AGOSTINHO ALVES BARBOSA (Bate Asa) - Oktiva

Deixe eu contar uma história do João Amaro: Uma vez, ele inventou um negócio
de um romance comigo. Era um cordel que falava da briga de um cobrador com
uma negra... por causa de troco. Só que o cobrador da briga não fui eu. Foi um tal
de Agripino, que trabalhava na Autoviária São Vicente de Paula no tempo em que
eu não estava lá. O João Amaro viu a briga dos dois e, como era metido a poeta,
resolveu escrever... mas não quis colocar o nome dele nem do tal Agripino. Então
colocou o meu. Eu nem vi essa briga...
Todo motorista e todo o cobrador têm apelido. Eu tive um monte. Em cada
empresa era um apelido novo. Me chamavam de urso. Na Empresa Iracema, meu
apelido era “Índio”, porque achavam que eu era parecido com um índio. Em todas
as empresas tem dessas coisas...
Na Autoviária, meu apelido era Bate Asa. Naquele tempo, a empresa tinha poucos
ônibus. E não tinha nome da empresa escrito na lateral dos ônibus. Então, como o
nome dos ônibus era “Asa Branca”, o dono, metido a prosista, uma vez brincou:
“Olhem: o nome do ônibus é Asa Branca. Então o nome do cobrador será Bate
Asa”. E por isso ficou.
Eu conhecia muitos cobradores deficientes também. Parece que a Autoviária foi a
primeira empresa que colocou deficientes para trabalhar. Só depois que as outras
empresas colocaram. Tinha muitos, uns vinte cobradores lá. Um deles trabalha no
Jardim Iracema, mas não sei o seu nome. Só sei o número: È 37.
Cada cobrador tem um número. Começa do um até a quantidade de cobradores
que existir. Nesta empresa, eu tive quatro números, porque foi aumentando. Os
números servem para identificar. Fica melhor: por exemplo, se tem dez
cobradores chamados “Raimundo”, pelo número, já da para saber qual é. Tem o
Raimundo de número 10, de número 50 e assim por diante. Na escala vem o
número, não vem o nome.