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38<br />
Por terror, loucura, o que seja,<br />
N. dispara à Tamarineira.<br />
(Cura-o de todo Tio Ulysses.<br />
<strong>Gláuks</strong><br />
Não de ponte <strong>em</strong> Capibaribes) (MELO NETO, 2008, p. 570-<br />
572).<br />
De ant<strong>em</strong>ão, o que houver de esfumado ou subreptício<br />
na história que se desenrola no enredo do po<strong>em</strong>a vai sofrer seu<br />
abalo no discurso poético, que é indiscutivelmente de feição<br />
moderna, como tudo que produziu seu autor. No seu caso,<br />
estabelece-se um laço irr<strong>em</strong>ovível entre o hom<strong>em</strong> que foi e a<br />
lenda que se construiu <strong>em</strong> torno de si, como marcas de um<br />
t<strong>em</strong>po preciso. Como não conseguisse se livrar da imag<strong>em</strong> que<br />
ele próprio ajudou a construir, talvez por isso evitasse inferir<br />
qualquer contaminação subjetiva à sua escrita, como um meio<br />
de proteger da personalidade a sua produção, muito <strong>em</strong>bora<br />
biografias de muitos outros artistas viess<strong>em</strong> compor<br />
ostensivamente sua obra como alteregos com qu<strong>em</strong> João Cabral<br />
não deixava de se identificar. Para ficar <strong>em</strong> ex<strong>em</strong>plos de<br />
pernambucanos ilustres, cuja vida foi esmiuçada pelo autor,<br />
basta l<strong>em</strong>brarmo-nos de Frei Caneca e de Natividade Saldanha,<br />
explorados <strong>em</strong> livros anteriores ao Crime na Calle Relator, e<br />
que apontam, por outra via, para a dimensão m<strong>em</strong>orialística de<br />
sua obra através de outras figuras que enlaçam com eficácia o<br />
plano individual e coletivo, subjetivo e histórico. Agora, por<br />
meio de procedimento s<strong>em</strong>elhante, João Cabral – que não se<br />
cansa da substância popular, ainda que a contrapelo – lançaria<br />
mão de uma assombração oriunda do perímetro urbano<br />
recifense para falar de si mesmo. Apesar de Boca-de-Ouro já ter<br />
se convertido <strong>em</strong> personag<strong>em</strong> do teatro de Nelson Rodrigues,<br />
antes de ter sido glosada pelo próprio João Cabral de Melo<br />
Neto, é como assombração que Boca-de-Ouro nos interessa por