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<strong>Gláuks</strong><br />
partícipes e seus respectivos descendentes. Para tanto, a cultura<br />
popular pode servir de esteio produtivo e duradouro, porque<br />
pode assimilar novos significados, o que soa d<strong>em</strong>asiado<br />
interessante se a pensarmos como suporte histórico, tão<br />
manipulável quanto qualquer outro. Tudo isso pode<br />
perfeitamente ser aplicável às revoluções oitocentistas<br />
pernambucanas, pois, se, de um lado, o século XIX nos legou<br />
fantasmas de condes e barões, outras tantas assombrações<br />
anônimas insist<strong>em</strong> <strong>em</strong> perseguir sujeitos entre pontes e rios,<br />
como é o caso do Boca-de-Ouro.<br />
Dos inúmeros espectros que João Cabral elege para<br />
projetar sua imag<strong>em</strong>, Boca-de-Ouro talvez seja aquele mais<br />
abstrato e, talvez por isso, o mais verossímil, porque permite<br />
uma exploração <strong>em</strong> que não há diferença entre a sombra<br />
perseguida e a imag<strong>em</strong> projetada, sendo esta muito mais eficaz<br />
para o poeta, porque não precisa ser confrontada com o original,<br />
ao contrário do que acontece com Frei Caneca, Natividade<br />
Saldanha ou Joaquim Cardozo. Todos esses perfis d<strong>em</strong>andam<br />
alguma consideração a partir da referência concreta a homens<br />
que existiram de fato, ao contrário do que acontece com Bocade-Ouro,<br />
que já é, por si mesmo, uma projeção de algo<br />
incondicionado, a que o autor confere substância. Não parece<br />
despropositado, a partir disso, que sua versão daquela história<br />
venha comportar el<strong>em</strong>entos que marcam pontualmente sua<br />
inscrição na sua cidade natal, através do contato direto com o<br />
seu tio preferido. Tio este, aliás, que primeiro percebeu a<br />
pontencialidade neurológica do menino João, quando, por volta<br />
de seus três anos, o punha sentado num tamborete <strong>em</strong> cima da<br />
mesa, para que a criança lesse o jornal e, depois de retirado o<br />
jornal, versasse sobre o conteúdo lido. Não deixa de ser curioso<br />
que esse mesmo tio viesse a tratar daquele sobrinho por ocasião<br />
de sua maioridade, quando acometido por surtos inexplicáveis,<br />
motivados talvez pela viag<strong>em</strong> ao Rio de Janeiro, da qual o então