PereiraHS - Programa de Pós-Graduação em História - UFBA ...
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Tal linha sucessória construída [AJ2] possui como eixo unificador <strong>de</strong> seus<br />
el<strong>em</strong>entos o fato <strong>de</strong> tais músicos ser<strong>em</strong> baianos e ter<strong>em</strong> ido para o sul visando almejar<br />
um lugar <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque no campo da música nacional. Entretanto, produz-se o efeito <strong>de</strong><br />
conexão entre as obras por estar<strong>em</strong> elas elencadas <strong>em</strong> seqüência t<strong>em</strong>poral.<br />
Há uma explícita expectativa com relação aos “Bichos” na reportag<strong>em</strong> <strong>em</strong><br />
questão [AJ2]. Percebe-se aí uma posição que qualifica o espetáculo como vanguarda<br />
artística, usando um tom que dá a enten<strong>de</strong>r que se trata <strong>de</strong> uma vanguarda não<br />
compreendida regionalmente e que a mesma seria reconhecida futuramente <strong>em</strong> âmbito<br />
nacional. Segundo as palavras contidas na reportag<strong>em</strong> [AJ2], os “Bichos” apresentarão<br />
no Rio um “espetáculo que os „críticos da Bahia sentiram vergonha <strong>de</strong> comentar, com<br />
elogios ou críticas‟”; ou seja, tomando uma posição a favor do grupo, a reportag<strong>em</strong> do<br />
Jornal da Bahia afirma que, apesar <strong>de</strong> o espetáculo ter sido algo importante, a crítica<br />
local não se manifestou. O trecho mais importante <strong>de</strong>sse período é aquele que diz que os<br />
“Bichos” “comporão, cantarão e farão um disco a ser produzido por Carlos Imperial”;<br />
assim, juntando ao processo <strong>de</strong> legitimação do grupo o reconhecimento dos mesmos por<br />
um produtor consagrado, que já tinha trabalhado com Roberto Carlos e, como<br />
compositor, alcançado consi<strong>de</strong>rável sucesso com A Praça <strong>em</strong> 1967.<br />
Enfim, exatamente por se tratar <strong>de</strong> um grupo novo, percebe-se que a estratégia<br />
adotada pelo Jornal da Bahia é garantir uma posição <strong>de</strong> privilégio para o objeto da<br />
reportag<strong>em</strong> e só <strong>de</strong>pois apresentá-lo <strong>em</strong> suas particularida<strong>de</strong>s e individualida<strong>de</strong>s. Em um<br />
único parágrafo, a reportag<strong>em</strong> localiza no t<strong>em</strong>po a vertente artística da qual o grupo faz<br />
parte, posiciona o grupo como vanguarda e adiciona o reconhecimento <strong>de</strong> um nome<br />
forte no mercado musical (Carlos Imperial), <strong>em</strong> contraponto ao silêncio da mídia local,<br />
<strong>de</strong>squalificando-a; finalmente, utiliza esses el<strong>em</strong>entos para sustentar que os “Bichos”<br />
farão sucesso, ou, como a própria reportag<strong>em</strong> diz, “o sucesso, por certo virá, mas eles<br />
não o prevê<strong>em</strong> n<strong>em</strong> se espantarão com isso” [AJ2]. Sintetizando: a construção da<br />
legitimida<strong>de</strong> artística dos “Bichos” no primeiro parágrafo da reportag<strong>em</strong> [AJ2] se utiliza<br />
da reconfiguração do passado – construção <strong>de</strong> linha sucessória (tradicional) incluindo os<br />
“Bichos” – no presente, na data da publicação do jornal (14-15 <strong>de</strong> set<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1969),<br />
utilizando o respaldo <strong>de</strong> terceiros (Carlos Imperial), para tentar produzir um efeito no<br />
futuro (o sucesso dos “Bichos”). Percebe-se que a legitimação, neste caso, foi produzida<br />
através <strong>de</strong> uma atuação no t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> suas três facetas.<br />
Finalmente, são apresentados Galvão e Moraes, revelando inclusive seus rostos<br />
[AF2], que não apareceram na reportag<strong>em</strong> do dia 7 <strong>de</strong> agosto [AJ1], <strong>de</strong>monstrando que<br />
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