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0 - Gulbenkian Música - Fundação Calouste Gulbenkian

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EM TORNO DA ÓPERA<br />

BARROCA ITALIANA<br />

por Stephen Bull<br />

O Alargamento da esfera de influência da<br />

música italiana, e em particular da ópera italiana,<br />

foi uma das características da vida musical na<br />

Europa do século XVIII. As viagens de virtuosi italianos,<br />

cantores e instrumentistas, bem como o<br />

desenvolvimento de modernos métodos de<br />

impressão e distribuição de música, contribuíram<br />

para tornar a Europa um espaço mais inter-dependente<br />

e cada vez mais aberto aos diversos estilos<br />

nacionais, bem como ao trabalho de diferentes<br />

compositores. A própria definição de ópera encontrava-se<br />

em mudança, afastando-se da associação<br />

com o entretenimento do drama grego para<br />

receber a inclusão de formas como a comedie musicale<br />

ou o drama sacro.<br />

Pietro Antonio Locatelli, nascido em<br />

Bergamo em 1695, foi um dos primeiros v i r t u o s i<br />

italianos que, após ter estudado em Roma, desenvolveu<br />

uma carreira bem sucedida na Europa do<br />

Norte. Na data da sua morte em Amesterdão, em<br />

1764, tinha-se tornado num editor de música,<br />

negociante de instrumentos musicais, professor de<br />

um elevado número de amadores de música provenientes<br />

de famílias abastadas, e ainda, segundo o<br />

inventário feito na sua biblioteca, num homem de<br />

posses pouco comuns e com um largo espectro de<br />

interesses culturais. Foi considerado como o sucessor<br />

do grande Arcangelo Corelli, embora seja mais<br />

provável que tenha feito a sua aprendizagem com<br />

o seu rival Valentini. Contudo o estilo de Locatelli<br />

como compositor demonstra que este absorveu<br />

influências de numerosos compositores, incluindo<br />

Vivaldi. A experiência obtida por Locatelli em<br />

Amesterdão, fazendo a leitura de provas para o<br />

editor Le Cene, ter-lhe-ia proporcionado amplas<br />

oportunidades de estudo do trabalho de outros<br />

compositores.<br />

Como instrumentista, segundo os seus contemporâneos,<br />

Locatelli era uma figura controversa.<br />

Relatos de “doçura e virtuosismo em partes de<br />

canto” contrastam com outros que referem que ele<br />

tocava com tal fúria que provavelmente destruiria<br />

dezenas de violinos por ano. As sua composições<br />

são também vistas de modos diversos pelos seus<br />

contemporâneos. Por um lado, era apreciado pela<br />

naturalidade dos seus temas e por outro, como<br />

XIX Jorn adas <strong>Gulbenkian</strong> de <strong>Música</strong> An tiga [ 22 ]<br />

apresentando “mais surpresa do que prazer”, como<br />

refere Burney, o viajante musical inglês, no seu<br />

diário. Após trabalhos iniciais de um estilo semelhante<br />

a Corelli, mais tarde escreveu composições<br />

com alusões a ideias programáticas, como cenas de<br />

caça em Il imitazione del corno de caccia. No concerto<br />

Op. 7 N.º 6 , um trabalho relativamente tardio,<br />

faz uma clara alusão à ópera. Com o título Il pianto<br />

di Arianna, Locatelli toma como referência a ópera<br />

no seu sentido mais antigo, recreando o drama da<br />

Grécia Antiga, e, com o uso de recitativo no<br />

primeiro andamento, utilizando o estilo operático<br />

num concerto grosso (este procedimento tinha já<br />

sido realizado algum tempo antes por Bonporti,<br />

mas não se pode ter a certeza se Locatelli teria ou<br />

não ouvido o concerto de Bonporti, embora a<br />

experiência que detinha na publicação de música o<br />

possa ter posto em contacto com o seu trabalho).<br />

Carl Philipp Emanuel Bach, o segundo filho<br />

sobrevivente de Johann Sebastian Bach, nasceu em<br />

Weimar em 1714. Contrariamente a Locatelli<br />

nunca lhe foram conhecidas grandes viagens, pelo<br />

menos fora da Alemanha. No entanto, manteve-se<br />

permeável a variadas influências musicais. Criado<br />

no seio de uma família de músicos, teve Georg<br />

Philipp Telemann como padrinho e durante a sua<br />

infância inúmeros músicos visitavam a casa de seus<br />

pais. Os seus estudos iniciais (exclusivamente com<br />

o seu pai) deram-lhe um conhecimento alargado<br />

de muitos estilos musicais (por exemplo, compôs<br />

umas variações sobre um dos minuetes de<br />

Locatelli), embora tenha apenas ouvido ópera em<br />

Dresden e estando, até então, provavelmente<br />

restringido a obras de Hasse.<br />

A sua carreira como compositor sofreu atrasos<br />

devido aos anos em que estudou Direito em<br />

Frankfurt, estudos que efectuou com o fim de<br />

ampliar os seus conhecimentos e adquirir um<br />

maior prestígio social do que aquele que era atingível<br />

na época por um jovem aspirante a compositor.<br />

Enquanto estudante compôs e tocou como cravista,<br />

fazendo-se notado pelo príncipe Frederico<br />

da Prússia, mais tarde Frederico, o Grande.<br />

Durante 30 anos, com início em 1738, o<br />

jovem Bach foi cravista na corte de Frederico o<br />

Grande, tocando essencialmente música de câmara<br />

como acompanhador do rei e de outros músicos<br />

da corte. Nessa altura, Frederico inaugurou a<br />

Ópera de Berlim onde Bach teve oportunidade de<br />

contactar com os grandes intérpretes italianos e<br />

franceses, bem como com as obras de Hasse e<br />

Graun. As suas próprias composições tornaram-se

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