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PereiraHS - Programa de Pós-Graduação em História - UFBA ...

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arranjo orquestrado. Outra mudança perceptível entre a versão ao vivo e a versão do<br />

álbum é <strong>de</strong> natureza rítmica. No ví<strong>de</strong>o [AV2], como há apenas o violão <strong>de</strong> Moraes<br />

Moreira como base, o ritmo da composição se apresenta como um rock <strong>de</strong> contornos<br />

“retos”, com um andamento mecânico e veloz que chega a ser tenso. A velocida<strong>de</strong><br />

recapitula a pressa, a inquietu<strong>de</strong>, el<strong>em</strong>entos que caracterizam a juventu<strong>de</strong> urbana<br />

representada pelos Novos Baianos, uma métrica só interrompida no meio da<br />

composição para uma <strong>de</strong>sconstrução, uma negação estética da forma, sendo retomada<br />

logo <strong>em</strong> seguida. Entretanto, na versão do álbum É Ferro na Boneca! [AA1] <strong>de</strong> 1970,<br />

os arranjos ganham complexida<strong>de</strong> e outros el<strong>em</strong>entos são acrescentados ao produto<br />

inicial. É perceptível a síncope característica do samba convivendo com o violão “reto”<br />

<strong>de</strong> Moraes Moreira, principalmente nos últimos segundos da música, “quebrando” a<br />

rigi<strong>de</strong>z da mesma, tornando-a menos “áspera” e agressiva, funcionando como um<br />

lubrificante, permitindo um consumo mais generalizado da peça <strong>em</strong> questão ao<br />

acrescentar um el<strong>em</strong>ento comumente percebido como próprio do samba ao rock,<br />

<strong>em</strong>bora isso não tenha sido feito <strong>de</strong> forma explícita, operando numa linguag<strong>em</strong> quase<br />

subliminar, não figurando como <strong>em</strong>bl<strong>em</strong>a do grupo naquele momento.<br />

É interessante perceber que a faixa <strong>de</strong> número 8 do álbum É Ferro na Boneca!<br />

[AA1] se intitula exatamente E o Samba me Traiu [AL4]. Em que consistiria a traição<br />

do samba, neste caso? Ora, seria o fato <strong>de</strong> o samba se fazer presente quando “não<br />

<strong>de</strong>veria estar lá”. Entre todas as peças do álbum, o samba, a síncope, só po<strong>de</strong> ser<br />

percebido <strong>em</strong> E o Samba me Traiu e Curto <strong>de</strong> Véu e Grinalda. Em Curto <strong>de</strong> Véu e<br />

Grinalda, apareceria <strong>de</strong> forma tácita, enquanto <strong>em</strong> E o Samba me Traiu sua presença é<br />

rítmica e t<strong>em</strong>ática.<br />

Em E o Samba me Traiu, os Novos Baianos abordam <strong>de</strong> forma irreverente o<br />

carnaval, alternando o ritmo <strong>de</strong>scontraído do samba com o rock. Nos momentos <strong>em</strong> que<br />

o ritmo se apresenta como samba ( <strong>em</strong>bora seja mais correto <strong>de</strong>nominar esse samba<br />

como uma fusão entre o rock e a marcha sincopada), as t<strong>em</strong>áticas abordadas são a<br />

irreverência, o carnaval, o calor do verão (através da alusão ao sol), a cor da pele<br />

bronzeada pelo clima e os cabelos longos como <strong>em</strong>bl<strong>em</strong>as da beleza jov<strong>em</strong>. Quando o<br />

ritmo se <strong>de</strong>pura num rock com andamento mais lento, a mensag<strong>em</strong> enunciada por<br />

Paulinho Boca <strong>de</strong> Cantor é “Também não me pergunte muito não” [AL4], o que expõe a<br />

colcha <strong>de</strong> retalhos da estética tida como vanguardista pelos próprios Novos Baianos. Tal<br />

verso nos apresenta um el<strong>em</strong>ento <strong>em</strong>bl<strong>em</strong>ático da juventu<strong>de</strong>: a rebeldia –<strong>de</strong>sprovida <strong>de</strong><br />

el<strong>em</strong>entos macropolíticos neste caso – <strong>de</strong>notando uma visão <strong>de</strong> mundo que dispensa o<br />

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