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32<br />
<strong>Gláuks</strong><br />
passam a ser el<strong>em</strong>entos de composição. Por outro lado, interessa<br />
a investigação na medida <strong>em</strong> que a matéria utilizada pelo autor<br />
passa a ser também índice que concorre para sua formalização<br />
e, sendo também traço distintivo do autor, concorre para a<br />
sedimentação de seu sentido único e particular. Porque enlaça<br />
intricadamente um expediente formal a uma matéria específica,<br />
já portadora de uma matriz discursiva, é que João Cabral atinge<br />
um grau de sofisticação expressiva que não é transferível para<br />
outras circunstâncias de pronunciamento, devido ao sentido<br />
justo que ali se constrói. O raciocínio que pode ser aplicado a<br />
cada po<strong>em</strong>a <strong>em</strong> particular, no caso de João Cabral, se aplica à<br />
sua obra como um todo, já que o seu sentido é resultante de uma<br />
operação poética <strong>em</strong> que matriz formal e matéria afetiva,<br />
porque escolhidas, se especificam para sedimentar um critério<br />
de composição. Trata-se, portanto, de um princípio de<br />
composição que, eventualmente, pode privilegiar uma matriz<br />
formal ou um discurso histórico, mas nunca os considera <strong>em</strong><br />
separado ou <strong>em</strong> abstrato.<br />
Por isso, não custa destacar a utilização precisa de uma<br />
matéria histórica determinada, já que a obra cabralina revela-se<br />
como ato comunicativo. E o que está dito ali não é<br />
intercambiável, porque se constrói a partir de uma matéria que<br />
ele quer, necessariamente, como algo particular. Dessa<br />
particularidade é que ele retira todo o seu efeito poético, e não é<br />
porque esteja navegando <strong>em</strong> águas universais, mas porque a sua<br />
matéria histórica, quando confrontada à realidade circunstante,<br />
lança-o para um plano <strong>em</strong> que o entendimento da poesia<br />
soçobra tensa e contraditoriamente entre o comunicável<br />
desejado e o incomunicável paralelo ao hermetismo.<br />
Embora seja movida por uma pulsação supostamente<br />
clássica, posto que equilibrada, objetiva e reveladora do objeto<br />
<strong>em</strong> pauta, a obra de João Cabral traz consigo um conflito de<br />
grandes proporções, porque todo o seu conteúdo já aparece