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PereiraHS - Programa de Pós-Graduação em História - UFBA ...

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Percebe-se que os Festivais estavam no centro das disputas na arena musical<br />

naquele momento. E os Novos Baianos participaram do último Festival da Record, o V<br />

Festival da Música Popular Brasileira, <strong>em</strong> 1969. A reportag<strong>em</strong> <strong>de</strong> 8 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1970<br />

aborda a participação do grupo nesse evento. Por se tratar <strong>de</strong> uma arena <strong>de</strong> forte atuação<br />

da vanguarda ortodoxa da MPB, sabia-se que eram limitadas as chances que tinham os<br />

Novos Baianos <strong>de</strong> ser<strong>em</strong> b<strong>em</strong> sucedidos no Festival. O próprio Marcos Lázaro lhes<br />

avisou que as chances seriam poucas [AJ3]. Entretanto, os Novos Baianos viram o<br />

Festival como uma possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mostrar seu trabalho e alcançar um público aberto<br />

às suas composições, já que os Festivais eram transmitidos por televisão para boa parte<br />

do país. Galvão qualifica a participação do grupo no Festival como “gozação” e<br />

“porcaria” – algo que ele resume com um simples “foi divertido” – <strong>de</strong>stituindo-a, com<br />

irreverência, da obrigatorieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> ter que ser b<strong>em</strong> sucedida na competição. Ao não<br />

levar a sério a própria apresentação, Galvão também <strong>de</strong>squalifica o concurso <strong>em</strong> si,<br />

transformando-o <strong>em</strong> espaço para diversão do grupo [AJ3].<br />

O procedimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>squalificação do V Festival da Música Popular Brasileira<br />

operado por Galvão vai mais além. Ele afirma: “Foi um festival para salvar velhos<br />

cantores, como Agnaldo Rayol, Marlene e outros velhos mais jovens” [AJ3]. Agnaldo<br />

Rayol terminou o V Festival <strong>em</strong> segundo lugar, com Clarice, e Marlene não conseguiu<br />

chegar até a final com Queixa. Quanto ao júri, Galvão também o <strong>de</strong>squalifica: primeiro<br />

afirma que “o júri s<strong>em</strong>pre reage contra tudo que é novo” e <strong>de</strong>pois ironiza “O júri foi<br />

maravilhoso, cumprindo muito b<strong>em</strong> sua finalida<strong>de</strong>, a <strong>de</strong> ser certinho”; ou seja, segundo<br />

o porta-voz dos Novos Baianos, o júri não estaria orientado a apreciar uma inovação<br />

[AJ3].<br />

Para melhor compreen<strong>de</strong>r a atuação dos Novos Baianos nesse festival, é preciso<br />

investigar a música apresentada por eles, De Vera, que foi registrada como a última<br />

faixa do primeiro álbum do grupo, É Ferro na Boneca! [AA1].<br />

De Vera [AL1] é um rock ritmicamente próximo ao yê yê yê da jov<strong>em</strong> guarda,<br />

com t<strong>em</strong>ática poética tropicalista. A primeira característica <strong>de</strong>ssa peça é que seu texto<br />

não po<strong>de</strong> ser completamente apreendido <strong>em</strong> sua forma escrita, pois utiliza o t<strong>em</strong>po todo<br />

jogos <strong>de</strong> palavras que produz<strong>em</strong> sentidos distintos com o mesmo som. Por ex<strong>em</strong>plo, o<br />

refrão po<strong>de</strong> ser entendido <strong>de</strong> duas formas: o primeiro verso do refrão diz “De Vera,<br />

estou falando <strong>de</strong> Vera”. Vera como o nome <strong>de</strong> uma pessoa, po<strong>de</strong>ndo ser compreendido<br />

também como “<strong>de</strong> vera”, “<strong>de</strong> verda<strong>de</strong>”. “Estou falando <strong>de</strong> vera”, ou seja, falando sério,<br />

verda<strong>de</strong>iramente sobre algo; e o segundo verso diz: “De Vera, <strong>de</strong> Vera, da prima Vera”,<br />

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