e envelheceu ao teu lado. Não derramares uma lágrima<br />

sobre o corpo dele já é ruim, mas cantares e acompanhares teu canto<br />

batendo numa tigela ... isso é demais!<br />

Yeshua - o agora presidente – nada fala. Uma pessoa cujo rosto,<br />

devido ao ângulo, não se vê direito, se aproxima, abraça-o<br />

carinhosamente. Ao se mexer proporciona o reconhecimento: trata-se<br />

do ROSTO JOVEM, daquele que havia desaparecido sem explicitar qual<br />

seria a sua empresa.<br />

ROSTO JOVEM<br />

Militar, julgas mal. Quando Yama morreu, Yeshua ficou desesperado,<br />

como qualquer outro filho. Mas então ele percebeu que seu pai, antes<br />

de nascer, não tinha corpo e então ficou claro para ele que o mesmo<br />

processo de mudança que o fez nascer acabaria por fazê-lo morrer.<br />

Quando alguém está cansado e quer se deitar, não o perseguimos<br />

com gritos e reprimendas. Aquele a quem ele perdeu deitou-se para<br />

dormir durante algum tempo no aposento entre o céu e a terra.<br />

Gemidos e lamentações enquanto seu querido pai dorme seriam o<br />

mesmo que negar a lei soberana da natureza. Por isso deles ele se<br />

abstém.<br />

ARASHI<br />

(pensando)<br />

Por isso que ele não me respondeu. Quem sabe, como ele, não fala;<br />

quem fala, como eu, não sabe. Meu Deus! Como tenho que aprender.<br />

(falando)<br />

Quem és tu que tanto percebes?<br />

ROSTO JOVEM<br />

Eu sou aquele que vendo os peixinhos se atirando de um lado para<br />

outro à vontade, comento: ―Esse é o prazer desfrutado pelos peixes.‖<br />

123


ARASHI<br />

E quem sou eu?<br />

ROSTO JOVEM<br />

Aquele que ainda responde: ―Tu não és um peixe. Como sabe o que dá<br />

prazer aos peixes?‖<br />

ARASHI<br />

E o que você responderia a mim?<br />

ROSTO JOVEM<br />

―Tu não és eu. Como sabe se eu não sei o que dá prazer aos peixes?‖<br />

ARASHI<br />

Qual é o prazer desfrutado pelos educadores?<br />

ROSTO JOVEM<br />

Melhorar o espírito deixando de formar inteligências do mal, pessoas<br />

distanciadas da realidade com a ilusão de que a causa da harmonia ou<br />

desarmonia encontra-se fora delas, produzindo com isso: homens sem<br />

sentido de justiça e fraternidade, proporcionadores do mal social, como<br />

os criminosos intelectuais; criadores de superstições gerando número<br />

excessivo de leis, jovens em estado confuso e superficial, processo<br />

educacional que enfatiza mais o comportamento e caráter do educado<br />

do que a do educador.<br />

ARASHI<br />

Obrigado meu jovem por me preparar para o amanhã.<br />

ROSTO JOVEM<br />

Amanhã! Presente. Amanhã pode acontecer tudo, inclusive nada.<br />

ARASHI<br />

(intrigada)<br />

Como assim!<br />

As batidas no fundo de uma tigela de madeira param, o canto paralisa,<br />

as pernas se fecham erguendo o corpo, o presidente pergunta em alto<br />

e bom tom:<br />

YESHUA<br />

Qual é o prazer desfrutado pelos que oferecem segurança ao mundo?<br />

Arashi escuta e fica pensativa e abismada.<br />

CORTA PARA<br />

124


115. CAMPO ENORME<br />

Legenda: 2017.<br />

Multidão confiante vê aquela Arashi, elegantemente trajada, num<br />

campo sem limite e desprovido de qualquer coisa a não ser pessoas.<br />

ARASHI<br />

Eu, como aspirante à segurança mundial, tenho o grato prazer de<br />

comunicar a todos os que vivem aqui nesse planeta: ocupando esta<br />

função, não existirá mais na face da Terra nenhum presidiário, serão<br />

demolidas todas as celas existentes.<br />

Avalanche de euforia em termos de RISOS e PALMAS.<br />

(continuando)<br />

Desde épocas remotas, veio ocorrendo uma grande luta invisível aos<br />

nossos olhos – entre Deus e Satanás. Esta se apresentou em diversas<br />

formas. Do maior para o menor tivemos as guerras entre países, as<br />

divergências entre partidos políticos, conflitos entre classes sociais,<br />

desavenças entre as pessoas e, por final, a menor se apresenta na luta<br />

que existe dentro do interior de cada indivíduo, entre Deus e Satanás,<br />

ou seja, a luta entre o Bem e o Mal. Resumindo, em grande escala, foi<br />

a guerra entre os países, e em pequena escala foi a luta incessante<br />

dentro do interior de cada pessoa. O resultado é que o coração da<br />

maioria das pessoas acabou tendo uma grande tendência a se ligar ao<br />

lado do Mal, aumentando cada vez mais o número dos súditos de<br />

Satanás. Porém, é lógico que muitas pessoas não tiveram nenhuma<br />

consciência de que foram súditos de Satanás, pois se soubessem,<br />

imediatamente procurariam se afastar dele. Eu, graças a Deus, fui um<br />

dos que se libertaram de Satanás e passei a amar o Messias, fiquei<br />

livre de todas as suas manifestações: do empresário que não quer a<br />

Ultra-Religião, do cientista religioso que não pretende o Johrei, do<br />

fazendeiro brasileiro que não deseja a Agricultura Natural, do Etrom A.,<br />

que lido ao contrário, quer dizer A morte, que não almeja o Belo, e do<br />

dragão preto que não aspira a construção de Cidades Paradisíacas.<br />

As pessoas estão estupefatas com tais revelações.<br />

ARASHI<br />

A guerra é a luta de grupos, e até hoje a humanidade tem demonstrado<br />

mais propensão a ela que à paz. E não é só internacionalmente.<br />

Observando cada região de um país, veremos que quase não há<br />

lugares sem conflito. Nas repartições, nas firmas, nas associações,<br />

enfim, em qualquer grupo, sempre há lutas nos bastidores,<br />

ininterruptamente, e as pessoas vivem se criticando e se rejeitando.<br />

125


Observamos, ainda, conflitos entre profissionais, conflitos no lar, entre<br />

casais, entre irmãos, entre pais e filhos, conflitos entre amigos, etc. O<br />

homem realmente aprecia muito os conflitos. Notamos que<br />

freqüentemente eles ocorrem até no interior de transportes, ou na rua,<br />

com os transeuntes. Creio ser desnecessário continuar enumerando<br />

todos os conflitos que existem entre os homens.<br />

Se o conjunto dos indivíduos constitui a nação, e cada indivíduo, que é<br />

a unidade desse todo, deixar de apreciar o conflito, a Nação,<br />

logicamente, tornar-se-á pacífica e amável.<br />

MUITOS APLAUSOS.<br />

ARASHI<br />

As pessoas achavam que as expressões ―paz‖ e ―segurança‖<br />

limitavam-se apenas ao espírito, mas esse modo de pensar constituía<br />

um grande erro, uma vez que, para obtermos a verdadeira paz e<br />

segurança, não poderíamos excluir a matéria. Pensem bem: se houver<br />

uma que seja das três grandes desgraças - doença, pobreza e conflito<br />

- onde estará a paz? Quando as pessoas estiverem certas de que<br />

durante toda a sua vida, não terão preocupações com doenças, não<br />

ficarão pobres, nem haverá possibilidade de se envolverem em<br />

conflitos, aí sim, elas terão a verdadeira paz e segurança. Quando os<br />

países estiverem certos de que todos os povos participam dos<br />

benefícios da civilização moderna, aí sim, eles terão a verdadeira paz e<br />

segurança. E essa época chegou, graças a Deus.<br />

A multidão ergue suas mãos livremente para o céu.<br />

116. CAMPO ENERGIZADO-CULTIVADO E FLORIDO<br />

FA<strong>DE</strong> OUT<br />

FA<strong>DE</strong> IN<br />

Legenda: 2018.<br />

Multidão aquecida ouve aquele rosto jovem naquele campo ilimitado só<br />

que agora num ambiente onde o Sol se projeta entre os cultivos de<br />

alimentos e flores.<br />

ROSTO JOVEM<br />

As forças em prol da construção de Cidades Paradisíacas no que se<br />

refere a Ultra-Religião foram provenientes de duas famílias, a dos que<br />

perderam suas presenças físicas e que muito se amaram: Silêncio de<br />

Deus e Yamazi.<br />

126


Silêncio de Deus em termos da Filosofia e Colunas da Salvação, com:<br />

seu bisavô Doutor Tatsukiti na propagação da Luz Divina; de seu filho<br />

Agri tratando da Agricultura Natural; e de sua nora Bel se<br />

responsabilizando pelo Belo.<br />

Yamazi em termos dos Poderes com: seu neto Yeshua, no cuidar de<br />

governo e almejar a Governança Mundial, seu filho Yama contribuindo<br />

na política (direito e administração). Acredito que a economia ficará por<br />

minha conta devido a visão empresarial que desenvolvi nesta<br />

encarnação atual. A ideologia com ...<br />

Curiosos fazem suas vozes serem ouvidas com as indagações: “E os<br />

Bens?”, “Quem tu és?”.<br />

ROSTO JOVEM<br />

Eu fui Simão avô do Doutor Tatsukiti, mais tarde Doutor Peter, assim a<br />

minha contribuição foi em termos dos Bens precisamente na saúde.<br />

Logo, não foi no tronco de Yamazi, mas sim no tronco da família de<br />

Silêncio de Deus.<br />

(pausa)<br />

Agora, na prosperidade, por meio da educação, a contribuição foi com<br />

a reencarnação do Servidor no tronco de Yamazi.<br />

Silêncio, as pessoas estão atônitas com tal revelação que ...<br />

ROSTO JOVEM<br />

Sim Yeshua é uma reencarnação do Servidor. Assim como Bel é sua<br />

sobrinha. Foi isso, Silêncio de Deus e Yamazi selaram seu amor com a<br />

união do filho com a bisneta, ou seja, de Agri com Bel, duas colunas da<br />

salvação.<br />

Para finalizar na paz, isto é, na segurança foi exatamente com a<br />

reencarnação da atual policial Arashi, a outrora jornalista diabólica<br />

Gaara.<br />

Mais atônitos.<br />

ROSTO JOVEM<br />

Não podemos deixar de registrar que Yamazi deu uma forte<br />

colaboração inicial em termos dos Fins com a cidade (sociologia).<br />

Algum dia se terá que abordar a questão da felicidade e paraíso para<br />

complementar a Missão.<br />

FA<strong>DE</strong> OUT<br />

127


117. UNIVERSIDA<strong>DE</strong> MESSIÂNICA<br />

FA<strong>DE</strong> IN<br />

Legenda: 2019.<br />

Multidão magnetizada em torno do candidato a presidente mundial<br />

numa parte daquele campo energizado-cultivado-florido.<br />

YESHUA<br />

Finalmente, As potências mundiais, ao invés de tentarem pintar os<br />

outros países com a sua cor, têm se esforçado para tornar mais viva e<br />

mais bela a cor de cada país.<br />

As posições definidas como esquerda ou direita, e como capitalismo ou<br />

comunismo, geradoras de choques inevitáveis e que fizeram a cultura<br />

material progredir, deram lugar ao ―Izunome‖.<br />

As leis, organização política e econômica, sistema social, etc.; estão<br />

constituídos de forma extremamente satisfatória pela Ciência e pela<br />

inteligência humana administradas pelas características divinas dos<br />

homens. Os membros dos partidos políticos pensam em primeiro lugar<br />

no beneficio dos cidadãos, em segundo lugar no beneficio do partido, e<br />

em terceiro lugar é que vão pensar no seu próprio beneficio.<br />

Realmente, as leis e o controle referentes a eleição deixaram de ser<br />

extremamente rigorosos e minuciosos apenas na aparência; já não é<br />

mais considerado esperto aquele que consegue ludibriar a lei.<br />

Com a concretização da Nação Mundial começou a ser possível a<br />

política de contrabalançar a população dos países, isto é, fazer com<br />

que parte da população de um país superpovoado emigre para lugares<br />

onde a densidade demográfica seja baixa. Ao colocar em prática essa<br />

política o desequilíbrio populacional, os motivos de intranqüilidade de<br />

um país se afastaram.<br />

Num degrau abaixo está aquele rosto jovem, ou seja, Peter, ou ainda,<br />

Amaterassu-Tenoo. NA MEDIDA EM QUE FOR FALANDO VAI SE<br />

MOSTRANDO IMAGEM COMPATÍVEL. Multidão iluminada percebe<br />

Sakyamuni naquela Universidade Messiânica que estranhamente<br />

passa a conter aquele campo energizado-cultivado-florido; num degrau<br />

mais abaixo se encontra a Gaara, ou ainda, Hatsunwakahine-no-<br />

Mikoto.<br />

FA<strong>DE</strong> OUT<br />

128


118. EXT. PLANETA TERRA<br />

FA<strong>DE</strong> IN<br />

Legenda: 2020.<br />

NA MEDIDA EM QUE FOR FALANDO VAI SE MOSTRANDO IMAGEM<br />

COMPATÍVEL. Multidão intuiciona Jesus, degrau abaixo Sakyamuni, ou<br />

ainda, Wakahimeguimi-no-Mikoto. Vai se afastando da Terra, a ponto<br />

dela virar quase que um ponto. Na medida em que for falando vai se<br />

mostrando imagem compatível. Unido a Deus, degrau abaixo deve<br />

estar Jesus, ou seja, Sussanao-no-Mikoto.<br />

119. IMAGENS<br />

FA<strong>DE</strong> OUT<br />

FA<strong>DE</strong> IN<br />

Legenda: 2021.<br />

NA MEDIDA EM QUE FOR FALANDO VAI SE MOSTRANDO IMAGEM<br />

COMPATÍVEL. Os cinco irmãos deuses na fase final de uma Era do Dia,<br />

na verdade homens, que, na época, eram espiritualmente muito<br />

elevados, governavam o mundo, embora falemos mundo, não<br />

sabemos se era realmente o mundo todo ou não, mas com certeza,<br />

centralizado no Japão. Nessa Era do Dia que hoje se inicia ...<br />

● Kunitokotati-no-Mikoto, Izunome-no-Kami, Kannon, Mokiti Okada,<br />

Meishu-Sama e Messias.<br />

● Sussanao-no-Mikoto, Jesus, O Servidor e Yeshua.<br />

● Wakahimeguimi-no-Mikoto e Sakyamuni.<br />

● Amaterassu-Tenoo, Doutor Simão (Avô do Doutor Tatsukiti), Doutor<br />

Peter e Rosto Jovem.<br />

● Hatsunwakahine-no-Mikoto, Gaara e Arashi.<br />

120. INT. CINEMA - DIA<br />

Legenda: 2012.<br />

Hoje. Lá está MARY naquela cena 117 do filme “UM PONTO NA<br />

MEDICINA” dizendo.<br />

129


MARY<br />

Está bem, está bem. Vou atender a vocês. Mesmo com cem anos vou<br />

fazer estes filmes. O próximo será ―RELIGIÃO‖. Depois ―MESSIAS‖, a<br />

seguir ―FILOSOFIA E COLUNAS‖ e finalmente ―PO<strong>DE</strong>RES E BENS‖.<br />

E eles foram feitos. Procuraram mostrar a Cultura Paradisíaca em<br />

termos artísticos e ficcionais sob considerações de aspectos da<br />

Teosofia. Teriam eles conseguido indicar a Nova Cultura?<br />

Legenda: “FIM”.<br />

130

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