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Gláuks
Brasileira de Letras desde 1969, mas também porque já se
afigurava naquele momento como um dos nossos clássicos
contemporâneos, cuja produção robustece significativamente a
tradição literária brasileira. Acrescente-se a isso que, tendo
ultrapassado a casa dos sessenta, a memória se afigura para João
Cabral de Melo Neto, mais do que expediente válido para sua
expressão, como um imperativo ético através do qual poderia
saldar o imaginário construído pelos seus antepassados. Diante
de tal contexto, é bem previsível que alguns traços biográficos
do autor viessem à tona, posto que incidissem sobre sua
experiência de vida, que ganha uma nova substância na
maturidade.
Acresce, ainda, que, nesse momento de sua produção, já
se passaram dez anos da publicação de Museu de tudo (1974),
quando há uma reviravolta nos seus princípios arquitetônicos,
subdividindo e misturando as “duas águas” em função das quais
sua obra ficara reconhecida. A partir de então, as considerações
acerca de seu cerebralismo formal ou de isenção da sua
subjetividade vão ganhar outros contornos. Para encurtar o
comentário, vou me restringir à lembrança de um verso coligido
inicialmente naquele volume divisor de águas, que pode ser
tomado como o mote nuclear de sua produção em larga escala,
que é o seguinte: “há um contar de si no escolher”. Daí convém
especular acerca dos porquês de João Cabral utilizar os metros
sete, oito e nove com tanta insistência ou por que tenha ele uma
especial predileção pelo Recife ou por Sevilha, como matérias
de sua composição, tendo ele vivido em tantas outras cidades.
De antemão, cumpre registrar que, quando João Cabral
lança mão da redondilha maior, do octossílabo ou do
eneassílabo, o faz com um sentido preciso – havendo uma
diferença estrutural dos heptassílabos em face dos demais
metros utilizados por ele. De um modo ou de outro, a utilização
do metro se faz por caráter eletivo, que, questionável em suas